Finalizada em: 27/09/17

Capítulo Único

O REENCONTRO
- Continuação de 02 Pillowtalk

Pisar em solo italiano trazia a lembranças das quais lutou para esquecer no último ano. Aliás, o motivo por estar ali já o fazia rememorar aquela semana fatídica no cruzeiro que o levou de Miami à Bahamas. Enquanto trafegava do táxi ao hotel em que ficaria instalado na cidade de Modena, lembrou daquela mulher que o perturbou em pensamentos durante os três meses subsequentes ao término daquela viagem.
Primeiro, lembrou-se das chateações que se originaram por ter contratado uma acompanhante de luxo. August obviamente o irritou mais do que qualquer pessoa poderia imaginar. nunca se viu tendo que subornar alguém para ficar calado, mas já que já tinha contratado uma mulher para fingir ter um relacionamento, até que era de se esperar que algo como pagar para alguém não revelar seu segredo sujo era plausível. Nos últimos anos, e graças ao bom trabalho, dinheiro não era problema.
Os pensamentos logo retornaram a ela. Ouvir a música que tocava no rádio, com aquele acento italiano, o fez lembrar a voz doce que emanava de seus lábios sempre que conversava com Pierre, Filippo ou qualquer outro italiano que naquele cruzeiro estivesse. Na verdade, acreditava que seria quase impossível não lembrar-se dela a todo momento já que estava ali graças a ela. Por ela. E sequer teve a chance de agradecer por isso.
De todas as formas procurou contatá-la. Tentou telefone, Skype, e-mails, sites de busca e, inclusive, numa atitude desesperada para achá-la e também com receio de achá-la logo ali, tentou também o site de acompanhantes de luxo, sem sucesso. Todas as tentativas frustradas.
“Você se arrependerá dessas palavras, .” Era tudo o que reverberava em sua mente. Ela estava certa e isso o incomodava, pois um homem que sempre teve confiança de si mesmo deixou-se fraquejar por uma mulher. E ficou de lição. Jamais subestimar ninguém, por nada.
tentou imaginar como estaria a vida dela. Os planos, conforme contou naquele cruzeiro, era concluir a faculdade e tentar emprego em uma multinacional. E talento sabia que ela tinha. Porém, o bilhete que ela deixara em cima do travesseiro do quarto poderia também indicar uma brusca mudança de vida, e isso já pensava que não seria bom, pois não imaginava outros caras tratando-a como ele a tratou. Seria humilhante demais, sujo demais. E ele reconhecia que foi um canalha.
Os próximos dias trariam inúmeras lembranças sobre ela sem que sequer tivesse colocado os pés em solo italiano com ele, e embora fossem lembranças dolorosas, ter ela em sua mente novamente era inspirador.
Os pensamentos foram despertados com o toque do taxímetro anunciando que já haviam chegado ao hotel. O taxista saiu do carro, pegou as malas de que educadamente agradeceu e pagou a corrida. Enquanto aguardava no saguão as chaves de sua reserva, enviou uma mensagem aos seus anfitriões avisando que já estava na cidade e que estaria mais a noite no coquetel de comemoração e explanação do portfólio elaborado pela Lamborguini para os investidores.
Naquela tarde, descansou. Dormiu por longas horas até acordar com o celular chamando. Olhou no visor e notou tratar-se de Aline, sua ex-namorada. Não atendeu, já era a milésima vez que ela ligava nos últimos dias e não queria dar falsas esperanças a ela. Aline era uma boa mulher e precisava encontrar alguém que pudesse amá-la verdadeiramente, algo que ele não era mais capaz de fazer. Um dia a amou e a achou única, pensou até um dia voltar ao Brasil para retomar os bons anos, mas ao conhecer ela, Aline nunca mais foi o suficiente.
Por outro lado, sabia que Aline estava conhecendo outras pessoas e ainda insistia em conversar com ele. Sua estratégia era justamente ignorá-la para que pudesse esquecê-lo de vez. Acreditava que com o tempo, funcionaria.
olhou no relógio e viu que era hora de começar a arrumar-se para o coquetel. Pegou o smoking preto e estendeu-o na cama antes de entrar debaixo do chuveiro para um banho quente e demorado. Após vestir-se, deu uma ajeitada básica na gravata do tipo borboleta e passou um perfume de marca francesa. Estava pronto.
O evento ficava em um salão de festas próximo ao Palácio Ducalle, ponto turístico de Modena. Chegando ao local, logo avistou Pierre que deu um sorriso tenso para , que não notou a principio.

- Bom revê-lo, Pierre. – os homens apertaram as mãos em cumprimento.
- Digo o mesmo Sr. . Por favor, me acompanhe, quero apresenta-lo a alguns colegas.

Os dois seguiram para uma mesa onde estavam alguns investidores. logo se enturmou com alguns ingleses que também estavam no local para apreciação da apresentação do portfólio. De certa forma, sentiu-se bem em poder se comunicar em inglês, embora tivesse se esforçado para aprender o italiano no último ano.
O que não poderia prever, era o que aconteceria a seguir. Na verdade, quando viu o que estava diante dos seus olhos, ficou vacilante. Estava diferente, era certo isso, porém reconheceria aquele corpo a quilômetros de distância. O coração de disparou como nunca, as perguntas eram muitas, a começar pelo que estaria fazendo ali.
Sem pensar muito, caminhou a passos largos naquela direção. No caminho, porém, tentou recuperar o autocontrole que ainda lhe restava. Ao aproximar-se do seleto grupo de pessoas, parou bruscamente aguardando a melhor oportunidade para falar.

- Buonanotte, signorina. Ou melhor, boa noite, .

BITTERSWEET

virou-se para encarar o dono da voz que ela conhecia bem. Sabia que encontraria com ele mais cedo ou mais tarde, porém não imaginava que fosse tão cedo. Analisou dos pés à cabeça e notou que ele estava exatamente igual a última vez que o havia visto, o que já não poderia dizer dela mesma. agora tinha os cabelos mais longos, iluminados e um corpo mais delineado.

- Boa noite, . – respondeu após um gole no champanhe servido aos convidados.

O ex-casal se entreolhou. tinha um olhar altivo, enquanto aparentava confusão no olhar. Quis perguntar o que ela estaria fazendo ali, mas naquele momento travou. Ele realmente não esperava encontrá-la. E diante dela, tudo o que planejou dizer não se formulava em seu pensamento. Estava extasiado.

- Eu queria agradecer você, . Afinal, se não tivesse te conhecido, não estaria aqui hoje. – pausou após essa frase, continuando ao perceber que emudeceu. – Aquela foi uma grande oportunidade de conhecer pessoas que pudessem investir em mim verdadeiramente. Posso dizer que...
- Ah, querida, você estava aqui?! – Outra voz conhecida interrompeu a fala da mulher. Era Filippo, que ao notar a presença de , tensionou e instintivamente, abraçou pela cintura. – Buonanotte, signore.

A ação de Filippo causou mais confusão ao homem que outrora estava ali para se desculpar. estava atordoado demais para responder até mesmo o boa noite de Filippo, que naquela ocasião estava abraçando a mulher que conhecia bem. A mulher que tomou nos braços por uma semana da forma mais primitiva que se possa imaginar. A mulher que o acompanhava naquele cruzeiro que Filippo também estava.

- Querida, venha, precisamos falar com o senhor Clayde. Com licença! – Filippo tomou pela mão e a guiou para um lugar que fugia a visão do homem.

Um garçom passou por que o puxou abruptamente pegando uma taça de champanhe. Tomou todo o líquido em apenas um gole, desejando que fosse algo mais forte como whisky. Um sentimento se apoderou de que naquele momento queria reencontrar para entender o que estava fazendo ali.
Ver e Filippo juntos o fez sentir enganado. Lembrou que naquele almoço Filippo a acompanhou quando ela se despediu. Poderia Filippo e estarem juntos desde aquele tempo? Juntos quando eles ainda também estavam juntos? sentiu nojo e repulsa por , e se isso fosse verdade, ela seria a mulher mais desprezível do mundo. E , o homem mais idiota, pois se arrependera amargamente de cada dia em que pensou em se desculpar com ela.
Talvez fosse notável o olhar expressivo que carregava. Ele observava a mulher linda que era, a delicadeza dos seus movimentos, o sorriso leve que tinha na face, enfim, toda a graciosidade que aquele corpo de mulher brasileira emanava, e, ao mesmo tempo, sentia a dor de ser apunhalado por ela. O sentimento que dominava para aquele momento era algo como bittersweet, doce e salgado, ou agridoce, no bom e velho português.

***

inconscientemente desviava o olhar para . Sua atitude não passava despercebida por Filippo, seu então namorado.

- Estou começando a achar que você quer muito estar com ele, . – Filippo falou enquanto olhava para frente, evitando com que transparecesse o ciúme.
- Impressão sua, amor – disse, tomando-lhe o braço. – Não há outro lugar no mundo que eu queira estar se não aqui com você.

Filippo sorriu como quase sempre fazia quando estava ao lado daquela mulher. realmente tinha mudado a vida dele, que inegavelmente se encantou por ela desde o momento em que a conheceu. Por óbvio que enquanto estavam em alto mar não pôde sequer pensar em segundas intenções com ela, ao passo que quando a viu sair do último almoço com lágrimas nos olhos, não pensou duas vezes em segui-la.
Naquela ocasião, chorava muito e foi instantâneo o impulso de abraçá-la e acalmá-la. Filippo a levou para um tomar um chá e ela contou toda a história do porque estava naquele cruzeiro. Ele sabia que ela estava apaixonada por , mas como viu que o caminho estava livre e sabendo que paixões passam, tomou a responsabilidade de fazê-la esquecer o outro homem.
Ele ajudou na volta ao Brasil e mantiveram contato. Um mês depois, ao anunciarem que o cargo de correspondente da Lamborguini estava aberto, conversou com seus superiores que imediatamente recordaram-se de e lhe ofereceram emprego. Era claro que ela não recusaria, e era claro que ficaria fácil para Filippo conquistá-la.
Filippo ajudou com toda a instalação da mulher na Itália. Verdadeiramente comportou-se como um cavalheiro, fazendo-a sentir-se segura em um novo país. E não demorou muito para que aceitasse seu pedido de namoro.
Ele a levou para conhecer o Collosseo e a Torre pendente di Pisa, e juntos tiraram aquela típica foto que turistas, e até mesmo os nativos, sempre tinham de recordação. Na semana anterior, ao completaram dois meses de namoro, a levou para França e, em Paris, demonstrou o quanto a apreciava, dando-lhe de presente um anel de compromisso.
Teve receio quando leu o nome de na lista dos convidados para o coquetel que seria realizado pela Lamborguini para apresentar os novos modelos da marca. Sabia que ele estando ali, poderia causar algum desconforto entre e ele, ou até mesmo entre eles, porém, reconfortou-se com as palavras que o dissera naquele instante.
, por sua vez, não sabia como se sentia. Por um lado, achou que nunca mais veria novamente, mas por outro, sempre soube que o momento chegaria, afinal, embora nunca se identificasse nas correspondências entre as marcas, ela sabia que a tratativa era sempre com .
Ele era outro homem no trabalho. Era competente e obviamente era daqueles que fazia de tudo para ajudar a sua empresa. Como pessoa, entretanto, não tinha qualquer virtude. conhecera um homem doente, capaz de enganar um coração inocente somente para conseguir o que quer.
Admitia que desde a primeira tratativa quis assumir sua identidade, porém achava que se o fizesse, poderia estragar todo e qualquer bloqueio que havia imposto para eles. era sedutor e talvez a ludibriasse para conseguir vantagens com a Lamborguini e isso ela não permitiria por duas razões: 1. era um idiota e 2. ela era profissional.
Fora extremamente difícil manter essa distância mais que necessária, pois por mais que quisesse dizer para ela mesma que ele não tinha significado absolutamente nada, ela sabia que era mentira. tinha feito uma enorme diferença na vida dela. Não fosse por ele, ela não estaria ali naquele momento, não que devesse algum agradecimento até porque estava ali por competência, mas se eles não tivessem se conhecido, tudo o que vivera nos últimos noventa dias teria sido completamente diferente.
Mas se tinha algo que ela tinha aprendido com ele, é que existem coisas mais importantes do que viver por sentimentos. Há efetivamente que se priorizar determinadas áreas da vida. Por sorte, e também graças a Fillipo, ela estava no emprego dos sonhos. Atuar como correspondente da Lamborguini era desafiador e ao mesmo tempo gratificante, pois tudo aquilo que aprendera em teoria na faculdade estava sendo posto em prática. Até mais, pois como se sabe, as faculdades não ensinam a ser profissional, apenas dá uma profissão.
Por sorte também, tinha se dado bem na vida emocional. Embora soubesse que não havia aquele fogo da paixão com Fillipo, aprendera a amar cada ação dele. Bom, tinha uma teoria de que paixão e amor eram extremamente diferentes. O primeiro era aquela coisa avassaladora, instigante, incontrolável, necessário, enquanto o segundo era uma construção. Fillipo soube construir um espaço no coração de e sentir ele próximo era o que definia como amor.
Seria desarrazoável dizer que por Fillipo ela sentia amor e por ela sentia paixão? E qual daqueles sentimentos era mais importante para ela? estava sendo tola por sequer pensar que paixão é mais importante que o amor. Estava sendo tola por ter dúvidas sobre , afinal ele era um canalha. Ele a tinha desolado. Ele a tinha feito sentir o que ela imaginou que nunca seria “uma puta”. Ele tinha sido doce e depois extremamente amargo. Ele era bittersweet e essa era uma ótima definição.

SHOULD'VE KNOWN BETTER

não conseguia esconder o quanto estava incomodado com o casal. Alguns metros os separavam, obviamente, mas ele conseguia ver com clareza as mãos entrelaçadas e os sorrisos apaixonantes que um oferecia ao outro. Era inconteste que algo como ciúme se apoderava daquele homem. O incômodo de não saber se ela o havia enganado durante a viagem foi tomando cada célula de durante a noite. Ele queria retornar e retomar o assunto com ela, mas Fillipo não lhe saia do lado.

- Se ajuda com as dúvidas, trabalha na Lamborguini conosco. – Pierre começou ganhando a atenção de .
- E eles estão morando juntos? – foi direto ao assunto que o interessava naquele instante.
- Não, mora na Via del Mercato, aqui em Modena, e Fillipo mora em Sant'Agata Bolognese mesmo. Fillipo disse que era melhor para ela, que se encantou por esse lugar assim que conheceu. – Pierre pausou antes de continuar num tom zombeteiro. – É até engraçado, não é? A Lamborguini escolher a cidade da Ferrari, maior concorrente, para promover os novos modelos.
- Surpreendente, não é mesmo? Eles estarem juntos, de mãos dadas, mesmo depois de ele saber que ela foi minha namorada. – mudou o assunto pouco se importando com as coincidências ou não coincidências da Ferrari e Lamborguini.
- Desculpe, senhor, mas sabemos que não foi sua namorada coisa alguma. – Pierre afirmou com certa zombaria.

não respondeu mais. Estava num misto de envergonhado e furioso com . Como ela tivera coragem de revelar aquele segredo? Ela sabia que deveria ser confidencial, que não poderia sair falando para qualquer um, muito menos para os “parceiros” dele. se perguntava quem tanto saberia da história, e de repente começou a achar que qualquer um ali poderia saber, razão pela qual automaticamente encolheu-se, com receio, com vergonha realmente.
Mas ele tiraria aquela história a limpo. E não demoraria para tanto.

***

- Você tem certeza que não quer ficar? – questionou fazendo bico.
- Tenho sim, estou muito, mas muito cansado e amanhã tenho muito trabalho a fazer e você também, sua boba – Fillipo a puxou para um beijo de despedida.
- Tudo bem então, nos vemos amanhã e se cuida, tá? Me liga quando chegar – pediu antes de fechar a porta.

Depois de finalmente em casa e sozinha, a primeira atitude de foi retirar os saltos altos que tanto machucaram aquela noite. Embora completamente acostumada em desfilar todo o dia com saltos, aquele, especificamente, tinha machucados os dedos mínimos de cada pé. Teria de se lembrar de colocá-los longe do seu alcance da próxima vez que tivesse algum grande evento.
O alivio tomado foi instantâneo ao pisar o chão e a passos lentos se dirigiu ao sofá onde sentou-se para relaxar alguns instantes antes de criar a coragem necessária para um banho antes de dormir. Respirou profundamente e fechou os olhos até ser surpreendida pelo som estridente da campainha.
Imaginou tratar-se de Fillipo mudando de ideia quanto a ficar com ela em seu apartamento. Na verdade era até mais prudente, já que ele teria aproximadamente 50 minutos de estrada até Sant'Agata Bolognese quando poderia passar a noite ali com ela.

- Que bom que mudou de ideia, amor – abriu a porta do apartamento e para sua surpresa, não era seu namorado.
- Obrigada pela recepção, querida – , sem qualquer cerimônia, passou por que permaneceu estática com a mão na porta.
- Você não foi convidado a entrar. – disse mudando o semblante, adotando uma postura rígida. – E como foi que chegou até aqui?
- Cheguei até aqui pela forma óbvia, , te seguindo. – revirou os olhos antes de continuar. – Precisamos conversar e não vou embora sem falar com você. – o homem inconvenientemente sentou-se no sofá.

suspirou antes de fechar a porta. A passos lentos sentou no outro sofá a frente de . Ele não disse nada, parecia analisá-la, e incomodada com aquele olhar, começou.

- Se veio para pedir desculpas, já deixei claro no bilhete que não as aceito. Não preciso delas.
- Eu não vim pra isso. – respondeu em seguida. – Vim saber o quão enganado eu fui por você.

indignou-se.

- Enganado por mim? Não foi você que me iludiu por sete dias, me falando coisas maravilhosas, me taxando de sua realidade, fingindo ser um homem maravilhoso pra depois me qualificar apenas como uma mulher que tem uma ótima performance na cama?
- , embora eu reconheça que não tenha sido o melhor dos homens, eu paguei você para estar comigo. – aprumou-se no sofá falando com certa obviedade.
- Isso não te dava o direito de me tratar como uma qualquer. – a resposta da mulher foi carregada de mágoa.
- Mas o que você é então, ? – o homem tinha a voz baixa, porém irônica. A mulher, por outro lado, não aguentando, levantou-se.
- Se veio me insultar, pode ir embora. – foi até a porta e a abriu convidando-o a sair, ou melhor, expulsando-o de sua casa.
- Não, eu não vou. – Ele a seguiu fechando a porta em seguida. – Eu quero entender o que você faz com o Fillipo, desde quando estão juntos e se você já me enganava com ele quando estávamos naquele cruzeiro. E quero saber mais, por que diabos você contou meu segredo para outras pessoas? Você foi tão pouco profissional...

estava próximo demais a que, nervosa com o quase contato, afastou-se antes de responder.

- Você deveria saber que eu não devo nenhuma satisfação sobre a minha vida. E que se é a impressão de puta que você quer manter sobre mim, o problema é único e exclusivamente seu. E eu falo o que eu quiser, para quem eu quiser. Quanto ao Filippo, você precisa saber pra quê? Que diferença isso vai fazer na sua vida? – irritou-se. – Eu quero que você vá à merda, , pro inferno!
- Se você está se recusando a falar sobre ele, vou interpretar como um sim, . E sinceramente me arrependo e arrependerei amargamente de cada noite em que me peguei pensando em você, em me desculpar por todo e qualquer constrangimento em que tinha te submetido. Em cada noite que desejei ter você de novo, tocar seu corpo, sentir o cheiro do seu cabelo, te olhar... – fechou os olhos e respirou profundamente soltando o ar aos poucos – Em cada noite em que pensei te amar. No fundo, eu achava que você era diferente, mas você não passa de mais uma...
- Não termina, . – os olhos de já se encontravam marejados, mas ela não queria fraquejar. – Eu não mereço as suas palavras.
- Como não, ? – ele se aproximou. – Eu procurei você por todo esse tempo. Te liguei, enviei e-mails, procurei no endereço do Brasil, tentei de todas as formas te encontrar e me deparo com você aqui na Itália, com o merda do Fillipo, um cara que estava no mesmo cruzeiro que a gente e que, até onde sei, vocês passaram horas e horas discutindo um contrato. Me deparo com você aqui, três meses depois, namorando com ele. Na boa, o que você quer que eu pense de você?

, uma vez mais, afastou-se de . As lágrimas que antes estavam presas às pálpebras inferiores dos olhos do , desprenderam-se em um piscar de olhos. Não teve como evitar o impacto que cada palavra de sobre ela causou em seu íntimo. estava num misto de sensações e sentimentos e não estava sabendo definir o que exatamente estava sentindo.
Os dois carregavam expressões de indignação na face. Estavam incompreendidos, sentindo-se traídos, doloridos com os sucessivos enganos. com certa razão, pois ele a tratara mal em realidade, enquanto sentia-se traído por ele mesmo, pois ele amou e agora sentia ciúmes por saber que ela tinha os olhos postos em outro homem que não era ele.
se desarmou, sentiu saudade do corpo e dos lábios de e rendeu-se ao maior sentimento que já tinha se apoderado dele. Caminhou na direção da mulher e sem pedir, tentou beijá-la. Ela recuou.

- Você deveria saber que eu não posso beijar você.

Ele ainda assim se reaproximou, sabia que a recusa dela era por causa de Fillipo e do relacionamento que eles tinham, mas ele não tinha vindo com a intenção de desistir, de deixá-la escapar uma vez mais. Ele tinha saudades dela, do corpo e do cheiro e estava inebriado demais com toda a situação para permitir que ela recusasse. E ele a queria, nem que fosse para ser a última vez. Afagou seus cabelos e com os rostos próximos o bastante, falou:

- Eu sei que eu não agi certo, . Eu sei que não fui o melhor homem do mundo, mas eu tinha medo... – o homem tinha a voz entrecortada – ...de perder tudo aquilo que lutei pra conquistar, de anos renunciando a uma vida para chegar no topo e ser o melhor de todos, mas de repente você apareceu e bagunçou tudo. Eu não sabia o que eu sentia por você até te perder.

Novamente tentou beijá-la e dessa vez o toque dos lábios aconteceu, só que não foi aprofundado. interrompeu o momento de forma odiosa.

- O que você estava pensando quando apareceu aqui, ? Que eu ouviria suas palavras dissimuladas e me entregaria a você? Te perdoaria por todo e qualquer mal entendido que houve entre nós e poderíamos retomar de onde paramos? Que ultraje, ! Achei mesmo que você fosse mais inteligente do que isso! – tinha um sorriso nervoso entre os lábios – Você descobriu que era eu quem intermediava os contatos entre a VW e a Lamborguini e quis vir aqui pessoalmente tentar me fazer de boba novamente para que eu te ajudasse com o melhor negócio para sua empresa. Você achou mesmo que eu iria cair nessa? Você é mesmo um ridículo! Um canalha da pior espécie que só pensa em si. Do que você tem medo ainda, hein? O que você ainda tem a conquistar no seu emprego? Qual o cargo dessa vez, vice-presidente?

O deboche e o escárnio na voz da mulher era evidente. E ela ainda não tinha terminado.

- Que patético, extremamente patético! – nesse instante falou mais para si mesma do que para o homem a sua frente que ouvia tudo calado e sem expressar emoção alguma, talvez algo aproximado de decepção. – Como você chegou a pensar que eu cairia nessa de novo, ? Como? Vir aqui, inicialmente me julgando por eu estar com outra pessoa, me fazendo sentir mal por ter desaparecido da sua vida, e de repente usar as palavrinhas mágicas de “eu te amei” para me comover? – gargalhou – Você deveria ter me conhecido melhor, , eu não sou mais aquela bobinha apaixonada por você. – finalizou.
- Deveria. Deveria ter conhecido melhor, sim – foram as últimas palavras de antes de sair porta afora.

GIVING UP THE FIGHT

estacionou seu carro na sede da Lamborguini por volta de sete e meia da manhã. Ela tinha a necessidade de ocupar algo na mente, pois as lembranças da noite anterior haviam afugentado o seu sono. Antes de entrar, todavia, pediu um café na barraquinha que havia em frente à empresa, e foi surpreendida pelo namorado que apareceu animadamente.

- Buongiorno, il mio amoré – Fillipo logo tratou de beijá-la e abraçá-la. Ela sorriu fracamente e ele logo percebeu os olhos sem brilho de . – Não dormiu bem à noite? Aconteceu algo?
- Buongiorno, querido. Está tudo bem, só estou cansada da noite anterior. – ela tentou sorrir.

Fillipo enrijeceu e não ficou convencido da resposta dela, pois a conhecendo bem, uma festa numa noite anterior nunca antes tinha sido motivo para aparecer descontente no trabalho. Entretanto, não a incomodou com o assunto.

- Tudo bem, então. – Foi a resposta dele que sorriu em seguida sem mostrar os dentes. – Te acompanho?

O casal entrelaçou as mãos e rumou porta adentro para a copa da empresa onde todos os funcionários se encontravam diariamente para um bate-papo descontraído. A reunião ocorria duas vezes ao dia, tanto no começo, quanto no final do expediente. Era como se fosse uma religiosidade da Lamborguini o bom relacionamento entre os funcionários do administrativo, pois se aquela parte da empresa ia bem, todo o resto ia bem.
Lea, secretária do Sr. Tonino Lamborguini, mal notara a presença de e logo que viu Fillipo ir cumprimentar os colegas, encostou-se à moça para fofocar as novidades.

- Então aquele senhor que foi até nós na noite anterior era o famoso ? – a indiscrição veio em tom alto, o que por sorte não foi ouvida por Fillipo que estava distraído o suficiente.
- Sim, Lea, e fala baixo, per favore. – pediu. – Aquele babaca de ontem era o . Acredita que ele teve coragem de ir ao meu apartamento?

Lea tinha expressão de incredulidade e curiosidade, e fez gesto para que continuasse.

- Foi com um papinho de que me amava e tentou me beijar, acreditando que eu fosse cair naquele conto de homem apaixonado e arrependido por ter sido um canalha. Aposto que descobriu que eu quem fazia os contatos diretos com ele. – a mulher tinha um tom indignado na voz. – Mas eu me mantive firme e não cedi, sequer acreditei em qualquer palavra que ele falou, nem me afetou.
- Você está mentindo. – Lea apenas afirmou e notou o olhar de reprovação da amiga, corrigindo-se em seguida. – Não sobre tudo, claro. Acredito quando fala que não cedeu a tentativa dele te beijar, mas mente quando fala que tudo o que ele disse não te afetou. Ora, , veja só você hoje, está um trapo fisicamente falando, seus olhos estão mal marcados, sua roupa um pouco amassada, você chorou ontem e pensou a noite inteira sobre o assunto que eu sei. – Lea parecia óbvia em suas colocações. – Ele mexeu com você meses atrás e está mexendo agora, percebe como tudo foi inacabado entre vocês?
- Eu tenho o Fillipo agora, que me ama e me trata bem e que eu amo também.
- Isso é o que você acha, . – a amiga suspirou.
- Per l’amor di Dio, Lea. O que você quer tanto dizer com isso? – Não era a primeira vez que Lea esnobava os sentimentos de Fillipo.
- Per l’amor di Dio digo eu, . Você idealiza demais as pessoas e não enxerga um palmo a sua frente e uma hora você vai quebrar essa linda cara. – a mulher tinha convicção em suas palavras. - Mas enfim, tenho um recado para você, o chefe quer te ver às nove na sala de reuniões, e como sabe, não atrase. – Lea disse antes de sair rebolando.

estranhara a intimação do Sr. Tonino numa segunda-feira tão cedo, até porque o tempo que estivera ali eram raras as ocasiões em que o grande chefe iria trabalhar pela manhã. Sem maiores delongas no papo com os colegas, caminhou até a sua sala e buscou melhorar sua aparência, já que sabia que se Lea tinha falado com ela daquela forma era porque ela realmente estava um trapo.
Por um instante esqueceu-se das lembranças da noite anterior, uma vez que nervosa com a reunião com o chefe e não sabendo sequer o assunto da conversa, buscou todos os projetos que estava envolvida e leu os respectivos relatórios de cada um para que pudesse estar a par de qualquer que fosse o conteúdo da conversa.
Exatamente às oito e cinquenta e cinco, subiu os elevadores para o andar mais alto do prédio, cujo ficava a sala de reuniões. Estritamente calculado, estava na porta da grande sala às oito e cinquenta e nove, anunciando a sua chegada no local. Algo que o Sr. Lamborguini prezava entre os seus funcionários era a pontualidade, e quando o funcionário sabia ser imediato, isso o dava certa soberba, pois treinara bem, ou ao menos, intimidara bem o seu pessoal.
O coração de por um instante parou ao deparar-se com os dois homens naquela sala, inclusive seus passos pararam no momento em que viu que era o outro homem que estava com o seu chefe.

- Não fique parada aí, signorina, junte-se a nós. – A voz de Tonino foi ouvida a primeira vez no ambiente.

caminhou vacilante até o local indicado na mesa. Não conseguiu um segundo sequer tirar os olhos do outro homem que compunha a mesa, que diferentemente do semblante dissimuladamente arrependido da noite anterior, tinha agora um olhar duro, soberbo, confiante e perfeitamente sedutor. Ele sabia mexer com , na verdade ela sabia que só o fato dele existir mexia com ela.

- Bom dia, – o som melódico de um sotaque brasileiro juntamente com um aberto sorriso pôde ser ouvido e visto no ambiente. – É um prazer rever você.

Ela percebeu que os homens na sala aguardavam sua resposta e educadamente respondeu com um bom dia.

- Vamos direto ao assunto, não é, senhores? – começou Tonino Lamborguini. – Eu pensei que fosse parecer embaraçoso esse encontro, até porque vocês já tiveram um relacionamento no passado, mas o Sr. me confirmou que não há qualquer mal entendido entre vocês, o que é bom, não é? Pessoas civilizadas e que sabem manter um bom relacionamento apesar de qualquer desencontro da vida. E por incrível que pudesse parecer a mim, dei-me conta somente ontem ao analisar as negociações que eram os senhores que tratavam dos interesses de cada empresa e fico feliz que ninguém tenha sido lesado – Tonino sorria, embora não houvesse graça alguma. – Presumo então que esse bom relacionamento deve continuar e a pedido do Sr. , você, signorina , foi a escolhida para dar suporte ao cavalheiro em sua estadia aqui conosco. Ele veio exatamente para conhecer nossos materiais e nossa forma de trabalhar para que possa levar a ideia e o conceito da Lamborguini na filial que será aberta em parceria com a VW Autos.
- Será um prazer essa oportunidade de trabalhar com você novamente, querida. – voltou-se a que ao ouvir aquelas palavras, colocou uma expressão de deboche.
- Mal posso esperar, .

Embora ainda mantivesse o nervosismo, a conversa sobre trabalho fluiu bem. Dez minutos após iniciada a reunião, Tonino Lamborguini pediu licença aos colaboradores para que pudesse administrar outras coisas. não foi ousado e sequer mencionou qualquer assunto sobre eles, o que pareceu estranho a , vez que ele não se parecera em nada com o homem incisivo da noite anterior. De certa forma, incomodou-se com isso e tentou manter a postura profissional.

***

Uma semana se passou e o casal apenas falava sobre trabalho nas reuniões sempre matinais. A daquele dia, entretanto, seria a última, vez que preparava-se para retornar aos Estados Unidos e colocar em prática todo o combinado com .
Naquela manhã, conversaram por mais de uma hora, reviram as cláusulas contratuais, conversaram sobre as modalidades esportivas da Lamborguini, e bateu o martelo quanto as adesões de algumas peças que interessavam a empresa que trabalhava. No término da reunião com um silêncio instalado no local enquanto arrumavam os pertences e não se contendo de curiosidade, questionou:

- Por que você pediu que fosse eu quem te acompanhasse nesse contrato ainda mais depois de tudo o que te falei?

O homem abotoou o terno que vestia, alinhando-o antes de responder:

- Tínhamos algum motivo para que não fosse você, ? – a resposta veio em forma de pergunta.
- Eu não sei... tínhamos? – a moça forçou uma confusão enquanto o outro revirou os olhos em deboche.
- Você é uma excelente profissional, . Seu desempenho é excepcional, independente do serviço que você preste. – a mulher adotou uma expressão rija – Oh, não precisa fica nervosa, foi um elogio. – colocou um sorriso nos lábios.
- Você é um canalha!
- Então vai começar uma nova sessão de julgamentos? Quer que eu me sente? Acho que estava até sentindo falta dessa parte de sua personalidade – continuava com a encenação debochada.

voltou a atenção aos seus pertences para que pudesse sair, até ser interrompida por que a impediu de completar a ação. Com o ato foi capaz de notar o corpo de reagir a ele.

- Eu posso sentir daqui o seu corpo pedindo por mim, doce . E você sabe que o olhar não mente, não é? Sabe que as pupilas se dilatam com o desejo... – a voz de soava sedutora.
- Pupilas dilatadas também significam repulsão, que é o que eu sinto por você!

meneou a cabeça.

- Nesse caso você está completamente equivocada, . Olha como o seu corpo reage a mim – o corpo da mulher arrepiou-se com o toque sensual do homem em sua pele descoberta. – Você ainda me deseja, e não pode negar isso.

notou que molhara seus lábios e que estava pronto para beijá-la e embora quisesse sair dali, o seu corpo não se movia. O automatismo tomou conta de si, que repetiu a ação do homem pronta para recebê-lo.
E ele a beijou e aquele beijo foi intenso e bom. Tinha um misto de saudade, possessão e desejo explícito. Aqueles lábios foram feitos um para o outro e eles tinham plena certeza disso. O desejo reprimido estava se sobrepondo a ambos que naquele instante se entregaram... Eles estavam desistindo da luta que era ficar longe um do outro.
entregou-se a paixão que ainda sentia por aquele homem que a assombrou durante todo aquele ano. Embora afastados por todo aquele período, ela jamais pode negar para si mesma que ele tinha sido sua grande paixão. E que coisa avassaladora era aquilo de paixão! Pois como explicar todo aquele desejo por um homem que tinha tido contato de dias? E que o homem que tinha por meses jamais sequer foi capaz de ser metade daquilo que tinha sido para ela. É aí que novamente ela fazia a distinção de paixão e amor, e que nem sempre as duas coisas estão na mesma pessoa.
O beijo intensificado de ambos foi cessado nesse momento em que lembrou da distinção de sentimentos, pois ainda que quisesse aquele toque de e outros toques também, ela sentia amor por Fillipo, que não merecia sua traição e portanto, afastou-se.
Mas era tarde demais.
A cena estava desenhada na frente de Fillipo que indignado com o que vira, somente deu as costas e saiu. fez que ia atrás e foi impedida por , que tomou um tapa na cara antes da mulher desvencilhar-se dele.
O elevador fechou-se antes mesmo que pudesse entrar e explicar qualquer coisa ao namorado, e num ato desesperado para falar com ele, tomou as escadas, mas não conseguiu alcançá-lo.

HOLDING ON FOR LIFE

- Calma, ragazza, não chora assim que você me parte o coração.

Lea tentava consolar que chorava por mais de hora. O celular de Fillipo estava indisponível, não estava no prédio de trabalho e não estava em casa. já tinha deixado inúmeros recados na caixa postal, várias mensagens de texto e até e-mails pedindo perdão e uma oportunidade para se explicar. Todas as tentativas em vão, sequer sabia onde Fillipo se encontrava.

- Eu me odeio, Lea – sua voz era chorosa. – Olha o que eu fiz com o meu relacionamento, estava tudo indo bem entre nós, eu estraguei tudo.
- Você vai ver que vai ser melhor assim, menina .
- Como você pode dizer isso, Lea? – não se conformava com a forma de pensar da outra. – Fillipo foi o melhor homem que já conheci, como pode dizer que vai ser melhor sem ele? Eu me odeio, Lea! – e voltou a chorar.

As mulheres permaneceram na sala de por mais um tempo até lembrar-se da reunião descontraída do fim de tarde. Talvez Fillipo aparecesse lá e ela enfim pudesse falar com ele, a ela não custava tentar.

- Vamos, Lea. Tá na hora da reunião de despedida. Tenho esperanças de que ele apareça.
- Você tem certeza que quer ir hoje? Você está péssima, . As pessoas podem notar. – Lea tentou aconselhar.
- Eu não me importo. – disse antes de levantar-se e aprumar-se para sair.

Ao chegar à copa, surpreendeu-se por ver ali. Queria matá-lo naquele instante, como ele ousava estar ali depois de tudo aquilo que tinha acontecido mais cedo?

- Vai embora daqui – aproximou-se dele pedindo entredentes, sem chamar muita atenção.
- Me chamaram aqui. – respondeu baixo.
- Pra quê? Vai embora, , por favor – pediu com os olhos vermelhos. O homem vendo a situação da mulher, levantou-se para sair.
- Oh, não tão rápido, rapaz. Fique mais um pouco. – a voz de Alexander, melhor amigo de Fillipo, foi ouvida.

De repente a curiosidade de todos instalou-se no local. Qual a razão daquele homem estranho estar ali naquele momento? Ninguém tinha ouvido falar em nova contratação e, ademais, todos sabiam que aquele homem representava uma empresa americana. Tal curiosidade foi logo resolvida.
Fillipo adentrou o ambiente munido de um maquinário audiovisual. Todos perceberam a presença e logo atirou-se ao homem que acabara de chegar.

- Se afasta. – ele falou simplesmente, ganhando, finalmente, a atenção de todos.

ficou incomodada com o silêncio e baixo pediu ao homem.
- Precisamos conversar, Fillipo, longe daqui.
- Depois do que você vir aqui, agora, a última coisa que você vai querer nesse mundo é falar comigo. – o homem respondeu somente.

Nesse momento a curiosidade era tamanha que tudo o que sentia era medo.

- Não faça nada que você possa se arrepender depois, Fillipo. Podemos conversar e resolver isso sem alarde. – implorou, sequer foi ouvida.
- Colegas, boa tarde. É final de expediente, está todo mundo cansado, mas eu gostaria de mostrar algumas coisas pra vocês, garanto que vai ser interessante. – Fillipo começou - É um vídeo pequeno, de alguns segundos, não vai tomar muito da atenção de vocês. – ele sorriu ironicamente, de forma que nunca tinha visto antes.
- Vamos sair daqui, . – Lea pediu a mulher que se encontrava estática. – Per favore! permaneceu imóvel, recusando-se a se mover.

Fillipo deu play no vídeo.

- A história da prostituição nada se parece com a que hoje conhecemos. – A gravação começava com a voz de Fillipo narrando, ao mostrar imagens antigas. – Acreditam que um dia foi motivo de orgulho? Nos tempos de escambo, o sexo era a forma que as mulheres encontravam para trocar alguma coisa que faltasse... Mas, vamos adiantar um pouco a história, porque tudo acabou quando o homem percebeu que tinha que ter a garantia de que o filho que ele entendera que ajudara a gerar era dele e só dele. E foi assim que surgiu as esposas... As mulheres que continuaram trabalhando o sexo o faziam porque tinham uma vidinha miserável, de merda ou porque simplesmente gostavam de ser promíscuas mesmo. E, ah, não posso esquecer que, na história, a mulher prostituta, tinha um papel importante... Normalmente prestavam-se a tirar a virgindade dos homens jovens, satisfazer a lascívia dos idosos e mesmo servir para homens inseguros... E é incrível saber que até hoje o serviço para homens inseguros ainda funciona, não é? A diferença é que agora se paga bem pra isso e as prostitutas estão cada vez mais inteligentes. Sabiam que entre nós há uma mulher que iniciou a carreira assim e que foi muito bem paga por isso? – as fotos agora mostravam e juntos no cruzeiro realizado meses atrás. – Esse homem, que vocês veem no vídeo é tão inseguro com sua vida amorosa que pagou essa mulher para acompanhá-lo em uma viagem e fingir ser sua namorada e em troca, tinha sexo... muito sexo e pelo que me constou daquele cruzeiro, vizinhos foram trocados inúmeras vezes porque nem ser discretos esse casal conseguia ser. Mas aí a viagem acabou, e o serviço acabou... E aquela prostituta que encontrei desolada após o termino do serviço era bem bonita e inteligente, então eu pensei, por que não? Só que quem era eu perto daquele cara, né? Te ajudar, , foi só uma forma de satisfazer meus desejos... alguma retribuição você teria que me dar por tudo o que fiz por você, não é? Confesso que foi bem emocionante ter uma vidinha de relacionamento com você, até porque você é realmente muito boa, mas com tantas mulheres dando sopa por aí, e sabendo quem você era, não deu muito pra aguentar... – Nesse instante, fotos recentes de Fillipo com outras mulheres eram exibidas – Acho que no fundo eu sabia que você faria exatamente o que fez hoje, beijar outro homem. Esse homem aí... Mas é como diz o ditado, não é? Uma vez puta, sempre...

O áudio foi cortado por uma ação de Lea, ao retirar o aparelho da tomada.

- O que diabos você fez, Lea? – Fillipo perguntou raivoso tomando os cabos da mão da mulher, mas sequer teve tempo de reconectar o aparelho, pois um soco de acertou-o bem no queixo.
- Seu maledetto. Você vai se arrepender – Fillipo avançou para cima de e todo o alvoroço iniciou com uns tentando separar a briga e outros tentando impedir quem tentava separar.

***

foi conduzida derramada em lágrimas por Lea que a tirara daquele local. Não acreditava no que tinha acabado de acontecer. Fillipo a enganara, a humilhara, a fizera sentir a pior pessoa do mundo e ela sequer teve forças para se defender. Onde ela tinha errado? O que tinha feito para merecer tamanho sofrimento?

- Eu tentei te alertar diversas vezes que o Fillipo não era boa coisa – Lea começou oferecendo um chá a amiga que o ingeriu depois de um banho quente. Estavam no apartamento de , em Modena.
- Mas por que você não foi clara, Lea? Por que não me contou que ele me enganava?
- Eu honestamente não sei te dizer, . Talvez você não acreditasse em mim, talvez você entendesse os sinais com o tempo, mas eu tinha medo de você passar pelo que está passando agora. – a amiga tentou justificar. – A proposito, desculpa não ter desligado o aparelho antes, me perdoa.

não culpava a amiga. Lea não tinha culpa da falta de sorte dela para relacionamentos. As mulheres conversaram por muito tempo até reclamar por descanso. Lea se ofereceu para ficar no ambiente, mas não achou necessário, até porque Lea tinha marido e filhos para cuidar e ela saberia se virar.
Fechando a porta atrás de si, sentiu todo um pesar e permitiu-se chorar ainda mais. Estava desistindo de lutar pelo amor, que não era para ela.

***

A campainha tocou mais uma vez estridente. levantou-se num salto e com um certo medo de quem pudesse ser, pois nas últimas horas as ameaças de Fillipo eram constantes em seu celular, teve até mesmo que desligá-lo para que pudesse descansar. Entretanto, ao observar o olho mágico, notou-se tratar do outro homem envolvido em toda aquela confusão e abriu a porta.

- Como você está? – perguntou baixo e calmo.
- Não muito bem e você?
- Acho que ainda melhor do que você, apesar de alguns hematomas – ele forçou uma piada. Estava mal fisicamente, com arranhões e um olho inchado. – Eu posso entrar?
- Você nunca pediu para entrar antes... – cedeu espaço, o homem entrou. – Vou preparar um chá pra você.

dirigiu-se até a cozinha e pegou um chaleiro no armário. Suas ações eram automáticas e pouco expressava qualquer emoção ou balbuciou qualquer palavra durante o preparo da bebida. Parecia dopada, algo que respeitou. Sabia que a maior afetada daquela história era ela, embora ele também tivesse sido humilhado com aquele vídeo. Ela retornou com duas xícaras, entregando uma ao homem que agradeceu.

- Que namorado esse que você foi encontrar, hein? – ele tentou brincar.
- Homens canalhas na minha vida não é nenhuma novidade. – ela respondeu sem alegria alguma.
- Se você se refere a mim também, me defendo afirmando que minhas as atitudes nem se comparam com qualquer coisa aproximada do que ele fez hoje... Inclusive se você não tivesse falado nada da mentira que inventei, nada do que foi exposto hoje teria acontecido.
- Ah, então a culpa é minha agora? Como sempre você sendo um merda colocando a culpa em mim. Na boa, , vai embora. Não preciso disso hoje. – levantou-se como quem iria abrir a porta.
- Ei, calma ai, não precisa me tratar assim. Me desculpa.
- Você arruinou minha vida por duas vezes, . Você entende o quão tóxico você é?
- Não é bem assim, ... – era a primeira vez que ele a chamava pelo apelido. – Eu não imaginava te encontrar aqui na Itália, de forma alguma, e confesso que embora tenha acontecido toda essa situação, eu quero me redimir com você.
- Não seja hipócrita, , não precisa fingir se preocupar comigo. – Ela não o encarava. Era difícil demais fazê-lo.
- O que você acha da minha imagem antes imaculada vinculada a uma prostituta, ? – ele começou e logo viu o olhar irado dela voltar-se para ele. – Mas calma, não estou afirmando que você seja uma puta, de forma alguma, pois eu sei que você não é, porém olha a situação que nos encontramos.
- Eu, uma puta, e você uma vítima de mim, sério? – ela debochou, nem acreditava naquelas palavras dele e sequer sabia onde ele queria chegar.
- Nós podemos sair dessa juntos, . Você não precisa enfrentar tudo isso sozinha... – ele tomou suas mãos delicadamente – Me deixa cuidar de você, dessas feridas que estão no seu coração.
- Eu não posso acreditar em você.
- , eu estou aqui quando poderia fugir, ir embora e nunca mais voltar. Mas não há qualquer outro lugar no mundo que eu queira estar se não do seu lado... Eu sei que eu errei diversas vezes com você, que me comportei como um idiota, que te julguei, não te compreendi, mas eu me apaixonei. E é sério isso, nunca falei tão sério – os olhos dele brilhavam, pareciam que a qualquer momento poderia transbordar em lágrimas – Então, por favor, me deixa ficar na sua vida. Vamos fingir que hoje nunca existiu e recomeçarmos, podemos sair pra jantar hoje e fazer tudo diferente.
- É impossível esquecer o dia de hoje. – se derramou em lágrimas que nem pediram licença.
- Você pode ao menos tentar? – tinha uma voz calma. Precisava ser complacente com a mulher a sua frente para que ela sentisse todo o seu amor.

Porque a amava sim. A amava tanto que estava disposto a enfrentar quem quer que fosse por aquele amor. Não se importava com emprego, imagem ou com qualquer coisa ligada as aparências, apenas importava-se com ela. Com aquela mulher que o mudara por completo.
Ele tinha buscado tanto o reconforto dos braços de durante aqueles dias, que agora que a tinha ali em sua frente, não poderia deixar que as coisas pudessem ser diferentes. Ela era dele, e isso não significava dizer a literalidade do sentimento de possessão, mas sim de entrega, afeto, amor. E ele também era dela...
sequer poderia acreditar que tinha esperado noventa dias, exatos noventa dias para encontrar-se com um corpo feminino novamente. Poderia parecer mentira que ele não tivesse dormido com qualquer outra mulher, mas depois de , ele não teve vontade de ficar com ninguém mais. Ele sabia que um dia eles se reencontrariam e não se importava com o fato de ela ter namorado Fillipo, desde que dali por diante ela aceitasse ser a sua mulher.
sabia que aquele momento era frágil para e não tomou nenhuma atitude precipitada. Com calma, buscou os lábios da mulher que emocionada, cedeu. E aquele beijo tinha algo novo para ambos: pureza e entrega. Ainda que com dores no corpo, esforçou-se para tomar a mulher nos braços com o intuito de levá-la até o quarto, sendo guiado por ela no caminho.
Sem pressa alguma, ele retirou a roupa larga que a mulher vestia. A cada novo espaço descoberto um carinho e um beijo delicado. tremia de desejo, de nervosismo e de medo por aquele sentimento que a tomava, porém decidiu-se em por fim, entregar-se completamente. Ajudou a retirar a roupa que o cobria, e notando os hematomas provocados pela briga de mais cedo, foi cautelosa com seu toque.
Deitaram-se na cama e perpetuaram por toda a noite o ato mais primitivo e ao mesmo tempo mais importante de um casal, o ato, conhecido entre os apaixonados, de amor.
Num instante da madrugada, aninhada ao peito de , questionou:

- O que será que vai acontecer daqui pra frente?

Ele suspirou profundamente antes de responder.

- Sinceramente essa resposta não importa desde que estejamos juntos, . Mas não se preocupe, eu vou estar segurando sua vida, protegendo você de qualquer coisa ruim que possa acontecer. – ele sorriu.
- Segurando minha vida? – a voz da mulher se fez ouvir brincalhona.
- É claro... eu tenho que te segurar para você nunca mais fugir. – o homem sorriu e a abraçou forte. Estava apaixonado e mostraria dali por diante sempre que pudesse. Ela devolveu o abraço forte e em instantes, o casal adormeceu.

***

amanhecera com a sensação de formigamento no seu braço direito e esboçou um leve sorriso ao saber que aquela dor era devido a mulher que dormira em seus braços e que não mais se encontrava cama, o que ele considerou ser uma pena, pois seria maravilhoso iniciar o dia repetindo o que fizeram na noite anterior. sentou-se e procurou a calça, vestindo-a antes de sair a procura de que poderia estar na cozinha. Entretanto, ao deparar-se com a cena que encontrou, assustou-se: estava presa a uma cadeira, amordaçada e visivelmente machucada:

- Finalmente acordou, maledetto! – a voz asquerosa de Fillipo fez-se ouvir.

E o medo tomou conta do pequeno apartamento. Fillipo apontara a arma para . Era o fim da linha?



Fim.



Nota da autora: Olaaaar, nem acredito que fiz a parte dois dessa história. Eu sou sempre tão desidiosa que foi surpresa até pra mim, hahaha. Na verdade, foi o retorno de 02. Pillowtalk (ficstape do Zayn) que fez com que eu tivesse motivação para continuar. Vocês foram tão fofas comigo, recebi e-mails, mensagens no Facebook, e até quem tem meu WhatsApp (meninas de alguns grupos), mandaram palavras tão positivas que não tinha como deixar essa galera na mão, né? HAHAH. Eu espero que vocês apreciem tanto quanto a primeira parte e me acompanhem ainda nas próximas aventuras de Diego e Luíza, pois que loucura essa não é? E se você tiver alguma sugestão pra me dar, me GRITA, eu escuto de verdade, porque quero construir essa saga com vocês, rs. Ah, fiquei muito feliz por ter aparecido no Topfictions, MUITO OBRIGADA!!!! E meninas, COMENTEM aqui, sério, vocês não têm ideia da felicidade de uma autora quando tem um comentário novo 
Bom, assim que eu tiver com a terceira parte pronta, mencionarei aqui nos comentários qual será a música (sim, vai ser de ficstape em ficstape), portanto, não me abandonem.
E se quiser ler outra história que fiz: Ela se chama "A Fotografia"
Espero que goxxxxte! BEIJOS



Outras Fanfics:
SE NÃO HOUVER, APAGUE

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