Postada em: 12/07/2018

Capítulo Único

Se você fosse perguntar para qualquer amigo de Kim Jongin se ele era ou não um cara sociável, a resposta seria “sim”. Não é como se uma questão tão maniqueísta e crua como essa pudesse cobrir todas as nuances que envolviam suas habilidades de desenrolo social. Quem o conhecia, conhecia de verdade, sabia que Jongin era um rapaz tranquilo, de boa conversa, uma boa companhia, topava qualquer saída – mesmo aquelas bem sem noção no meio da semana com estágio e aula no dia seguinte – e alguém com quem se podia contar se precisasse.
O problema, talvez, fosse o ambiente da faculdade. Jongin não fazia questão nenhuma de se destacar ali. Não que ele odiasse o lugar, é só que, desde que deixara o Ensino Médio e suas particularidades para trás, a universidade – e todo seu ambiente austeramente acadêmico – o fazia sentir quase apequenado. Era difícil explicar. As pessoas só tinham outra vibe, outros pensamentos, outras origens. O que não era ruim, porque, tirando seu grupinho de fiéis amigos, o Ensino Médio não foi lá o maior viveiro de pessoas legais e companheiras.
Adolescentes podem ser seres bem tóxicos quando querem.
A faculdade até tinha sua parcela de pessoas nojentas, só que tudo era diferente. Tudo. Até as possibilidades de simplesmente ignorar a existência desse pessoal eram maiores. Portanto, sobreviver ao ensino superior era bem mais possível.
O que nos traz de volta para a questão inicial: Kim Jongin só era aquele cara que entrava na sala mudo e saía calado. Ele não era grosso, sabia falar com seus colegas de turma quando estritamente necessário e procurava ser solícito com qualquer demanda que surgisse em meio à turma. Só que ele não era de puxar papos. Até ficava orgulhoso de si mesmo quando conseguia ser natural e amigável sem realmente precisar de um motivo para ser.
Em algumas ocasiões, ficava entalada na garganta a vontade de ser um cara legal e tomar a atitude de jogar papo fora por nenhum motivo aparente com uma pessoa aleatória. Por exemplo, quando estava sentado no chão do corredor, do lado de fora da sala de Filosofia Política IV, e entreouviu o papo de uma menina que sempre ia com camisas maravilhosas de seus mangás favoritos, conversando com as suas amigas sobre o último volume de Vagabond que ele, coincidentemente, também tinha acabado de ler – e desesperadamente queria alguém para falar sobre.
Naquele momento, sua cabeça repassara absolutamente todas as possibilidades de só começar a aleatoriamente falar sobre o assunto e se meter no papo das meninas. Isso até se decidir por ficar na dele mesmo e apenas escutar em silêncio o papo, ainda fingindo mexer em seu celular, como se realmente não estivesse se importando com o tema em questão.
De novo, não é que Jongin fosse antissocial. Mas ele só não fazia questão. Sinceramente, ele se virava bem só com Baekhyun e Jongdae. Seus fidelíssimos companheiros de dia após dia de uma longa jornada para a conclusão do bacharelado.
Quando saiu do seu último ano de colégio, Jongin prometera para si mesmo que seria uma nova pessoa na universidade. Daqueles que fala com todo mundo, nem que seja para dizer um comentário bobo, um bom dia, boa tarde. Ia ser uma nova pessoa, menos fechada do que era no Ensino Médio. E isso até deu certo em alguma medida. Ele era bem mais aberto às pessoas que o abordavam, bem menos assustado e sempre com uma aparência gentil e fácil de se lidar, porém sem as tentativas de ser o primeiro a se aproximar.
No primeiro dia na faculdade, completamente sozinho em um curso e prédio novos, ele só queria desesperadamente alguém. Seu maior medo era atravessar a graduação completamente abandonado. As pessoas naquele lugar não tinham a mesma energia da escola. Elas pareciam mais maduras e, de alguma forma, mais difíceis de se aproximar.
Jongin tinha plena noção de sua dificuldade de manter uma conversa. Ele desesperadamente queria conseguir pensar em algo interessante para falar depois de uma breve troca e manter o fluxo de uma boa conversa, só que ele não conseguia na grande maioria das vezes. Não quando a pessoa era uma total desconhecida, provável futura amiga ou só alguém com quem não tinha hábito de falar. Era até cansativo depois de um tempo, e ele acabava torcendo para que, fosse lá quem fosse, só desistisse dele sem que tivesse que fazer o sacrifício por si só – e acabar parecendo um idiota.
Sinceramente, depois de uns três dias indo para as aulas sem conseguir fisgar nem um interesse amigável sequer, ele já havia se convencido de que aquilo, muito provavelmente, era obra da maldição que seus veteranos jogaram em todos os calouros que faltaram a semana de trotes.
Era comum ouvir falar por aí que quem faltava os trotes não conhecia a galera e acabava ficando isolado, mas Jongin nunca foi o maior entusiasta dessas coisas, logo, não foi uma decisão lá muito difícil a de só ficar em casa e descansar mais antes do início das aulas. Agora, lá estava ele, amaldiçoado para o resto de sua vida acadêmica.
Pelo menos, era isso que pensava.
Foi mais ou menos aí que Baekhyun entrou na sua vida. Na quinta-feira da primeira semana de aulas.
Uma das professoras havia faltado sem mandar qualquer mensagem ou e-mail em aviso, então, estavam todos presos ali até o próximo professor chegar. O que significava longas duas horas mexendo no celular em constrangedor silêncio. O que não era a opção mais confortável para Jongin, que já estava puxando os fones de ouvido de dentro da mochila quando ouviu duas pessoas conversando atrás de si. Uma delas havia começado a dizer o quão injusta era toda aquela situação de estar sem professor, logo na primeira semana de aulas, e a outra concordou, explicando como foi complicado sair correndo para conseguir pegar o ônibus, que já fazia menção de partir do ponto. Isso tudo só para conseguir chegar na hora de uma aula que acabou por nem acontecer.
Jongin virou para trás, esperando poder soltar alguma frase inteligente, só que tudo o que conseguiu dizer, com uma eloquência muito duvidosa, foi: “nem na faculdade a gente deixa de ser trouxa”. Uma das pessoas da conversa apenas sorriu amarelo em sua direção e virou para outro lado, mas Byun Baekhyun – com seus cabelos profundamente pretos e sorriso fácil – foi o único a rir de sua intromissão meio desajeitada e sugerir que conversassem para matar o tempo.
Óbvio que Jongin iria dizer que sim e arranjar um jeito de fugir daquela situação logo, logo, em qualquer outra ocasião. No entanto, naquele momento em específico, ele só estava desesperado por amigos novos, amigos universitários. A maldição da graduação solitária já o estava deixando um pouco entristecido sempre que retornava para casa depois das aulas, só tendo os seus velhos amigos de colégio para conversar pelo celular, enquanto todos os outros pareciam tão facilmente se encontrar em seus próprios grupos.
Só que não mais. Ele ia fazer dar certo com Baekhyun.
E deu. Super certo. Byun Baekhyun e ele clicaram quase instantaneamente, compartilhando informações sobre a cidade de onde vieram, suas antigas escolas, o curso que estavam fazendo e muito mais reclamação sobre professores. E, por mais extrovertido que seu amigo pudesse parecer, Jongin imaginava que ele, naquela ocasião, também deveria estar um tiquinho desesperado para achar alguém com quem compartilhar os próximos dolorosos anos na instituição.
Depois de Baekhyun, Jongdae meio que veio no pacote, devido a um trabalho em trio em que os dois foram apresentados. A partir daí, Jongin só relaxou. Aquela vontade desesperada de socializar apenas morreu depois de alguns meses e, finalmente, ele se sentiu à vontade no ambiente acadêmico lindo e aterrorizante que era a universidade.
Jongin sempre conhecia pessoas novas através de Jongdae e Baekhyun. Afinal, o que o Kim não tinha de desenrolado, seus dois amigos definitivamente tinham para dar e vender. Quando saíam à noite, o grupo sempre era grande, e Jongin acabava socializando com pessoas diferentes – principalmente depois de descer um copão de 500ml de caipisaquê de limão.
Ainda assim, de amigão, do peito, Jongdae e Baekhyun permaneciam intocáveis.
Jongin realmente não precisava de mais nada.
O que não o impedia de admirar de longe o que ele não tentaria ter.

A universidade é um ótimo ambiente para se conhecer pessoas incríveis. Pessoas dedicadas a causas importantes, pessoas com sonhos grandes, pessoas talentosas, pessoas engajadas em movimentos sociais e políticos, pessoas com pouca idade e muita desenvoltura para criar um país melhor, pessoas preocupadas com o futuro do lugar onde estudavam, pessoas que queriam cuidar de outras pessoas. Além – e até dentro dessas categorias –, havia as que se destacavam porque sempre estavam envolvidos em projetos, no centro acadêmico, votação de chapas, praticamente casadas com o ambiente universitário, tornando-se a imagem dela quase sem querer.
Jongin as admirava. Não todas. Mas algumas quase o faziam se sentir culpado por não se envolver mais, abraçar mais o espírito acadêmico. Queria poder conversar com elas e ser legal como eram em seus olhos.
Só que aquilo era mais como um amor à distância. Elas ali, sendo legais e tendo um grupão de amigos ao seu redor, e ele aqui, super satisfeito com seus dois melhores amigos e sua falta de vínculos com a instituição.
Era mais ou menos assim que o Kim queria que fosse até o final da graduação.

