07. Talking To The Moon

Capítulo 1

Era a terceira vez em dois minutos que ele perguntava ao motorista se ele havia pagado a passagem. O homem resmungava que sim e podia jurar ouvia o homem lhe pedir para deixá-lo trabalhar em paz. Mas ele simplesmente não conseguia. Ele repassava todas as suas ações pelo menos dez vezes. Quando se tem Transtorno Obsessivo Compulsivo, são raros seus momentos de paz. Então apenas perguntou novamente.
- Você já pagou. – uma voz feminina o respondeu.
De forma rápida o ruivo se virou, dando de cara com uma garota sentada no banco de trás. Ao contrário de todos os olhares que ele recebia dos outros passageiros, ela o olhava de forma diferente. Não o achava um louco, sentia medo ou pena.
- Obrigado. – a respondeu, baixo. Logo pegou seu celular na mochila, conectou seus fones de ouvido e deu play em sua música favorita. Sentiu-se extremamente perturbado quando viu que apenas um dos lados de seus fones funcionava. Então ele soltou um pequeno grunhido de raiva. – Merda! Fone de ouvido de merda!
Ele desconectou o fone de forma agressiva e o jogou no fundo de sua mochila. Fechou seus olhos e tentou se acalmar. Era apenas uma futilidade.
Segundos depois o rapaz sentiu o assento em seu lado afundar, abriu os olhos e mirou sua direita. Lá estava ela. Seus cabelos cacheados caíam por seus ombros, o casaco, consideravelmente maior, a vestia de maneira desajeitada e seu sorriso simpático passou certa segurança a .
- Eu sou . – ela falou, ainda sorrindo. – Vi que seu fone estava te aborrecendo, então pensei que uma boa ação faria bem para o meu karma. – riu baixo. – Quer dividir? – a morena sacudiu os fones a frente do rapaz.
Ele apenas assentiu, colocando um dos lados em seu ouvido. Ele não sabia o que falar ou como agir.
- Tenho o gosto musical um tanto peculiar. Então me desculpe. – a garota entortou a boca, enquanto colocava uma música qualquer para tocar. – Então, ruivo, não vai falar nada?
- . – ele disse e logo pigarreou. – Meu nome é .
- Prefiro ruivo. – deu uma risada e o garoto a acompanhou.
Alguns minutos se passaram e a voz de Bruno Mars tomou conta do ouvido de ambos.
- Bruno Mars? – disse baixo, fazendo uma careta.
- Não me critique. Essa música me lembra de bons momentos. – ela disse suspirando. – O papo está bom, mas vou saltar aqui. – ela sorriu e de forma delicada retirou o fone do ouvido do rapaz. – A gente se esbarra.
E da mesma forma que chegou, ela saiu. Rápida e o deixando sem fala. E ele apenas sorriu, pela primeira vez em sua vida, ficou ansioso para esbarrar em alguém.



Capítulo 2

Era a terceira vez naquela semana que e dividiam os fones de ouvido. Já havia se passado um mês desde a primeira vez que dividiram, mas parecia que já havia se passado anos. Não dividiam apenas fones. Os dois falavam sobre tudo. Desde a banda preferida de às confusões e brigas da família de . Em tão pouco tempo tudo fluía tão naturalmente, era como se aquilo fosse destinado a eles. Aquele encontro. Ele não via os germes andarem por sua pele depois de encostar-se à moça, muita menos achava que havia pegado alguma bactéria ao dividir fones.
- Fala sério, você só lê livros desconhecidos. – o rapaz tirou sarro da morena. – Se apaixona por personagens literários e chora ao ouvir músicas de boyband teen. O que mais eu preciso saber sobre você, ?
- Eu tenho rinite alérgica. – a garota o respondeu, dando os ombros.
- Eu tenho TOC. – a respondeu da mesma forma.
Ela sorriu sem mostrar os dentes.
- Eu já sabia. - e então ela piscou, sorrindo.
Ele suspirou e ficou rígido ao lado da garota.
- Você gostaria de sair comigo?
- Sim. – ela o respondeu, envergonhada.
- Você gostaria de sair comigo?
Ela o olhou com as sobrancelhas arqueadas e sorriu.
- Sim.
Ele fez uma careta e a indagou novamente.
- Você gostaria de sair comigo?
então passou a mão no rosto do rapaz, sem retirar o sorriso do rosto em momento algum o respondeu pela terceira vez.
- Sim!
Mas ao contrário das outras vezes, a moça o impediu de indagá-la novamente, colando seus lábios ao dele. Os olhos castanhos do ruivo se arregalaram e ele sentiu algo dentro de si. Não era uma vontade absurda de escovar os dentes. Era algo bom, que o retirava o fôlego. Então ele apenas fechou os olhos e se deixou levar pela sensação. E pela primeira vez em semanas ele sentiu-se finalmente em paz.


O encontro havia sido marcado para uma sexta feira. Ele iria levá-la para jantar. Ele pensou em levá-la em um lugar requintado, que a fizesse a sentir em um filme. Mas então ele se lembrou de que ele iria levar para sair. Ela era diferente e especial apenas por ser ela mesma. Não era do tipo que iria saber como degustar um escargot, mas ela sabia degustar de um bom livro, uma boa conversa, um bom filme ou um bom beijo. Sem muitas opções, ele a levou em um food truck e ela não pareceu se importar. Tudo que ambos queriam era apenas se conhecerem mais e mais. Depois de pedirem seus lanches, limpou suas mãos com álcool gel pelo menos cinco vezes. não se importou. dividiu sua comida por cores. não se importou e de uma maneira estranha, ela achava aquilo adorável.
- Então quer dizer que o senhor é bom em matemática? – a voz da garota cortou os pensamentos de .
- Sim. – ele a respondeu sorrindo. – E a senhorita é boa em literatura.
- Em Cidades de Papel, John Green diz que todos têm o seu milagre. – diz após dar um gole em seu refrigerante.
- E qual é o seu milagre? – ele pergunta à morena.
- Bom, o meu milagre eu não sei. – ela deu os ombros fazendo uma careta engraçada.
- Eu acho que tenho uma ideia de qual é o meu milagre. – a respondeu, finalmente começando a comer. – Talvez seja não ter rinite alérgica.
Ela riu baixo balançando a cabeça negativamente.
- Você é bom em matemática. - ela sorriu. - Esse é o seu milagre.
- O milagre de Quentin é ser vizinho de Margo Spiegelman, o meu é ter você.
O garoto sorriu tímido e sentiu suas bochechas se esquentarem. A garota sentiu o ar faltar em seus pulmões. Era inegável, ela estava apaixonada.



Capítulo 3

Onze meses haviam se passado. Depois de dois meses “ficando”, ele finalmente a pediu em namoro. Treze vezes para ser mais exato. E por mais engraçado que fosse, ela sorriu em todas as vezes que disse “sim”. Ela o apresentou a seus pais em um jantar e ele pode sentir o olhar desconfiado de sua sogra sobre si. Era como se ela o lê-se e o achasse o mais insano dos livros. Quando apresentou para seus pais, a surpresa foi grande. Era a primeira vez em anos que prestou mais atenção na conversa do que em higienizar suas mãos e dividir sua comida por cores. Era explicito que ela o fazia bem.
Nesses onze meses, não fora apenas o status de relacionamento de redes sociais de ambos que mudou. também havia mudado. Ela aderiu a uma dieta e treinava todos os dias. Estava mais magra, definida e para infelicidade de , ela estava chamando mais atenção. Aquilo o aterrorizava, ele sentia medo de que um dia ela parasse de adorar o tempo exagerado que levavam para caminhar na rua, devido às rachaduras da calçada. Sentia medo que ela se sentisse incomodada com o fato dele a beijar pelo menos vinte vezes antes de se despedir, porque ele queria que fosse perfeito. Que ela já não se sentisse segura quando fosse dormir em sua casa e ele trancasse a porta dezoito vezes. Ou que ela não achasse bonito ele admirar a lua depois de abrir e fechar a janela vinte e quatro vezes todas as noites. Deitada, ela o assistia apagar as luzes. Apagar e acender. Apagar e Acender. Apagar e acender. Apagar e acender até finalmente sentir que estava feito. E quando ela fechava os olhos, via os dias e as noites passarem.


