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Capítulo 1

Nós podemos conquistar as coisas juntos

Ela

Me sentei no meio fio, apoiando minha cabeça em minhas mãos. Sentindo toda aquela sensação de derrota. Sem saída. A primeira lágrima caiu ao lado direito do meu pé esquerdo. E as outras vieram achando seu lugar no asfalto. Olhei para as casas com as luzes acesas. Um cachorrinho fazia xixi no portão de grade de uma casa.
Na casa à minha frente, do lado de dentro, alguém passava pela janela toda hora. Parecia nervoso. Era um homem velho, barrigudo. Gesticulava com as mãos até que parou em frente a janela, olhou para algo que estava fora de minha visão e gritou algo. Logo soltou um sorriso. Seja qual fosse seu problema, ele tinha encontrado a solução.
A porta da frente daquela casa abriu e de lá saiu um rapaz negro, com tranças que terminavam um pouco acima de seu ombro. Mesmo sendo noite, a luz de algum poste iluminou uma correntinha que estava em seu pescoço. Usava uma camisa babylook azul claro, calça branca e algum tênis. Cruzou os dedos na cabeça e olhou para cima. Seu pomo de adão me chamou atenção. O gesto que havia feito deixou a mostra um pouco de sua barriga. Quando ele abaixou os braços e olhou para a frente, seus olhos me encontraram. Minha primeira reação foi pegar meu celular que estava no bolso traseiro de meu short. Desbloqueei a tela e fiquei rolando os aplicativos.
Percebi que estava se aproximando e então o olhei. Ele retribuía o olhar.
- O que aconteceu? - ele perguntou tão casual que tive a dúvida se já não nos conhecíamos.
- Problemas de rotina.
- Me conta, talvez sejam piores que os meus. - ele se sentou ao meu lado, numa distância de 30 centímetros. Eu pude sentir o vento que foi lhe acompanhando trazendo seu perfume. Respirei fundo e não sei quantas palavras saíram da minha boca em um minuto.
- Tudo que eu sempre quis, batendo na minha porta, mas para isso eu tenho que deixar as pessoas mais importantes da minha vida para trás?
- Já pensou em só sair de casa? - deu de ombros como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
- Minha relação com eles é ótima. - eu olhei minhas mãos, o celular que agora tinha a tela apagada. - Só esse surto e excesso de proteção que estragou tudo.
- Eles vão te perdoar, vai por mim. - me cutucou com o cotovelo e encarou sua própria casa.
- Eles me colocaram uma condição tão estúpida, que eu ainda não acredito.
- Com certeza não é pior que a do meu pai. - ele pegou um galho no chão e começou a tirar as folhas que ainda tinham nele.
- Falaram que apenas quando eu me casasse eu poderia sair e seguir essa vida. - o rapaz ao meu lado se virou e ficou me encarando espantado. Mas com toda razão, qualquer um se espantaria. - É realmente um absurdo…
- Como você se chama? - ele perguntou.
- .
- de quê? - um sorriso dançou em seus lábios.
- .
- Eu sou . - estendeu a mão para mim e eu a peguei. Sua pele era tão quente que achei tão confortável seu toque. - .
Falou meu nome como se estivesse me chamando na sala de espera de um consultório. Eu quis rir disso.
- Você quer se casar comigo? - acho que o branco do meu olho tomou mais espaço que o normal.
- Oi? - eu ri e esperei sua resposta.
- É isso mesmo, quer se casar comigo?
- Eu nem te conheço.
- Isso te ajudaria. - ele pegou minha mão, ainda me olhando nos olhos. - E me ajudaria.
- Como?
- Eu preciso de algo. - seus longos dedos traçaram algum caminho em minha pele, viajando entre meus dedos e pulso. - E para isso, eu também preciso me casar.
- Se isso fosse uma alternativa aceitável, eu digo se fosse, não que seja… - suspirei pensando nessa loucura e continuei: - Você realmente faria uma coisa dessas?
- É isso ou morrer.
- Como assim?
- Eu preciso de muita grana, minha dívida é enorme. - quando ele fez uma pausa e mordeu a parede interna de sua bochecha, eu fiquei quase hipnotizada. - Eu preciso me casar para que meu pai passe uma das empresas para o meu nome.
Meu Deus! Que tipo de dívida seria essa? Não seria perigoso estar perto dele? E se alguém tentasse matá-lo justo no momento que estivéssemos juntos?
- Eu ia perguntar o que você está pensando, mas acho que pela sua cara não vou querer saber.
- Acho que ficar perto de você pode ser perigoso. - me levantei, me virando para olhá-lo sentado. Nosso contato visual nunca era quebrado. - Não preciso de mais um problema.
- Problema é meu nome do meio. - ele ficou de pé e se aproximou. Seu rosto ficando cada vez mais perto do meu, sua barba por fazer, o brinco brilhando em sua orelha, a corrente, a camisa polo apertando seus braços. O tecido da blusa ora apertando seu peitoral, ora envolvendo seu corpo, contrastando com sua pele negra. Eu acho que estava ficando tonta. - Mas dessa vez, eu serei a sua solução.
Ele se afastou, dando dois ou três passos para trás, o sorriso torto brincando em seus lábios, os dentes brancos.
- A saída mais prazerosa. - então com um último riso ele se virou e foi para sua casa. Eu fiquei parada, engolindo em seco. Meu coração batia descompassadamente.

Abri os olhos pela manhã e continuei deitada por não sei quanto tempo. O tempo não era nem frio e nem quente, o que me deixava satisfeita. Ao me lembrar da noite anterior, pensei em como era um louco. E todas as coisas que ele falou. Ele não podia ter falado sério. Porque, por mais que seja uma grande loucura, eu estava tentada a aceitar. Afinal, era algo que ajudaria os dois…
Duas batidas na porta e minha mãe apareceu, enfiando apenas a cabeça em meu quarto.
- Tem um rapaz te esperando lá embaixo. - um rapaz? ? - Vai descer?
- Diga que estou indo! - pulei da cama, tirando a blusa e pulando para o banheiro.
Observei a expressão pensativa de minha mãe, se retirando lentamente, tentando com certeza, entender o que estava acontecendo.

- Oscar aqui da frente? - escutei a voz do meu pai assim que pisei na escada. - Sim, ele mesmo. - a voz de me fez ficar ansiosa para chegar ao último degrau e vê-lo logo.
- Ele é um grande amigo nosso. - meu pai fez uma pausa e eu também, parei no antepenúltimo degrau, e ele ao continuar a fala, percebi que a pausa foi para beber algo. - Ele havia comentado que você estava fora a muito tempo para estudar, ocorreu tudo bem?
- Perfeitamente. - a voz era aveludada e poderia perceber que ele pensava muito antes de falar. - Em breve, essa cidade terá o melhor engenheiro civil.
Os dois riram e minha mãe saiu da cozinha segurando um prato de rosquinhas e café.
- Meu bem, pegue algumas xícaras lá na cozinha. - terminei de descer os degraus e fui quase voando para a cozinha. Será que eles acreditariam nessa mentira?
Com uma bandeja, apareci na sala com quatro xícaras. Eu estava ansiosa para conversar com .
- Oi. - falei baixo colocando a bandeja na mesa de centro.
- Oi. - ele sorriu e eu desviei os olhos, respirando fundo. Me sentei no sofá que ficava ao lado do seu.
- , você não me contou que conhecia o filho do Oscar.
- Na verdade, senhor Charles, desculpe interrompê-lo… - falou e me encarou. E aquele olhar era daqueles que só dois cúmplices entenderiam. Ele iria realmente fazer aquilo. - Eu e estamos namorando.
- ? Mas essa menina nem sai de casa, só para tirar aquelas malditas fotos. - meu pai começou a reclamar e minha mãe interrompeu-o.
- Estão mesmo? - perguntou, olhando para mim.
- Sim, estamos… - apertei minhas próprias mãos em meu colo. - Iríamos esperar mais para contarmos, mas às vezes parece que tem uma língua que não cabe na boca.
Olhei feio para ele e o vi arquear as sobrancelhas.
- Eu estava ansioso, querida. - se esticou para pegar minha mão. Aquela mão grande e quente eletrizou minha pele. - Me desculpe.
Falou quase cochichando, com uma cara que daria pena, caso eu não soubesse que tudo aquilo era uma farsa.
- te perdoará com toda certeza, meu filho. - minha mãe parecia compadecida com o falso sofrimento do homem que segurava minha mão.
- Eu não me oponho. - meu pai sorriu e alisou a farta barriga, coberta por uma camisa de botão cor mostarda. Estava satisfeito. Afinal, era filho de um homem que era seu amigo desde que eu me entendo por gente. Embora só o via sempre de longe.
- Você não me contou, meu bem. - minha mãe sorriu e parecia realmente surpresa.
- É bom que vocês já oficializam isso logo, semana que vem, na casa do lago. - engoli em seco e o sorriso de virou algo tão falso que tive que apertar sua mão e tocar seu rosto, fazendo ele me olhar.
- Não fique nervoso, será apenas meu tio e minha tia, poucas pessoas. - fiz um carinho com meus dedos e me lançou um olhar diferente. Apertei sua mão e ele assentiu.
- Na verdade, terá sim. - meu pai ficou em pé, levantando a calça. - Chamarei todos da família, faço questão.
- Pai… - comecei.
- Não aceito não como resposta, faço questão disso.
- Charles é assim mesmo, mas fique tranquilo querido, não será nenhum bicho de sete cabeças. - minha mãe riu e terminou de beber o chá.

- Fala sério, conhecer sua família toda? - falou estupefato e se sentou em sua cama. Após aquela cena lá em casa, fomos para sua casa contar para seu pai, porém ele não estava na casa.
- Não sei o por quê do estresse. - cruzei os braços, parada a sua frente. Eu ainda não entendia o motivo de seu showzinho. - Lembrando que você quis isso, agora aguente.
- Quem disse que não vou aguentar? - deitou para trás, cruzando os braços atrás da cabeça. Sua camisa subiu, mostrando a barriga lisa. Suspirei.
- O seu show fala por si.
- Eu quero ver é você aguentar. - seus olhos desceram por meu corpo. - Você sabe que teremos que fingir muito bem, né? Fazer coisas que um casal faria de verdade.
- Eu sei. - caminhei até sua janela, observando minha casa. Que caminho eu estava trilhando esses dias?
- Se quiser treinar. - sussurrou em meu ouvido, me abraçando por trás. Me virei empurrando-o.
- , se você quer realmente sua empresa, fica longe de mim. - eu não seria esse tipo que ele queria que eu fosse. Tínhamos um acordo mas ainda não tínhamos cláusulas. E precisávamos de algumas. - Não precisamos fingir nada quando estivermos sozinhos.
- Eu só pensei que…
- Não sei o que pensou, mas está errado. - prendi meus cabelos em um coque ainda sentindo o contato do seu corpo e o hálito quente em meu pescoço. - Após o casamento, é cada um para um lado.
- Sim senhora. - fez continência e eu revirei os olhos. Eu precisava ir para casa. - Espera.
Segurou meu braço e logo em seguida levantou os braços em rendição.
- Vamos sair hoje? - franzi o cenho. Olhei seus lábios e aquela expressão de garoto que não estava entendendo nada. Eu me sentia perdidamente atraída por e precisava não me deixar envolver. - Casais fazem isso, caso você não tenha muita experiência.
- Babaca. - me desviei dele e fui em direção a porta.
- Vamos?
- Me pegue as 8.

- Sabe que seu pai já chamou todos, sim? - mamãe perguntou sentada em minha cama. Estava esfriando por ser noite, resolvi pegar uma jaqueta em meu guarda roupa.
- Eu não entendo o porquê disso tudo! - Esfreguei meu dedo na blusa e dei leves batidinhas na bochecha.
- Ora! A queridinha dele está namorando sério. - minha mãe deu ênfase na última palavra. - E logo com o filho do Oscar, queremos coisa melhor?
Passei lip tint levemente em meus lábios, olhando minha mãe de esguelha. Essa ideia de namorar estava subindo a cabeça deles. Eles com certeza amariam e aprovariam o casamento. E ficariam decepcionados quando ficassem sabendo que o matrimônio não foi muito longe.
Seja como fosse, tudo isso surgiu por culpa deles.


Capítulo 2

Olhe para todas esses rostos despedaçados, eles parecem tão deslocados, eles não têm nada mais pelo que viver...

Desceu do carro correndo para abrir a porta para mim. Estendeu a mão e eu não retribui o gesto.
- Sua mãe está na janela. - no mesmo momento estendi meu braço e me deu um beijo na bochecha.
Entrei no carro e ele fechou a porta para mim. Ao entrar e ligar o carro, senti todo aquele perfume amadeirado e refrescante que poderia me deixar inebriada em minutos.
- Aonde vamos? - tentei me focar em outra coisa que não fosse seu perfume tão bom.
- Vou te levar a um dos meus lugares favoritos. - ele ligou o carro e sua partida foi normal, mas logo acelerou tanto que tive me segurar no banco. - As pistas.
- … - minha frase foi cortada quando um carro vazou um “pare” e ele freou bruscamente. - Pra que correr tanto? Não era mais fácil ter saído mais cedo?
- Mas não estou com pressa. - ele disse rindo, voltando a alta velocidade.
- E nem eu! - bati minha mão em sua coxa e apertei quando ele fez uma curva e os pneus gritaram no asfalto. - Para o carro. Para a merda do carro.
Ele desacelerou e estacionou. A rua era movimentada, a calçada estava vazia. Desci e comecei a andar em direção ao fluxo de pessoas que estavam na avenida a uns 50 metros da gente.
- ! - veio correndo atrás de mim e me puxou pelo braço. - Aonde você vai?
- Se o seu hobby é dirigir como alguém que está com a mãe na forca, eu não vou ser sua passageira nisso. - suas sobrancelhas arquearam.
- Eu pensei que você estava se divertindo. - sua expressão era de tamanha inocência que eu quase acreditei. Quase.
- Quase bateram na gente! - dei um tapa em seu peitoral e ele segurou minha mão.
- Me desculpa, tá bem? - levantou as mãos em rendição. - Não vamos voltar pra casa mais cedo, ainda quero te levar nas pistas.
- Vai dirigir que nem gente?
- Vou. - ele riu e pegou na minha mão me levando de volta ao carro.

O som era altíssimo e ao longe podia-se ver alguns faróis que passavam tão rapidamente que era difícil saber qual era o modelo do carro. Estacionamos perto de uma tenda, onde vendia lanches e bebidas. Tinha algumas mesas e cadeiras por ali. O local era muito movimentado e as pessoas iam e voltavam a todo momento. Eram tantos carros estacionados que não era uma possibilidade tentar contar.
- E isso aqui, é motivo da minha dívida. - ele desligou o carro e retirou as chaves, ainda segurando no volante e olhando tudo à sua volta. Claro que todas as luzes refletiam em seus olhos, mas aquele brilho todo não era só o reflexo. Seu olhar era de admiração. E eu não entendia, mas respeitava, porque afinal, esse sonho não era meu, mas eu também sonhava.
- Se arrepende? - perguntei e ele negou com a cabeça.
- Só de não ter ganho a aposta. - soltou um riso de lado. - Vamos passear.
Abriu sua porta e eu fiz o mesmo. Logo ele estava ao meu lado e segurou em minha mão, caminhando mais a frente. Meus olhos desceram até onde nossos corpos se tocavam. Sua camisa branca abraçava os músculos de suas costas e ombros. E isso era tudo que eu podia ver, considerando nossas alturas.
- ! - um homem de cavanhaque e cabelo em rabo de galo se aproximou. Quando ria, um dente prateado brilhava. Ele tinha uma energia pesada. - Veio quitar a dívida?
- Ainda não, Solomon. - o tom da voz de pela primeira vez era sério.
- E a princesinha aí atrás?
- , noiva de . - estendi a mão e antes de fazermos o contato, meu “noivo” puxou minha mão, colocando-a em seu abdômen. Assim, eu fiquei abraçando-o. E seus braços me cercaram.
- Vai se casar e nem nos contou? - o homem tinha um olhar intimidador que estava fixado no homem que me abraçava.
- Foi tudo muito rápido. - senti uma pressão maior de seus braços. - Pra que esperar não é mesmo?
Disse isso olhando para mim. A forma como parecia real, me divertiu. Concordei com a cabeça rindo. As sobrancelhas dele sobressaltaram e então seus olhos se estreitaram ao me olhar.
- Sabe , se você apostasse sua noiva para quitar a dívida, eu aceitaria. - me senti sendo quase esmagada pelo abraço que parecia mais uma proteção. Senti o peitoral dele vibrar em meu corpo ao falar.
- Sem a porra da mínima chance.
- Foi só uma sug…
- Não é uma possibilidade. - senti a tensão ao ver os homens se encarando. - Eu te devo e vou pagar, não fique sugerindo formas de pagamento que não então em cogitação.
- Calma, , sabe que somos amigos. - o homem passou por e lhe deu dois tapinhas nas costas, sumindo de vista.
cerrou os dentes com força e um músculo se sobressaltou em sua mandíbula. Passei a mão levemente por suas tranças num gesto tão natural, que nem tive tempo de me conter.
- Vamos comer algo. - chamei e ele concordou.

- Sabe, você tem que gostar muito mesmo de correr, porque pela amizade que não é.
Fiquei observando quando ele mordeu seu hambúrguer e logo limpou a boca com o guardanapo. Depois, bebeu um pouco do refrigerante e então falou:
- Não tô aqui por esses putos, não mesmo. - negava com a cabeça inconformado. Estava incomodado e com raiva, isso era visível.
- Então por que…
- Pela emoção, . - ficamos nos olhando em silêncio e ele continuou: - Porque quando eu estou dirigindo que nem um louco, eu sinto, seja adrenalina, ansiedade, alegria quando eu ganho algo. Eu venho até aqui para sentir.
Eu assenti sem saber o que falar. Eu não sabia pelo o que passava. Qual era sua história e seus traumas. Mas ali havia ficado claro que ele tinha problemas não resolvidos. Algo o consumia.
- Minha mãe morreu quando eu tinha 4 anos, nem me lembro dela direito. - ficou girando o fundo da latinha na mesa. - Mas eu me lembro do meu pai e como ele sempre cobrou o meu máximo e nunca me deu o mínimo. Atenção, um pouco de carinho e um pouco de interesse na minha vida. Acho que o mínimo seria isso.
- Eu não sei o que falar, . - peguei sua mão na mesa e fiz um carinho. Ele aceitou o gesto e continuou falando:
- Não tem o que falar, também não quero que ninguém tenha pena de mim. - comprimiu os lábios e eu respirei fundo. Eu queria abraçá-lo. - Eu venho aqui para sentir algo, porque eu sei que vou me tornar uma pessoa oca, sem sentimentos se não fizer isso.
Me levantei e o abracei. Sentei em seu colo e seus braços retribuíram o gesto. Me afastei só para olhar em seus olhos.
- Eu não tenho pena de você.
- Uau. - ele falou meio espantado e eu ri. Peguei seu rosto em minhas mãos.
- Não tenho, porque você não precisa disso. Você é forte. - engoli em seco quando suas mãos apertaram minha cintura, mas continuei. Precisava concluir minha fala. - Não se feche, . Seu pai não soube ser pai, mas você não precisa se tornar alguém tão frio quanto ele.
- É, em vez disso, me tornei um merda, que faz dívidas mais altas do que pode pagar.
- Você não é um merda, mas é um trouxa. - seu aperto se intensificou e eu ri. - Você vai encontrar alguém que te ame e te desbloqueie. Mas fazer dívida por causa de aposta, é coisa de gente trouxa.
- Eu não sei se te agradeço pelas palavras ou eu devo ficar com raiva por me chamar de trouxa. - ele falou dando de ombros e depois soltou uma risada, negando com a cabeça.
- Eu não vou passar a mão na sua cabeça. - me levantei e estendi minha mão para que ele pegasse-a. Ele fez. - Mas se precisar de uma amiga, você sabe onde eu moro.
- Ah eu sei. - ficando de pé e rindo, passou um braço por meus ombros e começamos a caminhar de volta para o carro.
- Você ficou noivo? - uma voz feminina falou alto atrás da gente. Nos viramos e vi uma moça com a maquiagem borrada, roupas apertadas e um grande decote, com o olhar fixado em .
- Fiquei, Nora. - ele sorriu e me olhou. Dessa vez eu não retribui. A mulher não demonstrava nada de felicidade.
- Você não falou nada. - ela se aproximou e então começou a estapeá-lo no peito. Eu me desvencilhei e observei a cena a uns dois passos deles. - Aliás, você falou sim, disse que não era homem de se envolver, seu merda.
tinha uma expressão nervosa quando segurou seus braços antes que ela batesse nele mais uma vez.
- Eu não me envolvo, Nora. - de alguma forma, meu coração se apertou um pouco. Ele me olhou e voltou a olhar para ela. - Mas as coisas com é diferente.
- Ah é? E me diz o por quê? O que ela tem que eu não tenho, caralho. - ela gritou tão alto que pude escutar burburinhos atrás de mim. Com toda certeza, todos estavam olhando. Eu resolvi sair dali o quanto antes.
- Nora, me desculpe, mas eu… - não consegui escutar o resto, pois já havia me afastado o suficiente para não escutá-los. Ao chegar ao lado do carro de , me senti um pouco sufocada. O que teríamos que passar por essa farsa? Eu tinha ganhado o ódio gratuito de uma ficante do .
- . - ele disse aliviado. Estava ofegante e passou a mão nas tranças enquanto acalmava a respiração.
- Vamos embora? - falei sentindo o nó na garganta que eu não entendi o por quê de estar ali.
- Vamos. - fez menção de abrir a porta pra mim e eu o parei.
- Não precisa, não tem ninguém olhando agora. - abri a porta e o cheiro de seu perfume tomava conta do carro. Me senti um pouco tonta. Ele entrou no lugar do motorista e logo estávamos longe daquele lugar.
- Me desculpe por aquilo. - senti seu olhar em mim, mas não retribui.
- Parece que você deve desculpas a outra pessoa, não a mim. - abri a janela para me permitir respirar um ar puro, sem perfume. O vento gélido tocou meu rosto e suspirei aliviada.
- Eu não queria que tivesse passado por tudo aquilo. - ele disse, pegando minha mão em meu colo. Eu puxei. - Eu não prometi nada a Nora também, não devo desculpas, mas mesmo assim pedi.
- Pelo jeito você deixou que ela nutrisse sentimentos por você. - dessa vez eu o encarei. Ele fazia o mesmo ora ou outra, sempre vigiando mais a rua a sua frente.
- , eu não posso controlar os sentimentos dos outros. - deu de ombros. Mordeu os lábios parecendo pensar em algo mais. - Não controlo nem os meus.
Em silêncio, concordei. Eu não entendia o motivo, mas eu estava estressada. Deitei a cabeça no banco e olhei as casas e comércios passando lentamente, porque dessa vez, dirigia em baixa velocidade.

Destranquei a porta e desci. Ele fez o mesmo e ficou com os braços apoiados no teto do carro.
- Vamos sair sábado? - franzi o cenho ao escutar o que ele disse. Me virei para conversarmos melhor. - Viajarei segunda e só voltarei na sexta.
- Aonde vai? - perguntei sem poder evitar.
- Tenho que resolver algumas coisas pessoais. - girou o rolex no pulso e molhou os lábios. - Eu volto para irmos na casa do lago dos seus pais.
- Okay. - engoli em seco e assenti.
- Me passa seu número. - ele pediu e eu concordei. Assim que anotou, ele me deu um toque. Eu o encarei sem entender. - Só para garantir.
Ele riu e eu neguei com a cabeça. Entrei em casa e minha mãe veio de encontro a mim, me perguntando tudo que se podia imaginar.


Capítulo 3

Você é para quem eu estou correndo

Ao acordar, senti um peso em meu coração. Tentei pensar no que poderia ser até me lembrar de . E então, o peso se aliviou um pouco, mas não tudo. Suspirei e levantei da cama. Precisava comprar um novo cartão para minha máquina, estava com muita preguiça de descarregar o antigo. E de qualquer forma, precisava de um com mais espaço.
Ao descer para tomar café da manhã, encontrei apenas minha mãe.
- Onde está meu pai? - perguntei, pegando uma torrada.
- Saiu com Oscar, isso não é ótimo? - eu queria revirar os olhos. Mas me contentei em não me expressar. - Talvez aquela sociedade que seu pai queria tanto, pode dar certo agora que nossas famílias estão tão próximas.
- Não conte com o ovo dentro da galinha, mãe. - despejei o café na xícara.
- Você faça como se estivesse pensando em terminar com . - Ela estava cortando alguns legumes quando parou e ficou esperando alguma resposta.
- Não é isso. - Eu queria me enterrar num buraco. Por que eu aceitei essa ideia maluca? - Só não quero que criem tantas expectativas, começamos a namorar por agora.
E iríamos nos casar. Por que eu disse isso? Bufei e joguei o resto do meu café na pia.
- Você não comeu quase nada. - minha mãe ficou olhando enquanto eu limpava a mesa.
- Combinei com a Louise de irmos comprar algumas coisas. - falei já saindo da cozinha.

- Você vai se casar de mentirinha? É isso mesmo que eu escutei? - Louise, minha melhor amiga desde que me entendo por gente, estava incrédula.
- Sim, vou. - Peguei um dos cartões que estavam dependurados na loja que estávamos. Um de 64gb estava ótimo.
- E ele é bonito? - ela perguntou rindo e eu fiz o mesmo.
- Queria que fosse menos. - confessei e ela me deu um tapão, escandalosa como era, estava rindo alto. - Louise!
- Cara, você vai se casar de mentirinha com um puta de um gato. - ela continuava a tagarelar. - Bom, se ele for bonito mesmo, porque a sua definição de bonito é diferente da minha e isso nós sabemos.
- Ele é. - mordi a parte interna da minha boca e fomos em direção ao caixa. - E ele vai conhecer toda minha família no próximo fim de semana.
- Caralho, que merda. - Louise era tão boa em palavrões quanto se podia imaginar.
- Minha família não é tão ruim assim! - eu protestei e ela já fez uma cara de que iria me desmentir.
- Só por ter aquele casal de tios que você tem, com a língua maior que a minha, eu não queria estar na pele desse seu noivo gostoso por nada na vida. - saímos da loja rindo. Isso era uma verdade..

Cheguei em casa e assim que pisei na sala, avistei o homem que eu tinha visto aquele dia na janela da casa de . Ele estava tomando um vinho com meu pai, sentados no sofá. Meu pai assim que me viu, se iluminou.
- , estava te esperando. - ele me puxou pelos ombros e eu tentava não entrar em pane, tentei sorrir. - Esse é o Oscar, pai de .
- É um prazer. - sorri e assenti enquanto o homem estava um pouco espantado.
- Você é namorada do meu filho? - ele perguntou ainda não acreditando.
- Sim, eu sou. - respirei fundo esperando o que viria. O velho estava assustado.
- Ele não me disse nada.
- Fomos lá ontem, mas o senhor não estava. - justifiquei e ele assentiu.
- Bom, estou um pouco surpreso mas confesso que me agrada muito esse namoro. - ele sorriu.
- E eu então? Estou muito satisfeito! - meu pai sorria para as paredes. Eu precisava subir.
- Me desculpem, mas fiquei o dia inteiro fora, estou cansada. - eles concordaram e ficaram comentando o quanto era inesperado e bom. Meu pai iria começar a falar da sociedade quando cheguei no topo da escada e fui direto para o meu quarto. Precisava de um banho e um descanso.

Após ficar o dia inteiro sem fazer nada, experimentar quase todas roupas porque nenhuma estava ficando boa, tentar solucionar o meu cabelo que sempre ficava bom quando eu lavava, mas naquela noite, ele não estava como eu gostaria. Onde era para ter cachos, ora estava esticado, ora estava cacheado perfeitamente. E depois de muita luta com o espelho, coloquei uma roupa casual, jeans e camiseta. Não era uma noite fria, então eu com certeza não ficaria desconfortável.
Dentro do carro de , tocava Tupac e ele se arriscava a cantar algumas partes. Sua voz não soava nada mal.
- Espero que seu agudo não afete minha audição. - olhei para o vidro rindo e ele fez algum som de indignação com a boca.
- Coitada, eu poderia entrar no The Voice, The X Factor e levaria fácil. - dessa vez não segurei minha risada e sua expressão era incrédula e divertida. - Quer apostar?
- Não, não, não. - abanei minhas mãos no ar. - Não suporto ver os outros passando vergonha.
- Aham, vou te levar num lugar que você vai gostar então. - o encarei curiosa. - Onde?
- Você vai amar. - mordeu os lábios tentando não rir. Aumentei o som e ele continuou a cantoria.

Ao entrarmos no estacionamento do shopping, fiquei curiosa para saber aonde íamos.
- Gosta de tacos? - perguntou enquanto estávamos na escada rolante.
- Só se tiver muita gordura. - ele riu e concordou.
Chegamos ao terceiro piso e paramos em um quiosque.
- Carne e bacon? - perguntou para mim e eu assenti.
- Com pouca pimenta.
- Dois tacos, carne e bacon, com pouca pimenta.
- Não é fã de pimenta? - perguntei enquanto esperávamos.
- Como diz o ditado: quem tem cú, tem medo. - rimos e logo nossos tacos chegaram.

Andávamos enquanto comíamos. Em alguma mordida, o molho escorreu por meu queixo e começou a rir.
- Você poderia me ajudar! - falei também rindo, tentando desenrolar o guardanapo da minha mão.
- Espera. - ainda se divertindo, ajudou a me limpar. Então ficou sério e como se algo me puxasse para ele, senti uma louca vontade de chegar mais perto. Os olhos de continuavam em minha boca, por mais que sua mão já tinha terminado de limpar o molho. Como se voltasse de um transe, respirei fundo e olhei à minha volta. Que caralhos estava acontecendo?
- Vamos aonde agora? - perguntei, arranhando a garganta e retornando o olhar para .
- Jogar. - O sorriso de criança me fez engolir em seco.
- Ah é? - perguntei ignorando as batidas descompassadas do meu coração.
Ele assentiu e voltamos a andar. Ao chegarmos a um fliperama, onde a maioria das pessoas que estavam ali eram adolescentes.
- Eu escolho um, depois você escolhe. - ele falou e fomos comprar as fichas.
- O que vai querer? - perguntei olhando todas as máquinas e mesas que haviam ali. Tudo muito iluminado e várias luzes piscando.
- Pebolim. - ele sorriu desafiante e eu fiz o mesmo.
- Perfeito.
Na mesa, ele escolheu o time amarelo e eu fiquei com o vermelho. Comecei levando um gol, mas logo em seguida consegui virar, fazendo dois.
- Toma essa! - gritei e ele riu, balançando a cabeça, fazendo um gol.
- Comemorou cedo demais. - falou debochado e o barulho dos canos do pebolim girando com força ecoava a todo momento. Consegui fazer mais um ponto e ri de sua cara.
Ficamos nesse jogo por muitos minutos. No final, ganhei com diferença de 3 gols.
- Sorte, foi isso. - ele falou quando estávamos indo para a máquina de dança.
- Sua bunda! Tive uma mesa daquelas quando criança. - dei um cutucão em seu braço enquanto esperávamos o jogo começar. - Eu sempre ganhava.
- Ah, sei. - olhei para os quadrados em que pisávamos e nunca havia jogado aquele jogo. -
Começou a dança e os dois eram péssimos. Rimos disso e depois de algum tempo conseguimos pegar o jeito.
- Sabe que é uma loucura isso que vamos fazer né? - ele comentou e eu me perguntei por alguns segundos sobre o que ele estava falando.
- O casamento? - pulei, ficando de costas para ele e depois voltei à posição inicial.
- Sim. - sua voz era um pouco ofegante, já estávamos quase no fim. - Não vai ser fácil, uma mentira dessas.
- Pare de me passar medo, ! - gritei, fazendo mais um passo. - Eu só vou pensar nisso, quando realmente precisar.
- Mas é a verdade. - fez um giro. - E outra, meu pai está desconfiado.
- Da gente? - perguntei surpresa.
- Sim, mas ele desconfia até da própria sombra. - o jogo acabou e descemos ofegantes.
- Nossa, seu pai foi muito falso! - ele riu. - Ele não parecia desconfiado.
- Vou te dar uma dica. - saímos do salão de jogos e caminhávamos lado a lado. - Nunca confie no meu pai. O velho é um sacana.
Arqueei a sobrancelha para ele e ele assentiu.
- Mais que você? - perguntei e ele fez menção de apertar os dedos em minha cintura. Me inclinei para frente e ele me segurou.
- Mais do que eu. - A voz era divertida e descemos a escada com sua mão em mim.

Quando o carro parou em frente a minha casa, suspirei fundo. A noite tinha sido realmente boa.
- Te vejo na sexta que vem então? - perguntei antes de abrir a porta.
- Sim, mas a gente se fala. - levantou o celular, mostrando-o.
- Okay, até sexta, . - arrumei a alça de minha bolsa e coloquei a mão na maçaneta. - Não sinta tanta saudades.
- . - eu estava rindo quando ele segurou minha mão, me fazendo olhá-lo. - Hoje foi muito bom.
Sorriu de lado e eu suspirei. Ele fez um carinho em minha mão e meus olhos acompanharam esse gesto.
- Foi mesmo. - me aproximei de seu rosto e lhe dei um beijo na bochecha. - Boa noite.
- Boa noite. - respondeu e eu então saí do carro. Ao andar uns 3 passos do carro, escutei o vidro sendo aberto. - .
Falou alto e me virei para encará-lo. Sua expressão era feliz.
- Eu vou sentir um pouco de saudades. - levantou o dedo indicador e o polegar, indicando o “pouco”. Revirei os olhos e me virei de costas.
- Você vai morrer de saudades. - gritei e pude escutar sua risada. Eu estava feliz.


Capítulo 4

O lugar que está te chamando...

Quarta feira

Meu celular apitou, eu estranhei ao abrir os olhos e ver que ainda estava escuro. Ao olhar um relógio digital, os números vermelhos indicavam que eram 1h da manhã. Peguei meu celular, a luz quase me cegando. Era uma mensagem no whatsapp.

: Estou ansioso.



Fiquei olhando a mensagem por tanto tempo que ele mandou outra.

: Pensei que estivesse dormindo.



: Eu estava.



: Seu sono é muito leve.



: assisti um filme hoje e me lembrei de você.



Então ele me mandou um áudio.
- Mentira, como foi? - ele estava super surpreso e sua voz era divertida.

: a garota matou um cara só porque ele a acordou no meio da madrugada.



: Eu queria estar aí, para vermos juntos hahahaha



: Idiota.



: Eu também queria...



: Morrendo de saudades de mim? Eu sei, eu sei.



Outro áudio:
- Quero ver minha noiva. - e riu. Ao escutar isso, meu coração acelerou. Pude perceber que sua fala estava um pouco enrolada, mas as palavras tiveram tal efeito que me envergonhei. Eu estava mexida com quatro palavras do bêbado. Soltei todo o ar pela boca. Isso não daria certo. Tinha tudo para dar errado. Eu sentia uma enorme atração por .

: Vai dormir, seu bêbado.



Ele enviou vários emojis rindo. Eu sorri e desliguei a internet do celular. Precisava dormir.

Sexta feira

Coloquei um vestidinho depois de experimentar não sei quantas roupas do meu guarda roupa. Minha cama estava aquela bagunça, porém nenhuma dessas roupas que estava ali eu usaria na casa do lago. Minha mala já estava pronta e eu sabia que a ansiedade e nervosismo não era pela viagem, mas sim para que chegasse.
Desci a mala, colocando no canto da sala. Meu pai havia decidido viajar ainda hoje e quando soube que chegaria a noite, ele só firmou a ideia. Sem querer, eu olhava o celular a cada 5 minutos. Resolvi me sentar no banco da varanda. Não que eu quisesse vigiar ele. Não era nada disso. Talvez um pouco. Mas a noite estava quente, eu poderia ficar ali tomando um ar fresco tranquilamente, não seria algo estranho.
Louise me mandou um áudio:
- Menina, se tu não pegar esse gostoso do caralho de jeito nesse sítio, eu quebro sua cara.
O volume do meu celular estava alto e não consegui abaixar ou pausar o áudio. Ao olhar para frente, estava encostado no pilar da varanda rindo. Talvez o branco dos meus olhos se expandiram um pouco além do normal. Mas eu sentia meu rosto queimar.
- gostoso do caralho? - ele apontou pra si rindo. - Eu?
- Louise tem a mente muito fértil. - revirei os olhos, me levantando.
- Talvez alguma coisa ajudou nessa mente criativa. - mordi meus lábios, com vergonha. - Talvez um pouco de informação.
Esfreguei meu rosto sem saber o que fazer. Eu apenas ri.
- Olha ele, cortou o cabelo, mudou o visual. - Ele sorriu, dando uma voltinha. Olhei para ele, podendo observar com calma que ele havia tirado suas tranças. Os cabelos estavam bem cortados nas laterais e em cima os cachos davam volume, caindo em sua testa.
- Gostou? - estreitei os olhos, medindo-o de cima a baixo.
- Você sabe que eu perguntei do cabelo né? - dei um tapa em seu braço. - Não ficou nada mal. - Ah é?! Nada mal? - ele riu mais uma vez. Parecia alegre.
estava de costas para sua casa, logo apenas eu conseguia visualizar o casarão. Percebi que seu pai estava na janela. Olhei disfarçadamente.
- Então está ansioso? - dei outro tapa de leve em seu braço e ele se encolheu, se divertindo.
- Na verdade, não tenho mais motivos para estar. - pegou em minha cintura. - E você, morreu de saudades?
Olhei mais uma vez para a janela da casa e seu pai ainda estava lá. Ele precisava de uma prova para acreditar. Talvez não era apenas isso. Acho que eu também queria aquilo que estava prestes a fazer e sem pensar mais, eu passei minhas mãos por seus ombros, contornando seu pescoço, ficando abraçada a ele. Olhei ele de perto e seus olhos desciam para meus lábios e subiam para meus olhos. Suas mãos pegaram minha cintura, puxando para si. Eu o beijei. Nossas bocas se tocaram e eu mordi levemente seu lábio inferior, passando a língua pelo local. Seu aperto se intensificou e eu aprofundei o beijo, que na minha cabeça, era muito necessário. E desejado, minha mente não deixou de gritar. Eu queria aquilo. Minha língua escorregou pela sua, que logo invadiu a minha boca. Minhas unhas subiam e desciam levemente por sua nuca. Eu queria mais contato, mais de . Mas eu precisava me conter. Parei o beijo aos poucos e dei uns dois selinhos no final. Ele mordeu os lábios, estreitando os olhos e essa era uma mania que eu já sabia que gostava.
- O que foi isso? - perguntou enquanto ainda estávamos abraçados.
- Seu pai está olhando da janela. - os olhos voltaram ao normal e as sobrancelhas se levantaram. Seu lábio inferior empurrou o superior em um bico e ele começou a assentir com a cabeça, como se algo que ele tivesse pensado, fizesse todo sentido.
- Talvez agora ele acredite. - seu pai já havia saído da janela. Mas mesmo assim, eu me aproximei mais uma vez, lhe dando apenas um selinho. Fiz um carinho na lateral de seu rosto.
- Vamos entrar que meu pai tem novidades. - puxei sua mão levemente e me virei de costas. Logo sairíamos de viagem.


Capítulo 5

Me leve por uma viagem pelo azul, eu adoraria saber o que você está pensando...

Ele

puxou minha mão e enquanto abria a porta, olhei para trás, para minha casa, porém meu pai não estava lá. As luzes do andar de baixo estavam todas apagadas, apenas a de seu quarto estava acesa. Achei estranho, mas esqueci o que estava pensando assim que entrei em sua casa.
Não havia ninguém na sala, mas todos os cômodos eram bem iluminados. Vi uma mala perto de uma cômoda.
- A mala já está pronta? - perguntei enquanto caminhávamos até o sofá. Por mais que não havia ninguém ali, nossas mãos ainda estavam entrelaçadas.
- Meu pai quer ir hoje. - falou com um ar de diversão que eu não entendia muito bem. Estreitei meus olhos tentando entender.
- E por que está tão feliz? - perguntei e ela se levantou, arrumando o vestido se sentando mais próxima a mim. Escutamos passos e vozes da escada. se aproximou de mim, deitando a cabeça em meu peito. Sua saia subiu levemente, mostrando suas coxas. Apertei meus braços em sua volta, querendo ela mais perto.
- Quando você conhecer minha família, saberá. - ela disse rindo e eu não gostei nada disso. Sua mão fez um carinho em meu queixo e ela me deu um selinho, o que me lembrou a cena lá fora. Eu precisava de mais.
- Querido, leve uma mala por vez. - escutamos a voz de sua mãe.
- Meu pai estava em qual andar quando você o viu? - perguntei em seus cabelos. Tinha um cheiro bom.
- No de baixo. - ela falou rapidamente e depois franziu o cenho me olhando. - Quer dizer, no de cima.
Se meu pai estava no andar de baixo quando ela me deu o último selinho, não teria dado tempo dele já ter chegado em seu quarto, do segundo andar, em 3 segundos. A menos que ele não estivesse lá quando ela o fez. Eu acho que também estava atraída por mim. Também?
- ! - sua mãe veio sorridente nos cumprimentar. Me levantei e ela logo me abraçou. - Sua mala está pronta?
- Sim. - sorri e me olhou como se eu tivesse um terceiro olho no rosto.
- Que ótimo! - ela saiu da sala subindo a escada e por fim, o pai de surgiu.
- Ei, garoto, animado? - eu queria rir da forma como ele me tratava. Parecia que eu era uma criança. Aquele dia antes de aparecer na sala, estávamos tomando café a um tempo e o pai dela não parava de fazer brincadeiras que só um tiozão faria. Todavia, ele parecia gostar de mim de verdade.
- Senhor. - o cumprimentei com a cabeça, segurando o sorriso.
- Me chame de Charles, por favor. - ele colocou uma mala no chão. - Me ajude a colocar tudo isso no carro.
Eu fui, mas antes não poderia deixar passar a oportunidade de tocar mais uma vez os lábios de com os meus. Eu sai rindo, olhando para ela, como se tivesse me contado uma piada. Ela estreitou os olhos e me reprovou com a cabeça.

