07. Strings

Finalizada em: 15/05/2018

Capítulo Único

[Narrador On]


- Shawn meu bem, cuidado. - Karen diz com um grande sorriso no rosto encarando o filho, esse que tinha as bochechas gorduchas vermelhas pelo frio, a capa de chuva amarela o fazia se sobressair no dia nublado, enquanto as galochas pretas o ajudavam a pular nas poças de chuva, espalhando água para todo lado.
- Desculpe mamãe! - O garoto diz, sorrindo sapeca enquanto continuava a pular em todas as poças durante o caminho para o parque.
Karen nega e acaricia os fios suados do menor que grudavam em sua testa enquanto ele pulava, Shawn sempre se animava para ir ao parque. Já que o parque era sempre vazio, e isso ajudava na timidez alta do garoto.
A caminhada tranquila foi interrompida assim que chegaram no local, e descobriram que novas pessoas tinham descoberto o parque. Shawn não pensou duas vezes e correu para entre as pernas de sua mãe, olhando de testa franzida para a cena a sua frente, um misto de revolta infantil banhando sua feição.
- Mamãe, quem são elas? - Pergunta o pequeno, enquanto a mulher mais velha tentava identificá-las.
Logo, a mulher que antes brincava com a filha, que aparentava ter a mesma idade de Shawn, se aproxima com a menina no colo. Seus fios ruivos estavam presos em duas marias chiquinhas, e sua roupa florida já toda suja de lama.
- Oh, olá. - Diz a mulher também ruiva. - Meu nome é Lucy, e essa é a pequena ! - Balança a filha no colo, e a coloca no chão. Shawn encarava a menina de olhos semicerrados, pensamentos de "ela roubou meu parquinho" rodeavam a cabeça do pequeno. - Somos novos na vizinhança, chegamos ontem.
- Isso é ótimo, prazer, sou Karen, e esse é meu filho Shawn. Bem-vinda! - Diz Karen simpática, apertando a mão da outra mulher. - Eu vi o caminhão de mudanças, vocês estão na nossa rua, algumas casas à frente!
As mulheres mais velhas entram em uma conversa sobre o clima frio e sobre coisas aleatórias, enquanto os pequenos estavam na mesma posição.
- Oi. - diz, mostrando seus dentes de leite em um sorriso um pouco torto. Shawn continuou a encarando e resolveu a ignorar, enquanto apertava o pano da calça de Karen. - Ei, você não fala não? - A menina pergunta de forma rápida, mexendo demais a cabeça, na opinião de Shawn, esse que continuou calado somente encarando. - Mãe, tem algo errado com esse menino!
diz alto, chamando a atenção das mulheres, que a encaram e dão risadas.
- Não diga isso pequena, ele só está com vergonha. - Lucy diz encarando as bochechas ainda mais vermelhas do menino, ela se agacha na altura dos dois e acaricia o rosto corado. - Quantos anos você tem querido?
Shawn mordisca os lábios enquanto encara os dedos gordinhos brincando uns com os outros, olha para cima, vendo a mãe concordar com um sorriso no rosto, e então o menino dá um passo para frente, e ergue seis dedinhos.
- Seis, meu aniversario foi no zoológico. - Diz timidamente, porém se animando ao lembrar do aniversário.
- Wow, que legal, também tem seis! - Sorri a mulher, e então se ergue, bagunçando os fios do pequeno. - Vão brincar, olhe só, um parquinho só para vocês. - Diz indo para o lado de Karen.

[Narrador off]


O alarme marcava 3:10 da manhã quando meu celular começou a tocar, havia duas opções do que poderia significar: algo horrível aconteceu com a minha família, ou ele estava na cidade. Após pegar o celular e olhar brevemente com os olhos desacostumados por tal intensidade de luz, constatei que era ele.
- Estou aqui na porta. - Nada de "oi" ou "como vai", defronte a tal situação costumeira para ambos ele sabia que não precisava de tal formalidade ao telefone, tampouco eu tinha paciência para isso.
- Okay. - respondi apressadamente já finalizando a ligação, queria pedir mais 5 minutos para continuar na minha cama, mas eu não gostava de o deixar esperando, afinal eu sempre esperava por uma chance de passar algum tempo com meu melhor amigo.
- Surpresa! - Ele disse assim que abri a porta e o encontrei com flores e uma caixa em seus braços.
- Mais surpreendente do que aparecer a minha porta às 3:00 horas? Yay. - disse com falsa animação para torturá-lo um pouco.
- Quando se trata de ver você, eu perco a noção do tempo! - Ele sorriu formoso. Dei alguns passos para trás para que ele pudesse entrar, e então deixou os presentes em cima do centro da sala.
- Isso é algum pedaço das suas músicas? Se não, deveria. - Eu sorri fraco, ainda atordoada pelo sono. - Morri de saudades suas. - pulei em cima do mesmo o abraçando.
- Você parece bem viva para mim. - Ele afastou-se de mim, analisando.
- É que eu decidi ressuscitar ontem. - Então caímos na gargalhada.
-Eu também "morri" de saudades suas. - ele sorriu se aproximando. - Da sua voz, sua boca. - seus dedos contornavam meus lábios como se fosse um tipo de arte que ele precisasse sentir. - Do seu cheiro. - seu nariz gelado pelo tempo lá fora, passava pelo meu pescoço quente, causando um atrito prazeroso, fechei meus olhos tomada pelo momento e desejo. - Você ainda quer fazer isso? - Eu abri meus olhos para encará-lo, alguns meses atrás eu sugeri que parássemos com o sexo sem compromisso.
Éramos amigos há tanto tempo que eu tinha medo de estragar todos aqueles anos.
- Esse tempo longe me fez mudar de ideia, eu seria louca por dispensar um Deus grego.
- Você não sabe o quão bom é ouvir isso. - Ele sussurrou ao meu ouvido, Shawn não era do tipo que se gabava sobre o seu corpo, mas ele sabia que tal porte despertava o interesse de muitos.
- Vamos ficar de conversa, ou vamos direto ao assunto? - sorri cínica.
- Não seja por isso. - Dito isso, ele colocou sua mão em minha nuca e então me beijou, eu odiava o fato de que não importava quantas bocas eu beijasse, a dele teria sempre o melhor encaixe, e ele o melhor beijo. Mas se dependesse de mim, ele não ficaria sabendo disso, ou então não me deixaria em paz pelo resto da vida. Senti suas mãos descendo pela lateral do meu corpo até parar em minha coxa, arfei quando ele apertou antes de segurá-la e colocar minha perna ao redor do seu corpo, fazendo com que assim nossos corpos ficassem mais próximos.

O alarme tocou, e eu mal havia tido tempo de fechar meus olhos, Shawn havia acabado de adormecer. Me levantei sem fazer barulho e desliguei o abajur, pois a pedido dele havia ficado ligado durante toda a madrugada que passamos nos amando, sim, ele é do tipo que diz amar ao invés de transar ou algo pejorativo como "foder". Não vou negar, eu também era do time que só fazia se houvesse algum sentimento envolvido. Me arrumei no banheiro, e fui para a cozinha, liguei a cafeteira, e me apoiei no balcão enquanto esperava ficar pronto.
- Bom dia. - disse Shawn beijando meu ombro desnudo, era incrível como ele era disposto de manhã mesmo não dormindo nada.
- Sabia que é pecado estar de pé cedo, quando você está de folga e pode dormir o dia inteiro?
- Eu gosto de acordar cedo, além do mais vou ir na casa dos meus pais. - Ele disse colocando o pão na torradeira.
- Manda um beijo pra eles. - Peguei o café e servi em duas xícaras.
- Acho melhor não. - franzi a testa com tal resposta.
- E por que não? - rebati.
- Todo mundo sabe que cheguei tarde, e se você mandou beijo é porque eu passei por aqui, ai iriam vir as perguntas e como eu não tenho respostas, prefiro prevenir.
- Shawn, eu...
- Está tudo bem, entendo o seu lado. - Algumas vezes, Shawn perguntava se eu não queria algo mais sério, por ele já teríamos todos os tipos de compromissos, mas eu sofria de filofobia, e ele sabia bem dessa história. Que nada mais é que aversão a paixão. Eu o amo como o amigo, pois nunca me permiti amá-lo de outra maneira. E todo mundo sabia, ou desconfiava dos nossos rolos.
- Tenho que ir trabalhar, deixei sua chave reserva no centro. - Beijei sua bochecha.
- Tudo bem, bom trabalho. - ele disse retribuindo o beijo.

