Finalizada em: 10/12/2020

Prólogo

- Ei, oi? – falou, vendo a amiga entrar em casa cheia de cartas na mão, não vendo nem mesmo ele ali presente.
- Ah, oi, ! – falou, envergonhada, dando um sorriso mínimo. Ainda sentia-se extasiada pela conversa que haviam tido mais cedo, nem mesmo acreditara que depois de tanto tempo, tivera coragem de contar ao amigo os seus sentimentos.
- Acho que temos uma conversa para terminar, não acha? – ele sorriu abertamente, chamando a garota com o dedo e logo em seguida batendo com a mão no lugar vago do sofá ao seu lado.
- ... Me perdoa por ter gritado com você. – ela riu. – Nós praticamente não nos largamos nesse último mês por conta das coisas da escola, mudança de vida para faculdade, tudo estava muito intenso na minha cabeça por conta da proximidade ainda maior, eu sinto muito ter te assustado. – ela se sentou ao lado dele, se jogando no móvel e encarando o teto.
- Você não me assustou, . – ele sorriu, tentando não rir. – Talvez um pouco. – confessou. – E talvez tenha assustado as outras pessoas que estavam lá também, mas todo mundo conhece a gente, então está tudo bem. – riu. – Mas eu não fiquei exatamente assustado. – deu de ombros.
- Ah, que bom. – a menina respondeu, sem saber o que dizer. – Eu não quero que as coisas fiquem estranhas, , somos amigos há tanto tempo, eu não queria jogar isso fora.
- E você vai jogar fora por quê? Eu acho... – ele puxou a garota para mais perto dele, aninhando-a entre seus braços. – Que a gente tem chance de transformar isso em algo melhor ainda.
- ? – ela rapidamente saiu dos braços dele, o encarando.
- , me surpreende seu claro desespero em pensar em ter estragado tudo, já que só faltava eu ser a pessoa que grita para o mundo inteiro que te ama. Está escrito na minha testa, sério, se você olhar aqui, tá mesmo, olha. – o garoto puxou-a para mais perto e apontou para própria testa, vendo-a estreitar os olhos como se fosse ler, entrando na brincadeira.
aproveitou a distração da garota e se aproximou de forma rápida de seu rosto, segurando-a pela cintura e grudando seus lábios em um beijo.


Capítulo Único

- E não é que você não se atrasou? – ouvi minha mãe gritar ao me esperar de braços abertos no pequeno aeroporto em que havia pousado há poucos minutos. Ela estava com meu pai, alguns tios e tias, e minha sobrinha, uma recepção extremamente calorosa, com certeza.
- Eu falei que pegaria o voo certo, mas você me subestima. – brinquei, aproximando-me dela e me jogando em seus braços, logo sentindo diversos outros me abraçarem em grupo.
- Sentimos sua falta, tia . – ouvi Andy dizer, entrando em meio aos adultos para me abraçar também.
- E eu senti a falta de vocês. Como você está grande, menina! Nem parece a mesma garota que fala comigo o tempo todo por vídeo chamada, vem aqui! – a abracei fortemente após todos se afastarem. – Estou muito feliz que estão todos aqui. – fiz bico, emocionada, olhando cada um deles.
- Não poderia ser diferente. Todo mundo já te visitou, mas ter você aqui com todo mundo ao mesmo tempo, é incrível. – tio Paul falou, sorridente.
- E o Bryan?
- Ficou com a Mary para fazer o almoço. – meu pai respondeu.
- Meu Deus, que saudades da comida do Bryan. – meus olhos provavelmente até brilhavam naquele momento, e meu estômago já roncava, animado.
- E a chefe louca? Não está morrendo por você ter tirado férias para ficar com a família? – tia Dora perguntou, abraçando-me de lado e começando a andar enquanto tio Octavian carregava minha mala.
- Ah, ela está, tia, pode ter certeza. Mas não podia sumir por mais um final de ano, eu não aguentava mais de saudades daqui, vocês sabem, por mais que eu ame a cidade grande, Bright River é minha casa. Saudades de pessoas que dão bom dia, boa tarde e boa noite quando passam por você. – brinquei.
- Então vamos lá, você tem muito o que aproveitar nesses dias para esquecer a loucura de Chicago.

🟢🔴🟢


- Bryan! – sai correndo assim que minha mãe abriu a porta, logo jogando-me no colo de meu irmão no sofá.
- Pirralha! – ele gritou de volta, abraçando-me fortemente e me chacoalhando. – Como senti sua falta. – ele sussurrou, deixando um beijo em minha testa.
- Nem me fala. – sorri, me levantando. – Oi, Mary! – a abracei apertado, nos balançando de um lado para o outro.
- Estava quase achando que tinha me esquecido. – ela brincou, nos separando, mas logo em seguida me puxando novamente para outro abraço.
- Nunca! Mas parece que vim o caminho todo de outra cidade até aqui com você falando no meu ouvido. – apontei para Andy. – A cada dia essa menina fica mais parecida com você, eu juro, isso me assusta. Você tem certeza que ela não é apenas sua filha? Acho que do Bryan ela só pegou a chatice, sério. – vi meu irmão rolar os olhos teatralmente.
- Não vou mais te dar comida, acabei de desistir, e era seu prato preferido. – Bryan levantou do sofá, andando até a cozinha.
- Você nem brinca, Bryan! Eu vim o caminho todo falando disso. – pulei nas costas dele e ele me segurou, rindo.
- Vamos comer logo, também ‘tô com fome, pai. – Andy reclamou, começando a arrumar a mesa.
- Sua tia te ajuda a arrumar, ela tem que trabalhar para merecer. – mostrei o dedo do meio para ele, discretamente.
- Cadê todo mundo? – Mary perguntou, referindo-se à família inteira.
- Pararam na lojinha do Earl para comprar as coisas para fazermos enfeites, decorar biscoitos, arrumar ainda mais a casa, e tudo mais que eu tiver direito para esse Natal.
- É tão bom ver que seu espírito não foi corrompido pelas pessoas de nariz em pé. – minha cunhada me abraçou, feliz.
- Meu pezinho aqui nessa cidade nunca deixou. Até respirar o ar daqui me faz mais feliz, sério. – confessei.
- Dá para ver. – meu pai apareceu, sorridente.

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Entrei na garagem de casa e sorri automaticamente ao ver meus velhos parceiros ali, encostados no canto. Meu pai com certeza os tinha limpado e deixado prontos para que eu usasse, ele sabia que eu gostaria de aproveitar para rever todo mundo da forma que eu mais amava.
Peguei meus patins e levei-os até a cadeira mais próxima, me sentando e tirando meus tênis dos pés. Todos haviam se retirado após o almoço para a costumeira soneca, e eu não podia negar, esse hábito a cidade grande havia me tirado. Meu corpo agora era acelerado durante todo o tempo. Talvez eu conseguisse me adaptar novamente a esse ritmo nesses poucos dias que ficaria ali, mas hoje eu ainda estava muito animada para isso.
- Oi, tia! Onde você vai? – Andy apareceu, sorridente.
- Ei! Você não foi para sua casa, não?
- Queria ficar aqui com você, e vi que você também não foi descansar. – falou.
- Ah, meu grude! – brinquei, chamando-a para um abraço. – Vou dar uma volta de patins pela cidade, vamos? Acho que aquele ali é o seu, né? – apontei para os patins roxos que estavam pendurados na parede. Ela assentiu.
- Vai ser legal andar de patins com você. – ela sorriu, animada, andando até a parede e pegando-os, logo se sentando no chão para calçá-los. – Mas você ainda sabe andar, tia?
- Ah! Você está pensando o que, garotinha? Eu ando de patins em casa, tá? Ainda é uma das coisas que faço para desestressar.
- Eu gosto muito de andar também.
- Tá no sangue. – pisquei para ela. – Mas vai ser ótimo andar sem ninguém querendo te atropelar a cada dois minutos, sério. – confessei, fazendo-a rir.
- Você estava mesmo com saudades daqui, né?
- Muito, Andy.
- E por que você não volta a morar aqui com a gente? – ela pediu, levantando-se já com os patins e os equipamentos de proteção, andando até mim. Também me levantei, segurando sua mão e caminhando com ela para fora de casa, fechando a garagem rapidamente.
- Por conta do meu trabalho, eu estou tentando crescer por lá.
- Mas você não pode crescer por aqui? – perguntou, sem entender.
- É diferente, meu amor. Eu estaria arriscando algo de muito bom por lá, por algo incerto daqui. Eu até poderia tentar, mas por enquanto, acho melhor não. – ela deu de ombros, como se entendesse.
Começamos a andar lado a lado pelas ruas, enquanto eu fazia os caminhos que mais gostava. Passamos na avenida em que tínhamos as lojas de ferramentas, o mercado, a mercearia, a loja de doces, a padaria, toda a parte de comércio. Acenei sorridente para todos que me reconheciam andando com Andy, prometendo voltar em cada um dos lugares para distribuir um apertado abraço de saudades.
Passamos por dentro do parque, vendo diversas crianças brincando nos brinquedos ou jogando bola. Andy passou brincando com vários de seus colegas, me apresentando para todos que ainda não me conheciam pessoalmente, mas que falaram “ah, essa é a tia ?”, o que só me fez ter mais vontade de apertar minha sobrinha.
- Cansamos? – perguntei assim que saímos de dentro do parque.
- Acho que cansamos. – ela apontou para meu cabelo e eu passei a mão em minha cabeça, sentindo-os completamente desarrumados.
- E você só me avisa agora, né? – reclamei, rindo e tentando inutilmente arrumá-los. Soltei-os para facilitar meu trabalho, mas antes que pudesse prestar novamente atenção em meu caminho, senti meu corpo cair com um baque em cima de outro. – Ai, meu Deus! Me perdoa, eu não vi! – falei, desesperada, tentando me apoiar no chão para levantar. Não consegui, então rolei para o lado, deixando espaço para que o homem ao menos se levantasse. – Eu te machuquei? Me desculpa! – repeti, ainda acelerada, sentia meu rosto queimar com a vergonha.
- Agora? Não. – olhei para cima, vendo-o já em pé, me encarando e com a mão estendida para que eu aceitasse sua ajuda para levantar. – Se me perguntar de alguns anos atrás, não posso negar, mas cair em cima de mim não foi a pior coisa que você fez, pode ficar tranquila. – aceitei sua mão e ele me puxou para cima. Fiquei em silêncio por alguns segundos, sem saber o que responder.
- Oi, . – sorri, sem graça. Ele estava com um sorriso de lado no rosto, parecia incerto se deveria rir da situação ou levar a sério suas próprias palavras. vestia uma camisa social, calças jeans e um sapato também social, o que me fez quase rir, era estranho vê-lo assim, e ainda mais depois de tanto tempo. – Me desculpa mesmo, eu estava distraída.
- Está tudo bem, . – ele afirmou, sincero. – Ei, e você aí? Só fala com quem te interessa? – ele chamou a atenção de Andy, que conversava com uma versão menor de que tinha a mesma idade que a garota. A vi corar antes de abraçar o mais velho.
- Oi, senhor prefeito. – o homem a encarou, rolando os olhos e rindo. Encarei o pequeno prédio do qual saía quando esbarrei nele e notei ser a prefeitura, o que me deixou com as sobrancelhas arqueadas, confusa.
- Eu já falei que odeio vocês dois? Se não falei, deixo claro por agora. – ele respondeu para Andy, apontando para ela e o garoto.
- Ei, você é a , né? Eu sou o Will, irmão do . – ele estendeu a mão para mim, completamente educado.
- Eu sei quem você é, senhor! Mas eu te vi pela última vez quando você era muito pequeno! – segurei sua mão e puxei-o para um abraço desajeitado, ouvindo-o rir.
- Tia, coitado. – Andy riu assim que o soltei.
- Você está lindo, Will. – falei, sorrindo.
- Todo mundo diz que pareço muito com o , é tão bom ouvir que sou lindo sem essa parte. – ele soltou o ar, brincando como se estivesse aliviado.
- Mas você pode ter certeza que ela segurou essa fala. – falou para o irmão, que apenas rolou os olhos.
- Ei, Andy, o que você acha de... – Will puxou minha sobrinha pelo braço, iniciando uma conversa sobre algo que eu não consegui entender. Por alguns segundos, encarei-a enquanto conversava com o garoto e não pude evitar um sorriso. Fiz o mesmo, encarando Will, percebendo que os dois, com toda certeza, eram muito próximos.
- Eles são sempre assim? – perguntei, ainda incerta se deveria iniciar uma conversa com .
- Carne e unha. Todos falam que eles lembram a gente. – ele deu de ombros, ainda encarando os dois.
- Eu não imaginava que o Will que a Andy sempre falava, era o seu irmão. Acredito que faltava uma leve ligação nos meus neurônios.
- Acredito que isso sempre esteve em falta. – riu discretamente. – Mas então, veio passar o fim de ano por aqui, finalmente? – assenti.
- Estava morrendo de saudades desse lugar, eu apenas não conseguia vir mesmo, as coisas com faculdade e trabalho nos últimos anos não me deram nem férias, acredite, foi uma tortura. – reclamei, cansada.
- Eu imagino, todos comentaram bastante sobre isso. – assenti, procurando algo para dizer.
- Senhor prefeito? – perguntei, finalmente olhando-o, me lembrando do que Andy dissera.
- Ah. – ele colocou um dos braços na nuca, parecendo envergonhado. – Só a partir do primeiro dia do ano. – deu de ombros.
- É sério, ? Você será o novo prefeito? – ele assentiu, tímido. – Como ninguém me contou isso? Meu Deus, você deve ser o prefeito mais novo do mundo. – brinquei.
- Não, tem uma cidade ainda menor que a nossa, que elegeu uma garota de 23 anos. – riu.
- Okay, quase o mais novo. Mas que legal, sério, estou muito feliz por você, você vai ser incrível para cidade.
- Pretendo continuar o trabalho da família, afinal, estou assumindo o lugar que já foi do meu tio e do meu pai, né?
- Bright River está quase parecendo reinado já.
- Você não tem nem ideia. – resmungou, bufando. – Bom, preciso ir, tenho algumas coisas para fazer. Aproveite bastante as férias, , e fale para todo mundo que mandei um oi e em breve vou visitá-los, os últimos dias foram corridos, fala para sua mãe que amei a torta. – ele riu, estendendo a mão para que eu apertasse, ao mesmo tempo em que me aproximei para um abraço. Balancei a cabeça rapidamente, tentando afastar a vergonha, e apertei sua mão levemente. – Vamos, criança. – ele falou para Will, que beijou o rosto de Andy em despedida e saiu atrás do irmão.
- Tchau, . – falei, acenando.
- O é muito legal, né, tia? – Andy falou, sorridente.
- Temos uma admiradora dos dois irmãos aqui? – perguntei, brincando. Vi Andy rolar os olhos, mas suas bochechas coraram antes que ela pudesse esconder.
- O Will é meu melhor amigo, passo muito tempo com eles. O me contou várias histórias suas, ele disse que vocês eram como o Will e eu. – falou, puxando assunto, já andando ao meu lado para seguirmos o caminho de casa, estava escurecendo e logo minha mãe estaria nos procurando para preparar o jantar.
- Éramos sim. – sorri, lembrando-me.
- E o que aconteceu? – perguntou, curiosa, me encarando.
- Ah, Andy, eu fui embora, perdemos contato. – dei de ombros, não querendo explicar que não foi um simples perder contato, e sim o modo como as coisas se encerraram. Ou melhor, não se encerraram. Era quase como um episódio final de temporada que dá brecha para uma continuação, mas a série é cancelada, nós nunca saberíamos o que podia ter acontecido.
- Ah, entendi. Legal que ele vai ser prefeito, né? Nossa família ficou muito feliz.
- Claro que ficou, são todos fãs do desde pequeno, você não tem ideia, Andy. – gargalhei. – Acredite, era o no céu e todos nós na terra, sempre colocaram ele em um pedestal. Ele merecia, claro, mas era engraçado de ver.
- Fazem isso com o Will também, acho que é mal de família, tia.
- Também acho, meu amor. Agora vamos acelerar esse caminho antes que a sua avó saía nos gritando pela cidade.

