Última atualização: 13/07/2020

Parte 1 – Natalie

Antes mesmo de entrar na boate eu já conseguia ouvir a música extremamente alta que tocava no local. Não sabia dizer exatamente, mas parecia algum tipo de rock com uma pegada alternativa. A música até que não estava ruim, mas de todo o local saía uma fumaça que poderia ser por conta do uso de drogas, da máquina de fumaça ou mesmo de ambos. Respirei fundo diversas vezes, aproveitando para ajeitar a roupa e cabelo, logo entrando naquele local.
Olhei em volta, tentando ao máximo disfarçar que estava assustada, pois estava me sentindo como um rato que é colocado em uma gaiola com diversas cobras, todas o disputando entre si. Por todo lado haviam homens que me olhavam como se eu estivesse nua em sua frente, apesar do vestido que eu havia escolhido ser praticamente o mais comprido se fosse levar em consideração o que as outras garotas usavam.
Ignorei a sensação horrível de ser assediada e olhei para frente, avistando quem eu realmente queria logo à minha frente: , o homem que atualmente era o maior e mais famoso traficante não somente de Green Woodstone, mas também de San Martín. Eu não possuía nenhum problema com ele, até porque nem o conhecia, mas conhecia alguém que possuía e muitos. Meu irmão, Sean. Não que eu me orgulhasse disso, mas ele também era do narcotráfico, sendo o concorrente direto do homem à minha frente.
Não me lembrava de como, exatamente, acabei caindo de paraquedas no meio dos dois. Na verdade, para ser bem sincera, eu me lembrava. Sean estava tendo uma diminuição absurda em seus ganhos, pois estava roubando seus clientes para si, além de já ter sua clientela fixa. Isso fez com que meu irmão ficasse possesso e, como foi o único plano no qual pensou, decidiu que iria usar sua querida irmã, vulgo eu, para lhe aplicar um golpe.
É claro que eu recusei na mesma hora, pois não me envolveria em nada disso. Eu queria apenas terminar a faculdade de medicina para que pudesse atuar no quadro de funcionários efetivos do Hospital Municipal de San Martin, onde atualmente era voluntária. Muitos criminosos de qualquer estado iam até lá quando precisavam de cuidados médicos, porque sabiam como comprar o silêncio dos funcionários e até mesmo os próprios médicos. Não que eu fosse um deles, já que não tinha interesse em conseguir drogas e nem nada do tipo, mas sempre auxiliava os mais experientes, afinal meu próprio irmão também pertencia a esse mundo. Por conta desses atendimentos que realizávamos na surdina, eu era conhecida entre esses criminosos, já que havia cuidado pessoalmente de vários deles.
A verdade era que meu irmão havia me deixado em sem opções para que aceitasse participar desse golpe contra . Logo quando meus pais morreram fora ele quem assumiu a responsabilidade de cuidar de mim, já que eu ainda era muito nova. Sua maior preocupação era que eu acabasse caindo nesse mundo, a única coisa que ele nunca queria que acontecesse. Não que houvesse chances, já que eu repudiava tudo que fosse relacionado ao seu trabalho.
Com o dinheiro que conseguia através do narcotráfico foi possível que ele pagasse minha faculdade, já que eu não havia conseguido passar em uma universidade pública. E fora exatamente essa a forma que ele encontrou para me chantagear a fazer parte disso. Ele ameaçou parar de pagar minha faculdade, o que me impediria de formar e até mesmo de assistir às aulas.
Isso foi uma atitude extremamente egoísta de sua parte, pois nem ao menos me perguntou se eu estaria confortável fazendo isso. Para ser sincera, não sei se ele sequer pensou na minha segurança, afinal, estaria no território "inimigo" e poderia ser reconhecida. Por sorte, eu não frequentava nenhuma de suas festas e só conhecia as pessoas que iam até o hospital, então não seria fácil de alguém se lembrar do meu rosto.
Voltei a olhar , que estava em seu próprio mundo ali no camarote. Ele bebia algo que eu não pude ver, mas pela cor poderia ser facilmente Uísque, enquanto conversava com um de seus funcionários e mantinha seu braço em volta de uma mulher que claramente era a sua companhia da noite. Revirei os olhos, percebendo o quanto esses homens eram semelhantes.
Precisava dar um jeito de atrair sua atenção para que me olhasse, já que não conseguiria subir até onde ele estava, pois não tinha nenhuma credencial e nem nada do tipo. Bufei irritada e olhei em volta desesperadamente, procurando por qualquer coisa que pudesse usar. Meus olhos pararam em um dos cantos daquela boate, mais precisamente em uma latinha vazia que aparentemente alguém que não se importava com limpeza havia largado no chão.
"Deus, se você está me ouvindo, espero que abençoe a minha pontaria porque só tenho uma chance".
Sem rodeios, fui até onde ela estava. Se tudo desse certo, assim como eu esperava, o plano entraria em ação.

