Fanfic Finalizada.

Capítulo Único

O verão sempre foi a minha estação do ano favorita. Não só porque podíamos tomar sorvete até nossos cérebros congelarem ou porque eu aproveitava para desfilar com cada um dos vestidos, shorts e saias que possuía em meu guarda-roupas, mas também porque nós sempre viajávamos para aproveitar em nossa casa de praia.
Só de imaginar que eu muito em breve sentiria a areia sob meus pés e o mar lavando minha alma, sentia até meu coração palpitar de ansiedade. Não me admiraria nem um pouco se me dissessem que em outras vidas eu fui uma sereia por causa disso.
Minha conexão com a praia não era algo que eu conseguiria definir em palavras, porque eu apenas a sentia e tinha certeza de que só quem era apaixonada como eu seria capaz de entender.
Eu mal tinha pregado os olhos na noite anterior e havia sido a primeira a colocar as malas no carro quando meu pai abriu a garagem. Minhas irmãs, Josie e Alanis, até zoaram da minha cara, insinuando que eu tinha encontrado algum surfista e esperava vê-lo novamente naquele verão, mas não era verdade. Eu bem que queria um amor de verão, mas minha ansiedade ali era apenas para ver o mar novamente.
Passei a viagem inteira imersa em minha playlist de verão. Percebia a interação entre meus pais e minhas irmãs, sabia até que eles curtiam juntos as próprias músicas em um momento bem família, mas eu preferia ficar reclusa naqueles momentos. Me perder em pensamentos e imaginar os diversos cenários por trás das letras de músicas era um de meus passatempos preferidos. Eu vivia ouvindo dos outros que era sonhadora até demais, porém preferia pensar que eu era apenas criativa demais.
, acorde! Nós chegamos — não sei dizer com exatidão a que altura do trajeto eu acabei adormecendo, mas de repente um de meus fones havia sido tirado de minha orelha com cuidado e a voz me chamava de uma forma gentil. Sorri quando abri meus olhos e dei de cara com as feições carinhosas de meu pai, então me espreguicei, vendo-o sorrir de volta. — Não acredito que você dormiu depois de todo o fogo que fez por essa viagem!
— É a , pai! O que você esperava? — escutei Josie dizer, enquanto pegava suas coisas no porta-malas do carro. Revirei meus olhos e ri baixinho.
— Odeio quando ela tem razão — meu pai riu comigo e balançou a cabeça em negação.
— Vamos logo. Tenho certeza de que com o sol do jeito que está, tudo o que você menos vai querer é ficar dormindo toda torta aqui no carro — realmente, nem eu mesma sabia como tinha conseguido dormir daquele jeito, mas tudo bem.
Assenti com um aceno de cabeça, então tratei de me ajeitar e sair do carro. Eu já estava sentindo os raios quentinhos do sol tocando a minha pele, mas não deixei de soltar uma exclamação de felicidade ao senti-lo por completo: luz, calor e boas energias. Era tudo o que eu precisava.
— Ah, meu amigo! Senti sua falta — cumprimentei, toda radiante.
— Como se não existisse sol em Atlanta, palhaça! — Josie voltou para buscar mais alguma coisa no carro e para me atormentar.
— Não se meta na minha conversa com o sol, fofinha — a encarei, lançando uma piscadela e vendo ela me mostrar a língua em resposta.
— Já te disseram que falar com o sol é coisa de gente doida, ? — Alanis brotou do nada, só para fazer complô com Josie. Minhas duas irmãs gêmeas eram terríveis.
— Nunca liguei para o que dizem, Alanis. Isso traz muita energia negativa, sabe? — dei de ombros. — Agora parem de me atazanar — tratei de pegar minhas coisas logo e levá-las até o quarto onde eu sempre ficava em nossa casa de praia.
Estava agitadíssima. Tudo o que eu queria era arrumar minhas coisas logo para que eu pudesse correr para a praia, bem na frente do nosso quintal.

~*~*~*~


Minhas irmãs mais novas adoravam pegar no meu pé, principalmente pelo fato de não entenderem o gosto que eu fazia em ir para a praia, sendo que em nosso quintal havia uma enorme piscina e cadeiras confortáveis. Eu não saberia explicar a elas, por isso nunca nem tentei. De qualquer forma, elas sempre acabavam se juntando a mim mesmo.
Eu já tinha dado o meu mergulho, que era sagrado, então me deitei sob a canga posta na areia. Nunca levava cadeira porque além de dar trabalho, não me deixava ter o contato direto com a areia fofinha e aquilo era tudo para mim.
Permaneci incontáveis minutos ali, deitada, deixando a energia do sol ser absorvida pelo meu corpo enquanto eu ficava mais bronzeada, com meus olhos fechados e deixando minha mente vagar mais uma vez em pensamentos. O barulho das ondas do mar me relaxava e eu poderia dormir naquele lugar, mas se eu dormisse, teria uma queimadura daquelas, então resolvi me sentar quando percebi que meu corpo estava mole demais.
Outra coisa que eu adorava fazer era observar as pessoas enquanto tentava imaginar quais seriam suas histórias. Talvez eu devesse colocar aqueles pensamentos loucos no papel algum dia, mas tinha quase certeza de que não saberia desenvolver a ponto de criar algum livro, daqueles emocionantes que fazem as pessoas arrepiarem.
Sorri meio boba ao ver um casal brincando com uma garotinha na beira da água. Ela devia ter menos de dois aninhos e ria tanto quando o mar tocava seus pezinhos que foi inevitável não rir junto. Aquela era uma das cenas mais lindas que eu já havia visto.
Meu momento foi interrompido quando tive a sensação de que estava sendo observada e com minha testa um tanto franzida, eu lancei um olhar ao meu redor. Talvez fossem apenas minhas irmãs tentando implicar comigo novamente e atrapalhar toda aquela vibe positiva.
Não demorei muito para descobrir que não era minha irmãs e sim um cara que eu definitivamente poderia colocar na lista dos mais gatos que eu tinha visto, mas na verdade eu acabei foi me assustando. Ele estava parado a apenas alguns metros da família que eu admirava e seus olhos estavam fixos em mim. Não que seu olhar fosse do tipo psicopata e nem nada assim, mas nem todas as pessoas ruins têm aparência de pessoas ruins, certo? E se ele fosse um tarado ou um stalker?
Ele percebeu que eu o peguei em flagrante, mas em vez de disfarçar, sua expressão pareceu intrigada pela minha e ele ergueu uma sobrancelha como se perguntasse “O que foi, doida?”. Me limitei a revirar meus olhos e resolvi dar um último mergulho antes de voltar para casa.
Droga, ele tinha estragado a minha tarde. Por mais que fosse bonito e até parecesse inofensivo pelo jeito que me questionou com o olhar, mas eu não ia arriscar.
Quando saí do mar, ele já não estava mais ali. Procurei pelo rapaz e me xinguei mentalmente por isso. Poderia até voltar a aproveitar minha praia, mas a verdade era que eu já estava decidida mesmo a voltar para casa.

