Capítulo Único
Te ver passar todos os dias pela floricultura do outro lado da rua, olhar todas as flores e ainda sim escolher as mesmas rosas azuis, as que você mais gosta, me faz perceber o quanto eu gostaria de caminhar em sua direção e tomar a coragem de ao menos dizer um “bom dia” que fosse, só para ter o suficiente de sua atenção.
— Sonhando acordado outra vez, ? - a voz surgiu ao meu lado, dispersando meus pensamentos por alguns segundos.
— Olhando a movimentação! - respondi voltando a atenção onde ela estava, percebendo que já não se encontrava mais no mesmo local.
Um pouco desesperado talvez, esse amor que surgiu em mim desde a primeira vez em que nos vimos, ou melhor, primeira vez em que nos falamos. Quando você entrou pelo café segurando a barra daquele lindo e longo vestido vermelho que fica tão bem em você, uma maquiagem um pouco mais borrada do que gostaria e pedindo por duas bebidas de morango para viagem, eu sequer imaginava que você sabia da minha existência.
Flashback
12 de Janeiro, 2016
Primeira neve do ano
— Dois yogurts de morango para viagem. - a garota que fez os pedidos carregava a enorme cauda de seu vestido em seu antebraço, ajeitou o blazer que usava por cima do mesmo, por causa do frio que fazia fora do carro e sorriu para ele assim que viu seu olhar curioso.
— Noite agitada, - ele sorriu simpático - copo grande, médio ou pequeno?
— Grande! - ela respondeu analisando a diferença entre o médio e o grande que não era muita - É a formatura do meu irmão na faculdade. - ela disse olhando alguns bolos na vitrine, decidindo internamente se levaria ou não um para mais tarde - E a comemoração de que eu fui aceita na minha, então se quiser caprichar no morango da parte de cima, eu não iria reclamar.
— Morango extra, anotado! - ele sorriu de forma arteira - Parabéns! É um grande passo na vida entrar na faculdade.
— Não acho que ninguém precise de uma faculdade para ser quem é hoje em dia. - ela disse refletindo por alguns segundos - Existem muitos profissionais que são melhores do que aqueles que estudaram para sua profissão por anos, sem emprego porque não tiveram a mesma oportunidade de estudo nesse mundo, - ela suspirou - eu acho que tive sorte e provavelmente um certo privilégio.
— Você é inteligente e esforçada, precisa se dar um pouco mais de mérito. - ele disse de costas para o balcão, sem prestar muita atenção no que dizia e principalmente para quem.
— Nós nos conhecemos, certo? - ela disse olhando por cima do balcão, mudando o assunto e esperando que ele virasse para ela - Não adianta falar que não, sua frase acabou de tirar minhas dúvidas.
Definitivamente aquilo parecia algo como o momento mais constrangedor de sua vida e era tudo que Jun conseguia pensar.
— Certo. - ele riu sem graça - Nós estamos na mesma academia... - ele a viu arquear as sobrancelhas em sinônimo de confusão - De dança, nós estamos no mesma academia de dança. - ele respondeu de forma rápida - Só que em horários diferentes, quando você sai da sua aula, eu entro, mas, já te vi em alguns ensaios e também já te encontrei por acidente outras vezes pela biblioteca pública.
— Já sei! - ela exclamou como se algo desse clareza a seus pensamentos enquanto ele voltava a preparar as bebidas - Você é o famoso , o garoto que dançava mal quando entrou na academia e surpreendeu todo mundo apenas alguns meses depois, ouvi falar sobre você.
— E você é . - ele respondeu colocando um dos copos no balcão - Uma das melhores dançarinas da academia e ainda aplicada nos estudos, além disso, é uma pessoa simpática.
— Parece que você me conhece melhor do que eu te conheço, não é justo! - ela respondeu sorrindo.
colocou o segundo copo sob o balcão e um pequeno a mais, cheio de morangos.
— Dois yogurts de morango com morangos extras e por minha conta - ele sorriu - parabéns, você com certeza merece ter entrado na faculdade.
— Obrigado! - ela disse admirada com os morangos - Esse com certeza virou meu café favorito - a garota então piscou pensativa e outra vez uma luz pareceu iluminar seu rosto com uma ideia - Me espera dois minutos!
Ela disse e saiu correndo pela porta do café, sem levar consigo os copos.
— Você esqueceu seu…- ele tentou dizer, mas foi em vão porque ela já tinha atravessado a porta do local, deixando-o confuso e observando a cena da janela de vidro do café.
Ela passou pelo próprio carro e disse algo a pessoa dentro dele que ao ver de , pareceu ficar irritado, era seu irmão, ele já estava quase atrasado para a cerimônia e por alguma razão resolveu parar naquele café específico para comprar yogurts de morango porque era a tradição entre eles. Ela atravessou a rua rapidamente, parando de forma curiosa e de repente na floricultura em frente ao café.
— Quanto uma dessa? - ela perguntou para a senhorinha sentada perto das flores.
então escolheu uma rosa azul e a levou consigo de volta para o café com pressa, sorrindo de forma que demonstrava sua agitação. Seus cabelos voavam agora um pouco mais bagunçados quando passou pela porta, realmente se pegou pensando em como alguém poderia ser tão atraente daquela forma e não tinha uma resposta coerente em sua cabeça.
— Aventura de cinco segundos realizada. - ela disse sorrindo e se aproximando do balcão outra vez - Este é meu presente para você! - ela disse entregando a rosa para ele - A noite está bonita, se sair e olhar para o céu verá que as estrelas estão bem brilhantes hoje, acho que pode nevar em breve, então é um momento propício para dar um presente desses para alguém e, você, - seu nome sendo pronunciado pela segunda vez por ela quase fez com que ele esquecesse de respirar - foi o escolhido.
Seu sorriso era frouxo e gentil, ela pagou pelo pedido e saiu se despedindo como qualquer outra pessoa normal faria, mas ainda assim, ele soube que depois daquele dia, nunca mais a veria de outra forma, sem ser aquela garota que em uma noite de sexta-feira lhe presenteou com uma rosa azul porque as estrelas estavam brilhantes.
Ele definitivamente se lembraria daquele dia.
Assim que ela pisou para fora do estabelecimento, uma neve fina e leve começou a cair. Ela o olhou através do vidro e apontou para o céu dizendo de forma silenciosa “eu disse”, acenou outra vez e entrou no carro com pressa.
Naquele dia a primeira neve do ano aconteceu e ambos a viram juntos, mesmo que por uma fração de minutos.
Flashback off
— Desde quando você esconde coisas de mim? - , seu amigo disse rindo - Ela e irão aparecer por aqui mais tarde, ela disse que iria distrair ela por tempo suficiente para que possamos arrumar tudo para a festa, acho bom você preparar esse coração. - ele disse um pouco receoso, era possível perceber em seu tom de voz - Eu não quero ser estraga prazeres, mas disse que não sabe de nada ainda, só que ao que parece, não vem sozinha.
— O que? - meus olhos voaram da rua para o cômodo da casa em que se dirigia.
— Foi o que você ouviu. - ele gritou - Se quer realmente que isso aconteça, não precisa estar aqui mais tarde ou então pode fingir que nada nunca aconteceu entre vocês, assim como ela faz.
— Aquilo foi um erro, eu… - colocou a cabeça para fora do cômodo me interrompendo.
— Esse é seu problema! - ele disse - Você vive dizendo que foi um erro, que não deveria ter acontecido, mas e se ela desde o início pensa o contrário? E se ela pensa que não deveria ter acontecido só porque você diz isso, sempre?
— Não tem como - pensei em voz alta.
— Escuta, ! - saiu de vez do local andando em minha direção - não sabe de seus sentimentos e nunca vai sair se você não contar, você a conhece por tempo suficiente para saber o quão desatenta ela é com os próprios sentimentos. Vocês se conheceram de verdade no começo da faculdade, tiveram seu primeiro beijo depois que ela apareceu na sua porta em um dia de chuva chorando porque um outro cara qualquer a tratou da forma que você nunca a trataria, porque você acha que ela foi até você quando ela tem amigas que estão presente na vida dela, mesmo antes de você chegar?
— Porque talvez ela queira entender a cabeça de um homem? - eu disse tentando não trazer um assunto que não gostaria à tona, mas meu suspiro, assim que me sentei no sofá com as mãos correndo por meus fios de cabelo, me denunciaram.
— Você precisa pensar em si mesmo as vezes, acha que está poupando ela de mais um constrangimento na vida de vocês, mas apenas está se afastando ou pior, está afastando ela, como sempre - ele comentou - você sabe o que dizem sobre as pessoas que assistem à primeira neve juntas, não sabe? Bom, eu acredito, mas se você mesmo não acredita simbolicamente que possa realmente acontecer, quem sou eu, certo?
Era incrível como as palavras dele batiam de forma um pouco mais pesadas do que deveriam, afinal, eu realmente me escondia e a assistia de onde podia. e se tornaram amigos inseparáveis, eu e éramos melhores amigos desde sempre e gradativamente nós acabamos ficando dentro do círculo de amizade um do outro por um ano, sem realmente nos tornamos amigos até que acabamos no mesmo horário nas aulas da academia de dança.
Flashback
12 de janeiro, 2018
— Oi. - ela sussurrou, se sentando ao lado de , que se encontrava atrás com cuidado para não fazer barulho pois havia chegado atrasada naquela aula e, tecnicamente, não poderia.
havia mudado seus horários com a desculpa de que estavam batendo com suas aulas na faculdade, mas aquilo não era de todo verdade. Ela era interessada na aproximação de desde aquele dia em que conversaram - pouco, mas o suficiente - pela primeira vez.
— Cuidado! - ele pegou a bolsa da garota para que ela não escorregasse em uma de suas tiras ao se sentar e sorriu - O que faz aqui esse horário?
Sua pergunta era genuinamente curiosa e ela achou fofo.
— Troquei meu horário, algumas aulas estavam batendo, então eu tive que mudar. - ela disse tranquila - Agora você terá que me enfrentar como sua oponente para o posto de melhor da academia ou... - ela ponderou o que ia dizer mas acabou dizendo do mesmo jeito - Podemos ser uma dupla invencível nas disputas mensais e quem sabe nas competições, mas é só uma…
— Senhorita , vejo que chegou atrasada e mesmo assim não deixa de conversar com o senhor . - a professora pigarreou, o que fez com que se assustasse - Vejo também que deseja ser a primeira a se apresentar hoje.
A mulher disse fazendo com que a garota se levantasse tranquilamente.
— Sem problema algum! - ela respondeu a mais velha - Desculpa, fazia um tempo que não o via, senhora Han, não tive como controlar, as palavras continuaram saindo, saindo e quando eu vi, já estava aqui na frente por conta delas, esse é o efeito .
A garota soltou uma risadinha assim que disse isso, fazendo com que todos rissem junto e a professora lançasse um olhar sugestivo ao garoto sentado no fundo da sala que apenas conseguiu rir também.
— Tenho a impressão que terei problemas com vocês dois na mesma turma. - disse ela massageando as têmporas - Sabia que minhas aulas não são iguais a de seu antigo professor, senhorita . Em minha aula exijo disciplina.
— Não se preocupe, senhora Han. - a tranquilizou - Respeito sua aula assim como respeitava todos meus antigos professores e colegas de classe.
Ela havia tomado uma postura séria, mas sabia que era apenas para lidar com a situação, ela não se estressava com facilidade, mas tentava lidar com as coisas sérias de forma séria já que nem todo mundo tem um senso de humor natural.
***
— Não foi tão difícil. - ela disse se sentando outra vez ao lado dele enquanto outros ensaiavam as partes que ainda não haviam pego na prática daquele dia. teve que se esforçar mais, pois as coreografias que estava aprendendo eram outras completamente diferentes o que fazia com que ela começasse tudo outra vez.
— Se você quiser posso te ajudar com as outras coreografias que você ainda não sabe, assim fica mais fácil nas aulas. - Ele sugeriu tranquilamente observando os outros.
Não se sabe por que, mas aquele ato ou palavras - é desconhecido o verdadeiro fato - seja o que for, fez ou fizeram com que o coração de acelerasse.
— Certo, , seja meu professor nas horas vagas! Tenho certeza que nós daremos bem juntos. - ela disse assim que o professor deu sinalização de que a aula já havia acabado.
A questão era bem simples, e passaram muito tempo juntos, se tornaram os amigos que mesmo ela tendo previsto dentro de si, ele nunca havia imaginado.
***
Em um dia como qualquer outro, batidas na porta foi o que escutou em um dia extremamente chuvoso e frio.
*Knock Knock*
Foi o barulho que escutou pela segunda vez, dessa vez um pouco mais alto vindo de sua porta.
Não demorou mais que alguns segundos para ir até ela é abri-la pensando que se tratava de seu pedido feito a mais ou menos 20 minutos ao restaurante tailandês que gostava. Mas se enganou, era ela, com cara de cansada por ter andado demais, encharcada por ser na chuva e o pior de todos, triste. Ela estava chorando de forma dolorosa e era possível distinguir suas lágrimas das gotas de chuva que cobriam seu rosto, mesmo que fosse difícil, ele sabia dizer que eram suas lágrimas. Sua primeira reação foi abraçá-la, não se importando se se molharia ou não, havia se acostumado com aquela aproximação entre eles então não se sentia estranho por isso.
— O que aconteceu? - ele disse baixinho ainda abraçado a ela.
Deu passos pequenos para traz trazendo-a consigo para conseguir fechar a porta e evitar que mais frio atingisse a ambos. Ela soluçou.
— Eu realmente achei que dessa vez funcionaria. - ela disse baixinho e ele suspirou sabendo do que se tratava.
— Por favor, não chora! - ele pediu com calma - Eu estou aqui, ele não merece uma lágrima sua que seja.
A verdade é que e até mesmo contavam a todos sobre esse acontecimento como ela tendo rompido com seu ex depois de uma briga que não exigia muito esforço das pessoas saberem. Mas a realidade era que nunca havia contado o motivo real de tudo, nem mesmo a .
Inúmeras vezes, seu ex reclamava dizendo que ela preferia ao amigo do que a ele e o conteúdo daquela briga dentro de um café, em um de seus encontros, não foi diferente. Ela saiu de lá recebendo palavras frias e acusadoras de uma pessoa que realmente não precisava ouvir e a primeira pessoa que quis ver, foi ele.
— , respira! - ele disse tirando ela de seus pensamentos enquanto soluçava - Não é a primeira vez que ele faz isso com você. - ele segurou o rosto dela com delicadeza a fazendo olhar em sua direção - Você precisa dar um fim nisso, não merece uma palavra que ele diz sobre você.
— Acabou! - disse limpando os olhos com as palmas das mãos – Eu... - ela soluçou mais uma vez e riu pelo som engraçado que havia feito, deixando-o mais aliviado por vê-la rir - Eu pensei que o amava, eu realmente pensei, mas hoje percebi que não.
— Fico aliviado em ouvir que você tirou essa conclusão e não se diminuiu por causa dele. - ele a abraçou outra vez.
— Olha só para você! - ela disse saindo de seu abraço e o olhando - Eu te molhei todo.
— Não se preocupe, existe um guarda-roupa cheio de roupa quentinha, limpinha e cheirosinha nessa casa. - ele disse fazendo com que ela desse risada - E uma comida Tailandesa a caminho que por acaso, eu pedi a promoção onde são duas porções por uma.
— Você é vidente ou algo do tipo? - ela perguntou ainda rindo.
— Acho que meu sexto sentido é bem aguçado quando se trata de você. - ele respondeu rindo - Vem, vamos te arranjar roupas secas e confortáveis, você pode ficar aqui essa noite, o quarto de hóspedes está limpo, só preciso pegar as roupas de cama.
— Comida tailandesa, estadia de graça, roupas quentinhas e a sua companhia? Poderia ser melhor? - ela respondeu sorrindo, gesto que fez com que o coração se aquecesse um pouco mais.
a puxou pela mão casa adentro, ajudou tirando seus tênis encharcados, dando um de seus pares de pantufas em seguida e a deixou pelo banheiro deixando uma toalha para que se secasse e saiu buscando um moletom dele para ela.
— São grandes, mas acho que vão te esquentar bem. - ele disse assim que ela abriu uma fresta da porta para que deixasse as roupas - Te espero na sala.
— ! - ela o chamou antes que ele pudesse sair para a sala - Obrigado.
Ele apenas sorriu e piscou para ela saindo em direção a porta que agora tocava denunciando a chegada de seu pedido.
***
Depois de um tempo jogando conversa fora enquanto jantavam e darem risada de piadas não tão engraçadas vindas do rapaz, decidiram que um filme não seria uma má opção, ambos tinham o mesmo gosto, então aproveitariam qualquer coisa que escolhessem.
— Pipoca? - ela perguntou.
— Dois baldes cheios bem aqui. - ele disse mostrando os baldes para ela - Bebidas?
— Geladinhas como se tivessem passado dias no meio da neve. - ela respondeu e ele fez um sinal positivo com as mãos.
— Temos sorvete no congelador para mais tarde. - comentou se sentando de uma vez no sofá cobrindo-se com o cobertor gigante e fofo que eles dividiam.
Não muito tempo de filme passou para que sentisse seus olhos pesarem sem piedade.
— Eu não acho que aguento até o final. - ela disse com uma voz já sonolenta.
— , como você consegue dormir em um filme de terror? - ele pergunta vendo-a rir de leve.
— Esqueceu que o medroso é você? - ela respondeu com outra pergunta, se aconchegando mais para se sentir mais confortável, deitando sua cabeça no ombro dele, fazendo com que ele desse risada e suspirasse.
então fechou os olhos por alguns minutos, mas antes que pudesse realmente entrar em um sono profundo, a acordou.
— Vamos, você vai dormir melhor no quarto do que aqui. – disse, desligando a TV, deixando o local escuro de vez, sendo iluminado apenas pela luz que vinha da rua através da janela.
— Mas aqui está tão confortável. - respondeu não se movendo nem um centímetro sequer.
— Justamente porque você está largada em cima de mim. - tentou fazer cócegas nela para ver se ela se levantava, mas nada aconteceu, além de suas mãos segurando as dele para que ele ficasse quieto no lugar.
— Fica quieto, ! - tomou liberdade de abraçá-lo, o que acabou com os dois deitados de forma tranquila.
