07. Wait and Bleed

Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

My eyes are red and gold, the hair is standing straight up
This is not the way I pictured me


Ele podia ver seu reflexo na água ao seu redor. A aura demoníaca que lhe envolvia em nada parecia com a imagem que via de si, mas ainda assim, ali ele se reconhecia. Eram seus próprios olhos que lhe encaravam de volta quando ele abaixava o olhar para a água turva.
A poucos passos de si, um rosto muito mais familiar lhe encarava de volta. Os olhos assustados de várias outras noites, mas dessa vez estavam próximos demais. Tão perto que aquela era a primeira vez que ele podia distinguir a cor da íris que conhecia por toda a sua vida, mas nunca realmente tinha visto.
Estava machucada e ele sabia que era sua culpa, não era a primeira e muito menos seria a última vez.
Ele ainda podia se ver arremessando a lança que tinha em mãos ao mesmo tempo em que ela jogou a adaga que empunhava em sua direção.

-


Acordou assustado, o coração batendo forte contra as costelas, a sensação de estar morrendo forte demais.
Quando se acalmou, olhou para o relógio e viu as horas, ainda era cedo demais para se levantar, mas tarde demais para dormir de novo, e não era como se ele fosse conseguir mesmo se tentasse.

I can't control my shakes!
How the hell did I get here?


Ela corria ofegante, a risada de seu perseguidor ecoando pela mata densa que ainda assim não era o suficiente para escondê-la. O sangue corria quente pelo lado de sua cabeça, enquanto ela corria o máximo que podia.
Nem mesmo se dava ao trabalho de olhar para trás, seu corpo se movia como se fosse familiar àquele lugar estranho, como se não estivesse completamente perdido.
Ela ainda correu mais um pouco antes de se deparar com a água que passava depressa em direção ao desfiladeiro, o som da água caindo se tornou ensurdecedor. No instante que seu corpo parou na margem, o dele se chocou contra o seu e os dois caíram na água. Ele não morreria afogado, sabia nadar. Mas a queda? Essa sim mataria os dois.

Ela acordou quando estava perto de bater contra as pedras no pé da cachoeira, o corpo tenso pelas sensações do pesadelo e se amaldiçoou segundos depois quando ouviu o despertador tocar. Aquele seria um dia difícil.

Is it a dream or a memory?

— Você vai me achar muito maluca — ela comentou com a atendente ao seu lado, quando viu o homem sentado numa das poltronas da área de espera.
— Eu já achava antes, pode falar.
— Sabe os pesadelos esquisitos que eu tenho?
— Acertou em cheio no motivo da maluquice.
— Esse não é o ponto. — Ela revirou os olhos e voltou a encarar o homem que parecia distraído no celular. — Aquele cara é exatamente o mesmo que me mata em todos os meus sonhos.
— Então você devia correr pela sua vida — a outra respondeu ainda em tom de brincadeira. — Não surta com isso, não. Deve ser só uma coincidência.

E aquele dia correu sem nada demais. No fim das contas, o homem queria apenas abrir uma conta e foi rapidamente atendido e liberado. Mas a gerente sentia seu coração nos ouvidos sempre que ele voltava lá.

I wander out where you can't see
Inside my shell I wait and bleed


— Não saiam da linha nem por um instante ou estamos fodidos — ele disse para os outros homens na van.
— O dinheiro já é nosso — um deles disse confiante.
— Eu realmente espero que sim.

O sonho da noite anterior não parava de passear por sua mente. A mesma gerente que ele via todos os dias naquele dia vestia roupas atuais, a camisa social branca suja de sangue que ele não sabia dizer de onde tinha vindo. Eles estavam dentro de ambiente fechado, ela não parecia reagir daquela vez. Parecia já saber que não tinha o que ser feito, mas esperar por algo que nunca veio.

Vestiram as máscaras e saíram do veículo, o armamento pesado que carregavam passando despercebido no meio da distração causada por um “acidente” na frente do banco. Em instantes, os 8 haviam tomado a agência bancária e anunciaram o assalto. A gerente usava a mesma blusa social branca do sonho.

Eles iriam morrer naquele dia, mas era tarde demais para voltar atrás.

GOODBYE!
You haven't learned a thing
I haven't changed a thing

Os minutos que se seguiram haviam sido premeditados pelo destino e ninguém mais.

Os cúmplices conseguiram sair e o plano seguiu-se quase perfeitamente, mas ele e a gerente acabaram presos no cofre principal. Era claro que ele não teria liberdade depois dali, e a culpa era dela.
Ela quem seguiu o protocolo de segurança do banco e encurralou o assaltante, ela quem os colocou naquela situação, e era ela agora quem tinha uma arma apontada contra a cabeça e um braço apertando seu pescoço.

— A gente pode negociar — ela pediu, com a respiração controlada demais para quem sabia que estava perdida.
— Eu e você sabemos que não tem negociação.
— Você?
— Sua cara não me convence de que você não sabe como isso vai acabar.
— Talvez seja coisa do destino.
— Besteira. Você nos colocou nessa posição e você sabe o que eu preciso fazer.
A porta começou a ser aberta e ela tremeu. O gatilho estalou e ela nem mesmo teve tempo de sentir a morte vir.
Quando o metal pesado do cofre se abriu, o corpo dela caiu no chão com um baque e ele disparou contra todos eles. Assim como no sonho.

Kneel down and clear the stone of leaves
I wander out where you can't see
Inside my shell I wait and bleed


O corpo dele caiu por cima do dela depois de ser alvejado.

Durante a vida, nenhum dos dois sabia exatamente no que acreditar quando o assunto era o pós-morte.
Mas quando os espíritos de ambos se encontraram no além, suas existências fizeram sentido. E as sombras que constituíam a alma dele se contorceram num sorriso que em nada afetou a plenitude do espectro oposto.

— Você nunca aprende.
— Sabe? Depois de um tempo, eu aprendi a gostar desse nosso castigo.
— E é por isso que continuamos presos.
— Mal posso esperar para fazer tudo de novo.


FIM





CAIXINHA DE COMENTÁRIOS

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus