Fanfic Finalizada em: 26/12/2021

Prólogo

Todo mundo me olhava como se eu fosse um extraterrestre; talvez eu fosse, sem nem ter conhecimento sobre isso, e somente as pessoas de fora viam minha forma original, menos eu. Que legal seria se meus quatorze anos de vida fosse apenas uma mentira. Mas não era, infelizmente aquela era a minha realidade: ser a garota novata na escola que acabara de chegar na cidade pequena vindo de outro país. Bem clichê, aliás, sempre me pergunto se não tinha outra história para escreverem para mim
A Hudson High School era a única escola na pequena cidade – tão pequena que não havia semáforos e se precisássemos de algo mais avançado, ou encomendava pela internet ou viajava para a capital do Texas, a poucas milhas de distância pelo menos. Meus pais não queriam que eu viajasse todos os dias só para estudar em Dallas, assim como alguns fazendeiros da cidade faziam com seus filhos, eles me queriam perto e confiavam no ensino da escola local. Eu também gostei, mas não era nem de longe a melhor que eu já tinha estudado e me adaptado. Ficar fora da América do Norte, da minha amada Toronto, desde nova, fez com que eu perdesse os costumes e virasse uma mistura de todas as culturas dos países pelos quais eu vivi da África e América do Sul. Brasil fora o último, antes de eu vir parar em Hudsonville, e lá sem dúvidas fora o melhor lugar.
As pessoas não estão preocupadas com o que você fez da sua vida todos os seus anos passados, eles gostam de saber como você se acostuma a estar longe de casa e fazem de tudo para te enturmar, te fazer se sentir como se aquele país fosse o seu novo lar. E por três anos eu me senti em casa, de verdade; largar o Brasil foi difícil, até ponderei em fazer um drama no aeroporto, mas não era meu estilo.
Fazia mais o meu estilo acatar com o que meus pais queriam, até mesmo porque se eu não os seguisse não teria para onde ir. Então me restava ser a estranha sem amigos naquela escola. Mas, desde que eu havia chego tinha um garoto que sempre sorria pra mim nos corredores e que, pelo o que eu via, era meio deixado de lado assim como eu – não mais que a mim porque ele ainda tinha amigos, alguns deles eram os populares da escola, inclusive.
Então, depois de dias sozinha e vendo que ele sempre chegava no mesmo horário pelo portão principal, eu passei a esperar por ele e por ser na entrada, muitos dos olhares eram dirigidos a mim com estranheza – para não variar um pouco, não é? – enquanto eu riscava em meu caderno para disfarçar que o esperava. Até que certo dia ele chegou com o irmão mais velho, Dylan, que era sênior, e o deixou seguir as escadas sozinho enquanto ia na minha direção. O sorriso dele foi a coisa mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida e a amizade que criamos desde aquele instante foi, sem dúvidas, a mais importante de todas as que eu já tive. O único ser que me aceitou ali foi um nerd, da segunda turma do mesmo ano que eu, que gostava de Star Wars e música pop, assim como eu.


Capítulo Único

Hudsonville, 04:07am.


O carro foi estacionado de uma maneira totalmente sem padrão do que é ensinado nas aulas de direção; ela abriu a porta sem se preocupar se as gotas da forte chuva iriam invadir o interior do automóvel e, ou, se iria molhar seu corpo. Estava com pressa e precisava saber como ele estava, seu coração acelerado não aguentaria esperar ela pegar um guarda chuva ou uma capa para se cobrir da água que jorrava do céu. Que se dane, pensou. Fechou a porta do carro com força e reclamou quando, ao sair, mergulhou o pé em uma poça de água e agradeceu mentalmente por estar usando o seu tênis mais surrado; estava preocupada ao extremo, mas ainda sim não deixou de dar valor às coisas materiais que seus pais batalhavam para lhe dar. Enfim acionou o alarme do carro e saiu correndo pelo estacionamento, por entre os carros, encontrando a entrada mais rápida do enorme hospital daquela pequena cidade.
O corredor estava vazio, era madrugada e não costumava estar sempre cheio também. Sua mãe regularmente lhe dizia como era sortuda pelos plantões tranquilos que tinha, depois de tantos anos trabalhando em hospitais públicos no Brasil – estes eram uma loucura. Ela caminhou procurando por alguém conhecido, algum enfermeiro que lembraria dela como a filha da doutora Klein, mas parecia que assim como a falta de pacientes também faltavam enfermeiros. Estava desesperada e tateou o bolso da calça fina de moletom que usava, tentando encontrar o celular, mas se frustrou ao não senti-lo ali.
“Droga! Além de estar descabelada, com o pé encharcado e de pijama, está sem celular. Parabéns !”, prosseguindo pelo corredor, ela se repreendeu mentalmente.
Se deixou sorrir quando viu o vigilante que cuidava da segurança do local vindo em sua direção. Ele saberia onde encontrar sua mãe.
– Bob! – se apressou e o alcançou.
– Oi! – Ele respondeu surpreso, era tarde para a menina ir visitar sua mãe, mas antes que ela perguntasse e vendo o desespero em seu olhar perdido, lhe deu a informação. – Sua mãe está na sala dela, acabei de passar por lá.
murmurou um agradecimento e saiu correndo, deixando Bob a olhar confuso. Dobrou o corredor que a levava para as salas onde os médicos faziam atendimentos e seguiu para a última que sabia ser a de sua mãe. Entrou sem bater e correu em direção aos braços da mais velha, que estava sentada em sua cadeira lendo um relatório do paciente que dera entrada a poucos minutos. Ella deixou as folhas do prontuário na mesa e rodeou o corpo da filha em um abraço apertado, a deixando chorar em seu ombro enquanto afagava seu cabelo.
– Mãe... – tentou falar em meio a um soluço.
– Shhh... Ele tá bem. – Ella respondeu afastando a filha um pouco. – Assim que ele acordar você pode vê-lo. – Passou o polegar abaixo dos olhos dela para limpar uma lágrima.
– Mãe... – ficou ereta e enxugou o resto das lágrimas com as mãos. – Eu quero ver ele agora, não posso esperar... Não dá pra esperar. – Disse firme.
Ella sabia que não conseguiria fazer a filha se acalmar e não querer entrar naquele momento no quarto do amigo, mesmo que seu olhar fosse o mais severo para ela não teria jeito, precisava ver ele; então respirou fundo e se levantou da cadeira. nem esperou que a mãe fosse até a porta na frente para guiá-la, saiu em disparada pelo corredor, quando Ella a alcançou puxou-a para um abraço de lado depositando um beijo no topo de sua cabeça. respirou fundo e se manteve quieta.
Quando Ella parou na frente da porta do quarto sentiu vacilar um pouco e continuou segurando em seus ombros por trás para lhe sustentar. olhou para a mãe e voltou o rosto para frente encarando a porta como se sua vida fosse aquilo e precisasse defender ela de um monstro que se aproximava. Talvez fosse isso mesmo, um monstro horrível levaria uma pessoa importante, ela sabia que não tinha escapatória, por mais que preferisse não pensar sobre isso. Deixou sua mente vagar pela lembrança de quando tudo aquilo começou alguns meses atrás, antes de abrir a porta.

Hudsonville; 1 ano antes.


e estavam estudando para a prova de matemática que teriam no outro dia, a biblioteca estava cheia porque pessoas, assim como eles, a usavam para o mesmo fim. Polly e Olav também se mantinham concentrados, mas ambos repararam quando resolveu colocar o casaco, mesmo estando bem calor naquela manhã. Logo em seguida foi aberto o primeiro botão da camisa, depois mais dois, até ele finalmente reclamar que não estava bem e tinha dificuldades de respirar. Algumas horas mais tarde ouviu seu telefone tocar de forma histérica, ao atender a chamada de e ouvir a voz de Lively, irmã dele, sentiu uma dor no peito. Não era comum ela ter acesso ao telefone celular de .
... – Lively disse e fungou o nariz –...Eu.... o ... – se confundiu em palavras e fez uma breve pausa. – Acho melhor você vir até o hospital, ele precisa de você. Olav e Polly já estão aqui.
– O que aconteceu, Lively? – A voz de subiu uma oitava a mais, não estava entendendo.
– Não pergunta, só vem. – a outra disse soltando a respiração. – Preciso desligar.
– Lively, não!
Foi tarde demais, ela desligou a chamada, deixando tão nervosa a ponto de explodir. Sua primeira reação foi pegar uma blusa pendurada atrás de sua porta e descer os degraus de sua escada como se dependesse daquilo para viver. Talvez isso tivesse um fundamento, era sobre , ela precisava dele vivo – seja qual fosse a situação dele. Nem se deu conta quão forte bateu a porta para as perguntas de seus pais, que estavam na sala e a viram sair completamente desnorteada; pegou sua bicicleta e pedalou até o hospital da cidade, que não era tão perto assim.
Chegou a tempo de ver um aglomerado de pessoas conhecidas no corredor, em frente a um médico e uma enfermeira. Eles não a viram, estavam de costas para ela. Mas ela pôde ouvir as palavras duras do médico.
– Rabdomiossarcoma é uma variante do câncer que atinge células que normalmente se tornam tecidos esqueléticos do corpo. – O médico olhou para a mãe de e continuou. – Rabdomiossarcoma Alveolares ocorre com frequência nos grandes músculos do peito, braços e pernas... É causado por células cancerosas que formam pequenos espaços ocos chamados alvéolos.
Um silêncio permaneceu no círculo de pessoas, o único som audível era a respiração descompassada de que fora seguida de sua pergunta preocupada.
– E isso significa que...? – Todos se viraram para olhá-la.
– Ele pode não ter muito tempo de vida, assim como pode ter anos a frente... – O médico disse olhando na direção dela. – O diagnóstico foi tardio, mas tudo depende de como o corpo dele vai reagir ao tratamento, há muitos pacientes dentre os poucos casos que acontecem que conseguem levar uma vida tranquila. Assim como há os que não aguentam.
A senhora se dispôs a chorar no ombro do marido. Era difícil para uma mãe saber que seu filho amado estava com um futuro incerto, tendo grandes chances de não resistir a um câncer. Vendo a situação e o pesar nos olhos dos amigos tentando confortá-la, se apoiou na parede um pouco atrás de si, dando alguns passos para trás ela acabou parando em um sala de medicação. Seu olhar estava fixo no chão e sua mente divagava na voz do médico falando sobre a situação de .
Era como se um lado escuro começasse a tomar conta de si somente pela informação da possibilidade de perdê-lo com um prazo indefinido.

– Mãe...
olhou para a mulher ao seu lado com os olhos mais vermelhos que sangue – se possível – e desejou ouvir dela que aquilo era uma miragem; os aparelhos, os dois saquinhos de soro fisiológico que devia conter medicação para conter a dor dele… tudo o cobria. Parecia tão distante que ela podia jurar não estar no mesmo lugar que . As lembranças que tem dele são as mais vivas possíveis, passam por qualquer imagem que já teve dele em dias ruins ou até mesmo em cima de uma cama de hospital. sabia que uma hora ou outra isso aconteceria, mas ela ignorou por todo o tempo possível, desde o diagnóstico, que algum dia poderia ceder sua vida à doença que o atingiu.
– Eu sei filha... – Como se pudesse ler a mente da filha, Ella a abraçou e a arrastou para o corredor. – Provavelmente a tarde ele acorde. Os remédios são muito fortes e o fazem dormir... – concordou com a cabeça, ela entendia, enfim. – Vá para casa, descanse e qualquer coisa eu te ligo.
Mesmo sabendo que a filha negaria até o fim e não se daria por vencida, Ella tentou convencê-la a ir embora, porém, era resistente e tudo o que a mais velha conseguiu foi convencer ela a descansar em sua sala pelo resto daquelas horas da madrugada pelo menos.

Hudsonville; 10:25am.


A luz começou a incomodar, assim como a dor no pescoço. Ela se lembrava de uma ligação e em seguida sair correndo de carro pelas curtas ruas da cidade até o hospital, sua mãe a guiando por um corredor vazio e então ver . Deitado em uma cama. deitado em uma cama de hospital, cheio de aparelhos, o deixando praticamente intocável para ela. Abriu os olhos devagar e constatou a última lembrança: estava na cadeira da sala de sua mãe, dormindo. Coçou os olhos e se levantou. não podia dormir, ela pensou. precisava dela; ele precisava que ela fosse forte por ele e por todos os outros que se importavam. Ela precisava ser forte por ela mesma.
Depois de usar o pequeno banheiro para lavar o rosto e fazer suas outras necessidades, seguiu para fora da sala. Caminhou lentamente pelo corredor de paredes brancas até poder ouvir a voz de sua mãe, misturada com o barulho do monitor que controlava os batimentos cardíacos dele. Pelo vidro do quarto ela viu que ele ainda estava desacordado e sua mãe conversava com a senhora . Ela parecia calma demais para alguém que sabia da situação de seu filho, talvez fosse o efeito dos vários remédios que vinha tomando desde o diagnóstico dele, incluindo as doses de calmante também. Podia jurar que a senhora também parecia mais magra e menos corada que a última vez que a vira, dois dias antes, mostrando nitidamente como ela estava destruída, mas não menos que deveria estar. Contudo, ela ainda era um reflexo da destruição daquela situação.
esperaria para entrar se não estivesse morrendo de ansiedade para saber sobre a situação em que ele estava.
O choque de o ver abrir os olhos devagar e demonstrar a fraqueza de seu corpo a fez parar um pouco depois da porta. As duas pararam de conversar, para poder olhar a cena, como se estivesse tudo acontecendo em câmera lenta. Os dois se encaravam com cuidado e pareciam conversar telepaticamente. Os passos de foram cautelosos até ela alcançar a lateral da cama, já estava com os olhos abertos o suficiente para poder encarar ela; é claro que aqueles olhos não estavam tão cheios de vida como ela estava acostumada Então foram deixados a sós, com mais privacidade.
– Oi…
nunca imaginara que arrancaria tanta força de si para ser o primeiro a dar um passo, era, dentre os dois, a que sempre tomava iniciativas. Ela era mais despojada, se fazia mais livre, direta e bem clara. Verdadeiramente dona de si. E ele amava isso nela, talvez se ele tivesse um pouco do que ela tinha, se fosse um pouco como ela, sua vida poderia ter sido diferente na escola.
– Não me olhe assim... – Ele reconheceu a pena no silêncio dela.
– Shhh. – Ela disse, finalmente. – Você não pode falar, não pode se cansar.
Ele sorriu para ela e nesse momento a enfermeira entrou, era hora de trocar o soro e medica-lo. Coisa de dez minutos.
Dez minutos é sessenta segundos vezes dez, equivalente a seiscentos segundos. É pouca coisa na prática, certamente, para quem precisa de dez minutos para fazer muitas coisas necessárias, mas quando há uma tensão de espera por algo, dez minutos – que parecem simples ao se dizer – passa para a forma de seiscentos segundos. Há uma sonoridade diferente, seiscentos é mais que dez.
– Você vai ficar mesmo me olhando como se eu fosse um E.T? – disse, forçando um pequeno sorriso, enquanto a enfermeira saía da sala.
– Eu não consigo, ... – reprimiu o choro. – Olha só pra você…
– Qual o problema comigo? – Ele a interrompeu, usando força demais para falar. – Eu tô bem, . É o que a gente esperava acontecer. Ou você acha que eu me curei magicamente?
engoliu a seco e se afastou da cama, ficando de costas para ele.
– Eu não aceito você assim por causa de mim, não. – murmurou olhando para o teto. – Você tem que viver, pela gente.
– E os nossos planos? Me diz, e Harvard? Columbia? – se virou, deixando-o ver suas lágrimas. O que causou em pontadas agudas no mais íntimo de seu coração. – Caramba! , você ainda não pegou a Sue. O baile de formatura é a sua chance, você tem um mês pra ficar bom e…
O soluço do choro cortou-a e cobriu seu rosto, chorando compulsivamente. respirou fundo e analisou sua situação. Qual era sua saída? Nenhuma. Nem as milhares de sessões de quimioterapia ajudaram alguma coisa em seu quadro, parecia que tudo estava ocorrendo ao contrário, seu estado só piorava. Ele não tinha certeza mais se conseguiria lutar contra seu próprio organismo, estava sendo cansativo; mas era horrível ver sua mãe desgastada, seu pai nervoso o tempo todo e os dois afastados, a irmã esquecida pelos pais e a melhor amiga sofrendo sua perda de forma antecipada. Todos sabiam do final próximo, mas ninguém, exceto ele, estava pronto para sobreviver a isso.
... – Ele a chamou, tentando virar a cabeça com cuidado para evitar qualquer dor. – Olha pra mim, por favor – pediu baixinho.
– Você desistiu, não é? – Ela perguntou, levantando o rosto molhado. Recebendo o olhar culpado dele, ela entendeu o sim nos olhos apagados. – Isso foi egoísmo, .

– Não! – Ela o parou. – Você sabe que sua mãe vai sofrer, ela já está em depressão por causa dessa porcaria! Seu pai está perdido, , ele tenta conciliar a atenção dele entre você e a Liv, mas não consegue – respirou um pouco e o encarou novamente. – Eu não consigo pensar em outra pessoa no seu lugar…
– Você não precisa colocar ninguém no meu lugar. – Ele sussurrou. não queria ter que colocar alguém no lugar de , ela o amava tanto, não queria ter que se despedir.
Se aproximou da cama e pegou na mão dele, fez carinho com o polegar no dorso da mão de e encarou os olhos dele. Ele mexeu os dedos e em um deslize entrelaçaram as duas mãos, ainda se encarando.

Hudsonville, 11:37pm.


De Hudsonville até Dallas eram poucas milhas, nada mais que uma hora de carro em uma velocidade média. Porém, fez a rota em pouco mais de quarenta minutos, usando seu pé para forçar a velocidade da Land Rover em 140 km/h. Precisava respirar um ar diferente, pensar um pouco sem a pressão do ambiente envolto ao estado terminal de . Passou o dia andando por Dallas de carro e parou em um drive-thru qualquer para comer algo rápido, fez algumas compras necessárias para o que planejava. Quando se sentiu preparada para voltar embora, ligou o telefone e se deparou com inúmeras mensagens de seus pais, preocupados em saber o paradeiro da filha. Acalmou sua mãe e dirigiu calmamente de volta para sua cidade, desta vez levando mais de uma hora.
Quando chegou em casa, decidida, foi direto para seu quarto, pegando uma mala e jogando todas as coisas que iria precisar para passar uma noite fora. Em especial separou alguns repelentes e sua barraca.
Não há acampamento sem barraca.
– O que você está planejando, ? – Ella apareceu na porta, com os braços cruzados e usando a sua melhor camisola.
– Um sequestro. – A filha respondeu, ainda focada em arrumar suas coisas.
– Ótimo... morrendo e você preocupada em fazer piadas. – Ella respondeu direta.
parou de fazer o que estava fazendo e encarou a mãe de forma cética, por poucos segundos, até soltar o ar e voltar para sua mala.
– Desculpa, eu me descontrolei. – Ella suspirou e disse já entrando no quarto.
– Ah, certamente! – respondeu ríspida.
– Vamos, me conta, o que você está planejando nessa cabeça? – Ella resolveu ser mais cautelosa com a filha.
– Já disse, um sequestro. – A mais nova parou na frente da cama e se sentou para retirar o tênis que estava vestindo.
, por favor... – Ella pediu enquanto se sentava no colchão macio ao lado da filha.
sempre quis conhecer a Fazenda Wolvez, mas sempre quando íamos acampar lá, ele passava mal. – Ela respondeu, olhando para frente. – Eu vou levar ele até lá. Olav e Polly já estão me esperando no hospital.
– E como você pretende tirar ele de lá?
encarou a mãe sorrindo maliciosamente.
– Não!
Ella se levantou da cama, apoiou as duas mãos na cintura e ficou encarando os olhos brilhantes da filha. Sabia que e tinham planos de fazer muitas coisas juntos e estas foram impedidas por suas sessões de quimioterapia ou por passar mal, eram limitações do câncer. Mas seria antiético e completamente irresponsável deixar sua filha, por um simples capricho egoísta, tirar o menino do hospital, em um estado instável como ele estava.
– Mãe, é só uma noite e um dia. – se levantou, tocando no ombro da mãe. – Por favor. Eu prometo seguir qualquer instrução que a senhora me der.
– Eu não posso simplesmente tirar ele de lá, a mãe dele me mataria... Seria negligência. – Ella negou veemente com a cabeça. – Você está me pedindo algo absurdo, filha.
– Então faça de conta de que não viu e não sabe de nada. – A mais nova continuou resistindo.
, chega! – Ella alterou a voz. – Nada de tirar do hospital, isso é imaturo.
– Não vou te prometer nada.
passou pela mãe e foi até a porta, segurando na maçaneta com firmeza tanto na mão quanto no olhar, encheu o peito de coragem e disse:
– Se me der licença, preciso me trocar.
Ella soltou o ar de forma derrotada e caminhou até a filha, quando estava do lado de fora, postada no corredor, a ouviu dizer, antes de fechar a porta em sua cara:
– Você deveria pensar com um pouco mais de responsabilidade.
Talvez Ella estivesse certa e a filha estava agindo irregularmente, mas talvez o que queria não fosse demais. E se quisesse? Se fizesse bem para ele passar algum tempo fora do hospital e despreocupado? Talvez...
Passaram poucas horas no ponteiro quando Ella ouviu a porta da sala ser batida com força e o barulho do carro – com um motor nem tão barulhento assim – dar a partida e se afastar. Caminhou às pressas até o quarto da filha e se deixou respirar quando viu a mala que ela estava arrumando, ainda em cima da cama. Provavelmente só precisasse de mais tempo para se acalmar e aceitar o que podia acontecer a qualquer momento.
Ella decidiu abrir a mala e se surpreendeu quando encontrou um caderno com capa marrom que ela reconheceu ser o diário de . Ficou receosa em abrir, então decidiu colocar de volta na mala; entretanto, um pequeno papel caiu dele e ela o puxou para cima, vendo uma foto de e , abraçados na varanda da casa dos . Atrás estava escrito, com caneta rosa de cheiro de tutti frutti: “Ao infinito e além se tivermos um ao outro.”, com a data que fora tirada a foto, o dia que teve alta do hospital após o diagnóstico de seu câncer. Ela, provavelmente, sabia o que sua filha sentia e não tinha conhecimento sobre: doía mais porque era o seu primeiro amor não descoberto que estava partindo antes mesmo de ser dela.