Porém: Do Kyungsoo.
Como falar sobre Do Kyungsoo? Ele era conhecido por ser diretor do Centro Acadêmico. O milenar e super tradicional Centro Acadêmico, super importante na história da universidade por suas pautas políticas e sociais extensas, que foram essenciais para trazer para fora do ambiente universitário os pensamentos menos conservadores da nova academia. Só isso já o fazia um cara praticamente inalcançável para Jongin. Ele sequer podia se imaginar dizendo “oi” sem se sentir um lixo. O que era uma coisa extremamente boba de se pensar, só que Do Kyungsoo era tão figurão dentro da Universidade Federal, campus de Ciências Humanas, que era meio inevitável ter esse tipo de pensamento.
Não que Jongin também não fosse ligado em todas essas questões políticas e sociais. Ele era o primeiro a iniciar um debate acalorado nos almoços de família se precisasse, o primeiro a mandar aquela mensagem de “vamos” para Baekhyun quando alguma passeata era marcada, mas ele não estava no nível que Do Kyungsoo estava na faculdade. Era apenas uma questão de moral, influência e, sei lá, vibes. Era outra vibe, outra vibração, uma aura invisível de pessoa maneira que envolvia aquele rapaz lá e Jongin preferia não perturbar nada disso com sua insignificância.
Era para ser assim.
Do Kyungsoo estava para líder revolucionário enquanto Kim Jongin estava para o cara que segurava o microfone, porém sentindo cada célula de seu corpo vibrar em excitação por ouvir alguém com tanto carisma falar coisas tão certas.
Enfim, admirar à distância era super tranquilo para ele.
O não calculado no meio de todas essas resolução de “admiração à distância” era que Kyungsoo fosse escolher todas as eletivas iguais as dele. E já fazia dois anos dessas maravilhosas coincidências. Portanto, quatro períodos inteiros tendo as mesmas aulas extracurriculares com Do Kyungsoo. Quatro períodos observando-o de seu inabdicável lugar no fundo da sala. Quatro períodos conseguindo – por algum milagre do universo – acabar se desfocando do debate sobre o texto de Judith Butler porque Do “Maldito” Kyungsoo passou os dedos pelo cabelo mais uma vez e só não conseguiu não ser atraente fazendo isso. Quatro períodos de Jongin não entendendo uma palavra sequer dos ótimos comentários que o tal rapazinho fazia sobre a estrutura exploratória do trabalhador rural porque a porra da voz dele parecia chocolate derretido para os ouvidos – e chocolate nem emite som.
Jongin não fazia admiração à distância nesses termos. Isso era incômodo.
Do Kyungsoo era incômodo.
Já não bastasse ter que vê-lo despido de sua seriedade como diretor do Centro Acadêmico nos dias de festa na porta da escola, uma latinha de cerveja barata na mão e seus lábios bonitos repuxados em um sorriso permanente, dançando ao som de alguma música do momento e falando com seus milhares de amigos – afinal, alguém que toda faculdade conhece, conhece toda a faculdade. Já era o suficiente para sua vontade de só ir lá e tocar.
Quebrar aquela barreira enorme de falta de habilidade para alcançar alguém inalcançável e só tocar.
Do Kyungsoo era uma praga.

Jongin começou a perceber algo bem óbvio depois de um tempo: talvez eles só fossem parecidos. O que poderia ser risível, dadas as muitas diferenças que os separavam dentro do mesmo lugar que os unira, mas o ser vai muito além de uma pessoa ser mais extrovertida publicamente do que a outra. Personalidade conta mais de nós do que o que deixamos transparecer para os outros, e isso foi o que incentivou Kim Jongin a ver além de Do Kyungsoo.
Do Kyungsoo era incômodo, claro, mas o que era incômodo nele era toda essa aura inalcançável que, ao mesmo tempo, parecia convidar que se aproximassem. Deveria haver algo a mais para ele no particular, assim como havia algo mais para o Jongin no particular quando se sentia confortável com a sua presença, o Jongin que não estava desesperado pela sua amizade, porque já a possuía.
A pessoa que fazia horrores com a cabeça do Kim era o diretor do Centro Acadêmico Do Kyungsoo. Mas e o Do Kyungsoo, sem títulos na frente ou honoríficos atrás?

Jongin se encontrava na biblioteca porque a sala de informática estava abarrotada de alunos devido ao fim do turno da manhã, além de ser cedo demais para ir direto para a sala. Ele não estava interessado em estudar nada em particular, então, não se preocupou em pegar um dos livros, limitando-se a alcançar um volume de La Mecánica del Corazón de dentro de sua mochila e esgueirar-se direto para as salas dos fundos, onde havia muitas poltronas reclináveis e eles não obrigavam ninguém a guardar os pertences nos armários.
O clima quente lá fora estava tão impiedoso que Jongin não sabia que precisava daquele momento, debaixo do ar condicionado agradável, até se fazer confortável no acolchoado do assento e puxar seu livrinho para o colo, abrindo-o na última marcação de leitura.
Não havia muita gente por perto, portanto, o único som de fundo era o teclar suave da bibliotecária fazendo alguns registros em seu desktop e o farfalhar de páginas sendo viradas aqui e ali.
Só havia silêncio e calma no ambiente.
Até Do Kyungsoo chegar.
Não que ele fosse barulhento, afinal, havia adentrado tão silencioso quanto qualquer outra pessoa ali, mas sua presença era simplesmente barulhenta. Não… Não barulhenta… Mas alta. Jongin levantou os olhos antes mesmo de ouvir o som da voz que tanto o embalava.
— Boa tarde, Abigail. Como vão as coisas por aqui?
Ele tinha aquela mesma mochila escura nas costas, sempre impossivelmente insuflada de panfletos para palestras e manuais de boas-vindas para os calouros, todos feitos de papel reciclável (é claro!), além do próprio material de aulas. Havia um pequeno adesivo retangular colado no lado esquerdo do peito, sobre a blusa, dizendo: “PELO DIREITO À ALIMENTAÇÃO E TRANSPORTE” em letras garrafais.
Andando na rua, Kyungsoo podia parecer um jovem comum. Suas blusas, jaquetas e casacos pretos, jeans de lavagem escura e tênis branco eram de praxe, bem como aquele mochilão. O óculos retangular de pouco grau era que vez ou outra fazia uma aparição, como agora.
Jongin se perguntava se jamais teria prestado atenção no Do se eles se conhecessem em outro lugar.
Provavelmente sim.
Principalmente se pudesse ouvir sua voz.
— Tirando o atraso na folha de pagamentos, tudo na maior paz, Diretor. — com um repuxar de lábios simpático, a Srta. Abgail deu dois tapinhas na mão de Kyungsoo, que jaziam levemente apoiadas sobre o balcão de atendimento.
— Sem pagamento e sem previsão de saída? — a testa franziu imediatamente em preocupação e o rapaz, quase inconscientemente, se inclinou mais em direção à funcionária.
— Eles deram até amanhã. Veremos se isso será cumprido.
— Não deixe de me avisar caso não aconteça, Abgail. Não sei se vou passar por aqui amanhã, as coisas andam meio agitadas na Chapa, mas vou tentar só para ouvir as novidades.
— Oh, querido… — Srta. Abgail soltou uma risadinha amorosa e retirou seus óculos do rosto para poder encarar o Do mais diretamente — Você não deveria esquentar sua bela cabecinha com essas coisas. Existem sindicatos para isso, sabe? Jovens têm que se preocupar com coisas de jovens.
Do Kyungsoo soltou um sorriso igualmente terno para a mulher, mas Jongin conseguiu ver que aquele brilho característico – de Diretor – ainda estava lá.
— No século 21 e desde sempre, Abigail, essas são as coisas com que jovens se preocupam também. Isso faz parte de cuidar do nosso futuro. Não podemos deixar o jogo fácil para os grandalhões. Eles precisam saber com quem estão lidando e pôr o rabinho entre as pernas antes de chegarmos lá em cima.
Com uma última piscadela, Kyungsoo se afastou da funcionária e foi em direção a Jongin. Sem realmente vê-lo, claro. E Jongin teve plena consciência disso tudo ao observá-lo se aproximar. Porém, ainda assim, conseguiu sentir seu coração disparar como louco.
Sem jeito, colou os olhos nas palavras em espanhol de seu fiel livrinho e voltou a ler sem realmente conseguir se concentrar.
Depois de um tempo, a dispersão acabou levando o melhor de si e ele só roubou uma espiada no que acontecia logo atrás, na direção para onde o Do havia seguido ao passar por si, podendo flagrar uma visão um pouquinho diferente da que estava acostumado.
Ali, bem afastado, em uma das últimas poltronas, estava Do Kyungsoo completamente encolhido, completamente sozinho, braços cruzados quase protetivamente sobre o peito, tirando um pequeno cochilo. Vendo-o assim, tão mais tranquilo e não desperto, Jongin pôde notar como as olheiras debaixo dos seus olhos estavam mais fundas do que o normal e os seus cabelos, mais bagunçados do que costumava se permitia. Não que fosse tão errado, afinal, na universidade era bem fácil se sentir quase como um morto-vivo algumas vezes.
Fazia parte de ser aluno, afinal.
Era difícil para Jongin não querer observá-lo quando se podia observá-lo sem se preocupar em ser pego no flagra ou algo do gênero. De todo modo, votou por não ser uma pessoa inconveniente e só se voltou para seu livro outra vez, esquecendo um muito presente Diretor logo atrás de si e, finalmente, focando nas palavras estrangeiras que lia.