~*~*~*~


— Estou começando a entender por que você gosta tanto de vir para cá nas férias, — Alanis disse, ao meu lado, quando chegamos ao restaurante com música ao vivo não muito longe da nossa casa. Eu já havia ido até ali no ano anterior, quando trouxe Adelaide, minha melhor amiga, para passar as férias conosco e nós nos divertimos horrores.
— O Havaí é o melhor lugar do mundo e esse aqui o melhor pub — pisquei para minhas irmãs, procurando uma mesa que fosse mais próxima do palco. Não fazia ideia do que tocaria naquela noite, mas gostava de ficar sempre o mais perto possível para dançar e cantar junto.
— Ainda prefiro New York no inverno, mas tudo bem — Josie riu de mim e resolvi nem retrucar. Gosto nunca se discute mesmo, mas era engraçado o quanto eu era diferente daquelas duas.
— O que posso trazer para essas moças hoje? — olhei na direção do garçom que havia se aproximado e lancei um olhar rápido para as meninas. Tinha certeza de que elas iam aproveitar para beber algo alcoólico, já que nossos pais viviam regulando. Eu é que não ia bancar a irmã chata e elas precisavam mesmo relaxar.
— Faz três tequilas sunrise para a gente, por favor — pedi, vendo-as trocarem um hi-five em comemoração. — Ei! Eu que peço e vocês só comemoram entre as duas bonitas? — fiz um bico.
— Awn, que bonitinha, . Nós também te amamos, vem cá — Josie me abraçou pelos ombros.
— Não quero abraços, quero hi-five também — murmurei, virando a cara para elas.
— Você é uma boba, já te disseram isso? — negou com a cabeça e pelo canto de olho só vi que Alanis concordava com Josie.
— Olha só, já vão começar a tocar — desconversei, indicando o palco, onde realmente começaram a subir uns três rapazes. Fiquei animada porque eu adorava bandas e dançaria horrores naquela noite.
Minha animação foi seriamente abalada quando um deles se virou para o microfone, trazendo uma guitarra consigo e eu reparei em seu rosto.
Era o maluco da praia.
— Universo, isso é piada? — olhei para o céu, praguejando mais alto do que eu gostaria. Pude jurar que ouvi uma risadinha masculina, mas nem ousei conferir ou ia subir naquele palco só para socar aquela cara linda dele.
Nem sei por que eu estava tão irritada com aquele cara, mas estava.
— Começou com suas maluquices, mana? — Alanis me cutucou, mas eu apenas bufei, irritada.
— Ih, o que foi, ? — Josie perguntou, notando minha cara nada amigável.
— Lembram que hoje voltei cedo da praia? — perguntei a elas, decidida a não olhar mais para o palco e ignorar a presença daquele ser.
— Como é que esqueceríamos? Mamãe chegou perguntar se você estava doente e só não foi até o seu quarto com um termômetro porque o papai falou que você só devia estar cansada porque não dormiu a noite toda — Alanis disparou a falar.
— Ela pegou o termômetro mesmo? — dei risada, a cena devia ter sido bem cômica.
— Foco na história da praia, — Josie me repreendeu.
— Tá bom, certo... Eu voltei porque estava lá tomando meu sol e de repente senti que tinha alguém me olhando. Quando procurei, achei esse cara e acabei ficando com medo, sabe? Vai que ele é um tarado ou um maluco? Juntei minha canga e saí fora — contei a elas, mas em vez de ver minhas irmãs concordarem veementemente comigo, como eu havia imaginado, as duas se entreolharam e caíram na gargalhada.
Fiquei parada ali encarando as duas com o maior dos pontos de interrogação na cara.
— Ficaram loucas? — acabei perguntando, irritada porque elas continuaram rindo descontroladas. — E isso que nem beberam ainda!
Por ironia do destino, o garçom voltou com nossas bebidas e eu tive que esperar ele se afastar porque não queria falar na frente dele. Vai que era amigo do maluco da praia ou...
, já parou para pensar que talvez o cara só estivesse interessado em você? — Alanis disse, depois que as duas bobocas pararam de rir.
— E por que ele ficaria só olhando como um stalker? — e um stalker também não é alguém interessado, afinal de contas?
— Se te conhecemos bem, você nem deu chance para que ele se aproximasse ou algo do tipo — Josie comentou o óbvio e eu bufei.
— É claro que não dei. Não sou burra, vocês que são se deixariam um estranho se aproximar de vocês — talvez eu fosse meio exagerada com essas coisas, mas preferia sempre errar pelo excesso a pela falta de cuidado.
— Enfim, o que é que essa história tem a ver com toda a irritação, ? — Alanis perguntou, e por alguns segundos eu até tinha esquecido. Estava indignada demais com o quanto minhas irmãs podiam ser imprudentes.
— Bom, o maluco da praia está bem ali — falei, apontando sem vontade para o palco, de onde se ouviam os sons dos rapazes fazendo checagem do som.
— Ali onde, ? — Josie soltou, com impaciência e eu me obriguei a olhar para o palco.
— No palco, Josie. Pelo jeito ele é o vocalista da banda — resmunguei. Minhas irmãs acompanharam meu olhar e então soltaram exclamações que não me agradaram em nada.
— Pelo amor de Deus, ele é um gato! — Josie disse, admirada.
— Um gato não, ele é um gostoso! Não acredito que você saiu correndo — Alanis estava em um misto de indignação e surpresa.
— Não, ele não é nada disso, suas malucas. Ele é um tarado, maluco e...
Os acordes de guitarra anunciaram que a banda havia começado a tocar e de imediato eu reconheci a melodia de Teeth.
Droga, eu adorava aquela música e quando ele começou a cantar eu senti meu corpo todinho se arrepiar.
— Caramba, olha a voz desse homem! — Alanis externou meus pensamentos e eu quis morrer.
Eu sei, Alanis. Eu sei.
Talvez, só talvez, eu estivesse de boca aberta, olhando para ele fixamente enquanto ouvia cada nota musical se encaixar perfeitamente ao ser emitida por ele. Por que ele tinha que cantar tão bem?
E por que tinha que ser tão bonito? Ser um stalker feio e que cantava mal facilitaria em muito a minha vida.
— Case com ele, — Josie soltou, empolgadíssima e como se ela tivesse gritado aquilo, de repente o maluco olhou na minha direção, notando meu olhar sobre ele e erguendo a sobrancelha da forma mais irônica que eu já vi antes de abrir um sorrisinho extremamente convencido.
— Babaca — resmunguei. Meu sangue ferveu e eu queria jogar meu copo na cara dele, mas isso seria um tremendo desperdício de bebida, então eu apenas me limitei a beber longos goles do meu copo.
— Vá com calma aí, maninha. Não vou te carregar, não — Alanis me advertiu, se divertindo com a situação.
— Muito menos eu — Josie erguei as duas mãos em rendição.
— Vocês duas são péssimas irmãs, suas cachorras — reclamei e tentei olhar para os outros integrantes da banda. Não ia mais dar o gostinho de ficar olhando para aquele convencido.
— Pelo amor de Deus, vá lá beijar esse homem de uma vez, . Tá na cara que já tem tensão entre vocês — riu Alanis.
— Não fale asneiras, Alanis. Não tem nada além de maluquice daquele ali. Eu vou passar é longe — bebi mais um golinho e arrisquei me mover no ritmo da música. A voz dele ainda soava gostosa demais para o meu próprio bem, mas eu podia ignorar a pessoa e aproveitar o som.
— Longe. Sei bem — escutei Josie dizer para Alanis e revirei meus olhos, as ignorando.
Resolvi que não deixaria aquele homem estragar minha noite e me rendi ao som que a banda dele tocava. Eu conhecia a maioria das músicas e a uma certa altura já dançava e cantava a plenos pulmões. Minhas irmãs não deixaram de me acompanhar e depois da primeira tequila sunrise muitas outras vieram.
Eu me sentia leve e feliz. Conseguia sentir o cheiro de mar característico daquele lugar e só isso já era o suficiente para contribuir com meu bom humor.
Aquela sensação somada aos efeitos do álcool foi me deixando cada vez mais risonha. Troquei algumas gargalhadas e brincadeiras com Josie e Alanis, nós dançamos as três juntas e até fizemos algumas das coreografias que costumávamos fazer quando dançávamos em casa, no tapete da sala. Aquelas duas pegavam no meu pé sempre, mas eu jamais viveria sem elas.
Me peguei abrindo um sorriso bobo enquanto largava meu copo vazio sobre a mesa. Eu sabia que precisava parar de beber, mas não queria. Eu gostava tanto de tequila sunrise! A apresentação já havia acabado, mas anunciaram que uma nova banda tomaria seu lugar e eu fiquei bem animada, já que não queria ir para casa ainda.
— Gostou do show? — me surpreendi ao sentir alguém parar ao meu lado, muito mais próximo do que eu gostaria e quando ergui meu olhar dei de cara com o maluco da praia.
Por uns segundos, eu pisquei meus olhos, sem saber como reagir, mas aí senti um cutucão dolorido nas costelas e lancei um olhar furioso na direção de Alanis. Por que é que ela estava me empurrando para cima dele?
— É, foi um bom show — dei de ombros, me recusando a dar trela para ele. Ainda não confiava naquele cara. Meu medo de stalkers e psicopatas era muito real.
— Um bom show? Só isso? — ele me encarou desapontado e eu ergui uma sobrancelha.
— Eu tenho certeza de que está cheio de garotas que gostaram mais do que eu. Por que não vai lá com uma delas? — não sei dizer se eu realmente tinha a intenção de soar tão azeda, mas algo no jeito dele me irritava muito.
— Porque eu quero ouvir de você, ué. Gostei muito do jeito que você cantava junto, fechando os olhos como se estivesse em outra dimensão — algo dentro de mim tinha ficado um tanto abalado com isso. Ele havia acabado de deixar claro que estava me olhando durante o show. Preferi enfiar na cabeça que isso só provava a minha teoria.
— Vocês tocaram músicas que eu gosto. Só isso — eu jamais admitiria que tinha amado a voz dele. Por mais esquisito que aquele homem fosse, não poderia negar que compraria uns CDs daquela banda.
— Admita logo que amou. Suas amigas com certeza amaram — indicou Alanis e Josie com um olhar e imediatamente elas disfarçaram que estavam nos espionando. Revirei meus olhos.
— Tá bom. Vocês são ótimos e eu realmente gostei da banda. Satisfeito com o biscoito? Agora cai fora — soltei, irritada e eu até poderia me arrepender de falar daquele jeito com o rapaz, mas a cara convencida dele me deixou ainda mais enfurecida.
— Você é maluca — ele teve a ousadia de rir de mim e eu voltei a lhe encarar indignada.
— Eu sou maluca? Eu? — apontei para mim mesma de forma dramática. — Você ficou parado me olhando sei lá eu por quanto tempo naquela praia, parecendo um psicopata no maior estilo Hannibal Lecter e eu é que sou maluca?
Não sei o que eu esperava que ele me dissesse, mas as gargalhadas dele ecoaram por muito mais tempo que eu gostaria.
— Agora eu entendi por que você me olhou daquele jeito e saiu correndo como o diabo foge da cruz — negou com a cabeça, recuperando o fôlego de tanto rir da minha cara. — Eu não sou um psicopata, não. Pode ficar tranquila.
— Isso é exatamente o que um psicopata diria — retruquei, arqueando a sobrancelha.
— Você realmente é doida de pedra — riu ainda mais.
— Eu não sei por que ainda estou aqui dando papo para você, garoto. O único doido de pedra que tem aqui é você — resmunguei e decidi que eu mesma ia até o balcão pegar outra bebida. Quanto mais longe dele eu ficasse melhor, então sem dizer mais nada eu o deixei e saí dali.
— Não vai nem me dizer o seu nome? — o escutei gritar e lhe lancei o dedo do meio no ar, nem um pouco preocupada em parecer mal educada.
É — pude ouvir Josie lhe responder e eu quis matá-la por isso.
— Prazer, . Eu sou o .