Hudsonville, 12:25pm


– Fala sério! – Polly revirou os olhos para mais uma piada de Olav, que era, certamente, sem graça.
– Vocês dois ainda irão se casar e eu não vou estar aqui pra dizer: eu avisei. – sorriu minimamente.
– Não fala assim, cara... – Olav mudou o tom de voz, deixando o humor de lado.
queria se concentrar nas piadas, na risada de Polly, no bom humor de Olav, mas ele só se fazia pensar em . Do modo como ela saíra do hospital no dia anterior e ele sabia que sua mãe estava preocupada porque – ele sabia também – ela estava desaparecida. Mas a única preocupação dele era em fazer ela entender que naquela vida real que ambos viviam, o adeus estava próximo e mais concreto. Era difícil, mas ela precisava entender para, assim, seguir em frente.
Se sentiu desconfortável ao ver Ella, pelo vidro transparente do quarto, parada com uma feição nada contente, olhando para o lado do corredor que ele não podia ver por conta da parede do quarto. Talvez fosse , pensou. Talvez não, ele sentia que era ela.
tinha um gênio forte, por mais que fosse uma filha exemplar; não era mimada, sem educação e muito menos ingrata. Mesmo tendo opinião forte, ela respeitava seus pais e suas opiniões, raras eram as vezes que ela se exaltava quanto à eles. Ela sempre arrumava um jeito de fazer as coisas darem certo a seu favor, na medida em que não passasse por cima se sua mãe e de seu pai infringindo a autoridade paternal deles. Ela era esperta, de fato.
Ella se assustou ao ver uma figura loira, com o cabelo acima do ombro, caminhar em sua direção no corredor, com uma pequena pasta ao lado do corpo. A mais nova se aproximou e, de uma forma descontraída demais para quem tinha passado a noite fora, disse para a mãe:
– Gostou do meu cabelo novo? – Ela sorria naturalmente.
– Quem é você que está habitando o corpo da minha filha? – Ella retirou os óculos e respondeu.
– Separei tudo sobre a viagem que faremos amanhã pela manhã para a Fazenda Wolvez. – estendeu a pasta para a mãe. – Esteja pronta às sete doutora, seu paciente não gosta de atrasos e queremos passar o dia fora.
Sem ouvir uma resposta, caminhou para dentro do quarto, de forma descontraída e leve. Do lado de fora, Ella viu a figura da senhora se aproximar.
– Ela me pareceu bem convincente... – Ella não precisou perguntar para poder entender que sua filha havia convencido a mãe de quanto aquela loucura de Fazenda Wolvez.
observou entrar no quarto com uma admiração no olhar, ela parecia mais calma do que no dia anterior.
– O que acharam da minha peruca no melhor estilo de Charlize Theron em Atômica? – sorriu para Clark.
– Não brica! – Polly se animou. – Onde você comprou?
– Dallas. Onde mais seria? – rolou os olhos para a amiga.
– Você é inacreditável,
estava rindo conforme podia e ainda admirava a menina. Poucos segundos permaneceram durante um silêncio, não precisou que Olav e Polly precisassem de algum aviso para poder entenderem que estava na hora de os deixar a sós. Assim que os dois liberaram o quarto, caminhou até a cadeira ao lado da cama e se sentou. Cruzou as pernas, mexendo no pequeno nó que tinha do fio rasgado de sua calça jeans. Era um silêncio cômodo, como se permitisse aos dois conversarem telepaticamente.
– Você... – foi o primeiro. – Você está linda com essa peruca... – Sua voz era insegura mas com a certeza de que queria dizer aquilo. – Não está parecendo em nada com a Charlize em Atômica, mas ainda continua linda – completou sem hesitar.
sorriu e soltou um leve riso anasalado. Aproximou o corpo, ainda sentada, da cama e cruzou os braços, mantendo o olhar no dele. Apoiou o queixo no braço e mordeu o lábio antes de falar:
– Você se lembra quando assistimos esse filme ano passado? – Seus olhos brilhavam. fez um aceno de cabeça para confirmar. – Suas palavras foram “Eu ainda tenho que tocar em Charlize Theron”. – forçou uma voz rouca e grossa, o que fez o amigo rir. – Eu vou ser sua Charlize por hoje e amanhã. Vou usar essa peruca até você cansar dela.
sorriu com os lábios fechados e se permitiu continuar admirando-a como sempre fazia, de forma contida ao anonimato.

Hudsonville, 6:22am


A porta foi aberta com rapidez e levou um susto. Estava acordado a horas, sentia um incômodo no peito desde às três da manhã – pelo o que olhou no relógio – que o impedia de se concentrar no sono. A enfermeira foi chamada por ele, pelo controle remoto, e ela o atendeu com todo cuidado, para ajustar os aparelhos que o ajudavam a respirar. Quando foi marcado no relógio exatamente seis horas da manhã, ele pediu que desligasse, pois já se sentia melhor, porém não conseguiu dormir depois disso. Ficou brincando com o lençol da cama até entrar pela porta, ofegante. Ela ainda estava com a peruca loira de tamanho curto, vestindo roupas esportivas e um cardigã escuro.
– Vim te sequestrar! – Ela sorriu para ele, a animação na sua voz a deixava um tom estridente. – Vou te levar a um lugar maneiro, respirar um ar puro... Dar tchau pro sol no anoitecer.
– C-c-como assim? – respondeu arregalando os olhos.
– Olha, eu tive o maior trabalhão para fechar a Fazenda Wolvez por um dia só para poder preparar ela pra você com todos esses... – Ela gesticulou com a mão direita, mencionando os aparelhos que ele tinha nas laterais da cama. – Essas coisas aí. Então, nada de amarelar. Você vem comigo pra curtir um crepúsculo na ponta da montanha que fica o chalé mais alto da famosa Fazenda Wolvez.
abriu um sorriso enorme e quando seu pai entrou no quarto, também vestindo roupas esportivas, se sentiu menos confuso.
– Vou deixar os meninos a sós. – deu um beijo na testa de e saiu do quarto. – Te espero na ambulância.