— Jongin, você já parou para pensar que, se você gosta tanto assim dele, você deveria só ir lá e tentar? É meio doloroso te ver aí, invocando a criatura nos seus discursos a cada cem palavras ou menos, mas fazendo “o desentendido” quando o dito cujo passa.
Jongin franziu as sobrancelhas, como se não entendesse do que Baekhyun falava, e o suspiro que Jongdae deu foi tão sôfrego e impaciente que ele quase se sentiu culpado por seu cérebro ter dado pane por um momento.
— Ele tem razão, cara. A faculdade tem tantas festas. Tenta uns beijos ou, se quiser, tenta puxar um papo. O garoto está por toda a parte mesmo, oportunidade é o que não falta.
— Eu nunca pensei sobre gostar dele… — Jongin murmurou meio para si, mas ficou bem claro, rapidamente, que nenhum dos outros dois prestara a menor atenção em seu comentário.
— Você está apaixonado por ele ou algo assim? — Baekhyun disparou logo depois, fazendo Jongdae dobrar-se sobre o próprio estômago com a crise de riso que o acometeu, seguida de palmas exageradas para descontar a histeria.
— Caralho, eu vivi tempo o suficiente para ver Kim Jongin achar que alguém vale o tempo dele.
— Nunca critiquei. — o Byun deu de ombros, alcançando sua caixinha de suco para dar uma última sugada em seu conteúdo antes de jogá-la fora de vez — O cara é um gracinha. Sejamos sinceros. Eu adoro arranjar um ranço diferente nas pessoas para criticar, mas ele definitivamente ainda não me decepcionou. Se vocês acharem algo de errado, inclusive, nem me fala, porque eu quero permanecer com esperança na raça humana.
Jongin ouvia a troca dos amigos ainda sem conseguir responder, sentado na varanda da faculdade em um daqueles banquinhos de concreto velho, longe o suficiente do cheiro de nicotina que vinha do outro canto, onde um pequeno grupinho dividia um maço de cigarros no entreaulas.
A brisa fria o fez estremecer um pouco.
Ele molhou os lábios com a ponta da língua e riu baixo, mais exasperado do que realmente achando graça de alguma coisa.
Sua cabeça estava meio louca, ainda parada no “se você gosta tanto assim dele”. Jongin nunca achou que gostasse de Kyungsoo. Romanticamente falando. Apaixonadamente falando. Fazia tanto tempo que ele não tinha nenhum interesse amoroso, tanto tempo que não buscava beijos significativos para dar, que ele simplesmente esquecera que essa era a emoção. Talvez porque não fosse tão importante assim quando se referia ao Do, não era exatamente os sentimentos dele que vinham à cabeça quando ele, nas palavras de seu amigo, “invocava” a imagem do Diretor.
Só que algo dentro de si ainda não conseguia colocar aquilo, aquele sentimento, como um de amor. Era algo mais como uma admiração profunda, tão grande que ele poderia beijá-lo, claro, mas talvez não apaixonadamente. Depois de alguns anos, Jongin realmente sentia falta de um clique antes de mais nada. Falar de amor, depois dos vinte, pelo menos para ele, tinha um gostinho diferente.
Digamos que depois de um dois anos sabáticos afastado de romance, até suas perspectivas tinham mudado de perspectiva.
Seu primeiro amor, aos doze, foi uma garota que ele nunca havia falado na vida. E, sinceramente, conhecê-la só estragou tudo. Mas ele fielmente seguiu com sua paixonite por um longo ano, até ser colocado na mesma sala que a pequena e isso tudo desaparecer como se nunca tivesse existido.
Talvez não fosse amor.
Ele não amava Kyungsoo. Quem sabe nem gostasse dele desse jeito.
Atração definitivamente. Era óbvio até para alguém denso como Jongin. Os lábios do Do, a forma como os dedos dele passeavam pelo próprio cabelo, puxando-os para trás, até que eles caíssem novamente sobre sua testa, era... de tirar o fôlego. Eram pequenas coisas sobre Kyungsoo que acrescentavam a toda a sua imagem e o faziam alguém que só brilhava diferente. Ele tinha um charme enorme, principalmente nos gestos mais inconscientes.
Jongin mal podia controlar sua vontade de tocar.
Tocar.
E só.
O que realmente o tirava do chão, de um jeito inimaginável, era admiração que residia nele, e Jongin não conseguia encontrar um lugar para essa simples admiração dentro de algo tão importante como o amor.
Não ainda.
Pode ser que ele só estivesse resistindo ao inevitável. É verdade. Só que os pensamentos de que faltava algo, só algo, continuavam a assombrá-lo.
— Você quer que eu o desenrole para você?
A cara de desgosto de Jongin foi inevitável.
— Baekhyun, você é inacreditavelmente hipócrita. Você propositalmente rejeita qualquer pessoa que não chega pessoalmente em você, porque diz que isso é coisa de Ensino Médio, mas vem e me oferece isso? E se Kyungsoo for igual a você?
— Aí eu fico com ele no seu lugar, ué. Alguém tem que sair ganhando nessa crise que está hoje em dia, Kim Jongin. Eu tô tentando te ajudar. Essa é a hora que você fica grato e aceita.
— Talaricagem dá cadeia, hein. — Jongdae comentou, soltando mais uma risadinha, ao que Baekhyun deu de ombros e começou a rir também.
Jonginie sabe que é brincadeira.
— Mas se ele quiser, você quer. — Jongin complementou, com um sorriso divertido no rosto, ao que Baekhyun o puxou para perto, passando um braço ao redor dos ombros do amigo.
— Por aí.

Desde a tal conversa, Kim Jongin não fizera nenhum avanço. Zero. Nenhum mesmo. Só uma vez, na semana passada, que os dois acabaram se cruzando no elevador, Jongin indo para o quarto andar e Kyungsoo entrando lá pelo segundo.
Quando seus olhares se cruzaram, o Do soltou um largo sorriso, extremamente simpático por sinal, daqueles que Jongin jamais poderia dar sem parecer amarelo e sem graça, e disse “oi, tudo bem?”. Como se eles se conhecessem – o que não era verdade, em termos – e o Kim pôde sentir a gagueira antes dela se exprimir num “o-oi”, um pigarro, “tudo ótimo!”. E a conversa parou por ali.
Pelo menos Jongin conseguiu dizer “tchau” sem tropeçar em nenhuma sílaba ao sair do elevador, o que era muito, muito incrível, já que seu coração estava emocionadamente batucando dentro do peito só pela expectativa de, mais uma vez, interagir com o outro. Sem contar os pensamentos a mil de “uau, ele é realmente super simpático”. Kyungsoo poderia tê-lo ignorado, podia só ter ido com um “ei, eu fiz as últimas cinco eletivas dos últimos quatro períodos com você, nossa, que legal, preciso sorrir e ser simpático já que cruzamos o olhar e eu não posso fingir que só não te vi”, mas ele falou com ele.
Foi mais ou menos nesse ponto que as fanfics mentais começaram. Sobre todas as formas de falar com Kyungsoo e todas as coisas que eles poderiam fazer juntos caso ele sucedesse nessa primeira missão. Tipo, finalmente tocar no cabelo do Do e ver se era tão macio quanto parecia ou deslizar as pontas dos dedos na ponte do nariz dele e traçar a forma dos lábios cheios do outro.
E, quem sabe, dar uma bitocas.
Várias.
Língua e tudo, só para não ter arrependimento.
Era difícil negar que um arrepio de tesão subia só de pensar. E logo Jongin, o celibatário, tendo esses tipos de pensamento não era pouca merda não.
O problema é que para chegar até esse estágio era preciso o primeiro passo. Muito provavelmente vindo dele, a menos que aguardasse com muita paciência e fizesse muita prece para trazer o interesse até si. Já que Kyungsoo não parecia que iria fazer isso nem tão cedo.

O que se esperar quando não se está esperando?
Os Jogos de Ciências Sociais eram um dos maiores eventos da universidade. Feriadão de Olimpíadas Universitárias significava uma viagem para outra cidade, onde seriam sediados os jogos, em um ônibus alugado com a delegação atlética de alunos e o resto da faculdade. Quatro dias inteiros de esportes, baderna, festas e muita bagunça.
Todos que passavam para a universidade diziam que era indispensável, pelo menos uma vez durante a graduação, ir nos Jogos. Eles eram semestrais e organizados por cada faculdade que iria se enfrentar para acomodar seus próprios alunos, fossem eles atletas ou apenas torcedores.
Kim Jongin nunca fora em um, mas Baekhyun e Jongdae sempre o perturbam para que fossem em algum dos períodos, o que nunca realmente acontecia, porque Jongin tinha horror ao pensamento dos alojamentos de lá. Isto é, as estadias mais baratas possíveis para se ir nas Olimpíadas – e que eram (pasmem!) altamente recomendadas pela Atlética das faculdades.
Altamente recomendadas não por serem boas, mas só porque eram baratas e podiam juntar todos em um canto só. Eles, basicamente, ficavam em um lugar enorme, nas suas próprias barracas, dividindo banheiros coletivos sem a menor privacidade e dormindo pouquíssimo, segundo relatos. Jongin tinha certeza de que iria morrer antes de sequer pisar em um lugar daqueles, porque se fosse para dar perda total em uma festa universitária, que ele o fizesse tendo uma boa caminha de hotel para dormir depois.
Só que Baekhyun e Jongdae não conseguiam o deixar em paz. De verdade, eles eram insuportáveis quando uma ideia surgia neles e mal conseguiam aceitar um não. Mesmo com Jongin usando todos os argumentos sobre conforto, banheiro privado, uma boa cama para dormir depois e afins, tudo entrava por um ouvido deles e saía pelo outro.
No fim das contas, ele ficou com a droga do alojamento e seus dedos, sem exagero, tremiam que nem o inferno quando foi digitar o número de seu cartão ao comprar os pacotes para as Olimpíadas online.
Esse era o tanto que Jongin estava disposto a ir para um hotel, mesmo sendo 200 contos mais caro que o resto dos pacotes só com alojamento.
Pelo menos, com privacidade, ele poderia levar seus mangás para ler sem sentir a necessidade de se esconder para não ser alvo do olhar julgador de alguém sem nada para fazer, colocar suas séries, animes e até algumas leituras não acadêmicas em dia do jeito que desejasse, quem sabe andar de cueca por aí ou dar uns amassos mais quentes com alguém (com sorte Kyungsoo).
Nada disso iria acontecer mais. No momento que a tela mostrou um “Sua compra foi confirmada! Aproveite os Jogos!”, ele aceitou o destino inevitável.
Restava aceitar.

No ônibus, a caminho dos jogos, não foi tão ruim. Todos estavam animados, cantando músicas da faculdade e inventando gritos de guerra ridículos. Baekhyun e ele foram a viagem toda planejando as festas e os jogos que iriam, a que horas acordariam e como ficaria a organização das barracas. Foi bem divertido, na verdade. Jongin até pôde esquecer por um tempo que estava a caminho do seu maior pesadelo até então. Era difícil ficar com raiva ou preocupado com qualquer coisa quando seu amigo o fazia rir a cada cinco minutos enquanto listava todas as pessoas de quem precisavam fugir a todo custo e de que ele faria questão de pôr fogo na barraca, se necessário, caso o perturbasse demais durante aqueles quatro dias.
Do Kyungsoo, inclusive, estava no assento logo ao lado do deles no ônibus com um de seus amigos de chapa, apenas acompanhando a baderna com palmas animadas, alguns gritos e risadas extremamente gostosas, que repuxavam todo o seu rosto em alegria.
Não tinha como não se sentir bem, realmente.