Após alguns dias, Shawn teve que viajar novamente, estava trabalhando em seu novo álbum e provavelmente dessa vez ficaria mais alguns meses fora. Como parte da rotina na primeira semana eu ficava bem sentimental, sentindo a falta dele, mas a partir da segunda semana eu já me sentia um pouco melhor.
- Hastings, nós vamos sair hoje e eu não aceito um não como resposta. - Clair impôs ao chegar no estúdio em que eu estava trabalhando como freelancer.
- É impressão minha ou você falou no imperativo? - Eu ri de sua audácia, típica da minha amiga.
- Ultimamente, é o que tenho que usar com você.
- Onde iremos? - comecei a guardar os equipamentos.
- Bar244.
- O que fica na Adelaide street?
- Esse mesmo.
- Vocês vão sair hoje? - Stella apareceu do nada.
- Nossa Stella que susto, você apareceu...
- De repente. - Claire completou minha fala, ou me cortou antes que eu soasse grossa.
- Ah me desculpe, bem eu estava entrando no estúdio e eu escutei vocês falando, foi sem querer, mas já que eu nunca saio por aqui, pensei por que não? - Ela falava tudo tão rapidamente, que eu me perguntei se havia tempo para respirar.
- Por que você não vem com a gente? - Perguntei colocando a mão no seu ombro. Stella trabalhava e estudava conosco, era uma pessoa legal, tímida, mas as vezes um pouco irritante.
- Jura? - Ela perguntou surpresa.
- Sim, assim você vai conhecer pela primeira vez a balada. - Claire riu pela animação de Stella.
- Muito obrigada! Bom, eu não bebo, posso dirigir.
- Você tem mais de 19 anos, certo? - Minha amiga perguntou e ela assentiu. - Por segurança caso queira tomar ao menos uns goles iremos de táxi.

Sai do estúdio antes, enquanto Clair havia ficado para trás para fechá-lo, ela era efetivada lá e quando surgiu uma chance para freelancer, logo me indicou e eu passei pelo processo, e estava contente com o trabalho, mesmo que temporário. Estava chegando perto do carro, quando começou a chover forte.
- Merda! Por que eu nunca acho nada na minha bolsa? - Eu revirava as coisas a procura da chave, sabia que a culpa de não achar nada era minha, afinal, eu só jogava as coisas lá dentro. Puxei um chaveiro de elefante e sabia que estava salva, rapidamente destranquei o carro e entrei no mesmo. Alguns fios estavam grudados no meu rosto, e a água escorria pelo mesmo, peguei uma toalha no banco de trás, dei uma leve secada no meu cabelo e rosto, e a coloquei no meu banco para que não molhasse.
- " pra que tanta coisa nesse carro?" - Imitei Shawn, ele sempre questionava porque eu deixava tanta coisa no meu carro. - Se eu não tivesse preparada agora, o carro ia ficar cheirando a cachorro molhado por 1 mês. - Continuei falando sozinha.
- I didn't mean to end his life, i know it wasn't right... - Conectei o celular no som e começou a tocar "Man Down". - Runpampam.... Man down! - meus dedos batiam no volante no ritmo da música.

...


Estava terminado de calçar a minha bota, quando meu celular começou a vibrar loucamente.

"Estamos aqui embaixo!!!!!" – Clair

Peguei minha bolsa e o casaco e sai de casa, encontrando Clair e Stella dentro de um táxi parado na porta do meu prédio, devido à falta de luz não pude ver direito, mas Stella parecia bem diferente do que eu via no dia-a-dia. Em alguns minutos chegamos até o local, lá dentro Stella parecia deslumbrada com as luzes.
- Quais são suas primeiras impressões? - Perguntei a Stella após deixarmos nossos casacos e irmos para o bar.
- Melhor do que na TV. - Eu ri fraco de sua resposta.
- Você comeu antes de vir? - Clair perguntou.
- Sim, eu jantei. - respondeu Stella, meio confusa com a pergunta.
- Três shots de tequila, por favor. - Pedi ao bartender.
Stella se animou com a bebida, deixou a razão de lado e se jogou na emoção, estava fazendo passos loucos na pista. Aparentemente estava se divertindo como nunca. Já as minhas emoções estavam me deixando para baixo, eu estava sozinha por alguns minutos e comecei a pensar onde Shawn estaria agora, respirei fundo e pedi mais uma bebida.
- Não, não, não! - Claire apareceu do nada gritando comigo. Eu a olhei sem entender sua reação.
- Estamos aqui para nos divertir, fazer o que ela está fazendo. - ela apontou pra Stella. - Okay, não exatamente o que ela está fazendo, mas enfim você entendeu. - Ri fraco.
- Não sei porque estou assim. - Eu disse e minha amiga me deu um olhar divertido que dizia " Não sabe ou não quer admitir?" - Bom, vamos para a pista.
- Agora sim! - Fui sendo arrastada para a pista e começou a tocar Despacito, olhei para a minha amiga e sabia que iríamos dar um show.
A Tequila fazia efeito em nossos corpos, sentia meu corpo leve, sem ter total noção dos movimentos que fazia. Apenas acompanhava a batida da música, Claire dançava ao meu lado e ia até o chão. Mesmo com álcool em minhas veias eu não me desafiaria a tanto, havia uma grande possibilidade de descer e não voltar mais, ou pior, ficar travada durante a semana, o que já havia acontecido outra vez. Talvez fosse um aviso de que meu corpo precisava de mais ação do que algumas noites fora. Durante nossa performance, por assim dizer, reparei em um cara maravilhoso me olhando, ele era alto, loiro, os cabelos lisos na altura do queixo e sua barba perfeita. Na minha visão, após alguns shots de tequila, ele era a cara do Chris Evans, ator por qual eu nutria uma paixão nada secreta.
- Claire. - Eu disse a cutucando de forma sutil. - É o álcool no meu cérebro ou aquele cara parece o capitão América? - Ela disfarçou e virou lentamente, seus olhos percorriam cada centímetro do corpo dele, e sua boca se abriu em um perfeito "O".
- Agora já pode parar de babar que é meu. - Eu sorri para ela e sai rebolando direção ao bar. Cheguei como se não houvesse notado sua presença, ele estava acompanhado por alguns amigos. Pedi uma bebida, não me atentei ao nome, só sabia que era algo tropical e forte. Toda vez que o cara virava de costas eu o secava, e quando ele virava eu fingia não estar nem aí, após algumas encaradas, sorri quando vi que ele estava vindo em minha direção, A técnica da cordinha, nunca falhava.
- Talvez você tenha perdido algo por aqui. - Disse, me mostrando seu sorriso maravilhoso, e eu me perguntei o que brilhava mais, seus olhos claros ou seu sorriso.
- Difícil perder algo que não se tem. - Sorri cínica.
- Você pode ter se quiser.
- Tão fácil assim? - Ele riu se encostando ao balcão, mantendo uma distância respeitosa entre nós.
- Não tenho muita lábia, admito! Mas eu vejo que você quer, eu quero... - Ele proferiu pendendo sua cabeça para o lado.

...


Em poucos minutos já estávamos nos agarrando em um banheiro.
- Não acredito que estou fazendo isso em um banheiro.
- Você que não quis sair daqui.
- Gosto dessa coisa de começar algo e talvez não terminar, provar antes do prato principal.
Nos beijávamos ferozmente, sua mão em minha nuca bagunçava o meu cabelo e eu puxava o seu para trás. Sua barba roçava em meu rosto causando uma fricção boa, seu perfume era tão bom, quase tão bom quanto o do meu amigo. No meio de todo aquele alvoroço, meu telefone começou a tocar. Eu ignorei, e tocou de novo.
- Acho melhor você atender, pode ser algo importante. - Disse o cara dando um passo para trás, sorri para o mesmo e atendi a ligação.
- Alô? - não havia olhado quem era, apenas apertei o botão.
- Estou no seu apartamento. - Era a voz de Shawn. - Posso voltar amanhã se quiser.
- Eu já estava indo pra casa, me espere, por favor.
- Tudo bem, cuidado!
- Eu tenho que ir embora. Adorei te conhecer...
- Drake. - Ele disse estendendo a mão.
- . - apertei sua mão. - Por que você não me passa seu número e sei lá, marcamos de se ver qualquer dia?
- Claro.

...


- Ahh. - Gemi ao tirar o salto na porta de casa.
- Que porr... - Shawn saiu da cozinha com uma cara de assustado. - Uau, você teve uma noite e tanto hein. - Ele disse cruzando os braços.
- É, foi legal.
- Dá para perceber pelo seu batom borrado, e seu cabelo bagunçado.
- Shawn... - Eu o repreendi
- Tudo bem, não tenho nada a ver com isso, não somos nada além de amigos. Aliás, quero que você saiba de algo. - Ele disse e voltou para a cozinha, trazendo de lá duas xícaras com chá.
- Me dá só um minuto. - fui para o meu quarto me trocar e fiquei presa na camiseta. - Shawn! - Gritei abafado pelo tecido cobrindo meu rosto.
- Eu me pergunto como você se vira bêbada sozinha.
- Geralmente eu durmo, antes de pensar em tirar a roupa. - Sorri inocente, ele riu baixo e me ajudou. Peguei uma camiseta dele e coloquei por cima da lingerie que eu estava usando.
- Não sei o que você vai falar, mas seu corpo está me distraindo. - disse bebericando o meu chá, após me acomodar a sua frente no sofá da sala.
- Eu estou saindo com uma pessoa. - Ele disse sério.
- Eu conheço?
- Hailey Baldwin. - Ele jogou na lata.
- Uau, Modelo. - Ri fraco olhando pro meu chá.
- Você não viu nada?
- O que eu deveria ter visto?
- Eu estava com ela hoje, pelo centro. Um paparazzi e os fãs tiraram fotos nossas.
- Desculpa eu estava trabalhando, não tive tempo para acompanhar a sua vida. Por que você está aqui? Se ela está na cidade você deveria estar com ela. - Eu comecei a me irritar.
- Eu vim ver você, como sempre faço. - Ele se levantou do sofá, aparentemente ofendido. - Não sei por que está reagindo assim.
- Eu não era suficiente pra você! - gritei e fui para o banheiro chorar.
- , sai daí. Vamos conversar.
O álcool havia me pegado de jeito, quando vi, já estava chorando na frente do espelho. Os olhos e o nariz vermelhos, já começando a ficar com coriza, malditas doenças respiratórias crônicas. Eu estava uma bagunça, soluçava de tanto chorar.
- Você está bem? - sua voz soava preocupada através da porta.
- Eu...Eu, estou, pode ir embora. - Eu estava brava por ele estar com alguém, não deveria, até uma hora atrás estava me agarrando com um desconhecido. Mas parecia que eu não sabia o que eu queria até perder.
- Vou esperar você sair daí.
Retirei a camiseta e a lingerie, prendi o cabelo em um coque, e entrei no box. A água quente relaxava meus músculos, e eu me permitir chorar mais um pouco ali debaixo d'água. Tirei qualquer resquício de maquiagem, pois sabia que se deixasse acordaria no dia seguinte com a pele horrível. Coloquei apenas a camiseta e enrolei a toalha na minha cintura.
- Pensei que iria dormir lá. - Disse Shawn, esparramado sobre a minha cama. Eu não disse nada, apenas passei por ele e fui até meu armário a procura de uma calcinha confortável. A coloquei ali mesmo e retirei a toalha, a joguei em qualquer lugar e fui para a cama.
- Quero deitar. - disse empurrando o Shawn.
- Você tomou um puta porre hein.
- Foram apenas algumas doses, e um drink. - Eu disse deitada com a coberta até os meus ombros. Após o banho, o álcool parecia que ia se evaporando aos poucos e eu recuperava minha razão aos poucos também.
- Vou deixar você dormir. - Ele disse se levantando e dando um beijo minha testa.
- Você não vai deitar aqui? - Franzi as sobrancelhas.
- Não, vou deitar no sofá.
- No sofá, mas você sempre dormiu aqui e... - Parei lembrando que havia um motivo, com nome e belas longas pernas. - Boa noite. - Ele riu fraco e apagou a luz do cômodo se retirando.

Acordei sentindo cheiro de café, meu estômago roncava. Assim que abriu os olhos senti um pouco de dor de cabeça, me virei na cama dando de cara com uma cartela de advil e a garrafa d'água. Sorri sozinha e tomei o comprimido. Fui ao banheiro e eu estava mal, mas poderia estar pior.
- Eu iria levar pra você. - Shawn pareceu desapontado quando eu entrei na cozinha.
- Não é como se eu não pudesse andar até a cozinha.
- Enfim, queria fazer um agrado. Quero conversar com você.
- Me deixe falar primeiro, quero lhe pedir desculpas por ontem à noite. Eu havia bebido e agi como uma criança mimada em alguns momentos. - Eu disse colocando a mão sobe seu ombro que ficava apenas há uns 20 centímetros acima do meu.
- Está tudo bem, eu que não devia ter jogado aquilo assim cima de você. E acho que interrompi sua noite. Vamos tomar café?
- Uau, você com certeza gastou bastante na padaria. - Eu olhei a mesa com pães, croissant, bolos e etc.
- Acho que exagerei dessa vez. Como vai o serviço? - Nos sentamos à mesa e ele me serviu café.
- Ótimo, porém eu sou freelancer, então logo poderei estar desempregada, essa semana saberei se eles vão estender meu tempo lá ou me mandar embora.
- Você é incrível, aposto que vai ser efetivada.
- Assim espero. Você vai ficar por quanto tempo?
- Alguns dias.
- A Hailey também? - Perguntei receosa.
- Não, ela tem que ir embora hoje. Quando houver uma oportunidade quero que você conheça ela, tenho certeza que se darão bem.
- Imagino que sim. - Disse incerta. - Tenho uma coisa pra você. - Me levantei e fui até o meu quarto, eu havia revelado algumas fotos do Shawn que havia tirado e colocado em uma caixa.
- Holy Shit! - Ele disse, após abrir a caixa e pegar as fotos. - Isso aqui tá muito bom.
Terminamos de tomar café, comi mais do que devia afinal, havia tanta coisa que era difícil resistir.

- Minha mãe chamou você para almoçar lá casa. - Disse Shawn jogado no sofá, enquanto eu estava no outro, zapeando pelos canais até encontrar um programa de culinária.
- Pode ser. - Eu respondi, amava os Mendes, e fazia algum tempo que eu não os via.
Após algumas horas fui me arrumar, estava encarando meu guarda-roupa há um tempo quando Shawn chegou de repente.
- Essa demora toda para escolher uma roupa?
- Estou pensando em uma roupa que eu possa ficar confortável, após comer muito. - Sim, esses eram meus planos. Karen era uma ótima cozinheira.
- Que tal essa calça? - Shawn pegou uma calça de Moletom cinza.
- Seria ótimo, se não fosse sua. - Eu desdobrei e pelo tamanho ele viu que aquela peça não era minha. - Mas você me deu uma boa ideia. - Procurei e encontrei minha calça de moletom preta, peguei uma camisetinha e separei um casaco.

...


- , que bom que veio. - Karen me abraçou forte quando abriu a porta, senti uma ponta de culpa, afinal morávamos relativamente perto e fazia algum tempo que eu não os visitava.
- Me desculpe por ser tão desleixada, senti saudades de vocês também.
- Não se preocupe, nós entendemos querida. Entrem. - ela abriu mais a porta. - Cadê o casaco menino? - Repreendeu Shawn, ao vê-lo entrar com apenas um casaco fino. E se tratando do Canadá, aquilo era nada.
- Ficou no carro. - Ele sorriu inocente pra sua mãe.
- Aaliyah está colocando a Mesa. - pendurei meus casacos e deixei as Uggs na entrada.
- Você está pedindo para ficar doente menino! - Karen disse indignada ao ver que Shaw estava sem meias. Eu apenas ri da cena, que era comum pra mim devido aos anos de convivência.
- Oi Aly. - Eu a abracei apertado, era incrível o quanto ela crescia, cada vez que eu a via ela estava maior.
- Lembrou o caminho de Pickering, ou o Shawn precisou te lembrar? - Ela disse sarcástica, eu ri, mas pude ver que ela parecia magoada. A abracei novamente e sussurrei em seu ouvido. - Desculpa mesmo.
- Pois seu Manuel, quanto tempo. - Eu disse em português.
- Meu orgulho. - Manny me abraçou rindo, ele me chamava assim, já que eu era a única com vocabulário mais extenso em português. Quando Shawn era pequeno, ele tentava ensinar ao filho algumas coisas de sua cultura, inclusive todo anos eles passavam férias em Portugal, mas Shawn mal sabia dizer " Boa noite".
- O que posso dizer, garotas são mais espertas. O Shawn por exemplo ainda está aprendendo inglês. - Todos riram, as vezes Shawn trocava singular e plural, e eu como a boa amiga o enchia o saco algumas vezes.
- O jantar está servido. - Karen colocou uma travessa com frango assado na mesa. Todos nós sentamos e começamos a nos servir.
- Como vai a faculdade? - Manny me perguntou após eu lhe passar o purê de batata.
- Está quase no fim, é bacana, mas não vejo a hora de acabar. Eu só preciso de um projeto final.
- Tem alguma ideia do que fazer? - Shawn perguntou.
- Para falar a verdade, não. Tenho algumas opções, mas nada parece consistente.
- Com licença. - Shawn se retirou da mesa após seu telefone começar a tocar.
- Você já conheceu a Hailey? - Aly disparou assim que o irmão saiu da mesa.
- Bom, Shawn comentou comigo sobre ela, mas eu ainda não tive a oportunidade de conhecê-la.
- Uma pessoa adorável, gostamos muito dela. - Disse Karen.
- Vocês já a conhecem? - Eu perguntei atônita.
- Shawn a trouxe aqui ontem. E acredita que ela tem parentes brasileiros? Ela entende bem português e consegue falar bastante coisa.
- Isso é maravilhoso, será que agora o Shawn aprende algo? - Eu disse.
- Duvido muito. - Disse Aly.
- O que foi filho? - Manny perguntou ao ver o filho se sentar novamente a mesa frustrado.
- Era o Andrew, O Josiah quebrou algum osso do braço, Ul... Alguma coisa, e vamos ter que substituí-lo para a mini tour.
- Ulna. - Eu disse orgulhosa do meu conhecimento em anatomia.
- O quê? - Shawn me olhou com as sobrancelhas arqueadas.
- O nome do osso.
- Desde quando você entende de anatomia?
- Desde de quando eu prestei atenção nas aulas de anatomia no ensino médio.
- Essa doeu até em mim. - Aly riu.
- Bom, ele quebrou isso ai. E agora não sei o que fazer. - ele me olhou de forma divertida, se virando depois.
- Isso é terrível. - Karen disse. - , você não sabe de alguém?
- Mãe, ela é boa. - Aly disse.
- Mas ela está trabalhando filha. - Aly pareceu se dar conta após a fala da mãe, e bufou frustrada.
- Até conheço, mas com a influência que o Shawn tem, com certeza ele pode entrar em contato com alguém melhor.
- Ou você poderia ir comigo. - Shawn se virou para mim.
- Eu não sei, é como a Karen disse, eu trabalho.
- Você poderia usar isso como seu projeto. - Ele começou a ficar animado.
- Posso pensar?
- Claro. - ele sorriu terno.

...


- Agora sim. - Karen disse após colocar as meias nos pés de Shawn.
- Me pergunto quantos metros de tecido para cobrir esses pés.
- Você acaba comigo. - Ele riu.
- Mas eu te amo. - Sorri.

...


Após passar um tempo na casa dos Mendes em Pickering. Shawn e eu voltamos para Toronto. Ele me deixou em casa e foi para o seu apartamento. Chegando em casa, recolhi algumas coisas que estavam foram do lugar e fui até a cozinha, preparei um chocolate quente e enquanto esfriava um pouco, busquei minha coberta no quarto junto com o notebook e a mesinha. Me sentei no sofá com as pernas esticadas e comecei a dar uma olhada no meu e-mail, havia lido em um artigo que uma pessoa que organiza seu e-mail, e sempre exclui os e-mails é uma pessoa bem sucedida. Até agora eu não posso comprovar nada, mas é uma satisfação enorme poder achar tudo mais fácil.

"Reunião importante"

Um e-mail, com esse assunto, havia acabado de chegar na minha caixa de entrada, era o e-mail do estúdio. Meu coração pulou algumas batidas e perdeu o ritmo. O e-mail não dava muitos detalhes, mas eu já imaginava do que se tratava. Peguei meu celular e liguei imediatamente para Claire.
- Ei, por acaso teria alguma chance de você saber do que se trata essa reunião de amanhã? - perguntei assim que ela atendeu o telefone.

- Não faço a mínima ideia, não é do meu setor.
- Poxa, tudo bem então, acho que vou ter que esperar até amanhã. - ri fraco, um pouco desapontada por não saber de nada.
- Não pense no pior, pode ser que essa reunião seja para efetivar você, comigo foi assim. - Assim que ela falou me animei um pouco.
- Vou tentar não criar muitas esperanças caso o tombo seja grande.
- Pare com isso, você é excelente e sabe disso, eles serão bobos se não efetivarem você.
- Obrigada, nos vemos amanhã então.
- Bem cedinho! Beijos. - e finalizamos a ligação.

Sempre fui uma pessoa ansiosa, então qualquer coisa sobre esperar até o dia seguinte me deixava na beira de um possível ataque de loucura. Após falar com Claire, eu resolvi que iria dormir, bem, não deu certo. Me virei na cama diversas vezes, e meus olhos somente se fecharam bem tarde, tanto que quando o despertador tocou, eu achei que somente tinha piscado. Enquanto eu me arrumava, pensava em todos os tipos de merda que poderiam acontecer, eu tinha um velho extinto de sentir coisas ruins, e agora não era muito diferente. Eu entrei no estúdio com um copo de café pela metade, e uma expressão de poucos amigos. Eu nem mesmo arrumei o cabelo, que belo dia. De longe avistei Claire, porém ela parecia ocupada, nem mesmo tive tempo de andar até ela, já que a chefe daquele setor apareceu na porta de sua sala e abanou as mãos na minha direção, me chamando para entrar.

- Olá . - A mulher disse assim que entrei na sala grande, recheada de fotos bonitas. - Sente-se, mesmo que eu planeje ser rápida. - Entortei os lábios pela forma como ela parecia fria, sua aparência me lembrava Edna, de os incríveis, "nada de capas". Vaca. - Bem, eu andei olhando suas fotos, você tem um bom talento, porém não o que realmente eu procurava. Te demos essa vaga temporária, na verdade estávamos em busca de alguém que tivesse esse perfil que eu queria, e bem, achamos. Então eu te agradeço por todos os dias trabalhados.
- M-Mas... - Gaguejei sem realmente saber o que fazer, meu coração estava apertado, eu não queria chorar, era tão triste essa sensação de não ser a pessoa escolhida para qualquer coisa.
- Não se preocupe, iremos te pagar tudo por esse mês ainda, estará na sua conta antes de começo do próximo mês. - Disse de forma esnobe, guardando minhas fotos em uma pasta que provavelmente acabariam no lixo assim que eu saísse dali. Meu sangue estava começando a ferver, que merda, eu não ligava para o maldito dinheiro dela, era por toda experiência e companhias envolvidas. Respirei fundo e dei meu melhor olhar de deboche, enquanto levantava da cadeira com o peito estufado, eu poderia estar destruída por dentro, mas ninguém jamais saberia.
- Só isso? - Pergunto mantendo o nível da voz baixo.
- Pegue suas coisas no armário. - A voz dela soa risonha, e então eu me viro. - Ah! - Diz, me fazendo encar-la novamente. - Feche a porta ao sair. - Finaliza sorrindo como o maldito Cheshire. Saio bufando daquela maldita sala, avistei Clarie de longe e então acenei.
- Você está tão vermelha quanto seu cabelo. - Ela brinca até ver minha real situação, puxando minha mochila, meus rabiscos de ideias de futuras fotos e até mesmo meu tripé que comprei com o primeiro salário. - O que aconteceu?
- Fui demitida! - Esbravejo, tentando colocar o tripé na mochila e falhando miseravelmente.
- Como? - Os olhos de minha amiga se arregalam.
- Algo sobre eu ser somente temporária e eles já terem alguém fixo para meu lugar. - Bufo colocando a mochila nas costas, minha bolsa de lado e o tripé nas mãos.
- Demônios. - Ela xinga e logo me abraça. - Não se abale por isso querida, você vai achar algo melhor que isso. Eu aposto. - Me senti um pouco melhor, mesmo que algo martelasse dentro de mim avisando que tudo iria desmoronar bem ali. Me despedi de Clarie e de alguns outros fotógrafos, e praticamente corri para fora daquele lugar. Eu caminhava em passos pesados e expressão fechada, e assim que parei no sinal para atravessar a rua, ouvi duas garotas conversando.
- Cara, você ouviu o link que te mandei? - Uma delas dizia, animada e a outra concordou.
- Sim, a voz dele é linda, quer dizer, ele é lindo. - Essa soou apaixonada e risonha. - Ele vai entrar em tour, precisamos ir! Tenho que ver Shawn ao vivo e a cores, tocar naquela pele gostosa! - Uma delas disse fazendo a outra rir, e então atravessarem a rua. Eu continuei parada, algo em minha mente gritava "diga que você já tocou a pele gostosa", mas me controlei e atravessei a rua. Ver meu amigo famoso era estranho, eu me sentia como parte deslocada dessa vida dele.

Entrei em casa jogando as coisas pelo chão enquanto me lembrava sobre o que ele disse durante o jantar, ele precisava de alguém para fotografá-lo, e bem, eu estava meio que livre agora. Me joguei no sofá e peguei o celular do bolso.

