Finalizada em: 07/12/2019

Capítulo Único

Baby, it's not alright,
Querida, não está tudo bem
The second that you turn your back she'll me outta sight
No segundo em que você se virar ela vai estar fora de vista
Baby, she'll break your heart,
Querida, ela vai quebrar seu coração,
The second that you spend the night apart
No segundo que você passar a noite distante

, eu e já estamos a caminho de Edimburgo. Na primeira parada, te ligo. - a voz feminina suspirou e riu, ao ouvir uma outra voz de fundo. - Pode deixar que vou cuidar da sua esposa, detetive! - outra voz feminina que nos últimos meses detestava, falou. Mais risadas. - Eu te amo, .” - Finalizou sua esposa num tom doce que lhe causou um sorriso involuntário.
O homem desligou a secretária eletrônica enquanto sentava no sofá da pequena sala, arrancando os seus sapatos. Tirou a jaqueta de couro, colocou o distintivo e a arma na mesa de centro, jogou-se no sofá e ligou a televisão. Cobriu o rosto com o antebraço e suspirou numa tentativa de relaxamento.
estava exausto e seriam necessários meses para que recuperasse o sono perdido. O mais irônico é que faziam meses que encarava o motivo da sua falta de sono: os assassinatos da Lady Killer. Foram cinco vítimas ao longo de três meses e todos, terminavam torturados com o pseudônimo do assassino marcado na pele por algo pontiagudo. Os corpos eram encontrados nos lugares que costumavam estar e sempre, aparentando estarem desempenhando alguma tarefa. Nem mesmo o padre Andrews foi poupado. Foi encontrado morto em seu próprio quarto e numa posição em que parecia estar rezando antes de dormir. E o mais impressionante, nenhum rastro que apontasse para o criminoso. Limpo, totalmente limpo.
Sentou-se novamente no sofá, a tensão frustrante presente em seu corpo. Apoiou os cotovelos nas coxas e cobriu o rosto com as mãos, soltou o ar dos pulmões e levantou para tomar uma cerveja. Pegou a garrafa na geladeira e viu um post-it rosa colado e a mensagem com a letra quase que indecifrável da esposa.
”Tente relaxar! Só cuidado com o fígado! haha <3”.
— Ha, ha. - Riu forçado. - Muito engraçadinha. - Falou olhando para o papel, amassando-o e jogando na lixeira. Abriu a garrafa e tomou um gole, soltando um suspiro frustrado.
O escritório dele estava apinhado de teorias, informações que havia analisado durante esses meses, mas o quebra-cabeça parecia faltar uma peça. Algo o incomodava dia e noite, sem parar, mas escapava por entre seus dedos como areia. Resolveu casos durantes anos e que foram solucionados com facilidade, mas esse estava custando muito mais. Não sabia até quando teria paciência e saúde para suportar esse mistério, não suportaria ter que ver mais um inocente sendo enterrado. Revirou os olhos com o seu pensamento ao se recordar das falas do seu parceiro .
— Talvez, eles não sejam tão inocentes assim. - disse ao dar um leve tapa reconfortante no ombro do parceiro, sorriu triste em direção ao cemitério.
sorriu debochado.
— Até mesmo um padre? - Perguntou olhando-o incrédulo.
Eles estavam em pé na chuva, protegidos por seus pesados casacos e suas sombrinhas.
— Você pode se surpreender, meu caro amigo. - Finalizou com um sorriso que costumava exibir sua expressão de sabe-tudo e que irritava profundamente, afinal, ele era o mais velho.

Soltou um suspiro derrotado e tomou toda a cerveja de uma única vez. No final, tossiu e secou a boca com o antebraço. Estava decidido a esquecer os assassinatos e curtir sua folga, pois sabia que estava atravessando o limite da loucura. Olhou ao redor com as mãos na cintura e começou a falar sozinho.
— E por onde começo? - Perguntou para si mesmo, mas sabia que não tinha uma resposta.
O seu celular começou a tocar e ele correu até o aparelho, atendeu imediatamente ao ler o nome no visor.
Encontramos a Lady Killer, .