🟢🔴🟢


- Ainda não consegui me conformar com o quão grande a Andy está. – falei, jogando-me no sofá de Bryan e jogando uma pequena coberta sobre meu corpo.
Dormiria aquela noite na casa de Bryan e Mary, pois havíamos combinado de assistirmos alguns filmes e jogar todo papo possível para o ar. Eu sentia falta de toda minha família diariamente, mas minha amizade com Bryan era o que mais me deixava saudades de estar por perto.
- Pois é, , estamos velhos. – ele riu. – Ela é uma garota incrível, não posso negar, mesmo que seja um pé no saco às vezes. Ela vai bem na escola, respeita e ajuda todo mundo, é educada, só é um pouco curiosa e acelerada demais de vez em quando. Mas nada que um grito não resolva, claro.
- Ela não queria ir dormir de jeito nenhum, né? – perguntei, rindo.
- Não, ela está acelerada demais com as suas férias aqui, ela passou o mês inteiro falando sobre isso, ninguém aguentava mais.
- Você tinha que ver ela me apresentando para todo mundo pela cidade hoje.
- Ela está realmente feliz. Todos estamos, mas Andy é muito sua fã, acho que você deveria lançar alguma coisa, mesmo cantando mal, ela compraria um CD seu, juro.
- Tenho a melhor sobrinha do mundo, não dá para negar. – ri. – Ei, ninguém pensou em me contar que o melhor amigo dela, que ela tanto sempre me falou, era o irmão do ?
- Acreditei que você soubesse, . – ele riu. – Por falar em , esqueci de comentar que ele será o novo prefeito, legal, não é? Você poderia ser a primeira-dama de Bright River agora.
- Bryan. – repreendi, rolando os olhos. – Eu encontrei com ele hoje. – soltei o ar que parecia estar segurando desde o momento em que havíamos nos encontrado.
- Sério? – perguntou, inclinando-se para frente e se ajeitando no sofá. – Como foi?
- Estranho. – ri nasaladamente. – Mas acredito que aquilo era o bom humor dele para mim, já que ele já começou com piada. – bufei. – Foi bem estranho.
- E como você se sentiu? – Mary chegou, perguntando, e se sentou ao meu lado, dividindo o cobertor comigo.
- Nunca chegamos a falar sobre isso. – Bryan completou.
- Não sei bem se esse é meu assunto preferido, gente. – confessei.
- Você nunca vai saber se não falar.
- Eu não sei como me senti, só sei que foi estranho. Assim como foi estranho perder meu melhor amigo anos atrás, reencontrar ele também foi. Mas está tudo bem, não é como se pudéssemos nos aproximar e sermos amigos de novo. Não consigo ver isso, nossa relação foi bem quebrada, vocês sabem.
- Por bobeira. – Mary falou e Bryan concordou.
- Tudo bem, senhores donos da perfeição, só porque vocês são um casal incrível, não quer dizer que todos teremos isso na vida. – ri. – Coloquem um filme aí.
- Só quero reafirmar algo que não faço há muito tempo. Você é um saco, irmã. – Bryan jogou uma almofada em minha direção, mas acabou acertando Mary, que o olhou, indignada, começando uma guerra de almofadas.

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- Eu juro, esse dia nunca vai fazer sentido para mim. Está super frio, e a gente tem que se matar para comer algo tão aguado. – fiz cara feia, me aproximando da praça central de Bright River, onde a tenda já estava montada.
- Você perdeu o espírito, filha, você sempre quis competir. – meu pai falou, rindo.
- Eu sempre quis competir, mas nunca disse que fazia sentido. – ri, observando o lugar.
A praça já estava cheia e todos pareciam animados. A tenda estava montada em frente de onde estávamos e as pessoas já faziam suas inscrições. Eu não entendia o motivo de termos uma competição, que era tradição, na semana do Natal, mas que nada tinha a ver com a data festiva, já que o intuito era apenas ver quem conseguiria comer uma melancia inteira. Claro, era uma cidade pequena e não queriam qualquer tragédia como pessoas passando extremamente mal, então não era uma grande melancia, eram sempre aquelas menores, baby.
Era um dia divertido, não podia negar, por isso eu sempre adorava. Quando menor, sempre observava os competidores naquele frio, se lambuzando com o monte de água que escorria enquanto comiam a melancia.
- , você vai, né? – tia Queen perguntou. – Precisamos de um representante da família, e você está aqui esse ano, tem que ser você.
- Não, tia! Eu não vou não. – falei quando vi todos ao meu redor concordarem com ela.
- Tia , você tem que ir! Eu queria poder ir, mas como não posso, você ganhar seria muito legal. – ela fez bico, tentando me convencer.
- Vai, filha! – minha mãe incentivou.
- Gente, eu vou passar mal comendo isso, eu não...
- Ah, para de inventar história, ! – tia Vivian falou, direta como sempre. – Se você não for se inscrever, eu vou lá e dou seu nome.
- Por que vocês me odeiam? – perguntei.
- Não te odiamos, mas você sempre quis fazer isso, então estávamos esperando o dia que aconteceria, não sei como você não esperava isso hoje. – Bryan gargalhou e me empurrou até a mesa de inscrições. – Agora olha quem está se inscrevendo, boa sorte. – ele sussurrou, me deixando na fila e voltando para seu lugar. Bufei, parando atrás de , que estava assinando o papel, e rezando para não ser vista.
- ? Meu Deus! Você está aqui. Eu não sabia! Vem aqui. – vi o tio de levantar-se da mesa em que ele assinava o papel e andar em minha direção, me puxando para um abraço.
- Tio Hyran! Que saudades! – falei, envergonhada, me lembrando que ele era o atual prefeito, antes de assumir no dia primeiro.
- Menina, você está linda! Como fez falta nessa cidade! Está de volta?
- Infelizmente não, mas finalmente consegui férias para vir passar esse final de ano, estou feliz demais de estar aqui.
- E eu estou feliz em te ver! Melinda está ajudando ali na organização, ela vai amar te ver, depois fale com ela. , como você não me contou que a estava aqui? – ele perguntou ao sobrinho, que ainda fingia encarar o papel que claramente já tinha acabado de preencher.
- Hm, eu descobri ontem, tio. Também não sabia. – respondeu, passando a mão pelos cabelos. – Oi, . – ele levantou a mão, como em um aceno rápido.
- Oi. – respondi. – Legal que vai participar. Primeira vez também? – perguntei, incerta.
- Sim, nos outros anos não quis me arriscar, dessa vez não tive como fugir, me obrigaram.
- Digo o mesmo. – respondi, rolando os olhos. – Bom, que vença o melhor. – ri, vendo-o concordar, fazendo o mesmo.
- , a Jaz está te procurando. – ouvi seu tio lhe falar, enquanto eu me aproximava para preencher o papel em sua frente. apenas respondeu com um “ah, sim”, e se afastou, procurando alguém pela multidão de famílias.

- Candidatos, vocês estão preparados? – tio Hyran perguntou, animado, fazendo todos em volta gritarem. Eu, , e mais quatro pessoas fizemos um positivo com o dedo, respirando fundo.
As melancias estavam abertas em uma mesa em nossa frente, e nós nos posicionávamos em pé. Era uma prova ridícula, e estando ali, de frente para a fruta, eu percebera ainda mais. Eu não sabia quem havia mudado a ideia da prova para ser diferente do básico dela pelo mundo, pois tínhamos que comê-la com uma colher. Não fazia sentido algum, e eu só queria matar essa pessoa, porque levaria uma eternidade.
- Boa sorte. – ouvi falar ao meu lado antes que seu tio desse o ok e começássemos então a sofrer.
Peguei a colher e tentei não pensar, apenas enfiei-a na fruta, dando a primeira colherada. Não parava para sentir nada, apenas para cuspir as sementes o mais rápido que pudesse, levando uma colher atrás da outra para dentro da boca, já sujando completamente o avental que usava, sentindo a água escorrer por meu rosto e pescoço. Eu sabia que depois daquele dia, eu nunca mais comeria uma melancia, eu não entendia como todos não ficavam com aquele trauma, na verdade.
Tentei não perder minha concentração, mas minha curiosidade era maior que minha vontade de vencer, então olhei discretamente para meus competidores, vendo que eu estava bem para trás deles, o que eu já esperava, sinceramente. estava indo bem, mas, Terry, filho do senhor Earl, estava muito melhor ao seu lado. Cuspi mais algumas sementes e continuei o trabalho braçal de ir enfiando a colher na melancia e levando à boca, cada mais enjoada do cheiro e do gosto daquilo.
- E Terry é nosso vencedor mais uma vez! – cuspi as últimas sementes que estavam em minha boca e me joguei na cadeira que tinha atrás, respirando fundo e sentindo o cheiro terminar de me enojar enquanto a adrenalina ia passando. Tirei o avental e joguei-o no chão, ignorando todos e correndo para fora dali em direção ao banheiro.
Entrei no banheiro e me aproximei da pia, lavando meu rosto e pescoço, passando sabonete para tirar o cheiro. Estava bem, mas não podia aguentar o cheiro da fruta ainda impregnado em meu nariz. Fiquei parada ali por alguns segundos, apenas respirando fundo e rindo de mim mesma.
- ? – ouvi a voz de entrando no banheiro. – Você está bem? – ele parou ao meu lado, tentando descobrir sozinho antes que eu respondesse. Assenti, rindo. – Não chega perto, você também está cheirando melancia.
- Eu já me lavei também. – ele levantou as mãos como em rendição. – Imaginei que fosse esse seu problema, você sempre quis participar, mas você não pode me falar que é a maior fã de melancia, porque eu sei que não é. – ele deu de ombros. – Mas você está bem mesmo?
- Estou sim. Prometo. O cheiro me incomodou demais, eu precisava sumir com isso, devem estar achando que eu estou morrendo de vomitar aqui. – dei risada, vendo-o concordar.
- Com certeza estão pensando isso, todo mundo entrou em choque.
- Nada mais normal, sempre entram em choque por qualquer coisa.
- Ei, não fala assim da minha cidade. – brincou.
- A partir de primeiro de janeiro, , se segura. – respondi da mesma forma, vendo-o concordar.
- Bom, vou voltar para lá então. Precisa de algo? – “meu melhor amigo de volta, rola?”, minha consciência pensou sozinha.
- Não, está tudo bem. – ele assentiu, virando-se de costas e caminhando para fora do banheiro feminino. – Ei. – ele virou-se novamente. – Obrigada. Mesmo.
- Imagina, sem problemas. – ele sorriu, sincero, e saiu, me deixando sozinha, encarando o espelho. – . – ele voltou, aparecendo apenas na porta, assustando-me.
- Sim? – falei, olhando-o pelo reflexo do espelho.
- Se precisar de algo, pode me procurar, tudo bem? – assenti, concordando e agradecendo mais uma vez.

