07. My Love

Última atualização: 26/02/2018

Capítulo Único

Lately I see you just stay with me
A distance growing
Oh, how can this be?

caminhou pelo saguão do prédio, o salto batendo contra o chão bem polido, enquanto se direcionava para o elevador, cruzando os braços ao esperar.
Respirou fundo, sentindo aquele peso sobre seus ombros, tinha tanta coisa na cabeça, não era daquele jeito que tudo deveria terminar, mas ela simplesmente não aguentava mais aquela situação com . Já tinha passado da hora de dar um basta em todas aquelas brigas, não fazia sentido continuarem juntos se não eram felizes.
Desde nova tinha em sua cabeça que a partir do momento que um relacionamento começasse a lhe dar mais dor de cabeça do que deveria, ela deveria encerrá-lo e seguir em frente, mas aquilo era difícil quando se tratava de .
Depois de seis anos juntos, e três de casados, estava na hora de terminá-lo.
Queria que aquilo tivesse acontecido antes de fazerem seus votos, além de economizar uma boa quantia de dinheiro com o casamento, não estaria se encaminhando naquele momento para uma reunião para assinarem o divórcio.
Pensando bem, se pudesse escolher, ela não escolheria não se casar com , ela simplesmente escolheria que não tivessem chegado ao ponto de não conseguirem permanecer no mesmo ambiente sem brigarem. Era horrível encarar aqueles olhos e ver o tanto de raiva que ele tinha para com ela. Como tinham chegado naquele ponto?


Running in circles it's getting paused the head so
It ain't worth and this can't work, oh baby

