Finalizada

Capítulo Único

“97... 99... 100?” O homem perguntou-se, confuso, contando nos dedos calejados. Voltou a segurar firmemente a barra acima de sua cabeça e flexionou os braços, subindo e descendo. A sala de 11 m² deixava-o irritado, e, por isso, realizava exercícios físicos diariamente. Desta vez, o lençol da cama estava alinhado, e o banheiro, enxuto. Havia tomado banho e escovado os dentes.
O policial parou em frente à sua cela, pigarreando, antes de destranca-la.
“É dia de visita.”
Ele o olhou e enrugou a testa.
“Que data é hoje?”
“Vinte.”
“De que mês?”
“Março.”
O homem encarou o chão.
“Em que ano estamos?”
“2017.”
Ah” Impulsionou o corpo para cima, contra a barra.
O policial cruzou os braços.
“Não vai sair? Estão esperando-o deste lado.”
“Aquele garoto estranho não vem no dia vinte.”
“Ele veio hoje.”
“Por quê?”
Impaciente, o policial suspirou.
“Se não sair agora, o mandarei embora.”
“Talvez seja importante me ver” Colocou os pés no chão frio. “Tudo bem. Leve-me.”

Conor movia as mãos sob a mesa, os polegares brigando, enquanto esperava buscarem o detento. Ajeitou o óculos redondo, de lentes grossas, e deslizou a mão na camisa azul. Avistou, então, e finalmente, sentar à mesa, com os pulsos algemados.
Depois do silêncio um tanto constrangedor, Conor disse:
“Vo-você co-cortou o ca-cabelo e fez a bar-barba.”
Ele riu nasalado.
“Era a única atividade que restava, padawan
“Não me cha-chame assim.” Vendo-o sorrir, tocou o óculos. “Está bom.”
“Obrigado.”
Conor o analisava minuciosamente, como se visse um completo desconhecido.
“O que o traz aqui? Quem é você?” perguntou.
“Ho-hoje é di-dia de visita, e so-sou Conor .”
” Repetiu, entretido.
“Me re-reconhece?”
“Deveria?”
“Sempre ve-venho aqui” Ajeitou o óculos outra vez.
“Co-concluí que não le-lembra-se de na-nada.”
“O que eu deveria lembrar exatamente?”
“Sa-sabe por que es-está pre-preso?”
“Cometi algum crime no passado, mas não recordo os detalhes.”
Conor apanhou um jornal dentro do seu gibi de super-heróis.
“Ve-veja.” Abriu, apontando para a imagem colorida abaixo do título. “É você.”
puxou de sua mão, os olhos arregalados.
“Tráfico de drogas?”
“Sim”
“Há quanto tempo estou detido?”
“No-nove anos.”
Ele contou nos dedos.
“São 3285 dias.”
“Vo-você pre-precisa contar no-nos de-dedos.” Riu baixo.
“Algum problema?”
“E-existe ca-calculadora.” Mostrou a sua científica, fazendo erguer a sobrancelha.
O detento soltou o jornal e levantou, batendo na mesa.
“Aonde va-vai?” Conor segurou a calculadora rapidamente para não cair. “Es-espere!”
“Não quero mais conversar, estou cansado.” Parou próximo ao policial. “Até o dia vinte no mês que vem.”

“Abra os olhos.”
Escutei a voz aguda de alguém, mas não consegui realizar o que era pedido. Senti meus braços movimentarem-se involuntariamente, a cabeça latejar e as pernas dormentes. Depois, algo denso deslizou pela minha pele.
?”
Tentei ver mais que a escuridão. Estava consciente, porém, não conseguia enxergar.
?” Era a voz de outra pessoa.
Com a temperatura baixa do que havia sido jogado em meu rosto, molhado num pano, descobri o que era aquilo.
, volte. Volte para mim.”
A melancolia por detrás do som deixou-me angustiado. Queriam-me vivo, e estava, mesmo que não percebessem.
De repente, as pálpebras piscaram, e os olhos abriram.


respondia palavras-cruzadas, deitado na cama, que ficava encostada na parede. Pôs a caneta na boca e coçou a mandíbula lisa, tentando, com pesar, achar a resposta para o nome do presidente dos Estados Unidos.
“Porcaria” Rabiscou raivoso. “Bara. É alguma coisa com bara. Bara... Merda! Barack. Isso, , seu burro!”
Após ter superado a primeira dificuldade, animou-se para tentar lembrar de todo o restante. Escrevia apressado e leu a próxima pergunta:
“Sigla do país” Balançou a cabeça, em deboche. “Editor, seu otário.”
“Tem alguém querendo vê-lo.” O mesmo policial avisou, parando na grade da cela.
“Quem é?”
“Nicolau.”
Ele olhou para o teto, pensativo.
“Não sei quem é.”
“Pelo visto, não sabe e nem lembra de nada. De qualquer forma, querem ver se está bem.”