- Eu juro, , ele saiu correndo logo atrás de você. – Bryan falou depois que a família se dissipou, após diversas perguntas preocupadas deles e dos demais moradores que vieram me abraçar para matar as saudades. – Ele nem pensou, só correu. – ele riu.
- Ele foi perguntar se estava tudo bem. – dei de ombros. – Foi gentil da parte dele.
- Muito, né? – Bryan deu um sorriso brincalhão e eu estalei um tapa em seu braço. – Ele é meu amigo, , você sabe, eu também o conheço. Se você correr atrás, vocês ainda podem ser amigos.
- Eu não tenho essa coragem, meu arrependimento ainda me mata, infelizmente. E eu só estou aqui há um dia, nos vimos duas vezes. Ele está muito bem com a vida dele, não quero aparecer e trazer mágoas antigas, sério.
- Ele está bem, mas não é uma pessoa sem problemas, não pense isso. Ele precisa de uma amiga agora, acredite. – Bryan falou, dando de ombros. – Mas fica a seu critério tentar se aproximar ou não, eu entendo que você volta para Chicago e se questiona de como ficariam novamente, mas a amizade de vocês não teria problema com a distância, ainda mais agora que você está mais certa com férias e tempo para visitas. Isso só não rolou quando você foi embora porque vocês estavam com mais coisas rolando, você sabe. – assenti e logo a senhora Tilth apareceu, cortando nosso assunto.

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- Tem algo melhor que véspera de Natal? – perguntei ao entrar na sala após o almoço e encontrar toda família reunida, decorando meias para pendurarmos nas paredes.
- Tem, o Natal, tia. – Andy respondeu, tentando se livrar de um pedaço de linha colado em sua mão.
- Nem isso, eu ainda gosto mais da véspera. O sentimento de que está chegando é bom demais. – sorri, me sentando no chão ao lado de meu pai e minha mãe, essa que me abraçou, beijando o topo de minha cabeça.
- Você sempre foi do contra. – ela riu, fazendo todos a acompanharem, e eu rolei os olhos.
- Eu não tenho culpa de amar a expectativa do Natal, o mês todo se transforma na melhor coisa. E esse ano é melhor ainda, porque estou aqui com vocês. Agora me passem a minha meia. – sorri, esticando o braço para pegar o tecido que tio Octavian estendia para mim.
Eu amava o fato de ter uma família grande e próxima. Como todos moravam em Bright River, estavam sempre juntos, todos os momentos possíveis, e era uma família que realmente tinha uma grande amizade envolvida. Era até estranho não ter tantos escândalos em uma família desse tamanho, quase me sentia em uma família de filmes de comédia romântica.
Éramos: minha mãe e meu pai, Nancy e Keith. Meus tios Paul e Queen, e Dora e Octavian, pelo lado da mamãe; e meu tio Kenan e a tia Vivian pela parte de meu pai. Meus tios não tiveram filhos, o que não contribuiu para que a família aumentasse ainda mais, então para a próxima geração havíamos ficado Bryan e eu, e Mary se juntando a Bryan em seguida, trazendo Andy.
Sim, eu e a Bryan éramos muito mimados tendo todos esses adultos por perto, assim como sei que Andy também é. A atenção de todos era sempre voltada para nós, e acredito que isso possa até ter colaborado para que não houvessem tantas brigas, já que eles nem tinham tempo para ter problemas uns com os outros, já que não conseguiam se desvencilhar das trapalhadas dos mais novos da família.
- Tia, posso te ajudar na sua? – Andy perguntou, trazendo um glitter em mãos.
- Claro que pode, vou precisar de muita ajuda, faz tempo que não faço uma meia de Natal. – sorri para ela, vendo-a assentir, animada.
- Eu acho que azul combina com você, podemos fazer bastante coisa azul.
- Eu concordo, vamos lá. – coloquei o tecido no chão e recolhi algumas coisas que poderia usar, colocando-as próximas a nós duas, começando o trabalho.

- Pai. – me aproximei da cozinha, vendo-o ajudar minha mãe a iniciar os preparativos do jantar. – Posso pegar o carro? – perguntei.
- Claro, meu bem. Precisa de alguma coisa? – ele perguntou, tirando a chave de dentro de seu bolso.
- Só quero dar uma volta. – sorri, pegando-a da mão dele. – Quero aproveitar que está escurecendo, mas volto para jantar. Qualquer coisa, aviso no celular. – eles assentiram, mandando um beijo no ar.
Passei rapidamente pela sala, despedindo-me dos que ainda estavam na sala.

Sai com o carro, animada. Liguei o rádio e conectei minha playlist com as músicas de Natal, logo começando a cantar sozinha enquanto fazia o caminho até a entrada da cidade, onde ficava o início do rio que dava nome a ela.
A entrada da cidade era realmente bonita com aquela grande placa de madeira, e tendo a praça construída nas duas margens do rio. Eu simplesmente idolatrava aquele ponto da cidade. Eu amava ir brincar ali quando era pequena, amava o quanto passar por aquele lugar me fazia sentir em casa. O nome da cidade não era à toa, aquele rio realmente parecia brilhar quando o sol o tocava, e era algo que eu precisava ver, mas não seria naquelas férias devido ao frio, nem mesmo tínhamos um sol brilhante céu naquela época.
Por esse motivo escolhi vir durante à noite, pois eu sabia que ainda teríamos os melhores enfeites do mundo na parte da praça da margem direita. A decoração dali era sempre a melhor, as lâmpadas, as diversas árvores, as renas, e até mesmo um presépio iluminado. Eu sabia que poderia me sentar embaixo de minha árvore preferida na margem esquerda e simplesmente ficar ali, quieta, aproveitando.
Estacionei e desci do carro com um sorriso no rosto, apertando o casaco contra o corpo, ali estava muito mais frio, sem dúvida. “O frio é psicológico”, como diria minha mãe, então ignorei-o e tranquei o carro, andando até a calçada e aproveitando cada passo de meu lugar favorito.
Andei até a margem do rio, observando atentamente todo aquele brilho das luzes de cada decoração, relembrando de cada detalhe e percebendo que provavelmente ninguém ousava mudar o de sempre, pois ainda parecia a mesma decoração de quando eu era mais nova, até mesmo a velhice de cada uma das coisas, não sabia como não paravam de funcionar.
Tinham algumas poucas pessoas divididas entre as duas margens, duas famílias estavam ao lado das decorações, tirando fotos, e alguns adolescentes encontravam-se ali do mesmo lado que eu, apenas em um círculo, conversando e tomando alguma bebida quente. Suspirei, lembrando-me de quando era eu ali. Sorri sozinha, virando-me e caminhando até a árvore que gostava, para sentar-me entre suas raízes. Ela fica em um canto um pouco mais ao final da praça, sendo um lugar um pouco mais escondido, motivo que me fazia gostar tanto.
Me sentei na parte menos escondida, onde ainda conseguia ver tudo, um ótimo lugar para observação e aproveitar a nostalgia que estava me pegando. Peguei meu celular e coloquei meus fones de ouvido, logo abrindo também a câmera e postando uma foto da vista em minhas redes sociais, quais parei para mexer um pouco, apenas rolando os feeds e vendo o que tinha de novo.
Ouvi o barulho de um galho quebrando e tirei meus fones de ouvido, olhando para frente, esperando quem se aproximava, mas me assustei ao ver que a pessoa vinha do lado contrário, levantando-se do mesmo lugar que eu estava, apenas mais escondida.
- ? – vi parado, em pé, com um casaco em mãos.
- ? Você estava aí? – apontei para o lugar em que tinha uma barra de chocolate e um celular no chão, quais ele parecia estar se abaixando para recolher. Ele assentiu.
- Você está aqui há muito tempo? Não te vi chegar.
- Faz alguns minutos. Não te vi também, você estava no esconderijo. – brinquei, apontando para o lugar na parte de trás da árvore, onde ele estava. – Queria aproveitar a vista, se não fosse isso, eu já teria te encontrado.
- É, bem provável, porque é bem estranho te ver aí. – ele apontou para onde eu estava sentada.
- Você está indo embora? – perguntei, incerta se deveria mesmo o fazer. Ele estava recolhendo suas coisas, era claro que estava de saída.
- Hm, estava sim. – sorriu de lado, confuso, coçando a cabeça.
- Ah, tudo bem. – dei de ombros, sorrindo para ele. – Se não estivesse, ia perguntar se poderia me juntar a você. – falei, confiante.
Um dos motivos de ter ido até ali, fora para aproveitar o lugar e pensar no que havia conversado com Bryan. Ele havia conseguido encher minha cabeça, e estar no meu lugar preferido poderia me ajudar a pensar. Eu nunca tivera uma amizade como a de depois de ter saído de Bright River, e, bom, na realidade, me fechara para o mundo quando me mudei. Eu havia evoluído minha parte profissional, sem qualquer dúvida, mas meu emocional se fechara de uma forma tão surpreendente quanto. E se eu pudesse pelo menos me desculpar com e mantermos algo saudável, saber o que ele passou nos últimos anos, poder comemorar sua vitória? Valia a tentativa?
Estava ali justamente para me permitir pensar aquilo, usando nosso lugar preferido para tal. Nosso lugar preferido, pois eu não podia me enganar ao colocar aquele lugar como meu, e ter ele ali apenas me confirmou isso. Assim como me parecia uma resposta divina para os pensamentos.
- Acredito que posso ficar mais alguns minutos, na verdade, acho que minha bateria acabou de terminar e eu terei que fingir para todos que não vi as diversas mensagens e ligações que estava ignorando. – ele deu de ombros, sorrindo, mas dessa vez um pouco mais tristemente. – Só um minuto. – ele caminhou rapidamente até a lixeira mais próxima, livrando-se do papel de chocolate e uma lata de refrigerante, logo voltando ao mesmo lugar e sentando-se.
- Posso te fazer companhia? – perguntei, me levantando de forma que pudesse vê-lo sem me esticar e apontando para o espaço ao seu lado. Ele assentiu com um balançar de cabeça.
- Acho que esse lugar nunca vai deixar de ser seu também. É por isso que está aqui? – perguntou, me fazendo sorrir.
- Precisava pensar. – respondi, me jogando ao seu lado. – E você? Ainda é o seu lugar para pensar também, não é? – ele assentiu.
- É quase como se estivesse ouvindo seus conselhos quando me sento aqui. Por esse motivo evitei vir durante um tempo, bom, até precisar de um bom conselho e descobrir que aqui é como se eu os tivesse. – ele deu de ombros e, dessa vez, não senti como se ele quisesse me cutucar com aquele comentário.
- Você foi a primeira coisa que pensei ao vir aqui hoje. – confessei, vendo-o dar uma risada desanimada, como se entendesse que não era possível não lembrarmos um do outro ali. - Conseguiu algum hoje? – perguntei, suspirando, vendo que ele parecia confuso. – Algum bom conselho do lugar.
- Não sei, acho que sim. – falou.
- Se precisar de um de verdade, é uma boa oportunidade. – arrisquei, vendo-o rir.
- Talvez seja. – ele concordou, jogando seu corpo para trás, encostando-se na árvore e relaxando.
- É? – perguntei, surpresa, inclinando meu corpo para frente.
- Eu demorei, mas eu entendi as coisas, . Te ver foi uma surpresa, mas eu não guardo mágoas. Bom, não exatamente, talvez um trauma. – ele riu, dando de ombros. Percebi então que ele realmente estava mais relaxado, o que me fez suspirar.
- Eu guardo, , um grande trauma, uma grande mágoa. – sorri, triste. – Não era exatamente minha intenção tocar nesse assunto dessa forma, mas já que estamos aqui, não é? – ele assentiu, concordando. – Me desculpe. De coração. Eu não posso dizer que me arrependo de ter ido embora, pois me formei no que queria, conheci muita coisa, mas me arrependo demais de como deixamos a nossa amizade sumir. Droga, tinha tanta coisa que podíamos fazer, . Tudo se misturou e isso fez com que a gente desistisse, e eu realmente sinto muito, você era a pessoa que eu mais idolatrava no mundo, te perder... Digo, perder sua amizade, foi algo muito grande e traumatizante para mim. – corrigi minha frase, respirando fundo. Eu não queria tocar naquela parte do assunto, e nem acho que devíamos. – Eu acho que isso, em partes, foi o que me manteve realmente sem me esforçar em voltar para casa, porque o medo de te encontrar e ter que pedir desculpas era grande demais para o meu subconsciente.

Flashback
- O que tem de tão interessante aí? – perguntou, vendo escorada na bancada com as cartas quais tinha entrado nas mãos quando chegou.
- Faculdades. – ela suspirou, encarando o amigo.
- Quais? – ele perguntou, animado, levantando-se.
- Acho que não quero pensar nisso agora, . – ela riu nasaladamente, soltando os papéis e jogando os braços por cima dos ombros do rapaz, puxando levemente os cabelos de sua nuca em um carinho.
- Sua cabeça está nisso, , acho justo que você olhe logo, nós temos todo tempo. – ele sorriu, beijando a ponta do nariz da garota.
- Recebi as respostas de vários lugares, inclusive da que eu realmente queria. – ela mordeu os lábios, puxando uma carta entre tantas.
- Chicago? – ele perguntou, encostando-se na bancada e vendo-a assentir com um suspiro. – Abre. – a encorajou, tirando um sorriso rápido da menina, que rasgou o papel do envelope e puxou a carta de dentro. – E aí? – perguntou enquanto ela ainda lia.
- Eu passei. – respirou aliviada, vendo arregalar os olhos, abraçando-a fortemente.
- Que incrível, , meu Deus! Estou tão orgulhoso! – gritou, animado.
- Mas, ... É do outro lado do país. – ela mordeu o lábio, não conseguindo afastar o pensamento. Acabara de dividir um momento incrível com seu melhor amigo, o garoto de quem gostava pela vida inteira, seu porto seguro. Haviam acabado de dar seu primeiro beijo, tinham tanta coisa pela frente.
- Nós vamos dar um jeito. – ele falou, confiante, tentando tranquilizá-la. assentiu, fingindo ouvi-lo, mas em sua cabeça, ela tinha certeza de que não teria um jeito.

Flashback


- Assim como o meu medo de te procurar um tempo depois de tudo que aconteceu nos privou de ter uma chance também. – o encarei, sem entender. – Quando eu digo que entendi as coisas, quis dizer há anos, logo quando você foi embora. – ele suspirou. – Eu não demorei para perceber que fui um babaca, . Mas eu não tive coragem de te dizer isso, preferi guardar as coisas e seguir em frente, porque imaginei que você estivesse fazendo o mesmo. Também tive medo desse dia chegar. – ele apontou para nós dois. – Mas quando você esbarrou em mim, apesar de amargo, me senti feliz em te ver. E depois, ontem, na competição, tive certeza de que realmente não guardava problemas com... Com a nossa amizade. – notei a incerteza em sua voz ao falar e senti que compartilhávamos da mesma opinião, algumas coisas deveriam ficar da forma que estavam, guardadas.
- O Bryan me disse que você foi atrás de mim assim que sai de lá. – dei risada.
- A preocupação nunca muda, não adianta. – ele deu de ombros, envergonhado. – Por isso foi que tive certeza.
- Isso significa que podemos deixar esse leve capítulo de anos para trás? – perguntei, ansiosa, mordendo meu lábio inferior.
- Isso significa que posso tolerar sua companhia por esses dias em que você está na minha cidade, senhorita. Também significa que podemos dividir nosso lugar, já que nunca podemos negar que é nosso. – ele apontou para árvore, onde havíamos cortado nossas iniciais com a ajuda de sua mãe, quando tínhamos 11 anos. – E significa também que você pode me dar conselhos quando estou completamente perdido.
- Eu com certeza posso, me diga o que te aflige, senhor. – falei, brincando, virando-me de frente para ele e apoiando meu queixo em minhas mãos, fazendo-o rir.
- Eu estou surtando que faltam poucos dias para assumir a prefeitura. Eu juro que eu estou preparado, eu tenho todo o apoio possível, e eu estou feliz. Porém, lembra quando você disse que estava parecendo um reinado? – eu assenti. – Se eu te disser que estão me obrigando a conhecer uma pessoa para casar, você acreditaria?
- O quê? – eu gargalhei. – ! Como assim?
- É ridículo, não é? Era essa confirmação que eu precisava! Não tem sentido algum. Eu entendo que os políticos fazem isso para ter aquela visão família e conseguir votos, mas eu já serei prefeito, por que agora eu preciso de alguém para vender a imagem de família feliz? Isso nem mesmo faz sentido nessa cidade, . Ninguém aqui se importaria com isso, mas minha família está me enchendo o saco. – bufei. – A esposa do meu tio, aquele de Boston, trouxe uma sobrinha dela. A menina é legal e tal, sabe? Mas até ela já percebeu que estou fugindo. Não é assim que quero que as coisas aconteçam. – ele despejou, bufando. – Eu acredito que eles queiram aproveitar que sou novo para me inserir em outras disputas eleitorais maiores depois. Confesso que nem quero pensar nisso agora, mas a parte de ser quase forçado a conhecer alguém é horrível.
- Mas você falou para todo mundo que não queria isso? – perguntei, vendo-o torcer os lábios.
- Eu...
- Você não falou. – afirmei. – Você quer agradar, claro. – ri.
- Não sei bem como falar, .
- Você vai deixar para falar quando sua mãe já tiver planejado todo o casamento? Nós dois sabemos que ela é capaz disso em pouco tempo. – brinquei, referindo-me ao fato dela ser a organizadora da maior parte dos eventos da cidade desde sempre, sendo esse um cargo seu na prefeitura.
- Eu não tive qualquer envolvimento com a garota, sabe? Fugi bem todos esses dias que ela está aqui, então não vou magoá-la nem nada assim, isso já me deixa mais tranquilo. – ele sorriu. – Acho que eu precisava de alguém que me encorajasse. Obrigado.
- Estou aqui para isso. – falei, sem pensar. – Se você quiser, claro, tipo, se voltarmos a sermos amigos e tudo mais.
- É engraçado te ver nervosa perto de mim. – ele riu.
- Não zombe de mim, eu estou agoniada há dois dias, desde que te encontrei, babaca. – usei o apelido que ele mesmo usara há alguns minutos.
- Não é como se fosse como antes, mas estamos bem, . Também não é como se não pudesse ser. Não vamos apagar o que aconteceu, mas podemos superar. – ele bateu seu ombro no meu, brincando.
- Obrigada por ser incrível como sempre, .
- Obrigado por ser uma ótima conselheira, e por me fazer ver que apenas um lugar não me ajudaria a resolver minha vida. – riu. – Estou feliz que você esteja aqui, sem esse empurrão sincero, você provavelmente estaria sendo convidado para “o casamento do ano” dessa cidade. – deu ênfase, me fazendo rir desesperadamente.
- Até arrepiou aqui. – apontei para meu braço, brincando. – Você vai fazer alguma coisa agora? – perguntei após algum tempo em silêncio, apenas nos encarando. Ele negou com a cabeça.
- Apenas iria para casa jantar, mas ainda posso fugir um pouco mais de lá se você tiver um bom convite. – ele sorriu, sincero.
- Jantar em casa é um bom convite? – perguntei, ansiosa por sua reação. Ele fingiu pensar, me fazendo rolar os olhos.
- É uma ótima ideia, na verdade. – ele riu e eu assenti, concordando.
- Sabia que você não podia resistir. Vamos. – me levantei em um pulo, vendo-o fazer o mesmo. Antes de começar a andar, parei em sua frente, me atrevendo a segurar sua mão entre as minhas, fitando seus olhos. Senti um arrepio percorrer aquela região com o contato de nossas mãos quentes no ar gelado, e foi engraçado perceber que ele ficou tão incerto e surpreso com aquele gesto quanto eu. – Obrigada, , de verdade. Você é muito importante para mim, fico feliz em ver que podemos ser adultos e resolver nossos problemas com a mesma simplicidade de quando éramos crianças e brigávamos por uma massinha colorida. Você sempre vai ser o melhor. – sorri para ele, vendo-o abrir um largo sorriso em resposta.
- Acho que você deu um ótimo exemplo, não poderia falar melhor. Obrigado por ter dado o primeiro passo. – ele se aproximou, beijando minha testa carinhosamente enquanto apertava minha mão, que suava frio. – Vai ser bom ter você de volta na minha vida. Se eu soubesse que precisávamos de uma simples conversa para isso, já teria corrido até Chicago. – brincou.
- Eu recomendaria um avião, tá? – ele rolou os olhos para minha piada sem graça. – Sei que não vamos voltar a uma amizade adolescente, mas temos muitos para nos atualizarmos para criar uma nova amizade, quero correr atrás do tempo perdido.
- Então estamos na mesma página. – ele piscou para mim, me fazendo ficar confortável novamente em estar ao seu lado. – E estou feliz que arrumei uma carona para casa, vim andando. – ele gargalhou, acompanhando-me até o carro.

- Oi, família, eu trouxe um convidado, tentem não babar muito nele. – falei enquanto abria a porta e deixava passar, antes de fechá-la novamente atrás de nós.
- ! – vi Andy logo correr para abraçá-lo enquanto ele tirava o casaco para pendurar e eu fazia o mesmo.
- Sempre vamos babar muito nele, meu bem. – minha mãe se aproximou, segurando o rosto de por alguns segundos antes de envolvê-lo em um abraço. – Muito bom ter você aqui, .
- É muito bom estar aqui, tia.
- Da melhor forma dessa vez, certo? – ela brincou, apontando para nós dois e nos fazendo sorrir, envergonhados.
- O encontrei perdido por aí, achei que ele pudesse aproveitar de uma boa companhia. – falei, brincando. Vi Bryan e Mary olharem para mim com as sobrancelhas arqueadas antes de cumprimentarem .
- Então você o trouxe para o lugar certo, já pode sair. – meu pai falou, rindo.
- Engraçadinho, não é? Querendo se aparecer para o futuro prefeito. Cuidado com esse aí, hein? – brinquei com , vendo meu pai vir em minha direção para me abraçar.
- Acho que aqui é o lugar que vou me sentir menos prefeito em minha vida, é ótimo. – confessou e todos riram. Sorri, sabendo que aquilo significava que ele nunca tinha deixado de pensar em minha casa como um lugar de conforto, afinal, eu sabia que minha família continuava tratando-o como um filho e ele estava sempre ali com todos.
- Ainda estão te enchendo muito o saco? – Mary perguntou enquanto arrumava a mesa. assentiu, começando a ajudá-la. Perguntei rapidamente para minha mãe sobre meus tios e ela me disse que eles haviam ido embora, então nossa véspera seríamos apenas nós, eles viriam para o café da manhã para abrirmos os presentes.
- Muito. – bufou.
- Às vezes tenho vontade de dar uns bons socos no seu pai. – meu pai disse, falando do amigo. – Onde já se viu, ficar preocupado que você não tenha casado ainda.
- Ei, todo mundo sabia disso? – perguntei e vi todos assentirem. – Ah, ok. – ri.
- Mas vamos falar de coisas boas. – falou, chamando a atenção de todos. – O que tem para comer, tia? – ele abraçou minha mãe, fazendo todos rirem.

- Agora a gente já pode arrumar a sala para enfeitarmos os biscoitos? – Andy perguntou, vendo que todos haviam terminado a refeição.
- Meu Deus, eu nunca vou me conformar que você consegue ser mais acelerada que o Will, vocês se merecem. – riu, recebendo um rolar de olhos da menor.
- Vou lavar a louça, vocês podem ir arrumando, prometo que faço rapidinho. – falei, vendo todos assentirem.
- Eu te ajudo. – sorriu para mim, já se levantando para começar a retirar os pratos junto comigo.
- Achei que minha mãe ia te defender e falar que não precisava, de forma alguma, e toda aquela proteção. Acho que você já foi mais amado. – brinquei quando chegamos na cozinha e ele me entregou alguns copos para colocar na pia.
- Parece que você desaprendeu algumas coisas sobre sua mãe, tudo é feito com algum propósito. – ele piscou, fazendo-me concordar, sabia que aquilo fazia sentido.
- Ah. – sorri, entendendo. Ela com certeza queria que passássemos mais tempo juntos.
- Obrigado pelo convite, acho que eu estava precisando disso um pouco. – falou, encostando-se na bancada ao lado com um pano de prato em mãos.
- Eu também acho, está até com uma expressão melhor do que encontrei lá hoje. – pisquei para ele, brincando.
- Mas e você? Estava precisando disso também? – perguntou, puxando assunto.
- Muito. Me reunir com bastante gente sem ser para uma reunião, fazer coisas divertidas sem ser uma balada, conversar com pessoas que realmente se importam comigo. – despejei.
- Ver seu ex-melhor amigo. – ele deu de ombros, rindo.
- Não coloque um ex na frente, não é como se eu tivesse tido algum amigo depois de você, . – gargalhei. – Você é a única pessoa que me aturou dessa forma na vida, pode ter certeza.
- Eu te entendo. – ele riu também, concordando.
- Você não precisa ir embora agora, não é? – perguntei e o vi franzir o cenho. – Pode ficar para enfeitar biscoitos com a gente?
- Talvez eu finalmente tenha que informar minha família que estou vivo nesse 24 de dezembro, mas posso sim. – sorriu, concordando e tirando o celular do bolso.
- Eu acho que é uma boa ideia. Não que sequestros sejam comuns por aqui, mas é legal pelo menos dar um alô, não é? – ele digitou algo no celular e logo em seguida o guardou. – A Andy vai ficar feliz.
- Você também? – perguntou, e eu percebi que ele o fez sem pensar, o que me fez corar enquanto confirmava com um balançar de cabeça. Notei que suas bochechas também haviam tomado um tom rosado, o que me fez rir um pouco.
- Eu também, de verdade. – confessei, soltando o ar que estava guardando e vendo-o sorrir abertamente.
Eram momentos como aquele que me faziam lembrar o motivo de ter gritado para cidade inteira que estava apaixonada por quando tínhamos 18 anos.

Flashback

- , a gente precisa terminar isso, é o último trabalho! – gritou enquanto via o garoto ir para cima e para baixo no balanço da praça central da cidade.
- , você precisa se divertir um pouco, você tá estressada demais. – reclamou, sem nem pensar em se mover para fora do balanço.
- Estamos acabando o ensino médio, eu quero me formar com as melhores notas possíveis, será que você pode colaborar? Esse trabalho é para ser em dupla! – bufou.
- Você vai se formar com todas as melhores notas da escola, , assim como eu, sempre foi assim, para de surtar. – ele riu, parando o movimento e levantando-se, andando até a mesa onde a garota estava sentada e posicionando-se atrás dela enquanto suas mãos se moviam, escrevendo no papel. – Você tem sorte que eu te amo muito, senão eu já tinha sumido de perto de você nesses últimos dias, você está muito irritada. – ele colocou as mãos nos ombros da amiga, começando a massageá-los. rapidamente balançou o corpo, fazendo-o a soltar. – Viu? Você não me deixa nem chegar perto de você, . O que tá acontecendo? Você tá preocupada com as coisas da escola, eu sei, mas a gente tá passando todo o tempo juntos esses dias, praticamente 24 horas, e ainda assim você tenta me afastar sempre que pode.
- Eu estou estressada, é só isso. – ela se levantou, chacoalhando o corpo como se tentasse relaxar.
- Não é possível que seja só isso. – reclamou, parando de frente para garota e segurando seus braços para que ela ficasse parada no lugar. – Olha para mim e me conta, aconteceu alguma coisa? Eu estou preocupado com você, . – falou, sério, vendo a menina desviar o olhar do dele. soltou um de seus braços e levou a mão até o rosto da garota, vendo-a fechar os olhos e respirar fundo com o carinho. – Pode falar comigo, você sabe, poxa. – completou, carinhoso como sempre.
sentiu o próprio corpo render-se ao momento com o rapaz e suspirou, mas logo em seguida pareceu girar outra chave em seu cérebro, o que a fez se chacoalhar novamente, afastando-se dele e soltando um grunhido irritado.
- Não é nada, ! – reforçou, aumentando a voz.
- Como não é nada, ? Olha o jeito que você tá agindo, faz uma semana que você está fazendo exatamente a mesma coisa. Eu estou começando a achar que seu problema é comigo, mas eu não sei o que eu fiz! – aumentou a voz também, vendo algumas pessoas começarem a olhá-los.
- Você nasceu, ! Esse é o problema! Você nasceu, você é meu melhor amigo, e eu simplesmente não pude evitar me odiar por descobrir que estou apaixonada por você, ok? – ela soltou aos gritos, logo percebendo o que havia feito e arregalando os olhos, vendo que estava da mesma forma, assustado. – Satisfeito, ? – perguntou baixo, juntando as próprias coisas e correndo dali sem olhar para trás para ver que o garoto sorria abertamente.

Flashback


A forma como as coisas aconteciam naturalmente entre nós dois eram simplesmente incríveis. A forma como tínhamos uma ligação era maravilhosa, e a forma como sorríamos juntos para tudo sempre me tirava do mundo real. E estar ao lado dele agora era ótimo, era incrível pensar na possibilidade de reatarmos nossa amizade. Mas nos últimos minutos, não pude deixar de pensar que também sempre poderia ser uma memória do que não pudemos ter.
Aquele foi um pensamento que rapidamente afastei, mas tive certeza de que uma parte minha sempre seria perdidamente apaixonada por , e às vezes parecia que eu nem mesmo tinha seguido em frente do meu amor da adolescência.

- , me mostra o seu! – Andy falou, tentando olhar por cima do ombro de , que apenas negou com a cabeça. – Eu quero ver como está ficando. – ela fez bico, fazendo-o rir.
- Eu não trabalho bem sob pressão, não, não. Saí daqui, criança. – ele brincou, se fechando mais no que estava fazendo.
- E como você pretende assumir uma cidade no seu ouvido? – perguntei, pertinente, vendo todos rirem e rolar os olhos.
- Eu vou fingir que não ouvi essa pergunta para não te mandar embora da minha cidade. – brincou e eu o encarei com a sobrancelha arqueada, fazendo-o rir. – Me deixa trabalhar, vocês são muito chatos. Olha o Bryan fazendo tudo errado ali, vão tirar a paciência dele. – meu irmão lhe mostrou o dedo do meio automaticamente.
- Nossa, pai, isso tá realmente feio. – Andy riu, aproximando-se do pai com o açúcar de confeiteiro em mãos. – Vamos jogar bastante açúcar para tentar salvar, tá? Porque feio desse jeito, nem o sabor do biscoito gostoso da vovó vai salvar. – a sala explodiu em gargalhadas e logo Andy estava no chão, sendo atacada por cócegas do pai.

- Todos feitos? – meu pai perguntou, passando e recolhendo todos os biscoitos para guardá-los para o dia seguinte. O ajudei a recolher, pegando o bonequinho que tinha feito, que se parecia com ele, de cima da mesa, já que ele havia desaparecido da sala há alguns minutos.
- Estão todos muito bonitinhos. – Mary falou, olhando cada um deles. – Menos o do Bryan, claro. – ela apontou para o biscoito esfarelado no meio do recipiente. – Gostei desse. – ela apontou para árvore que eu havia feito e eu agradeci.
- Depois fico com dó de comer. – rolei os olhos, fazendo-a rir. – Sabia que ela não duraria até o fim, ainda bem que ela fez os dela rápido. – apontei para Andy no sofá, que já havia pegado no sono.
- Nós já vamos, tudo bem? – Bryan falou, aproximando-se para deixar um beijo em minha testa. – Amanhã cedo estamos de volta, Feliz Natal, . – completou, já que passava-se da meia-noite.
- Espero vocês para abrir os presentes. Feliz Natal, Bryan. – o abracei, puxando Mary para nosso abraço também.
- Ei, vocês me dão uma carona? – apareceu, pegando o celular da mesa e andando até nós. Minha mãe vinha logo atrás dele, rindo.
- Não, , Bryan e Mary vão te deixar ir a pé. – ela brincou, recebendo um abraço do homem.
- Você não perde uma oportunidade, tia. Feliz Natal. – ele beijou o topo da cabeça dela e em seguida se aproximou de meu pai, dando um abraço apertado. – Feliz Natal, tio.
- Vou colocar a Andy no carro. – Bryan falou, pegando a filha no colo e saindo acompanhado de Mary. Sorri para e ele fez o mesmo, passando por mim para seguirmos o casal para fora.
Paramos na porta de casa, enquanto os dois iam até o carro, e apenas ficamos em silêncio, os observando.
- Bom. Nos vemos ainda, não é? – perguntei, tentando não parecer tão esperançosa quanto estava.
- Você vai embora quando? – perguntou, parecendo o fazer à contragosto.
- No dia 02. – sorri, triste.
- Nos vemos ainda, , prometo. Me passa seu telefone e a gente combina de se encontrar, acho que você precisa ir em casa também. – assenti, pegando seu celular e dando um toque no meu para que pudesse anotar. – Foi muito bom ficar com você, obrigado pelo convite, mais uma vez.
- Obrigada por ser o mesmo de sempre. – dei de ombros, dando um passo em frente e me jogando em seus braços, sentindo os deles passarem em volta de meu corpo em um aperto gostoso. Uma de suas mãos subiu para meus cabelos, fazendo carinho, e pude sentir seu rosto encostado em mim se contorcer em um sorriso. Apertei mais meus braços em volta dele e o senti fazer o mesmo. Aproveitei para gravar seu cheiro mais uma vez em minha memória, sentindo toda nostalgia que podia naquele gesto.
- Te mando uma mensagem assim que chegar em casa, tudo bem? – assenti, sentindo-o se afastar. Soltei um grunhido triste e riu, balançando a cabeça em negação. – Também não queria sair. Não sabia que sentia tanto sua falta até te ter aqui. – ele beijou minha testa e eu segurei sua mão em um movimento automático, apertando-a de forma carinhosa.
- Feliz Natal, . – falei, baixo.
- Feliz Natal, . – ele sorriu, levando minha mão até os lábios e deixando um beijo rápido antes de se afastar e entrar no carro com Bryan e Mary que acenavam.

🟢🔴🟢


Acordei com um grande sorriso no rosto. Não, eu não era uma pessoa das manhãs, eu adorava curtir uma preguiça na cama. Mas aquela era a manhã de Natal, e não tinha manhã melhor no ano do que essa. Eu estava simplesmente extasiada em estar em casa e poder curtir esse dia da forma como sempre gostei, com a família. Tomar café da manhã com todos, comer os biscoitos que havíamos enfeitado, abrir os presentes, curtir o dia com filmes natalinos, tudo que tivesse direito.
Meu sorriso se abriu ainda mais ao perceber as vozes na casa, o que me dizia que todo mundo provavelmente já estava ali e eu havia passado da hora. Hoje eu tinha uma desculpa, isso era um fato.
havia me mandado mensagem assim que chegara em casa, mas daquele momento em diante ficamos trocando mensagens até dormir. Chamamos aquilo de terminar de matar as saudades e fingimos não nos importar com o tempo separados, apenas atualizando um ao outro de todos os acontecimentos úteis ou não do tempo em que nos separamos. Contei a ele sobre a faculdade, sobre o trabalho, sobre minha chefe insuportável, os estágios, a diferença da cidade grande, os lugares que visitei, tudo. Ele me contou da faculdade, da vida dele em um geral, mas também das fofocas da cidade, o que não poderia faltar. Me contou também como foi decidir o que queria, como foi realmente decidir que queria ser prefeito não apenas por influência da família. Quando reparamos no horário, já se passava das quatro da manhã, o que poderia justificar que eu estava acordando apenas às 9h, e não às 7h como faria normalmente com ansiedade.
Me levantei e escovei os dentes rapidamente, dando um jeito no cabelo e logo correndo para sala para encontrar toda minha família já reunida em volta da mesa. Sorri ao ver que Will estava ali com pijamas combinando com Andy e os dois discutiam por algo.
- Alguém atrasou todo o café da manhã, já estava preparada para ir lá te acordar aos gritos. – Mary brincou, batendo na cadeira ao seu lado para que me sentasse.
- Bom dia, família! Feliz Natal! – gritei, animada, recebendo várias risadas e desejos iguais em resposta. – A pessoa mais bonita dessa família já está aqui, podemos comer, declaro aberto e oficial o dia de Natal. – bati na mesa e apontei para Andy. – A pessoa mais bonita da família é essa garotinha aqui, claro, não tenho prepotência para tudo isso não. – ri, vendo todos atacarem a comida que estava na mesa.
- A gente já pode abrir os presentes? – Andy perguntou, animada.
- Você pode tudo, meu amor. – sorri para ela, vendo-a se levantar com a boca cheia de farelos de biscoitos, com Will em seu encalço, e correr para sala para pegar seus presentes que estavam embaixo da árvore.
- Você vai abrir os seus também, tia?
- Vou sim, só vou terminar de comer. – pisquei para ela, já assistindo-a rasgar os papéis de presente.