~*~*~*~


Daquele dia em diante, o tal parecia estar em todos os lugares e aquilo foi me deixando cada vez mais irritada. Qual era a daquele cara? Eu não queria nada com ele!
Tentei ir a outros pubs com Alanis e Josie, lá estava ele, às vezes tocando com a banda, às vezes só ali mesmo. Todas as vezes em que fui à praia ele dava um jeito de aparecer e até quando eu fui super cedo, na esperança de que ele não fosse, eu o encontrei surfando e quis morrer.
Se ele não fosse um stalker, o universo estava me punindo seriamente por alguma coisa.
Talvez eu devesse parar de desejar que ele explodisse, com toda certeza isso estava atraindo aquelas energias negativas.
Nossa família tinha uma tradição de todo domingo ir a algum restaurante e quando minha mãe sugeriu um não tão longe de casa, todos concordamos em conhecer.
De cara, eu achei aquele lugar fantástico, principalmente porque tinha uma área com um deque onde havia algumas mesas dispostas e eu adoraria comer por ali, porque o cenário era lindo e me permitia deixar a imaginação ir bem longe.
Minha mãe não gostava de comer com o vento batendo na gente, então tive que me contentar com uma mesa na parte de dentro do estabelecimento. Estaria tudo bem, eu não era de implicar com essas coisas, mas quando o garçom veio nos atender eu quis morrer e depois gritar para o universo que palhaçada era aquela.
— Ah, pelo amor dos deuses! — reclamei, em voz alta, notando que minhas irmãs prenderam o riso e meus pais me encararam com a maior cara de interrogação. Eles não sabiam nada sobre o maluco da praia e graças à minha boca grande agora teria que explicar a eles.
— Boa tarde para você também, — frisou, como se estivesse orgulhoso em saber meu nome.
— Babaca — resmunguei, baixinho e o fuzilei com os olhos, depois peguei o cardápio que ele nos entregava e resolvi ignorar sua existência.
— Não liga, não, . Isso aí deve ser tpm — Josie implicou comigo e eu suspirei, contendo a vontade de revirar meus olhos. Tinha que parar de me irritar daquele jeito. Eu não era assim. Onde estavam minhas boas energias?
Não prestei atenção se ele respondeu alguma coisa ou não, apenas escolhi logo o que iria comer e beber e fiz o meu pedido, fazendo a plena e fingindo que nem conhecia . E eu não conhecia mesmo, na verdade.
Precisava admitir que a comida daquele restaurante era sensacional. Se tinha mais uma coisa que me dava prazer na vida era comer bem e eu poderia morrer feliz com minha barriguinha cheia naquela noite.
Garoto, mas que merda vocês estão fazendo que não trouxeram ainda a nossa comida? — tomei um leve susto ao ouvir um homem praticamente gritar aquelas palavras e o localizei não muito longe de mim. Ele estava com uma mulher e duas meninas pequenas e encarava com uma expressão de nojo que fez algo em mim se agitar.
— Desculpe, senhor. Seu pedido já foi encaminhado para a cozinha. Vou dar uma conferida para o senhor e...
Isso é uma palhaçada! Que porcaria de restaurante é esse? Como é que aqueles ali chegaram depois da gente e a comida já veio? Já sei! É porque tem outro garçom atendendo aquela mesa e você é uma lesma incompetente! — por mais que me irritasse, o jeito que aquele homem estava lhe tratando de repente fez minhas mãos começarem a tremer.
— Só um instante, senhor. Vou buscar seu pedido — ele saiu praticamente correndo até a cozinha e não sei que milagre ele fez, mas voltou com os pratos e serviu o homem com o maior cuidado do mundo, embora fosse nítido que estava nervoso.
Essa merda aqui que vocês chamam de comida? Você espera que eu pague por isso daqui? Uma merda de restaurante, uma merda de comida e uma merda de garçom? Só pode estar de brincadeira com a minha cara! — ele nem tinha provado a comida e disparou a xingar novamente. Meu sangue ferveu de tal forma que eu fechei as minhas mãos em punho.
, não — escutei a voz de Alanis, mas quando dei por mim já tinha levantado e ia na direção da mesa do mal educado.
— Com licença, senhor. Com todo o respeito, mas quem você pensa que é? — questionei, o encarando a ponto de pegar um garfo e furar os olhos dele.
— Como é? — me olhou meio surpreso.
— Eu quero saber quem você acha que é? O rei da Inglaterra? Quem foi que te deu o direito de sair gritando e destratando as pessoas desse jeito? — disparei.
— Ah, mas era só o que me faltava — ele ia começar a falar, mas não consegui deixar.