— Vamos. - ele disse baixo, quase em um sussurro, mas ainda assim ela escutou.
Subiu seu olhar para cima e sorriu.
— Será que não podemos ficar aqui só mais um pouco? - ela perguntou olhando em sua direção que mesmo que estivesse escuro e não podia vê-la, podia sentir sua respiração próxima.
Seu objetivo era depositar um beijo na testa da garota e dizer que tudo bem, que eles podiam ficar ali o tempo que ela quisesse.
Mas acabou não acontecendo o que esperou.
Seus lábios tocaram os dela sem aviso algum e sim, por engano. Ele tentou separá-los o mais rápido possível assim que percebeu em que tipo de situação havia criado, mas ainda assim, quando criou o espaço, entre eles a ouviu sussurrar algo como “tudo bem”, correspondendo seu beijo imediatamente.
Flashback off
— Surpresa! - todos gritaram de forma animada, pude escutar do final do corredor, onde havia decidido ficar e pensar se realmente encararia tudo hoje.
— Onde está, ? - pude ouvir a voz dela soar através da música que tocava por ainda estar perto da porta que se encontrava aberta.
E a resposta foi “SIM”.
Corri o mais rápido possível que pude para a mesma floricultura que a havia visto naquela manhã. Eu sabia que era tarde e que provavelmente ela estaria fechada, mas eu tentaria nem que tivesse que atravessar a cidade em busca de uma floricultura aberta.
— Por favor, será que você pode me ajudar? Eu só preciso de uma flor, não vai demorar muito. - eu disse em desespero vendo que a pessoa que cuidava da floricultura já fechava sua loja quase por completo.
— Volte amanhã, meu filho, já estamos fechamos! - o senhor disse sem ao menos me olhar.
— Por favor! - eu repeti mais uma vez fazendo com que ele me olhasse arrumando seus óculos - Você está vendo aquela garota ali? - apontei para o vidro do apartamento no terceiro andar do outro lado da rua, onde era possível ver algumas pessoas, inclusive ela que no mesmo momento se retirava - Ela passa por sua floricultura todos os dias, escolhe uma rosa azul que são as flores favoritas dela e leva consigo. A primeira vez em que conversamos de verdade, mais ou menos cinco anos atrás, ela me deu uma de presente e no mesmo dia nevou pela primeira vez no ano. Nos tornamos amigos e eu não descobri que eu amo agora, de jeito algum, eu apenas queria poupar ela de algo que nem mesmo eu sei explicar. Mas eu a amo desde a primeira vez que a vi na academia de dança, uma quarta-feira pela manhã quando eu decidi chegar mais cedo para ensaiar e a vi praticando, sozinha.
— Eu também! - Escutei a voz que tanto conhecia vinda de trás de mim, meu corpo paralisou por uns instantes e o senhor à minha frente arqueou as sobrancelhas sorrindo, entrou outra vez me dizendo para esperar um pouco - Eu também amei. - assim que me virei ela continuou a falar e ouvi sua risada junto - Quer dizer, eu também amo você desde a primeira vez que te vi, que curiosamente suspeito ser no mesmo dia.
— , eu…- ela se aproximou, estava tão bonita quanto naquela noite que apareceu ao café pedindo por seus yogurts de morango.
— Eu ouvi o suficiente, ! - disse olhando em meus olhos - Você sabe o significado da rosa azul que eu te dei aquele dia?
— Não! - respondi baixinho, assim que ela juntou nossos rostos com a proximidade.
— Significa “mistério, a busca ou o alcance do impossível. Acredita-se que elas tragam ao dono juventude ou a realização de um desejo” - ela sorriu - Lembro que meu exato pensamento naquele momento foi que talvez se eu desse a rosa a você, um desejo meu, que no caso era descobrir se o meu destino poderia ser com você, - ela riu o que me fez rir também - poderia se tornar realidade.
— Por quê? - perguntei de forma ingênua - Porque eu?
— Porque você é você! - suas mãos passaram dia meus ombros a minha nuca e meus cabelos - Ok, talvez porque você tenha me dado morangos extras na época.
— É o suficiente! - eu respondi acompanhando sua risada.
Ela então me abraçou.
— Não preciso de um porquê para amar você, ! - ouvir ela dizer aquelas palavras certamente me enchiam o coração de sentimentos que eu realmente não sabia que tinha.
E seu beijo foi tudo o que eu precisava, para saber que eu não deveria ter demorado tanto para fazer com que aquele momento acontecesse.
— Encontrei! - nos separamos porque ouvimos o grito animado do senhor da floricultura - Aqui!
— Uma rosa lavanda? - a ouvi perguntar confusa, seu corpo grudado em mim pelo frio que fazia àquela hora pela rua me fez abraçá-la pela cintura ainda mais forte.
— Sábia jovem, você trabalha com flores? - ele perguntou curioso - Mão importa! - disse alto mais uma vez nos fazendo rir - Esse não é objetivo, a rosa lavanda tem um significado importante para vocês.
— Qual? - foi minha vez de perguntar pegando a rosa de sua mão com cuidado.
— Amor à primeira vista! - ele respondeu sorrindo - Agora se me dão licença, tenho uma esposa me esperando para jantarmos e já estou atrasado. Aproveite a vida meus jovens, nunca é tarde para tentarem algo novo.
Sem dizer muito, ele saiu caminhando sem ao menos esperar por um “obrigado”.
— Vamos entrar, está frio e meu estômago está gritando fome! - ela se aproximou de meu ouvido e disse se envolvendo em mais um abraço.
***
— Espera! - eu disse antes de entrarmos, parando na porta do apartamento - Você não está acompanhada? me disse que você viria acompanhada essa noite.
— Com quem? - ela perguntou confusa - Ah, você está falando de Joo?
— Acho que estou falando de Joo, não sei. - comentei rindo, não sabia quem era a pessoa já que não havia dado mais detalhes.
— Joo veio por conta de ! - ela respondeu rindo - Ele estava interessado nele, mas quando descobriu que e ele tem algo não específico, ficou furioso e disse que viria comigo e roubaria ele, dela. O que é impossível.
— Ok, entendi! - a verdade era que não havia entendido, mas ainda sim havia concordado já que Joo não era alguém que eu deveria me preocupar - Vamos, precisamos alimentar esse monstrinho que agora é apenas minha.
— Sonhando acordado outra vez, ? - a voz surgiu ao meu lado, dispersando meus pensamentos por alguns segundos.
— Olhando a movimentação! - respondi voltando a atenção onde ela estava, percebendo que já não se encontrava mais no mesmo local.
Um pouco desesperado talvez, esse amor que surgiu em mim desde a primeira vez em que nos vimos, ou melhor, primeira vez em que nos falamos. Quando você entrou pelo café segurando a barra daquele lindo e longo vestido vermelho que fica tão bem em você, uma maquiagem um pouco mais borrada do que gostaria e pedindo por duas bebidas de morango para viagem, eu sequer imaginava que você sabia da minha existência.
12 de Janeiro, 2016
Primeira neve do ano
— Dois yogurts de morango para viagem. - a garota que fez os pedidos carregava a enorme cauda de seu vestido em seu antebraço, ajeitou o blazer que usava por cima do mesmo, por causa do frio que fazia fora do carro e sorriu para ele assim que viu seu olhar curioso.
— Noite agitada, - ele sorriu simpático - copo grande, médio ou pequeno?
— Grande! - ela respondeu analisando a diferença entre o médio e o grande que não era muita - É a formatura do meu irmão na faculdade. - ela disse olhando alguns bolos na vitrine, decidindo internamente se levaria ou não um para mais tarde - E a comemoração de que eu fui aceita na minha, então se quiser caprichar no morango da parte de cima, eu não iria reclamar.
— Morango extra, anotado! - ele sorriu de forma arteira - Parabéns! É um grande passo na vida entrar na faculdade.
— Não acho que ninguém precise de uma faculdade para ser quem é hoje em dia. - ela disse refletindo por alguns segundos - Existem muitos profissionais que são melhores do que aqueles que estudaram para sua profissão por anos, sem emprego porque não tiveram a mesma oportunidade de estudo nesse mundo, - ela suspirou - eu acho que tive sorte e provavelmente um certo privilégio.
— Você é inteligente e esforçada, precisa se dar um pouco mais de mérito. - ele disse de costas para o balcão, sem prestar muita atenção no que dizia e principalmente para quem.
— Nós nos conhecemos, certo? - ela disse olhando por cima do balcão, mudando o assunto e esperando que ele virasse para ela - Não adianta falar que não, sua frase acabou de tirar minhas dúvidas.
Definitivamente aquilo parecia algo como o momento mais constrangedor de sua vida e era tudo que Jun conseguia pensar.
— Certo. - ele riu sem graça - Nós estamos na mesma academia... - ele a viu arquear as sobrancelhas em sinônimo de confusão - De dança, nós estamos no mesma academia de dança. - ele respondeu de forma rápida - Só que em horários diferentes, quando você sai da sua aula, eu entro, mas, já te vi em alguns ensaios e também já te encontrei por acidente outras vezes pela biblioteca pública.
— Já sei! - ela exclamou como se algo desse clareza a seus pensamentos enquanto ele voltava a preparar as bebidas - Você é o famoso , o garoto que dançava mal quando entrou na academia e surpreendeu todo mundo apenas alguns meses depois, ouvi falar sobre você.
— E você é . - ele respondeu colocando um dos copos no balcão - Uma das melhores dançarinas da academia e ainda aplicada nos estudos, além disso, é uma pessoa simpática.
— Parece que você me conhece melhor do que eu te conheço, não é justo! - ela respondeu sorrindo.
colocou o segundo copo sob o balcão e um pequeno a mais, cheio de morangos.
— Dois yogurts de morango com morangos extras e por minha conta - ele sorriu - parabéns, você com certeza merece ter entrado na faculdade.
— Obrigado! - ela disse admirada com os morangos - Esse com certeza virou meu café favorito - a garota então piscou pensativa e outra vez uma luz pareceu iluminar seu rosto com uma ideia - Me espera dois minutos!
Ela disse e saiu correndo pela porta do café, sem levar consigo os copos.
— Você esqueceu seu…- ele tentou dizer, mas foi em vão porque ela já tinha atravessado a porta do local, deixando-o confuso e observando a cena da janela de vidro do café.
Ela passou pelo próprio carro e disse algo a pessoa dentro dele que ao ver de , pareceu ficar irritado, era seu irmão, ele já estava quase atrasado para a cerimônia e por alguma razão resolveu parar naquele café específico para comprar yogurts de morango porque era a tradição entre eles. Ela atravessou a rua rapidamente, parando de forma curiosa e de repente na floricultura em frente ao café.
— Quanto uma dessa? - ela perguntou para a senhorinha sentada perto das flores.
então escolheu uma rosa azul e a levou consigo de volta para o café com pressa, sorrindo de forma que demonstrava sua agitação. Seus cabelos voavam agora um pouco mais bagunçados quando passou pela porta, realmente se pegou pensando em como alguém poderia ser tão atraente daquela forma e não tinha uma resposta coerente em sua cabeça.
— Aventura de cinco segundos realizada. - ela disse sorrindo e se aproximando do balcão outra vez - Este é meu presente para você! - ela disse entregando a rosa para ele - A noite está bonita, se sair e olhar para o céu verá que as estrelas estão bem brilhantes hoje, acho que pode nevar em breve, então é um momento propício para dar um presente desses para alguém e, você, - seu nome sendo pronunciado pela segunda vez por ela quase fez com que ele esquecesse de respirar - foi o escolhido.
Seu sorriso era frouxo e gentil, ela pagou pelo pedido e saiu se despedindo como qualquer outra pessoa normal faria, mas ainda assim, ele soube que depois daquele dia, nunca mais a veria de outra forma, sem ser aquela garota que em uma noite de sexta-feira lhe presenteou com uma rosa azul porque as estrelas estavam brilhantes.
Ele definitivamente se lembraria daquele dia.
Assim que ela pisou para fora do estabelecimento, uma neve fina e leve começou a cair. Ela o olhou através do vidro e apontou para o céu dizendo de forma silenciosa “eu disse”, acenou outra vez e entrou no carro com pressa.
Naquele dia a primeira neve do ano aconteceu e ambos a viram juntos, mesmo que por uma fração de minutos.