Algum tempo depois, todos nos juntamos às crianças na sala, abrindo também os presentes que havíamos comprado uns para os outros. Ganhei patins novos de meus pais, que acharam que eu devia aposentar os velhos que havia usado para andar pela cidade depois de tanto tempo, um conjunto de colar e pulseira de meus tios, e fones de ouvido como os que eu queria de Bryan, Mary e Andy.
Enquanto eu tentava pegar os últimos pacotes para passar para os donos, encontrei um pequeno com meu nome nele, mas já havia aberto os presentes de todos presentes ali. Era um pacote realmente pequeno e mal embalado, o que me fez rir discretamente, aproveitando que ninguém prestava atenção. Soltei o laço e reparei nos embrulhos em papel filme dentro do papel de presente, rindo mais ainda.
Quando consegui terminar de desenrolá-lo, me vi encarando um biscoito em formato de árvore. Como estava realmente muito bem embalado, estava em perfeito estado, e muito bem decorado. Percebi a razão daquele biscoito quando encarei nos detalhes a decoração da árvore.
Para mim, o símbolo mais importante do Natal sempre fora aquele, a árvore enfeitada, já que era a primeira coisa a trazer o Natal para todos, o momento de montá-la era quando sentíamos que o feriado estava chegando. e eu sempre a montávamos juntos, e havia uma lembrança engraçada para nós dois, de um Natal em especial.
Sempre montávamos a árvore juntos, tanto na minha casa quanto na dele, e em um ano, após uma grande febre na escola, eu havia feito pulseiras da amizade para nós. odiava, vivia reclamando de ter que usar, ele realmente passara dias em meu ouvido, mas não me contrariava. Naquele ano, montamos a árvore em sua casa e ele me deu uma bela desculpa de que ia viajar e estava com medo de perder nossa pulseira. Eu já estava cansada de obrigá-lo a usar, então apenas dei de ombros e retirei a minha também, guardando-a no bolso. então pareceu ter uma brilhante ideia e se levantou rapidamente, me falando que a árvore era especial para nós dois, então podíamos pendurar nossas pulseiras ali junto com as bolinhas. Eu me surpreendi com a ideia ser realmente incrível, então, juntos, penduramos nossas pulseiras nos galhos da árvore, trocando um sorriso cúmplice. Depois daquele ano, as pulseiras haviam virado um enfeite a mais na árvore de sua família.
Em cada lado do biscoito de árvore era possível ver uma tentativa de pintar uma pulseira como as que usávamos, o que fez meus olhos marejarem. Eu não era exatamente uma manteiga derretida, mas aquele dia mexia com meu coração, e ver que havia feito questão de fazer um biscoito de presente para mim, também. Aquilo significava que realmente estávamos dispostos a seguir em frente, sem olhar para o tempo que perdemos com um afastamento dolorido, mas que poderia ter sido evitado se tivéssemos pensado apenas um pouco mais.
Vi minha mãe me olhar do outro lado da sala com um sorriso no rosto. Aquele sorriso dizia tudo, eu sabia que ela queria conversar comigo, e por um segundo eu soube que ela queria ter a conversa que nunca havíamos tido. Ela se levantou e caminhou em direção aos quartos. Logo fiz o mesmo, seguindo-a.
- Depois de anos, você quer ter a conversa que nunca tivemos, não é? – perguntei, sentando-me ao seu lado na cama.
- Você nunca me deu exatamente a oportunidade de entrar nesse assunto, mas sinto que seu espírito natalino possa me deixar te ajudar.
- Ajudar no quê? – ri.
- Meu amor, você nunca me disse o que aconteceu entre você e antes de você chegar em mim e falar “mãe, estou indo morar em Chicago”. Nós fizemos tudo com você e ele não acompanhou qualquer passo, nem mesmo se despediu de você, . Nos primeiros meses, nós nem o vimos, mas eu não tive coragem de falar com você nem uma vez durante esses anos. Também nunca toquei no assunto com ele, ele sempre será parte dessa família, não me importava se vocês estavam se falando ou não, mas eu sabia que não.
- Ah, mãe...
- O que aconteceu, na realidade, eu sei. Você apenas percebeu naquela época o que todo mundo já tinha visto, . E eu sei que também, ou você vai negar que ele correspondia seus sentimentos? – senti meu rosto esquentar.
- Foi tudo muito rápido. No mesmo dia que eu surtei e ele me contou que também se sentia da mesma forma, eu recebi a carta da faculdade. Nós comemoramos, mas eu não conseguia afastar o sentimento de que era errado tudo acontecer ao mesmo tempo, pois eu nem podia ficar feliz por nós, já que logo acabaria. Naquele mesmo dia nós já brigamos e tanto eu quanto ele fomos completamente idiotas e falamos coisas que hoje vejo que não fazem sentido algum. Deixamos uma amizade, e algo melhor ainda que poderia acontecer, se acabar por besteira. – confessei, vendo-a assentir com um sorriso.
- Eu imaginei que fosse algo assim. – ela me abraçou. – E como você se sente com esse pensamento agora? Depois de vocês dois perceberem que se afastaram por nada?
- Culpada. – reclamei, resmungando.
- E eu posso me arriscar a perguntar como você realmente se sente? – ela deu um sorriso torto, curiosa.
- Mãe. – ri, negando com a cabeça.
- Eu só quero saber o que você sentiu quando encontrou esse homem lindo e incrível que se tornou. – falou, puxando saco dele como sempre.
- Sinto que nunca fui para frente com ninguém porque provavelmente meus sentimentos por ele estiveram guardados em uma caixinha, só esperando uma troca de olhares para aparecerem novamente. – rolei os olhos, confessando aquela informação para mim mesma. – Eu nunca me senti bem com alguém como me sinto com ele, você sabe que ele é a pessoa mais incrível do mundo, mãe, eu nunca neguei isso para ninguém, sou fã dele. – ri. – Mas isso também pode ser só um amor adolescente que nunca passou, aquela nostalgia de infância, talvez eu precisasse sentir isso para encerrar esse capítulo da vida e seguir em frente. – dessa vez quem rolou os olhos foi minha mãe, parecendo completamente irritada.
- , pelo amor de Deus, não é possível que você queira ser cega dessa forma. Vocês ainda têm a mesma energia de quando eram duas crianças, vocês se atraem até sem estarem lado a lado, te olha de uma forma que nem seu pai nunca me olhou. – ela gargalhou, sussurrando em seguida: – É brincadeira, só não posso dar o braço a torcer porque sempre falo que o amo mais do que ele me ama. – eu ri de sua fala, me divertindo com o quão incríveis meus pais eram. Anos e anos de casado e ainda tinham a mesma sintonia de dois adolescentes. – A questão, meu bem, é que eu não quero que você deixe de ver o que está claro em menos de uma semana que vocês se reencontraram.
- Mãe, nós só conversamos decentemente uma vez, um único dia. – comentei, jogando-me na cama.
- E de uma conversa você já saiu uma pessoa extremamente sorridente e voltou a ter os olhos iluminados de sempre. Não seja boba, filha, uma segunda conversa pode ajudar a sair algo ainda melhor se vocês a fizerem da forma correta. Você já tomou a posição uma vez, o faça de novo. Pense, claro, sei que você pode ter suas dúvidas, tire-as daí e depois conversem, não deixem esse assunto pendente para trás. Se realmente não sentirem nada além da amizade de sempre e for apenas um amor adolescente, tudo bem, mas conversem, não deixem apenas o assunto morrer. – ela fez um carinho rápido em meu braço e se levantou, saindo do quarto e me deixando jogada ali com meus pensamentos.

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: Ei, você está muito ocupado?

Enviei a mensagem para depois de passar um dia inquieta e pensativa.
Aproveitei muito com todos, me diverti, saí, dei feliz Natal para todos na rua, realmente curti o dia como deveria. Porém, minha mente sempre vagava para a conversa com minha mãe, principalmente quando me joguei sozinha em meu quarto há uma hora.
Pensamentos vinham e iam, me trazendo algumas dúvidas existenciais e esclarecendo outras. Momentos passavam e memórias também, até que não pude evitar, eu queria compartilhar aquilo com a única pessoa que poderia me ajudar. A única pessoa que poderia clarear tudo aquilo ou terminar de escurecer de vez e me deixar sofrer por fim.

: Acho que ninguém fica realmente ocupado na noite de Natal, , até porque todos sempre já estão cansados e precisam descansar antes da próxima festa.
: Precisa de algo?
: Podemos nos encontrar?
: Aconteceu alguma coisa?
: Não hahaha Desculpa, não é isso, é só que eu queria conversar.
: Quer vir aqui em casa? Meus pais foram para o musical de todo ano, como sempre.
: Não quero incomodar, se estiver tudo bem, pode ser.
: Claro que está tudo bem, . Vou fazer um chocolate quente, estou te esperando.

Levantei da cama e rapidamente coloquei uma roupa quente, avisando minha mãe que logo estaria de volta. Vi um sorriso brilhar em seu rosto e imaginei que ela sabia para onde eu estava indo, o que me fez rir.

Cheguei na casa de e toquei a campainha, ouvindo-o gritar que estava aberta. Abri a porta e entrei, logo trancando-a e entrando na casa, parando na entrada para pendurar meu casaco, ficando com meu moletom.
- Oi. – falei, caminhando pela sala.
- Ei, oi. – ele sorriu, aproximando-se e dando um beijo em meu rosto. Ele já estava com duas canecas com o conteúdo fumegante em mãos. – Vamos subir. – assenti, parando próxima da escada ao ver a árvore de Natal montada ali como em todos os anos, o que me deixou curiosa. O vi parado no topo da escada com um sorriso, como se me incentivasse a olhar. Olhei os dois lados da árvore, vendo as pulseiras penduradas ali como ele havia desenhado no biscoito.
- Você não colocou isso aqui agora para fazer uma média? – perguntei com as sobrancelhas arqueadas e ele gargalhou, negando com a cabeça. O alcancei e o segui até seu quarto, fechando a porta e vendo-o se sentar, encostando-se na parede.
- Elas ficam ali todos os anos, minha mãe sempre gostou delas como decoração, se eu a pedisse para jogar fora, ela provavelmente me mataria. E não, eu nunca faria isso. – completou, sabendo que eu falaria algo.
- Obrigada, por sinal, pelo presente embaixo da árvore. – sorri, sentando-me ao seu lado e ele nos cobriu com o cobertor que estava espalhado na cama.
Tomei um gole do chocolate, vendo-o fazer o mesmo enquanto colocava uma playlist qualquer de Natal para tocar na televisão, onde seu celular estava conectado. Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas tomando a bebida. O silêncio nunca fora incômodo, mas tantos pensamentos passavam na minha cabeça naquele momento que não pude deixar de achá-lo extremamente agonizante.
- E então, aconteceu alguma coisa, ? – perguntou, rindo. – Fiquei animado com a sua mensagem, mas curioso também. – deu de ombros, me fazendo sorrir.
- Você podia ser menos direto, não? – falei, bufando.
- Você podia ser mais direta, não? – bufou, me imitando. – Vai, estou sentindo que ainda faltou lavar alguma roupa suja e você precisa colocar para fora.
- Se você está falando isso, sinto que você está pensando nisso e precisa falar algo.
- Eu? Não. Estou muito bem, bem demais até, sério. – riu.
- Eu não quero estragar esse clima bom que estamos e podemos manter para assegurar nossa amizade, . – mordi meu lábio inferior, vendo-o colocar a caneca de lado, como já tinha feito com a minha. Ele se sentou com as pernas dobradas uma por cima da outra, virado de frente para mim.
- O que foi, ?
- A gente pode falar sobre o elefante branco na sala? – perguntei, receosa, vendo-o rir. Ele assentiu, parecendo ficar nervoso. O vi levar as mãos aos cabelos, coçando-os. Aquela era uma expressão engraçada, mas eu não podia evitar utilizá-la, pois sabia que ele entenderia que eu queria falar sobre o grande problema óbvio entre nós que evitamos tocar durante a conversa anterior.
- Podemos falar sobre o elefante branco na sala. – falou, confirmando. – Apesar de eu não ver problema algum com ele, gosto de elefantes, ele me parece bonito assim, até.
- Eu não sei se consigo ignorá-lo, . – ri.
- Eu nunca consegui, . – falou, me surpreendendo. – Eu consigo estar ao seu lado e evitar falar sobre ele, mas isso não significa que em minha cabeça ele não está dançando reggaeton.
- Ah. – soltei o ar pela boca, me calando novamente e tentando evitar um grande sorriso. – É que esse é o problema para mim, . Ele está dançando, e hoje de manhã, ele dançou em ritmo natalino ainda. – fechei meus olhos e respirei fundo, tentando ajeitar as palavras em minha mente. – Eu tenho uma impressão que não sai da minha mente, e eu não posso simplesmente engolir ela e deixar passar, eu não quero ter mais arrependimentos se for para seguirmos com a nossa amizade daqui para frente.
- Sou todo ouvidos. – ele brincou, como se tentasse me relaxar ao ver meu nervosismo.
- A questão, , é que eu me sinto presa a um sentimento de quando tínhamos 18 anos. Eu sempre me senti presa a ele, mesmo que no fundo da minha consciência, sabe? E eu quero que você saiba o quanto eu me arrependo de não termos tido chance quando fiz aquela idiotice de te contar o que sentia naquele dia. Se eu soubesse que eu leria a carta da faculdade e iria embora, eu nunca teria te contado, quem sabe não tivesse sido um pouco depois enquanto lutássemos com a distância para manter apenas uma amizade. Eu queria ter tido a oportunidade de te contar em um momento melhor que aquele, e é isso que eu quero que você entenda, porque a sua ausência na minha vida foi cruel, e eu sei que eu escolhi ir embora e seguir o que eu queria, mas eu fui idiota o suficiente por me deixar levar por uma discussão boba e não correr atrás de você depois.
- ...
- Não, deixa eu falar. – respirei fundo e o vi assentir. – Hoje, depois de muito pensar, eu percebi que não tenho nada a perder em conversar sobre isso com você. Na verdade, eu tenho tudo a perder. – ri. – Mas eu sei que nossa amizade é forte o suficiente para se manter mesmo após essa conversa. Eu só não podia deixar de falar que eu estou aqui, simplesmente rendida, , eu me entreguei a essa ideia na minha cabeça de que não importa quanto tempo passe, nós sempre vamos ter uma ligação. E até que você olhe para mim e fale “não, não é assim”, o meu coração de adolescente vai te idolatrar. Você sempre vai ser meu primeiro amor, e só eu sei como tem chances de ser o único, já que eu já tentei algumas vezes por aí e simplesmente não conseguia seguir em frente. – ri para mim mesma. – Sei que falar isso parece um exagero, somos novos, mas nos poucos momentos que tivemos juntos, eu me senti bem comigo mesma de novo. Só eu sei o inferno que estou vivendo no momento com meu trabalho, e vir para casa me deixou bem, mas a única coisa que recarregou minhas energias completamente foi o seu abraço ontem. Estar ali sim foi como estar em casa de novo. Foi como se eu voltasse a ser a pessoa feliz que eu era. Hoje sou realizada com meu lado profissional, isso é uma verdade, mas me falta aquela luz que tudo nessa cidade tem. Aquela luz que você tem e me emprestou um pouquinho com um simples contato. – parei por alguns segundos, tentando recuperar as lágrimas que queriam escorrer por meus olhos, porque eu começava a me sentir aliviada por estar falando aquilo. – , eu não quero viver sem isso. Eu compreendi a dor de te perder quando te encontrei, e foi aí que eu descobri que não quero viver sem sentir isso. Se eu tiver que te amar sendo apenas sua amiga e te acompanhando pela vida toda, eu não vou me importar, eu juro, uma hora eu seguirei em frente, mas é melhor do que te perder de novo. Eu quero estar com você, quero sentir essa sensação de te querer, porque não tem nada mais forte que isso, e eu preciso desse sentimento, dessa luz que me recarregou e me fez sentir corajosa até mesmo para falar sobre isso.
- Uau. – ele falou, após alguns minutos em silêncio, me vendo secar o rosto úmido. – Eu estou perdido, , caralho. – o vi respirar fundo, seu olhar estava perdido no nada e ele quase arrancava os cabelos ao coçá-los insistentemente, completamente nervoso.
- Eu sei que não é justo eu jogar tudo isso em você, e eu nem mesmo espero que você me corresponda, , as coisas mudaram muito, eu quem não mudei e tive essa super clarificação da mente em alguns dias. – brinquei, vendo-o rir, ainda com uma expressão assustada. – Eu não quero uma resposta, eu não quero nada, , eu apenas precisava te contar o que sentia. Sei que você está assustado e te peço desculpas por isso, de coração. – apoiei minha mão em sua perna, tentando confortá-lo. – Eu precisava te contar, principalmente por um motivo específico. – eu ri, negando com a cabeça para mim mesma. – Eu jurei que não falaria isso, mas eu não acho certo te falar que não tenho esperanças nesse momento, porque tenho, e não posso te fazer pensar em tudo isso sem te dar esperanças também. Eu quero ficar em Bright River. – ele me encarou com os olhos arregalados, eu quase podia ouvir seu coração batendo acelerado junto ao meu. – Eu não vou jogar essa responsabilidade para você, fique tranquilo. Eu quero ficar aqui, mas se já vou mover minha vida para fazer isso agora, depende do que vai acontecer nos próximos dias. Você tem um peso muito grande na minha decisão, e acho que isso você já imagina, mas eu quero voltar para cá de qualquer forma, então o peso está apenas relacionado a quando.
- , eu... Eu realmente não sei o que te dizer, eu não esperava por isso de forma alguma. Muito menos com toda essa calma, eu acho que funcionei melhor quando você gritou e saiu correndo. – ele brincou, tentando manter um clima calmo.
- Você quer que eu saia correndo agora? Posso fazer isso. – fingi que me levantaria e ele riu, puxando-me de volta para o lugar.
- Você não precisa correr, mas você pode me dar um tempo para digerir essas informações? – ele mordeu o lábio, parecendo receoso em me pedir aquilo.
- Não precisa ter medo de mim, . Eu disse que não esperava uma resposta, não esperava nada. Eu já esperei anos para finalmente aparecer, e mais alguns dias para tomar coragem de me deixar pensar em tudo isso. Acredito que você também merece esse tempo seu. Não é como se ainda tivéssemos 18 anos, acho que você tem muito a pensar. – puxei sua mão rapidamente e deixei um beijo afetuosamente. – Mas eu acho que devo ir para te deixar em paz. – ri.
- Você não pode ficar? – perguntou, segurando minha mão quando tentei soltá-la. Ele fitava meus olhos de uma forma que, se eu prestasse atenção, poderia lê-los, mas eles demonstravam tanta confusão quanto os meus naquele momento.
- Não acho que seja certo, um momento como esse pode afetar seu julgamento sensato das coisas. Acredito que você precise pensar em muitos prós e contras desse discurso. Mas o que importa no final de tudo, , é que você sempre estará comigo, de uma forma ou de outra. – me levantei rapidamente, soltando sua mão e me inclinando para beijar seus cabelos ternamente. – Você sabe onde me encontrar e tem meu número, se quiser conversar. – falei, finalmente, fechando a porta ao sair do quarto e deixar um completamente perdido e confuso.