acenou para a recepcionista, puxando a gravata enquanto andava rapidamente para o elevador, já quase atrasado para a reunião. Deveria ter saído meia hora antes do trabalho, mas tinha perdido completamente a noção do tempo, no fundo culpava por tudo aquilo. Se ela não tivesse insistido em levar aquilo para frente, ele ainda estaria no escritório, participando do novo projeto de uma das maiores empresas com quem trabalhava, e, certamente, não estaria atrasado e menos ainda usando uma gravata apertada, que parecia o sufocar lentamente.
Era tudo culpa da mulher, claro que sim.
- Espera! - gritou ao ver as portas metálicas se fechando.
A pessoa colocou a mão, fazendo com que o elevador tornasse a abrir.
- Obrigado. - agradeceu em voz baixa, enquanto entrava, antes de olhar sorrindo pequeno para a pessoa educada que tinha o esperado. O sorriso se perdeu assim que focou sua visão em , usando uma calça social preta e camisa branca, os cabelos soltos e uma maquiagem leve. Franziu o cenho, virando-se para apertar o botão do nono andar. - Ora, ora, quer dizer que você também está atrasada.
A mulher respirou fundo, rolando os olhos.
- Não estamos atrasados, ainda tem cinco minutos.
- O que é praticamente um atraso pra você, que sempre chega quinze minutos antes nos locais, não? - replicou, sorrindo arrogante. o ignorou, voltando a cruzar os braços e olhando para os números dos andares.
virou de costas, encarando os sapatos sociais que usava. A mandíbula travada tentando segurar a vontade de puxar uma briga qualquer. A última coisa que precisava era a mulher o processando por qualquer desculpa que aquele advogadozinho safado pudesse encontrar.
No fundo, boa parte da raiva que tinha da mulher era por ela dar continuidade com a ideia de divórcio. Quando ouviu aquilo pela primeira vez concordou sem pestanejar, mas porque achava que ela falava da boca para fora, apenas no momento de raiva pela briga ridícula - que ele nem mais se lembrava o que tinha motivado. Ficou genuinamente surpreso quando recebeu a carta anunciando que tinha mesmo dado início ao pedido de divórcio.
Já fazia meses que estavam entre audiências e conversas, as quais apenas terminavam em gritos.
Se fosse sincero, poderia ter assinado os papéis logo nas primeiras semanas, de forma que teria tudo sido encerrado de forma amigável, ao invés de continuar se arrastando por tanto tempo e ele gastar parte do salário pagando o advogado. Para , é claro, tudo era mais fácil, nem mesmo deveria estar pagando o advogado, já que era seu primo, o qual sempre detestou. Sabia que aquela cara de sonso era fachada, e que Matthew o odiava, parece que não estava tão enganado no final das contas.
O casal sentiu um solavanco e, de repente, o elevador parou, entre o quinto e sexto andar. As luzes piscaram por alguns instantes e então se apagaram por completo, assim como em todo o prédio.
Ficaram em silêncio por alguns instantes, aguardando que tudo voltasse ao normal, apertou o botão de emergência e, passados quase dois minutos, uma luz fraca acendeu.
O loiro passou a mão pelos cabelos curtos, suspirando frustrado.
- Excelente. Não poderia ficar melhor. - resmungou nervoso, tornando a apertar o botão vermelho. - Era tudo o que eu queria, ficar preso num elevador com você, no dia de uma audiência para divórcio, o qual foi você quem começou, mas que sexta-feira maravilhosa. Eu deveria estar participando de uma reunião sobre a nova campanha que estamos trabalhando, a que, inclusive, eu deveria ser o responsável, mas como é que eu vou ser responsável por uma campanha quando não posso participar da reunião que vai definir o projeto inteiro? Muito obrigado, . - virou-se maldoso, só então percebendo o desespero da mulher, que tinha a mão no meio e parecia se encolher contra a parede metálica. assistiu a futura ex-esposa abrir e fechar a boca algumas vezes, puxando o ar com força enquanto mantinha os olhos fechados.
O homem respirou fundo, soltando o ar de uma única vez ao lembrar-se que era claustrofóbica. Deu dois passos em sua direção, esticando a mão para tocar-lhe o ombro, ela o olhou assustada por um instante, parecendo ter esquecido de sua presença, antes de tentar puxar o ar novamente.
- Está tudo bem, não é tão ruim. - começou em voz baixa, tentando acalmá-la. - Logo, logo alguém abre e vamos sair e podemos continuar brigando na frente dos advogados, tudo bem? - tentou sorrir, fazendo graça com a situação, mas o riso não foi acompanhado.
Parecia que quanto mais ele falava mais nervosa ela ficava.
lembrava-se com perfeição da outra única vez que tinham ficado presos juntos, na festa de casamento de seu irmão, na pequena adega que tinha no porão da casa de campo.
Tinham sido quarenta minutos desesperadores sem conseguir contato com ninguém, no qual a mulher suava frio e mal respirava. certamente não gostaria de repetir a experiência, ainda mais na situação em que se encontravam; mas conseguiam conversar sem soltarem indiretas maldosas um para o outro.