— Desde quando você esconde coisas de mim? - , seu amigo disse rindo - Ela e irão aparecer por aqui mais tarde, ela disse que iria distrair ela por tempo suficiente para que possamos arrumar tudo para a festa, acho bom você preparar esse coração. - ele disse um pouco receoso, era possível perceber em seu tom de voz - Eu não quero ser estraga prazeres, mas disse que não sabe de nada ainda, só que ao que parece, não vem sozinha.
— O que? - meus olhos voaram da rua para o cômodo da casa em que se dirigia.
— Foi o que você ouviu. - ele gritou - Se quer realmente que isso aconteça, não precisa estar aqui mais tarde ou então pode fingir que nada nunca aconteceu entre vocês, assim como ela faz.
— Aquilo foi um erro, eu… - colocou a cabeça para fora do cômodo me interrompendo.
— Esse é seu problema! - ele disse - Você vive dizendo que foi um erro, que não deveria ter acontecido, mas e se ela desde o início pensa o contrário? E se ela pensa que não deveria ter acontecido só porque você diz isso, sempre?
— Não tem como - pensei em voz alta.
— Escuta, ! - saiu de vez do local andando em minha direção - não sabe de seus sentimentos e nunca vai sair se você não contar, você a conhece por tempo suficiente para saber o quão desatenta ela é com os próprios sentimentos. Vocês se conheceram de verdade no começo da faculdade, tiveram seu primeiro beijo depois que ela apareceu na sua porta em um dia de chuva chorando porque um outro cara qualquer a tratou da forma que você nunca a trataria, porque você acha que ela foi até você quando ela tem amigas que estão presente na vida dela, mesmo antes de você chegar?
— Porque talvez ela queira entender a cabeça de um homem? - eu disse tentando não trazer um assunto que não gostaria à tona, mas meu suspiro, assim que me sentei no sofá com as mãos correndo por meus fios de cabelo, me denunciaram.
— Você precisa pensar em si mesmo as vezes, acha que está poupando ela de mais um constrangimento na vida de vocês, mas apenas está se afastando ou pior, está afastando ela, como sempre - ele comentou - você sabe o que dizem sobre as pessoas que assistem à primeira neve juntas, não sabe? Bom, eu acredito, mas se você mesmo não acredita simbolicamente que possa realmente acontecer, quem sou eu, certo?
Era incrível como as palavras dele batiam de forma um pouco mais pesadas do que deveriam, afinal, eu realmente me escondia e a assistia de onde podia. e se tornaram amigos inseparáveis, eu e éramos melhores amigos desde sempre e gradativamente nós acabamos ficando dentro do círculo de amizade um do outro por um ano, sem realmente nos tornamos amigos até que acabamos no mesmo horário nas aulas da academia de dança.
12 de janeiro, 2018
— Oi. - ela sussurrou, se sentando ao lado de , que se encontrava atrás com cuidado para não fazer barulho pois havia chegado atrasada naquela aula e, tecnicamente, não poderia.
havia mudado seus horários com a desculpa de que estavam batendo com suas aulas na faculdade, mas aquilo não era de todo verdade. Ela era interessada na aproximação de desde aquele dia em que conversaram - pouco, mas o suficiente - pela primeira vez.
— Cuidado! - ele pegou a bolsa da garota para que ela não escorregasse em uma de suas tiras ao se sentar e sorriu - O que faz aqui esse horário?
Sua pergunta era genuinamente curiosa e ela achou fofo.
— Troquei meu horário, algumas aulas estavam batendo, então eu tive que mudar. - ela disse tranquila - Agora você terá que me enfrentar como sua oponente para o posto de melhor da academia ou... - ela ponderou o que ia dizer mas acabou dizendo do mesmo jeito - Podemos ser uma dupla invencível nas disputas mensais e quem sabe nas competições, mas é só uma…
— Senhorita , vejo que chegou atrasada e mesmo assim não deixa de conversar com o senhor . - a professora pigarreou, o que fez com que se assustasse - Vejo também que deseja ser a primeira a se apresentar hoje.
A mulher disse fazendo com que a garota se levantasse tranquilamente.
— Sem problema algum! - ela respondeu a mais velha - Desculpa, fazia um tempo que não o via, senhora Han, não tive como controlar, as palavras continuaram saindo, saindo e quando eu vi, já estava aqui na frente por conta delas, esse é o efeito .
A garota soltou uma risadinha assim que disse isso, fazendo com que todos rissem junto e a professora lançasse um olhar sugestivo ao garoto sentado no fundo da sala que apenas conseguiu rir também.
— Tenho a impressão que terei problemas com vocês dois na mesma turma. - disse ela massageando as têmporas - Sabia que minhas aulas não são iguais a de seu antigo professor, senhorita . Em minha aula exijo disciplina.
— Não se preocupe, senhora Han. - a tranquilizou - Respeito sua aula assim como respeitava todos meus antigos professores e colegas de classe.
Ela havia tomado uma postura séria, mas sabia que era apenas para lidar com a situação, ela não se estressava com facilidade, mas tentava lidar com as coisas sérias de forma séria já que nem todo mundo tem um senso de humor natural.
— Não foi tão difícil. - ela disse se sentando outra vez ao lado dele enquanto outros ensaiavam as partes que ainda não haviam pego na prática daquele dia. teve que se esforçar mais, pois as coreografias que estava aprendendo eram outras completamente diferentes o que fazia com que ela começasse tudo outra vez.
— Se você quiser posso te ajudar com as outras coreografias que você ainda não sabe, assim fica mais fácil nas aulas. - Ele sugeriu tranquilamente observando os outros.
Não se sabe por que, mas aquele ato ou palavras - é desconhecido o verdadeiro fato - seja o que for, fez ou fizeram com que o coração de acelerasse.
— Certo, , seja meu professor nas horas vagas! Tenho certeza que nós daremos bem juntos. - ela disse assim que o professor deu sinalização de que a aula já havia acabado.
A questão era bem simples, e passaram muito tempo juntos, se tornaram os amigos que mesmo ela tendo previsto dentro de si, ele nunca havia imaginado.
Em um dia como qualquer outro, batidas na porta foi o que escutou em um dia extremamente chuvoso e frio.
*Knock Knock*
Foi o barulho que escutou pela segunda vez, dessa vez um pouco mais alto vindo de sua porta.
