Contador:
Fanfic Finalizada

Parte I – O início das borboletas


- Já chega! Você vem com a gente, .
Não me dignei a olhar para a porta ao ouvir a voz autoritária da minha amiga. Ela tinha me enchido de mensagens durante a última hora, implorando para que eu fosse com o pessoal para o happy hour.
- Você sabe que eu vou para um congresso semana que vem, não é? – perguntei, ainda sem olhar para cima. – Preciso adiantar muita coisa até lá.
- Se isso é uma indireta, pode deixar que na segunda eu mesma irei aterrorizar os estagiários e cobrar o relatório de social para incluir na apresentação de resultados – bufou.
- Ainda preciso aprovar as peças para a campanha institucional – acrescentei.
- E você pode fazer isso na segunda! – ela resmungou, e eu ouvi seus saltos clicarem no chão cada vez mais próximo de mim. – , nós precisamos beber. É sexta-feira, dia universal de encher a cara. Depois do caos da semana, nós precisamos.
Finalmente ergui o olhar para , travando a batalha de poder que frequentemente fazíamos quando alguma de nós não queria ceder. Mas ela estava certa. A semana tinha sido tão corrida e estressante que eu poderia muito aproveitar algumas doses de tequila irresponsavelmente combinadas com vinho.
- Quem vai? – me rendi.
O sorriso dela quase partiu seu rosto ao meio de tão grande.
- Levando em conta que os funcionários sortudos foram liberados no horário normal às seis, depois da reunião só sobraram o time de marketing e... – mordeu o lábio, hesitando em falar.
- E...? – a incentivei.
- E o time de vendas – disse, cautelosamente.
Reprimi um grunhido, já desistindo da ideia do happy hour.
Não era segredo para ninguém que dentro desta start up, o time de vendas e o time de marketing eram verdadeiros rivais. E depois da reunião de hoje, eu não queria ter que lidar com , o Diretor de Vendas.
- Você é a única que não suporta o , . Andrew, Gillian e Marcus já estão lá embaixo aceitando a primeira rodada de cerveja que o prometeu. Eu não sou muito fã dos gêmeos do mal, mas a conta vai ficar mais barata – ela fechou a tela do meu notebook, recebendo meu olhar mau humorado. – E você precisa lidar com um término. Esta é sua primeira sexta como solteira, então é questão de honra sair para beber. Eu suborno alguém para te deixar cantar a versão de 10 minutos de all too well.
Uma risada escapou mesmo contra minha vontade, embora eu quisesse mesmo era chorar.
Há uma semana, e eu tivemos a nossa pior briga nos três anos que ficamos juntos. Agora parecia idiotice, mas com a cabeça fervendo de raiva, agi por impulso e gritei que devíamos terminar. Tão irritado quanto eu, concordou. Ainda lembro do seu olhar arrasado quando o fim foi seguido por alguns segundos de silêncio enquanto assimilávamos o que tínhamos acabado de fazer.
O que eu tinha acabado de fazer.
Naquela fatídica noite, atravessei a cidade e chorei até desidratar pela burrada que tinha feito. Ele era o amor da minha vida, eu nunca tive dúvida alguma sobre isso e sobre o que eu sentia. Mas mesmo assim, não tentei falar com ele no dia seguinte. Não mandei mensagem, nem liguei.
Porque, no fundo, eu sentia que algo estava errado e eu precisava consertar isso antes de conversar com , que, diferente de mim, tentou falar comigo. Ele mandou mensagem pedindo para conversar, chegou a bater na minha porta enquanto eu fingi não estar em casa, e depois disso colocou um post-it por baixo da porta avisando que ele estaria com o toque do celular ativo para quando eu estivesse pronta para conversar com ele.
Eu ri e chorei ao mesmo tempo porque sabia que ele sempre deixava o celular no silencioso por odiar o barulho de notificações.
Mas eu estava confusa demais e precisava desse tempo. Sabia que estava sendo covarde e me escondendo atrás da desculpa esfarrapada da briga, só que era o máximo que eu conseguia fazer enquanto não resolvesse o que estava na minha cabeça.
- Você vai me pegar uma tequila? – me rendi.
- Até duas! – ela comemorou, puxando minha cadeira para trás. – Anda, levanta.
Fechei meu planner, peguei minha bolsa e pendurei o sobretudo no braço. O escritório estava vazio e pelas paredes de vidro que dividiam todo o andar, deu para ver que aparentemente eu era a única trabalhando às oito da noite de uma sexta.
- Preciso passar no banheiro – avisei, virando à esquerda. – Tirar a cara de morte.
Eu já tinha me rendido em relação a esta noite. Meu cabelo estava preso em um coque apertado feito com um lápis, tinha trocado as lentes pelos óculos redondos e provavelmente manchado o rímel ao coçar os olhos lacrimejantes depois de bocejar umas 5 vezes durante a reunião.
- Ótimo! Eu preciso fazer xixi – suspirou, vindo ao meu encalço.
Diante do espelho, soltei o cabelo e balancei as ondas escuras para tirar as marcas. Retoquei o batom vermelho cereja e usei um papel úmido para limpar o rímel borrado abaixo do meu olho. Não coloquei as lentes de novo já que nenhum happy hour valia a paz de estar sem aquilo depois de tantas horas.
- Pronta? – saiu da cabine, vindo lavar as mãos na pia.