— Eu estou ali tentando comer com a minha família e só porque você está pagando e o rapaz trabalhando, acha que pode tratá-lo como bem entender? É esse tipo de comportamento preconceituoso que você está ensinando para suas filhas? Pessoas como você não deviam nem ser recebidas em lugares públicos! — sentia os olhares de todo o restaurante sobre mim, mas eu não ligava e tinha certeza de que se aquele homem se passasse comigo, meu pai o arrebentava na porrada. — Se você não gostou da comida ou de qualquer outra coisa, isso não te dá o direito de insultar ninguém, então por que você não pega essa sua bunda branca e esse seu preconceito nojento e vai embora daqui? — pude ouvir que algumas pessoas seguravam a respiração. Nem ousei olhar para . Na verdade, eu estava cega de raiva.
— Pois eu vou embora mesmo. Não sou obrigado a ficar aqui ouvindo esse monte de asneiras. Vamos embora, Renée — nem esperou a mulher ou as filhas, simplesmente se levantou da cadeira e saiu em direção à porta.
— Aproveita e pesquisa no Google o que significa respeito! — berrei nas costas dele e assim que não se viu mais sinal do homem no restaurante, várias pessoas gritaram e bateram palmas para mim.
Senti minha nuca esquentar, não tinha sido a minha intenção atrair aquele alvoroço, eu só queria acabar com uma injustiça.
— Desculpe pelo meu marido, quanto ficou a conta, rapaz? — a mulher pediu para , com uma expressão que misturava vergonha com receio.
— Não quero me meter na sua vida, senhora, mas repense o marido que você tem — acabei dizendo para ela, que sorriu para mim de um jeito triste que me deixou bem agoniada.
Ela acertou as contas com , pegou as filhas e foi atrás do marido. Só consegui imaginar o inferno que ela vivia com aquele homem. Olhei rapidamente na direção de , depois para a mesa onde estavam meus pais e acabei disparando até a área dos deques porque eu precisava de ar.
Senti a brisa tocar meu rosto de um jeito até carinhoso e mordi os lábios, querendo chorar por aquela situação. Havia pessoas tão horrendas no mundo.
Não sei quanto tempo eu fiquei ali, sentada na beirada da escada que levava até a praia enquanto meus olhos ficaram fixos no mar. sentou-se ao meu lado e por mais alguns minutos ficamos ali em silêncio. Pela primeira vez, eu não me senti incomodada com a presença dele.
— Você não precisava ter feito aquilo, sabe? — o olhei quando falou comigo, mas não me encarava, em vez disso seus olhos também admiravam o mar.
— Eu sei que não — suspirei e voltei meus olhos para o oceano. — Mas não suporto preconceito.
— De qualquer forma, obrigado. Nunca fui defendido por ninguém assim. Até que isso é bom — riu baixinho.
— Aquele cara precisava ser colocado no lugar dele, né — acabei rindo também.
Mais alguns segundos de silêncio se passaram e eu acabei o quebrando quando parei para pensar em uma coisa.
— Me desculpe — então pelo canto do olho eu o vi franzir o cenho e se virar para mim.
— Pelo quê? — perguntou.
— Por aquele dia na praia. Eu te julguei um psicopata sem nem ao menos te conhecer e quando você tentou falar comigo, ainda assim eu não quis saber — encarei minhas próprias mãos.
— Não se preocupe com isso. Aquele dia eu te vi admirando uma família e você sorria tão bonito que acabei agindo feito doido mesmo. Eu devia ter ido falar contigo — deu de ombros. Fiquei mexida com o que ele tinha dito e para disfarçar acabei rindo.
— Devia, mas nem te dei chance. Eu saí correndo achando que você ia me matar — confessei e ele riu também.
— Acho que se eu desse de cara com um maluco me encarando na praia, eu faria o mesmo. Vai que ele queria vender meus órgãos ou algo assim? — sabia que ele estava apenas sendo gentil e isso me fez continuar com um sorriso no rosto.
— Podemos recomeçar? — acabei pedindo, em um impulso. De repente, eu o via de uma maneira completamente diferente e senti que conhecê-lo podia ser bom para mim. — Acho que eu realmente não vou sossegar enquanto você não aceitar as minhas desculpas.
— Eu já devia imaginar isso mesmo — ele sorriu. — Vou aceitar com uma condição — e pela expressão dele eu senti que havia coisa.
— Qual?
— Que você aceite sair comigo — eu sabia, mas ouvir o convite dele me deu uma sensação engraçada mesmo assim.
— Tudo bem. Eu aceito sair com você, . Mas saiba que se for bancar o Hannibal Lecter, eu carrego spray de pimenta na minha bolsa! — estreitei meus olhos para ele, que arqueou uma sobrancelha.
— Obrigado pela dica, vou dar sumiço na sua bolsa antes de te atacar então.