Eu: Está por aqui ainda? - Mando, e segundos depois chega a resposta.


Shawn: Estou. Algum problema?


Eu: Nah, só queria saber se você poderia vir aqui. - Mordi os lábios em ansiedade, odiava me sentir assim sempre que se tratava dele.


Shawn: Claro, estou indo. Tudo bem mesmo? Nenhum problema sério? - A preocupação de Shawn sempre me deixou feliz, sabia que meu amigo se preocupava comigo me deixava de alguma forma aquecida.


Eu: Algo sobre eu querer fotografar essa sua cara feia por um tour ai :D - Mando e dou risada, ele nem mesmo responde. Acredito que viria direto para cá agora.


...


Os dias seguintes foram seguidos de correria. Quase não parei em casa, tive de resolver alguns problemas com meu passaporte, com visto e até mesmo passei quase um dia inteiro para decidir qual mala eu iria levar comigo, fora as roupas e tudo que eu precisaria para a Tour e os equipamentos. O primeiro Show seria no sábado à noite, e como hoje era sexta, decidi chamar Claire para dormir comigo.
- Quero ver como você vai lidar. - Diz ela entrando no quarto totalmente revirado, somente a cama livre.
- Com o que exatamente? - Pergunto terminando de escolher uma série para vermos enquanto ficávamos abraçadas na minha cama.
- Com Shawn por vinte e quatro horas, e a nova namorada dele. - Diz rindo, enquanto puxava a coberta para os ombros. - Você já é desse jeito quando ele vem por um dia, imagina o dia todo.
- Primeiro, eu não fico de jeito nenhum perto dele. - Digo fazendo minha melhor expressão de indignação, enquanto erguia um dedo. - E outra, não vamos ficar juntos sempre, ele vai ter que fazer outras coisas, e sobre a namorada, eu não ligo. - Digo, e espero que minha afirmação, convença a minha amiga e a mim mesmo.

Após a "noite das garotas", Claire vai embora me enchendo de abraços e beijos e me mandando ter juízo e cuidado. Estou terminando de resolver o valor que ficaria com uma moça para que ela viesse uma vez por semana para manter a casa, afinal eu nem mesmo sabia o quanto duraria a tour, ou melhor, o quanto duraria minha estadia nela. Quando pela janela avisto uma BMW prata e enorme parar em frente de casa, dela sai um homem corpulento, com expressão entediada e careca. Abro a porta assim que ele toca a campainha.
- Senhorita ? - A voz do homem ecoa e eu concordo. - Sou Paul, segurança do Shawn, ele me pediu para vir buscá-la e irmos para o aeroporto, de lá ele e a equipe estarão por perto para acompanhar a senhorita. Tudo certo para irmos? - Fico um tanto travada com o tanto de formalidade do homem, mas concordo e corro puxando as duas malas grandes pretas e a mochila de costas com meus pertences mais pessoais. Depois que ele me ajuda a guardá-las no porta malas, entramos no carro, eu no banco de trás, e enquanto aceno um tchau bobo para casa, ele começa o caminho para o aeroporto.

O aeroporto estava como sempre, bem movimentado. Paul disse para que eu não me preocupasse com as malas, que ele lidaria com elas. Enquanto estou à procura da sala de embarque vip, cantarolo uma das músicas de Shawn, o maldito sempre acertava nas melodias certas para mim - e para o resto do mundo -.
- Pelo cabelo vermelho, você deve ser ? - Viro o rosto assustada e dou de cara com Hailey. Não podia negar o quanto ela era bonita. A calça de cintura alta junto com o top justo a deixava completamente pronta para ir a uma passarela, enquanto eu no meu hoodie antigo que dizia "amo queijo" e os fios lisos soltos parecia pronta para ir dormir.
- E você Hailey, é um prazer. - Estendo a mão educada, porém a loira me puxa para um abraço.
- O prazer é meu querida, qualquer amigo do Shawn é meu amigo também. - Diz me esmagando em um abraço apertado. Essa garota estava muito animada para um sábado de manhã. Sorrio sem graça e concordo. Logo sou puxada pelo pulso, com ela alegando que me levaria onde estavam. Quando entramos na sala, vejo muitas pessoas, reconheço alguns músicos que sei que são da banda de Shawn, e algumas pessoas diferentes, um cara bombado, que era provavelmente o personal trainer, e um conjunto de garotas lideradas por um garoto bonito e bem maquiado, ok, maquiador.
- Minhas meninas. - Ouço a voz de Shawn e meu coração da um pulo que não deveria ter dado ao vê-lo. Meu sorriso nasce e eu estou no processo para erguer os braços e abraçá-lo, quando o vejo indo primeiro na direção de Hailey. Vejo ambos selarem os lábios em um selinho amoroso e as mãos grandes de Shawn presas no quadril magro dela, enquanto as da loira se enrolavam nos fios pequenos da nuca do maior. Eles trocam sorrisos e palavras baixinhas, e depois que selam os lábios mais algumas vezes, ele a solta e vem na minha direção. Percebo que estava os encarando fixamente e disfarço encarando o vans sujo.
- Hey! - Sinto suas mãos puxando meus ombros e me forçando a abraçá-lo. Não vou mentir, sentir o perfume dela na roupa dele não me fez muito bem. - Que bom que veio, fico feliz por ter alguém de casa por perto. - Ele diz enquanto me aperta, e me sinto bem melhor.
- Alguém tem que manter a ordem por aqui, não é? - Brinco apertando os braços em seu pescoço e sorrindo levemente enquanto o solto e encaro o sorriso preguiçoso e lindo que enchia seu rosto.
- Gente! - Shawn diz alto, virando-nos na direção das outras pessoas e passando o braço pelo meu ombro. - Essa daqui é , minha melhor amiga de toda vida e nova fotografa da tour, então deem as boas-vindas! - Anuncia, me fazendo corar e acenar para todos que me olhavam e gritavam "bem vinda". Shawn sussurra em meu ouvido que precisa resolver umas coisas e sai do local de mãos dadas com Hailey, me fazendo ficar sentada em uma poltrona com o celular em mãos. Logo o maquiador principal vem se sentar do meu lado.
- Meu nome é Tony querida, é um prazer conhecê-la! - Diz deixando dois beijinhos em cada lado de minha bochecha e apertando minhas mãos entre as suas. - Espero fazermos vários books. - Brinca, fazendo uma careta que devo admitir ser muito linda.
- Claro, uma boa vista é sempre uma boa vista. - Digo, o fazendo sorrir, e logo as meninas que estavam do outro lado se juntam, e embarcamos em diversas conversas sobre moda, cantores e filmes. Se todos os dias fossem assim, e eu ainda recebesse por isso, eu estava no céu. Porém uma parte do meu cérebro me lembrou que teria uma pequena parte que talvez eu não gostasse. Uma pequena parte que media quase um metro e noventa, tinha grandes mãos, uma voz enlouquecidamente boa e um sorriso de lado destruidor. Shawn voltou com a Hailey e me senti completamente estranha quando vi que ele se sentou longe com ela, ambos conversando e rindo junto, e o homem bombado se juntou a eles, todos os três rindo como se fossem amigos a anos. O voo foi anunciado, e todos fomos como uma caravana esquisita e muito animada para embarcar. No avião, Shawn se sentou com Hailey e um homem alto engravatado. E Tony veio para meu lado.
- Estou animado, sabe, nunca estive em Tour! - Diz, e uma garota negra com fios longos de trancinhas se senta ao lado dele.
- Também nunca estive, só vim porque era do Shawn. - Digo dando de ombros, sorrindo para a menina que devolve o sorriso.
- Obvio, se Shawm me pedisse para se vestir igual a um abacaxi durante a tour, eu provavelmente o faria. - Diz me arrancando uma gargalhada, alta demais que acabou chamando a atenção de Shawn. Ele sorri junto e acena, me fazendo acenar e diminuir o sorriso. O resto do voo foi bom, Tony era engraçado e falante, o que me fazia se sentir bem com ele. Eu encarava animada Massachusetts a baixo de nós, e no aeroporto de Boston, mal pude me conter de fazer vários snaps e vídeos fazendo caretas, enquanto Tony dançava bale ao fundo.
- Todos, escutem! - O mesmo homem engravatado diz chamando a atenção de todos. - Shawn e Hailey vão direto para o hotel, o resto da equipe vai para o local do show, a equipe que monta a estrutura já estará lá, eles viajam um dia antes para preparar tudo, e vocês iram agora para se prepararem.
- Hm, ? - Diz me procurando com os olhos. Como na escola, eu ergo a mão e as pessoas abrem espaço para que ele me veja. - Oh sim, você vai precisar fotografar o local também ok? Irei mandar por e-mail algumas ideias e fotos que serão necessárias que você tire. De resto, tudo certo e estão liberados, temos algumas vans paradas lá fora que iram levar vocês, e as bagagens irão para lá também.
Assim que o avião pousou, peguei apenas minha bagagem de mão com os equipamentos e segui parte do grupo que iria direto para o local.
- Você parece emburrada. - Disse Tony ao se sentar no meu lado na Van.
- Impressão sua, só estou repassando algumas ideias para fotos. - Será que eu era tão transparente que alguém que havia me conhecido há poucos minutos poderia me ler assim, facilmente? Bem, de qualquer forma eu não estava emburrada, apenas chateada por Shawn ir para o Hotel e eu ter que encarar o dia sozinha. Não sei o que esperava, afinal vim como funcionária dele, e não como melhor amiga. - Mal posso acreditar que estamos na cidade do Chris Evans. - Lembrei na tentativa de distrair Tony.
- Será que ele está por aqui? - Seu rosto se iluminou e eu tive a certeza de que ele havia esquecido sua pergunta.
- Ele passa uma boa parte do tempo em Boston, sempre que termina de gravar filmes. Vem passar um tempo com a mãe.
- Amo caras que curtem a família.
- Eu também. - Me lembrei dos Mendes, e como eles eram unidos. - Mas, eu acho que uma hora pode ser meio chato, imagina ele meio que, te "arrastar", pra passar férias na casa da mãe dele.
- Meu amor, estamos falando do capitão América! Se ele quiser me arrastar para um bueiro, eu vou e não dou um pio. - comecei a rir, definitivamente Tony seria uma boa companhia.