Não demorou mais que alguns segundos para ir até ela é abri-la pensando que se tratava de seu pedido feito a mais ou menos 20 minutos ao restaurante tailandês que gostava. Mas se enganou, era ela, com cara de cansada por ter andado demais, encharcada por ser na chuva e o pior de todos, triste. Ela estava chorando de forma dolorosa e era possível distinguir suas lágrimas das gotas de chuva que cobriam seu rosto, mesmo que fosse difícil, ele sabia dizer que eram suas lágrimas. Sua primeira reação foi abraçá-la, não se importando se se molharia ou não, havia se acostumado com aquela aproximação entre eles então não se sentia estranho por isso.
— O que aconteceu? - ele disse baixinho ainda abraçado a ela.
Deu passos pequenos para traz trazendo-a consigo para conseguir fechar a porta e evitar que mais frio atingisse a ambos. Ela soluçou.
— Eu realmente achei que dessa vez funcionaria. - ela disse baixinho e ele suspirou sabendo do que se tratava.
— Por favor, não chora! - ele pediu com calma - Eu estou aqui, ele não merece uma lágrima sua que seja.
A verdade é que e até mesmo contavam a todos sobre esse acontecimento como ela tendo rompido com seu ex depois de uma briga que não exigia muito esforço das pessoas saberem. Mas a realidade era que nunca havia contado o motivo real de tudo, nem mesmo a .
Inúmeras vezes, seu ex reclamava dizendo que ela preferia ao amigo do que a ele e o conteúdo daquela briga dentro de um café, em um de seus encontros, não foi diferente. Ela saiu de lá recebendo palavras frias e acusadoras de uma pessoa que realmente não precisava ouvir e a primeira pessoa que quis ver, foi ele.
— , respira! - ele disse tirando ela de seus pensamentos enquanto soluçava - Não é a primeira vez que ele faz isso com você. - ele segurou o rosto dela com delicadeza a fazendo olhar em sua direção - Você precisa dar um fim nisso, não merece uma palavra que ele diz sobre você.
— Acabou! - disse limpando os olhos com as palmas das mãos – Eu... - ela soluçou mais uma vez e riu pelo som engraçado que havia feito, deixando-o mais aliviado por vê-la rir - Eu pensei que o amava, eu realmente pensei, mas hoje percebi que não.
— Fico aliviado em ouvir que você tirou essa conclusão e não se diminuiu por causa dele. - ele a abraçou outra vez.
— Olha só para você! - ela disse saindo de seu abraço e o olhando - Eu te molhei todo.
— Não se preocupe, existe um guarda-roupa cheio de roupa quentinha, limpinha e cheirosinha nessa casa. - ele disse fazendo com que ela desse risada - E uma comida Tailandesa a caminho que por acaso, eu pedi a promoção onde são duas porções por uma.
— Você é vidente ou algo do tipo? - ela perguntou ainda rindo.
— Acho que meu sexto sentido é bem aguçado quando se trata de você. - ele respondeu rindo - Vem, vamos te arranjar roupas secas e confortáveis, você pode ficar aqui essa noite, o quarto de hóspedes está limpo, só preciso pegar as roupas de cama.
— Comida tailandesa, estadia de graça, roupas quentinhas e a sua companhia? Poderia ser melhor? - ela respondeu sorrindo, gesto que fez com que o coração se aquecesse um pouco mais.
a puxou pela mão casa adentro, ajudou tirando seus tênis encharcados, dando um de seus pares de pantufas em seguida e a deixou pelo banheiro deixando uma toalha para que se secasse e saiu buscando um moletom dele para ela.
— São grandes, mas acho que vão te esquentar bem. - ele disse assim que ela abriu uma fresta da porta para que deixasse as roupas - Te espero na sala.
— ! - ela o chamou antes que ele pudesse sair para a sala - Obrigado.
Ele apenas sorriu e piscou para ela saindo em direção a porta que agora tocava denunciando a chegada de seu pedido.
Depois de um tempo jogando conversa fora enquanto jantavam e darem risada de piadas não tão engraçadas vindas do rapaz, decidiram que um filme não seria uma má opção, ambos tinham o mesmo gosto, então aproveitariam qualquer coisa que escolhessem.
— Pipoca? - ela perguntou.
— Dois baldes cheios bem aqui. - ele disse mostrando os baldes para ela - Bebidas?
— Geladinhas como se tivessem passado dias no meio da neve. - ela respondeu e ele fez um sinal positivo com as mãos.
— Temos sorvete no congelador para mais tarde. - comentou se sentando de uma vez no sofá cobrindo-se com o cobertor gigante e fofo que eles dividiam.
Não muito tempo de filme passou para que sentisse seus olhos pesarem sem piedade.
— Eu não acho que aguento até o final. - ela disse com uma voz já sonolenta.
— , como você consegue dormir em um filme de terror? - ele pergunta vendo-a rir de leve.
— Esqueceu que o medroso é você? - ela respondeu com outra pergunta, se aconchegando mais para se sentir mais confortável, deitando sua cabeça no ombro dele, fazendo com que ele desse risada e suspirasse.
então fechou os olhos por alguns minutos, mas antes que pudesse realmente entrar em um sono profundo, a acordou.
— Vamos, você vai dormir melhor no quarto do que aqui. – disse, desligando a TV, deixando o local escuro de vez, sendo iluminado apenas pela luz que vinha da rua através da janela.
— Mas aqui está tão confortável. - respondeu não se movendo nem um centímetro sequer.
— Justamente porque você está largada em cima de mim. - tentou fazer cócegas nela para ver se ela se levantava, mas nada aconteceu, além de suas mãos segurando as dele para que ele ficasse quieto no lugar.
— Fica quieto, ! - tomou liberdade de abraçá-lo, o que acabou com os dois deitados de forma tranquila.
— Vamos. - ele disse baixo, quase em um sussurro, mas ainda assim ela escutou.
Subiu seu olhar para cima e sorriu.
— Será que não podemos ficar aqui só mais um pouco? - ela perguntou olhando em sua direção que mesmo que estivesse escuro e não podia vê-la, podia sentir sua respiração próxima.
Seu objetivo era depositar um beijo na testa da garota e dizer que tudo bem, que eles podiam ficar ali o tempo que ela quisesse.