How could you do it?
Como você pôde fazer isso?
Oh, how could you walk away
Oh, como você poderia ir embora
From everything we made
De tudo que fizemos
How could you do it?
Como você pôde fazer isso?
Oh you better watch yourself
Oh é melhor você se cuidar
I think that girl's insane
Eu acho que aquela garota é insana

Ele saiu do imenso elevador quando as portas de metal se abriram. O comprido corredor, pintado e mobiliado em tons pastéis, estava isolado com fitas amarelas e ocupado por policiais e seu parceiro. A cada passo firme, o seu coração torcia bravamente para que não tivesse acontecido o que estava imaginando. Não queria imaginar quem poderia ser a próxima vítima e conforme se aproximava do local, reconhecia a sala que entraria.
Cumprimentou com um gesto firme os conhecidos e parou no batente da porta, ao lado de um que olhava o ambiente lá dentro com uma expressão que externava os mesmos sentimentos que o amigo. Ele fez um gesto indicativo com a cabeça para dentro do ambiente.
respirou fundo e olhou para dentro do cômodo.
E a única reação foi socar um armário que estava próximo, fazendo um barulho que assustou a equipe que estava analisando as cenas do crime. Sua mão doeu com o golpe, ele encostou os nós dos dedos nos lábios e fechou os olhos com força. Sentiu sua têmpora latejar enquanto os seus sentimentos e pensamentos se confundiam.
— Como deixamos isso passar? - Perguntou repentinamente, fazendo com que notasse que o homem estava bem próximo.
— Não, não é ela. - Negou veemente enquanto deixava o braço cair ao lado do corpo e virava-se para encarar o parceiro.
— Eu sei, meu caro amigo. Mas…
— Mas, alguém quer incriminá-la. - Concluiu engolindo em seco. Massageou a têmpora enquanto sentia o ódio ferver em suas veias, soltou o ar dos pulmões e voltou a observar a cena.
— Teremos que interrogá-la.
soltou um suspiro frustrado enquanto voltava a massagear as têmporas. A primeira coisa que passou por sua mente é que não teria como evitar que a esposa passasse pelo interrogatório. Todas as pessoas próximas das vítimas tiveram que serem submetidas ao mesmo procedimento, a esposa não teria como ser poupada.
realmente seria a assassina? Assim tão óbvia?
Ele duvidou por apenas um milésimo de segundo.
Sabia que a esposa era uma profissional muito competente e que sabia como fazer um trabalho sujo sem deixar rastros em um corpo, mas não era ela. Viu-a diante de seus pacientes e como se transformava quando vestia seu jaleco.
Uma maravilhosa heroína.
é sua esposa. - Apontou obviamente .
— Sim.
— Então, eu devo seguir os protocolos.
ergueu uma de suas sobrancelhas, acentuando sua melhor expressão desafiadora e que o parceiro conhecia perfeitamente.
— Não precisa nem dizer mais uma palavra.
— Tudo bem.
sorriu de canto e voltou a encarar a cena com um olhar pensativo.
O diretor do hospital, o senhor Gibson, estava sentado na cadeira de couro escura que costumava ser ocupada pela esposa de . O velho estava sentado com uma expressão séria, mas os seus olhos azuis denunciavam o mais puro e perceptível terror. A postura rígida descansando na cadeira enquanto as mãos estavam cruzadas próximas ao tórax, uma cena que costumava ser comum quando encontrava-o para buscar a esposa.
— Gibson morto, uma vaga em aberto. - Pontuou o parceiro.
virou-se em direção a cena e descansou as mãos nos bolsos, mordeu o lábio inferior. Concentrou-se nas palavras do homem ao seu lado.
— E claramente, o assassino deveria ser o sucessor.
— Exatamente.
— E por quê não ?
— Ela não faria algo tão óbvio. - Defendeu-a com certa raiva.
virou-se em sua direção e encarou-o com uma expressão carregada de seriedade.
— E como tem tanta certeza, ? Me desculpe por duvidar da , mas todos somos suspeitos até pegar o maldito. - Disse num tom brusco, não conseguiu evitar o sorriso ao ver que o parceiro continuava com a hipótese que o assassino era um homem e que o usava o pseudônimo feminino para apagar seu rastro.
— Você confia em mim, ? - Perguntou num tom tranquilo, mas no fundo sabiam da importância daquela resposta.
O parceiro encarou-o em silêncio, as mãos descansando nos bolsos. Soltou um suspiro derrotado.
— Preciso de uma bebida antes de interrogar sua esposa.
Não foi preciso uma só confirmação, ambos sabiam da resposta.
está fora.
entendeu o que o amigo queria dizer.
— Bom, temos que buscá-la.
Ambos se encararam com olhares resignados e se afastaram da cena do crime.
— Eu dirijo. - Disse enquanto estendia sua mão em direção ao amigo, sem ao menos interromper o passo.
sorriu de lado ao lançar as chaves.
Lady Killer havia feito mais uma vítima.
E pior ainda, colocado sua própria esposa no radar.

Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
She's in it just to win it
Ela está nisso apenas para ganhar
Don't trust her for a minute
Não confie nela nem por um minuto
Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
It's a like cheap thriller
É como um suspense barato
She's such a ladykiller
Ela é uma assassina

— Quem você acha que Joel escolherá para assumir a direção do hospital? - Perguntou com uma expressão pensativa enquanto descansava o rosto em uma das mãos e observava escolher algo no cardápio da lanchonete.
— Caso você retorne de Edimburgo sem uma proposta de trabalho… - Insinuou com um sorriso provocador nos lábios enquanto encarava a amiga por cima do cardápio.
gargalhou divertida e deu um leve tapinha no braço da amiga, soltou um suspiro desanimado.
— Eu amo o .
fez um som de confirmação enquanto voltava sua atenção ao cardápio.
— Mas queria que ele me escutasse em algum momento. - Finalizou frustrada enquanto esfregava o rosto com as mãos e descansava a cabeça na mesa.
— Você é uma cirurgiã cardiologista excelente, . Lida com o coração como se você mesma tivesse o criado. - Falou a amiga abandonando o cardápio na mesa e encarando-a com um sorriso doce. - Merece mais do que a direção de um pequeno hospital.
levantou a cabeça e encarou-a com um olhar pensativo.
— Você tem razão. Queria trabalhar em um hospital movimentado com grandes casos como os de Greys Anatomy. - Revelou com uma expressão envergonhada com a confissão que havia guardado para si mesma durante anos.
mordeu o lábio inferior tentando evitar a gargalhada que ardia em sua garganta implorando para escapar. Aguentou por um minuto inteiro, até que riu alto.
— Desculpa, desculpa. - Cobriu a boca com um olhar arrependido ao ver a expressão decepcionada da amiga.
soltou um suspiro revoltado.
— Por isso não conto o que penso.
— Desculpa, ! Eu só não imaginava que fosse confidenciar algo assim…
— Os sonhos não precisam ser cem por cento reais.
— Concordo plenamente.
Ambas sorriram divertidas.
— Então, vamos seguir o nosso plano. Você vai voltar de Edimburgo com uma proposta.
— E se não aceitar. - A mulher levantou a hipótese com uma expressão preocupada, afinal, ela sabia que o marido estava satisfeito com a atual posição no emprego e a importância que tinha.
— Iremos nós duas para Edimburgo e vocês podem se ver aos fins de semana. - Concluiu dando de ombros enquanto apertava a mão da amiga em um gesto reconfortante.
soltou um suspiro derrotada e abriu um leve sorriso, tentando acreditar que tudo daria certo. Retribuiu o aperto da amiga em sua mão.

Baby, she'll eat alive,
Querida, ela vai te comer viva
As soon as she smells your blood in the water
Assim que ela sentir o cheiro do seu sangue na água
You better run to survive,
É melhor você correr para sobreviver
Before she makes you her latest slaughter
Antes que ela faça de você seu último assassinato

— Ela atendeu? - Perguntou enquanto ligava o carro, após retornar com uma expressão preocupada. Ele entrou no lado do carona e bateu a porta, soltando um suspiro irritado antes de colocar o celular no colo.
— Nada. Chama, mas ninguém atende.
— Talvez, não tenha ouvido a ligação. - Disse o parceiro dando de ombros ao voltar a atenção para a estrada.
— Ou não queira me atender. Sabia que ela mudaria completamente ao pisar o pé fora da cidade.
voltou sua atenção para o parceiro e franziu a testa em confusão.
viu a expressão do amigo e revirou os olhos.
— Você tem medo de perdê-la. - Concluiu enquanto dirigia.
O parceiro bufou e deu de ombros.
Estavam uma noite de distância da esposa. Seguiam desde a noite anterior pela estrada, parando em hotéis e postos de gasolina tentando alcançá-la. Em todas, terminava com um estressado por já terem passado pelo local. Algo que era óbvio, afinal ela e haviam partido primeiro. E o fato da esposa estar com a amiga enfermeira o preocupava ainda mais. Não confiava naquela mulher e no que poderia fazer com sua esposa.
— Não é isso… muda completamente quando está com a . - Revelou o pensamento mais profundo e que há meses, rodeava sua mente quando podia ser dar ao luxo de pensar na sua própria esposa ao invés dos assassinatos misteriosos.
O som repentino da risada do parceiro, chamou a atenção do homem fazendo com que virasse em direção ao motorista.
— Qual foi a piada?
— Você com medo de perder sua esposa para outra mulher.
— E qual o problema nisso? - Perguntou indignado.
— Nenhum, afinal, a é um mulherão e a , também. Só que não esperava que você fosse tão inseguro, sempre com essa marra como se o mundo pertencesse a você. Não imaginava mesmo que tivesse pouca fé no que sua esposa sente por você. - Falou num tom divertido, mas que aos poucos se tornou sério enquanto dividia a atenção na direção do veículo e no amigo que o encarava atentamente.
pesou as palavras do amigo por alguns instantes.
— Não é isso… Quando nos conhecemos, ela tinha sonhos e como as coisas foram acontecendo muito rápido para mim, acabou abrindo mão dos próprios sonhos. - Explicou enquanto voltava a atenção para o papel de parede do seu celular que tinha uma foto do casal no dia do casamento, onde podia claramente perceber a felicidade daquele momento único.
Ele amava , uma forma profunda e diferente de tudo o que conheceu durante seus trinta anos. Daria o mundo inteiro por ela, até mesmo sua própria vida. Como não ter medo de perder algo que amava tanto? Compreendia, perfeitamente, que os sonhos da mulher não cabiam perfeitamente com a realidade que viviam e isso o assustava diariamente. Constatar que em algum momento teria uma difícil decisão em suas mãos o aterrorizava.
— Nós sabemos do puta potencial que ela tem, . E, infelizmente, deveria ser dado o devido valor. Sabemos muito bem que o Gibson só queria sugá-lo para si. - Pontuou numa repentina expressão de constatação, ao se dar conta do rumo de seus pensamentos.
. - Murmurou num tom mais baixo e que mesmo com o som do motor, o parceiro foi capaz de ouvir e ficou satisfeito ao perceber que o homem seguiu pela mesma linha de raciocínio.
— A chave de tudo.
— Faz todo sentido.
parou o carro no acostamento, ligou a luz e puxou o bloco de anotações que guardava no bolso. Tirou o cinto e começou a rabiscar em garranchos.
— Jane, a cirurgiã chefe. - Anotou .
— Estava pegando no pé de nos últimos anos desde que Gibson anunciou que pretendia aposentar. - Falou seriamente.
— Depois, o pediatra Mike que estava dando em cima da sua esposa.
— Aquele desgraçado. - Xingou-o num tom revoltado enquanto apertava seus punhos, mas, no fundo, sabia que o sujeito não merecia morrer.
O parceiro não se surpreendeu com o que dizia, afinal, eram muito amigos antes mesmo de trabalharem juntos. Costumavam confidenciar suas vidas.
— Tivemos também, Samira e Chloé.
Ambas foram amigas do tempo de escola da esposa e não trabalhavam na área médica. Uma trabalhava como corretora de imóveis e a outra, dava aulas.
— Não sei como deixamos passar esse fato, afinal, a única coisa que ligavam os fatos era .
— Foi porque as outras vítimas estavam ligadas ao hospital…
— E concluímos que o problema poderia estar sendo causado por um ex-paciente. - Concluiu .
Na época pensaram que poderia estar na mira como próxima vítima.
— Padre Andrews. - Falou numa expressão triste.
Ele morava na paróquia desde que o havia nascido. O batizou, realizou o seu casamento e até mesmo, foi responsável por uni-lo com sua esposa. Afinal, haviam se conhecido em uma quermesse da igreja.
O parceiro parou de escrever e o encarou com uma expressão de confusão.
— Eles tiveram algum problema?
— Não faço ideia. - Deu de ombros.
fez um som de concordância e ficou pensativo por longos minutos, após escrever o nome do diretor Gibson.
Ambos ficaram submersos em pensamentos. Os olhares perdidos em algum ponto, expressões sérias e fechados no raciocínio. Sabiam que era o ponto em comum que ligava as vítimas e que fazia o radar de suspeita apitar, mas não eram capazes de acreditar naquele fato.
Ou não eram capazes de acreditar em algo que poderia estar embaixo de seus narizes durante todo aquele tempo.
Conheciam-se desde o ensino médio, quando a mulher chegou ainda adolescente na cidade. Atingiram a idade adulta juntos, apaixonaram-se e casaram. Será que o amor poderia estar tornando-o cego?
E se fosse verdade?
Por que agora?