Parte 2 –

A mulher, que eu já não lembrava se seria Angel ou Vicky, mantinha seus braços em meu pescoço ao mesmo tempo em que distribuía beijos em minha bochecha. Virei o copo de Uísque de uma vez, achando aquilo totalmente desnecessário e até meio broxante. Não queria uma vadia que ficasse grudada em cima de mim, mas sim uma que me satisfizesse na cama quando fôssemos embora dali, o que não estava muito longe.
Balancei o copo agora vazio em minha mão, ansiando por mais bebida para que pudesse aguentar o resto da noite. Imediatamente uma ideia se formou em minha cabeça.
– Querida, você pode buscar mais uma dose pra mim? – sorri para Nicolle. Ou seria Angel?
Ela sorriu e soltou meu pescoço, fazendo com que só isso fosse o bastante para me deixar relaxado novamente. Estendi-lhe meu copo, que rapidamente foi pego por ela.
– Claro, docinho – sorriu, se levantando. Seu vestido extremamente curto deixava sua calcinha quase à mostra, não que eu estivesse reclamando disso, pois a visão era muito boa.
Ela então foi até o segurança, que cuidava da entrada e saída de pessoas do camarote, e o mesmo permitiu que ela saísse. Já estava agradecido de ter alguns segundos a sós para pensar no trabalho. Foi quando senti algo se chocar contra minha nuca, liberando uma pontada de dor por toda a região. Coloquei a mão no local por alguns segundos e depois a removi a fim de observar se havia sangramento, mas ela voltou intacta, sem qualquer sinal de corte ou coisa do tipo. Os seguranças já estavam à postos em volta de mim, olhando em volta para identificar quem poderia ter sido o responsável.
Foi quando notei algo que até alguns segundos atrás não estava ali em cima. Uma latinha prateada de cerveja que, com toda a certeza, veio da pista. Olhei para baixo, tentando identificar alguém que parecesse suspeito ou algo do tipo, mas simplesmente não consegui.
Bufei irritado, rangendo os dentes e apertei a grande de segurança entre os dedos. Continuei varrendo os olhos por todo o salão e foi então que a vi. Ela conseguiu chamar minha atenção mesmo sem me ver, pois não estava de frente pra mim. Não sabia exatamente, mas ela tinha uma aura de sexo que me atraía diretamente para si. A ideia de trocar Jennifer – era esse o nome dela? – por aquela garota para passar a noite parecia-me muito mais tentadora.
Foi por esse motivo que me dirigi para fora do camarote. Falei com o segurança, passando minhas ordens para o mesmo e desci as escadas rumo ao local em que ela estava. Conforme ia descendo os degraus, eu observava a garota se movendo, com um martíni pela metade em sua mão. Seu vestido, embora não tão curto como o das outras meninas, deixava boa parte de sua pele exposta, o que era o bastante para atiçar a minha imaginação. Mordi o lábio ao entrar na pista, que estava fracamente iluminada, bem diferente de onde eu estava antes.
Ela estava dançando sozinha, então supus que estivesse ali desacompanhada. Passei a mão pelo meu cabelo e me aproximei, circundando sua cintura com meu braço. Ela pareceu se assustar com o toque repentino, virando o rosto em minha direção. Com o movimento, alguns fios de seu cabelo acertaram meu rosto, mas nem ao menos dei atenção, pois estava mais focado em analisá-la por completo. Aquele vestido definitivamente caía muito bem nela e por algum motivo eu não conseguia desviar meus olhos.
– A senhorita está desacompanhada? – sussurrei em seu ouvido para que ela pudesse me ouvir, já que a música estava muito alta.
– Aparentemente não mais – ela se virou, ficando de frente para mim com um sorriso travesso nos lábios.
Não pude controlar um sorriso de lado que se formou em meu rosto, como uma resposta ao dela.
– Nesse caso eu adoraria te pagar um drinque – estendi a mão para que pudesse pegar a dela, mas a mulher foi mais rápida e ergueu a taça com o martíni, que ainda segurava.
– Agradeço, mas já tenho a minha própria bebida – sorriu de lado e me olhou como um todo – Mas nada me impede de te pagar uma, já que suas mãos estão tão vazias – completou, com outro sorriso e tomou um gole da sua bebida.
Não pude controlar uma risada de canto de boca que insistiu em escapar.
– Uma mulher como você me oferecendo uma bebida? Que idiota seria eu de negar um convite como esse? – sorri de lado.
Ela apenas retribuiu meu sorriso e foi se dirigindo ao bar, sem me direcionar nenhuma palavra. Apesar de não ter me dito nada, eu sabia que ela queria que eu a seguisse, então fui atrás dela. Ela caminhou pelas pessoas que estavam dançando, se pegando ou ambas as coisas, na pista de dança e eu apenas observava seu corpo se movimentando enquanto andava. Ela parecia ser espetacular dentro daquele vestido e, com certeza, deveria ser ainda melhor sem ele. Mordi os lábios com meu próprio pensamento.
Ela chegou ao bar e então se apoiou no balcão, com seu corpo curvado ligeiramente para frente, me oferencendo uma ótima visão de onde eu estava. Poderia estar delirando, mas apostaria que aquela ação havia sido proposital, somente para que a mesma conseguisse me provocar. Sem demora, segui até ela e parei ao seu lado, observando-a enquanto o bartender se aproximava.

Parte 3 – Natalie

– No que posso ajudar? – o bartender me olhou assim que sentei em um dos bancos do bar.
– Eu gostaria de um...
Droga! Havia sequer esquecido de perguntar a qual a bebida que ele gostava e meu irmão não havia me dito, também. Não que fosse seu dever saber disso, mas ajudaria de certa forma.
Virei a cabeça na direção dele, que agora estava ao meu lado, esperando que ele entendesse o recado e me dissesse o que pedir.
– Uísque – falou, simplesmente. Completamente monossilábico e seco.
Isso!
Comemorei internamente porque, até ali, parte do meu plano havia dado certo e tudo seguia sem nenhuma falha. Será que eu era boa nisso e não sabia?
– Uma dose de uísque, por favor – confirmei ao bartender, que se retirou para buscar meu pedido. Não pedi nada para mim, porque ainda estava com meu martíni e não planejava beber mais nada, já que precisava estar atenta aos próximos passos. Uma boa dose de álcool me faria ficar alegre demais para o meu próprio gosto e estaria muito mais propensa a ser manipulada.
– Desculpe-me, mas eu nem sei seu nome – ouvi dizer, tirando-me dos devaneios.
Essa era uma pergunta completamente delicada. Eu não queria falar meu verdadeiro nome para que não houvesse, como diria meu irmão, pontas soltas. Contudo, eu nunca mais o veria, então que mal teria? Sempre prezei pela honestidade acima de tudo e, por mais que estivesse fazendo esse trabalho completamente sujo, não podia ser corrompida para esse lado.
– Natalie – acabei soltando, sem raciocinar direito se aquela seria realmente a escolha mais certa a se fazer, porém já era tarde demais para querer mudar e voltar atrás. – E o seu seria? – eu não poderia deixar transparecer que o conhecia, apesar de que na verdade sabia apenas o seu nome.
– Não sabe mesmo quem eu sou?
Provavelmente ele estava estranhando, já que eu estava no território que ele comandava, onde era visto quase como um prefeito ou coisa do tipo. Eu não estaria mentindo em dizer que, de fato, não sabia quem ele era.
– Bom, creio que se eu soubesse não teria motivo para te fazer essa pergunta – tomei mais um gole do martíni, agindo com tranquilidade.
Eu havia sido um pouco rude, mas esperava que não houvesse o ofendido com minhas palavras, uma vez que ele provavelmente usava piores que aquelas. De repende, ele soltou uma risada nasalada, como se eu tivesse dito alguma coisa extremamente engraçada. Resolvi ignorá-la e apenas continuei séria, ainda sentada no balcão. Pelo canto do olho consegui vê-lo se apoiando lateralmente no balcão, virado em minha direção. Engoli em seco, tentando disfarçar a timidez que me atingiu ao notar que estava sendo observada.
– sorriu de lado, me estendendo uma mão para que eu pudesse cumprimentá-lo.
Ponderei por alguns segundos, antes de pegá-la em um aceno. Eu estava ali única e exclusivamente com um propósito e precisava cumpri-lo o quanto antes, pois quanto mais tempo passava naquele local, maior era o medo de acabarem me descobrindo e fazerem sabe-se lá que tipo de coisas. Engoli em seco só por pensar nas diversas possibilidades.
– Muito prazer, – sorri de lado, o olhando diretamente nos olhos.
– Prazer terá quando sairmos daqui, minha querida – retribuiu meu sorriso, com um pouco de malícia brincando por seus lábios.