A tal Fazenda Wolvez se tornara um ponto turístico para os habitantes da região de Dallas, sendo inaugurada a mais ou menos um ano e dois meses por um empreendedor norte-americano. Trata-se de um espaço de terra com algumas montanhas que lhe dá a oportunidade de ver as belezas naturais, tais como uma pequena floresta, um lago que se transforma em cachoeira e, pelas colinas, também dá para se apreciar o pôr do sol.
aproveitou o dia anterior para organizar tudo, com a ajuda financeira de seus pais e dos pais de , ela fechou a fazenda pelo dia que ficariam. O chalé na ponta da colina mais alta e afastada, logo após a passagem pela pequena trilha pela floresta, fora completamente equipado com os equipamentos necessários para receber e suas necessidades.
Assim que parou o carro atrás da ambulância e desceu, sentiu como se estivesse fazendo a coisa certa. estava desistindo de si mesmo, mas ela não. Ele poderia não querer mais tentar, então ela iria, pelo menos, o fazer se sentir bem de alguma forma. Depois de muito conversar com o senhor e a senhora , ela conseguiu os convencer de que seria uma boa distração para todos passar aquele dia daquela maneira. Primeiramente ela havia planejado somente os dois, mas se sentiu egoísta demais em privar a mãe e o pai de passar um tempo a mais com o filho. Não se perdoaria por qualquer coisa que afetasse aos dois de maneira negativa, além da morte de .
Enquanto Ella conversava com a enfermeira sobre como deveria ser feito o transporte do paciente por meio da cadeira de rodas fornecida pelo hospital, via , de longe, conversando animadamente com Olav e Polly. Se sentiu nostálgico e ao mesmo tempo decepcionado consigo mesmo, como ele seria capaz de deixar aquelas pessoas que sempre estiveram ao seu lado? Tendo este pensamento, ele virou o rosto na direção contrária, parando no carro que havia chego primeiro: o de seus pais. Elesestavam abraçados de lado, olhando, na ponta da pequena montanha, o sol naquele céu azulado da manhã. Como ele poderia ter sido orgulhoso e desistir de si mesmo, causando em sua mãe a perda de peso e a depressão silenciosa? Em seu pai a confusão e o peso de segurar e o ser o pilastra da família, algo para o qual ele não estava preparado. E deixar sua irmã ser ofuscada, ela que tanto precisava de ajuda agora e ser reconhecida.
Mas, se ele tivesse lutado, teria dado certo?
E se?
– Me doa seus pensamentos?
Se ele não estivesse sentado teria caído pelo susto que levara. Ella estava parada atrás de sua cadeira, com as mãos em seus ombros. sorriu e alternou seu olhar dela para qualquer direção à frente.
– Vem, vou te levar lá. – Ela disse começando a empurrar sua cadeira por cima da grama úmida. – preparou um cronograma para vocês.
Assim que se aproximaram, ele pôde ouvir a gargalhada de Polly e , as duas estavam sorridentes e quando se viraram para receber sua presença, os sorrisos se alargaram mais. O coração de ficou mais aquecido, calmo e seguro.
– Eu vou para dentro do chalé, encontramos vocês no lago.
Ella sorriu e beijou a filha na testa antes de sair.
olhou para Polly e logo Olav tomou o lugar atrás da cadeira de , colocando sua mochila no colo do mesmo.
– Vocês estão prontas, crianças? – Olav disse presunçoso.
– Estamos, Olav. – Polly frisou o nome dele, ignorando a piada com referência.
Com certa dificuldade eles conseguiram cruzar a pequena floresta e chegar perto da cachoeira. O espaço era completamente preservado e coberto por grama e árvores, em parte frutíferas. Olav parou a cadeira de meio próximo do lago da cachoeira, travou as rodas e pegou sua mochila, tirando de dentro dela as toalhas para ele e as meninas se secarem.
Para , ele estar sentado em uma cadeira ou dentro daquele lago, dava no mesmo. A forma como e Polly insistiam em mantê-lo no meio da brincadeira, mesmo estando em um lado oposto, era fortalecedora. Olav continuava com suas piadas infames e sem graça, que de tão sem graça, fazia Polly rir só por ser ele o piadista. Era nítido que os dois ainda ficariam juntos; algo como Ron e Hermione, todo mundo sabe, mas sem certeza.
– Sério, eu juro que quando me formar na faculdade, irei pra Vegas e me casarei lá.