- Para passar o resto da noite na companhia de ? – a encarei pelo espelho. – Não.
- Sabe o que eu acho? – ela sorriu com malícia.
- Não, mas tenho certeza que você vai me contar – brinquei.
- Que, na verdade, sua amargura com ele é apenas atração reprimida – disse tão calmamente como se estivesse falando sobre o clima. – Ele é bonito. Olhar intenso, fica bom de camisa social e, depois de termos visto ele jogando vôlei no Dia de Cooperação Entre Times, sabemos que ele fica igualmente bom sem a camisa. E ele é bom em flertar. Aquele sorriso... Ai céus.
Imediatamente virei para , incrédula que ela se quer tivesse sugerido isso. Eu estava com até semana passada, portanto, não havia chance alguma de eu ter olhado para dessa forma.
- Eu amo o , ! – a lembrei. – nunca passou pela minha cabeça.
Ele me dava nos nervos, sim, mas não tinha tudo a ver com a personalidade arrogante, o jeito autoritário e o fato de ele ter um enorme gosto por falar olhando profundamente nos olhos, até mesmo quando eu estava reclamando com ele.
- Não estou dizendo que você não ama o , encostou o quadril na pia. – Uma coisa não anula a outra.
- Você tá louca – balancei a cabeça.
Mas como odiava ser contrariada, ela apenas sorriu como quem sabe de verdades que ninguém mais sabe.
- Negação é a primeira fase, não é? – ela enroscou o braço no meu, me puxando para fora do banheiro.
- Eu vou te bater – grunhi, lançando um olhar raivoso para ela.
- Raiva é o segundo estágio – acrescentou, se divertindo muito.
Bufei, resolvendo que ignorar seria o mais sensato a fazer. Eu a amava, mas tinha a tendência de fanficar com absolutamente tudo e todos, portanto, eu não devia me surpreender que ela estivesse com a ideia absurda de que eu sentia atração por .
Descemos de elevador até o térreo e a noite fria fez todos os pelos do meu braço eriçarem assim que pisamos na calçada do prédio. A avenida estava menos movimentada do que estaria às seis, mas o pub irlandês do outro lado da rua parecia estar fervendo de tanta gente.
- O pessoal já pegou uma mesa, né? – perguntei.
- Ah, sim – confirmou, me puxando para corrermos enquanto o sinal estava fechado. – O Silas pediu para os estagiários virem guardar nossa mesa.
- Silas sabe que isso se chama exploração? – arqueei uma sobrancelha.
- Silas deixou eles ficarem com a gente, então não é exploração – ela sorriu. – Provavelmente teremos que levar três jovens de 19 anos bêbados para casa hoje.
- Deus nos ajude – gargalhei. – Saudades dos meus 19 anos. A vida era muito mais simples sem colegas de trabalho babacas e sem corações partidos.
- Disse a mulher da geração Y que ainda não tem nem 30 anos – revirou os olhos. – Tá meio cedo para uma crise de meia-idade, .
Se por fora o pub parecia cheio, por dentro estava caótico.
Tinha tanta gente que muitas pessoas estavam em pé ao redor de mesas improvisadas com os barris de madeira que serviam como decoração. Nos esprememos entre algumas pessoas até encontrar a mesa com os rostos familiares que trabalhavam conosco.
Tinham dez pessoas na mesa e Kit, um dos estagiários, estava sentado no colo de Lizzie, a outra estagiária. Três cadeiras livres estavam esperando por nós bem na frente da janela e bem ao lado de Tyler, um dos caras de vendas.
- Elas chegaram! – Tyler gritou, erguendo a caneca de chopp. – Eu estava duvidando da capacidade de de te trazer para cá, .
- Nunca subestime passou por ele e beliscou sua orelha.
- Eu sempre preciso de uma bebida forte depois de uma reunião com vocês, Ty – brinquei, sentando na cadeira vazia ao lado de .
- Isso pode resultar em alcoolismo – Gillian implicou.
- Infelizmente é o preço que eu pago por ter que trabalhar com o líder de vocês – suspirei dramaticamente, causando alguns risos.
- Qual é o preço que você paga por ter que lidar comigo?
A voz rouca e grossa bem atrás de mim fez um arrepio percorrer minha coluna. Olhei por cima do ombro, encontrando atrás de mim com duas canecas de chopp na mão. As mangas da sua camisa azul estavam arregaçadas até os cotovelos, expondo músculos e veias salientes do seu antebraço. Um sorriso provocador cruzou seus lábios.
- A possibilidade de me tornar alcoolista – expliquei, sucinta.
soltou um riso nasalado e, é claro, ocupou a única cadeira livre da mesa – a que estava bem ao meu lado.
- Boa noite, Diretora – me cumprimentou, usando o “apelido” que vinha usando comigo há 1 ano. – Duvidei que você viria.
Eu também, quis responder.
- Foi para te contrariar que eu vim – impliquei, provocando outro riso grave nele.
- Disso eu não duvido – piscou na minha direção.
Contra minha vontade, acabei sorrindo.
- O que vão beber? – Kit perguntou, olhando diretamente para .
- Duas cervejas, por favor – minha amiga sorriu para ele.
Quase pude ouvir o coração de Kit acelerar enquanto ele se perdia momentaneamente no sorriso de .
- Vou pegar! – ele disse, levantando do colo de Lizzie com uma rapidez incrível.