Depois de trocar as roupas sujas da minha mala, por roupas limpas, estávamos no carro a uma hora e meia. O carro dos pais de estava logo à frente, enquanto ela estava comigo e seguíamos eles. A viagem era silenciosa, porque de toda forma, ela havia dormido. Por algum motivo eu olhava para ela a cada vez que o carro passava em algum buraco na estrada, mas seu sono era sereno.
No rádio tocava alguma música do Kings of Leon, o cantor pedia para conversar um pouco com alguém, porque ele já não sabia o que fazer. Eles iriam conquistar algo juntos… Mudei a música e respirei fundo. O fim de semana seria maior que o esperado.

levantou a cabeça assim que diminuímos a velocidade dos carros e estacionamos. Era um casarão no meio do mato, eu só não sabia ainda onde estava o lago. Desci do carro em direção ao porta malas enquanto Charles e Rose se dirigiam para dentro da casa. Pareciam dois amantes mesmo depois de tantos anos.
Eu precisava de um banho e uma cama. Havia ficado os últimos 5 dias fora da cidade, tentando colocar os pensamentos no lugar. Pensando em coisas que eu poderia fazer e todos acreditariam. Comprei uma aliança e me peguei na dúvida se havia tirado da mala por engano. Mas logo me lembrei quando a coloquei no cantinho direito perto de um perfume. Era um alívio pensar que a minha dívida seria quitada sem que eu precisasse morrer. Mas no que eu havia me metido? Ao retirar as duas malas que haviam ali, vi a mulher que andava mexendo com os meus pensamentos mais do que eu gostaria, descer do carro. Se esticou e veio até onde eu estava.
- Eu nem me lembrava como aqui era bonito. - Ela olhou à sua volta e eu fiz o mesmo. Além do casarão cor creme, havia um enorme gramado, com a grama bem aparada, vários pontos de luz que iluminavam o jardim. Havia vários bancos brancos de ferro espalhados pelo verde. Olhei para seu rosto que ainda olhava tudo como se fosse a primeira vez.
- Vamos subir? - perguntei cansado. Meu corpo começava a doer.
- Se arrependeu de vir? - ela perguntou com o cenho franzido, parecia realmente preocupada. Eu neguei.
- Não. - peguei as duas malas e caminhei em direção a casa.
Senti suas mãos segurarem meu pulso. Me virei e minhas costas doeram. Coloquei as bagagens no chão.
- O que foi? Está estranho. - molhou os lábios e os olhos grandes ficaram me olhando minuciosamente, como se fosse encontrar a resposta em algum lugar do meu rosto.
- Estou cansado, meu corpo não precisa nem de uma cama, se for um lugar plano já serve. - ri e ela fez o mesmo.
- Então vamos encontrar um quarto pra você agora. - disse e foi na frente. Meus olhos não paravam de olhar sua bunda se mexendo e o tecido do vestido acompanhando. - Vou atrás da minha mãe, volto logo.
Passou nem dois minutos e ela já havia voltado. Subimos a escada e caminhamos até o fim de um corredor.
- Vamos no seu primeiro, para eu deixar sua mala. - falei e ela riu. Caminhamos até o fim do corredor, paramos na penúltima porta.
- Pode deixar aqui na porta mesmo.
- Onde fica o meu? - perguntei e ela caminhou até a última porta. Assim que entramos no cômodo, me joguei de bruços na cama. Minha vontade de pular um banho era enorme.
- Se precisar de qualquer coisa, meu quarto fica aqui do lado. - murmurei um "uhum" e eu não podia fazer mais nada além de relaxar meu corpo. A melhor sensação do mundo. - Você vai querer jantar?
Se eu falasse que não, ficaria muito feio? Me sentei na cama olhando para o chão.
- Eu vou. - me levantei, indo até a mala. Precisava de um banho. - Me chame quando estiver pronto.
Ela passou a mão pelo vestido, parecendo nervosa. Parecia querer dizer algo, mas apenas assentiu e saiu, fechando a porta.

- . - senti uma mão batendo levemente em meu ombro. E mais uma vez.
- Oi. - falei com o rosto no lençol.
- O jantar está pronto. - a voz de era cautelosa. Me virei para levantar. - Meu Deus, !
Demorei uns 4 segundos para entender que eu havia me deitado de toalha e agora eu estava nu. Peguei o lençol e me enrolei de qualquer jeito. Seus olhos não paravam de me observar, por mais envergonhada que estivesse.
- Desculpa, . - falei rindo do seu rosto vermelho e me enfiei no banheiro.
- Você desce em quanto tempo? - ela gritou pela porta.
- Em 1 minuto.


Capítulo 6

Eu nunca vou te deixar sozinha…

Acordei sem saber onde eu estava. O quarto era estranho, o lençol desconhecido por mim. Depois de um minuto olhando para o teto branco, na meia luz, pois a cortina estava quase totalmente fechada, me lembrei onde eu estava. Me virei de lado e um relógio na parede indicava que era meio-dia. Arregalei os olhos e pulei da cama. Como consegui dormir tanto? Entrei no chuveiro às pressas e a água estava muito quente. Mudei para a fria e despertei de vez.
Peguei as primeiras peças de roupas que minha mão encontrou na mala. Uma calça jeans e uma camisa branca. Peguei o creme e corri para o espelho para ajeitar o cabelo. Devo admitir que a praticidade das tranças me fazia falta.
Ao sair do quarto, escutei várias vozes no andar de baixo. A maioria era de mulheres. Respirei fundo e desci os degraus, procurando apenas uma pessoa.
- Querido, amanheceu tarde para você. - Rose disse e as mulheres que aparentavam ter a sua idade riram. Uma idosa se aproximou de mim.
- Mas que rapaz bonito que a encontrou. - a senhora era bem baixa, esticou os braços para tocar meu rosto e tive que me abaixar um pouco.
- Obrigado. - sorri e ela ficou parada me olhando por alguns segundos.
- Para você aceitar conhecer toda essa família maluca, você deve gostar mesmo da minha neta. - deu dois tapinhas em meu peito e sorriu satisfeita. - Me chamo Amélia.
- Sou e eu gosto de verdade da sua neta, senhora Amélia.
- Ele caiu dos céus, Rose. - ela comentou e as outras riram.
- Querido, essas aqui são minhas irmãs, Grace, mas todos a chamam de Gracinha e Naomi. - apontou para duas mulheres de meia idade que sorriram e acenaram. - E essa é a minha cunhada, Nancy.
- Menino, que porte você tem. - a tal da Gracinha veio até mim e pegou em meu braço. Eu precisava que se materializasse em minha frente naquele momento. - E o casamento sai quando?
Rose fez um barulho com a boca como se não tivesse acreditando na pergunta da irmã, enquanto as outras se divertiam. Mas surpresas ou não com a pergunta, todas esperaram uma resposta.
- Muito em breve, isso eu posso afirmar. - falei e peguei a mão dela que estava em meu braço e a beijei. Céus, o que eu tinha que fazer para passar uma boa imagem. - Onde está ?
- Já está com saudade!
- Você nem imagina. - eu falei e Rose caminhou até a porta de vidro, olhando o jardim.
- Está grudada naquela máquina desde cedo. - bateu as mãos no avental e retornou para onde estava. - Está no jardim, querido.
Assenti e caminhei para fora. Ali era mais bonito com a luz do sol. Tudo verde, bem cuidado, muitos vasos de plantas e outras plantadas no chão mesmo. Então vi o lago que era impossível de não se ver. Era enorme e do outro lado, havia vários pinheiros fazendo um corredor de triângulos.
Olhando mais para a esquerda, vi um tablado no lago, com um gazebo de madeira cobrindo-o. Era bem bonito, parecia algo que só se encontra em filme. Escutei um disparo da máquina fotográfica e olhei para o lado, encontrando um pergolado também de madeira e estava com a lente virada em minha direção. Mais duas fotos foram tiradas. Eu ri e ela não perdeu a oportunidade de fazer mais um click. Fui em sua direção, apenas escutando o barulho da máquina a todo momento.
- Tenho paparazzis agora?
- Você estava merecendo, as fotos ficaram ótimas. - ela olhou na visor da câmera e riu. - É claro que no seu caso, a paisagem ajudou.
- Ajudou né? - tentei pegar a câmera mas ela se virou de costas, escondendo a máquina. A levantei pela cintura e gritou, rindo. A coloquei no chão. - Não foi o que suas tias, mãe e avó ficaram falando na cozinha.
- Vocês já se conheceram? - a felicidade era explícita em sua expressão.
- Com toda certeza. - me sentei num sofá que havia ali. Ela fez o mesmo, ficando ao meu lado. - Não quero passar por isso de novo sozinho.
- Agora que estamos quites, estarei sempre por perto. - virou seu corpo pra mim, dobrando as pernas e apoiando os braços no encosto do sofá. Olhei por instinto para a direção da cozinha e vi com toda certeza, 5 cabeças atrás da porta de vidro.
- Sua família está toda na porta da cozinha. - ela quase virou a cabeça mas conseguiu se conter. Mordeu os lábios rindo.
- É mesmo? - ela se aproximou, se apoiando em meu corpo.
- Por que tenho a impressão que está gostando disso tudo? - perguntei, encarando seus lábios.
- Não se iluda tanto assim, . - sussurrou em meus lábios e fez o contato. Peguei em seus cabelos querendo trazê-la para mais perto quando sua língua procurou a minha. Uma de suas mãos se apoiaram em minha coxa, mas senti sua pressão para nos afastarmos.
- Eles precisam achar que estamos apaixonados, não que estamos nos comendo no jardim. - ela falou arrumando o cabelo.
- Bom, foi você que me beijou. - seus olhos caíram até o meu colo e ela arregalou-os de leve.
- … - pegou uma almofada e me entregou com força. - Se eu fosse você, eu esconderia toda essa animação.
Eu ri da forma que ela disse isso e levei um tapa no braço. Peguei a câmera do seu colo e cliquei no botão com desenho triangular, para ver seus clicks.
O álbum começava com fotos do jardim e vi que as minhas eram as últimas. Eu quis ver todas desde o começo. O jardim era lindo, mas nas imagens, ficava em cores ainda mais vivas. Pássaros em galhos com flores vermelhas em volta. O lago com o reflexo do sol e aves voando ao fundo.
E então, eu, com a camisa branca em destaque pela luz do sol, com uma expressão meio surpresa. Provavelmente eu estava olhando a água, mas não sabia que havia ficado tão surpreso. Passei e a próxima eu já estava olhando para a lente, minha expressão era feliz. Na próxima, eu parecia um otário apaixonado.
- Você devia apagar essas últimas, estão péssimas. - falei entregando a máquina para ela.
- Elas vão queimar o meu cartão? - perguntou risonha. Eu tentei não rir, mas foi em vão.
- Vão. - olhei para o lago. Era tudo tão calmo. O silêncio, o barulho de pássaros cantando a todo momento. Alguns batiam na água e mesmo com a distância, eu podia escutar o barulho das gotas caindo na água. O barulho de outra foto sendo tirada, tirou minha atenção. - Se as minhas fotos não queimarem seu cartão, eu mesmo coloco fogo.
- Nem pensar. - bufei e ela sorriu. - Aqui, eu apago.
Foi clicando na lixeira a cada imagem minha que aparecia. Me arrependi de ter feito esse pedido.
- Satisfeito? - dei de ombros. Naquele momento, escutamos passos vindo por trás de nós, me virei para olhar e encontrei Charles com mais dois homens.
- Aí estão vocês. - ele gritou mesmo próximo da gente. - Quero apresentar os tios de .
Me levantei e assenti. Ela ficou em pé e pegou em minha mão.
- Esse é o tio Phil. - ela falou e eles contornaram o sofá e chegaram mais perto.
- Menina, que saudade! - abraçou a sobrinha e estendeu a mão para mim.
- Confesso que por um momento me senti em Um Maluco no Pedaço. - todos riram e o homem abraçou a própria barriga ao fazer isso.
- Não me diga que é pela minha falta de cabelo. - rimos e eu passei a mão pela cabeça, sem graça.
- Claro que não. - me abraçou de lado e eu retribui o gesto.
- Quase me esqueci! Esse é o tio Silas. - esse era mais reservado que o outro. Apenas nos cumprimentamos.
- E quando sai o casamento? - o tio Phil perguntou e senti os braços de me apertar um pouco mais.
- Como eu disse a tia Gracinha… - minha voz tremeu com a incerteza de que estava falando o nome certo. - Muito em breve, não é amor?
Perguntei a que me olhou e assentiu. Ficamos ali fora conversando até a hora do almoço. Os três homens combinaram uma pesca para mais tarde.