Por um momento, senti um arrepio percorrer todo meu corpo, imaginando o tipo de coisa que poderia acontecer se tudo desse errado no fim, mas eu nem poderia cogitar essa possibilidade porque minha formação dependia do meu sucesso. Bem, os negócios do meu irmão também, mas a verdade era que naquele momento eu estava pouco me fodendo para ele.
"Foca no seu trabalho, Natalie".
Observei o bartender se aproximando com a bebida que havia pedido para e instantaneamente entrei em desespero, pensando em como faria para que ele se distraísse por alguns minutos. Aparentemente era meu dia de sorte porque logo um homem se aproximou de nós e, pelo jeito, era algum conhecido de , pois ele se levantou de onde estava sentado, cumprimentando-o.
– Peço uma pequena licença para resolver alguns assuntos, mas prometo que logo retorno para terminarmos essa conversa – sorriu de lado e se afastou um pouco com aquele homem.
Não achei aquela interrupção ruim. Muito pelo contrário! Eu precisava tanto que ele se afastasse, que foi como se um alívio atingisse meu corpo em cheio. Agradeci ao homem que havia entregado a bebida, pagando pela mesma, e olhei em volta discretamente, conferindo se alguém estava me observando. Assim que percebi estar sozinha, rapidamente retirei um pequeno pacotinho que estava guardado em meu decote e abri o mesmo, despejando todo o seu conteúdo na bebida.
Aquele invólucro era mais ou menos do tamanho de uma embalagem de camisinha, então logo tratei de jogar atrás do balcão para que não fosse pega com aquilo. Dentro dele havia uma boa quantidade de GHB (Ácido Gama-Hidroxibutírico)¹, que seria o bastante para apagar por cerca de 8 horas, sem causar maiores problemas para o mesmo. Peguei o copo e balancei o mesmo, para que o GHB¹ se misturasse com o líquido, tornando-o imperceptível.
Sorri para assim que ele voltou para perto de mim e o estendi a mão, com o copo de bebida. Esperava que ele fosse demorar mais naquela conversa, mas o importante é que eu havia tido tempo suficiente para colocar a droga em sua bebida sem que percebessem. Ele retribuiu meu sorriso e voltou a se sentar no mesmo lugar de antes.
– Espero não ter feito muita falta – sorriu de lado, me olhando, e pegou o copo.
– Eu não contaria com isso – fiz charme enquanto tomava o último gole de minha bebida, praticamente incentivando-o para que fizesse o mesmo.
Aparentemente ele havia entendido o recado, uma vez que me lançou um sorriso de lado e virou toda a bebida de uma só vez, já que era apenas uma dose. Sorri ainda mais para ele e depositei a taça vazia no balcão. Ele fez o mesmo com seu copo e logo seus olhos estavam voltados em minha direção, como se me analisasse.
– O que acha de irmos para um local mais reservado? – ele disse por fim, após alguns intermináveis segundos de silêncio de ambas as partes.
"Bingo!"
– Adoraria – dei meu melhor sorriso malicioso e retirei algumas notas de dólar do meu decote, depositando-as no balcão para pagar pelas nossas bebidas.
Logo ele começaria a sofrer os efeitos da droga que havia ingerido, então eu não podia arriscar continuar ali, em público. As pessoas à nossa volta iriam perceber que algo estava errado e então eu acabaria me ferrando. Isso não podia acontecer!
"Tenho que ser rápida."