- , você vai partir o coração do estagiário – Marcus riu, observando Kit se afastar entre a multidão.
- Ele é inteligente, sabe que não vai rolar – ela se defendeu, dando um sorrisinho para as costas de Kit.
As horas começaram a passar mais rápido à medida que as bebidas foram chegando, e por mais que eu odiasse admitir, esta estava sendo a melhor noite das últimas semanas. Eu estava me divertindo genuinamente e até trocar farpas com estava me arrancando mais risos do que meu orgulho permitia. Claro que a bebida estava fazendo boa parte do trabalho.
Mas em algum momento minha bateria social começou a apitar e eu decidi que precisava tomar um ar.
Eu precisava desesperadamente de ar.
Entre uma bebida e outra, comecei a sentir meus dedos levemente dormentes, minha conversa ficando sem filtro e a risada mais alta. Troquei a cerveja por água imediatamente, mas não a tempo de evitar os efeitos característicos da embriaguez. Então avisei que ia ao banheiro, desviei do caminho do banheiro e fui direto para a frente do pub tomar um ar.
Já passava de meia-noite e o trânsito aqui era quase zero, assim como a quantidade de pessoas transitando. Me encostei na parede, cruzando os braços para me aquecer quando uma brisa mais forte me fez arrepiar inteira. Eu tinha tirado o casaco há uns dez minutos e foi definitivamente uma má escolha vir aqui para fora sem ele, mas eu não queria voltar para pegá-lo.
A noite estava sendo mais divertida do que eu esperava, mas parecia muito estranho e vazio estar aqui sem .
Apesar de ter rido a noite inteira, tudo que eu conseguia pensar era como seria melhor se eu pudesse ligar para ele, bêbada, ao chegar em casa e falar todas as coisas taradas que eu adoraria fazer com ele se ele estivesse ali. E ele riria e no outro dia iria me cobrar todas as coisas libidinosas que o meu eu bêbado prometeu.
Mas mesmo assim, uma parte bem pequena de mim estava aliviada por não estar com esta noite. E essa parte – eu admitindo ou não – estava me deixando confusa há mais tempo do que eu gostaria de confessar.
Fechei os olhos, deixando minha cabeça pender para trás. O mundo girou um pouquinho, mas respirei fundo e em alguns segundos ele voltou a estabilizar.
- Um dólar por seus pensamentos – a voz grave e masculina que tinha passado a noite falando comigo, sussurrou bem no meu ouvido.
Encolhi o ombro por seu hálito ter feito cócegas na minha pele, mas apenas riu da minha reação.
- Meus pensamentos não valem só um dólar – resmunguei.
- É tudo que sobrou na minha carteira depois de pagar bebida para tanta gente – ele resmungou, amargurado.
Sorri, abrindo os olhos para encará-lo.
estava bem na minha frente, vestindo o sobretudo preto e com as mãos enfiadas nos bolsos. Seu cabelo estava bem despenteado e as bochechas coradas indicavam que assim como todo mundo lá dentro, ele também havia bebido demais.
- Então sem meus pensamentos para você – retruquei.
- Você é uma mulher difícil, Diretora – estreitou os olhos.
- É o meu charme.
- É exatamente o que eu penso – disse, soando tão sincero que me surpreendeu.
- Está me elogiando, Diretor ? – provoquei, sentindo um sorriso brincar nos meus lábios. – Ou flertando?
- Os dois – respondeu sem rodeios. – Estive flertando com você a noite inteira.
A surpresa deve ter ficado estampada na minha cara, pois sorriu largamente, com certeza adorando ter me causado essa reação.
- Aparentemente não sou tão bom assim em flertar se você nem percebeu – brincou.
- Considerando que você é a primeira pessoa que flerta comigo em anos, não acho que a culpa é sua – cocei a bochecha, um pouco mais tímida do que o normal. – Acho que eu não sei mais reconhecer um flerte.
Embora e eu continuássemos nos provocando como se ainda estivéssemos no começo do namoro, era muito diferente. Já estávamos juntos, eu sabia o que ele queria e tudo não passava de uma brincadeira. Ter outra pessoa flertando comigo chegava a ser engraçado.
- Eu acho que estou lisonjeado em ser o primeiro então – o sorriso idiota continuou fincado em seus lábios. – E provavelmente, o último.
- O último? – fiquei indignada. – Eu recebia muitos flertes quando era solteira, ok?
- Ah, eu não duvido disso – ergueu as mãos, se rendendo. – Só não acho que você vá ficar solteira por tempo suficiente para receber muitos flertes.
Arqueei uma sobrancelha, esperando que ele explicasse. Eu não era do tipo que saía emendando um namoro atrás do outro, então queria entender de onde vinha a suposição.
- Trabalhamos juntos há 3 anos, umedeceu os lábios. – Eu já vi você e em muitos eventos. Vocês terminaram agora, mas mesmo não sabendo o motivo, sei que não vai ser suficiente para acabar com o que vocês têm.
Pisquei, completamente estarrecida por ele ter chegado a esta conclusão. Mas não me deu tempo para processar o que ele havia acabado de falar. Dando um passo para mais perto de mim, ele ficou muito tempo, tão perto que eu precisei erguer o queixo para conseguir encará-lo. Sua respiração roçou meu rosto e a forma como seu olhar prendeu o meu me fez desejar estar lá dentro, segura.