- Está uma delícia, querida. - Tio Phil que descobri ser marido da Grace, elogiou a esposa. Olhando assim e pela experiência de mais cedo, eles combinavam. Foram feitos sob encomenda um para o outro.
- não disse nada durante todo o almoço. - a senhora Amélia observou e eu olhei para .
- A comida estava tão boa que não consegui nem falar. - brinquei e as cozinheiras adoraram.
- Garoto, vamos pescar, você vem? - Charles se levantou e apoiou a mão em minha cadeira. Eu não tinha saída a não ser aceitar.

Estávamos a uns bons 40 metros de todo o jardim. Ali não havia grama, era terra. Colocamos nossas cadeiras. E as varas de pescar já estavam à espera de algum peixe a alguns minutos.
- O motor é de uma potência. - aterrissei na conversa depois de muito viajar olhando o lago. - Uma pena que Nancy tem pavor a alta velocidade.
não gostava também. Meu fio mexeu mas logo parou. Comecei a ver o balançar das águas, o vento levou uma minúscula ondinha em direção a casa. Vi com uma vasilha, por mais que estávamos longe, eu conseguia ver seu rosto com perfeição. Ela estava concentrada. Colocou na enorme mesa de madeira que havia no gramado e voltou para dentro da casa.
- Essa é a arte do casamento. - Charles riu.
- Eu que o diga, meu amigo.
- Você se doar em cada pequeno momento e enfrentar cada grande problema. - saiu novamente, mas dessa vez parou, olhou para trás e riu. Conversava com alguém. Pegou a câmera que eu nem percebi que estava em cima da mesa. Olhou para a foto que tirou e comentou algo que eu não conseguia escutar. - E é claro, tem que saber aproveitar o hoje.
- Está escutando, ? - tio Phil perguntou e eu assenti. Não poderia tirar os olhos de .
- Quando gostamos muito de alguém, só o que temos é o hoje e na minha idade, o medo do amanhã.
olhou para mim e entortou a cabeça. Levantou a câmera e não pude escutar, mas sabia que estava mais uma vez me fotografando. Eu ri, a repreendendo com a cabeça. Ela jogou a cabeça para trás e eu tive a vontade de estar mais perto para escutar o som de sua risada. E escutar alguma fala dela, daquelas que ela falava porque queria, mas demonstrava que não era tão importante.
- Ele nem está nos ouvindo, olha para onde ele está olhando!
Opa. - desviei o olhar até entender o que estava acontecendo, mas já não estava mais no jardim.
Charles se levantou, puxando o fio, a vara que segurava estava totalmente torta. Fiquei impressionado com o tamanho do peixe quando esse saiu da água.
- Isso aqui vai dar uma boa história. - soltou uma risada, quando colocou outra isca no anzol e jogou novamente para a água.
Naquele momento, tive a sensação de ter encontrado algo, sem estar procurando. Eu poderia estar correndo, bebendo em qualquer lugar, ganhando qualquer aposta. Mas eu estava gostando de estar ali. Eu queria estar ali. Porque o que eu havia encontrado era . E eu precisava estar ao seu lado. E como se já não bastasse todo esse desafio que tive que passar me fingindo de namorado e futuro noivo, eu me desafiei mais uma vez: eu precisava conquistar até o dia do nosso casamento.


Capítulo 7

Me diga o que eu devo fazer...

Ela

Eu estava na cozinha ajudando minhas tias a prepararem uma tábua de frios. Havia muita fruta lá fora. Elas queriam fazer um grande jantar. Meus primos chegariam e elas estavam tão felizes.
Pelo vidro da janela, vi quando passou no jardim segurando a vara de pescar e um balde. Conversava com o tio Phil. Pareciam mais próximos. Meu pai se aproximou e segurou no ombro de , que comentou alguma coisa e todos caíram na risada. Com algum comentário, levantou as sobrancelhas e eu suspirei.
Eu precisava restaurar as fotos do cartão. Eu apaguei só porque eu conseguiria pegá-las na lixeira. Faria isso mais tarde sem falta. Embora meu eu interior, tentasse frear todas essas ações e emoções que eu estava sentindo, meu coração me traía toda vez que meu corpo entrava em contato com o de . Fosse num aperto de mão, um abraço desinteressado, um beijo.
Peguei uma cebola para cortar, elas já iriam preparar a carne. Me veio na mente o momento em que tentou pegar a câmera no jardim. Sua expressão vendo as fotos, meio rabugento e ainda sim com o olhar de uma criança. A faca bateu na tábua com mais força, fazendo um barulho alto. Eu estava inevitavelmente ansiosa. Onde ele estava?
Deixei o que eu estava fazendo e sai pelo jardim, avistei a casinha que meu pai havia construído a muitos anos, para colocar todas suas ferramentas. Ao me aproximar, encontrei os três homens mais velhos, saindo da pequena casa.
- Onde está ? - tentei não soar tão afobada e acho que consegui.
- Está desenrolando um fio lá dentro, querida. - meu pai respondeu e eles saíram rumo a grande casa.
Empurrei a porta de madeira, encontrando o homem que eu procurava de costas, entretido. Molhei os lábios pensando no que falar.
- Pescou algo? - perguntei, me socando por dentro. Ele se virou de uma vez e me olhou assustado. Como se não esperasse me ver. - Não queria te assustar.
Eu ri e ele também. Ficamos nos olhando em silêncio por quase um minuto.
- Quer falar comigo? - eu assenti e me aproximei.
- … - abanei as mãos no ar e as juntei, tentando formar as palavras. Mas eu não conseguiria. Eu sabia que não. Não sei como, mas em meio segundo eu estava beijando-o. Meu coração palpitava em meu ouvido. Minhas mãos agarraram seus ombros e eu aprofundei o beijo, encontrando sua língua. Eu não sabia o que falar, mas meu corpo falava por mim. Eu o queria.
Senti quando suas mãos desceram por minha bunda, parando em minhas coxas, me impulsionando para cima. Minhas pernas agarraram sua cintura e ele me colocou sentada em uma mesa, como nossos corpos ainda colados. Eu sentia uma pressão que ficava cada vez mais dura em minha intimidade. Joguei minha cabeça para trás e antes que eu pudesse emitir algum sol, seus lábios encontraram os meus novamente. Uma mão sua estava em minhas costas, enquanto a outra estava em minha coxa, permitindo mais contato. Eu o queria.
- , eu… - ele mordeu meus lábios e eu desci minhas unhas por seu abdômen, parando no cós de sua calça.
- . - escutei a voz de minha mãe ao longe e paramos o que estávamos fazendo. Me levantei da mesa e tentei arrumar meu cabelo.
- Estou bem? - perguntei e fez que sim.
- Eu que não estou. - apontou para sua ereção e eu mordi os lábios ao ver que estava tão visível.
- . - a voz estava mais perto. se agachou com o emaranhado de fios e eu me sentei na mesa de volta. E então, a porta se abriu. - , preciso que faça o molho.
- Ah sim, já estou indo. - mamãe olhou tentando desfazer os nós.
- Querido, pode deixar, Charles depois se vira com isso.
- Já estou terminando. - a voz dele saiu um pouco mais grave.
- Não precisava se incomodar. - ele respondeu algo como “não é incômodo" e ela assentiu. - Querida, estou te esperando.
- Estou indo. - minha mãe saiu e a porta se fechou, pois ela nunca ficava aberta sem algum peso a segurasse.
se levantou e me pegou pela cintura me dando um beijo rápido.
- Precisamos conversar mais tarde. - eu assenti e o beijei novamente.
Meu corpo me afastava, mas nossos lábios ainda estavam colados. Sai da casinha com a sensação de seus dentes em meu lábio inferior.