Estavam os três sentados ao redor de , conversando sobre os planos futuros da faculdade e afins; tinha encontrado uma árvore com amoras e colhera a quantia possível para eles comerem.
– Você? Casar? – Olav confirmou as duas perguntas de Polly com acenos positivos. Ela riu. – Sua melhor piada – disse cessando o riso, em seguida engoliu uma amora.
– Qual o problema? – Ele rebateu; e Clark trocaram olhares.
– Não combina – deu de ombros. – Vocês não concordam? Olav, o maior galinha do ensino médio no Hudson, casando? Piada.
– Você não coloca fé em mim, Polly, mas eu ainda vou te provar o contrário…
Antes que ela pudesse rebater, o celular de foi ouvido. Graças à tecnologia, agradeceu . Uma discussão dos dois amigos secretamente apaixonados um pelo outro não seria nada legal para o clima. Ella e sua mãe levaram o almoço para a outra extremidade do lago, um lugar mais plano e com lugares para comer e com lazer. Todos, sentados à mesa, dividiram conversas animadas ou não. Ella contou sobre os países aos quais passara com o esposo, as vezes que por pouco perdera um paciente, completou com falando um pouco sobre e suas peripécias.
Os contaram como se conheceram; ela contou como decidiu que seria somente mãe de família e que sabia que abandonar seu emprego para cuidar da família seria o essencial – lançando um sorriso em justificativa à –; o senhor Jungcontou sobre como estava feliz no emprego e todo o seu bem-sucedido trajeto. E então Lively apareceu, contando que havia feito uma audição para o coral e o teatro da escola, e que havia passado. Até Dylan, seu irmão mais velho que estava em Nova York estudando, apareceu em vídeo chamada.
De alguma forma todos se aproximaram e se sentiu mais aliviado.
Perto do sol se pôr eles voltaram para o chalé, montariam uma fogueira e ficariam até dar meia noite, ai voltariam para Hudsonville. , vendo todos se mobilizarem – incluindo o pai de que chegara um pouco mais tarde – para pegar madeira, se soltou da cadeira e caminhou lentamente até a ponta da montanha, levando sua maletinha com o aparelho que o ajudava a respirar. Se sentou devagar e cruzou as pernas, sentindo a brisa bater lentamente em seu rosto.
Sentiu uma presença ao seu lado, pouco tempo depois, e virou o rosto, vendo se sentar da mesma maneira, porém mantendo o olhar para frente.
– Você sabe que eu me apaixonei, não sabe? – diz olhando para o horizonte da montanha.
– Antes ou depois de mim? – vira o rosto de vagar e a observa de perfil.
– Depende. – Ela vira o rosto e o olha nos olhos. – Se com você foi no primeiro baile da escola, então foi ao mesmo tempo.
– Foi na primeira vez que te vi perdida no corredor da escola. – alternou o olhar entre os lábios de e os olhos dela. – Você estava usando uma calça jeans preta, uma camiseta do filme "O Clube dos Cinco" e um all star – levou sua mão á altura do queixo dela e aproximou o rosto. – Foi antes mesmo de você me notar, .
Poucos segundos após lhe dizer o que esperara tempos para, uma dor dilacerante o acertou no peito e seu coração pareceu acelerar e em seguida diminuir, tão rápido, mas tão rápido, que ele precisou de tempo para assimilar que estava caindo deitado na grama verde gélida e deixando os lábios de em uma distância considerável. Ele estava, de fato, sendo levado para longe dela.
, por sua vez, sentiu o choque da realidade e levantou rápido para se ajoelhar ao lado do corpo de caído em sua frente. Seu instinto primário foi de tocar sua testa, sentindo aquela parte do corpo dele quente. Não reparou quando e nem como, mas as lágrimas começaram a rolar por seu rosto e ela se desesperou a chamar por sua mãe. Foram tantos gritos que não somente Ella, mas todos os outros importantes que estavam naquele chalé tamanho família da enorme Fazenda Wolvez, correram em direção à pequena colina.
Era verídico, lhe dera um adeus de uma forma que ela não iria esquecer e lhe proporcionara a melhor relação que ela um dia poderia ter tido: a amizade verdadeira. Ele lhe mostrou como era bom amar e ser amado; como confiar em alguém não era impossível; que ninguém é de ferro e todos sofrem, mesmo sendo forte o suficiente para aguentar a cruz que carrega. Clark fora a melhor escola de e, mesmo relutante, ela precisava dizer adeus à ele. Mesmo não entendendo porque aquilo doía tanto, ela seria forte para o deixar ir.

7 anos depois.

“Querida ,
Como você está? Eu espero que esteja bem, ou pelo menos se esforçando para.
Você deve ter entrado em Harvard, ou talvez voltou para o Brasil trabalhar com voluntariado. Esse é o seu sonho, as causas sociais. Você quer o mundo, quer ajudar, quer salvar. E nasceu para isso.
Dolorosamente, eu sei que se você abriu esse envelope, está prestes a subir ao altar. Eu pedi para Liv guardar essa carta com a vida dela até que ela sentisse que você precisa disso, que ler minhas palavras ainda te lembrando que eu já parti, fosse necessário para te fazer não desistir de si mesma. Eu queria que você me deixasse ir . Você precisava que eu fosse e eu precisava ir. Nós dois tínhamos destinos traçados, porém, separados. Eu queria entender o porquê, mas isso não está ao meu alcance. Sei que encontrará alguém preparado para você, da mesma forma que você vai estar para esse alguém.
Então, se deixe ir. Se solte, se liberte. Se mantenha sempre do lado azul. Entendo que nenhum de nós nunca vai saber o porquê tivemos que sentir essa dor, mas entendemos que ela deve ter sido necessária, talvez você já saiba, ou ainda descobrirá.
Vai, seja feliz. Você sempre será aquela chama do meu coração, mas eu não queimo mais por você, então não queime por mim. Somos fortes o suficiente para deixar entrar, então seremos fortes o suficiente para deixar ir. Deixe tudo ir, , e coisas novas entrarão.

Seu, eternamente, melhor amigo.
.”


Fim



Nota da autora: Eu não sei se nasci para fazer só drama ou se o drama nasceu para me habitar. Juro.
Bom, espero que tenham gostado.
Beijinhos da tia May.
Até a próxima.


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