- Mas antes que você volte com ele – ele tocou meu queixo, deslizando o polegar por meu maxilar, escorregando seus dedos suavemente por meu pescoço. – Eu preciso fazer algo que eu quero há muito tempo.
E de repente eu descobri o que estava errado, o que estava me fazendo adiar a conversa com .
Eu queria .
estava certa, eu vinha me engando, reprimindo e fingindo detestar só porque sua presença me inquietava. Porque eu não queria admitir que ele me provocava, que mesmo estando com , eu sentia atração por outra pessoa.
Engoli em seco, tentando não me deixar ser dominada pela confusão que de repente tomou conta de mim ao constatar isso.
- E o que você precisa fazer? – sussurrei, seguindo pelo caminho que eu não devia.
inclinou o rosto para mais perto do meu, sua boca roçando a minha com suavidade. Meus olhos fecharam imediatamente e seu corpo pressionou o meu contra a parede de tijolos atrás de mim, seu peito colado ao meu.
- Preciso beijar você – murmurou, mordiscando meu lábio inferior com delicadeza. – Nem que seja a primeira e última vez.
E ele me beijou.
Minhas mãos se perderam entre os cabelos escuros de , assim como eu me perdi naquele beijo. Sua mão envolveu minha cintura, me pressionando com força contra seu corpo. Estremeci quando seus dedos escorregaram por meu pescoço, apertando o suficiente para me fazer querer mais.
Esqueci completamente que não devia fazer isso, ignorei a lógica e a sensação gritante de estar traindo mesmo que não estivéssemos mais juntos.
Com álcool correndo nas veias e o desejo pulsando dentro de mim, deixei que o erro acontecesse.


Parte II – O tipo ruim de borboletas


- Onde estão os energéticos quando se precisa deles?
Resmunguei, praticamente enfiando a cabeça dentro do mini freezer que ficava na área social da empresa. Havia cerveja, todo tipo de refrigerante, chás e até saquê, mas os energéticos estavam em falta logo quando eu precisava deles.
- Pelo que vi, ficou com o último.
Virei, alarmada, em direção a voz.
Meu coração quase saiu do meu peito com o susto, mas arqueou as sobrancelhas como se não entendesse minha reação. Já passava muito do horário do expediente, então eu não esperava que mais ninguém estivesse aqui.
- Puta merda! – reclamei. – O que você tá fazendo aqui?
- É começo do mês, Diretora – ele sorriu. – Você não é a única que está correndo para finalizar os relatórios da apresentação de resultados de amanhã.
Considerando que todas as salas estavam com as luzes apagadas, sim, eu acreditava que era a única finalizando os relatórios da apresentação.
- Te vi sair mais cedo, pensei que você já tivesse ido embora – expliquei. – E todos os escritórios estão com as luzes apagadas, inclusive o seu.
As paredes de vidro que dividam os escritórios eram bem úteis na maioria das vezes, especialmente quando eu estava sozinha à noite depois do expediente. E a sala de ficava a apenas 3 portas da minha, o que me dava uma boa visão do que acontecia lá.
- Fui só comprar meu jantar e voltei. Estava na sala de conferências – explicou, indicando o corredor que dava para o outro lado do prédio. – Tive uma reunião com a filial do Brasil e fiquei trabalhando por lá mesmo.
- Entendi – assenti, olhando pesarosa para o freezer. – Não tem café também.
Apontei para o pote onde ficavam as capsulas preciosas de café. Vim na esperança de um expresso triplo, mas não tinha.
- Eu sei onde encontrar mais cápsulas – comentou. – Quer que eu te mostre?
Meu olhar se encheu de esperança.
- Por favor! – praticamente implorei.
Não iria sair daqui nem tão cedo, portanto qualquer estimulante seria bem-vindo. Segui pelo corredor da cozinha e passamos direto para a sala de Kyle, o nosso CEO. Desconfiada, parei na porta, mas abriu um sorriso arteiro.
- Estamos furtando do nosso chefe? – perguntei. – Você disse que sabia onde tinha mais!
- E sei! – ele apontou para a porta de vidro da sala de Kyle Bates. – Só não disse de onde viriam as cápsulas.
O olhei com descrença, mas revirou os olhos e sem problema algum, abriu a porta e foi em direção ao pote de cápsulas que nosso chefe mantinha junto a sua nespresso. Ele pegou 4 cápsulas e voltou como se não tivesse feito nada, seguindo calmamente de volta para a área social.
- Você roubou – afirmei, indo atrás dele.
- Por um bem maior – se defendeu.
- Isso te consola? – arqueei uma sobrancelha.
- Já é quase meia-noite, Diretora – ele sorriu, me olhando de canto. – Acho que o Kyle vai ficar satisfeito que roubamos café dele para nos mantermos produtivos.
- Conhecendo ele, Kyle com certeza vai nos matar por termos ficado até tão tarde.
A Tech&Com, a startup onde trabalhávamos, tinha uma política super rigorosa com o bem estar dos funcionários. Semanalmente tínhamos terapia com psicólogos, dinâmicas em grupo para fortalecer o entrosamento entre os times e todo mês tinha algum tipo de evento para descontração, tipo churrasco, piquenique, jogos e, é claro, um campeonato no final do ano. Era um lugar incrível e acolhedor, mas frequentemente eu e éramos advertidos por sermos os únicos a descumprir o horário e ficar mais tempo do que devíamos.
- Ele não vai nos despedir por isso, somos bons demais – a confiança no seu tom de voz quase me fez rir, embora fosse verdade.
Eu era a Diretora de Marketing mais jovem que já passou por aqui, então, assim como , eu também gostava de me gabar pelo meu trabalho.
- Você comeu, por acaso? – ele perguntou quando paramos diante da máquina de café.
- Um delicioso combo cheio de gordura do Burguer King – falei, muito orgulhosa de mim mesma por ter entupido todas as minhas artérias com um lanche só.
riu, mas se ocupou em fazer nossos cafés. Apoiei o quadril na bancada ao lado dele, observando enquanto o café caía na xícara branca. Era um pouco estranho estar tão amigável com ele e agindo como se não tivéssemos passado a última semana transando diariamente depois do encontro no bar. Mas eu decidi parar com isso antes que a situação se complicasse demais.
Ontem foi nossa última vez, como eu fiz questão de esclarecer e aceitou, embora eu tenha sentido um grande tom de deboche na voz dele ao concordar.
- Você tá me encarando – ele resmungou, ainda olhando para o café.
- Estou olhando para o café – me defendi, imediatamente olhando para a xícara de novo.
- Você aprendeu a gostar muito de me olhar nos últimos dias, não é? – implicou, erguendo um sorrisinho irritante no canto dos lábios.
- Não! – retruquei.
Assim que o café parou de cair, fui rápida em pegar a xícara e correr dali, mas me parou no mesmo instante ao se postar na minha frente. Semicerrei os olhos, mantendo a xícara entre nós dois como forma de me proteger.
- Mas mesmo assim ainda estava me olhando durante a reunião de alinhamento de hoje cedo – murmurou, pegando a xícara das minhas mãos. – E durante o almoço. E no elevador. E quando eu fui até a sala da Amy pegar os novos contratos. E...
Mas eu levei meu indicador até os lábios dele, o impedindo de continuar a falar. O sorriso dele aumentou ainda mais e assim que ele colocou a xícara de volta na bancada, ele me segurou pela cintura, me empurrando contra a porta do freezer.
Odiei a forma que meu coração disparou só por ter aqueles olhos flamejantes voltados para mim. Sim, eu tinha o observado a manhã inteira. Não era uma decisão consciente, mas eu sempre acabava procurando por ele. Era irritante e desconcertando e muito errado.
- Você está querendo fugir? – perguntou.
Meu estômago revirou como se mil borboletas estivessem agitando as asas dentro de mim. Minhas unhas cravaram em seus ombros, mas eu não tinha certeza se queria empurrá-lo ou puxá-lo para perto. A boca de roçou em meu queixo, me provocando.
Não, eu não queria fugir. Mas sabia que devia querer.
- Isso é um erro – admiti, mais para mim do que para ele.
não pareceu incomodado, pois seu corpo pressionou mais contra o meu, abrindo minhas pernas com sua perna entre as minhas.
- É um erro – ele concordou.
E mesmo assim, eu não me impedi de beijá-lo. Assim como a primeira vez, a boca dele encaixou na minha como se fossem feitas para estarem juntas. Sua mão fechou ao redor do meu cabelo, puxando pela raiz quase dolorosamente. Gemi contra seus lábios e seus dentes rasparam meu lábio inferior, sugando entre os lábios dele.
A outra mão dele agarrou minha bunda, arrancando um gemido meu. Meus olhos fecharam com força e eu me segurei com força em seus ombros, sentindo minha boceta latejar.
- Você quer continuar errando, ? – sua voz soou rouca.
beijou meu pescoço, sugando minha pele de uma forma tão gostosa que meu corpo estremeceu de desejo. Eu não devia querer isso, mas queria, queria muito.
- Quero – sussurrei, enfiando as unhas em sua nuca.
O olhar dele se tornou ferino quando seus olhos encontraram os meus. Um sorriso ameaçador cruzou seus lábios.
E, é claro, meu estômago revirou em antecipação.
Mil borboletas pareciam bater asas na minha barriga, mas não de uma forma boa. Era uma sensação de adrenalina, de saber que apesar de muito bom, era errado. O tipo mau de borboletas, aquelas que alertavam para o erro que eu estava prestes a cometer em cair mais uma vez na tentação que era .
Mas mesmo assim, deixei que elas batessem asas.


Parte III – O tipo bom de borboletas


Minha cabeça estava girando quando saí do trabalho, mas de alguma forma consegui voltar para casa sem causar nenhum acidente em meio a tempestade que estava assolando a cidade.
Bati a porta do carro e saí correndo com a bolsa escondida no casaco. O meu prédio tinha decidido consertar a garagem do meu andar justamente na temporada de chuvas e, é claro, eu não tinha pensado que seria legal manter um guarda-chuva comigo.
A entrada do prédio parecia a entrada do paraíso, mas antes que eu pudesse chegar até lá, meu salto afundou na grama e eu fui para frente, enquanto ele ficou preso. Exigiu todo o equilíbrio que eu não tinha para não tropeçar e afundar a cara na lama também.
- Ai, que merda – xinguei, me virando para pegar o sapato.
No entanto, congelei no exato momento que olhei para trás. Bem atrás de mim e igualmente encharcado, estava , que estava com meu salto na mão.
- Oi, Cinderela – ele abriu um sorriso torto. – Está tendo um deja vu ou é só eu?