Entrei em meu quarto e vi a pontinha do sol, que ainda não havia sumido no horizonte. Toda a comida já estava preparada e agora só precisávamos esperar meus primos chegarem. Ao longe, vi dois faróis se aproximando. Deveria ser eles.
Ao olhar mais o jardim, vi os homens sentados na enorme mesa, bebendo cerveja. Todos olharam quando o carro estacionou. Libby e Bert desceram e logo depois o pequeno Leo, que foi atrás. A criança era irmão de sangue de Libby, que já havia virado uma mulher, uma vez que a última vez que eu a vi, foi a uns 4 anos atrás. Bert era filho do novo marido de minha tia, Naomi, porém esse não pôde vir pois trabalhava fora.
Vi quando eles foram abraçar os tios, a alegria de todos. os cumprimentou e ficou olhando a própria garrafa. Quando meu pai se levantou, com as mãos nos ombros de Bert, todos ficaram de pé para acompanhá-lo. Tio Phil pegou Leo no colo e falou algo para , porém ele sorriu e negou. Começou a batucar os dedos na mesa e deu um gole em sua cerveja. Levantou a cabeça quando Libby se aproximou falando algo. Eu não conseguia escutá-los, pois minha janela estava fechada. Ela estendeu a mão e ele a pegou.
Libby então, resolveu se sentar ao seu lado, pegando sua cerveja e dando um gole. Estreitei meus olhos não entendendo o que ela queria. coçou a sobrancelha com o polegar, se afastando levemente. Quando minha prima falou algo, recebeu uma resposta e riu, colocando a mão na coxa de . Ele sorriu e negou com a cabeça.
Sai da janela, com o coração batendo rápido. Por que aquele cretino não havia se afastado dela? Por que não tirou a mão que estava em sua coxa? Respirei fundo e desci as escadas. Eu precisava de um copo d’água.
Ao entrar na cozinha estavam todos paparicando Leo e Bert. O mais velho não havia mudado tanto uma vez que a 4 anos atrás, ele já tinha 18 anos.
- , olha quem chegou! - minha mãe falou alegre. Eu sorri e abracei meus primos. Na mesma hora, vi quando entrou e seus olhos me encontraram quase no mesmo momento.
- Saudade de vocês. - consegui falar por cima da raiva que havia retornado. - Elas fizeram um banquete pra vocês.
- Vou logo avisando, não como nada desde ontem. - Bert falou e Leo se apressou em completar:
- Mentira! - gritou, impressionado com a mentira do irmão. Era uma criança muito inocente. - Você comeu dois hambúrgueres antes de vir.
Todos riram e começaram a comentar algo. Desisti de beber a água e resolvi subir. Não queria ver tão cedo.
Subi as escadas com pressa e escutei passos atrás de mim. Caminhei até o fim do corredor, para meu quarto. Entrei e ao empurrar a porta para fechá-la, a segurou. Revirei os olhos e me afastei, deixando-o entrar.
- Precisa de alguma coisa? - perguntei pegando alguma roupa na mala. Iríamos embora na segunda, então nem me dei o trabalho de colocar tudo que eu trouxe no guarda roupas.
- Por que nem me olhou lá embaixo? - perguntou.
- Estava ocupada recebendo meus primos, caso você não tenha visto. - caminhei em direção ao banheiro mas me impediu, segurando meu braço.
- Sim, eu percebi. - me encarou por alguns segundos em silêncio. - Mas precisava me ignorar?
- E você precisava não ignorar minha prima? - suas sobrancelhas se sobressaltam. - Claro que você não faria isso, você estava gostando!
- , como que eu ignoraria uma pessoa que eu acabei de conhecer? - passou a mão pelos cabelos.
- Ela estava dando em cima de você. - falei, fitando-o, esperando uma resposta. Completei: - E você nem se deu ao trabalho de se afastar.
Ele negou com a cabeça, parecendo surpreso. O cenho estava franzido.
- Você viu tudo? - perguntou espantado e eu assenti. - Então viu quando aquela sem noção tentou me agarrar e eu me afastei, entrando na cozinha?
- Ela o quê? - minha respiração estava ofegante e eu só não queria estar sentindo todo aquele ódio.
- Eu entrei porque ia te contar. - aquele olhar de criança retornou ao seu rosto. Parecia desesperado se explicando. - Mas você já estava desse jeito.
Apontou para mim e eu me virei de costas, fingindo pegar algo na mala que eu havia colocado em cima de uma mesa que estava no canto. Eu fechei meus olhos com força, tentando torcer para que ele não se fizesse a seguinte pergunta: por que diabos eu estava daquele jeito?
- Está com ciúmes? - perguntou se aproximando. Eu escutei seus passos, parando bem atrás de mim.
- Claro que não. - arregalei os olhos e em seguida os apertei. Respirei fundo.
- Está sim. - ele riu e eu me virei.
- Eu só não quero ser a mais nova corna do pedaço. - falei com firmeza e ele assentiu.
- Nesse momento estou comprometido com você, . -. Meu coração bateu forte e pisquei algumas vezes.
- Espero que assim seja, . - mordi os lábios, encarando o chão. Ao olhar pra ele, o vi assentiu e sair do quarto.

Ao fechar minha porta, meu vizinho de quarto apareceu. Caminhei em sua frente e ele logo pegou em minha mão. Eu o olhei, mas ele não fez o mesmo. Descemos em silêncio e apenas Nancy e Gracinha terminavam alguma coisa no fogão.
- Elas devem estar fazendo comida para o resto do ano. - ri abafado e saímos para o jardim.
Ao nos aproximar de todos na mesa, passei meus olhos pelo lugar procurando minha câmera. Olhei para o pergolado, na mesinha de centro e estava lá.
- Eu já volto. - falei para e soltei sua mão, que pegou a minha de volta. Me puxou e me deu um selinho rápido.
Ao chegar onde minha máquina estava, tive vontade de me sentar ali. Era tão calmo e tão bonito. As grossas madeiras escuras que contrastavam com o branco dos sofás. Peguei o que eu estava procurando e ao me virar, suspirei fundo ao ver Libby conversando com . Com toda calma que eu consegui reunir, me aproximei deles.
- Oi, prima, quanto tempo! - a segurei pelos ombros e a abracei. - Pelo visto, já conheceu meu futuro noivo.
- Futuro noivo? Minha mãe falou que começaram a namorar agora. - parecia confusa e sem graça. Dei o meu maior e melhor sorriso. Ela logo se recompôs. - Talvez você esteja criando expectativas demais em cima do moço, ele pode acabar fugindo de você.
- Se eu fugisse, com certeza seria para ir atrás de mais uma vez. - A voz de se fez presente.
Eu olhei para ele, imaginando como ele pensaria em uma resposta tão rápida.
- Libby, venha sentar com a gente. - sorri. - me contou que você gosta muito de conversar, eu estou louca para te escutar.
me olhou e levantou as sobrancelhas. Retornei a encarar minha prima esperando uma resposta. Ela estava séria.
- Quem sabe amanhã, . - colocou a mão na testa. - Estou com dor de cabeça.
- Espero que fique bem. - o homem ao meu lado me abraçou pela cintura. Ela entrou na casa e me virei para .
- Você pode falar que não, mas tenho certeza de que está com ciúmes.
- Ciúmes do meu falso namorado? - sussurrei em seu ouvido quando o abracei.
- Você tem medo de gostar de mim. - falou baixo, contra a pele do meu pescoço. Engoli em seco e me afastei, segurando sua mão ainda.
E por que eu não teria? - sorri torto, puxando-o para nos sentar a mesa.

Todos estavam comendo, rindo e contando algo que havia acontecido de bom. Leo derrubou um copo de refrigerante em algum momento, mas logo a mesa estava limpa. A risada mais alta era do meu pai. Fazia não sei quanto tempo que eu o via tão feliz. E não sei quanto tempo fazia que toda a família estava reunida.
Um tilintar num copo chamou a atenção de todos e demorei para perceber que o autor do barulho era .
- Gostaria de falar algo. - se levantou e todos ficaram em silêncio.
- Eu quero mais carne. - Leo falou emburrado e achamos graça.
- Todos sabem que eu e estamos namorando e acho que é por isso que todos nós estamos reunidos aqui, para nos conhecermos melhor. - ele riu e todos fizeram o mesmo. Ele olhou para mim e eu percebi seu nervosismo. Ainda me fitando, voltou a falar: - E eu devo confessar que gostei de cada parte da personalidade que conheci da nesse fim de semana e eu gostei tanto de toda a família. - apontou para todos e voltou a me encarar. - Eu nunca gostei da ideia de relacionamento sério e eu nunca, em toda a minha vida, pensei em casamento. Mas isso mudou quando eu te conheci e tudo que penso é que eu gostaria muito de me casar com você, .
Eu sabia que o pedido seria feito nesse fim de semana, mas não podia estar menos surpresa com o fato de que ele havia pensado até em um discurso. Minha garganta fechou um pouco e meu coração se apertou quando me dei conta de que cada palavra que ele disse, não era verdade. Mas eu gostaria que fosse.
Então o órgão em meu peito bateu forte quando ele tirou uma caixinha do bolso.
- , você quer se casar comigo? - ele fez o mesmo pedido daquela noite em que nos conhecemos e eu tive que rir. Ele fez o mesmo e nos olhamos como cúmplices. E afinal, era isso que éramos. Cúmplices em uma farsa.
- , responda logo o rapaz! -minha avó falou exasperada.
- Eu aceito. - me levantei e sorri para o então noivo. Eu não sabia que ficaria tão mexida com e nem esperava um pedido de casamento tão bonito. Confesso que se fosse um pedido menos elaborado e mais frio, as coisas seriam mais fáceis.
Ele então colocou o anel, que havia uma pedra transparente em meu dedo. Eu peguei o outro, que não havia pedra alguma e coloquei em seu dedo. Ao olhar pra ele, me perguntei como ele conseguia fingir tanta felicidade. Parecia realmente apaixonado e eu quis me matar por dentro, por essa sensação de que eu estava gostando dele mais do que deveria. Porque num casamento falso, você não deveria gostar nem um pouco da pessoa. E isso era tudo que eu não estava fazendo.
segurou em meu rosto e colou nossos lábios por alguns segundos. Minha família aplaudiu, estavam felizes. Meus pais vieram em nossa direção.
- Garoto, eu desejo toda a felicidade do mundo para vocês! - meu pai o abraçou e ele retribuiu.
- Minha filha, estou tão feliz. - o sorriso de minha mãe era de orelha a orelha. - Querido, sei que serão muito felizes.
E então todos ficaram nos cumprimentando. Tia Gracinha e Tio Phil não deixaram de fazer algum comentário fora de hora, mas até disso eu gostava. O pobre Leo teve enfim a sua carne e a noite terminou tranquila.
Meus olhos não deixavam de olhar o anel em meu dedo e o quanto eu gostaria que as intenções por trás dele fossem reais.

Duas batidas em minha porta e ela se abriu o bastante para que colocasse seu rosto pelo vão.
- Posso entrar? - perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. - Está incomodada com alguma coisa?
- Não. - neguei. Continuei dobrando algumas roupas que estavam jogadas pela cama.
- Tem certeza? - chegou mais perto de onde eu estava.
- Acho que eu acabei comendo demais, estou empanzinada. - sua expressão se suavizou.
- Boa noite. - se aproximou mais uma vez, sem jeito. Virou a cabeça de lado para me dar um beijo na bochecha, mas no mesmo momento eu também me virei, fazendo com que nossos lábios se encontrassem sem querer. Nenhum de nós ousou se afastar. Sua língua tocou meus lábios e eu abri, recebendo a em minha boca.
Suas mãos foram até minhas costas, me levando para perto de seu corpo. Seu beijo desceu para meu pescoço e uma de suas mãos desceram a alça de minha blusa. Levei minhas mãos até seu peitoral, ombros e braços. Isso era mesmo certo?
O empurrei levemente e seu olhar era de quem estava perdido. Olhei para o chão sem falar nada. Mas vi quando ele assentiu e se virou para sair.