- Você precisa confiar em mim. – a garota o disse, firme.
- Você não viu a maneira como ele te olhava. – disse entre dentes. – Ele não te vê como apenas uma amiga.
- Eu não me importo com a maneira que ele me vê. – o respondeu. – Eu o vejo como o garoto gordinho que eu estudo desde a pré-escola. Você não precisa ficar dessa forma, .
- Eu só tenho medo. – ele respirou fundo, sentando no sofá da sala de sua casa.
- Medo?
- Medo de que um dia você apenas se canse. – olhou nos olhos da moça. – Se eu fosse normal...
- ! Pare! – falou seriamente.
- Eu apenas quero ser normal! - ele berrou.
- Normal? Você quer ser normal?! – ela o olhava de forma incrédula. – Para você o que é ser normal? Na minha concepção, ser normal é não deixar com que diagnósticos ou limitações definam quem você é. Então pare de lamentar e sentir pena de si mesmo. – respirou fundo. - Pessoas normais lidam com seus problemas, não há escapatória. Você não pode culpar o TOC por todos os seus medos, inseguranças, seja lá o que for.
- Você está me magoando.
Ela então suspirou, com os olhos marejados.
- Me desculpe... - ela desviou o olhar e voltou a falar - Eu te amo e é isso que as pessoas fazem quando amam. Elas se importam e ficam bravas quando vê quem se ama jogando tudo para o alto. - e com um fio de voz continuou – Eu te amo.
E aquela foi a primeira vez que ela afirmou que o amava. o encarava de forma terna e desesperada. Ela não queria que ele, simplesmente, desistisse de lutar contra o TOC. não poderia se deixar definir por aquilo. Não o seu . E tudo que conseguia pensar naquele momento eram as curvas delicadas que os lábios dela faziam quando dizia que o amava.
- Eu também te amo.
Calmamente a garota se aproximou, abaixando-se a altura do namorado e lhe deu um beijo nos lábios. Naquele momento, tudo na mente de ficou quieto. Todos os tiques, todas as imagens que constantemente passavam desapareceram. A única coisa que sentia era o gosto dos lábios de .



Capítulo 4

Havia se passado sete meses. E agora, quando ele começava a beijá-la para despedir-se no ponto de ônibus, ela apenas saia, porque tinha que chegar a tempo no estágio. Quando ele demorava caminhando pelas rachaduras, apenas seguia caminhando. Quando ela dizia que o amava, sua boca seguia uma linha reta. Ela disse que ele estava tomando muito do seu tempo. Na última semana, ela atendia cada vez menos suas ligações e sempre que ele a chamava para sair, ela tinha algo para fazer. disse que não devia ter deixado apegar-se tanto a ela e que tudo aquilo estava seguindo de um modo errado. Como aquilo poderia ser um erro se ele não precisava lavar suas mãos depois de toca-la?

- Amor não é um erro. – bradou com a namorada. – Você não pode correr disso!
- Você precisa correr disso. – ela piscou, fazendo uma lágrima grossa cair em sua bochecha. – Acabou, .

E ela apenas saiu pela porta do apartamento, deixando-o morto. O matava o fato de ela poder correr disso e ele não. E a cada dia, algo novo o matava mais e mais; o fato de pensar que ela poderia estar com outro alguém, um cara que só a beijava uma vez, porque ele não se importava se era perfeito; o fato de ele não conseguir sair e conhecer mais alguém, ele só pensava nela. Ele já não era mais o mesmo. A barba por fazer, os cabelos grandes e as olheiras revelavam seu estado. Seus vizinhos o olhavam como se ele fosse um louco, ele sempre podia ouvir cochichos e boatos de que ele havia perdido a sanidade. Talvez aquilo fosse verdade. Ela havia sido a primeira coisa bonita que ele havia ficado preso. Aquilo não era errado. Amá-la não era errado.
Ele a queria de volta. Ele estragou seus fones de ouvidos novamente. Ele deixou a porta destrancada. Ele deixou as luzes acesas. Ele deixou as janelas abertas.


Fim.



Nota da autora: Hey kids!
Essa é minha primeira fanfic finalizada e postada. Espero de coração que vocês tenham gostado do modo que abordei o TOC (e que eu não tenha cometido exageros). Vocês me dirão de qualquer forma! Hahahahaha Obrigado por ler <3 Beijos! PS: Gostaria de agradecer todos os meus amigos que me encorajaram a escrever essa história.


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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