- Como está o Bucky? - questionou interessado, tentando fazê-la pensar no cachorro que tinha ficado com a mulher depois que ela tinha se mudado para a casa dos pais. Algo que ele achava errado, já que ele quem tinha escolhido o pequeno husky siberiano, mas achou melhor não fazer aquele comentário.
demorou alguns instantes para entender sua pergunta.
- Ele… Está bem, levei no veterinário para as vacinas semana passada… - contou com a voz baixa, encarando os próprios pés, ainda tentando ritmar as batidas desesperadas de seu coração.
- Aquela bola de pelos continua latindo a noite toda? - tornou a questionar, encostando-se ao seu lado. concordou com um aceno.
- Só sossega quando está na cama. - sorriu fraco, puxando todo o ar com calma. - Ele sente sua falta. - olhou-o de lado. arqueou a sobrancelha, sorrindo pequeno.
- Qualquer dia eu passo lá para levá-lo para passear.
Não querendo começar uma nova discussão, nem soar irônica, pois sabia que simplesmente não tinha tempo, menos ainda para o cachorro, apenas concordou com um aceno, encostando a cabeça na parede fria do elevador e tornando a fechar os olhos.
Contava mentalmente, tentando acalmar-se e pensar em outras coisas.
Começou a pensar nos ingredientes que usaria para o menu da noite no restaurante que trabalhava, repassando cada item e cada receita.
Sentiu a movimentação ao seu lado, então percebendo que tinha sentando-se, as pernas compridas esticadas.
Aproveitou para olhá-lo por alguns instantes, reparando no quão maior seu cabelo estava desde a última vez que tinha o visto, há quase três semanas. A barba por fazer crescia irregular, e, por alguma razão, lembrou-se da pequena cicatriz que ele tinha no queixo, resultado de um acidente de moto de quando era adolescente, e das vezes que ela o ajudou a fazer a barba, tomando cuidado para não cortar-lhe.
pensava no filhote de cachorro, que agora já deveria ser um monstrinho de tão grande e nem mesmo sabia se tinha dito a verdade ao falar que sentia sua falta, só tinha passado 3 meses com o cachorro. Sentia falta daquela bola de pelos pulando na cama e o lambendo pela manhã, acordando-o para o trabalho, mesmo que vivesse reclamando e pedindo para a mulher tirá-lo do quarto.
A ideia de ter um cachorro tinha sido de , na tentativa de fazer com que parasse com a ideia de ter um filho logo. Não que ele não quisesse, mas achava que poderiam muito bem esperar mais uns três ou quatro anos, não tinham razão para apressar as coisas. discordava.
Teoricamente ela estava certa, os dois eram financeiramente estáveis; ela era chefe em um restaurante importante de Berlim e trabalhava em uma empresa de Publicidade e Propaganda reconhecida na Alemanha inteira. Na prática era outra coisa.
Os dois trabalhavam muito e quase não tinham tempo pra nada, pensando que ela notaria esse problema e desistiria da ideia, apareceu com um filhote em casa, porém seu plano acabou dando errado ao notar o quanto a mulher estava se dedicando ao simples cachorro. Passava todo o tempo que podia em casa, brincando com o filhote e reclamava todas as vezes que preferia ficar dormindo ao invés de levantar para ir com ela levar o husky para passear nos finais de semana.
Na verdade, bem sabia, o problema era apenas e exclusivamente ele.
Era quem fazia horas extras quase todo dia, e quando não fazia continuava trabalhando em casa, passava tempo demais envolvido com os projetos do trabalho, mas não conseguia evitar.
trabalhava com sua criatividade, se tinha uma ideia precisava anotar e fazer tudo o que podia antes que se esquecesse de algum detalhe. Tinha acordado inúmeras vezes no meio da noite para mexer em projetos importantes. detestava o fato dele volta e meia cancelar algo porque tinha que trabalhar. Não era nenhum workaholic, pelo menos não se considerava um, apenas estava empolgado com o seu trabalho desde que tinha conseguido entrar na empresa.
Era algo que ele almejava desde os vinte anos e só conseguiu oito anos depois. queria crescer na empresa, e sabia que tinha chances para isso, mas precisava se empenhar para aquilo acontecer. Poderiam ter um filho depois ele conseguisse o cargo de chefe do departamento, teria pessoas trabalhando para ele e com isso teria mais tempo livre, e mais dinheiro também.
não parecia entender aquilo, pois já tinha alcançado o cargo mais alto em sua profissão, mas tempos antes era ela quem ficava até mais tarde no restaurante e mal tinha tempo livre para feriados.
Era quase um sacrifício para ela ser liberada no Natal ou Ano Novo, mas entendia. Não completamente, mas entendia.
Se fosse justo, admitiria que a mulher tinha o ajudado no começo, apoiado em tudo que ele precisava, mesmo quando pediu demissão do último trabalho e passou meses desempregado, ela nunca reclamou.
nunca achou que aquilo seria o motivo de uma separação, sabia que brigavam muito porque ele sempre perdia os compromissos, trabalhava o tempo todo em casa e não tinha tempo para nada, mas não achava que era suficiente para ela entrar com um pedido de divórcio.
No fundo ele seguia a culpando por não tentar mais um pouco, e era apenas por isso que ele estava tão decidido a enrolar o máximo possível para assinar aqueles papéis.