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Entrei no quarto da casa de praticamente arrastando-o. Ele estava bem até o momento que havíamos subido a escadaria, que foi quando seu corpo entrou em estado de sonolência, ele mal conseguindo manter suas pestanas abertas. Eu não tinha muito tempo, então precisava que ele ficasse acordado pelo menos por uns 5 minutos, sendo tempo o suficiente para conseguir arrancar a informação que queria.
Eu já estava praticamente desabando com ele no chão quando finalmente alcancei o colchão de sua cama, então imediatamente joguei-o em cima dela. Não podia dizer que ele deu muita sorte já que seu corpo caiu em um ângulo que, com toda certeza, o deixariam com uma dor desgraçada no dia seguinte, mas eu não ligava para aquilo.
Abaixei-me na sua frente com todo o cuidado de não deixar minha calcinha à mostra, já que o vestido era curto. O olhei, vendo que o mesmo estava quase dormindo e aproveitei aquele momento para analisar o homem que estava à minha frente pela primeira vez.
Eu ouvia muito seu nome na minha cidade, mais pela rivalidade entre ele e meu irmão do que qualquer outra coisa, mas nunca tinha visto nenhuma foto e nem nada do tipo. Com ele na minha frente, ignorando o fato de que o mesmo estava deitado em uma posição completamente idiota, era possível dizer que ele era muito mais bonito pessoalmente do que na minha imaginação.
Seus olhos eram de um tipo inexplicavelmente profundo e penetrante, capazes de aterrorizar qualquer um. Sua barba era mal feita, porém algo dizia que aquela aparência era proposital, quase como se ele quisesse esse efeito. Tudo em seu visual gritava sexy, mas eu não era uma garota que se apaixonava por esse tipo, principalmente com o histórico que ele possuía.
Revirei os olhos só de ter pensado nesse tipo de coisa.
– Querido, me diz uma coisinha? – falei baixo, quase em um sussurro e passei os dedos pelos fios de seu cabelo, chamando a atenção dele para que não dormisse. Pelo menos não ainda.
– Uhum – ele apenas conseguir murmurar, me lançando um olhar do tipo que as crianças fazem quando querem dormir.
Não consegui evitar um sorriso bobo diante desse pensamento, embora não tenha durado muito, já que voltei a focar no que era importante.
– Onde você guarda o seu dinheiro, querido? – voltei a falar para ele no mesmo tom.
Porém, dessa vez não obtive resposta já que ele dormiu. A droga estava agindo mais rápido do que eu havia planejado e isso não era nada bom. Ergui uma mão e desferi um tapa forte o bastante para fazê-lo se assustar e abrir os olhos.
– O dinheiro, querido. Onde você guarda? – repeti com a mesma voz suave e delicada de antes.
– Dinheiro... Não posso – ele ainda estava meio assustado por conta do tapa e tentava se levantar da cama, porém ainda sem sucesso.
– Eu juro que não vou contar pra ninguém. Fala pra mim – sussurrei.
Era evidente que ele estava lutando internamente para que não soltasse nenhuma informação, mas ele havia sido idiota o bastante para aceitar bebida de uma estranha que conheceu na boate e agora era tarde demais para evitar os próximos acontecimentos. Por isso, não estranhei quando o ouvi contando tudo a respeito do cofre secreto que mantinha em sua casa.
Levantei-me com um sorriso no rosto, porque finalmente aquela tortura havia acabado e eu poderia ir embora. Ele agora estava em um sono profundo semelhante ao coma e permaneceria assim pelas próximas cinco ou seis horas, que era mais que o suficiente para pegar o dinheiro e dar o fora daquela mansão. Antes de me retirar, não pude evitar lançar-lhe um último olhar.
– Bom garoto – sorri, passando a mão em seu cabelo como se estivesse fazendo carinho no mesmo.
Então saí daquele quarto, imaginando que seria a última vez que nos veríamos.