~*~*~*~


— Devo admitir que você acertou totalmente em me levar para caminhar na praia e tomar sorvete — o vi sorrir ao me ouvir e lambi mais uma vez o sorvete de chocolate.
— Percebi que você gosta da praia tanto quanto eu de tanto que nós nos encontramos por aqui — confessou, dando de ombros.
— É verdade e isso pareceu perseguição, se quer saber — disse, virando de frente para ele.
— De início, nem era. Eu achei engraçada a coincidência, depois comecei a pensar que podia ser obra do destino e no fim das contas, percebi que eu estava vindo muito mais do que o costume só para te ver — achei aquilo fofo, até demais.
— Como eu suspeitei, um stalker — brinquei, o fazendo negar com a cabeça.
— Você vai ver só o stalker — me olhou com uma cara de maníaco que me fez disparar a correr pela praia.
— Se eu derrubar meu sorvete, vou te fazer comer com areia e tudo! — gritei, sem parar de correr e comecei a gargalhar quando o ouvi rir.
— Areia com chocolate é o novo sabor do momento, você não sabia? — ri ainda mais depois de ouvir aquilo e o empenho todo de correr, equilibrar sorvete e gargalhar me fizeram cansar bem rápido. Não foi difícil para me alcançar.
Senti ele me tocar na cintura e me puxar para bem perto dele, esbarrei contra seu peito e meus olhos se fixaram nos dele. Parecia que eu tinha ficado ainda mais sem fôlego próxima assim de e eu não soube muito bem o que fazer. Eu quis beijá-lo até rolarmos pela areia, mas em vez disso eu peguei um pouco do que restava de meu sorvete e passei em sua bochecha.
— Seu tonto — ri da cara indignada dele, então me desvencilhei de seus braços, voltando a caminhar. — O sol vai se pôr já já.
Mas não havia me acompanhado. Ele permanecia lá parado, me olhando com a cara mais indignada do mundo.
— O quê? — me fiz de desentendida, parando a alguns metros dele e terminando de uma vez aquele sorvete derretido.
— Que golpe mais sujo foi esse, ? — ele disse, estreitando seus olhos para mim e de início eu apenas ri.
— Foi literalmente sujo, né? — não me contive e ele abriu a boca em um perfeito “O”, sem acreditar no que tinha ouvido.
— E ainda vem com ousadia? Você merecia uma lição! — imaginei que ele fosse sair correndo atrás de mim outra vez, mas em vez disso abriu um sorriso de lado que me deixou até desconcertada. — Ah não ser que isso aqui foi um jeito que você inventou de provar o gosto de com sorvete de chocolate — soltou, em um tom malicioso que fez meu rosto se esquentar.
Não era essa a intenção. Não era mesmo.
Mas isso não queria dizer que eu não gostaria de provar.
— Você é tão convencido, . Aposto que vai dizer que o gosto é delicioso — entrei no jogo dele, vendo-o arquear a sobrancelha.
— Como é que eu vou saber? Eu nunca provei — deu risada da minha cara e antes que eu pudesse ter controle de meus impulsos lá estava eu novamente próxima até demais dele.
— Deixa eu ver então — e sem esperar por uma resposta dele, me aproximei de sua bochecha e lambi o sorvete dali.
Juro, eu não faço ideia do que me deu na cabeça para fazer isso. Só sei que no mesmo momento senti se assustar e vi que os pelinhos de seu braço se arrepiaram com meu gesto. Quando voltei a encará-lo, seus olhos estavam meio arregalados, mas imediatamente ele mudou sua expressão para a de quem sabia algo do qual eu não fazia ideia.
— Depois eu que sou o maluco tarado da praia — o encarei nos olhos e então caí na risada junto com ele. — E então? — ele perguntou, assim que paramos de rir.
— Então o quê? — soltei, em tom de confusão. Ficar tão próxima dele me deixava atordoada, talvez fosse por isso que eu sempre dava um jeito de sair correndo.
— Como é o gosto de com sorvete de chocolate? — abriu mais uma vez aquele sorrisinho de quem sabia de alguma coisa.
— Hmm — ponderei, resolvendo que cederia aos meus impulsos mais uma vez e seria sincera. — Não é que é melhor do que só o sorvete? — vi arquear uma sobrancelha e sorri de canto. Ponto para mim.
Por que é que eu ficava me controlando mesmo? Meus pais sempre diziam que só se vivia uma vez.
— Ah, é mesmo? Pois eu tenho certeza de que tem um jeito de ficar ainda melhor — retrucou e eu senti que ele ficava ainda mais próximo de mim, de um jeito que nossos corpos quase colavam um no outro.
— Tem? Qual é? — eu o instiguei, sentindo mais uma vez aquela vontade de puxá-lo só para mim.
foi mais rápido, no entanto.
— Assim — ele murmurou, antes de grudar sua boca na minha em um selinho demorado. Permaneci por uns segundos assim, só sentindo o toque de seus lábios nos meus, então me afastei, encostando minha testa à dele e abrindo um sorriso pequeno. — O que foi? — sua pergunta soou meio preocupada, como se achasse que eu estava arrependida de tê-lo deixado me beijar.
— Não senti nenhum gosto de sorvete assim, não — então eu o vi jogar a cabeça para trás enquanto ria de um jeito adorável e eu ri junto com ele até que voltou a fixar seus olhos nos meus.
— É porque eu ainda não te beijei de verdade, — e mais uma vez eu sentia sua respiração contra a minha.
— Então beije — sussurrei, deixando que mais uma vez nossas bocas se unissem e quando senti sua língua acariciar a minha foi como se milhares de fogos de artifício explodissem dentro de mim.
Eu o abracei pelos ombros, grudando cada parte de meu corpo ao de e desejei que o mundo parasse quando suas mãos tocaram minha cintura, fazendo ali um carinho tão gostoso quanto a massagem que sua língua fazia na minha. Suguei o seu lábio inferior assim que tive a oportunidade, abrindo um pouquinho meus olhos e encontrando-o me encarando de volta, rindo e voltando a beijá-lo.
Me senti boba por ter perdido tanto tempo correndo dele.