Me revirei na cama por mais de duas horas. O beijo de ainda estava em minha cabeça. A cena em que eu o empurro, o olhar, os lábios molhados. A forma como qualquer outra roupa que ele usava, abraçava seu corpo nos lugares certos. Eu o queria. Só por hoje e não me importava se era o certo ou não.
Saí de meu quarto lentamente e entrei no dele. Ao virar a chave para trancá-la, um leve barulho ecoou. Tirei toda minha roupa, ficando totalmente nua. E me aproximei da sua cama que eu por intuição, sabia onde estava, apesar do escuro.
- ? - chamei e não tive resposta. - ?
- ? - escutei sua voz, estava surpresa e arrastada.
- Posso dormir aqui? - perguntei ansiosa.
- Pode, é claro. - escutei ele se mover na cama. Eu tateei o colchão e me deitei. - Por que está aqui?
- Não consigo dormir. - eu não conseguia ver nada à minha frente. Apenas a cortina que estava clara pelas luzes do jardim, mas não iluminava nada no quarto. Escutei a respiração de . - Pode me abraçar?
- Estou apenas de cueca. - pela sua voz, ele parecia ter despertado.
- Não me importo. - me virei de costas para ele e senti seu braço em minha barriga, puxando-o para ele. Seus dedos passaram levemente por minha pele. Subiu até meus braços e ombros.
- Você está sem… - sua mão desceu pela lateral de meu quadril. Afirmei com um “uhum”.
- Você se importa? - perguntei.
- Só se eu fosse louco. - ri abafado com sua resposta. Senti seus lábios em meu pescoço e sua mão mais uma vez em minha barriga. Empinei o bumbum em direção a sua ereção evidente. De bruços me virei em sua direção, o beijando. Segurou minha cintura e eu joguei uma perna em sua coxa, subindo um pouco até roçar em seu membro duro.
Seus lábios chuparam os meus e eu gemi baixinho. Apoiei em seu peitoral e fiquei em pé só o suficiente para aprofundar o beijo. Senti quando agarrou minha bunda, descendo pela parte interna de minha coxa. Senti quando tocou minha intimidade e arqueei meu corpo, facilitando o toque.
- Muito molhada. - gemeu em minha boca, escorregando um dedo para dentro de mim.
- Era por isso que eu não estava conseguindo dormir. - sussurrei em seus lábios e não contive um gemido quando seus dedos começaram com movimentos de vai e vem. Chamei por seu nome várias e várias vezes.
Sua boca encontrou meu pescoço, sugando minha pele, subindo para minha boca. O beijei com urgência, procurando sua língua com a minha.
Seu polegar começou a estimular meu clítoris enquanto me penetrava com o dedo. Eu precisava de mais com muita urgência. Arrastei meu corpo para cima do dele, ficando de joelhos e totalmente aberta. Seus movimentos se intensificaram e ficaram cada vez mais rápidos. Quando a língua de encontrou meu seio, o que eu apenas pude fazer foi jogar a cabeça para trás e gozar em sua mão.
Me deitei em seu corpo, a cabeça em seu pescoço e minha respiração ofegante.
- Tire a cueca. - sussurrei em seu ouvido e mesmo com meu corpo sobre o seu, ele retirou aquela única peça de roupa que o cobria.
Fiquei de joelhos mais uma vez e me sentei bem em cima da base de seu pênis, friccionando minha intimidade para frente e para trás, masturbando-o. Pela umidade, escorreguei pela ponta de seu pênis e gemeu, nos virando na cama. Fiquei deitada, quando ele se levantou e voltou com barulho de plástico em suas mãos. Abriu a embalagem e colocou a camisinha. Abriu minhas pernas e passou um dedo por minha intimidade.
Se posicionou em minha entrada e procurou minha boca. Sua língua lambeu meus lábios e os morderam levemente.
- Posso? - e a minha resposta foi apenas puxar suas nádegas em minha direção.
Quando ele entrou lentamente em mim, me esticando, inclinei meu corpo para trás, quase gritando por seu nome. Senti sua mão tampando meus lábios, quando a velocidade de suas estocadas cresceram. Mais uma vez sua boca encontrou meu seio, sua língua o circulando. Uma de suas mãos o apertaram.
E então essa mão desceu por meu ventre, me estimulando mais uma vez. A mão que estava em minha boca saiu para dar lugar aos seus lábios. Chupei seus lábios, depois passando a língua pela região. Voltei a gemer e dessa vez ele me acompanhou. As investidas ficaram mais rápidas e fortes, senti quando minha intimidade começou a apertar seu pênis. E quando suas estocadas ficaram mais lentas, ele pulsando dentro de mim.
Seu corpo se deitou sobre o meu e procurou minha boca, me dando um beijo. Em seguida, deixou seu corpo cair na cama. Me puxou para deitar em seu peito e eu fui de bom grado. Porque, no fim, eu estava onde eu queria estar e isso me bastava.


Capítulo 8

Você pode vir até mim para conversarmos um pouco, por favor?

15 dias depois

Então era o dia. Eu iria me casar com cara que eu estava perdidamente apaixonada. E isso seria um sonho de qualquer mulher, mas não era o meu caso. Porque a parte triste da história é que eu e ele tínhamos um acordo que iríamos nos casar para conquistar nossos objetivos. Minha liberdade sem romper com meus pais e ele conseguir pagar a alta dívida.
As últimas duas semanas passavam como um filme em minha mente. Nos víamos todos os dias. Engoli em seco quando uma lembrança martelou forte em minha cabeça.
A campainha havia tocado e eu fui ver quem era. Ao abrir a porta, estava segurando uma xícara branca, o nosso anel de noivado estava em seu dedo.
- O que faz aqui? - já perguntei desconfiada.
- Vim pedir uma xícara de açúcar. - falou rindo e me empurrou a porcelana branca que segurava. - Inclusive, você chegou a ver que eu estou noivo?
Coçou a sobrancelha com o dedo anelar que estava a aliança.
- Sabe que eu não tinha percebido? - falei rindo.
- Pois é, menina. - colocou a mão na cintura e olhou para trás de mim. Então se aproximou me pegando pela cintura.
- Você veio aqui só pelo açúcar? - perguntei, sentindo sua respiração bater em meu rosto, com a pouca distância que estávamos.
- Foi a desculpa que encontrei pra vir te ver. - disse, roçando nossos lábios.

Me olhei no espelho com o coração apertado. A maquiagem era impecável, o vestido era simplesmente lindo, tomara que caia, com muita renda e strass. Mas a minha expressão era pura tristeza.
Toda forma de carinho e afeto, era por conveniência. Era para a nossa boa convivência, nosso bem estar. Já que estávamos nessa de casamento forjado, por que não aproveitar o tempo enquanto isso? Por que não nos pegarmos, trocar carinhos, confidências, dias ruins e mensagens de madrugada, e depois nos afastarmos, cada um seguir seu caminho, com a maior naturalidade do mundo? Eu não conseguia ser tão fria.
Entrei no carro e meu pai dirigiu em silêncio o tempo todo. Não sei se era uma mensagem do universo ou apenas coincidência, mas perdi as contas de quantos casais eu vi durante o percurso. Respirei fundo tentando não chorar.
Ao estacionar na porta da igreja, meu pai abriu a porta para mim e pegou em meu braço. Eu estava apenas no automático, minhas ações eram mecanizadas. Ao entrar na igreja, meus olhos encontraram o rosto de , com uma expressão que transbordava alegria mas beirava a ansiedade. Podia perceber de longe o seu nervosismo e o seu sorriso verdadeiro.
E olhando seu rosto ali, ao vivo, vieram várias lembranças dos nossos últimos dias. Em todas elas, seu olhar era apaixonado, ele sorria muito. O que eu estava fazendo? Um pânico me assolou e eu respirei fundo.
Ao segurar a mão de , me lembrei de quantas vezes nossas mãos estiveram coladas e quantas vezes eu olhei elas assim, como estavam, o contraste das nossas peles, o encaixe de nossos dedos.
A benção do padre era apenas uma voz distante. Tão longe. Onde eu queria estar.
- Senhorita , você aceita como seu legítimo esposo, prometendo ser fiel, amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da sua vida, até que a morte os separem?
Eu poderia fazer isso comigo? Quebrar o meu próprio coração em vários pedaços? Não, não poderia. Porque ele já estava estilhaçado. Eu simplesmente não poderia seguir adiante com algo que só me machucaria. Porque eu sabia, essa verdade estava ali me rondando e eu sabia: eu amava e não estava pronta para quando fossemos seguir nossos caminhos. Porque tudo que eu queria era caminhar ao lado dele.
- Não. - a palavra pulou da minha boca. E minhas pernas me levaram o mais rápido possível para fora da igreja.
Mesmo de salto, com um vestido tão longo, corri como se correndo todos meus problemas se resolvessem. Corri como se não houvesse amanhã. Meus pulmões arderam e eu continuei.
- ! - gritou firmemente atrás de mim. Mas eu não tinha controle de minhas pernas, até que um par de mãos me segurou. - , o que aconteceu?
O olhei em silêncio, minha garganta estava apertada. Um nó havia se formado ali até que lágrimas começaram a sair de meus olhos.
- Por que você fugiu? - sua expressão era de confusão, medo. - Por que disse não?
- Porque eu amo estar com você, . - consegui falar através do choro. - Porque eu simplesmente amo passar cada minuto com você, mesmo que seja sentada num meio fio olhando o nada.
- E por que disse não?
- Porque eu não conseguiria ter você só para te perder. - solucei, desesperada. - Eu não consigo nem pensar em me casar com você só para ter que pedir o divórcio depois. Eu não consigo...
Sussurrei a última parte e ele me puxou para seu peito, num abraço tão apertado que eu tinha certeza que se realmente tivesse algo quebrado dentro de mim, se juntaria naquele momento.
- , eu amo você.
- Está falando isso porque precisa da empresa, precisa pagar a dívida. - falei em seu peito, a voz abafada. Segurou meu rosto e me fez olhá-lo. As sobrancelhas estavam sobressaltadas.
- , eu não preciso mentir ou forjar isso porque… - ele fez uma pausa e negou com a cabeça. - Meu pai já passou a empresa para o meu nome.
- Por que não me contou? - sussurrei espantada.
- Porque eu pensei que você sabia que eu já estava apaixonado. - suspirou e respirou fundo. - Você pensa que tudo que vivemos foi uma farsa?
Olhei para baixo mas sua mão me fez olhá-lo mais uma vez.
- Nem mesmo nosso primeiro beijo foi uma farsa.
-
- Acredita em mim?
Assenti, com o coração tão leve. Feliz.
- Não vou te pedir para voltar para a igreja e dizer sim, mas quero fazer as coisas como realmente deveriam ser. - me deu um selinho. - Quer namorar comigo?
- Quero, . - sorri como pela primeira vez no dia. - Tudo que quero.
- Tudo que quero na verdade é me casar com você um dia. - ele falou me dando um rápido beijo. - Mas por agora me contento em só ser seu namorado, sabendo que um dia serei seu noivo, esposo e o que você quiser que eu seja.


FIM



Nota da autora: Olá!!! Tinha vários planos para essa história mas com a correria, o que consegui entregar para vocês foi isso. Espero que gostem. :D


Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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