Chegamos ao local do show, fiz as fotos que o cara engravatado pediu, e assim que estava mais próximo do horário do Show me direcionei para perto do palco, e comecei a ajustar a câmera, estava tirando fotos do centro do palco quando algo tapou minha lente.
- Se divertindo? - Assim que abaixei a câmera pude ver Shawn sorrindo divertido.
- Pensei que a diversão fosse só a noite.
- Logo, o pessoal começa a entrar. - Olhou em seu relógio constatando que faltava poucos minutos para abrirem os portões.
- E então a loucura começa... - Lembrei me das vezes que fui em um show dele, muitas vezes vendo atrás do palco, dificilmente eu ficava na primeira fileira ou nos lugares mais lotados. Comecei a duvidar se era capaz de fazer isso, nunca havia fotografado um show, não em propósito profissional.
- Você consegue, sei disso. - Disse ele lendo meus pensamentos e preocupações.
- Obrigada. - Agradeci e me retirei do local para que ele fizesse a passagem de som, e eu pudesse desfrutar de alguns minutos sozinha antes de tudo começar.
Cheguei no camarim e comecei a revisar as câmeras, olhava lente por lente, flash, se as configurações estavam todas iguais de acordo com o local lá fora, caso eu precisasse trocar durante o show, não iria perder tempo reconfigurando, chequei as baterias e por fim, constatei que estava tudo certo.
Tony insistiu em fazer uma maquiagem em mim, antes que eu voltasse para a parte central da arena.
- Você tem que estar arrasando, é o seu primeiro dia! - Ele sorria animado enquanto passava o iluminador na ponta do meu nariz. Após a maquiagem pronta, que por sinal gostei muito, afinal era uma pele bem feita e bocas e olho bem simples. Fui me trocar, coloquei uma calça jeans de lavagem escura, e a camiseta de Staff. A arena já estava lotada, e mesmo sem qualquer indício de Shawn por ali, as pessoas já gritavam, e algumas até já estavam chorando.
Posicionei minha câmera e comecei a tirar algumas fotos, a sensação é de que eu estava congelando momentos e emoções, fui para o local, aonde eu deveria ficar para ter uma boa visão do palco, e esperei para que o show começasse.
- ? - Escutei alguém chamar o meu nome.
-Sim. - respondi me virando em direção a voz.
- Nossa é você mesmo! Eu e umas meninas vimos você de longe, mas não tínhamos certeza. - Uma garota que eu nunca havia visto na vida começou a falar.
- Ah, sim. - Eu não sabia o que dizer.
- Queríamos saber se poderíamos tirar uma foto.
- Claro. - eu disse levantando a câmera preparada para tirar uma foto das meninas, quando vi que as mesmas me olhavam de forma estranha.
- Nós queremos tirar uma foto com você. - Disse uma outra, arquei minha sobrancelha, ninguém havia pedido pra tirar foto comigo antes, muito disso tinha haver com o fato do Shawn pedir privacidade com os amigos, afinal quem era famoso era ele.
- Tudo bem, eu fico no meio então? - Sorri me posicionando. Uma outra tirou a foto elas agradeceram e voltaram aos seus lugares, logo o show começou, e a gritaria foi intensa.

...


- Estou sonhando com a minha cama. - Disse na Van.
- Vai sonhar por um tempo, pois iremos ficar indo de hotel em hotel por algumas semanas. - Tony disse rindo fraco.
Quando cheguei ao hotel minhas bagagens já estavam no quarto, tomei um banho e coloquei um pijama confortável. Peguei meu notebook e conectei a câmera. Comecei a revisar as fotos e até editei algumas, logo as mandei para o e-mail do pessoal do access e algumas direto para Shawn. Essa era uma das regras que eu tinha que cumprir, eles sempre deviam ter conteúdo fotográfico dos eventos em curto prazo. Coloquei o notebook de lado, e acabei adormecendo desajeitada na cama. Acordei com algumas mensagens no celular, apesar de ser o dia de folga, Shawn iria ter um pequeno compromisso e depois queria andar por aí.

...


Eu me sentia como uma vela, caminhando atrás de Shawn e Hailey, ele havia insistido tanto que eu decidi vir com os dois, e me arrependi no momento em que coloquei meus pés para fora do quarto. Sorte que eu estava carregando minha câmera, assim teria uma desculpa para não interagir o tempo todo.
- Poderia tirar uma foto nossa? - Hailey perguntou sorridente.
- Claro. - sorri de volta, mas não na mesma intensidade. Ela era adorável, incrível, o tipo de garota que você quer ser amiga, mas eu apenas não me sentia totalmente confortável perto dela, talvez pelo fato de ela beijar o cara que eu descobri que amo e deixei escapar por entre meus dedos.
Posicionei a câmera, ajeitei o ISO e a iluminação estava perfeita, eles pareciam perfeitos, felizes.
- Ficou ótima. - Eles sorriram ao ver a foto, e ela começou a distribuir beijos pelo seu rosto, logo as mãos dele foram para as costas dela, pressionando mais seus corpos, como uma vez ele havia feito comigo, mas desta vez ele não precisava esconder, ela era sua namorada e ela não havia nenhum problema em tal rótulo. Meu estômago começou a embrulhar com a cena, eu podia sentir um bolo se formando em minha garganta.
- Eu vou voltar para o hotel, não estou me sentindo muito bem. Vejo vocês mais tarde.
- Melhoras. - Hailey disse de forma doce me abraçando de lado.
- Você não quer que eu te acompanhe ou...
- Não, precisa, é só um mal estar, já vai passar. - interrompi Shawn pois sabia que era uma questão de poucos segundos até que eu me desatasse a chorar. Ele olhou fundo em meus olhos e senti seus dedos me apertando de uma forma mais forte, como se não quisesse me deixar ir, eu sabia que não conseguiria enganar ele, sem dúvidas ele estava vendo o quão desconfortável eu estava, seus dedos se afrouxaram sobre meus braços e ele deu alguns passos para trás ficando ao lado de Hailey, eu dei um tchau com a mão e comecei a andar na direção que tínhamos vindo. Após alguns passos, olhei para trás, eles haviam voltado a se beijar, e então nesse momento me virei, respirei fundo, e não consegui conter as lágrimas. Cheguei ao Hotel e meu nariz estava congestionado, minhas bochechas molhadas e a cabeça doendo, havia chorado o caminho todo, há muito tempo não havia chorado dessa forma. Fui direto para o quarto, me deitei na cama e acabei dormindo.

- . - Acordei escutando algumas batidas na porta e alguém dizendo o meu nome, em um tom alto quase gritando.
- Oi? - Eu disse abrindo a porta com os olhos semicerrados, afinal não havia tido tempo de me acostumar com a luz.
- Finalmente! Já estava preocupado. - Shawn entrou como um furacão pelo meu quarto.
- Bem agora você sabe que eu estava dormindo. - exclamei fechando a porta e voltando para a cama.
- Pode começar a me contar o que aconteceu, você está estranha desde que chegamos aqui... - Ele parou e colocou sua mão sobre o meu rosto. - Estava chorando? O que aconteceu?
- E- Eu, não posso. - comecei a chorar novamente. - Pode me deixar sozinha por favor?
- Não vou te deixar sozinha, olha como você está! Eu nunca te vi assim, deve ter sido algo grande para te fazer ficar assim, por favor fala comigo, eu quero ajudar você, proteger você. - ele me abraçou.
- Outro dia eu conto, pode fazer cafune até eu dormir?
- Isso vai te fazer ficar melhor? - Ele partiu o abraço para me olhar nos olhos.
-Muito.
Fui até o banheiro e troquei de roupa, voltei e me deitei na cama. Desta vez puxei os cobertores até a altura dos ombros. Shawn fazia cafune em meus cabelos, alguns fios se emaranhavam, mas nada comparado ao emaranhado que estavam meus pensamentos.

...


Após uma semana de Tour, estávamos indo para L.A, era o segundo destino que Hailey não iria acompanhar, teve que ir para nova York a trabalho.
Despertei com a voz do piloto soando abafada nos autofalantes, o pouso havia sido autorizado. Eu me sentia mais cansada do que quando havia embarcado. Me dei conta que estava dormindo no ombro de Shawn, e ele apoiava sua cabeça na minha, não havia como me mover sem acordá-lo, mas de qualquer forma, deveríamos acordar, então o chamei.
- Ei, dorminhoco. - Minha voz soava rouca e cansada, ainda com os olhos fechados eu acariciava seu rosto. Senti sua cabeça se mover, e ele se endireitar na poltrona ao lado. Abri meus olhos, ajeitei meu assento, e olhei para ele. Seu cabelo estava bagunçado, sua bochecha vermelha, e com marcas, indicando que ele havia tirado uma boa soneca. Enquanto eu o olhava ele sorriu para mim, ainda sonolento.
- Parece que quando você está perto sempre durmo melhor. - Ele disse com uma voz rouca e grave, eu amava a sua voz, mas essa versão dela quando ele acordava, me arrepiava inteira.
- Eu também, acho que até babei. - Sua risada ecoou entre o corredor. Momentos assim me fazem refletir que não há ninguém, sinceramente ninguém com quem eu me sinta tão livre, tão eu. Não sei se era pelo fato de termos crescido juntos, ou pelo meu jeito extrovertido, ou por ele ser o cara perfeito, o amigo perfeito, meu amor perfeito. Minhas colegas costumavam dizer " , nunca arrote na frente de um garoto.", " Nunca solte um pum perto de um cara", " Seja sempre mais do que gentil". Admito que muitas vezes até tentei seguir estes conselhos, e me via até prendendo a respiração em encontros com caras por quem eu não sentia o mínimo de atração. E então Shawn e eu começamos uma amizade colorida, e eu percebi que queria estar com alguém, que ao invés de me fazer segurar a respiração, apavorada em ser perfeita, ser agradável, eu queria estar com alguém que me fizesse perder a respiração de outras maneiras, como em um beijo tão apaixonado e cheio de desejo que por alguns minutos esqueceríamos que o oxigênio era necessário. O olhei mais uma vez e repeti apenas para mim mesma: " Ele é o amor de outra pessoa."
As pessoas começaram a soltar seus cintos, e conforme o tilintar dos metais, eu soube que já deveríamos estar em terra. Soltei o meu também, deveríamos esperar que todos saíssem, para que Shawn pudesse sair tranquilamente. Peguei minha mala de mão com meus equipamentos e desci pela escada posterior do avião.
Enquanto nos dirigíamos a entrada do aeroporto Shawn encontrou algumas fãs, e estava tirando fotos, seus óculos escuros, disfarçava os olhos inchados por algumas horas de sono. Eu fui na frente com uma parte da equipe, havia uma Van na porta do aeroporto nos esperando, coloquei minhas malas atrás e entrei, passados alguns minutos, avistei Shawn, e atrás dele uma pequena multidão, seu segurança andava quase colado a ele.

Pegamos quase 2 horas de viagem devido ao trânsito de L.A. Estávamos indo para mais um estúdio, dessa vez um em um lugar montanhoso, me lembrava Palm Springs, porém com uma vegetação maior. Dessa vez estávamos em um número menor de pessoas, era só a banda, poucas pessoas do staff e eu. Shawn iria gravar e compor algumas coisas, parecia uma viagem para aquietar sua mente.
- Tirou muitas fotos? - Disse Shawn quando eu voltei uma hora depois.
- Estava dando uma volta por aqui, bem ao pôr do sol, impossível não ficar admirada. - Ele sabia que o que eu mais amava fotografar era paisagens, e aquele lugar era encantador.
- Por isso gosto de vir pra cá, é engraçado um lugar assim em Los Angeles.
- Praticamente um Oasis.
- Eu pedi pra prepararem comida japonesa, e vamos beber umas cervejas, topa? - Disse ele apontando para a casa.
- Macaco quer banana? - rimos e nos dirigimos para dentro da casa, ele passou seu braço sob os meus ombros e eu senti como se estivesse sem ar. Assim que chegamos na casa, me desvinculei de seu braço e andei mais rápido em direção ao quarto que estava hospedada.
- Vou guardar a câmera. - balancei a câmera no ar, explicando o motivo dos meus passos acelerados. Fiquei alguns minutos no quarto só para poder transferir umas fotos para o meu celular. Logo, postei uma foto do pôr do sol no meu Insta, um súbito momento de coragem e idiotice me fez escrever uma legenda.
" Traz de volta já, o que uma vez foi meu."
Me juntei com o pessoal alguns minutos depois, a comida estava excelente, não era pra menos, havia um chef profissional preparando tudo. No outro dia seria uma folga, estávamos trabalhando sem parar há muitos dias, e todos precisavam de um descanso, começando esta noite.
- Vamos brincar de Verdade ou Desafio? - um dos caras perguntou.
- Não sei, que tal... Eu nunca? - sugeri mais alterada do que a maioria.
...


- Eu nunca fiz Sexo sem compromisso. - A mesma pessoa que falou, bebeu, em seguida, eu e Shawn.
- Eu nunca amei de verdade. - Shawn disse e em seguida bebeu também.
- Nunca namorei alguém sem amar. - Eu disse e não bebi, era verdade, só havia namorado uma vez e eu havia amado aquele canalha. Shawn por sua vez virou o shot, e eu o olhei, pensando em quem poderia ser, afinal ele havia tido poucas namoradas.
Mais tarde, eu e Shawn estávamos lá fora conversando, como dois bons e velhos amigos bêbados.
- Pode me contar agora porque estava tão estranha? - Maldita hora em que bebi, se havia duas coisas que após o álcool eu não tinha controle era minha bexiga, e a minha língua.
- E-Eu.
- Vai me dizer que não pode novamente? Por favor, vamos lá, talvez nós não iremos lembrar disso amanhã. - Ele me olhou risonho.
- Descobri que amo alguém. - Ele me olhou com seus olhos arregalados e a boca aberta, rapidamente desviou e ficou olhando fixo para frente.
- E isso é ruim? - Continuou olhando pra frente, sua voz soava casual, mas eu sabia que ele havia ficado nervoso.
- Descobri tarde demais, eu o amo, mas é como se fosse errado amar ele agora. Ele está com uma pessoa, uma pessoa incrível. E eu comecei a sentir ciúmes e outras sensações que nunca havia sentido assim tão... Intensamente.
- Você vivia sempre tão preocupada, com medo de se apaixonar, de amar novamente. Sempre achou que o amor iria matá-la. - Ele deu uma risada fraca. - Mas, o que mata é ver o seu amor nos braços de outro alguém, vai por mim, experiência própria. - Ele sorriu de forma triste, e se levantou, e estendeu a mão para mim. - Venha, vou te levar até o seu quarto.
Eu estava estagnada por suas palavras, coloquei minha mão sobre a sua, e não falei nada.
- Shawn. - o chamei antes que ele pudesse ir. - Você sabe que eu estava falando de você né? - Ele apenas assentiu com a cabeça.
- Só quem não sabia desse sentimento, era você, uma pena que descobriu só agora. - Ele colocou a mão em seus bolsos e se dirigiu até o seu quarto, eu fechei a porta e me joguei na cama, pensando no que eu havia feito.

...