Mais uma vez, Jongin estava culpado por não se dedicar mais ao espírito acadêmico.
Era o jogo de futebol feminino. De um lado da separação das torcidas, se encontrava a sua universidade e todos os seus alunos-torcedores, vestidos com os shorts, calças, blusas e casacos da universidade ou nas cores temáticas dela. Alguns, inclusive, com pinturas coloridas no rosto e faixas improvisadas na cabeça.
Faltavam dez minutos para o final da partida e as meninas do seu time estavam jogando brilhantemente, para dizer o mínimo.
O grito da torcida, em coro, era arrepiante. Todos sentados se remexendo sobre a arquibancada ou só em pé, descontando toda a euforia na voz, para aumentar a moral do time e ver se aquele 2x1 não virava um 5x1 de uma vez só. Não era impossível com toda a categoria e classe com que as garotas jogavam.
Jongin estava sendo infectado com o entusiasmo, porque a representante de sua turma – que era reconhecidamente um amor de pessoa – surpreendia a todos com a sua atuação, e o pessoal da classe puxava um coro apaixonado com o nome da garota. Ele não pode deixar de seguir o fluxo e cantar, ela merecia.
Foi assim que o terceiro gol veio, direto do pé direito da proclamada estrela da partida. Do seu lado, todos pularam e se abraçaram. Baekhyun estava que nem pinto no lixo, adorando a baderna, vestido dos pés a cabeça com as cores da faculdade, gritando a plenos pulmões o nome da representante.
A comemoração no fim foi ainda mais linda. Kyungsoo explodiu confetes sobre as meninas, junto com outros, e todos invadiram a quadra para abraçar as atletas. Jongin se encontrava extasiado, a cabeça leve, suas bochechas doíam de tanto que havia sorrido desde o início do dia. Estava, inclusive, até mais simpático, falando com várias pessoas da sala que nunca nem trocava palavras, só porque aquela sensação de leveza lavava seu espírito. Isso tudo sem precisar de uma gota de álcool sequer.

Sejamos diretos: ninguém vai aos jogos pelos jogos. Nem os atletas vão nos jogos pelos jogos.
Todos sabem que, no fundo, bem lá no fundo mesmo, as pessoas vão pelas festas. E não é por menos. Quatro dias de Olimpíada e três festas noite após noite para não deixar ninguém chateado.
A primeira comemoração no final do dia já era extremamente aguardada, desde o fim da última competição do dia. A conversa nos chuveiros coletivos não era outra. Todos cochichando sobre o espaço, as bebidas, as atrações e, claro, os(as) pretendentes.
Foi meio chato trocar de roupa com o chão molhado dos banheiros e todo o problema que era não ter muitos lugares para apoiar a roupa limpa. Jongin havia planejado bem cada uma de seus trajes para cada um dos dias de festa, pegou emprestado o perfume de Baekhyun e Jongdae o ajudou com o cabelo para finalizar, já que era meio difícil contar com os poucos espelhos por lá.
O clima do lado de fora era congelante, então a caminhada até o local onde aconteceriam as comemorações foi perto de horrível. Ninguém quis levar casaco, já que todos sabiam que dentro do espaço seria um forno com todo o calor corporal e a quantidade absurda de pessoas. Além de que, depois, não teriam onde largar a peça, que provavelmente se perderia por algum canto e nunca mais retornaria para seu dono.
As suspeitas se confirmaram assim que pisaram no espaço, que já começava a encher a medida que cada universidade ia chegando com seus respectivos alunos. Como combinado, Jongdae, Jongin e Baekhyun foram direto para o bar encher suas canecas com algo mais forte, só para não ter que voltar lá tão cedo, e logo se dispersaram para a pista de dança.
No espaço das três primeiras horas, eles voltaram no bar mais três vezes para pegar seus refis de álcool, e Jongin já podia sentir os efeitos na leve dormência e a sensação de entorpecimento que começava a crepitar. De todo jeito, não havia outro lugar que ele quisesse estar que não no meio da pista de dança com seus amigos, balançando todo o corpo como se não houvesse amanhã. A euforia era parte disso tudo também e seus pensamentos só tinham um comando: “se liberte”.
Jongin queria ser livre, queria não se preocupar tanto em ser ruim de conversa, ou com um alojamento idiota, ou com aquela barreira que havia criado entre ele e a pessoa que invadia sua cabeça sempre que pensava em coisas boas.
Talvez não fosse tão difícil assim.
E, a medida que seu corpo balançava, as ondas da música pareciam somatizar e adicionar à sua animação, até que estava se esfregando no melhor amigo sem nem perceber. Depois de uns minutinhos, a sarrada fraternal se tornou mais uns três estranhos que se enfiaram no circulozinho deles, sem se preocupar em se apresentar e nem nada. Amizades de balada. Só que Jongin realmente não estava ligando para coisa nenhuma naquele estado e Jongdae prontamente fez os intrusos se sentirem super à vontade de invadirem seus espaços, então estava tudo bem. Jongin, inclusive, deixou uma das recém-chegadas o puxar pela cintura para se esfregarem ao som de Wild Thoughts em outro canto. Não era nada sexual demais, dava para ver nos olhos dela que a mesma só queria se divertir, mas se Jongin fizesse o avanço, dificilmente a garota rejeitaria. Só que ele ficou satisfeito em só se balançar e não tentar mais nada.
Baekhyun, por outro lado, já estava aos amassos bem ao seu lado – fosse lá como ele tenha ido parar ali também – e Jongdae estava meio sumido fazia uns minutos. O que seria um problema se Jongin estivesse sóbrio e com todas as suas preocupações prontas para devorar sua cabeça, mas esse não era o caso.
Incrivelmente, ele estava pleno e sozinho. Uau.
Em certo momento, a pessoa puxou Jongin pelo braço, dizendo que o apresentaria para seus amigos, porque ele era muito legal. E o Kim foi, inclusive extremamente animado para conhecer os parceiros desconhecidos daquela desconhecida, e todos o receberam muito bem, com vários gritos de bêbado e uns pulinhos e “uô uô uô uôs” totalmente fora de ritmo.
Só que qual não foi sua surpresa ao ver Kyungsoo no meio deles.
Kyungsoo e seus olhos bonitos, lábios sorridentes, super despojado com uma roupa tão, tão bonita que foi difícil não ficar encarando. Ele nunca usava camisas de botão jeans, mas o Kim desejou, com todas as suas forças, que isso se tornasse recorrente. Jongin provavelmente havia saído do ar no momento que o identificou, porque só foi acordar outra vez quando o Do o abraçou, claramente meio alterado, falando consigo ainda mais íntimo do que fizera no elevador há algumas semanas:
— Porra, que bom te ver aqui, cara.
Ele sorriu e concordou com a cabeça, já voltando a dançar para ver se isso disfarçava um pouco do desconforto que sentiu por não saber o que dizer.
Provavelmente esse era o limite da sua sociabilidade alcoolizada.
Jongin permanecia imutável em sua dificuldade com papos, fosse lá qual fosse o estado.
Não que estivesse reclamando, já que Kyungsoo voltou a dançar, bem ao seu lado, inclusive o tocando no braço e no ombro diversas vezes em uma coreografia ou outra, sorrindo simpático em sua direção logo depois, para mostrar que queria interagir e agitar o Kim ainda mais.
Trocaram algumas palavras sobre set list escolhida e como era difícil ir em festas como aquela, nas quais não se tinha vontade de parar de dançar por um segundo sequer. Até foram ao bar, ainda que não sozinhos, começar a descer um pouco de água no organismo para ninguém sair desmaiado e carregado dali logo no primeiro dia.
Jongin se deixou levar de vez. No fim, até voltou para o hotel com aquele bando de pessoas estranhas, que ele nem mesmo sabia o nome, depois de ser dispensado por Baekhyun e o sumido do Jongdae, e quase acabou dormindo na barraca da menina que dançou com ele e seus amigos, só porque quiseram puxar uma conversa de bêbado minutos antes de dormir.
Com sorte, o Kim conseguiu fugir para a sua própria barraca sem deixar ninguém muito chateado e simplesmente apagou em seu cantinho com um sorriso no rosto e diversas borboletas no estômago.
Kyungsoo o beijou na bochecha para dizer seu adeus.

O dia seguinte foi como um mundo novo.
Nem Baekhyun e nem Jongdae acordaram na hora combinada. Estavam completamente mortos de ressaca no saco de dormir da barraca que os três dividiam e morrendo de raiva pela barulheira que era dentro do dormitório a noite inteira. O movimento de pessoas foi incessante até às sete horas da manhã – quando os últimos terminavam de voltar da festa, que foi fervendo até seis e meia da manhã – e todo o alojamento teve uma pequena trégua de meia hora só, na qual se ouviam passos e murmúrios.
Só que os jogos começavam às oito e os atletas eram acordados às sete e meia, junto com quem quer que estivesse lá. Mas não acordados do tipo “ei, tá na hora de jogar”, mas do tipo vuvuzela na porra do ambiente inteiro, batucada de tambor e um bando de enviados do submundo berrando a plenos pulmões.
Não existia “dormir” ali.
Quando, finalmente, Jongin conseguiu vencer sua letargia e se arrastar para uma ducha fria, acabou esbarrando com seus colegas de balada, que estavam sentados no chão, do lado de fora da barraca, conversando trivialidades. Todos eles o cumprimentaram com a animação igual a de algumas horas atrás. Jongin fez questão de retribuir a gentileza, mas se escusou rapidamente para o banho, não encontrando muita resistência, já que estavam todos super sonolentos ainda.
Kyungsoo não estava no meio deles.
A água fria fez milagres para a dor de cabeça que não queria abandoná-lo e, após um comprimidinho para ajudar a diminuir os efeitos e uma barriga cheia de café da manhã, nem pareceu tão ruim assim ter dormido só duas horas inteiras e enfrentado um banheiro coletivo cheirando a vômito.
Mentira, aquilo foi horrível de qualquer forma.