How could you do it?
Como você pôde fazer isso?
Oh, just come back to me,
Oh, apenas volte para mim
Baby, I'm begging please
Querida, eu estou implorando, por favor
How could you do it?
Como você pôde fazer isso?
Oh she knows I love you still,
Oh ela sabe que eu ainda a amo
You're just a ladies killer
Você é apenas uma assassina

leu pela milésima vez o papel que estava em suas mãos. Não acreditava que seria tão fácil, afinal, não esperava que o doutor Robert estivesse presente naquela especialização. Conheceram-se no ano passado quando ela participou de um seminário em Edimburgo e o homem gostou tanto do projeto, que propôs que fosse para o seu renomado hospital na capital. Na época recusou o convite, mesmo que fosse a realização de um grande sonho, pois tinha acabado de ser promovido a investigador. O desejo de ver o marido feliz, venceu, mas o consolo aconteceu quando soube que poderia conseguir ser chefe da equipe no hospital. Entretanto, dessa vez, estava sendo muito mais difícil recusar.
E, sabia bem o motivo.
Desde que entrou no hospital e se tornaram amigas, muitas coisas também mudaram em si mesma. A visão independente da amiga e a forma que dizia com tanta certeza que algo poderia acontecer, fazia tudo parecer tão fácil. E se tornou bem menos doloroso se priorizar, ao invés de pôr o seu casamento em primeiro lugar. Aquela não era mais a mesma do ano anterior e sabia disso, muito bem. As decisões que tomou e as consequências perturbavam sua mente todos os dias. Demorou a aceitar que havia mudado e as outras pessoas também, pior de tudo, fingiam ou realmente não aceitavam o fato. E como conviver com essas pessoas? O amor também significa aceitar as mudanças do outro e não ter tido o retorno deles, resultou numa decisão drástica.
— Ainda não se arrumou? - Perguntou repentinamente ao entrar no quarto de hotel que estava dividindo com a amiga. Avistou-a rígida em pé, encarando a carta proposta feita pelo doutor Robert.
— Desculpa! Desculpa! - Falou envergonhada enquanto dobrava o papel e colocava na cama. Soltou um suspiro cansado e olhou a amiga.
— Tudo bem, . - Riu e olhou-a. - Sei que está fritando os seus neurônios com essa proposta. - Sorriu divertida e aproximou-se da amiga, abraçando-a. A outra retribuiu.
— O meu casamento está em jogo.
vai entender, .
— Espero que sim, . - Suspirou e finalmente, se soltaram. Ela pegou suas roupas e seguiu para o banheiro.
ficou séria e sentou-se na cama, a expressão pensativa.

Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
She's in it just to win it
Ela está nisso apenas para ganhar
Don't trust her for a minute
Não confie nela nem por um minuto
Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
It's a like cheap thriller
É como um suspense barato
She's such a ladykiller
Ela é uma assassina

— O que você está fazendo, ? - Perguntou num tom rouco ao abrir os olhos, a expressão sonolenta, avistando a amiga jogando as roupas na mala no escuro. Sentou-se na cama, acendeu o abajur.
— Preciso voltar. - Falou olhando-a rapidamente e voltando a colocar as roupas de qualquer jeito na mala.
— Não. - Sussurrou ao levantar da cama.
— Você não precisa vir comigo, . Eu posso pegar um ônibus e nem tenho a intenção de atrapalhar você. Sei o quanto estava empolgada com tudo. - Explicou num tom triste.
— Não, . Você não vai. - Falou num tom firme ao se aproximar da amiga e encará-la, friamente.
A mulher parou, o corpo ainda estava inclinado sob a mala. Nem mesmo a luz baixa impediu que a outra enxergasse a expressão de confusão.
— Eu não vou desistir da proposta… - Falou soltando um suspiro. - Quero só conversar com o antes.
— E você precisa da aprovação do , como sempre. - Constatou num tom cansado.
A expressão da mulher tornou-se ofendida.
— Não, não a aprovação. Ele só precisa ser comunicado com antecedência para que possamos pensar o que faremos.
fez um som com a boca que deixou-a ainda mais irritada.
— Você não precisa dele, .
— Eu o amo.
A outra bufou irritada e colocou as mãos na cintura.
— Mas ele não te ama o suficiente.
— E como pode achar isso? - Perguntou ofendida.
— Ele já fez algum sacrifício por você? - Perguntou num tom sério, mas o seu olhar denunciava que havia tocado em um dos grandes questionamentos da amiga.
ficou em silêncio, o olhar perdido enquanto mergulhava em seus pensamentos.
— O amor é feito de sacrifícios, .
— Nem sempre… - Sussurrou tentando acreditar em suas próprias palavras.
— Acredite em mim. Quantas pessoas dizem amar todos os dias? E quantas realmente agem conforme suas palavras? - Perguntou num tom revoltado enquanto gesticulava.
A outra, encarava-a surpresa com o repentino descontrole da amiga.
— Poucas, . Pouquíssimas. E, pode ver claramente, que o relacionamento dessas pessoas durou até sua morte. - Explicou elevando um pouco o tom de voz enquanto encarava a amiga friamente. - Você acha que as coisas com o vão durar por quanto mais?
A mulher encarou-a com a testa franzida, suspirando em seguida.
— Eu entendo sua visão sobre o amor, . - Falou num tom calmo. - Só que demorei a entender que desde que ele me respeite, me ame e sejamos felizes, não preciso de sacrifícios para provar isso. - Finalizou enquanto finalmente, deixava a última roupa dentro da mala e fechava.
— Mas e eu? - Perguntou descontente.
— Você?
— É! - Exclamou revoltada, a paciência indo pelos ares.
encarou-a surpresa.
— Continua sendo minha amiga, mesmo que eu vá para o Japão. - Falou calmamente sem desviar o olhar, abriu um sorriso.
— Isso me tranquiliza. - Murmurou aliviada e seguiu até uma satisfeita. Abraçaram-se e sorriram.
— Que tal você ir pela manhã?
tentou argumentar, mas foi interrompida.
— Sem essa. Estamos numa cidade grande e não sabemos que lunáticos podemos encontrar pelas ruas. Você não viu o estrago que a Lady Killer fez? - Perguntou num tom preocupado ao soltá-la.
— Sim. - Falou num tom triste ao se lembrar das mortes e de todo o empenho do marido para resolver o caso. - Volte a dormir que logo também irei. Vou deixar uma mensagem para o , deve estar preocupado com a falta de comunicação. - Pegou o celular e sentiu uma tristeza ao ver que não recebeu uma ligação do marido desde que partiu da cidade. Tentou justificar que poderia estar envolvido no trabalho e ela sabia o que acontecia quando ele mergulhava nas investigações.

Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
She's in it just to win it
Ela está nisso apenas para ganhar
Don't trust her for a minute
Não confie nela nem por um minuto
Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
It's a like cheap thriller
É como um suspense barato
She's such a ladykiller
Ela é uma assassina

— Desculpe, senhor. Devem estar dormindo, afinal, o dia nem amanheceu ainda. - Falou o recepcionista do tom com uma expressão séria, mas ficava evidente para o deboche.
Os investigadores chegaram ao hotel onde e estavam hospedadas, três horas depois da mensagem da mulher. Ela avisou onde estava hospedada e que pela manhã voltava para casa no primeiro ônibus. Ficou preocupado com a volta antecipada da mulher e com o motivo do seu retorno, por isso assumiu o volante e pisou fundo. Se tivesse deixado no volante, chegariam apenas na hora do almoço.
— A minha esposa é médica e costuma passar noites em claro. Poderia, por gentileza, me deixar subir? - Pediu forçando um sorriso simpático que mais pareceu uma careta, pois sua vontade era arrancar o sorriso debochado do rapaz.
— Não posso, senhor. - Falou educado, mas a expressão era provocativa. - O código de ética do nosso hotel diz que devemos prezar pela privacidade e segurança dos hóspedes. Como terei a certeza que o senhor realmente está dizendo a verdade?
— Porque eu não estou mentindo. - Xingou-se mentalmente pela resposta idiota, mas o problema era sua paciência que estava se esgotando.
— Está com a certidão de casamento original?
— Ah, sim. - Fingiu procurar os bolsos, o tom irônico. - É supernormal andar com a certidão de casamento na carteira. - Finalizou irritado.
— Então, não será possível, senhor. - O recepcionista deu de ombros e voltou a fingir que estava digitando algo no computador.
bufou irritado e quando estava prestes a se inclinar no balcão, agarrando o infeliz pelo pescoço, resolveu se pronunciar. O parceiro estava sentado em uma poltrona no saguão, desde que chegaram ao lugar, deixando que ele tomasse as rédeas da situação. E depois do divertido fracasso do amigo, resolveu vir em seu socorro.
— Vai nos deixar subir ou preciso levar uma conversinha com o gerente sobre os seus roubos aos hóspedes? - Perguntou num tom calmo enquanto se encostava ao lustroso balcão, estendendo com uma de suas mãos o distintivo de investigador.
— Não… Eu não… - O rapaz ficou pálido e gaguejou nervoso enquanto tentava se defender.
permaneceu em silêncio, a expressão calma ainda segurando o distintivo.
dividia a atenção entre o amigo e o recepcionista nervoso. Levou alguns segundos ao perceber a tática do parceiro.
— E, então? Onde está o gerente? - Perguntou ao guardar o distintivo e demonstrar que o tempo havia se esgotado.
— Eu sou inocente.
— É mesmo? E com que salário comprou esse relógio francês caríssimo?
— Não é o original. - Falou cobrindo com as mãos o relógio, a expressão surpresa.
— Ah, bom olho, ! - Disse num tom falso enquanto inclinava mais sob o balcão e fingia forçar a visão em direção ao pulso do homem. - O ministro francês que esteve em Edimburgo mês passado, usava um idêntico! - Finalizou com uma forçada expressão de constatação.
— Você sabe como sou apreciador de relógios.
— Oh, como sei! - Exclamou divertido e apontou para o parceiro enquanto encarava o recepcionista. - Já viu a coleção de sapatos de uma mulher? - O rapaz assustado confirmou levemente com a cabeça. - A dele é de relógios.
Ambos riram enquanto se divertiam com o terror do rapaz.
— Aqui está! Quarto 302 ao lado do quarto da senhora Brandt. - Falou com a voz trêmula enquanto entregava o cartão magnético para um satisfeito.
— Ué, cadê o código de ética? - Perguntou debochado. - Poderíamos estar aqui para matá-la. - Deu de ombros.
. - Alertou o parceiro enquanto segurava em seu braço e praticamente, arrastava-o para o elevador. Deixaram um recepcionista trêmulo para trás.
— Bom trabalho! - Elogiou o parceiro com um sorriso satisfeito, mas em seguida sua expressão se tornou séria. - Poderia ter me ajudado antes.