Nicolau esperava com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans, o cabelo grisalho arrepiado e o cavanhaque feito à navalha. Vestia roupas compradas com dinheiro recebido no dia anterior e cheirava à perfume importado.
caminhava para a sala de visitas, a cabeça abaixada, e o viu. Sua testa enrugou.
“Meu caro amigo.” O velho estendeu os braços, e ele não soube como agir. “Ande, venha. Dê-me um abraço. Estive fora por tanto tempo.”
“Quem é você?”
“Nicolau. Não lembra?”
pensava.
“Não.”
“A pancada foi forte.”
“Eu sei.”
“Lembra-se daquele dia?” Estreitou o olhar.
“Da dor, sim.”
O velho sentou.
“Acomode-se. Trago novidades de sua família.”
“Quem é a minha família?”
“Sente-se, . Conversaremos com calma.”
sentou, observando-o, calado.
“Vim tirá-lo da cadeia” Nicolau abaixou a voz ao falar. “Amanhã pela manhã estará livre.”
“Ainda estou distante do dia em que concluirei a sentença.”
“Sou seu amigo, não sou? Quer ficar aqui para sempre?”
“Até o final da sentença.”
“Oh” Enconstou-se na cadeira. “Acha que eles gostam de você?” Maneou a cabeça para os policiais. “Jack e eu estávamos presentes quando perdeu a memória, assim como estou presente quando está preso. Quem faria isso no meu lugar? Nem Jack está aqui.”
“Tem um garoto. Ele vem me visitar todos os meses. Não lembro o nome dele.”
“Que seja. Eu, Jack e você éramos melhores amigos desde metade da sua vida. Quero livrá-lo das grades que o prendem.”
“Eu não sei.”
“Está com medo?”
“Não.”
“Então mostre a eles que você não pode ser engaiolado por ninguém. A autoridade é você.”
“Hora da visita acabou.” O policial avisou, segurando .

***


“Vo-você tem ce-certeza de que quer ve-vê-lo?” Conor ajeitou o óculos.
A garota assentiu, vestindo a jaqueta de couro escuro.
“Ele es-está ma-mal.”
“Entendo que queira poupá-lo, mas tornou-se mais do que um objetivo, Conor, é uma necessidade.”
não va-vai re-reconhecê-la.”
“Mas eu o reconheceria até careca, e é isso que importa.”