Mas acabou não acontecendo o que esperou.
Seus lábios tocaram os dela sem aviso algum e sim, por engano. Ele tentou separá-los o mais rápido possível assim que percebeu em que tipo de situação havia criado, mas ainda assim, quando criou o espaço, entre eles a ouviu sussurrar algo como “tudo bem”, correspondendo seu beijo imediatamente.
— Surpresa! - todos gritaram de forma animada, pude escutar do final do corredor, onde havia decidido ficar e pensar se realmente encararia tudo hoje.
— Onde está, ? - pude ouvir a voz dela soar através da música que tocava por ainda estar perto da porta que se encontrava aberta.
E a resposta foi “SIM”.
Corri o mais rápido possível que pude para a mesma floricultura que a havia visto naquela manhã. Eu sabia que era tarde e que provavelmente ela estaria fechada, mas eu tentaria nem que tivesse que atravessar a cidade em busca de uma floricultura aberta.
— Por favor, será que você pode me ajudar? Eu só preciso de uma flor, não vai demorar muito. - eu disse em desespero vendo que a pessoa que cuidava da floricultura já fechava sua loja quase por completo.
— Volte amanhã, meu filho, já estamos fechamos! - o senhor disse sem ao menos me olhar.
— Por favor! - eu repeti mais uma vez fazendo com que ele me olhasse arrumando seus óculos - Você está vendo aquela garota ali? - apontei para o vidro do apartamento no terceiro andar do outro lado da rua, onde era possível ver algumas pessoas, inclusive ela que no mesmo momento se retirava - Ela passa por sua floricultura todos os dias, escolhe uma rosa azul que são as flores favoritas dela e leva consigo. A primeira vez em que conversamos de verdade, mais ou menos cinco anos atrás, ela me deu uma de presente e no mesmo dia nevou pela primeira vez no ano. Nos tornamos amigos e eu não descobri que eu amo agora, de jeito algum, eu apenas queria poupar ela de algo que nem mesmo eu sei explicar. Mas eu a amo desde a primeira vez que a vi na academia de dança, uma quarta-feira pela manhã quando eu decidi chegar mais cedo para ensaiar e a vi praticando, sozinha.
— Eu também! - Escutei a voz que tanto conhecia vinda de trás de mim, meu corpo paralisou por uns instantes e o senhor à minha frente arqueou as sobrancelhas sorrindo, entrou outra vez me dizendo para esperar um pouco - Eu também amei. - assim que me virei ela continuou a falar e ouvi sua risada junto - Quer dizer, eu também amo você desde a primeira vez que te vi, que curiosamente suspeito ser no mesmo dia.
— , eu…- ela se aproximou, estava tão bonita quanto naquela noite que apareceu ao café pedindo por seus yogurts de morango.
— Eu ouvi o suficiente, ! - disse olhando em meus olhos - Você sabe o significado da rosa azul que eu te dei aquele dia?
— Não! - respondi baixinho, assim que ela juntou nossos rostos com a proximidade.
— Significa “mistério, a busca ou o alcance do impossível. Acredita-se que elas tragam ao dono juventude ou a realização de um desejo” - ela sorriu - Lembro que meu exato pensamento naquele momento foi que talvez se eu desse a rosa a você, um desejo meu, que no caso era descobrir se o meu destino poderia ser com você, - ela riu o que me fez rir também - poderia se tornar realidade.
— Por quê? - perguntei de forma ingênua - Porque eu?
— Porque você é você! - suas mãos passaram dia meus ombros a minha nuca e meus cabelos - Ok, talvez porque você tenha me dado morangos extras na época.
— É o suficiente! - eu respondi acompanhando sua risada.
Ela então me abraçou.
— Não preciso de um porquê para amar você, ! - ouvir ela dizer aquelas palavras certamente me enchiam o coração de sentimentos que eu realmente não sabia que tinha.
E seu beijo foi tudo o que eu precisava, para saber que eu não deveria ter demorado tanto para fazer com que aquele momento acontecesse.
— Encontrei! - nos separamos porque ouvimos o grito animado do senhor da floricultura - Aqui!
— Uma rosa lavanda? - a ouvi perguntar confusa, seu corpo grudado em mim pelo frio que fazia àquela hora pela rua me fez abraçá-la pela cintura ainda mais forte.
— Sábia jovem, você trabalha com flores? - ele perguntou curioso - Mão importa! - disse alto mais uma vez nos fazendo rir - Esse não é objetivo, a rosa lavanda tem um significado importante para vocês.
— Qual? - foi minha vez de perguntar pegando a rosa de sua mão com cuidado.
— Amor à primeira vista! - ele respondeu sorrindo - Agora se me dão licença, tenho uma esposa me esperando para jantarmos e já estou atrasado. Aproveite a vida meus jovens, nunca é tarde para tentarem algo novo.
Sem dizer muito, ele saiu caminhando sem ao menos esperar por um “obrigado”.
— Vamos entrar, está frio e meu estômago está gritando fome! - ela se aproximou de meu ouvido e disse se envolvendo em mais um abraço.
— Espera! - eu disse antes de entrarmos, parando na porta do apartamento - Você não está acompanhada? me disse que você viria acompanhada essa noite.
— Com quem? - ela perguntou confusa - Ah, você está falando de Joo?
— Acho que estou falando de Joo, não sei. - comentei rindo, não sabia quem era a pessoa já que não havia dado mais detalhes.
— Joo veio por conta de ! - ela respondeu rindo - Ele estava interessado nele, mas quando descobriu que e ele tem algo não específico, ficou furioso e disse que viria comigo e roubaria ele, dela. O que é impossível.
— Ok, entendi! - a verdade era que não havia entendido, mas ainda sim havia concordado já que Joo não era alguém que eu deveria me preocupar - Vamos, precisamos alimentar esse monstrinho que agora é apenas minha.
Fim.
Nota da autora: Ok, chegamos nessa fic em um momento de surto. Para ser sincera eu imaginei direitinho cada passo desses dois e eu posso dizer que eles são especiais para mim, assim como o significado da rosa azul, que é minha flor favorita. Gostaria de agradecer você que leu essa história, espero que tenho gostado assim como eu.
Xoxo, Caleonis.
Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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