Um pós-festa era basicamente Jongdae e Baekhyun chorando as pitangas por causa das pessoas com quem eles ficaram e mal lembravam a cara. Definitivamente, a parte favorita de Jongin, porque não havia nada mais engraçado para usar contra eles depois.
— Rapaz, eu estava péssimo ontem. Teve uma hora que eu virei para um menino lá daquela universidade do outro lado do distrito, ele estava com o boné de lá e eu muito louco, muito louco — ainda que o Byun sempre dissesse que estava “muito louco”, dificilmente ele passava do normal bêbado dele, mas essa era a desculpa para toda e qualquer merda que ele fosse contar logo depois — Aí ele chegou mais perto, perguntou se podia falar comigo. Eu respondi “claro”, já sabendo que ele queria era me beijar, né, não sei nem porque se dar ao trabalho de palestrar o próprio produto antes de vender. Até aí tudo bem — Baekhyun gesticulava como se não tivesse mais ninguém ao redor, sussurrando em uma voz tão alta que nem valia a pena o esforço de tentar abaixar o tom — Só que aí ele me disse que eu era muito bonito, e eu falei que ele também era. Mas, olha, o garoto era nota mil mesmo. Então, eu decidi que seria uma boa virar o jogo, então eu soltei: “acho que era eu que deveria estar cantando você”. E, pasmem, ele deu uma risada que eu senti aqui dentro. O problema é que vocês sabem que nada que sai da minha boca nesse estado presta. Daí, ele retrucou com um: “ah é, então me diz uma coisa bonita”. E eu imediatamente respondi: “se a classe trabalhadora tudo produz, a ela tudo pertence”.
— Eu queria ter esse talento de soltar Marx e ainda dar uns beijos. — Jongin estava incrédulo e estranhamente orgulhoso. Mais pela coragem do que pela falta de noção.
— Nós nos beijamos a porra da noite inteira, foi muito gostoso. Sério. Agora ele acha que eu sou bonito e engraçado.
— Se nós formos fazer um cálculo pelo número de porcaria que sai da sua boca constantemente, uma hora alguma coisa que você falasse ia te fazer se dar bem e não se meter em alguma roubada, como sempre. Parabéns, você acabou de gastar sua probabilidade de 0.000000001%. Provavelmente nunca mais se repetirá, cara. Boa. — Jongdae ironizou, e Jongin não pôde deixar de gargalhar, porque era verdade.
Baekhyun continuou a chamá-los de invejosos e dizer que não via a hora do segundo round com o tal do cara, que já o chamara por mensagem, e a troca parecia extremamente promissora para a segunda noite de festas que os aguardava.
Jongin estava apreensivo pelos próprios motivos. Mais ou menos na hora do almoço, sua mesa que, no dia anterior, tinha consistido em somente Baekhyun e Jongdae, hoje estava cheia de pessoas. Amigos de seus amigos e o pessoal da noite anterior que os reconheceu e começou a conversar até estarem todos sentados e comendo juntos.
— Kyungsoo, por que você não senta com a gente? — ele ouviu alguém no meio deles dizer, e os olhos de Kim Jongin dispararam para cima, prontos para achar o dito cujo ali no meio.
— Opa, tem algum lugarzinho para mim? — ele respondeu em sua voz de chocolate derretido, aparecendo em seu campo de visão em um segundo. Jongin até esqueceu de mastigar e engoliu tudo de uma vez só, quase engasgando no processo.
Havia um espacinho ao seu lado, mas ele não foi esperto o suficiente para ir para o lado a tempo e papou mosca. Kyungsoo se acomodou entre alguns de seus amigos, logo à sua frente, e deu um sorriso simpático para cada um, acenando para todos. Alguns receberam piscadela e tudo.
Jongin foi um deles.
A conversa não parou por um segundo sequer. A maioria das coisas era comentários bobos e hilários. Foi difícil comer sem rir a cada segundo ou não precisar beber algo para evitar sufocamentos com a comida indo para os lugares errados no processo.
— Jongin, lembra daquela aula em que a professora de Prática começou a falar por indiretas dos professores em estágio probatório que tentavam fingir que não eram predadores de calouras, mas não a enganavam? — Kyungsoo se dirigiu a ele em um dos papos, e Jongin sentiu orgulho por conseguir pegar o fio da meada sem ter um pane mental no caminho.
— Nossa, essa aula foi foda. Ela expôs todos aqueles caras sem falar o nome de ninguém e sem sair da matéria ao mesmo tempo.
— Eu fui chutado dessa matéria três vezes, sempre fica cheia. — Jongdae miou em reclamação, e outras pessoas na mesa concordaram.
— Nossa, Kyungsoo, suas médias gerais devem ser super altas. É difícil não ser expulso dessas aulas. — Baekhyun comentou, dando um disfarçado chute na canela do Kim por debaixo da mesa, esse que o beliscou em retaliação.
— Jongin também. Nós fizemos muitas eletivas juntos.
— E ele deve ser ainda mais nerd que você, porque pessoas de período abaixo perdem em ordem de preferência. — um dos desconhecidos da mesa comentou, e Kyungsoo olhou para o Kim outra vez de forma simpática, rindo do comentário de seu amigo.
— Nada a ver. — Jongin disse, rindo junto e ficou um pouco envergonhado, sem muito motivo — Talvez eu só tenha sorte mesmo e o sistema de inscrição em disciplinas goste mais de mim, ué.
Dali para frente, se esforçou de verdade para falar mais, fazer comentários e tentar ser um pouco engraçado também. Às vezes dava certo e outras não, só que era gostoso poder ter os olhos de Kyungsoo, ouvindo-o falar pelo menos uma vez. Ainda que o normal fosse o contrário.

Após as refeições, foram juntos para a quadra. Jongin até conseguia esquecer um pouco seus medos e inseguranças quando só estavam assim, relaxados, sob o sol da tarde, apenas deixando as trivialidades tomarem conta. Além disso, a sensação de ter Kyungsoo por perto era muito boa. O cara que tanto admirava e que muito queria dar umas bitocas se pudesse. Era como se fizesse parte do círculo dele, o que, por si só, já soava como algo surreal. Como mágica ou um sonho, uma realidade que poderia simplesmente sumir se ele desse um passo em falso ou simplesmente acordasse.
Jongin decidiu que faria o esforço. Então, sentou bem ao lado de Kyungsoo durante aquele jogo e descobriu que ele era tão conversador quanto parecia.
Inclusive, no meio disso, tiveram alguns estresses com alguém da outra turma, que fez um comentário preconceituoso sobre um jogador do time da faculdade deles, e Kyungsoo logo começou a comentar sobre conversar com os coletivos sobre isso, extremamente indignado.
Não seria ele se não fosse assim.
— As pessoas acabam confundindo o clima de ânimos mais exaltados do ambiente como passe para espalhar discursos de ódio como se fosse normal. — Jongin comentou com o Do, engolindo toda a sua vergonha — Na verdade, difícil saber se uma pessoa assim se limita a esse espaço para soltar coisas desse gênero.
Kyungsoo concordou entusiasticamente com a cabeça e suspirou profundamente, parecendo realmente perturbado com o ocorrido.
— A minha vontade é parar o jogo e ir lá encarar o indivíduo, mas aposto que ele vai achar que eu quero é sair no soco. Sinceramente, prefiro conversar com o pessoal da universidade dele.
— Eu tenho achado ótimas essas campanhas que o coletivo está fazendo junto com o Centro Acadêmico para diminuir o machismo e o preconceito nos Jogos. Soube que montaram barracas para deixar o pessoal denunciar casos de abuso nas festas. Isso é incrível!
Com um sorrisinho satisfeito de canto, Kyungsoo se ajeitou sobre a bancada e se virou um pouco mais em direção a Jongin.
— Nós pegamos alguns voluntários, eles ficaram usando uma bandana roxa no braço e se revezaram durante a festa e fizeram escalas para alguns que só ficavam parados na barraca. Deu super certo. Hoje eu devo ficar por lá.
— Estou me sentindo inútil por não ter me oferecido antes. Acho que descobri tarde demais, né?
— Que nada, ainda dá tempo! A maioria das voluntárias foi meninas. Só que uma delas acabou precisando vender o pacote das Olimpíadas por causa de dinheiro e eu ia ficar sozinho no meu horário. Se quiser, pode me ajudar por lá. Sei que deve soar meio chato, afinal, vai ser uma boa uma hora e meia na festa que vamos ficar sentados, mas eu não me incomodo.
— Eu também não! Super topo. A causa é importante, afinal.
Ah… O sorriso largo de Kyungsoo. Era tão bonito, tão brilhante, tão recompensador.
Jongin estava dando tapinhas em seu próprio ombro internamente, repassando diversos discursos de auto-apreciação, porque ele conseguiu fazer Do Kyungsoo sorrir daquele jeito só para ele.
E, muito provavelmente, havia ficado preocupantemente viciado naquela sensação.
— Jonginie, eu vou no banheiro rapidinho, segura meu lugar aqui na arquibancada, por favor? — ele pediu, tirando o próprio o casaco e já colocando sobre o espaço onde estava sentado, só para garantir.
“Jonginie”. O apelido vibrou no cérebro de Jongin.
— Claro. Vai tranquilo.
Quando Kyungsoo sumiu da visão, Baekhyun apareceu de algum lugar, no meio do nada, e só soltou o seu sorrisinho de “eu sei o que você estava fazendo e por que estava fazendo”.
— Jogando grande, garotão? Estamos na fase do tudo ou nada?
— Acabei de me oferecer para fazer rondas voluntárias com ele na festa de hoje. Aquele esquema de ajudar os alunos que forem vítimas de abuso.
— Só vocês dois?
— Eu fui abençoado, Baekhyun. Eu acho que eu, finalmente, vou deixar de ser trouxa.
— Você não é trouxa, Jongin. Eu sou trouxa, Jongdae é trouxa, você só escolhe bem até demais. Isso é um dom. — seu amigo deu dois tapinhas no ombro dele e, com uma piscadela, disse mais uma coisa antes de se afastar: — Mas tente prestar atenção primeiro nas vítimas e depois nas bitocas, ok? Isso é um trabalho importante.

“Tente não beber demais até a hora da ronda. Não dá para ajudar ninguém se estivermos bêbados”, foi o que Kyungsoo disse antes da festa. “Me encontre na barraquinha perto da porta às três horas da manhã”.
Verdadeiro à sua palavra, Jongin maneirou. Ainda assim, não deixou de, mais uma vez, se enfiar na pista de dança, com um pouquinho menos de entusiasmo para não gastar sua energia toda no início da madrugada. Estava cansado já, pela noite mal dormida e toda a agitação do dia, mas suas pernas não paravam de bambear e seu coração de falhar algumas batidas sempre que lembrava do que aconteceria dentro de algumas horas.
Ele e Kyungsoo, sozinhos, podendo conversar e ajudar pessoas ao mesmo tempo. Jongin tinha que confiar um pouco na habilidade de arranjar assunto do Do, porque ele definitivamente era ruim nisso, mas daria seu melhor para não tornar nada muito chato.
Quando a hora chegou, avisou aos seus amigos para onde estava indo e logo saiu desviando pela massa de corpos em direção ao local combinado.
Kyungsoo já estava por lá, trocando de faixa com o pessoal do turno anterior e agradecendo a ajuda deles com uma pequena reverência. Não demorou muito para que flagrasse Jongin se aproximando, já que havia levantado o rosto para olhar em volta e, provavelmente, procurar por sinais dele.
— Bem na hora. — com um abraço, se sentaram em seus respectivos lugares na barraquinha sinalizada com algumas faixas e cartazes, que deixavam claro que qualquer um que passasse por situações com as quais não se sentisse confortável podia se aproximar para pedir ajuda.
Como esperado, foi Kyungsoo quem puxou os papos iniciais, falando do movimento da festa mais intenso do que a noite interior, como o calor parecia menos suportável com eles sóbrios e que esperava que a noite fosse tranquila. Jongin seguiu da melhor forma que pôde e, se as diversas risadas que davam era qualquer sinal, achava que estava fazendo um bom trabalho.
Em certo momento, Kyungsoo começou a perguntar coisas que ele simplesmente não sabia como responder sem parecer idiota. Por exemplo, por que ele não fazia parte de nenhum coletivo ou grupo de ajuda, já que parecia interessado nesses assuntos. E o que o surpreendeu no meio disso tudo foi o fato de que o Do, na verdade, observava bastante coisa sobre Jongin. O Diretor chegou a citar que sempre o via em palestras na faculdade de cunho social, discussões importantes sobre cultura, nas passeatas e, inclusive, as famigeradas matérias extracurriculares em que sempre se esbarravam. Ele imaginava que Jongin realmente fosse interessado nos assuntos.
— Na aula sobre gênero, seu vídeo sobre o tema dos movimentos de libertação através das décadas foi maravilhoso. Você sempre fala tão pouco que a gente nem imagina quanta coisa se passa nessa cabecinha. — disse, dando um leve peteleco na têmpora do outro e rindo logo depois.
Jongin deu de ombros e se permitiu rir junto. Não era mentira.
— Eu só me acho péssimo vocalizando minhas ideias. Mas eu amo esses assuntos, acho que deu para perceber.
— Bom, eu já acho que, se você tem algo para falar, fale. — Kyungsoo virou-se para ele, encarando-o profundamente — De verdade, eu não sei como fui virar Diretor Acadêmico na minha universidade dos sonhos, mas cá estou. Eu meio que sempre odiei posições de liderança, porque elas sempre envolviam limitações que eu preferia não ter. Na minha antiga escola, eu só era aquele carinha raivoso que “problematizava” tudo, mas ninguém se preocupava em me ouvir. Tinha uns caras que me chamavam de “bicinha escandalosa”. Só que eu nunca fui muito feliz calado. — Kyungsoo deu de ombros — Então, eu continuei a fazer o mesmo quando entrei aqui e uma coisa levou a outra.
— Você é ótimo diretor acadêmico, eu só escuto as pessoas falando coisas boas.
— Obrigado, mesmo que eu não concorde. — o Diretor mordeu o lábio inferior, olhos meio perdidos em algum lugar na pista de dança — Ainda acho que tem muita coisa que eu prometi e não sei como cumprir, porque tenho a péssima mania de idealizar mais a envergadura das minhas asas. Só que eu não quero parar aqui. — Kyungsoo olhava para si e parecia perfurar suas íris para tocar sua alma diretamente — Nem que eu tenha que deslocar um ombro para poder alcançar o que eu idealizo, eu vou fazer. Eles me escolheram por isso, não é?
Jongin queria tanto tocá-lo ali. Queria passar a mão pelo seu cabelo e chegar um pouco mais perto, sussurrar no seu ouvido que qualquer coisa sobre não ser capaz de realizar era besteira, queria dizer o que realmente pensava, mas todas aquelas emoções selvagens começavam a se debater dentro de si, gritar consigo, querendo sair de uma vez só.
— Bem, pelo menos você tenta.
Seus dedos se fecharam em punhos sobre seu colo. Inquietos.
Os lábios selando-se, para guardar mil e uma palavras que não conseguiam ser ditas.
Tão dolorosamente perto e mesmo assim…
— Ei, eu vi o seu bottom do Hisoka outro dia na aula. Eu tenho uma irmãzinha que ama anime, ela me fez assistir HunterxHunter com ela. Eu nunca tive minha fase otaku na escola, mas definitivamente estou iniciando nela depois dessa.
Seu coração escapou uma batida.
— A história é boa e os personagens são bem desenvolvidos demais para não gostar. Sua irmã é uma verdadeira intelectual.
Os papos vieram um atrás do outro e só se interrompiam quando alguém parava pela barraca para falar algo ou pedir alguma ajuda. Por sorte, nenhum dos casos era muito grave e dificilmente envolviam assuntos pesados ou atuações mais sérias. Boa parte era só pessoas bêbadas dizendo que perderam alguma coisa ou só elogiando a iniciativa.
Jongin estava feliz.
Feliz, porque, ao terminarem seu turno e serem substituídos por outra dupla de alunos, foram os dois direto para o bar. Kyungsoo estava cansado e o chamou para ir embora consigo, não muito tempo depois. Portanto, Jongin foi atrás de seus amigos para avisar sobre a pequena mudança de planos. Provavelmente, se tivesse um rabo, ele estaria excitadamente balançando de um lado para o outro atrás de si enquanto seguia o Do.
No meio do caminho, acharam uma pracinha e resolveram desviar para sentar nos balanços e só ficar ali, que nem crianças, balançando-se, no frio, olhando a lua e falando, falando, falando e falando. Sobre a vida, a faculdade, animes, pessoas, professores e assuntos estranhos que Kyungsoo surgia, tipo se ele acreditava em aliens, sereias e gnomos, mas só para descontrair quando um assunto mais pesado parecia enterrar o astral. Jongin se engajava neles sem nem piscar, já estava confortável com o outro o suficiente para deixar aquele Jongin nada antissocial aparecer.
Ainda que mais relaxado, os desejos de dar umas bitocas não tinham sumido.
Voltaram para o dormitório, finalmente, quando começaram a ver mais pessoas, que antes estavam na festa, seguindo o caminho principal na direção do mesmo.
Dessa vez, Kyungsoo se despediu dele com um abraço e um beijo na bochecha.

Um novo dia. Jongin queria conseguir lembrar do que aconteceu durante ele até que chegassem ali.
Céus, Jongin queria sequer ligar para o que aconteceu durante o dia até que chegassem ali, mas será que importava tanto assim?
Era a última noite de festa. Dessa vez, todos tinham combinado de se arrumar mais cedo e só ficar naquela mesma pracinha, depois do jantar, para matar tempo e conversar um pouco. O papo atual era o tal do carinha que Baekhyun estava de rolo depois das cantadas sobre Marx. O pessoal estava falando coisas a respeito do cara e Jongdae estava fazendo piadas para terem cuidado, se não o Byun ia acabar pegando ranço do rapaz caso um assunto polêmico surgisse.
Jongin estava apenas balançando, rindo das fofocas bem humoradas que surgiam aqui e ali e o jeito barulhento de Baekhyun de sempre conseguir ser o centro das atenções e arrancar gargalhadas de todos sem nem tentar muito. Só que bom, bom mesmo, era o fato de Kyungsoo estar sentado bem no seu joelho, juntinho dele no balanço.
Mais uma vez, passaram o dia conversando com seus amigos próximos, como se sempre tivessem sido um grupão, e os dois, depois da noite de ontem, estavam mais íntimos do que nunca.
Na pracinha, não tinha muitos lugares confortáveis para sentar e o chão era cheio de areia, então alguns estavam nos colos uns dos outros. Kyungsoo acabou indo para o seu, sabe-se lá como, mas Jongin não estava reclamando.
Tirando a vontade absurda de envolver a cintura dele com os braços e puxá-lo para perto, estava tudo bem.
Ainda que Jongin quisesse muito, muito, só tocá-lo.
Por que tinha que ser tão complicado?
Kyungsoo pediu perdão pelo peso quando levantou, mas Jongin não lembrava nem se sentiu algo além de alegria para ser sincero. Então, rejeitou as desculpas, ousando até beliscar o canto da cintura do outro, que soltou um risinho meigo em resposta.
Ah…

Eles nem beberam tanto assim, mas a situação era sempre a mesma. Pista de dança, boas músicas, animação, sarrando em um amigo, depois em outro, depois Kyungsoo. Essa última parte é que era a parte atípica. E Jongin já nem mais questionava sua sorte ou como tudo aquilo estava acontecendo.
Jongin não reclamara mais nenhuma vez, nem dos banheiros nojentos do alojamento e nem das noites mal dormidas.
A vida, na verdade, estava sendo extremamente gentil consigo.
Quando Kyungsoo chegou perto de si, estava tocando um reggaeton em espanhol. Ele estava tão bonito assim, com um sorrisinho atrevido de canto de boca, balançando os quadris sensualmente e se aproximando mais e mais como se só dançasse e mais nada, sem segundas intenções. Mas só até seus corpos estarem vergonhosamente próximos e levemente se esfregando com certos movimentos. Jongin não soube o que fazer com os próprios braços no primeiro momento, nem as próprias mãos, ele só nunca tinha chegado até aquela parte do jogo e não fazia ideia de como passar de fase. Seria uma boa tocá-lo ali?
A vontade dentro de si, de se esticar e finalmente tocar, clamar, aquietar aquela queimação em seu peito, em seus dedos, estava tão insuportável, que Jongin jamais achou que seria capaz de largar o foda-se de forma tão absoluta quanto fazia naquele momento.
Alcançou a cintura do outro com a palma.
Ao olhar nos olhos de Kyungsoo, teve sua confirmação de que tinha feito a escolha certa.
A música mudou para uma mais sensual que a outra, ainda em espanhol, e os dedos de Kyungsoo se enroscaram na barra da sua camisa, puxando-o até que seus peitos se colassem, seus lábios no pé do ouvindo de Jongin.
Seu perfume era o melhor de todos.
— Foi uma decisão tão difícil assim?
Quer dizer que além de talentoso… Ele lia mentes?
Não deu tempo de perguntar.
E nem importava.
Estavam ocupados se beijando.