Durante seu horário de “tomar sol”, na área aberta do presídio, acompanhado de outros detentos, sentou-se sozinho em um dos bancos afastados, respondendo as palavras-cruzadas e observando um ou outro discutirem. Parte do cabelo, que não era cortado há muito tempo, foi preso num coque, as unhas, cortadas, e não permitia que a barba crescesse; detalhes esses que a garota notou ao vê-lo entrar na sala de visita, dez minutos depois. Seu olhar havia se estreitado, quase raivoso, e a expressão facial, apesar disso, era difícil de ser lida. Sentou-se de frente para si e mexeu as algemas.
“Oi.”
aproximou-se, os braços apoiados sob a mesa e os ombros curvados, analisando-a.
“Quem é você que não pode esperar mais dez minutos para me ver?”
Ela cruzou os braços.
.”
“Não conheço nenhuma .” Arqueou as sobrancelhas. “O que veio fazer aqui?”
“Não é óbvio?”
“Se estou perguntando é porque...”
A garota ergueu a mão, interrompendo-o.
“Realmente gostar de dar jus ao seu velho mau humor, não é?”
“Você não me conhece, não sou assim, e eu não te conheço.”
“Não lembra quem sou, mas sei quem é você, .” “E quem sou eu?”
Ela mordeu o lábio.
“É filho de Irina .”
“Errado. Sou filho das drogas. Por ela, pago dez anos de prisão.”
olhou para o anel em seu dedo, pondo a mão sob a mesa.
“O que é isso?” perguntou.
“Um anel.”
“Não lembro o significado de algumas palavras.”
“É uma solitária. Fui pedida em casamento.” Deu um sorriso melancólico.
“Sei o que significa casar.” Tocou a pedra. “Seu noivo a ama?”
“Ele diz que sim.”
“E o que você diz a ele?” Ergueu os olhos, alcançando os dela.
Era a primeira vez que ia ao presídio para visitá-lo depois de adoecer e ter sido internada, começado a sair com outros caras e escolher o vestido de noiva, mesmo sabendo que poderia ser confundida, rejeitada ou abraçada. Com aquele homem sentado à sua frente, olhando atentamente para ela, sempre foi insano. Ele injetava drogas, e ela quem havia sido drogada. Com a droga do amor. E seu amor era ele. Sua droga favorita tinha o nome dele.
Por um segundo, desviou o olhar, tentando assimilar a pergunta sem ser invadida pela incisividade a qual a olhava, como se responder sobre o que sentia fosse complicado.
“O amor tem muitos nomes, você sabe.”
“Não, eu não sei.” Afastou-se. “Nunca senti amor, que eu me lembre.”
“Amo o que Bill faz para mim e o quão bem me sinto ao seu lado, apesar de, às vezes, achar que não é o suficiente. Tendo a querer mais do que posso ter.”
“Você merece mais, menina.”
Ela sorriu e limpou os olhos.
“Odeio não sentir todos os outros sintomas quando estou com ele.”
voltou a aproximar-se.
“Que sintomas?”
“Não deveríamos estar conversando sobre meu relacionamento amoroso com meu futuro marido.”
“Achei que precisava alugar um ouvido.”
“Obrigada.”
Ele sorriu anasalado.
“Vocé se chama e vai se casar. Quando? Poderei ir à festa? Não me lembro de ter tido uma.”
“Se estiver liberto, sim.”
“É um convite?”
“Bem, entenda como quiser.”
“Acredito que falta menos de algumas horas para isso acontecer.”
“Cinco meses.”
Contando nos dedos, falou:
“Reduzidos a dezesseis horas.”
“Está planejando uma...”
“Nunca lhe disse isso.”
“...Fuga?”
“Não.”
“Alguém o abordou?”
“Alguns assuntos não devem ser discutidos em voz alta.”
Ela curvou-se sob a mesa, abaixando o tom:
“Alguém o abordou?”
riu, percebendo logo em seguida o que fizera, e voltou à seriedade.
“Não é do seu interesse.”
“Sua bipolaridade é frustrante.”
Ele levantou, e suspirou.
“Estou cansado. Venha outra hora, se quiser.”
“Quer que eu volte?”
“Tanto faz.”

[...]

, volte. Volte para mim.”
A melancolia por detrás do som deixou-me angustiado. Queriam-me vivo, e estava, mesmo que não percebessem.
De repente, as pálpebras piscaram, e os olhos abriram.
A dona da voz tinha cabelo escuro, mas não identifiquei a cor de seus olhos ou vi nitidamente seu rosto.
“Desliguem os aparelhos.” Ordenaram.
Meu olhar desviou para o velho de cabelo branco e jaleco. Tentei impedi-lo, só que os lábios, agora, não se desgrudavam.
“Só por cima do meu cadáver!”
O velho observou a mulher.
“Será por cima do cadáver dele, senhorita.”
A enfermeira andou em direção aos aparelhos.
“Não!” Virou, olhando para meu corpo pálido e fraco, os olhos cheios d’água. “, você consegue me escutar?”
Pisquei.
“Graças a Deus” Sussurrou. “Ele está acordado, Alber.”


bateu várias vezes a cabeça na parede, as mãos fechadas em punhos ao lado. Teve pesadelos sobre momentos posteriores ao acidente. Virou de lado e deslizou. Sua memória fervia, e os pensamentos lutavam para não ser queimados.

***


“Vo-você es-está e-estressado.” Conor notou, a postura ereta na cadeira, um mês depois.
“Não aguento mais ficar aqui. Você é meu amigo?” “Sim.”
“Me tire daqui.”
O garoto ajeitou o óculos.
“Não po-pode sair agora.”
“Apague, então, esses flashbacks.” gesticulou ao redor da cabeça. “Faça algo!” Esmurrou a mesa, indo para cima dele.
Conor assustou-se, e o policial conteve .
“É me-melhor eu ir.”
“Vá e não volte.”