⚪⚜⚪


- , meu bem, você pode ir até o mercado para mim? – minha mãe perguntou enquanto eu estava jogada no sofá, fingindo que assistia TV.
- Claro, mãe. – me levantei, indo até o quarto para colocar uma roupa decente e pegar minha carteira.
A verdade era que eu não estava prestando atenção em muita coisa. Já haviam se passado quatro dias desde que havia ido até a casa de para conversar. Na saída, havia encontrado seus pais chegando e ainda ficara um pouco conversando com eles para matar a saudade, mas , se percebeu, não desceu para se juntar a nós.
Eu estava com inúmeros pensamentos quanto a voltar para Bright River, não sabia se o faria agora, se já podia ligar para minha chefe e falar “não te aguento mais”, ou se deveria esperar e ainda rezar pelas chances de se sentir da mesma forma que eu, pois se ele não o fizesse, acredito que eu poderia aguentar mais um mês em Chicago, me recuperando da mais nova queda.
Eu voltaria, isso era certeza, já havia até mesmo conversado com meus pais e todos da família. Eles me ajudariam a montar uma loja própria pela internet, algo que eu já queria fazer, a diferença é que agora administraria dali, sendo feliz no lugar em que eu gostava, e sem alguém para me encher o saco e me pedir café o dia todo.
- O que precisa? – perguntei ao passar pela cozinha e vi Andy chegando com Will, Bryan e Mary. – Ei, família, que prazer em recebê-los. – brinquei.
- Tia. – Andy correu para meus braços, pulando em mim.
- Estamos só passando, preciso levar o Will para casa, ele tem compromisso, estávamos passeando. – Mary falou, me cumprimentando.
- Eu posso levá-lo, se quiseram. Na volta passo no mercado com a Andy. – fiz um hi-5 com a pequena, que adorou a ideia.
- Ficaria agradecida, . – Mary falou e Bryan me encarou, ficando em silêncio. Desviei o olhar antes que a risada sem graça saísse por minha boca, ele sabia que eu tinha meu interesse naquilo.
- Vamos então, crianças. – chamei-os, já saindo pela sala e andando em direção ao carro.

- Está entregue, senhor. – falei quando estacionei em frente à casa do garoto, que soltou o cinto rapidamente.
- Andy, preciso pegar o seu presente, que você esqueceu aqui, vamos lá comigo. – ele desceu do carro, já esperando a amiga do lado de fora.
- Já volto, tia. – ela falou e eu assenti, rindo da afobação dos dois.
Enquanto Andy entrava na casa para pegar o que fosse, fiquei cantarolando as músicas dentro do carro e batucando no volante, ansiosa. Não conseguia parar de olhar para casa, pensando se estaria ali. Eu havia dito para que ele levasse seu tempo para pensar, mas eu não aguentava mais a ansiedade e o desespero por ele não me procurar.
- Vamos? – Andy entrou no carro, sorridente. – A tia e o tio mandaram um beijo para você.
- Ah, obrigada. – falei, desanimada, ligando o carro e saindo dali em direção ao mercado.

- Tia, a gente pode pegar aquele bolo? – minha sobrinha apontou para longe e eu apenas afirmei, seguindo-a.
- Ei! – me assustei ao ver girando Andy em um abraço.
- Acabei de vir da sua casa. – ela comentou, animada. – A gente deixou o Will lá, você não está atrasado não? – ela perguntou, curiosa.
- Hm, fui pego! – brincou, agora desviando o olhar para mim, que o encarava sem saber o que falar.
- Andy, não seja intrometida. – eu ri, puxando o cabelo dela de leve, brincando.
- Oi, . – ele falou, dividindo seu olhar entre meus olhos e o chão. – Tudo bem? – perguntou, finalmente mantendo seus olhos nos meus.
- Uhum, e você? – respondi, tentando segurar um suspiro irritado.
- Ahan. – falou, de modo estranho.
- Vocês são engraçados. – Andy falou, rindo e pegando o bolo.
- Como a mocinha lembrou, estou atrasado. – ele piscou para Andy. – Mas verei vocês em breve. – falou, mantendo o olhar apenas em mim antes de se abaixar para abraçar minha sobrinha. – Tchau, .
- Tchau, . – sorri, tentando não demonstrar minha tristeza ou ansiedade naquele gesto enquanto ele se distanciava.

⚪⚜⚪


: Eu não estou te ignorando, tudo bem?
: Achei melhor falar, eu sei que sumi, mas tive que fazer tantas coisas nesses dias, e você me deu tanto no que pensar, . Me desculpa.

Encarei as mensagens de no telefone no dia seguinte ao que tínhamos nos encontrado no mercado, e sorri. Eu estava ansiosa, isso era verdade, mas não é como se eu o culpasse, eu sabia que ele com certeza estava muito atarefado com as coisas do ano novo na cidade, e sabe-se lá mais o que, considerando seu trabalho.

: Está tudo bem, . Confesso que só fiquei um pouco desanimada com o sumiço por um puro desespero, mas eu sei que você vai falar comigo independente do que tiver pensado.
: Posso fazer só uma pergunta?
: Quantas você quiser hahaha
: Como você vai fazer para vir para cá? Você vai largar toda sua vida em Chicago?
: Eu fiquei curioso hahaha
: Como eu te disse, não tenho tanto assim lá, é apenas um emprego que passei a odiar e tive mais certeza ainda quando cheguei aqui. Vou abrir algo próprio e seguir em frente em um lugar que me sinto bem.
: Ah, que incrível, ! :D
: Esses próximos dias estão corridos por aqui, mas podemos continuar conversando por mensagens como dois adolescentes viciados? hahahaha
: Com certeza podemos, hahaha

Suspirei, engatando uma conversa qualquer e relaxando um pouco mais de todos os pensamentos que me atingiram depois de nossa última conversa.

⚪⚜⚪


Eu era realmente apaixonada pelo Natal, mas o Ano Novo não ficava muito atrás, essa era a verdade. Eu sempre me empolgava com a ideia de um novo ano, por mais que, na maior parte das vezes, nada mudasse.
Era aquela coisa de sempre: vou mudar, vou criar novas metas, vou virar minha vida de cabeça para baixo. E no final? Era tudo como sempre fora. Por isso, eu não me iludia. Eu gostava daquele dia pelo momento, pela festa, pela queima de fogos. Eu gostava da ideia de errar a data cada vez que fosse escrever por esquecer que tinha mudado o ano, por mais ridículo que isso pudesse soar.
O Ano Novo em Bright River me deixava ainda mais animada, pois era um dia em que a cidade inteira realmente se reunia. Todas as famílias iam até a entrada da cidade para acompanhar a virada do ano junto, e depois cada um voltava para sua casa para celebrar. Era um pouco cheio, mas nem tanto, pois algumas pessoas viajavam após o Natal, o que deixava a cidade ao menos um pouco mais vazia.

: Espero que você tenha uma noite incrível, . E que esse ano que vem seja ainda melhor para você, que você possa trazer tudo ainda melhor para essa cidade nesse novo momento da sua vida :D <3
: Eu adoro a forma como você tem emojis para usar, mas prefere fazer da forma antiga hahaha
: Obrigado, . Que esse ano possa trazer tudo de melhor para você, que também parece ter uma nova fase para entrar, não é? Estou muito feliz em poder aproveitar esses dias com você, , mesmo que não tenha sido da melhor forma por conta dos meus compromissos sem fim ;)
: Também estou muito feliz.
: Podemos nos encontrar antes de eu ir embora? Pode me encaixar na sua agenda de amanhã ou no dia 02 pela manhã, senhor?
: Com certeza posso. Vou passar essa informação para minha secretária hahahaha
: Aguardarei sua confirmação, obrigada hahaha

Deixei minha preguiça de lado e sai da cama, indo em direção ao banheiro para tomar banho e começar a me arrumar.
- Tia, você já tá pronta? – ouvi Andy bater na porta do quarto.
- Ainda não, meu amor, mas vou tomar um banho e me arrumo rapidinho, tá?
- Você pode me chamar quando for se maquiar? Queria também. – ela falou, animada.
- Te chamo sim. – sorri, finalmente entrando no banho.

- Estão prontas, senhoritas? – Bryan entrou no quarto enquanto eu finalizava a maquiagem simples de Andy com um batom rosa. – Mas vocês estão muito lindas, não mereço uma irmã e uma filha tão maravilhosas assim. – ele riu.
- Também acho que você não merece, mas alguém lá em cima foi muito generoso com você. – ele resmungou, reclamando. – Estamos prontíssimas, podemos ir. – falei, caminhando com os dois em direção à sala, onde meus pais e Mary nos esperavam. – Bom, nos encontramos lá. – eles assentiram e meu pai me entregou a chave do carro, pois não podíamos ir todos no mesmo.

Estacionei em meio a diversos outros carros de todos que estavam ali naquele momento, que haviam chegado mais cedo. Algumas pessoas iam a pé por morarem mais próximo à divisa da cidade, mas ainda assim, muitas pessoas do centro vinham com as famílias em seus carros. Vi Bryan estacionar do lado contrário da rua ao que eu havia o feito, e logo eles desceram do carro, acenando para mim.
A queima de fogos acontecia na margem esquerda do rio, de forma que eu nunca a acompanharia do meu lugar de sempre, o que me fazia ficar aborrecida toda vez. Todos se direcionavam quase em procissão para margem direita, animados com a entrada do novo ano e sempre conversando alto, tentando falar por cima do som que tocava ali, que tentava ser o quão ambiente poderia para um local aberto.
Andy me alcançou rapidamente e segurou minha mão, dando a outra para mãe, e as balançando para cima e para baixo. Minha mãe se aproximou, colocando a mão em meu ombro e apertando ali, como se ainda repetisse que estava feliz por me ter ali, coisa que ela repetira centenas de vezes nos últimos dias.
- Não teve uma resposta? – perguntou baixo, próxima ao meu ouvido. Neguei com a cabeça, sorrindo.
- Estou tranquila, fiz minha parte, mãe. Obrigada, por sinal. Se não fosse você, eu ia compartimentar meus sentimentos mais uma vez.
- Eu sei que ia. – brincou, abraçando-me.
- Mãe, será que consigo encontrar o Will? Nós decidimos que veríamos juntos de novo, assim como ano passado. – Andy falou, olhando ao redor enquanto nos aproximávamos da real multidão de pessoas, procurando um espaço em algum canto para ficarmos tranquilos e esperarmos meus tios também.
- Acredito que hoje será difícil, meu bem. – Mary respondeu, apontando para o outro lado do rio. – Will nesse ano terá que ficar com a família dele ali do outro lado, por conta da troca de prefeitura. A partir da meia-noite, se torna o prefeito, e as duas famílias sempre ficam juntas nesse momento. Nesse caso é até a mesma família. – ela riu, referindo-se a troca ser do tio de e Will para ele. – Mas ele terá que ficar por lá.
- Ah, tudo bem, é que tínhamos combinado. – ela deu de ombros, triste.
- Depois da queima de fogos podemos procurá-lo se quiser, tudo bem? – falei e a vi assentir, um pouco mais animada. – Tenho certeza de que ele sentirá sua falta também. – ela abriu um pouco mais seu sorriso e encostou seu corpo no meu em um meio abraço.
- E falta muito? Para meia-noite? – perguntou, ansiosa. Tirei meu celular do bolso e notei que já faltavam apenas 10 minutos, o que me fez sorrir como ela quando lhe mostrei a tela.
Nós sempre saíamos tarde de casa para chegar apenas para queima de fogos, assim como todos da cidade, afinal, antes disso ficavam ali só quem deveria preparar tudo para o momento. Antes disso, o costume era o de arrumar a casa, deixar algumas comidas prontas, e depois da queima de fogos, voltávamos para aproveitar a entrada do ano com todos, já que havia uma tradição da vizinhança visitar as casas uns dos outros para celebrar.
Olhei novamente meu celular antes de bloqueá-lo e vi uma mensagem de aparecer ali. Abri-a rapidamente, rindo com o conteúdo.