~*~*~*~


I found a love for me
Darling just dive right in
And follow my lead
Well I found a girl beautiful and Sweet
I never knew you were the someone waiting for me


Eu sabia que o tempo estava passando rápido demais desde que eu e ficamos juntos. Nós aproveitávamos o máximo que podíamos e eu estava achando o máximo acompanhar as apresentações que a banda dele fazia nos pubs e bares locais.
Achei que minhas irmãs fossem rir da minha cara quando contei que e eu havíamos nos beijado, mas em vez de debocharem, elas ficaram tão felizes que já estavam planejando nosso casamento e quem seria madrinha do nosso primeiro filho. Mais exageradas do que elas não existia e por mais que no fundo eu quisesse que tudo aquilo acontecesse, eu sabia que uma hora as férias de verão iam acabar e eu teria que acordar daquele conto de fadas para voltar à minha realidade, tudo acabaria e com o tempo nós esqueceríamos um do outro.
Meu peito se apertava toda vez que eu pensava nisso, o que só mostrava o quanto eu estava ferrada naquela história. Isso só podia significar que eu estava mesmo gostando de .

'Cause we were just kids when we fell in love
Not knowing what it was
I will not give you up this time
But darling, just kiss me slow, your heart is all I own
And in your eyes you're holding mine


O jeito que ele cantava Ed Sheeran naquela noite não facilitava em nada as coisas para mim. Sua voz era tão bonita e combinava tanto com a música que de repente eu sentia como se cada uma das notas me erguesse até as nuvens, onde eu me movia de um lado para o outro.

Baby, I'm dancing in the dark with you between my arms
Barefoot on the grass, listening to our favorite song
When you said you looked a mess, I whispered underneath my breath
But you heard it, darling, you look perfect tonight


Com toda a certeza as pessoas ao nosso redor notaram o clima entre nós, porque durante toda a música não desviou seus olhos dos meus. Ele cantava aquela canção para mim e eu senti como se estivesse abrindo seu coração também. Meus olhos ficaram inundados por lágrimas, eu nunca havia me sentido amada daquela forma e só queria ter aquele homem para mim pelo resto da minha vida.
Não lembro bem do resto das músicas que a banda tocou após isso, eu só conseguia ver e seu cabelo bonito, seus olhos brilhantes na minha direção e sua voz me levando às alturas.
Assim que ele desceu do palco, veio na minha direção com o sorriso mais lindo do mundo e eu sem dizer nada apenas me envolvi em seus braços e o beijei até perder o ar.
— Achei que não fosse possível gostar mais do jeito que você canta, mas hoje você se superou — murmurei, assim que afastei meus lábios dos seus e ele sorriu de novo, me apertando contra si.
— Se você gostou desse jeito, então eu já ganhei o meu dia — me deu mais um beijo calmo e depois disso nós ficamos abraçados, apenas curtindo as músicas que iam tocando e trocando algumas palavras com os amigos dele e minhas irmãs, que tinham se enturmado super bem com a banda.
Aconchegada nos braços dele, eu me deixei levar assim que ouvi os primeiros acordes de ‘Do I Wanna Know’, do Arctic Monkeys. A banda que tocava estava fazendo um bom trabalho, por mais que eu preferisse a voz de um certo cantor que me abraçava.
Como sempre acontecia quando eu me rendia por completo às músicas, fiquei imersa na letra, deixando minha imaginação fluir enquanto eu cantava e sorria feito uma boba.
— Você não faz ideia do quanto fica linda assim — me surpreendi quando o ouvi falar próximo ao meu ouvido, então olhei para ele e sorri.
— Eu sou linda de qualquer jeito, , pode falar — retruquei, de maneira convencida e ele soltou uma risadinha.
— É mesmo, mas sorrindo assim enquanto se perde em pensamentos você chega a um outro nível de beleza, . Não sei explicar, foi assim que te encontrei pela primeira vez e ainda não sei. Talvez a palavra certa seja encantamento, mas ainda assim soa insuficiente para mim — senti meu peito até ficar quentinho ao ouvir aquilo.
— Vou te contar uma coisa que acho que nunca contei para ninguém — confessei, me virando de frente para que pudesse encará-lo melhor. — Eu não tenho dom para cantar feito você, mas eu e a música temos uma relação bem intensa. Toda vez que eu me permito ficar imersa nela, eu me perco em uma realidade paralela e só minha. Aí é como se cada letra me contasse uma história diferente e eu visse tudo na minha cabeça como um filme — fui contando enquanto me encarava sem desviar seus olhos dos meus. — Por exemplo, quando ouço ‘Do I wanna know’ consigo ver esse casal que nitidamente tem sentimentos um pelo outro, mas ficam naquele lenga-lenga de não admitir por medo de não serem correspondidos. Então eu me pergunto, por que perder tempo pensando no amanhã? Vai que o amanhã nem exista?
— Você é incrível, — escutei dizer, sorrindo ainda mais do que antes e pela primeira vez eu entendi o olhar que ele tinha me lançado aquele dia na praia. Não era de maluquice mesmo, era o de alguém que tinha encontrado uma pessoa especial e eu tinha certeza de que eu também o olhava dessa forma.
— Nós somos, — retribuí o seu sorriso.
— É sério. E você quer saber o que eu acho disso que me contou? Acho que você deveria colocar essas histórias que a música te conta em um papel. Tenho certeza de que outras pessoas adorariam lê-las — ele sugeriu o que eu já havia cogitado fazer antes, mas nunca tive coragem.
— Não sei se tenho capacidade para desenvolver histórias, . Não sou nenhuma escritora — ri sem graça.
— Tudo que envolve arte é questão de treino, . Deixe a insegurança de lado e se serve de incentivo, eu acredito em você — eu quis abraçá-lo e apertá-lo para nunca mais soltar quando ouvi aquilo.
— Onde é que você estava enfiado esse tempo todo? Nunca pensei que homens como você existissem — fiz uma cara de surpresa.
— Eu estava aqui no Havaí mesmo, esperando uma turista aparecer e me chamar de maluco da praia — piscou para mim.
— Maluco da praia, eu acho que eu estou apaixonada por você — confessei, sentindo-o me apertar contra si em resposta.
— Ótimo, porque eu tenho certeza de que eu estou por você.

~*~*~*~


Eu achava que amava o verão o suficiente, mas aquelas férias haviam me mostrado que era possível sim gostar daquela maravilhosa estação do ano ainda mais. E por mais que eu gostasse do Havaí, eu nunca havia imaginado que durante um tão curto período viveria uma paixão tão intensa quanto a que eu havia vivido com .
Como nos mais deliciosos clichês, eu tive as melhores férias da minha vida. Vivi intensamente cada minuto e aproveitei ao máximo cada minuto que eu tive ao lado daquele que eu tinha certeza de que carregaria em meu coração para o resto dos meus dias.
Ainda assim, quando nossa despedida chegou, eu sentia como se não tivesse vivido o suficiente ao lado dele. Não achava justo ter que me separar de tão cedo e só a ideia de que a distância nos faria esquecer um do outro me doía tanto que eu ficava até sem ar.
— Eu não quero ir embora, — o apertei em meus braços, afundando minha cabeça em seu peito como se assim fosse conseguir me fundir a ele.
— Também não quero que você vá, minha — eu o ouvi dizer, então o encarei, vendo-o sorrir enquanto seus olhos brilhavam mais do que o normal. Ele segurava o choro do mesmo jeito que eu. — Mas você precisa ir. Seus pais estão te esperando e você tem toda uma vida em Atlanta.
— Você sabe que não vai ser mais a mesma coisa — torci a boca, não conseguindo conter a lágrima que escorreu pela minha bochecha.
— senti a mão dele tocar meu rosto para enxugá-la. — Não chore, minha linda.
— Nós dois sabemos o que vai acontecer quando eu partir, . Nós iremos nos perder um do outro e eu demorei demais para admitir as coisas que senti quando te conheci. Não quero esquecer você — funguei baixinho, arrasada.
— Não pense assim, . Tudo aconteceu como tinha que acontecer, no tempo certo e se eu e você formos para ser, tenho certeza de que nossos corações darão um jeito de se reencontrar.
De certa forma aquelas palavras me aqueceram e eu me agarrei àquele fio de esperança, correspondendo ao que seria nosso último beijo e lançando um sorriso para quando nos afastamos.
— Eu espero que eles se reencontrem.
— Eu também.

~*~*~*~


— E então, vovó, o que aconteceu depois disso? — Valerie soltou, e era nítida sua ansiedade em saber mais daquela história.
— O que aconteceu depois é história para um outro dia, meu amor. Está tarde e você e suas irmãs precisam dormir.
— Ah, por favor, só mais um pouquinho! — Melina insistiu, fazendo biquinho.
— É! Por favor, vovó! — Rebeca fez coro.
— Amanhã, meus docinhos — antes que as três meninas pudessem continuar com sua insistência, uma quinta voz pôde ser ouvida.
— Está lendo mais uma vez esse diário, ? — a senhora sorriu então ao encarar o esposo.
— Você sabe como nossas netas gostam de ouvir nossa história, meu amor.


FIM



Nota da autora: Eu só queria dizer que até eu não estou acreditando que uma história fofa como essa surgiu na minha cabeça, mas ela veio com tudo e eu espero que vocês tenham gostado! Comentem comigo o que acharam, eu amo muito saber as opiniões de vocês e fico super incentivada a continuar escrevendo. E se quiserem entrar no meu grupo para conhecerem outras histórias minhas, serão muito bem vindas!
Obrigada a vocês que leram e até a próxima! <3





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