Em primeira mão: o cabelo de Kyungsoo era tão macio quanto parecia e seus lábios, nossa… Era difícil para o Kim pensar neles sem os arrepios descerem direto para a direção sul.
Jongin nunca esteve tão excitado na vida. Mental e fisicamente. O garoto beijava bem, podia até nem ser o melhor dos melhores do mundo, só que para si isso era irrelevante. Era algo sobre o modo como Jongin desesperadamente queria aquilo e, finalmente, conseguira. O corpo de Kyungsoo estava ali, colado ao seu e, de leve, eles ainda se balançavam um pouco ao ritmo da música que tocava.
Pode parecer meio bobo, mas Jongin estava sorrindo um pouco em meio ao beijo, sentindo que entendia o seu eu do passado, que pensou faltar algo quando Baekhyun o perguntou sobre amar Kyungsoo.
Ali, naquele exato momento, não faltava nada.
Os beijos duraram tanto tempo, no meio da pista, pelo menos. Depois foram para um canto mais vazio e continuaram de onde pararam, Jongin preso contra a parede e as mãos de Kyungsoo descendo por todo canto no seu corpo, ainda que o lugar favorito do Kim fosse com os dedos dele bem presos no seu cabelo da nuca. Algo sobre o modo com que o outro segurava com a pressão certa para não o machucar e fazê-los encaixar suas bocas tão bem.
— Você não sabe o quanto é adorável, Jongin. — Kyungsoo murmurou contra seus lábios e o Kim quase gemeu. Quase mesmo. “Tomara que um dia você perceba isso também”, restou sem ser dito.
— É você. — foi tudo o que o Kim conseguiu dizer em resposta, e ainda bem que Kyungsoo estava mais dedicado àquele amasso do que a convencer Jongin sobre ser ou não ser alguma coisa.
Ele sentia que seu coração não aguentaria.
Os lábios sugando seu pescoço e a mão ameaçando adentrar a fronte das suas calças apagaram qualquer pensamento conflitante num segundo.

Eles não se sentaram no mesmo ônibus no dia seguinte. Nem se falaram tanto quanto falaram nos outros dias.
Mais por causa de toda agitação do último dia, desarmar barraca, guardar os sacos de dormir e deixar tudo empacotado para pegar o ônibus logo depois do último jogo do que por falta de educação de qualquer uma das partes.
Só que Jongin foi obrigado a fugir para o chuveiro mais distante possível de Kyungsoo, porque era incapaz de vê-lo sem roupa e suportar as próprias memórias ao mesmo tempo.
Bom que ele não o viu fugir e meio que a primeira interação dos dois, no café da manhã, foi o selinho que recebeu assim que o rapaz chegou e terminou de cumprimentar a todos. Uma porra de um selinho. Um selinho.
S-E-L-I-N-H-O.
Suas borboletas não estavam passando bem dentro do estômago.
Baekhyun e Jongdae, por outro lado, estavam com aquela característica feição de quem vai falar merda se o amigo deixar a guarda abaixada. Só não dava para se importar.
Jongin arriscava a própria sorte e, de vez em quando, botava uma mão sobre a coxa de Kyungsoo para falar com ele, apertando de leve ou só deixando-a ali por um tempo. O outro parecia nem se importar e correspondia os toques discretos quando dava.
No meio de um dos jogos, os dois foram pegar uns lanches para o pessoal e acabaram por esbarrar em uns gatinhos filhotes. Obrigatoriamente, óbvio, precisaram parar para fazer carinho neles. Kyungsoo absolutamente amava animais. E Jongin também, talvez até mais por nunca ter tido um pet e não ver a hora de arranjar o próprio espaço para conseguir quantos quisesse.
Aliás, eles tinham muita coisa em comum, exatamente como imaginava.
E vendo-o dali, falando com uma voz fininha e estúpida com os serzinhos, fazendo o peito do Kim se encher de algo que não sabia nomear, o dava uma vontade absurda de rir a toa e só falar a verdade.
Se você tem algo para falar, fale.
— O proletariado tem que tomar os meios de produção.
— O quê? — Kyungsoo, super distraído com a pequenina em suas mãos, que já tentava lambê-lo em sinal de afeto, levantou o rosto em sua direção.
— Er… Não, nada. Eu estava comentando que é fêmea. Pelas cores.
Maldito Baekhyun.
— Sim, você está certo. Essa bebezinha aqui é lindona também, não é? — o outro continuou a mimar e mimar o animal, até perceberem que estavam demorando um pouco com os lanches e tiveram que se despedir dos filhotes e seguir seus respectivos caminhos, ainda que com o coração super dolorido por deixá-los para trás só para encher a barriga de um bando de preguiçosos, que nem se ofereceram para ajudá-los a levar toda a comida.
Ou pelo menos era o que Kyungsoo dizia.
Jongin sabia que o motivo era outro bem diferente.
— Tem um bar maravilhoso perto do Centro, eu acho que você ia gostar das músicas e do ambiente. Por que nós não vamos? A gente podia dançar um pouco mais.
— Dançar nunca é demais. Eu me sinto até mais leve esses últimos dias.
“Ver você dançando nunca é demais”, Kyungsoo quase deixou escapar.
— Me passa o seu telefone, a gente pode conversar mais por mensagem para combinar isso.

Jongin se encontrava apavorado assim que chegou em casa depois dos Jogos e deitou na própria cama – todos os nós da sua coluna, feitos naquelas noites terríveis dormindo em um saco de dormir, se desfizeram como passe de mágica.
Em vez de só parar ali e agradecer a todo o universo pelos dias maravilhosos que teve, ele só conseguia pensar em tudo de ruim que podia acontecer dali para frente. Jongin não sabia como lidar com aquelas coisas positivas ocorrendo como se fosse fácil, já que nunca foi fácil e estar sendo fácil só soava estranho. Como se fosse uma invenção da sua cabeça. Além de que era esmagador demais lidar com os próprios sentimentos e a vontade de vomitar só de pensar no momento em que Kyungsoo finalmente o enviaria alguma mensagem.
Por alguma razão, fora dos jogos e de todo aquele ambiente, ele se sentia diferente. Como se o encanto tivesse passado e ele, retornado ao seu velho eu, com dificuldades sociais e muita insegurança.
Era horrível pensar que, talvez, Kyungsoo só não quisesse continuar dando-o atenção e virasse mais um colega de “oi, tudo bem? Tchau!” no corredor, até que não se sentisse mais obrigado a puxar papos com ele e a comunicação só cessasse.
Todo tipo de coisa ruim se aglomerava na sua mente, e ele não queria aquilo. Não queria aquela sensação aterradora no peito quando devia estar feliz e mais nada.
Só que era complicado, mais do que difícil. Jongin nunca teve um relacionamento, nunca conseguiu fazer o platônico virar recíproco daquele jeito.
Porra, ele até esqueceu que o Kyungsoo, aquele figura etérea do Diretor Acadêmico, sequer existia. Porque, naqueles dias, Jongin interagiu com Do Kyungsoo.
Sem títulos na frente ou honoríficos atrás.
E ele também tinha encontrado aquilo que faltava para que a admiração tivesse lugar dentro do amor. E isso estava acabando com ele.

Kyungsoo sempre fazia Jongin achar que se preocupava a toa com as coisas. Toda vez que ele duvidava de algo e aquela enxurrada de negatividade começava a se somatizar na sua cabeça, o rapaz o surpreendia com uma mensagem simpática que o enchia de novo de várias esperanças, que o sustentavam até o próximo ataque de insegurança.
Eles se encontraram outra vez, para o tal bar. E eles nem dançaram tanto assim, porque estavam ocupados se beijando.
Jongin estava meio chateado, porque sentiu que estava pior naquela coisa toda de manter um papo, mas Kyungsoo pareceu se divertir bastante, independentemente das suas dúvidas. Então, o Kim só deixou aqueles pensamentos que não ajudavam em nada em um cantinho abandonado da sua cabeça.
Ele não queria se sabotar. Escolheu acreditar que estava fazendo certo. Pela primeira vez, se deixou imaginar que tudo ia dar certo e, se não desse, não necessariamente era por culpa dele. Jongin só estava sendo ele mesmo, no final das contas.
Foram muitos beijos e muitas risadas contabilizadas.
Seu coração estava pesado de amor.

Era difícil se falarem na faculdade. Kyungsoo era muito ocupado, mas sempre o mandava uma mensagem quando podia.
Uma noite dessas, ele enviou: “Você é o primeiro que me faz ter tanta vontade de continuar falando e falando, é meio difícil dizer adeus, às vezes… Ou sempre, sei lá, tô com sono”. Jongin podia quase ver seu rosto envergonhado, ele queria poder tocar Kyungsoo.
Que bom que, agora, não era tão difícil. Ele podia.
Kim resolveu naquele momento que, como tinha algo para dizer, só diria.
“Engraçado, eu sempre achei isso. E olha que a gente nem se falava na época”.
Desligou o celular logo depois e tacou-o bem longe. Seu coração estava batendo que nem louco.

Em sua defesa, uma coisa levou a outra. Eles tinham ido para uma palestra juntos, sobre demarcação de terras indígenas na América Latina. Kyungsoo o convidou para pedirem uma comida em seu apartamentinho, que era mais próximo da faculdade, e depois voltar para as aulas da noite. Jongin topou e lá foram eles, o braço dele ao redor dos ombros do rapaz.
Era engraçado como esse tipo de imagem já não era mais tão estranha para nenhum dos dois.
Atualmente, eles gostavam também de um pouco de silêncio confortável entre eles, caminhando e só aproveitando a proximidade um do outro.
— Você está sorrindo. — Kyungsoo cochichou.
Jongin olhou para o outro como se só tivesse se tocado naquele momento da expressão emplastrada em seu rosto.
— É… Isso tem acontecido com frequência atualmente. Acha que eu deveria procurar um médico?
O Do riu e estapeou de leve seu peito, murmurando um “bobo”, antes de se aproximar mais, passando um braço ao redor da cintura dele.
A casa era pequena, mas confortável para um universitário solteiro morando sozinho. Os móveis eram coloridos e de bom gosto, tornando o ambiente, que tinha tudo para ser minimalista, mais vivo e muito Kyungsoo.
Livros e livros sobre sociologia, antropologia, ensaios e romances estavam espalhados sobre a mesa e sofás, bem como alguns dos panfletos eco friendly, que adorava distribuir pela universidade.
Pediram massa em um restaurante baratinho, porém gostoso. Kyungsoo tinha um console antigo, que carregara da casa dos pais, e isso foi o que bastou para terem o que fazer até a chegada da refeição.
Kyungsoo era realmente bem irritado jogando. Soltando palavrão atrás de palavrão quando algo não ia como imaginava. Parecia que se tornava outra pessoa. Mas, em vez de ser assustador, Jongin não conseguia parar de gargalhar sempre que ele pirava só porque tinha apertado o botão errado e perdido o 1º lugar no Mario Kart para o (insira xingamento aqui) Donkey Kong.
Foi divertido. Como tudo ao lado dele era. Até só comer foi legal ao lado dele.
Aliás, comer não foi nada comparado com o depois deles cansarem de jogar e só ficarem encostadinhos no sofá, Jongin com a cabeça na perna de Kyungsoo e só jogando conversa fora.
Até ter silêncio.
Os sentimentos, que gritavam dentro deles, eram suficientes para preencher o vazio do som.
Eles se encararam com sorrisos de crianças sapecas.
Kyungsoo o beijou. De novo.
Jongin pôs uma mão na nuca do outro, para que ele não pudesse se afastar.
Era tudo ou nada.
— Ei… — Jongin sussurrou contra os lábios dele, esfregando-os de leve carinhosamente — Eu gosto de você.
Uma coisa bonita sobre Do Kyungsoo: seus lábios formavam um belo coração quando ele sorria.
— Ei… Eu também.
— Não. Eu gosto mesmo de você. E acho que também gostava antes disso tudo. Só que agora, definitivamente, é bem mais forte.
— Tudo bem, Nini. — os dedos dele passearam pelo lado de seu rosto, até se firmarem no queixo — Eu vou cuidar bem de você.
Kyungsoo fazia Jongin ter certeza de que se preocupava a toa com as coisas.
Porque enquanto estava tão estressado, meio autocentrado e criando problemas e mais problemas dentro da própria cabeça, aqueles olhos, que agora o fitavam com tanto amor, nunca tinham mentido ou o feito duvidar de nada.
Jongin se ajeitou no sofá e se sentou sobre o colo de Kyungsoo, sem se aguentar, segurando o rosto do outro com as duas mãos antes de beijá-lo mais profundamente. As mãos dele gentilmente se embrenhando por debaixo de sua camisa e o arrepio delicioso que o fez sorrir.
Talvez aquilo fosse uma doença mesmo, no final das contas.
Quase certeza que Kyungsoo também a tinha.
Os dedos do outro se firmaram em sua cintura e logo buscaram o pescoço. Jongin gemeu, porque estava sentindo tudo com o triplo de intensidade. Seu corpo todo estava incendiado em pura antecipação, os sentimentos de carinho que o sufocavam, e ele tocou para se aliviar. Tocou os cabelos de Kyungsoo, seus ombros, braços e entrelaçou seus dedos com os dele quando levantaram e foram até a cama. Nenhuma palavra foi trocada. Estava tudo tão intenso, tão movido pelo desejo e pela paixão, que soltar qualquer coisa parecia que iria estourar a pequena bolha em que se encontravam. A comunicação se fez pelo simples olhar.
Kyungsoo sabia amar seu corpo tão bem, pelo modo como deslizava a mão pela sua pele e botava intensidade suficiente apenas para dá-lo prazer. Eles mal conseguiam parar de se beijar para se livrar das blusas e shorts e todo o excesso de roupa que parecia impedi-los de só se tocarem e se amarem mais e mais próximos. Mas conseguiram, no final das contas.
Jongin ficou entre as pernas de seu amante para deslizar a última peça dele para fora, até que estivesse nu, em pelo. Pegando sua perna com delicadeza e beijando levemente desde o calcanhar do rapaz até o interior da coxa. Ele ofegava, o Kim podia ver, pelo modo como sua barriga subia e descia rapidamente, os olhos grandes e nublados presos em si, mas quase se fechando.
A antecipação era uma nuvem negra luxuriosa sobre eles.
Seu sexo reagia a cada beijo, mais e mais próximo. Mas Jongin não foi até o pênis de uma vez, preferindo dar carinho a barriga e o peito do rapaz, parando um pouco nos mamilos, para massageá-los como achava que poderia ser bom, com a boca, a língua e a ponta dos dedos, conseguindo um gemido bonito em troca.
— Eu gosto quando você me toca assim. — Kyungsoo soltou.
— Que bom, porque acho que estou meio viciado nisso.
Jongin se posicionou mais próximo e seus membros se tocaram, o dele ainda coberto pela boxer, o que deixou o Do um tantinho impaciente. Prontamente, os dedos habilidosos do Diretor começaram a puxar a última peça para fora, até que ela sumisse e só restasse pele na pele.
Kyungsoo alcançou entre seus corpos, a outra mão sobre a bunda de Jongin, começando a estimulá-los, juntos e a mover os próprios quadris para incentivá-lo a fazer o mesmo.
Com um antebraço ao lado da cabeça de seu parceiro para apoio, Jongin segurou a coxa de Kyungsoo com a mão livre, estocando contra a mão que os encobria tão deliciosamente.
Era bom poder não se preocupar com os gemidos, poder olhar nos olhos de Do Kyungsoo e amá-lo do jeito certo, podendo deixar que o próprio coração só derramasse tudo o que sentia sem censura. Era bom amar. Era bom não ter medo. Era bom não sentir a insegurança corroê-lo e só ter certeza de que não existia nada como “merecer” alguém.
A gente merece alguém dando amor, espaço e respeito. Alguém nos merece fazendo tudo isso em troca.
E só.
A mão de Kyungsoo apertou sua nádega um pouco mais forte e o puxou para um pouco mais perto.
Jongin mordeu o pescoço dele, distribuindo beijos em seus lábios vez ou outra, só para lembrá-lo que estava ali e que o amava tanto quanto havia anunciado há alguns minutos.
Até mais.
— Eu vou gozar. — Kyungsoo avisou, e Jongin se sentiu à vontade para se deixar levar pela sensação do nó que se formava em seu baixo ventre. Seus lábios se colaram aos do outro e os gemidos morreram em murmúrios, esmagados entre as bocas que não conseguiam se separar.
Fervorosamente, a mão do Do se movia entre eles, fazendo mais pressão para levá-los ao limite.
O orgasmo o fez estremecer e perder todo o fôlego de uma vez só. Mas Kyungsoo não o deixou escapar, e ele apenas ficou ali, deitado sobre o tronco do Do, ofegante, com a cabeça na nuvem e apertando em seus braços a coisa mais preciosa que jamais teve o prazer de amar.
— Nini, obrigado.
— Pelo quê?
— Por gostar de mim até eu perceber que a única coisa certa a se fazer era gostar de você também.
Jongin apertou-o um pouco mais.
— Você podia nunca gostar de mim e eu iria continuar a gostar de você. Aliás, tudo isso poderia não ter acontecido e eu ia continuar a admirar você, de longe, vendo-o ser o Diretor Acadêmico que todos amam, falando pelas minorias, não deixando nada que não mereça o seu silêncio te calar. Isso eu sempre pensei. Claro que com uma vontade absurda de ter dar uns beijos, mas, por mim, essa seria minha vida para sempre se necessário. — Jongin deslizou as mãos sobre as de Kyungsoo, entrelaçando seus dedos — Eu entrei em pânico quando uma coisa levou a outra. Cada vez que dava certo, eu imaginava o que iria dar errado logo depois para me fazer só acordar desse sonho. Só que nada acontecia. Só as boas coisas. E eu ficava apavorado por sair da minha zona de conforto, sair de trás do muro que eu criei para nos separar, até perceber que não tinha nada invisível me puxando na sua direção. Eu estava andando sozinho, porque eu sempre quis andar. O fato de você vir na minha direção também é só um bônus que eu acha que não merecia. Só que é mentira. — ele se apoiou novamente nos antebraços, parando de fazer peso sobre o corpo dele. Havia uma pequena lágrima ameaçando cair no canto de seus olhos, e Kyungsoo fez a carinha mais bonita do mundo mundo para ele, segurando seu rosto, acalentando-o com um leve carinho nas bochechas — Nada que é tão bonito assim acontece por acaso, não é mesmo?
Kyungsoo sorriu. Os lábios de coração. Que, com sorte, iluminariam seus dias dali para frente.
— Sim, Nini. — ele deixou um beijo sobre a pálpebra do olho teimoso de Jongin, que segurava a lágrima sem deixá-la cair — Não tem nada sobre o amor de verdade que seja errado. Ninguém ganha amor por merecimento. Amor não é troféu. Amor é reciprocidade do bem. Agora, por favor, não chora ou eu vou chorar também.
Jongin não se aguentou e precisou rir. Riram tanto, juntos, que só mais um abraço para fazê-los se acalmarem e deixaram só aqueles bons sentimentos lavarem suas almas.
— Jongin-ah.
— Sim?
— Se o proletariado tudo produz, a ele tudo pertence.
Ele precisava agradecer Baekhyun um dia desses.


Fim



Nota da autora: Sem nota.



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