A Tour havia durado um mês, o álbum estava sendo produzido, e Shawn estaria fora dos palcos por um tempo. Eu havia adquirido uma experiência extraordinária, com os locais nos quais eu havia estado, consegui reunir uma quantidade incrível de fotos e montei um portfólio novo, havia levado em algumas agências, mas não havia obtido retorno até então. Foquei no meu trabalho de conclusão de curso, algumas fotos no pôr do sol haviam me dado uma ideia, então juntei o que tinha e decidi que iria fazer sobre a luz natural. Após o dia em que confessei meus sentimentos ao Shawn, me afastei a cada dia mais dele, no último dia nem tchau eu havia dado. Voltei para casa com o bolso cheio e coração vazio.
- Você excluiu suas redes sociais? - Perguntou Claire após fuçar no meu celular.
- Pensei que ia fazer uma ligação. - Retirei o aparelho de suas mãos.
- Eu fiz, mas depois iria dar uma olhada no instagram.
- Eu, -Engoli seco antes de completar a resposta. - Eu só preciso de um tempo.
- Não acredito que vocês chegaram a esse ponto.
- É tudo culpa minha, eu me afastei, me senti tão exposta e ele não podia fazer nada, não sente mais o mesmo, eu fui uma boba e acabei fazendo o que temia acontecer antes de tudo isso. Mas não vou atrás, preciso ficar longe, ou irei ficar pior. - Desabafei.
- Você não tem culpa de sentir isso, se deixe ficar triste, chorar, sentir ciúmes, raiva! Se permita sentir estar viva, e encare isso, vocês são amigos a vida toda, vão superar isso. - Ela me abraçou e eu desatei a chorar em seus braços. - . - Eu olhei para ela. - Pare de construir muros, construa pontes. O amor não é feito para dar certo, é feito para ser sentido. - Ela sorriu docemente.
As palavras de Claire haviam aliviado um pouco o peso que eu estava carregando, o peso que me impedia de respirar corretamente algumas vezes, ela insistia para que eu entrasse em contato com Shawn, mas eu sentia que não estava preparada para isso, e de qualquer forma ele também não havia mostrado interesse em me procurar, decidi focar meu tempo no meu trabalho, e apenas deixar isso tudo de lado por um tempo.

...


Meu trabalho havia sido aprovado, a apresentação seria amanhã, eu repassava tudo o que devia falar inúmeras vezes, andava de um lado para o outro em meu apartamento, entre um tópico e outro, minha mente viajava, eu estava tão perto da minha formatura, que poderia sentir o diploma nas minhas mãos. Esqueci que não havia avisado a ninguém a data da formatura, liguei para minha família, amigos, só estava faltando os Mendes.
- Hey Oli. - Aalyiah soava animada quando atendeu a minha ligação.
- Oi Ally, Tudo bom?
- Tudo e você? - Ouvi um breve silêncio na linha, afinal era difícil ela não saber do que havia acontecido entre mim e Shawn, já que os dois conversavam muito.
-Bem, bem ocupada na verdade, reta final na faculdade.
- Imagino.
- Eu liguei para convidar vocês para minha formatura.
- Com certeza estaremos lá. - Mais uma pausa. - Isso inclui o Shawn?
- Você deve saber que as coisas entre nós não estão das melhores, é culpa minha, eu sei.
- Não, vocês dois são bem tontos. Desculpa, não é uma boa hora.
- Tudo bem. - eu ri fraco. - Só deixe eu pensar mais um pouco, e talvez eu o chame, está bem?

Apesar do meu nervosismo e da noite mal dormida, apresentei meu trabalho com maestria, impressionei a bancada e saí da faculdade com a sensação de dever comprido. Fui até a cafeteria que ficava na esquina, a qual havia sido o local mais frequentado por mim todas as manhãs nos primeiros anos.
- Um Frappuccino por favor. - Fiz o meu pedido. Assim que o peguei na outra parte da bancada, me dirigi até uma mesa com sofá e me permitir saborear meu Frappuccino com calma e em paz. Peguei meu celular e decidi que iria voltar para as redes sociais, comecei pelo Instagram, demorou um pouco para carregar o feed, mas assim que carregou meu coração veio a boca, estava cheio de fotos do Shawn com a Hailey, era como se todas essas semanas longe haviam vindo de uma vez só me estapear. Coloquei o celular de lado, não queria continuar olhando. Após alguns minutos, o peguei novamente e olhei mais, uma lágrima escorreu e eu deixei o celular de lado mais uma vez.
- Que se Dane! - eu disse um pouco alto, atraindo olhares pra mim. Peguei minha bebida e sai da cafeteria. Foi questão de poucos passos até esbarrar em alguém e logo minha bebida se encontrava na minha camisa social.
- . - Olhei para cima, era Shawn e ele de alguma forma não parecia tão surpreso.
- Desculpe, estou atrasada. - disse tentando seguir em direção contrária a ele.
-Eu sinto sua falta. - Ele disse quando eu já estava de costas, parei, e me virei. - Posso te pagar outra bebida? - ele disse apontando para minha camiseta.
- Eu realmente preciso ir.
- Ir para aonde? Algum lugar longe de mim? Como vem fazendo há meses? - Engoli seco com suas palavras.
- O que faz por aqui no Campus?
- Há alguns dias que passo por aqui para ver se te encontro. - Meu coração acelerou. - Imagino que você deva estar magoada, e te peço perdão por isso, jamais quis te machucar, mas viver naquela insegurança com você, me machucava. Todas as vezes que você recusou ser algo a mais, ter um compromisso sério comigo. Você só soube o que quis quando não me tinha mais deitado à sua cama, eu te amo e queria que ficasse feliz por mim, não sei quanto meu namoro vai durar, mas eu gosto dela.
- Sei que muitas vezes, não fui boa o suficiente para você, corajosa para dizer o que sentia. Apesar de doer, as vezes muito mais do que eu imaginava, eu tento estar feliz por você. - Respirei fundo, tomando coragem para falar o que precisava. - Também sinto sua falta, minha formatura será mês que vem, seria bom ver você lá. - me virei novamente e sai andando, dessa vez ele não me chamou novamente. Coloquei meu casaco por cima da camiseta molhada e fui para casa.

...


Estava me olhando no espelho, o vestido azul comprado há uma semana estava perfeito, em formato sereia, um tom que contrastava com os meus cabelos e minha pele, os saltos simples apenas para que o vestido não arrastasse no chão. Meu cabelo estava semi-preso, após algumas horas fazendo escova e depois BaByliss, sentia que era uma questão de tempo até tudo se enrolar devido ao suor causado pelo nervosismo. Peguei a beca e o capelo e junto a turma me dirigi ao auditório, nos sentamos um ao lado do outro.
- Grace Hastings. - Me levantei ao escutar meu nome, como estava sentada em uma das pontas havia sido fácil de sair, subi as escadas do palco com cuidado, levantando as pontas do vestido. Parei para algumas fotos na hora de receber o diploma e olhei para a plateia, pude encontrar minha família pelo cabelo vívido do meu pai, quase como o meu, mas havia escurecido com os anos. Meus olhos foram percorrendo, encontrando todos aos quais eu havia chamado, e lá na ponta estava ele, Shawn, e ao seu lado sua namorada. Meu sorriso se aumentou, ele veio!
- Parabéns. - Hailey disse ao me abraçar, eu havia deixado os dois por último.
- Obrigada, estou feliz que tenha vindo. - a abracei de volta.
- Eu consegui! - me direcionei a Shawn que já se encontrava com os braços abertos.
- Ninguém havia dúvidas. - ele sorriu e me abraçou.
- Estou realmente feliz por você. - sussurrei em seu ouvido, seu rosto se iluminou e seus braços me apertaram por mais alguns segundos.
Meu melhor amigo, meu primeiro amigo, aquele com quem enfrentei inúmeros primeiros dias de escola, dono dos ombros aos quais eu sempre chorava, e braços aos quais sempre me amparavam, aquele que me ensinou a amar e a ser amada, que me ensinou que amor não tem prazo de validade, mas que nem só de amor é feita uma relação. Finalmente eu estava feliz por ele, por ele ter encontrado alguém, mesmo que não fosse eu. Mesmo perdendo a chance de estar com ele aprendi que todo amor é válido, principalmente os não correspondidos, eu o amava simplesmente por amar, e o admirava mesmo sem possuí-lo.




Fim.



Nota da autora: Essa é minha segunda Ficstape de algum álbum do Shawn, que venha mais uma no "Shawn Mendes ". Para quem já leu minha outra Fictape aqui no site "Three empty worlds" sabe que eu gosto de finais não muito convencionais, Espero que gostem e caso queiram entrar em contato comigo o meu Twitter é @slisena. Essa fic foi escrita com a ajuda da minha incrível amiga Escritora Pietra, E o final foi decidido pela minha outra melhor amiga Duff.

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