Olhando para o vestido pelo espelho de chão, via a estilista anotar suas medidas com uma fita na cintura. Usaria o modelo da vitrine. Em quatros meses, casaria-se na Igreja.
Ao sair da loja, encontrou-se com Conor em uma cafeteria no centro da cidade.
“E aí?”
“Ele qua-quase me a-atacou.” Conor respirou fundo. “Di-disse pa-para que eu não vo-voltasse lá.”
Ela tomou um gole do café.
“Sinto muito.”
“Vo-você va-vai me-mesmo se casar?”
“Claro, e você é meu padrinho.”
“Acho-o que não.”
“Conor
va-vai me ma-matar.”
“Ele perguntou se eu amava meu noivo. Entende o que isso quer dizer?”
“Si-sinto mu-muito.”
“Eu também.” Deixou a xícara no pires, o dólar na mesa e levantou. “Tenho que ir. Até depois.”

Virando a última página das palavras-cruzadas, começou a desenhar o rosto da garota dos sonhos, o formato afilado e a textura do cabelo.

Ela ergueu a minha perna para acomoda-la sob a almofada. Com isso, senti os ossos relaxarem. Movia-se pela sala extremamente branca, sem causar barulho, e, adormecido, reconhecia sua presença. Abria os olhos algumas vezes para vê-la, ainda que não conseguisse avistar seu rosto, e fechava-os rapidamente quando ela me olhava. Escutava-a cantar e falar algo, como se esperasse que eu a respondesse.
“Não deixarei aquele velho arrogante aproximar-se de você.”
A observei sentar ao meu lado.


Acabou adormecendo.

“Ele não fala nada?” A enfermeira perguntou certa vez.
“Não, apenas observa ao redor...” suspirou, tocando a minha mão.
“Alber está de olho nele. A polícia também. Quando estiver recuperado, será enviado para o presídio.”
“Eu sei.”
“Ele nos escuta?”
“Não tenho tanta certeza.”
“Tenho que checar outro paciente. Nos falamos depois.”
“Está bem.”
A senhora saiu, deixando-nos a sós. olhou para mim, notando que meus olhos a encaravam sem piscar.
“O quê?”
Desviei para nossas mãos unidas.
“Ah... Desculpe.” Soltou depressa.
“Por que me segurava?” A voz saiu falha.
“Sua pressão. Estava checando-a. Você está melhorando.” Sorriu amarelado, levantando-se. “Finalmente falou comigo. Pensei que não gostasse de falar.”
“Quem é você?”
O doutor Alber abriu a porta, interrompendo-nos.
“Senhorita?”
“Ele me respondeu.”
“Então está pronto para ser levado.”
“Não” tocou-lhe na testa. “Precisa continuar em observação.”
“O protege com todas as garras... Deveria ter vergonha de gostar de um viciado.”
irá para a clínica de reabilitação.”
“Sensato.”
“Temos que deixa-lo descansar, Alber. Por favor, saia.”
“Você virou seu segurança particular, o que é engraçado, já que ele tem mais de ciquenta homens fardados à sua espera.”


***


Cinco meses depois, vestiu, pelas tantas vezes, o vestido branco, que ia até os seus pés, a tiara com brilhantes e o véu, que estava sendo colocado pela estilista.
Era o dia do seu casamento.
Sua mãe fizera questão de acompanha-la, nas últimas semanas estressantes, quando soube que se casaria com Bill, e a presenteou com uma viagem para Vegas e Punta del Este. mudaria de cidade, acompanhando o noivo em seus negócios em Washington.
Havia recebido, mais cedo, uma mensagem de Conor, notificando-a que provavelmente se atrasaria para a troca de roupa porque era o dia que receberia liberdade. Sorriu, o primeiro sorriso desde que o dia clareou.
“Vo-vou busca-lo, .”
“Entendo.”
“Vo-você quer ir?”
“Tenho um noivo me esperando no altar.”
Ela escutou o suspiro no outro lado da linha.
“Ve-vejo vo-você ma-mais tarde. Re-recebi a fo-foto. Vo-você está li-linda.”
prestou atenção em seu reflexo no espelho.
“Obrigada.”

estava sentado na cama apôs tê-la arrumado. Banhou-se e trocou de roupa. Esperava alguém vir tirá-lo da cela para que pudesse chegar aos portões e ir para casa, mesmo que não tivesse uma. Qualquer lugar era melhor que aquele. Olhou para as revistas em sua mão e abriu uma, dedilhando o desenho, agora, nítido do rosto da mulher. Todas as visitas faziam sentido.
O policial abriu a cela e o observou.
“Hora de ser liberto, rapaz.”
“Foram dez anos.”
“Para aprender a nunca mais se meter com drogas.”
“Ela morreu para mim.”
“A droga adota os mais fracos e os viciam em seu cheiro e sabor. É necessário ser forte para se livrar do vício, mas não muito para negar a experiência. Cuide-se.”
levantou.
“Tem alguém me esperando?”
“Não.”
“Aquele garoto não veio?”
O policial prendeu seus pulsos, negando, e lhe deu passagem.
“Tem direito a uma ligação.”
sabia que ele não voltaria depois de tê-lo proibido.
“Não sei se tenho casa e pais.”
“Checaremos seu registro.”
“Certo.”

Um táxi parou em frente à saída do presídio de Nova Jérsei. Dois pares de chinelos tocaram o chão, e uma mão bateu a porta, vendo o veículo seguir pela rua deserta. Deu vários passos, alcançando a calçada, e, quando ficou perto o suficiente do portão, soltou os braços. O ferrolho foi aberto, e o portão abriu de lado, revelando dois policiais e um ex detento vestido com roupas velhas. Um deles abriu suas algemas e o libertou.

desceu do banco, segurando o vestido, e fechou o celular, pondo-o na mesinha. Sua mãe conversava animadamente com uma das funcionárias, analisando objetos de luxo para o casório. A estilista, até então, estava entretida, anotando suas medidas, quando virou, avistando-a tirar os saltos.
“Vai estragar o vestido. Não faça isso... Oh!”
Ela calçou chinelos, que possivelmente ofenderia o gosto refinado de sua mãe. Dando de ombros com o olhar confuso da mulher, saiu pela porta e entrou no primeiro táxi.


Notou que segurava uma garrafa com água e havia amarrado o cabelo. Ele franzia a testa. apressou-se em ir até lá, segurar seu rosto, erguer os pés e beijá-lo, antes que o líquido sequer molhasse cada curva de dentro dos lábios dele. Surpreso, abaixou o braço, sem movimentar-se.
Um carro prata parou no meio da rua e o vidro do banco do passageiro foi abaixado.
Nicolau apareceu ao lado de um velho de cabelo branco e acenou, com o telefone no ouvido.
Os olhos de se arregalaram.
avistou o veículo, depois olhou para o rosto, que ficou vermelho, dela.
Sufocada, tentava pronunciar algo, mas não conseguia mexer a face. O céu da boca adormeceu e sentia como se não existisse garganta. Repuxou o ar, e as mãos dele tocaram seus ombros.
?”
Ela soltou um ruído esganiçado, e sentiu os dentes amolecerem, mas não se importou.
“Não feche os olhos” A mente oscilava. “O que aqueles desgraçados fizeram?” Beijou-a, tentando tirar o veneno. “Droga, por que você me agarrou?”
Conor correu com um celular em mãos.
“Ele me-me li-ligou quan-quando es-estava vi-vindo.”
“Chame uma ambulância!” Gritou, erguendo-a pelas pernas, a voz embargando.
“De-deveria estar no se-seu ca-casamento, merda! Vai de-derruba-la!” Avisou quando tropeçou nos próprios pés.
Ele analisou a tiara e o tecido branco, as pálpebras fechando, como se não aguentasse o peso de tê-las abertas, assim como seu corpo em pé.
se casará comigo”
Conor segurou a garota antes que caísse, e a sirene de uma ambulância foi ouvida.
“De-deixe-a.”
“Afinal” disse baixo, esforçando-se. “Você é apaixonado por mim?”
“Eu sou homem, porra!” Conor retrucou sem gaguejar. “E sou seu irmão.”
“O quê?”
Os paramédicos pararam ao lado deles, e ficaram em silêncio.

[...]

observava o corpo esguio da garota deitada na cama hospitalar, com fios ligados aos aparelhos e dormindo. Ele havia recebido soro, devido aos resquícios do veneno em seu organismo, e, assim que acordou, sentou-se ao lado dela e não saiu mais. Tirou um papel do bolso, desdobrando-o, e comparou o desenho com seu rosto.
” Sorriu aliviado.
Recordou todos os dias em que notou analisando-a enquanto fingia dormir, quando era ele que estava em seu lugar, e as vezes em que segurava sua mão, acariciando-a. Exatamente o que fazia agora; tocou a mão menor que a sua, com cuidado, e plantou um beijo nela.
Conor abriu a porta.
“Vo-você está aí.”
“Ela ainda não acordou.”
“Os pa-pais de-dela estão vi-vindo.” Aproximou-se da cama. “O ca-casameto foi a-adiado.”
“E o noivo?”
“De-deve estar a ca-caminho também.”
“Não sabem quando vai acordar.”
“Ela está vi-viva... De-deve acordar em a-alguma ho-hora.”
suspirou.
“Se não fosse você, nós não estaríamos.” Caminhou até ele e o abraçou, e, rígido, Conor demorou a por os braços em suas costas, dando tapinhas fracos.
“Meu irmão.”
“Vo-você le-lembra-se de mim?” Umas rugas de surpresa formou-se ao redor de seus olhos.
“Ainda não” lamentou, vendo-o desanimar. “Mas sinto que temos uma ligação forte. Não preciso de teste de DNA para provar isso.” Soltou-o. sibilou.
“Vou deixá-los a sós.”
Agilmente, sentou-se na beirada da cama e tocou sua mão. A garota olhou para ele, a visão embaçada, até enxergar o rosto do ser que não a deixava dormir quieta.
“Onde estou?”
“No hospital.”
Conferiu o teto, os fios, a porta fechada e ele.
“Quem é você?”
Sentindo o ar escapar, respondeu:
.”
“Por que estou aqui?”
“Desta vez, porque sofremos um atentado.”
“O que quer dizer com “desta vez” ?”
Ele sorriu.
“Que?”
“Já esteve presa antes, e foi menos doloroso. Você estava tão...”
“Entendi.” ruborizou, o tom pálido da pele sumindo.
“O que está sentindo?”
“Ardência na garganta.” Engoliu a saliva. “Ai, droga!” Avistou uma sacola da loja onde havia comprado seu vestido de casamento. “Bill nunca me perdoará.”
“Não se preocupe com isso, apenas com sua saúde.”
Notando suas mãos unidas, franziu a testa.
“Por que está me segurando?”
“Uma enfermeira muito obstinada segurou minhas mãos quando eu era o paciente. É a minha maneira de dizer obrigado.
“Qual é o nome da sua mãe?”
“Irina.”
“Você tem irmão?”
“Conor, apesar de não lembrar dele ainda.”
Ela ajeitou-se na cama.
“E quem sou eu?”
arqueou a sobrancelha.
“É a garota dos meus sonhos.” Mostrou-lhe o papel, e viu o desenho.
“Precisei ser envenenada para que se lembrasse de mim?”
“Desculpe”
“Quem foi?”
“Nicolau e... Alber.”
Doutor Alber.
“Achei que o velho estava morto.”
“Ele não só está vivo como planejou nossa morte.”
“Nicolau é o filho dele.”
“E me ofereceu uma fuga, mas recusei, então quis me tirar do mapa para que eu não tivesse tempo de recordar nenhuma memória e incriminá-lo. Nicolau conseguiu fugir do porão daquela casa quando a polícia chegou. Fui preso com dois homens e não sei para onde os levaram. Ele me ofereceu drogas e disse que eram baratas. Eu não as vendia, mas eu estava lá naquele dia. Nós éramos aparentemente amigos.”
“Alber e Nicolau fugiram?”
“Sim. A polícia fechou as rodovias de Nova Jérsei, e todos os veículos estão sendo revistados, assim como os aeroportos.”
relaxou.
“Sabia que era você quando abri os olhos.”
“Quis me mostrar o quão horrível é não ser reconhecido por quem temos sentimentos? Quase chacoalhei você, em desespero, .”
.
sorriu.
“Você me quebraria.” E suspirou. “Queria saber se lembrou de mim, antes de ficar feliz por não ter me rejeitado pela 123456789 vez.”
“Nunca mais.”
“É uma promessa?”
“Sim.”
“Pode me prometer que nunca mais se meterá com as drogas?”
“Tudo por você.”
“Não, , por nós dois. É a sua vida que estará em risco, mas eu estando ao seu lado, me coloco na linha de fogo.”
“Não quero que esteja vulnerável e... Espera. Vai ficar comigo? Já decidiu?”
“Como nos velhos tempos.”



FIM



Nota da autora: É só isso, não tem mais jeito, acabou, espero que gostem! HAHAHA

Beijos,
Ray.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

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