: Espero que você veja essa mensagem! Will está reclamando que tinha prometido passar o Ano Novo com a Andy, consegue trazê-la aqui para esse lado? Ele está na rua, esperando com meus pais.
: Engraçado que ela estava reclamando do mesmo hahaha estou indo levá-la.

Avisei Mary e Bryan da mensagem de e eles apenas riram, falando que estava tudo bem e depois a encontravam, pois estavam acostumados a revezarem os filhos, já que viviam grudados.
- Está mais feliz agora, criança? – perguntei enquanto dávamos a volta na multidão para encontrar Will e os pais. Ela deu de ombros, rindo.
Me aproximei dos pais de e Will e os abracei rapidamente, vendo os maiores fazerem um toque de mãos rápidos, se cumprimentando de forma animada.
- , você não sabe onde está o ? Ele disse que já voltava, mas não apareceu, será que ele está nervoso? – sua mãe perguntou, parecendo impaciente.
- Eu não o vi, ele só me pediu para que trouxesse a Andy. – dei de ombros, ficando curiosa também. – Bom, logo os vejo. – acenei, afastando-me. Antes que pudesse alcançar a outra margem, senti meu celular vibrar em meu bolso. Dei risada ao ver o nome de no visor.

- Nesse minuto estou no nosso lugar, você me encontra? Espera só meus pais saírem dali e irem para margem.

Ele falou em um sussurro e desligou a ligação, sem me dar tempo de responder. Olhei ao longe e o vi me observando de trás da árvore, do nosso lugar. Ri, desacreditada, vendo-o fazer um sinal de “shh” com a mão, o que me fez rir ainda mais.
Olhei para seus pais, Will e Andy, e vi que já estavam na margem, procurando-o por todos os lados, preocupados. Andei rapidamente pela calçada, passando por trás de todas as pessoas que estariam trabalhando para queima de fogos acontecer, e alcançando o canto escondido da árvore em poucos segundos. Quando me aproximei, senti a mão de se juntar à minha com rapidez, me puxando para encostar-me de costas para árvore e de frente para ele, enquanto ele checava os pais ao longe.
- Oi. – ele falou, sorridente, finalmente me encarando.
- Oi, está fugindo das responsabilidades? – perguntei, rindo.
- Mais ou menos, tem fundamento. – ele deu de ombros. – Eu acho que te deixei agoniada por um tempinho, e eu achei injusto manter assim. – ele falou, ainda falando em um tom mais baixo, como se alguém pudesse nos ouvir.
- Decidiu começar o ano sendo mais bonzinho?
- É que eu sei que você não acredita naquela coisa de que a vida tem uma mudança realmente drástica depois da meia-noite, sabe? – ele colocou uma de suas mãos na árvore, prendendo-me em sua frente, e usou a outra para enrolar uma mecha de meu cabelo em seu dedo. – E eu também não acredito, mas eu acredito que temos exceções. Por exemplo. – ele mordeu o lábio inferior, voltando a encarar meus olhos. – Eu vou ter uma mudança muito grande na minha vida em alguns segundos. – ele apontou para o outro lado da margem, onde a contagem começa no 59. - E pelo que você me falou, você também. – assenti, concordando. – E eu acho que nós não devíamos levar qualquer pendência para essa fase, sabe? Então eu realmente acho que você deveria saber que eu não tive que pensar em nada desde o minuto em que você saiu pela porta do meu quarto. – ele riu, fazendo-me arquear as sobrancelhas, confusa. – , pelo amor de Deus, lembra quando eu te disse que estava escrito na minha testa que eu te amava, naquele dia? Nunca deixou de estar escrito, é sério, é só você olhar de pertinho, talvez esteja meio borrado por conta do tempo, eu tomei alguns banhos, mas nunca saiu daí. – ele apontou para própria testa, aproximando-a do meu rosto como se realmente me mostrasse algo. – Eu me sinto da mesma forma que você, , eu acho que sempre vamos estar ligados de alguma forma, e eu lembro de cada palavra que você me falou; também quero estar com você, quero sentir essa sensação de te querer, porque também sei que não tem nada mais forte que isso. Então, eu também me rendo. – ele abriu um enorme sorriso e se aproximou ainda mais. Eu já era capaz de sentir sua respiração próxima da minha e pude ver seu gesto sendo refletido nos meus lábios, com um grande sorriso.
- Hm... Eu acho que esse vai ser um bom início de ano então, não? – perguntei, brincando. Coloquei minhas mãos em seu peito, puxando para ainda mais próximo pela camisa social que ele usava. Escutei a contagem chegar ao número 3 e ele piscou para mim.
- Eu acho que vai ser o melhor. – ele finalizou a distância entre nós quando grudou seus lábios nos meus, me fazendo suspirar automaticamente com a felicidade que sentia. Era como se eu nem pudesse ouvir os fogos, como se as pessoas não estivessem gritando, como se nada mais acontecesse ali em volta. Aquele era o nosso lugar, e nesse momento, ele parecia ainda mais especial.
- . – cortei o beijo rapidamente, finalizando-o com um selinho e ouvindo-o resmungar um “hm” derrotado, como se estivesse irritado com minha decisão repentina de nos afastar. – Você tem que voltar para lá, seus pais e seus tios estão te procurando, é hora da sua primeira aparição como prefeito, lembra? – falei, rindo, e ele negou com a cabeça, como se não quisesse ir.
- Mas eu estou resolvendo coisas importantes do partido agora, . – falou, fazendo bico. O encarei, sem entender. – A prioridade de vida deles não era que eu encontrasse uma primeira-dama? – respondeu, dando de ombros. Eu apenas ri, estalando um tapa em seu braço.
- Você está me oferecendo um casamento para benefício próprio, ? Era apenas essa sua intenção? – brinquei.
- Não. – respondeu, sério, mas com um sorriso ainda brincando em aparecer no canto de seus lábios. – Mas estou deixando claro que estou me oferecendo para tentar algo mais com você como não tivemos a chance há alguns anos. – ele beijou a ponta do meu nariz. – Mas você está certa, preciso cumprir meu papel. – ele me deu um selinho demorado, lutando para não estender para um beijo.
- Vai lá. – falei, rindo, com nossas bocas ainda grudadas.
- Vai lá? Não, se eu vou chegar atrasado, todo mundo vai saber o motivo. – ele segurou minha mão e me puxou, começando a caminhar para fora de nosso canto. O puxei de volta rapidamente.
- ...
- Sem desculpas, eu não te enrolei por dias só para te irritar se não fosse para entrarmos de cabeça nisso, é agora ou nunca, . – eu ri, concordando, e então fizemos o caminho contrário ao que eu tinha feito para encontrá-lo ali, mas agora, com as mãos grudadas nas de , suando frio.
Vi seus pais sorrirem ao vê-lo se aproximar, segurando um palavrão para não o xingar em público. Os vi também abrir um enorme sorriso para mim ao encarar nossas mãos, assim como todos com certeza haviam feito do outro lado da margem e eu só não conseguia observar. Soltei sua mão e o deixei seguir seu papel, sendo aplaudido por todos enquanto alguns fogos ainda estouravam no céu. fez questão de me puxar para seu lado assim que terminou de cumprimentar todos, se posicionando pela primeira vez diante da cidade como prefeito, comigo ao seu lado, segurando minha mão e acenando para todos com a outra.
Ali eu tive certeza de que eu não precisava de mais nada. Eu sabia que tínhamos um longo caminho para percorrer, eu tinha um longo caminho para percorrer, mas aquele ano seria incrível para nós dois, e eu sabia que estaríamos ali um pelo outro. E sinceramente, aquilo era tudo que precisávamos, sempre fora, nós apenas não tínhamos tido a oportunidade de aproveitar.
Apertei a mão dele na minha e apenas suspirei ao vê-lo fitar meus olhos antes de se aproximar para deixar um beijo carinhoso em minha testa.


Epílogo

- Mãe, está tudo bem, eu só vou passar uma semana lá para arrumar tudo e movimentar tudo que preciso para poder vir de vez para casa. bufou, respondendo a mãe pela vigésima vez pelo telefone. – Eu sei que você me ajudou na mudança para lá, mas eu consigo fazer uma mudança de volta. Pai, fala com ela. – ela reclamou, passando o telefone para o pai, que andava ao seu lado no aeroporto, carregando sua mala de mão.
- Ela vai ficar bem, Nancy. – ele riu, ouvindo-a falar algo ainda. – Não, não precisa correr para o aeroporto para comprar uma passagem e ir com ela. Beijo. – ele desligou. – Ela te desejou uma boa viagem.
- Ufa. – suspirou, aliviada.
- Você sabe que ela só queria te acompanhar, mas ela também entende que você vai ter muita coisa para fazer e não iria conseguir realmente te acompanhar. – ele parou em frente ao portão de embarque com a filha, posicionando a mala da garota ao seu lado. – Te vejo em uma semana? – ela assentiu, jogando os braços ao redor do mais velho e sentindo-o apertá-la.
- Te vejo em uma semana! – sorriu e ele beijou sua bochecha. – Vou só pegar meu fone na minha bolsa, mas pode ir. – o homem assentiu, se afastando enquanto a garota pegava a mala e andava até um banco para apoiá-la e retirar os fones de ouvido dali.
pegou seus documentos e passagem em mãos, guardou o fone de ouvido e o celular no bolso e virou-se novamente para o portão de embarque, caminhando até ele. Quando os alcançou e levantou seu olhar para confirmar a entrada e passar por ali, não pôde evitar um grito afinado de susto sair de sua garganta.
- ? – perguntou, incerta. – O que está fazendo aqui? – falou, dessa vez mais animada ao encontrar os olhos brilhantes do rapaz.
- Eu não sei, , eu acho que precisava vir dar uns gritos com você, porque eu não entendo como você realmente achou que eu te deixaria fazer tudo sozinha. – ele riu, dando um selinho na garota e apontando para sua mala em suas próprias mãos, vendo-a arregalar os olhos, surpresa. – Eu já fiz isso uma vez, não vou novamente. Dessa vez, você está voltando para mim, e eu quero acompanhar cada passo. – falou, sincero, vendo a namorada sorrir abertamente.
- Mas e as coisas na prefeitura? – perguntou, mas os dois sabiam que ela não estava realmente se importando.
- As coisas na prefeitura podem esperar uma semana, pode ter certeza, Bright River não vai explodir nesse meio tempo. E outra, acredito que todos que votaram em mim me conhecem, e se eles me conhecem, conhecem você, então eles sabem qual é minha prioridade de vida desde que tínhamos, não sei, quatro anos de idade? – gargalhou, fazendo a garota rir também, concordando. – Mas sem brincadeiras, está tudo em ordem, sou todo seu e dos seus problemas e mudanças por uma semana. E pela vida inteira, claro, você entendeu. – falou, atrapalhado, e ela assentiu, grudando seus lábios de forma carinhosa.
- Eu sei, . – riu, entrelaçando seus dedos e puxando-o junto à ela para dentro do portão de embarque.



Fim!



Nota da autora: GENTE! É sério, essa fic é meu novo orgulho HAHAHAAH Se você chegou até aqui, MUITO obrigada por ler! Eu peguei essa fic para escrever uma oneshot porque queria ajudar a Naty a enviar o ficstape completo, e no final, fiz o que nunca fiz: escrevi 40 páginas em menos de 1 semana, sendo que sempre levo pelo menos 1 mês para escrever um ficstape! hahahaha Naty, obrigada por esse ficstape INCRÍVEL, e por ser essa amiga e beta maravilhosa, obrigada por aguentar meus surtos, você e a Flávia, como sempre hahahaha Vocês são as melhores! Beijo, genteeeeeeeeeee, me contem o que acharam desses personagens que tanto amei <3





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05. Nothing Even Matters (Ficstape - BTR - Big Time Rush)
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04. She Will Be Loved (Ficstape - Songs About Jane - Maroon 5)
14. Maneira Errada (Ficstape - Os Anjos Cantam - Jorge&Mateus) - Continuação de She Will Be Loved.
I Do (Especial Dia dos Namorados) - Continuação de 14. Maneira Errada.



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