Última atualização: 04/06/2020

Quando nos conhecemos...

Era um dia nublado, uma quarta-feira pra ser bem específica. Eu estava sentada devorando o sétimo livro daquele mês, era o meu recorde até então. Sempre ia pra minha cafeteria preferida e ficava horas lendo por lá, eles tinham um espaço especialmente reservado e mais confortável para estudantes, eu pegava um café no balcão e ia direto pro meu cantinho preferido, um puff branco que ficava encostado em uma parede ao lado de alguns bancos.
Naquele dia, em especial, eles estavam oferecendo refil de café para clientes fiéis e, amante de café que sou, levantei por um instante para repor o meu copo. Quando volto calmamente com o meu copo, me deparo com um grupo de rapazes sentados falando muito alto e um deles estava fumando, justo esse decidiu sentar no meu puff preferido.
Que ótimo, era tudo o que eu precisava...
- Com licença. – Tentei um contato. Fui ignorada, já que essa turma gritava tanto.
Decidi ficar em pé em frente ao grupo até que notassem que eu tentava me comunicar.
- Ei, gatinha... Você quer experimentar? – O moço fumante decidiu disse enquanto me oferecia o cigarro.
- Não. – Eu disse enquanto afastava a fumaça do meu rosto com as mãos. – É que você sentou exatamente onde eu estava lendo. Eu só levantei pra pegar mais café e...
- Isso aí é problema seu. Ninguém mandou levantar.
Eu estava me segurando muito pra não entrar em uma discussão com um desconhecido, mas quando o assunto era atrapalhar as minhas leituras, ai de quem decidisse me incomodar.
- Olha, eu venho nessa cafeteria e sento no mesmo lugar pra ler e estudar há anos, você não vai simplesmente usufruir do meu lugar e deixar tudo fedendo a cigarro.
- Então, gata...
- .
- Então a gatinha tem nome...
- Tem. E a gatinha não te deu intimidade pra apelidinhos. Eu só queria ler em paz, mas já que você fez o favor de estragar meu dia, pode ficar aí com a bunda sentada nesse puff fumando esse cigarro fedorento.
Não deixei que essa criatura fedida seja lá quem fosse retrucasse, apenas dei as costas e fui andando. Dei dois passos e senti meu braço ser puxado bruscamente, como se não bastasse a força o indivíduo me virou e eu bati em seu tronco derramando café em sua camiseta azul com referências a algum filme que com certeza eu não conhecia.
- Me insulta, me suja de café e me dá as costas assim?
Ele mantinha contato visual comigo de forma intensa, enquanto isso minha cabeça estava em chamas tentando entender como eu tinha chegado até tal ponto.
- Olha só, garoto.
- .
- O garoto tem nome...
Olhei pra ele debochadamente e pude ouvir umas risadinhas bem atrás de nós.
- Você é grossa.
- E você acha que está arrasando fazendo barulho nessa cafeteria onde as pessoas buscam por silêncio e calmaria, além de fumar esse cigarro que incomoda todo mundo, mas você insiste em continuar fumando porque acha que vai arrasar pagando de bad boy por aí.
E de novo não dei tempo nem de pensar em uma resposta. Saí andando calmamente em direção a porta quando, impulsivamente, olhei pra trás e vi que o tal estava estático no mesmo lugar apenas me observando sair da cafeteria.
Eu realmente esperava não cruzar com ele novamente, mas algo me dizia que ele ia começar a frequentar a cafeteria pra me incomodar.


Capítulo Único

Hoje acordei me sentindo estranha. Tinha uma mensagem de no meu celular pedindo para conversarmos, pedi que me adiantasse qualquer coisa por mensagem, mas ele disse que prefere dizer tudo pessoalmente. A mensagem dizia para encontra-lo exatamente no mesmo lugar em que nos conhecemos, eu estava ansiosa, esperando algo especial.
Já tinham se passado cinco anos desde o nosso primeiro encontro e, difícil de acreditar, não demorou muito pra que a gente se apaixonasse e vivesse tantas coisas novas pra nós dois. Eu passei a sair mais casa, frequentar eventos e fazer novas amizades, enquanto ele parou de fumar, se tornou mais caseiro e a relação com os pais dele melhorou bastante. Eu gosto de pensar que fazemos bem um ao outro e acredito muito que hoje seja a chance de confirmar isso.
***
Fui caminhando calmamente até minha cafeteria preferida, onde combinamos de nos encontrar e ele já estava lá esperando por mim. Me aproximei dele e dei um beijo na bochecha.
- Ainda bem que você chegou. – Ele disse, estava distante.
- Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, por isso te chamei aqui.
- Parece sério, mas eu sei qu...
- Eu te traí.
Parece que uma bomba caiu em cima de mim, explodiu e tem pedacinhos de mim espalhados por toda cafeteria.
- Como? Eu... Eu não entendi.
- Aconteceu ontem. Fui pra casa do Ben e ele decidiu dar uma festa, daquelas de anos atrás. Eu bebi demais, muito mais do que deveria e aconteceu com uma garota que não sei de onde veio, nem o nome dela.
Eu não sabia o que dizer, estava chocada.
- Eu achava que a gente estava em sintonia. Fazendo os mesmos planos, pensando no mesmo futuro, pelo visto me enganei.
- , por favor. Eu decidi te contar porque eu quero que o nosso relacionamento continue transparente. O que aconteceu ontem foi um erro e eu estou muito arrependido.
- Continuar? Você pensa em continuar? , eu fiz tudo o que estava ao meu alcance pra ser uma boa namorada. Mudei alguns hábitos pra conseguir te acompanhar, assim como você também mudou coisas em você pra gente seguir em sintonia...
Eu não conseguia dizer frases muito longas, as lágrimas já estavam descendo desesperadamente enquanto meus pensamentos gritavam muitas perguntas sobre como aquilo aconteceu e se eu realmente merecia aquilo.
- , o que a gente viveu nesses anos foi muito especial pra gente perder tudo por um deslize...
- , isso não foi um deslize. A gente teve uma conversa sobre traição anos atrás e eu deixei claro pra você o que eu penso disso. Traição é uma escolha, não acontece como um passe de mágica.
- , você precisa tentar me entender...
- Você é quem precisa entender, . Não existe segundas chances pra traição. Você acha que isso não dói?
Levantei e saí andando, estava chovendo muito, mas com a dor que eu sentia e como meu rosto já estava todo molhado de lágrimas, mais água não seria um problema. Os pingos da chuva iam atingindo minha pele e eu sentia que meu coração ia se esfarelando e eu não conseguia evitar.
Eu não sabia pra onde ir, muito menos quem procurar, então decidi apenas caminhar. Aos poucos a chuva foi passando e eu continuava caminhando, dessa vez com um destino certo, um canto da praia que eu gostava bastante. Tinham algumas pedras lá e eu gostava de sentar para observar o mar.
Seguia caminhando até que pude ver uma silhueta familiar no meu cantinho especial e eu sabia exatamente quem era.
- ...
Ele me viu caminhando em sua direção e tentou iniciar um discurso. De novo me peguei chorando sem sequer me dar conta.
- Você vai me ouvir. A gente passou cinco anos das nossas vidas curtindo esse relacionamento. Tudo estava ao nosso favor. Nossas famílias se davam bem, nossos amigos se davam bem, a gente se dava melhor ainda. Eu lembro de quantas surpresas eu tive contigo, lembro de quando você me disse que decidiu parar de fumar porque sabia que te fazia muito mal. Lembro de quando fizemos um mochilão por várias cidades porque você queria que eu conhecesse muitos lugares em que você esteve, você me dizia que a gente tinha que deixar nossa marca no lugar...
- Eu sei tudo o que a gente viveu, não esqueço de nada.
- Eu te amo, . Com todas as minhas forças. Amo quando você sorri, amo quando você diz que vai cozinhar e me aparece com pizza, amo quando você diz que eu tô bonita mesmo quando eu tô usando um moletom rasgado e meias. Eu amo tudo o que a gente viveu e é por esse motivo que eu vou te perdoar.
- , é sério? Você me perdoa? Amor, a gente consegue passar por tudo isso, acredite. Eu quero compensar esse erro...
- Eu não terminei, . Eu perdoo o que você fez em nome da nossa história, porque eu não quero estragar cinco anos maravilhosos de lembranças por uma noite em que você errou, mas o nosso relacionamento acaba aqui. Eu não quero contato com você, não quero tentar reatar no futuro. Eu disse pra você que eu seria capaz de ficar ao seu lado nas piores fases, mas o nosso relacionamento acaba a partir do momento em que não se tem mais confiança...
- , pelo amor de Deus. Vamos conversar. Eu juro pra você que eu não fiz de propósito.
Naquele momento até ele estava chorando. O nosso amor era lindo, mas eu não poderia continuar em um relacionamento com uma pessoa em que eu não confiava mais. Os meus sentimentos por ele não tinham acabado e sabe-se lá quando acabarão...
Ficamos ali por um tempo, em uma troca de olhares intensa. A chance dessa troca de olhares acontecer novamente era mínima porque eu estava decidida, então nós dois estávamos aproveitando bem aquele momento...
Naquele momento eu sentia que metade de mim tinha ido embora. A ligação que a gente tinha e a importância que um tinha na vida do outro, nenhuma pessoa no mundo jamais conseguiria suprir.
Mas era o fim.
O nosso fim.


Fim!



Nota da autora: Oiê. Eu odeio história com final triste, gente.
Me perdoa kkkkkkkk
Essa história é uma das que mais gosto até agora, mesmo sendo triste eu acho bonita (pelo menos eu consigo imaginar as cenas na minha cabeça de acordo com que as palavras foram surgindo haha).
Espero que vocês tenham gostando também!




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