See, my book is filled with so many pages of your memory
Let's finish the story, I never end the story

Notou quando ela respirou fundo, sentando-se ao seu lado e abraçando as pernas, ainda parecendo concentrada em pensar em qualquer coisa que a distraísse.
passou a língua pelos lábios secos, pensando em outro assunto neutro para iniciar;
- E seus pais?
- Estão bem…
- Imagino que estejam felizes que você voltou a morar com eles, não? - argumentou curioso, sabendo o quanto os tinham reclamado por terem ido morar juntos antes de se casarem. Na opinião do casal era quase inaceitável ter tirado de casa aos vinte e três anos.
- Um pouco, - concordou suspirando - só é estranho.
- Por que estranho?
- Porque faziam seis anos desde que eu saí de casa, , não lembrava de como era morar com eles.
O loiro concordou pensativo, coçando a barba.
Também não se lembrava como era morar com os pais, ou qualquer outra pessoa. Da mesma forma que não sabia mais morar sozinho. Tinha se acostumado a morar com e ter as coisas acontecendo de uma forma, depois que ela tinha ido embora as coisas pareciam ter virado de cabeça para baixo; a casa estava uma bagunça e ele só não tinha se esquecido das contas porque estava tudo em débito automático, além de ter ganho alguns quilos com o tanto de fast food que andava comendo.
sempre cuidava de tudo, mal sabia como as coisas funcionavam e os dois sempre estiveram okay com aquilo. É claro que tinha aprendido a limpar a casa e se virava para fazer refeições no tempo que ficou desempregado, mas não era o suficiente para morar sozinho, e deixava anotado o que ele precisava fazer, além de tirar as dúvidas que ele tinha por mensagem.
Agora não podia mandar um áudio desesperado quando manchava uma roupa ou queimava algo. Não podia ligar perguntando o que era coentro e o porquê de não poder usar salsinha na receita, ou por que tinham tantos tipos de maçã no mercado.
Afinal qual era a grande diferença entre maçã fuji e maçã gala? Ele nunca entenderia, mas era o tipo de coisa que saberia explicar.
Se questionava internamente, queria saber se ela estava bem sem ele. Bem, ela parecia okay. Continuava bonita e bem vestida, seguia trabalhando e tendo boas críticas no restaurante, porque sim, ele acompanhava seu desempenho nas revistas de gastronomia, da mesma forma que acompanhava suas atualizações nas redes sociais.
Tirando a parte que ele não fazia mais parte de sua vida, parecia exatamente a mesma pessoa fazendo as mesmas coisas. A única coisa que tinha reparado era no sumiço das fotos que os dois estavam juntos. Ela tinha deletado todas do Instagram.
tinha sentido aquele golpe mais do que admitiria em voz alta.
Como resultado passou a frequentar muito mais happy hour e sair com os amigos.
O que tinha deixado revoltada quando percebeu. Sim, ela também acompanhava sua vida pelas redes sociais.
Era um tanto irritante saber que no tempo que estavam juntos não tinha tempo para nada que não fosse seu trabalho, mas foi só ela sair de casa que na semana seguinte ele já era marcado em fotos em algum bar lotado ou no jogo do Hertha Berliner. Nem mesmo lembrava-se da última vez que tinha vestido uma camiseta do time, mas, agora, de repente, ele tinha virado um torcedor fiel do time e estava em todas as partidas, inclusive viajando para Wolfsburg para assistir ao jogo da Copa da Alemanha. Sua vontade era socar a cara de , mas contentava-se em apenas fechar o notebook com força ou jogar uma almofada na parede.
Aquilo só tinha dado mais certeza que o homem não tinha qualquer interesse em ter um comprometimento maior com eles.
Se conseguia arranjar tempo para viagens de final de semana para ver um jogo, porque continuava perdendo algum programa que eles tinham feito?

Em determinado momento não sabia mais como puxar um assunto neutro, já tinha esgotado suas opções e, após alguns minutos de silêncio, pode percebê-la voltando a ficar agitada, já não tendo mais o que a distraísse da situação em que estavam.
encolheu-se ao seu lado, escondendo o rosto entre as pernas, como uma criança assustada.
Sentia-se inútil naquele momento, sabendo que não tinha como ajudá-la.
Por mais que estivesse com raiva, detestava vê-la naquela situação.
Os últimos meses podiam estar sendo como o inferno na terra, mas aquela ainda era a mulher que ele tinha escolhido para passar o resto da vida ao lado. Aquilo não mais aconteceria, mas era quase como se ainda se sentisse responsável por seu bem estar.
Ao mesmo tempo que queria que ela sofresse horrores com a separação, da mesma forma que ele, não queria vê-la mal.
Talvez só um pouco.
Talvez o suficiente para fazê-la desistir de tudo e pedir para voltar com ele.
não pensaria duas vezes antes de ajudá-la a levar suas coisas de volta para a casa deles, até estava disposto a levantar um pouco mais cedo para caminhar com o cachorro.
Respirou fundo, sentindo-se idiota por achar que ela algum dia iria querer voltar com ele, e mais babaca ainda por preocupar-se com ela. Por fim fez a única coisa que poderia, antes que batesse com a cabeça contra à porta do elevador; esticou o braço direito passando por seus ombros, abraçando-a de lado.
- Vai ficar tudo bem, . - sussurrou puxando-a para mais perto.
A mulher demorou alguns segundos para mexer-se, antes de recostar a cabeça em seu peito, mantendo os olhos fechados e a respiração pesada.
- Lembra daquele final de semana em Munique? - perguntou após alguns instantes.
- Aquele que você entrou em coma alcoólico? - questionou rindo baixo, olhando-o de lado.
sorriu, concordando com um aceno.
- , estávamos na Oktoberfest, o que você esperava que acontecesse?
- Qualquer coisa que não envolvesse te levar ao hospital às três da madrugada, inconsciente.
Os dois riram por algum tempo, antes dela puxar outra memória;
- Lembra da vez que entramos naquela festa de gala usando calça jeans?
- Oh, aquilo foi sua culpa! - avisou rindo - Eu disse que era para entrarmos em outro salão!
- , estávamos mal vestidos para qualquer festa daquele lugar!
- A idéia de dar uma de penetra foi sua! - defendeu-se.
- Eu estava bêbada, foi você quem concordou.
- Você tem alguma idéia de como é difícil te fazer parar quando está bêbada? Ou eu te seguia para garantir que nada pior acontecesse, ou você seria presa sozinha. - deu de ombros, rindo de lado ao lembrar-se do tanto que tiveram que correr da segurança pelas ruas vazias de Berlim.
- Ainda lembro da ressaca que tive no outro dia… - comentou pensativa, mordendo o lábio inferior.
Ele riu rouco, ficando em silêncio por um momento.
- Você lembra do dia que seu pai me pegou no seu quarto?
- Meu Deus! - ela deu um gritinho histérico - Como foi que eu esqueci daquilo?
- Eu acho, sinceramente, que nunca senti tanto frio quanto aquela noite. - admitiu fazendo uma careta - Até hoje fico surpreso por não ter ficado com hipotermia, deveria estar fazendo uns quatro graus, no máximo.
- Não seja tão exagerado, .
- Você diz isso porque estava em casa, embaixo das cobertas, enquanto eu andava seminu até minha casa. Queria ver se fosse o contrário!
- Quem foi que resolveu fazer uma visita depois que meus estavam dormindo?
- Não importa. - resmungou, pensando por um instante antes de continuar - Será que é por isso que seu pai até hoje não gosta de mim?
- Ele gosta de você, , só não demonstra muito.
olhou-a de lado;
- Você me chamou de ?
Notou quando as bochechas dela ficaram vermelhas, ao tempo que se remexeu desconfortável, sem nada responder.
- Gosto quando você me chama assim. - falou simples, sorrindo em sua direção. - E gosto mais quando você fica com vergonha. - piscou brincalhão, vendo-a rolar os olhos, um sorriso pequeno nos lábios.
suspirou chamando sua atenção por um instante.
- Como foi que chegamos nisso? - questionou chateado - Não era para ser assim, não é?
não respondeu de imediato, parecendo avaliar sua pergunta antes de começar a responder. Não queria iniciar outra briga, mas achava que talvez pudessem finalmente conversar como deveriam já ter feito meses antes, e nunca conseguiram.
- Eu acho que só resolvemos priorizar coisas diferentes em nossas vidas. - respondeu baixo - Você colocou seu trabalho em primeiro lugar, eu tentei colocar a gente, mas não tinha como fazer isso sozinha.
Ele pensou por alguns segundos sobre o que ela tinha dito.
não parecia com raiva nem nada, apenas chateada.
Subitamente percebeu que preferia quando ela estava irritada e gritando, era mais fácil lidar com uma histérica.
- Eu nunca quis te deixar em segundo plano, . - admitiu, apertando-a de leve contra si.
- Eu sei, mas aconteceu e não acho que é algo que vá mudar tão cedo, .
O loiro respirou fundo, sem saber o que responder.
Parte de si queria gritar que aquilo era bobagem, argumentar que ela estava sendo tola de achar que ele não se importava com ela e que preferia seu trabalho ao casamento deles. Outra parte, a consciente, dizia que a mulher estava certa.
gostava demais de seu trabalho e queria muito crescer na empresa, sabia que faria o que pudesse para ter o reconhecimento que buscava, e se aquilo queria dizer passar horas e mais horas no escritório, ele provavelmente o faria.
- Você quer mesmo o divórcio? - soprou em voz baixa, sentia o peito doer com a expectativa de sua resposta.
- … - começou em voz baixa, afastando-se alguns centímetros.
Os dois se encararam por vários minutos, em completo silêncio.
- Se você me disser que não quer mais olhar na minha cara, que não gosta mais de mim, que não me ama mais, eu assino os papéis hoje, . - começou a olhando triste - Contudo, se ainda tiver uma pequena parte sua que não quer seguir com isso, uma partezinha que ainda queira tentar de novo, a gente pode dar um jeito . - pediu baixo - Eu diminuo o tempo no escritório, marcamos uns dias na semana na qual eu não vou de forma alguma ficar no trabalho depois das seis, ou nos finais de semana, eu juro que desligo aquele celular e podemos ficar o dia inteiro na cama vendo alguma série depois que você fizer algo bom para comermos, eu acordo para levar o cachorro pra passear no parque. Qualquer coisa que você quiser, eu topo.

I know you want this as much as me
(Without you I never would be strong)
So come on baby show it

As luzes piscaram antes que pudesse responder algo, fazendo com que o elevador tornasse a subir, parando no andar indicado.
O casal continuou parado por alguns instantes, até as portas se abrirem, levantando em silêncio e seguindo em direção a sala da reunião. segurou em seu braço antes que entrassem, esperando por uma resposta, mas a mulher não sabia o que responder, por isso encarou o chão, o cenho franzido e a cabeça cheia de dúvidas.
Ela queria, de verdade, tentar mais uma vez.

parecia sincero, disposto a fazer algo que pudesse dar certo entre eles, mas ela não sabia o que fazer. Tinha uma parte de si que avisava que era perda de tempo, que só os faria sofrer mais depois. Talvez tudo desse certo nos primeiros meses, e depois tornasse a desmoronar e eles voltassem ao estágio em que estavam.
respirou fundo, aceitando o silêncio dela como a resposta à sua pergunta, abriu a porta entrando na sala, vendo os dois advogados conversando junto com a juíza que acompanhava o caso desde a primeira reunião.
- Boa tarde, que bom que chegaram, podemos dar continuidade? Estamos atrasados! - a mulher de cabelos curtos pediu, sorrindo cordial para o casal.
Sentaram-se ouvindo-a falar por alguns minutos sobre as opções que tinham, e como tudo demoraria mais tempo já que não queria assinar os papéis, e foi nessa hora que ele respirou fundo, falando em voz alta;
- Eu assino.
Os advogados e a juíza o olharam surpresos com a mudança, não o encarou, olhava para as próprias mãos.
- Pode arrumar os papéis e me enviar, eu vou assinar. - levantou-se acenando com a cabeça - Com licença, tenho outras coisas para fazer, o que quer que ela decida, eu concordo. - apontou com a cabeça para , antes de virar-se e deixar a sala.

Sentia como se fosse vomitar a qualquer instante, o estômago revirava e sua vontade era de gritar ou socar algo, mas sorriu amarelo para um senhor quando ele saiu do elevador, entrando logo depois.
Queria sair daquele prédio o mais rápido possível, afastar-se de tudo aquilo dava-lhe a falsa sensação de deixar também, como se assim fosse mais fácil esquecê-la.
Talvez ela estivesse certa, aquilo poderia ser o melhor para os dois.
Contudo não era o que ele queria, no fundo esperava que ela fosse dizer que também não queria a separação, que estava sim disposta a tentar novamente, tanto quanto ele. Tinha se enganado.
queria seguir sua vida, e parecia que não faria mais parte dela.
O elevador estava quase se fechando quando alguém colocou a mão, impedindo-o de fechar por completo.
Olhou surpreso quando viu entrando, parecendo um pouco assustada com o que tinha acabado de fazer; ela nunca tentava parar o elevador colocando a mão sobre a porta metálica, morria de medo de não funcionar e fechar-se contra ela.
- Tem uma coisa que eu preciso saber. - começou, antes de virar-se e apertar a trava do painel, impedindo que o elevador subisse ou descesse. Ela respirou fundo antes de continuar, encarando-o - Você sabe o que eu quero de verdade, , é disso que eu preciso. É isso que eu quero saber de você, eu não quero esperar mais três anos para ter um filho, .
a olhou por alguns instantes, debatendo internamente com aquele pedido, queria ser o mais sincero possível em sua resposta. Não queria dizer sim apenas para tê-la de volta, queria dizer sim porque queria tanto quanto ela começar uma família.
Queria ter certeza que quando chegasse o momento ele estaria pronto, que quando falasse que estava grávida, ele ficaria honestamente feliz com a notícia.
sentiu-se nervoso ao perceber que a simples imagem da mulher a sua frente dizendo que estava grávida, que eles teriam um filho, esquentou-o por dentro. Dois anos antes quando começou a falar sobre aquilo, sentiu-se assustado com a ideia de um filho, de ter alguém totalmente dependente deles.
Ainda sentia o nervosismo misturado com o medo correr por suas veias, saber que talvez em breve tivesse uma criança que o chamaria de pai, aquilo o fez sorrir, ao mesmo tempo que o deixava completamente amedrontado, sem saber se seria bom o suficiente para o filho e para a mulher que ainda o olhava, cheia de expectativa.
respirou fundo, passando a mão pelos cabelos, antes de sorrir de lado;
- Parece que ao invés de acordar cedo para passear com o cachorro, eu vou ter que me virar para trocar algumas fraldas, não é?
piscou confusa, o sorriso querendo preencher seu rosto.
- Você está falando sério?
- Tanto quanto eu falei quando nos casamos, eu disse que passaríamos a vida juntos, não foi? É isso que eu vou fazer, . - a mulher o abraçou com força, logo sentindo os braços de ao seu redor, antes dele erguer seu rosto, beijando-a por incontáveis minutos, antes de se separarem rindo - Tá, talvez não todas as fraldas, mas posso levantar para esquentar a mamadeira!




FIM




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