deu de ombros enquanto pegava o telefone, digitava algo e depois, discava um número. O outro, observou tudo em silêncio enquanto saíam do elevador e entravam no andar correto. O parceiro pediu que ele aguardasse com um gesto, ambos pararam.
— Desculpa te acordar, Sara. - Falou num tom tranquilo, rindo ao ouvir os xingamentos da mulher. - Ligue pela manhã para o hotel Highlands e informa ao gerente que o recepcionista noturno, Owel é o responsável pelos roubos. - Novamente ficou em silêncio, ouvindo a mulher. - Fale para olhar o relógio do rapaz. Obrigado. - Finalizou a ligação com uma expressão satisfeita.
— Se ele estiver aqui até lá. - Riu enquanto voltava a caminhar e olhar a numeração em cada porta de mogno.
— Não é problema nosso. - Justificou enquanto o parceiro o olhava divertido por alguns segundos e parava em frente a porta do quarto da esposa.
Ambos ficaram em silêncio até que o marido bateu na porta, recebendo silêncio como resposta. Bateu mais duas vezes, perdendo a paciência. Encostou o ouvido na porta para tentar escutar algum ruído, mas não ouviu nada.
Voltou a bater com empenho, o parceiro observando em silêncio. Novamente, a porta não se abriu.
! , sou eu! - Chamou novamente, recebendo o silêncio como resposta.
O homem olhou para o parceiro com uma expressão preocupada, recebendo um gesto afirmativo de cabeça enquanto puxava a arma que estava no coldre, destravando-a.
respirou fundo, as mãos suando frio e as batidas do coração aceleradas. Ficou preocupado com o que poderia estar acontecendo com a esposa. Tinha apenas duas opções: continuar batendo até atenderem ou derrubá-la. Só que poderia estar acontecendo qualquer coisa ali dentro. A mulher poderia estar passando mal, sem forças para gritar ou se escondendo dele. Por mais que temesse o motivo, esperava que fosse a segunda opção.
Tomou distância e chutou com força a fechadura da porta, precisou mais de dois chutes até que a porta abrisse.
O quarto estava escuro, impedindo que enxergasse qualquer coisa ali dentro. Puxou sua arma, apontando-a a sua frente e nisso, pôde ouvir pessoas pelo corredor que foram verificar os barulhos. O flanco protegido por seu parceiro, as mãos suadas segurando a pistola. respirou fundo, criando coragem para dar algum passo.
. - Chamou num tom calmo que até mesmo ele, estranhou.
E assim como o acender das luzes o pegaram de surpresa, a cena a sua frente também, o surpreendeu.
Ele não preocupou-se em verificar o quarto ou se havia mais alguém, além deles. Deixou sua pistola cair de suas mãos e correu até a cama. estava pálida com o corpo rígido, encostado na cabeceira da cama, as pernas esticadas. Usava a camisola que ganhou do marido em seu último aniversário. Os cabelos loiros estavam trançados, emoldurando uma expressão congelada em pânico. Segurava em uma das mãos uma folha de papel e ao lado da cama, tinha uma mala aberta com suas roupas.
O alívio foi substituído por desespero, quando se aproximou o suficiente para encostar na esposa e sentir sua pele ainda morna. Chamou-a em desespero enquanto segurava o rosto da mulher entre suas mãos, os olhos sem vida, mas que mantinham o pânico que sentiu momentos antes de partir. Agarrou-a com força em seus braços enquanto chorava baixinho. O corpo tremia em desespero, a dor parecendo dilacerar o seu ser. Não conseguia raciocinar, somente sentir. Estava tão profundamente mergulhado na dor que só despertou, quando sentiu o toque de uma mão em seu ombro. Não precisou se virar para saber quem era.
sumiu.
ouviu atentamente enquanto inalava o cheiro dos cabelos da esposa, as lágrimas ainda escorrendo por seu rosto.
— Ninguém a viu. - Continuou .
O parceiro entendeu o que queria dizer. Lutou contra a dor enquanto se afastava o suficiente do corpo da esposa para olhá-la.
— Foi ela, . - Apontou ao ver, assim como o outro, o pseudônimo da assassina escrito na pele do antebraço de .
— E eu cheguei tarde. Muito tarde, .





FIM.



Nota da autora: Sem nota.

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