Um riso nervoso me escapou, e o sorriso dele ficou ainda maior. sabia que era impossível esquecer o desastre de quando nos conhecemos. Em uma situação bem parecida com esta, há três anos, eu estava atravessando uma avenida movimentada em um dia chuvoso, na hora do rush, com o sinal aberto e correndo para chegar a tempo para uma reunião importante. Meu salto escapou no meio do caminho, e entre salvar o salto e me salvar, acabei o deixando para trás na tentativa de não ser atropelada.
, com a síndrome do príncipe encantado, correu para pegar o salto e saiu desviando dos carros em uma cena digna de filme de ação. Fiquei impressionada, mas ressaltei o quanto ele tinha sido estúpido por quase morrer para pegar o sapato. Foi então que ele pediu meu número e um café para compensar o risco que correu.
- Vai me cobrar um café de novo? – arqueei uma sobrancelha.
Ele olhou para cima, me deixando admirá-lo por alguns milésimos de segundos antes que ele voltasse a me encarar.
- Porra, sim! – gemeu, soltando uma respiração sôfrega. – Eu estou na chuva há meia-hora te esperando.
- Você tá louco? Vai ficar doente! – arregalei os olhos.
- É, eu sou completamente louco – respondeu, seu olhar suavizando novamente. – E por isso ficaria mais 10 horas te esperando.
Pisquei, afastando gotas de chuva que nublaram minha visão. Deus do céu, eu tinha sentido muito falta dele e só percebi agora o quanto.
- Eu comprei cápsulas de café com caramelo – murmurei. – Quer provar?
- Por favor.
Subimos em silêncio até meu apartamento, mas não era um silêncio desconfortável. Nada nunca era desconfortável com . Era apenas familiar. A forma como ele ficou atrás de mim no elevador, seu peito quase encostando nas minhas costas e seu olhar eventualmente encontrando o meu pelo espelho a nossa frente. Meus dedos coçaram para tocar nele, para enroscar nas mechas daquele cabelo que estava longo demais e precisando de um corte. Tudo nele era familiar, era nostálgico e enchia meu peito de amor e saudade.
- Quer tomar um banho quente? Ainda tenho roupas suas aqui – sugeri, deixando meus saltos encharcados no tapete da porta e largando a bolsa no sofá.
- Tá tudo bem – ele respondeu, mas se esforçando muito para evitar que seu queixo tremesse de frio.
Revirei os olhos e comecei a empurrá-lo pela sala até o banheiro. riu, se esforçando para me frear no caminho, mas eu insisti, agarrando os dedos dos pés no chão para continuar empurrando-o.
- Tá pegando pesado na academia? Tá mais forte – ele me zombou.
- Eu tenho treinado meus jabs, só pra você saber – grunhi por conta do esforço. – Vou te bater se você não colaborar.
- Isso devia ser uma ameaça? – seu tom se tornou malicioso. – Porque isso foi uma das coisas mais sexys que você já me disse.
Bufei, tentando segurar uma risada, mas me viu sorrindo. Chegamos ao banheiro com algum custo, mas quando o empurrei para dentro do box, ele apenas ficou lá e cruzou os braços como uma criança birrenta.
- Você vai ficar doente se não trocar de roupa – alertei.
Ele nem se quer piscou.
- E pode pegar uma pneumonia – acrescentei.
Seu lábio ergueu um pouco.
- E vai morrer! – apelei, batendo o pé. – E não vai conseguir ir se juntar aos Médicos Sem Fronteiras em fevereiro.
vacilou e por mais que o tópico fosse uma ferida para mim, eu fiquei feliz por ele ter reagido. O empurrei ainda mais para o box e entrei junto só para abrir o chuveiro quente, mas assim que eu ia saindo, a mão dele fechou ao redor do meu pulso e me puxou contra ele. Prendi a respiração, ficando cara a cara com ele depois de dois meses.
Seus dedos escorregaram pelo meu rosto, afastando as mechas úmidas que grudaram na minha bochecha. Ele estava congelando, mas me fez entrar em chamas mesmo assim.
- Eu senti sua falta – ele murmurou. – Muito.
Essas palavras foram meu fim.
Fechei os olhos e encostei a testa na dele, deixando seus braços me envolverem e me puxarem ainda mais para perto. O calor da água do chuveiro me aqueceu, mas eu estremeci mesmo assim quando sua boca roçou no meu ouvido.
- Eu sei que o futuro é incerto, suspirou. – Sei que em dois meses estarei indo trabalhar em outro continente e que tudo vai mudar, mas... Caralho, eu quero isso. Quero nós. Não quero simplesmente desistir, Cinderela. Então, por favor, fica comigo. Volta para mim.
Engoli em seco, sentindo o nó na garganta crescer ainda mais porque, sim, eu queria ficar com ele. Eu queria tudo com ele. era o amor da minha vida e os últimos meses foram simplesmente impossíveis sem ele comigo.
Mas mesmo assim, mesmo o amando com todas as minhas forças, mesmo sabendo que nunca, ninguém chegaria perto do que nós temos... Outra pessoa também estava na minha cabeça, perturbando os meus sonhos e confundindo meus sentimentos há mais tempo do que eu queria admitir.
- Fica comigo – ele repetiu. – Volta para mim, .
Meus olhos encontraram os dele e havia um visto de sentimentos por trás daquelas íris escuras. Medo, desejo, saudade e amor... Tanto amor. Um amor que o consumia tanto quanto a mim. E eu sabia que aquele olhar era um espelho do meu.
- Eu sou sua, – sussurrei, roçando a boca na dele. – Eu quero você e eu. Eu sinto falta de nós.
Girando nossos corpos, me pressionou contra a parede e sua boca encontrou a minha em um beijo cheio de saudade. Suspirei contra seus lábios, me deleitando com a sensação do seu corpo contra o meu. Meus dedos enroscaram nos cabelos escuros dele e suas mãos me apertaram, mapeando toda a lateral do meu corpo.
Deixei que a saudade dele me consumisse e que o calor dos seus braços me fizesse esquecer da confusão que eu estava sentindo há pouco.
Pelo menos por enquanto eu podia esquecer que muito em breve a nossa bolha iria estourar e que os sentimentos que me confundiam ainda estariam ali amanhã.
Eu podia aprender a lidar com isso.
Mas eu não queria ficar sem ele.


Parte IV – A morte das borboletas


A festa de lançamento dos novos produtos da Tech&Com sempre era um grande evento, portanto, esta não seria diferente.
O hotel mais famoso da cidade estava sediando o evento deste ano e Baile de Máscaras era o tema. Eu tinha adorado a ideia e minha máscara prateada estava combinando com o vestido de seda que eu escolhi usar hoje. , que veio como meu acompanhante, estava igualmente incrível no smoking preto da mesma cor de sua máscara.
- Então, como está se sentindo? – perguntou.
Confusa, olhei para a minha amiga.
- Bem?! – respondi, incerta se era sobre isso que ela estava se referindo.
- Em relação a voltar com – ela explicou. – E em relação ao seu caso mal terminado com .
Já fazia duas semanas que e eu voltamos, mas eu estava evitando ter essa conversa com desde então. Por mais que eu amasse estar de volta com ele, algo dentro de mim se revirava sempre que e eu nos encontrávamos no trabalho, coisa que eu também vinha tentando evitar ao máximo.
- Não tem caso mal terminado – bufei, tentando convencer mais eu do que ela. – Transamos algumas vezes e não passou disso.
- Então por que você está olhando para ele e a acompanhante como se tivesse comido azeitonas pretas? – implicou, sorrindo com malícia. – Da mesma forma que ele está olhando para você e .
Eu não tinha percebido que estava olhando tanto para a ponto de notar, mas com certeza estava incomodada por ele ter vindo acompanhado, o que era um grande absurdo considerando que eu estava namorando de novo. Nada em mim estava fazendo sentido ultimamente, mas estar com e no mesmo lugar com certeza não ajudou a facilitar as coisas.
- Eu não estou olhando – menti descaradamente. – E ele não está olhando.
Mas como se eu precisasse confirmar isso, meu olhar buscou ao redor do salão pela mesa onde eu tinha visto há alguns minutos. Ele também estava incrível em um smoking escuro e uma máscara branca idêntica à do Erik em O Fantasma da Ópera. Ao seu lado estava Angeline, a Diretora de Inovação. Eu não devia me sentir desconfortável por eles terem vindo juntos, mas era inevitável.
Como se tivesse sentido meu olhar, voltou sua atenção para cá e seus olhos cruzaram com os meus. O contato durou pouco mais de um segundo, mas foi o suficiente para meu peito agitar com aquela sensação terrível que vinha me consumindo sempre que eu me pegava pensando nele. Voltei a encarar e ela me deu um sorriso empático, quase pesaroso.
- É sério que você vai negar o óbvio? – ela suspirou. – , realmente não sei o que você está sentindo em relação ao e com a volta do , mas negar que está sentindo algo não vai ser a solução.
Como eu não respondi, ela continuou:
- Raramente ignorar o que está sentindo vai te fazer sentir menos – sabiamente pontou. – E com certeza não vai te ajudar a resolver esses sentimentos.
Respirei fundo, buscando a minha taça para um gole generoso de gin, mas esqueci que a taça estava vazia e que havia justamente ido buscar bebidas.
- Eu amo o ! – afirmei, ainda evitando olhar para .
- Mas também quer o – acrescentou.
- O quê?
Meu coração gelou ao escutar a voz atrás de mim. Imediatamente virei para encontrar bem atrás de nós, com as bebidas nas mãos e um olhar atordoado na minha direção.
- ... – murmurei, sem realmente saber o que fazer.
Ele deixou as bebidas na mesa e me encarou, o olhar um pouco mais duro do que antes. Engoli em seco, sentindo que todo ar do mundo tinha fugido agora.
- Você quer o ? – ele perguntou, calmo como sempre. – O que eu não estou sabendo, ?
- Podemos conversar em algum lugar que não seja aqui? – pedi, mal reconhecendo minha voz.
assentiu, seguindo na frente em direção a lateral do salão onde as portas francesas se abriam para o jardim. me lançou um olhar conflituoso quando me virei para a mesa pra pegar minha bolsa, mas minha cabeça estava girando demais e apesar de ela não ter feito de propósito, eu estava com raiva por o assunto ter surgido agora.