Parte 4 –

Senti uma dor absurda invadir meu cérebro, fazendo com que eu tivesse vontade de abrir meu crânio e retirá-lo de dentro. Relutei em abrir os olhos, mas a luz que entrava no cômodo não ajudava, já que estava praticamente me cegando.
"Porque eu não fechei essa porra de cortina ontem?".
Apoiei as mãos no colchão, me obrigando a sentar no mesmo. Além da cabeça, que doía absurdamente, meu corpo também estava dolorido. Não era pra menos, já que eu havia dormido em uma posição nada comum e totalmente desconfortável. Bastou dar uma olhada rápida para baixo e notei que além de tudo eu ainda estava com a mesma roupa que havia colocado para ir à boate no dia anterior.
"Que merda aconteceu comigo ontem?".
A manhã havia começado da maneira mais louca possível e, como prova disso, eu mal havia formulado uma explicação plausível quando um de meus capangas entrou correndo em meu quarto sem nem ao menos bater na porta.
– O que é que você quer? Já avisei para baterem na maldita porta antes de entrarem. Vocês não têm um pingo de educação? – disparei para ele, já sentindo minha dor de cabeça aumentar.
Coloquei uma mão na frente de um dos meus olhos, esperando que aquilo fosse o bastante para amenizar, mas obviamente não surtiu nenhum efeito. O homem permanecia parado no batente da porta, segurando a maçaneta. Seu peito subia e descia mais rápido do que deveria e ele estava claramente cansado, tentando normalizar a respiração e seus batimentos cardíacos. Rapidamente entendi que algo de muito errado havia acontecido.
– O que houve? – me levantei rapidamente da cama, ignorando qualquer parte de meu corpo que havia começado a gritar de dor.
– O cofre secreto... – foi tudo que ele conseguiu dizer antes de ficar sem fôlego, mas aquelas palavras foram o bastante para que eu entendesse.
Saí correndo do cômodo, atravessando o corredor a toda velocidade em direção ao local em que mantinha meu cofre. Nele estava guardada uma boa quantia em dólar, além de algumas joias e outras coisas que possuíam muito valor financeiro. Não era meu único esconderijo, mas o montante que ele guardava era algo na faixa dos sete dígitos.
Abri uma porta sem me importar se poderia quebrá-la ou danificar e encarei o cofre aberto bem na minha frente. Não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Só podia ser uma miragem ou até mesmo um pesadelo, porque ele estava completamente vazio, exceto pelos objetos de valor.
– Senhor, não sabemos como isso aconteceu... – outro capanga comentou inseguro, enquanto os outros permaneciam em completo silêncio. Era visível que todos estavam com medo do que eu poderia dizer ou fazer.
Estava prestes a gritar com todos os presentes até perder a voz ou pior, mas então uma lembrança me atingiu com tudo. Uma moça na pista de dança da boate, seu vestido lilás curto que deixava muitas coisas à mostra.
Natalie.
Eu tinha certeza que ela era responsável por isso e, céus! Havia sido tão burro em permanecer perto dela sem nenhum segurança ou coisa do tipo. Havia até mesmo a levado até minha casa!
Quase conseguia ouvir sua risada de vitória ecoando pelo quarto, enchendo-o e me provocando mais raiva a cada segundo. Fechei os punhos com força ao lado de meu corpo. Aquela vadia havia me roubado. Simplesmente ninguém podia roubar o maior narcotraficante de San Martín e sair impune, porque logo todos iriam pensar que podiam, também.
– Melhor essa vadia ser muito sortuda e ainda estar com cada centavo do meu dinheiro, porque eu estou indo atrás dela.

Like my daddy, I'm a gambling man
Never been afraid to roll the dice
But when I put my bet on her
Little miss snake eyes ruined my life
She better sleep with one eye open
Better make sure to lock her doors
'Cause once I get my hands on her, Imma oh

Natalie, she ran away with all my money
And she did it for fun
Natalie, she's probably out there thinking it's funny
Telling everyone
Well, I'm digging a ditch
For this gold digging bitch
Watch out, she's quick
Look out for a pretty little thing named Natalie
If you see her, tell her I'm coming
She better run

¹GHB ou Ácido Gama-Hidroxibutírico é uma substância química que, quando utilizada isoladamente, trata-se de uma droga. É conhecida popularmente por droga de estupro e "boa noite, Cinderela", sendo usada ilicitamente com as finalidades de sequestro, estupro ou furto. Sua utilização é proibida e, quando ligada a essas finalidades descritas anteriormente, caracteriza crime com pena grave. Essa história possui caráter fictício e a autora não apoia o uso de tais substâncias em nenhuma ocasião.


Fim!?



Nota da autora: Olha eu aqui de novo! Queria começar essa nota agradecendo a Mo Claire pela chance de ficar com essa faixa, mas também por me ajudar sanando minhas dúvidas e tudo mais hahaha. Também agradeço muito a linda Flávia pela capa simplesmente perfeita e espero que tenham gostado tanto quanto eu <3
E, claro! Não poderia deixa de agradecer a todas e todos que leram essa minha fanfic até o final. Vocês têm um lugar especial no meu coração <3
Eu fiquei tão inspirada pela letra dessa música que decidi continuá-la como (se tudo der certo. Amém!) uma longfic, então espero poder contar com o apoio de vocês em breve! Novamente agradeço à todos que deram uma atenção a minha fic e espero vê-los em breve. Amo vocês!





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