Ignorei as pessoas e tentei acalmar a sensação inquietante que estava tomando conta de mim, mas quando chegamos ao silêncio do jardim, sem ninguém por perto, eu senti medo.
seguiu até um banco de pedra um pouco mais distante do salão e eu sentei, enquanto ele permaneceu de pé. Pela primeira vez em muito tempo, o silêncio entre nós era desconfortável e sufocante. Eu não sabia por onde começar e ele não forçou, esperando que eu tomasse a iniciativa.
- Senta aqui, por favor – pedi.
Ele hesitou por um segundo, mas sentou ao meu lado perto o suficiente para que o calor do seu paletó irradiasse para meus braços nus. Fechei os olhos, inclinando o corpo para frente e deixando que meu cabelo cobrisse meu rosto. Não queria que ele me visse quebrar.
- Depois do que eu vou dizer, eu vou entender se você me odiar, mas... – apertei o tecido do vestido entre os dedos, ansiosa. – Eu te amo, . Por favor, não duvida disso.
Ele não falou nada, mas se recostou contra o banco, esperando que eu continuasse.
- trabalha comigo, é o Diretor de Vendas, como você já conhece. E eu não menti quando disse que não gostava dele. No começo eu mal o suportava, só que... Eu não sei quando, nem como, mas isso mudou. E eu comecei a gostar de estar perto dele e a raiva que eu sentia foi substituída por atração. Eu me odiei por me sentir atraída por ele, . Eu estava confusa e com raiva dele, de mim... Porra, o que tinha de errado comigo por querer ele mesmo estando com você? Mesmo te amando!
A confissão veio amarga, mas eu deixei sair. Não só para ele, mas para mim. Porque o que eu comecei a sentir por não foi quando e eu terminamos, nem quando transamos. Ele me atraía como uma borboleta era atraída por uma chama. E eu evitei admitir isso para mim porque significava que eu tinha traído de alguma forma.
Não era algo que eu conseguia explicar.
- Então você e eu terminamos. E o tempo que ficamos separados acabou comigo e tudo que eu mais queria era voltar correndo para você, só que algo estava errado, o que eu sentia por estava errado e eu queria entender e me livrar disso antes de voltar com você.
Parei para tomar fôlego, sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos.
- Só que nesse meio tempo eu e ele ficamos – murmurei, a voz um pouco trêmula. – E o que eu sentia não passou e ficou ainda mais confuso.
suspirou, se inclinando para frente, para perto de mim.
- E então nós voltamos – completou, a voz rouca e baixa. – E você ainda gosta dele.
Comprimi os lábios, me esforçando muito para não desabar porque eu sabia que estava prestes a perdê-lo de novo. Um caos de sentimentos tomava conta de mim neste momento, mas o pior deles era o amargor do que eu sabia que estava para acontecer.
- Eu sinto muito, – sussurrei. – O que eu faço quando amo você, mas também quero outra pessoa?
O silêncio reinou entre nós durante alguns instantes, mas, para minha surpresa, ele agachou na minha frente e segurou meu rosto entre as mãos. Seus olhos estavam nublados com tristeza, assim como os meus. Seu polegar acariciou minha bochecha, limpando a lágrima que eu mal percebi que caiu.
- Eu te amo, Cinderela – ele tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. – E ouvir você falar de outro cara dessa forma... Deus do céu, eu queria muito socar a cara dele.
umedeceu os lábios, desviando o olhar do meu por alguns segundos.
- Só que eu não posso bater nele por isso. E mesmo que eu esteja com raiva, eu não posso te culpar por você ter ficado com ele enquanto não estávamos juntos – ele respirou fundo. – Mas também não posso ficar com você assim.
Eu sabia que isso estava por vir, mas ouvir tornou tudo ainda pior. O nó na minha garganta ficou insuportável e não tentei lutar contra as lágrimas agora. Deixei-as fluírem junto com meus soluços mesmo que eu não tivesse direito de chorar.
- Eu te amo e quero você por completo, . Se você está comigo, quero que esteja só comigo, não com dúvidas ou sentindo algo por outra pessoa... – sua testa encostou na minha, mas eu não pude encará-lo. – Então você precisa ficar sem mim para entender o que está sentindo. Eu te amo demais para aceitar menos do que você inteira.
Assenti, sabendo que ele estava mais do que certo. Ele não merecia isso, não merecia essa situação e eu não podia continuar assim. Não sei como eu ainda pensei que voltar com ele mesmo sentindo algo por seria a solução dos meus problemas.
- Eu sei – sussurrei. – Eu sinto muito, . Eu sinto tanto, tanto, tanto...
Me sufoquei com minhas próprias lágrimas e me puxou contra ele, envolvendo meu corpo em um abraço apertado. Afundei o rosto em seu ombro, sentindo meu corpo chacoalhar com os soluços que estavam sendo abafados por seu paletó. me deixou chorar, alisando minhas costas e tentando me confortar o quanto podia.
- Eu também sinto muito – ele sussurrou.
Quando consegui me acalmar o suficiente, finalmente me soltou e com um último beijo na testa, foi embora sem olhar para trás. Um buraco abriu no meu peito ao observá-lo ir embora e uma enorme sensação de vazio se espalhou na minha barriga.
As borboletas tinham parado de voar.


Fim



Nota da autora: Eu tô feliz demais que esse ficstape finalmente saiu! Quero deixar todo meu amor para a Pâms que fez isso acontecer haha. Amo esse álbum, amo essa música e espero que gostem da história tanto quanto eu. Não deixem de falar o que acharam. Beijos!

Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus