Finalizada em: 12/09/2018

Capítulo Um

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Dentre todas as maneiras e lugares em que eu imaginei estar agora, dentro de uma loja de discos de vinil foi o mais distante que surgiu em minha imaginação e mesmo assim, aqui estou eu, com um disco na mão, observando as faixas das músicas com mais cinco pessoas espalhadas pelos corredores fazendo o mesmo que eu, escolhendo um dentre as variadas opções de álbuns para comprar.
O vendedor, como sempre, está com fones azuis nos ouvidos, impedindo que ele escute qualquer som que ecoe na loja e inclusive, que deixa sua atenção inabilitada. Só nesses vinte minutos que estou aqui, vi o homem ruivo, que está duas fileiras à frente da minha, colocar um álbum de baixo do moletom marrom e mais algumas camisinhas e chaveiros diferenciados no bolso enquanto o atendente continua concentrado em seu celular e em sua música.
O cara nem ao menos escuta quando o som da campainha da porta toca, indicando que uma nova pessoa entrou ou saiu da loja, muito menos olha as imagens das câmeras nos dois computadores que estão presentes no balcão ou os espelhos em cada corredor. O máximo que ele se permite fazer é trocar a música do ambiente, segundos atrás mesmo, após acabar Go Go Go do Sleeping With Sirens ele resolveu pular a faixa seguinte que era After Midnight do Blink-189 para um cover do Pierce The Veil de Just The Way You Are do Bruno Mars, que aliás, está fazendo meu sangue ferver.
Coloco o disco do Nirvana no lugar em que o peguei e tiro desta vez um do Oasis, o (What The Story) Morning Glory?. Capas sempre foram algo que me chamam mais a atenção, o que é o caso desse, que claramente consigo identificar o Liam Gallagher com suas roupas olds andando por uma rua em algum lugar da Inglaterra, passando por um cara, que deixa os dois corpos um pouco borrados por estarem em movimento. A imagem é algo que me agrada, me agrada muito por conseguir transmitir toda a melancolia que compõe o álbum, com toda certeza eu o levaria esse para casa se...
— Não faça isso — uma voz ao meu lado soa, falando e usando um tom de alerta ao interromper a voz do meu pensamento.
Se eu estivesse distraída como o vendedor, provavelmente pularia para trás e me assustaria ao escutar o timbre rígido e forte de voz ao meu lado, mas eu o vi se aproximando e ficando ao meu lado da mesma forma que vi suas mãos tatuadas quando o mesmo pegou o disco do Nirvana assim que o soltei, e também, não é como se eu não tivesse sentido seus olhos azuis vindo da ponta do último corredor que fica atrás de mim sobre a minha nuca e costas desde o momento em que entrei na loja. Portanto, apenas sorrio sem olhá-lo.
— Eu gosto da arte visual — respondo simplesmente, virando o objeto e lendo os nomes das faixas que o disco tem e podem estar na minha lista de músicas favoritas como Don't Look Back In Anger, Champagne Supernova, Hello, Hey Now, Cast No Shadow, entre outras.
— Eles são bons — vejo suas mãos grandes colocarem o álbum que ele segurava na prateleira e começar a procurar outro.
— Eles são idiotas, nem os acordes bonitos de Wonderwall são capazes de diminuir a arrogância e a babaquice que os irmãos Oasis têm — argumenta, usando um tom divertido.
Eu mordo os lábios em uma maneira de segurar o riso encarando um ponto fixo da estante de álbuns variados. Ninguém ousaria a discordar das suas palavras, eu principalmente, até porque, ele não mentiu em nenhum momento.
— E sério, você não pode comprar um álbum apenas pela arte visual e colocação de cores, luzes e essas coisas. Ninguém faz isso — deixo minhas sobrancelhas em linha reta no mesmo momento que ele termina de falar e não demoro muito para virar meu rosto para o lado, colocando meus olhos escuros sobre ele, que continua procurando um novo disco, porém, me encarando pelo canto dos olhos azuis. Abro meus lábios, demonstrando incredibilidade.
— Eu faço isso — protesto como uma criança e o rapaz sorri, mostrando seus dentes brancos e suas presas um pouco pontudinhas. É impossível não reservar um pequeno segundo para analisá-lo depois disso.
Seu maxilar é extremamente definido e ele é a melhor representação de badboy escolar que já existiu. Suas roupas se compõe por jeans preto, uma camiseta cinza escura, jaqueta de couro e botas pretas, tornando seu estilo ainda mais clichê junto com o cabelo também preto liso que está jogado para o lado, contendo uma franja pequena, mas grande o suficiente para cair em seus olhos bonitos e intensos. Aposto o dinheiro do meu aluguel que ele tem uma moto e fuma cigarro e outras drogas.
— É idiota — fala, ainda em um tom brincalhão. Eu consigo ver a tinta da sua pele quase em um tom bronzeado, no pescoço e na parte do peito que a camisa não cobre, já conseguindo perceber que ele é coberto de tatuagens pelo corpo, suas mãos mesmo são a prova clara disso.
— Na verdade, é culto.
— Você vai realmente comprar um álbum péssimo só pela arte visual e só para ser “culta”? — sinaliza as aspas com os dedos ao pronunciar a palavra.
— Não é péssimo, tem músicas muito boas! — rebato, o vendo revirar os olhos. — Ok, eu admito que eles são bem idiotas, mas você por um acaso já tentou ignorar esse detalhe gigante e prestar atenção na música em si?
— Já, e detestei — ele dá de ombros. —, mas você deveria tentar escutar isso — o moreno pega um disco com o álbum inteiro composto pela cor azul em diversos tons, com miniaturas de prédios desenhada com um tom escuro de azul na parte de baixo e com pequenos sinais laranjas estilo neon em cima deles. Quase no centro, o nome da banda e do álbum está destacado. The Killers, HOT FUSS. Solto uma risada anasalada ao pegar o objeto da sua mão.
— Então quer dizer que é proibido gostar dos irmãos Oasis porque eles são arrogantes, mas quando se trata do Brandon Flowers isso ‘tá liberado? — pergunto, levantando uma das minhas sobrancelhas.
— Acredite, esse aqui é melhor do que isso — aponta para o primeiro álbum que peguei —, que você pretendia pegar, inclusive, por que você não leva os dois e tira a prova?
— Você trabalha aqui? — cerro os olhos em seu rosto bonito, desconfiando só nesse momento do que estava acontecendo ali e me achando uma completa idiota.
— Se eu trabalhasse, não falaria que na esquina da outra quadra tem uma loja de discos melhor que essa e que vende tudo pela metade do preço daqui — ele apóia o braço na parte de cima da prateleira e tomba a cabeça para o lado, sorrindo.
— Na verdade, isso só me deixa mais triste. Nunca consigo pegar essa loja aberta e quando consigo, o que eu quero já esgotou — O moreno pisca algumas vezes enquanto seu sorriso desaparece.
— Isso é sério? — mordo a bochecha por dentro, assentindo com a cabeça. Provavelmente eu sou a única pessoa da Califórnia inteira que não consegue ter sucesso dentro da Mercy Vinyl. Ele me encara por alguns segundos, antes de suspirar e pegar os dois álbuns da minha mão.
— Ok, hoje é o seu dia de sorte — coloca os discos na prateleira. — Pronto, vamos — no minuto seguinte se vira, pronto para começar a andar em direção à saída se eu não interrompesse essa ação.
— Espera! O quê?! Ir aonde? — pergunto em disparada.
Estou desolada o bastante para achar que uma loja de discos é o melhor lugar para eu estar nesse momento, mas não louca o suficiente para ir a um lugar qualquer com um estranho que eu nem ao menos sei o nome e que acabei de conhecer, se é que posso usar essa palavra, já que não conversamos nem por dez minutos.
Assisto o momento em que ele para de andar apenas para olhar para trás, olhar para mim.
— Aonde você acha? — seu sorriso astuto e óbvio, é a última coisa que vejo antes de eu decidir sair da loja ao seu lado.

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Em menos de cinco minutos, nós já estamos alguns passos da outra loja. Durante o curto caminho, vi o rapaz mandar mensagens para alguém pelo celular enquanto destilava ódio pelo Oasis, o que me fez rir um pouco.
Nossos passos eram largos e muito rápidos, por isso não me impressionei quando enquanto ele terminava de xingar o Liam, nós já estarmos em frente à porta de vidro da Mercy Vinyl que possuía uma placa bem grande, com as cores preto e vermelho escrito FECHADO.
Eu estava preparada para encostar nas paredes de tijolos laranjas ao lado da entrada e rir ao afirmar, mais uma vez, que eu não tenho sorte se tratando da loja quando a porta de vidro escuro se abre, revelando um rapaz saindo por ela que usa um boné vermelho, branco e azul de beisebol virado para trás, uma camiseta do Metallica preta, jeans escuros e carrega uma jaqueta em mãos mesmo com a temperatura alta de hoje.
Estou, literalmente, usando uma calça que vai até meus tornozelos azul cara com um All Star branco e um cropped da mesma cor de manga curta e mesmo assim, estou com um pouco de calor enquanto os dois estão segurando ou vestindo jaquetas. Tudo pelo estilo.
Ele e o moreno fazem um toque de mão, se cumprimentando antes do cara de boné colocar um molho de chaves na mão dele.
— Eu preciso resolver umas coisas rápidas, se der três horas e eu não estiver aqui, abra a loja para mim — fala para o rapaz ao meu lado, que o encara sério.
— Se você quer que eu trabalhe aqui, me contrate como uma pessoa decente Heath — o cara de boné, que agora eu sei que se chama Heath, revira os olhos. Ele é muito bonito, por alguns instantes quase cheguei a compará-lo com o moreno ao meu lado antes de perceber que não se dá para fazer isso pelas belezas serem diferentes, apesar que se isso fosse uma disputa, Heath ganharia fácil no meu ponto de vista.
Ele é apenas alguns centímetros mais alto que eu e tem lábios escuros enormes, sua pele é negra, seus olhos além de serem bem destacados são em um tom de castanho absurdamente claro com seus cílios enormes e seu cabelo pelo que o boné me permite ver, é preto, curto, brilhante e crespo. Enquanto tudo no moreno é fino e consegue facilmente passar despercebido, em Heath todos os seus mínimos detalhes são destacados e fortes. Ele é lindo.
— Você tem noção de quantas coisas nós recebemos e vocês terão acesso antes? Eu estou te fazendo um favor cara, você poderia retribuir ele.
O moreno cruza os braços, manejando a cabeça em forma negativa minimamente.
— Então não é um favor, é uma troca — rebate. Eu sou invisível para os dois aparentemente. Desde o minuto em que Heath saiu da loja, ele não colocou os olhos em mim e o moreno também não se preocupou em me apresentar ao seu amigo, não que eu esteja incomodada com isso.
— Que seja, . Apenas faça — fala, depois de soltar um suspiro cansado e longo.
Heath veste a jaqueta jeans azul clara um pouco desgastada e começa a andar para a direção oposta em que viemos. Não o acompanho sumir da minha visão, pois no mesmo instante que Heath vai, o moreno, , abre a porta de vidro, me convida para entrar e assim faço.
Mercy Vinyl é o lugar perfeito para pessoas apaixonadas por coisas retrô e músicas, pessoas como eu. As paredes são cobertas de pôsteres de artistas novos e antigos compostos por capas dos discos de vinil em quadros, junto com algumas partes de artes artpop em quadrinhos espalhados pelas paredes.
Ao fundo do lado direto da loja, um longo tapete cinza com alguns pufes e bancos estofados marrom escuro estão posicionados formando uma roda perto do tocador de discos que fica ao lado de um pequeno frigobar inox, diferente do lado esquerdo, que tem um quadro cheiro de recados e assinaturas das pessoas que já passaram por aqui.
A mobília das prateleiras e da loja inteira é de madeira escura, os álbuns são separados por gênero e por ordem alfabética, placas escritas em neon vermelho e branco indicam o gênero que as fileiras são no início de cada corredor que é iluminado pelas luzes brancas presas no teto que deixa, apesar do cômodo inteiro ser composto por cores escuras, o ambiente claro.
— Aqui, achei os seus discos — interrompe meus olhos analíticos e minha atenção na decoração do lugar quando aparece ao meu lado com os dois álbuns que eu estava na mão na outra loja. Eu nem tinha reparado a sua ausência. — E como eu disse — ele aponta com o dedo indicador em um adesivo amarelo pequeno na ponta da capa do disco. —, pela metade do preço — sorrio, pegando os dois e analisando o HOT FUSS, o álbum que ele tinha me indicado.
— Ainda não sei se vou levar esse, nunca escutei realmente algo deles tirando as mais famosas, nem tive interesse na verdade — admito, virando ele para trás e lendo o nome das músicas na capa antes de voltar a olhar para à minha frente. Ele cruza os braços e curva os lábios vermelhos para cima, pensativo.
— Quer escutar agora?
— Nós podemos abrir os álbuns sem comprar antes? — nega com a cabeça, se virando de costas e andando até o balcão da loja. Eu o sigo, jogando meus braços em cima da madeira e apoiando todo meu corpo ao chegar ali depois de deixar os álbuns em cima do mesmo e ver ir para trás dele mexer em algo no computador dali.
— Não, mas eu tenho spotify e aqui tem WiFi — tira o celular do bolso de trás dos seus jeans e pega um fone branco para o aparelho. Ele se debruça no balcão como eu fiz, ficando poucos sentimentos de distância de mim.
— Aqui — estende um fone para mim após conectar no celular. Eu o pego e o coloco no ouvido, faz o mesmo. Ele coloca o aparelho com a tela brilhante no espaço entre nossos braços e clica na música. — Vou começar com a minha favorita. Believe Me Natalie.
Assinto com a cabeça e não demora muito para os primeiros toques da música se iniciarem. Ela é calma no começo, até a bateria soar ganhando destaque para, apenas depois de alguns segundos, a guitarra se juntar.
A voz do Brandon é suave em meio as notas tranquilas até o refrão começar e música se animar um pouco. O nome da faixa é repetido algumas vezes com os acordes dos instrumentos tranquilos até o meio da música chegar e a intensidade de todo o som ir aumentando, me deixando ansiosa pela explosão que acontece alguns segundos antes do fim com o Brandon repetindo novamente o nome da música.
Toda a melodia combina com a letra, que eu entendi se tratar da despedida de um casal. A última dança, o último toque antes de deixar tudo para trás. Uma última chance antes de Natalie ir embora já que, aparentemente, os planos do seu parceiro ou parceira não são o suficiente para ela ficar e então, o mesmo propõe um último dia antes de deixar todos os rastros para trás, pedindo para ela focar no último momento deles e esquecer de tudo o que disseram sobre eles e todos os problemas que tiveram antes dela ir realmente embora como o Brandon canta em várias partes incluindo na penúltima e última estrofe da música.

Believe me, Natalie. This is your last chance to find a go-go. Forget what they said in Soho, and walk away. If my dreams for us can’t get you through, just for one more day, it’s alright by me.
God, help me somehow, there’s no time for survival left. The time is now, cause this might be your last chance, to disco oh-oh.

Sinto meu coração parar por algumas frações de segundo quando a música se conclui. Ele não tinha mentido, se todas as faixas da banda forem no estilo dessa, eles realmente são muito bons.
Os olhos de estão sobre mim, que fiquei com os meus fixos durante a canção toda no celular, quando ergo minha cabeça para encarar , sua expressão me mostra que ele espera a minha opinião sobre o que acabo de escutar.
— Eu adorei — confesso, vendo um sorriso bonito surgir no mesmo momento que digo no rosto dele.
— Não disse que tenho um ótimo gosto musical?
— Não, você não disse — rebato, não mentindo e uma risada fraca sai dentre seus lábios. — Você tem mais alguma indicação?
— Sim — ele pega o celular do balcão. — O nome dela é Supernova do House Of Lions. Não é muito conhecida já que eles decidiram acabar com banda por conta dos estudos e… — é interrompido pela música do meu celular, que começa a tocar sem parar.
Quando o pego, um nome que me causa uma certa tensão está escrito grande na tela brilhante.
Eu deveria ter fugido quando tive a chance.
Não atendo a ligação.
— Infelizmente isso fica para outro dia, o mundo real me chama — dou um sorriso sem graça para ele enquanto tiro o fone do meu ouvido e estendo para . Pego vinte dólares do meu bolso de trás e coloco no balcão, pegando o álbum do The Killers logo em seguida e começando a andar em direção á saída rapidamente.
— Não vai levar o do Oasis? — fala alto, me fazendo virar para trás quando chego na porta de vidro. Ele ainda está debruçado no balcão e uma das suas sobrancelhas pretas está levantada.
Sorrio um pouco atordoada, porque só agora reparo como ele é bonito, na verdade, soube disso quando coloquei meus olhos nele na outra loja, mas agora algo a mais chama atenção nele, acho que é seus olhos brilhantes e toda a pose durona que todos os seus poros indicavam que ele tem, não está em evidência agora. Se ele me pedisse para não ir, eu não iria.
— Não, alguém me disse que esse é melhor — respondo, balançando o álbum na mão e alargando meu sorriso quando vejo os cantos dos seus lábios se curvarem para cima, retribuindo minha ação antes de sair pela porta, indo embora, mas possuindo uma enorme vontade de ficar.


Capítulo Dois

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— Nós não precisamos disso. — Chris nem começou a explicar porque devemos fazer isso e eu já dou a minha resposta. Não importa o que ele vá dizer, nós não precisamos de ajuda, não agora, talvez no início de tudo possa ter tido uma necessidade de alguém nos auxiliando, mas já passamos por essa fase e absolutamente tudo está dando certo, portanto, não importa o quão profissional e estudado seu amigo seja, nós não precisamos de ajuda com a banda. Não nesse momento e em nenhum outro a partir de agora.
, você nem me deixou falar — rebate, um pouco indignado e vim razão. — Eu juro que isso vai ser bom, além de ser de graça e no fim, é a gente vai sair beneficiado. Opinião nunca é demais cara.
— Eu não sei Chris, nós estamos indo bem agora — Seth opina e eu quero sair do meu lugar, andar até ele e beijar sua boca.
— É, alguém citando o que considera errado e moldando tudo o que tocamos não será bom para a banda — desta vez, Heath é quem fala enquanto afina a guitarra. Nunca estive tão feliz por viver em um país democrático aonde a maioria está comigo.
— Isso não vai acontecer gente, o vai rolar é, nós vamos receber dicas para nós melhorarmos, evoluímos e aprimorarmos nosso som — explica. — Vocês sabem que a gente não tá 100%, o ensaio de ontem mostrou isso e o show da nossa vida é hoje a noite, dá tempo de melhorar e fazer algo foda! — Chris, novamente fala, tentando nos convencer da mesma coisa já faz vinte minutos.
Você não está 100% — Heath o corrige, parando de ajustar a guitarra apenas para olhá-lo. —, parece que você nunca está presente e que sua cabeça sempre está pensando em Mallory.
— Isso não é uma mentira — Seth comenta, quase recebendo as baquetas que Chris está nas mãos, voando em direção ao seu rosto como resposta.
— Vocês realmente acham que está tudo legal e que eu sou o problema? Porque desde semana passada isso tem sido um lixo e todo mundo anda distraído — Chris aponta para Seth, sentado em cima do amplificador preto com o calcanhar em cima do joelho da sua perna. — Seth, você está há todo momento com a Leighton — aponta para Heath. — E você com qualquer garota que te dê moral, enquanto ... — ele faz uma pausa ao apontar para mim, provavelmente pensando no que dizer. —, eu sei lá com o quê você está distraído, mas você está — diz. — Acreditem, o que eu estou propondo é a nossa melhor opção — conclui e apenas com essas poucas palavras, vejo que Chris acaba de ganhar a aprovação de Seth e Heath, que se olham quase que buscando a aceitação um do outro e encontrando isso. Balanço a cabeça em desaprovação.
A ideia de Chris não é a nossa melhor opção, não consigo enxergar nenhum benéfico em ter uma nova pessoa mandando nos nossos ensaios como um fodido produtor musical. O combinado sempre foi nós sermos totalmente independentes mesmo que um contrato com alguma gravadora surgisse, o que aconteceu mesmo depois de termos deixado bem claro como tudo iria funcionar se eles ainda quisessem fechar com a gente depois do show de hoje a noite. Nosso maior desejo é continuar tendo o total controle do nosso estilo, músicas e banda, fazendo o que gostamos sem se vender para o mercado comercial, incluir alguém entre a gente agora é a pior escolha, é entregar todo o nosso trabalho para ser analisado e modificado, tirando toda a nossa identidade, toda a nossa essência. É idiota e ridículo.
— Chris, não vai acontecer. Eu me recuso a aceitar uma pessoa mandando aqui dentro, sempre foi nós quatro e vai continuar assim — declaro, por mais que eu saiba que preciso de Seth e Heath comigo para que isso aconteça caso nos decidirmos abrir uma votação.
— Sei lá , parece uma boa se for pensar no que o Chris disse — Seth fala, me fazendo revirar os olhos.
— E também, não precisa ser definitivo cara, vamos fazer um teste e se a gente sentir que não ‘tá rolando, falamos que não queremos mais — Chris propõe.
— A questão é que a gente não precisa disso — rebato. — Chris, sério, mande seu amigo para o inferno ou peça para ele procurar outra banda que esteja interessada nisso e diga que estamos recusando a oferta, não precisamos de alguém estúpido que vai modificar todo o nosso trabalho se considerando o rei da música só por ter um diploma. Nós vamos conseguir esse contrato sozinhos, sem ninguém interferindo e fodendo tudo — concluo, respirando fundo ao notar todos os olhares sobre mim.
Eu quero realmente inverter o jogo e trazer novamente Seth e Heath novamente para o meu lado, mas antes que eu pudesse fazer isso duas batidas na porta do porão ecoam pelo cômodo, me fazendo girar o corpo para trás automaticamente, procurando o causador do barulho e me arrependendo profundamente ao fazer isso.
Meus olhos congelam na pessoa que vejo parada na porta com os olhos fixos e sérios em mim depois da surpresa em suas írises pretas desaparecer entre eles.
Merda. Merda. Merda. Mil vezes merda.
— Eu bati na porta da entrada e ninguém respondeu, então resolvi entrar ao perceber que ela estava aberta — ela fala, olhando para todo mundo que está ali antes de parar seus olhos em mim. Isso não pode ser o que eu estou pensando.
… — Chris tenta falar, mas é interrompido pela garota da loja de vinil em que eu estive mais cedo no mesmo instante. Ela está ali, bem na minha frente, usando um vestido branco que se parece com uma camiseta apertada que vai até um pouco para baixo do início das suas coxas, com os mesmos allstar brancos no pé e uma jaqueta de couro amarrada na cintura. Seus cabelos castanhos escuros estão presos em um rabo de cavalo com apenas duas mechas na parte da frente soltas e um óculos vermelho e pequeno, estilo anos 80’ está em sua cabeça.
Ela está fodidamente linda e eu acabo de falar coisas idiotas sobre ela que nem ao menos se move, o que me dá certeza que ela escutou tudo o que eu disse, desde o maldito início.
— Eu realmente não sou de escutar conversas alheias algo do tipo, mas — ela deixa as sobrancelhas em linha reta, demonstrando irritação. —, alguém estúpido que vai modificar todo o nosso trabalho, se considerando o rei da música? — repete minha fala, aparentando não acreditar que tinha mesmo escutado aquelas palavras serem ditas sobre ela. — Isso é sério?! Você realmente teve capacidade de dizer isso sobre alguém que nem ao menos conhece?
Sua visão permanece firme em mim e isso é agonizante. Eu tento abrir a boca para dizer algo, procurando alguma forma de explicar o que, sinceramente, não tem que ser explicado e que eu nem ao menos consigo, já que as palavras sumiram na mesma medida que meu coração começou a acelerar.
Que grande e ferrada bosta!
, ele não quis dizer isso que você escutou — Chris interfere, tentando concertar a merda, mas eu sinceramente não vejo solução. Não fazia ideia de que a pessoa do qual ele falava era ela. Essa opção nem por um segundo passou sobre minha cabeça, mas dá mesma forma, isso não quer dizer que eu tenha mudado de opinião quanto a ideia. Ainda não a aprovo aqui, mas sinto muito pelo que ela me escutou dizer. — só estava...
— Chris, na boa, não — o corta novamente. — Eu sou inteligente, sinto quando não sou bem-vinda e nesse caso e nem precisei sentir, eu escutei, então só me deixe ir embora e finja que isso não aconteceu, okay? — Chris abre a boca, mas escolhe ficar quieto no fim de tudo, fazendo assentir com a cabeça. — Ótimo! E aos demais, vocês realmente não sabem receber uma pessoa.
Ninguém tem coragem de dizer nada, provavelmente estão muito constrangidos com a situação que eu criei, aposto até que Seth está vermelho enquanto Heath tenta permanecer indiferente e o silêncio segue até mesmo depois de girar os calcanhares e passar a descer os degraus da escada, sumindo rapidamente do nosso campo de visão. Algo centro de mim queima. Eu me sinto um merda. Eu sou um merda.
Fecho os olhos com força, tentando me controlar. Meu cérebro manda eu não mover um músculo e deixar ela ir ao mesmo tempo que também me manda correr até ela e pedir desculpas por mais que eu não concorde com a ideia de tê-la por perto mesmo que eu tenha plena consciência que há minutos atrás, Seth e Heath estavam com Chris e eu estava sozinho, o que me faz ser ainda mais idiota por saber o que tenho que fazer e estar adiando isso. Solto um murmúrio irritado.
— Foda-se! — digo, tomando a decisão mais sensata. Eu odeio viver em um país democrático, eu odeio ela ter escutado o que eu disse e odeio mais ainda o fato de que não preciso nem mais de um segundo para descer as escadas correndo atrás dela, respirando aliviado ao ver que fui rápido o suficiente para conseguir encontrá-la ainda na sala, começando a caminhar para a porta que fica centímetros de distância do sofá.
— a chamo, descendo do último de grau. Consigo ver seus olhos se revirarem assim que ela me vê.
— Nem se dê o trabalho e não precisa me acompanhar, eu sei aonde é a saída — responde, ajeitando a alça da sua bolsa no ombro sem parar de andar.
— Espere! Escute, me desculpe…
— Eu disse para você não se dar o trabalho! — me corta, já chegando na porta e eu decido correr, pulando o sofá e me aproximando rapidamente dela em tempo de ficar atrás do seu corpo e colocar a palma minha mão na madeira, empurrando a porta para frente e a fechando no mesmo minuto que começa a abri-la. — , me deixe sair! — fala entre dentes, puxando o trinco para trás mas não conseguindo abrir a porta pois em todas as vezes eu a fechei novamente.
— Primeiro você precisa me escutar.
— Além de me ofender, vai me manter em cárcere privado agora?! — esbraveja, me fazendo conseguir sentir cada pequena gota de ódio que sente pela firmeza da sua voz.
— Você sai assim que me escutar — respondo, e ela suspira, encostando a testa na madeira, irritada.
, eu já te escutei, há segundos atrás, quando você falava que eu sou estúpida e me acho a rainha da música só porque tenho um diploma. Você tem alzheimer?
— Eu sinto muito por isso, de verdade. Eu não sabia que você estava escutando — fica imóvel por um momento até resolver, se virar de frente para mim e encostar seu corpo na porta, erguendo a cabeça para cima para conseguir olhar nos meus olhos já que sou alguns centímetros maior que ela. Abaixo minha cabeça para facilitar essa ação. Minha mão continua sobre a madeira, não correria o risco de facilitar a sua saída sem que ela me escutasse primeiro.
— E mudaria alguma coisa se você soubesse? Você não falaria aquilo ou até mesmo, não pensaria daquela forma?
— Não, não mudaria nada — digo a verdade. —, mas não importa. Eu sou o único que não concorda com a ideia de ter você entre nós, a maioria quer isso então você fica — me olha com pavor antes de balançar cabeça negativamente, incrédula.
— Você só pode ser louco por achar que eu ainda vou querer fazer isso. Você falou coisas horríveis, , deixou bem claro que não me quer aqui. Eu não vou ficar.
, me desculpe. Eu não deveria ter dito aquilo, independente se eu concordasse ou não com a ideia. Eu fui um merda — ela cruza os braços e ergue as sobrancelhas.
— Fico feliz que você reconheça isso, não fez mais que a sua obrigação.
— Eu sei disso e entendo você não querer mais ficar, mas eu só peço que reconsidere isso se você achar correto. Não é justo Seth, Chris e Heath pagarem por algo que eu falei.
, eu não vejo como isso pode dar certo se você não me quer aqui — ela molha os lábios inferiores com a língua rapidamente. — Minha intenção é ajudar, não atrapalhar e com a sua não aprovação, não enxergo como posso fazer isso uma vez que você não vai aceitar nada do que eu disser.
— Isso não acontecer — afirmo, vendo ela encolher os ombros e deixá-los cair.
— Minutos atrás você falava que se recusa a aceitar outra pessoa entre a banda. O que garante que não vai acontecer?
— Eu garanto! — exclamo em disparada, deixando meus olhos firmes nos seus por alguns segundos antes de engolir seco e desviá-los, percebido que isso não estava funcionando, isso não iria funcionar. Por que ela acreditaria em uma pessoa que mal conhece e que acabou de escutar ela falando coisas horríveis sobre ela? Eu preciso de algo melhor para fazê-la ficar, preciso de algo que a faça decidir esquecer a situação idiota e humilhante que criei. Algo maior que a minha simples palavra.
— Olha, por que a gente não tenta começar do zero? Esquecer o que aconteceu e reiniciar esse reencontro? — proponho, esperando sua resposta ao tirar a mão da parede e me afastar um pouco ao dar um passo para trás.
fica em silêncio, imagino que pensando no que eu disse, e me encarando com hesitação, muita hesitação, o que me deixa inquieto por dentro e me faz agir. Levanto a mão para cima, a deixando em sua frente.
— Oi, meu nome é e eu sou o vocalista e guitarrista da banda de indie rock alternativo, Deadsouls.
olha para mim como se estivesse perguntando se isso é realmente sério e depois de alguns minutos, quando percebe que eu não estou brincando, ela revira os olhos, soltando o ar de seus pulmões e descruzando os braços.
, formada em música na faculdade de Cambridge e cantora solo fracassada — Ela aperta minha mão e eu sorrio verdadeiramente, porque essa é a única coisa que consigo fazer.
— É um prazer te conhecer, — pronuncio seu nome lentamente e consigo ver um pequeno vestígio de um sorriso entre seus lábios bonitos também. Se ela fosse sorrir assim sempre, talvez eu não ache mais a ideia de tê-la por perto ruim e talvez, apenas talvez, isso no fim das contas, possa dar certo.


Capítulo Três

DUAS SEMANAS DEPOIS

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Começo a aplaudir os meninos assim que a música que eles tocavam chega ao fim. Estou com um sorriso enorme no rosto e meu corpo transborda orgulho. Não consigo reconhecer a banda que conheci há duas semanas atrás, que mais brigavam do que tocavam, que apesar de tudo isso ser o sonho deles, não se dedicavam o suficiente, diferente do que eu vejo hoje, do que eu vejo agora.
— Vocês estão prontos! Eu nunca tive tanta certeza na minha vida! — digo, me levantando do sofá enquanto Seth, Heath e tiram a alça dos instrumentos dos ombros e os posicionam no tripé e Chris, levanta do banco da bateria. Eu não sou a única que está sorrindo, todos eles estão mostrando seus lindos dentes também, orgulhosos de si mesmo e dos seus companheiros.
— Eu espero que você não esteja mentindo gatinha. Você sabe que isso quebraria meu coração — Heath diz, após bater no ombro do seu irmão, Seth, que ri fraco.
— Pensei que a de falta de dinheiro e de maconha na sua vida quebrassem seu coração — Seth brinca.
— Eu não sei do que você está falando Seth, eu nunca usei drogas e sempre tive dinheiro, que vai aumentar já que assinamos um contrato com uma gravadora — responde como uma santa e fazendo os meninos começarem a gritar de animação assim que ele cita a primeira conquista deles. Heath anda até mim, e coloca suas mãos em cada lado do meu rosto.
— E tudo isso, graças à essa mulher incrivelmente foda e bonita — ele me puxa para frente e deposita um beijo forte e molhado na minha bochecha antes de girar os calcanhares e caminhar até a saída, parando em frente à porta.
— Eu não fiz nada demais — afirmo, e eu realmente não fiz mesmo, posso até ter sugerido pequenas mudanças em algumas partes das músicas, em acordes e tom de voz, mas o talento todo é deles, eles só não estavam sabendo administrar tudo sozinhos, apenas isso. Aposto que chegariam ao mesmo lugar sem a minha ajuda.
, cale a boca e aceite o elogio. Se não fosse por você e suas observações, a banda já teria morrido — Chris diz, andando até a minha frente e também depositando um beijo na outra bochecha. — E como recompensa, trarei um lanche para você.
— Vou ficar esperando — sorrio para Chris e logo vem Seth com seus olhos verdes brilhantes me abraçar.
— Você é foda e é melhor sentar porque as chances dele comer tudo no caminho são maiores do que esse lanche chegar até você — nos separamos e Seth também vai para a porta, junto com Chris e Heath.
, você quer alguma coisa? — Heath pergunta e o moreno dá de ombros.
— Sim, que vocês não batam o meu carro — ele joga as chaves em direção ao Chris que a pega no ar e abre um sorriso maldoso.
— Vou perguntar se tem isso no cardápio — brinca. — Até depois! — ele vira as costas e sai pela porta, junto com Heath e Seth atrás, deixando apenas eu e no porão. Nós estávamos nos dando bem, desde o episódio vergonhoso há duas semanas atrás, estava tentando realmente me aceitar entre eles, é claro que no início sempre percebia a sua relutância em algumas coisas que eu sugeria, mas isso não se estendeu muito, hoje nós já conseguimos trabalhar juntos, o que vem sido excelente já que nossas ideias são muito parecidas, inovadoras com grandes chances de dar errado e todo mundo ama se arriscar apostando nelas, o que deu muito certo.
O dia do show prova isso, quando concordei com sobre estender um solo da guitarra em uma música deles, o resultado não foi outro além de sucesso, com a galera do show indo ao delírio, foi épico, principalmente na parte quando percebi o sorriso anestesiado de ao concluir o solo para mim, acompanhados com seus olhos azuis.
pega uma garrafa da água que estava ao seu lado no chão, abre e toma o líquido enquanto me distraio com os cadernos e livros da estante do porão gigante da sua casa. Eles literalmente tinham tudo que precisavam ali, todos os acessórios incluindo instrumentos, amplificadores e microfones cabiam no lugar com mais alguns móveis como uma mesa, sofá, bancos estofados, um frigobar, um computador, duas estantes e ainda sobrava espaço.
Ao passar os olhos sobre as fileiras de livros um caderno com a capa preta de couro me chama a atenção e mesmo sabendo que aquilo pode ser algo extremamente pessoal, não houve um momento que eu hesitei antes de pegá-lo e virar para , que continua bebendo água em goles curtos.
— É seu? — pergunto, tendo os olhos de sobre o caderno e depois no meu rosto ao assentir levemente tirando a garrafa da boca. — É de composições? — ele assente novamente.
— Sim, mas não são as que gravamos para a banda, é só algo mais, sei lá, fechado. Não sei se os caras gostariam de gravar.
— Se importa se eu der uma olhada?
— Não — dá de ombros e eu abro o caderno. A sua caligrafia é um pouco corrida, mas ainda assim, fácil de ler e bonita. A primeira música se chama In My Soul, o que me agrada inicialmente, para depois me assustar com a letra ao ponto de não conseguir virar a página.

In all the fractions of seconds, in all matters of the moment, I feel that you grow in my chest and spread over my soul.
Rotting me in just to let your feeling consume me and that love continue living.
Only to make me forsake all that I dream, only to destroy all that I have inside while I remain in the sweet illusion that the sight of her eyes suffices me, while I remain in the illusion that all her being is enough for me.
In all fractions of a second, in all matters of the moment, I feel weaker, I feel more broken as you grow while you live while you rot me.

… — minha voz ecoa como um sussurro e eu releio a música mais uma vez, escutando bem ao fundo seus passos se aproximando de mim, e parando na minha frente. — Isso é…
— Horrível — termina a frase por mim, quando paro no meio do caminho buscando algo que represente cada verso que li.
— Não, não é horrível é… obscuro e intenso — o olho. — Você realmente vê o amor desse jeito? — questiono, curiosa. Um sorriso maldoso surge entre suas linhas.
— Sim.
Meu corpo estremece, pensando no que pode ter acontecido com ele para que chegasse nesse ponto, enxergasse um sentimento tão bondoso e genuíno como algo que te quebra e te escurece completamente por dentro.
— Não é algo tão horroroso como você está pensando. Esse amor que descrevi é o tipo de amor que todo mundo procura, que todo mundo quer — explica, me fazendo ficar incrédula e ele percebe isso no mesmo instante. — Você já amou alguém ?
— Hm, já… — respondo um pouco incerta, com minha garganta seca. Por mais que meus casos amorosos não tiveram um bom fim, eu acho que posso dizer que os amei sim. — Algumas vezes.
— Como você se sentia?
— Segura, protegida… acolhida, bem comigo mesma — ri, negando com a cabeça.
— Isso não é amor, — diz simplesmente. — Amor não possui apenas sensações tão simples como essas, amor te corrói, te consome, te faz entrar desespero quando você sente ele crescendo cada vez mais e tomando conta de todo seu corpo sem você poder parar isso. Amor dói, machuca, te destrói, mesmo quando está tudo bem. E é isso que todo mundo procura, o que todo mundo deseja, a sensação de perder o poder, o controle de si mesmo, de estar vivo por dentro depois de apodrecer, a dor apertando seu coração e o esmagando apenas por respirar, a sensação da sua alma pertencer a alguém tão diferente ou igual à você. Isso é amor.
Tem algo dentro de mim que fica inquieto enquanto encaro seus olhos intensos, algo que faz minha respiração ficar pesada e falhar por alguns segundos e eu não sei se é porque estou desejando sentir o que ele acabou de falar ou se é porque ele está na minha frente, me olhando fixamente.
— Amor não é para doer, , não é para machucar — argumento, me esforçando para que as palavras não saiam baixas demais ou imperceptíveis sobre meus lábios. O vejo dar outro sorriso astuto ao se aproximar do meu corpo, ficando a poucos centímetros de distância do meu antes de falar algo que acaba comigo no mesmo instante.
— Se não dói, como você sabe que é amor? — pergunta dando mais um passo, colando nossos corpos. Eu não sei porque, mas toda a sua movimentação, toda a vibração que transmite, me causa um certo pavor, um certo medo pois enxergo perigo, enxergo muitos pontos de exclamação em alerta e meu cérebro pede socorro da mesma maneira que meus músculos me impedem de sair dali.
— Eu não faço ideia — engulo seco, o sentindo cada vez mais perto —, mas sei quando é. Eu sinto quando é.
— Você sente? — pergunta apenas para confirmar se acredito realmente nas minhas palavras. Seus olhos não saíram dos meus nem por um pequeno milésimo de segundo.
— Sim, eu sinto tudo. A atração, a proteção, o acolhimento, o sentimento de paz. Eu sinto quando é amor — respondo, e passa a mão pela minha cintura, tirando toda a minúscula distância que o nosso corpo tinha e colando os dois. Eu não faço nada para impedir, eu não consigo fazer.
— E o que exatamente você sente agora? — sua mão livre desliza pelas minhas madeixas castanhas e coloca alguns fios do meu cabelo atrás da minha orelha, deslizando seu dedo gelado sobre a pele quente do meu maxilar até chegar na ponta do queixo, que ele ergue gentilmente para cima, deixando nossos olhos ainda mais conectados.
O que você quer de mim? — pergunto, fraca. Meu coração está batendo acelerado, eu posso escutar o som das suas pulsações uma a uma, seguidamente, repetidamente, começando a ficar descontrolado, descompassado e todos os pelos da minha pele se levantam à medida que o toque de permanece em meu rosto, em meu corpo.
— Quero que me diga o que sente agora, — volta a dizer com sua voz rouca e baixa, que me leva a fechar os olhos e abaixar a cabeça, sem coragem para responder e tendo consciência do que estava muito perto de acontecer, do que eu permitiria facilmente que acontecesse se eu continuasse o olhando.
— Eu não vou fazer isso, — declaro, mas é em vão, porque ele não se mexe, não se move, e todos os efeitos no meu corpo não param, não cessam, apenas aumentam cada vez mais.
— Ok — fala em um sussurro, com o ar da sua boca e respiração batendo contra minha pele. Ele está muito perto, está próximo o suficiente para eu conseguir sentir seu cheiro, o calor do seu corpo e quase as suas sensações, me tirando automaticamente do controle e me fazendo querer isso ao ponto de doer, ao ponto de eu mandar para o inferno minha hesitação e decidir largar o caderno no chão, fazendo o som dele caindo soar no porão enquanto meus dedos passam a deslizar, caminhar em seu braço e peito até chegar em seus ombros largos e pescoço.
Eu posso vê-lo mesmo estando de olhos fechados e posso sentir meu interior gritar quando admito minha derrota e me rendo, não demorando muito para fazer o que disse que não iria fazer segundos atrás, levantando minha cabeça, a inclinando para frente e permitindo que os lábios de se choquem com os meus em um toque lento e calmo no primeiro contato, até o mesmo envolver todo o meu maxilar com a mão e me puxar ainda mais para ele, transformando rapidamente o beijo em algo desesperado e necessitado, com nossas línguas se envolvendo cada vez mais e todo o meu sistema interno falhando, me fazendo senti-lo em todos os mais escondidos lugares e desejando continuar com isso por um bom tempo, ou só até alguém me acordar desse sonho, o que eu espero que não aconteça logo e nem nunca.


Capítulo Quatro

QUATRO SEMANAS DEPOIS

.



Heath entra sala atrás de uma garota que eu não conheço, e ao abrir a porta, joga uma garrafa de água para Chris que é pega no ar por Mallory, que sentada no colo do baterista. Ao lado, Seth e Leighton estão em pé, comendo e bebendo dos alimentos que estavam sobre a grande mesa. Estou jogado sobre um pufe em uma parte com pouca iluminação e afastado da maioria das pessoas, observando encostada na parede próxima à porta mexendo em celular ou conversando com o grupo que entrou em uma conversa animada sobre quem é o líder da banda depois que Heath entrou no cômodo falando sobre o show que acabamos de fazer.
— Chris, na boa, você é meu cara e eu te amo, mas com todo respeito, vá a merda! — o baixista diz, fazendo Leighton rir ao seu lado, deixando as bochechas da sua pele branca como a neve ficarem em um tom rosado. — Todo mundo sabe que eu sou a pessoa mais propícia a ser o líder porque eu sou o mais responsável, portanto…
— Heath é o líder! — o guitarrista anuncia, recebendo os olhares de Chris e Seth sobre o seu corpo. — Qual é gente! — ele joga as mãos para cima e deixa elas baterem na coxa. — O Chris é o baterista e o líder precisa ter presença de palco em todos os lugares, só usa preto e botas de couro, não tem senso nenhum de moda e parece o anticristo. Semana passada nós fomos ao mercado e ele fez uma criança chorar só por estar perto dela e o Seth fala propício.
— Qual o problema em falar propício? — Mallory interfere, curiosa.
— É brega — Heath faz uma careta.
— Quem disse isso? — o baixista pergunta e Heath abre um sorriso enorme.
— Heath disse.
— Na verdade, falar de si mesmo na terceira pessoa é brega — Leighton, como sempre, defende o namorado. Eu me permito dar um pequeno sorriso sobre a situação enquanto me levanto e ando até , acompanhando toda a conversa atenta —, além de ser irritante, mas se isso for uma votação, eu voto em Seth ser o líder, é o mais maduro e mais bonito então…
— Isso não é uma votação e mesmo que fosse, seu voto não contaria Leigh — Mallory não pensa duas vezes antes de bater no braço de Chris após as palavras soarem da boca dele. — E galera, eu posso sim ser o líder, eu posso ser um líder foda como o Dave Grohl! — me encosto na parede ao seu lado, sinto os olhos dela por poucos segundos em meu corpo, antes dela volta-los a discussão que estava começando ali.
— Por Deus! Pare de se comprar ao Dave Grohl! Não ofenda o cara assim, eu já te disse que... — Heath rebate ao fundo, mas eu paro de escutar quando fala.
— Eles sempre são assim? — pergunta baixo e eu assinto com a cabeça. — É bizarro, até segundos atrás eles estavam se abraçando e falando do show e agora estão…
— Discutindo e chamando os outros de anticristo, sim — interrompo, fazendo-a sorrir. Desde o nosso beijo, passei a olhá-la mais, a reparar mais nela se é que isso é possível e essa noite, ela está linda, como em todas as outras noites e dias, usa um vestido jeans azul claro curto de alça e um decote que contorna seus seios, seu cabelo castanho brilhante e cheiroso está solto cheio de ondas e em seu pé, está um simples vans branco.
— Isso vai durar muito? — solto um suspiro, reparando em seus lábios fechados e vermelhos que eu passei a desejar muito.
— Provavelmente — respondo simplesmente, sabendo que isso se estenderia a noite toda e sinceramente, não sei se ouvir Heath, Seth e Chris junto com suas namoradas brigando é o programa que eu quero ter essa madrugada, nenhum dos quais eu pensei envolve isso e muito menos eles. — Quer sair daqui? — a observo virar a cabeça lentamente para o lado e assisto seus olhos deslizarem por meu rosto inteiro após completar isso.
— Sair tipo, agora? — assinto com a cabeça. — É impressão minha ou você quer fugir deles comigo? — sua voz é um sussurro, mas ainda assim consigo identificar diversão no tom dela, até porque morde o lado do lábio inferior para conter o sorriso.
— Não sei — dou de ombros, fingindo uma certa inocência e passando a olhá-la com malícia no segundo seguinte. — Depende da sua resposta, o que eu posso dizer é que se for não, a gente fica aqui, acompanhando essa discussão animadora — falo com ironia.
— E se for sim? — vira o corpo inteiro para o lado e encosta a cabeça na parede. — O que a gente vai fazer?
— Você teria que dizer sim para saber — sorrio. Ela solta um suspiro pesado e molha os lábios, se desencostando da parede.
— Eu odeio como você me convence fácil — diz, saindo pela porta com um sorridente logo atrás.

________

Nós andamos o mais rápido que conseguimos, nossas mãos estão juntas e eu praticamente arrasto pelo estacionamento fechado do bar em que nós tocamos em direção ao meu carro entre os diversos estacionados ali. Eu não paro de rir, eu não paro de sorrir e isso me assusta ao mesmo tempo que faz o mesmo e eu vejo que ela é bonita fazendo isso, eu tenho certeza que ela é bonita fazendo qualquer coisa. Qualquer maldita coisa. Não demora muito para eu enxergar meu carro na parte um pouco mais escura e logo eu e chegamos no automóvel, mas ao invés de entrarmos nele, a morena o usa para me encostar na porta e colar nossos lábios com um enorme sorriso nos lábios.
Sua boca é quente e tem gosto de tequila, sua língua desliza contra a minha e suas mãos deslizam pelos meus ombros e meu pescoço, que são vítimas das suas unhas pretas e compridas que me arranham, provocando arrepios na minha pele, minhas mãos deslizam pela sua cintura fina e a puxo para o meu corpo, encurtando qualquer distância entre nós e fazendo soltar um gemido, que acende todo o meu corpo.
, nós não vamos transar no estacionamento — avisa tendo um pouco de dificuldade de pronunciar as palavras por conta da respiração pesada ao desgrudar nossos lábios, e eu desço os beijos pelo seu pescoço, orelha e tronco.
— Você foi quem começou — falo entre as pausas dos beijos que deixo em sua pele e uma risada rouca soa de seus bonitos e chamativos lábios.
— Mas acredite… você não quer continuar com isso — seu tom é de alerta, e isso acende todo o meu corpo, que deslizo uma das minhas mãos contornando a lateral do seu corpo até chegar nas suas coxas nuas e começar a subir novamente por baixo do seu vestido — … — mais uma vez, meu nome sai possuindo um tom de alerta, e eu sorrio, apertando ainda mais seu corpo contra o meu com a minha mão, que estava sobre a sua cintura, ao ponto de deixá-la sentir minha ereção já evidente.
— Tem certeza que eu não quero continuar com isso? — sussurro em seu ouvido e inclino minha virilha mais para frente, solta um gemido rouco. — Algo aqui em baixo está mostrando o contrário.
Quando meus dedos chegam em sua intimidade não penso duas vezes antes de mudar nossas posições, a deixando prensada sobre o carro antes de colocar sua calcinha para o lado com os dedos e começar a masturbá-la fazendo movimentos giratórios em seu clitóris. fecha os olhos e desce uma das duas mãos para a minha ereção por cima da calça jeans, começando a massageá-lo em uma forma de retribuição que me leva ir mais longe e decidir penetrá-la sem aviso prévio. solta um suspiro pesado e se contorce, tirando sua mão pequena sobre meu membro e voltando ela nos meus ombros, começando a abrir mais as pernas, levantá-las até minha cintura e me puxar contra si.
... a parede — sussurra em meu ouvido, e eu não demoro muito para entender o que ela quer. Tiro meus dedos da sua intimidade e seguro em cada uma das suas coxas, a desencostando do carro e a pensando sobre a parede. A solto suas pernas, a deixando de pé apenas para pegar uma camisinha da minha carteira e descer a calça, colocando o preservativo antes de pegá-la novamente no colo e, sem hesitar, deslizo para dentro dela, provocando um gemido alto entre nós dois no mesmo instante quando nossos corpos se encaixam.
é quente, apertada e me causa tremores no corpo como se eu fosse chegar ao meu ápice há todo instante enquanto continuo me movimento dentro dela que geme, chamando meu nome e morde os lábios com os olhos fechados tentando conter seu barulho que é a mais bonita música que eu já escutei. Eu me sinto, por alguma razão, cheio. Nossos corações batem acelerado e meu nível de adrenalina está absurdo, meu peito dói e eu sinto que a qualquer momento minhas pernas não vão aguentar e nossos corpos que se encaixam perfeitamente vão ao chão. aperta as coxas ao meu redor e minha boca busca a dela com urgência, que ao encontrá-la consegue abafar um alto gemido que veio acompanhado com suas pernas tremendo e chegando ao seu máximo. Me movimento mais umas algumas vezes dentro dela ainda com meus lábios sobre os seus e logo alcanço o meu também, não conseguindo sustentar minhas pernas direito no chão e deixando com que nós deslizamos pela parede até atingirmos o chão.
Saio de dentro de , me jogado ao seu lado sentado e dando um fim no preservativo. Nossas respirações estão pesadas e as roupas estão amaçadas. Um sorriso relaxado está em nossos rostos e eu quero viver nesse estacionamento escuro para sempre, quero que toda a eletricidade que corre pelos meus músculos permaneça para sempre, igual meu coração que pulsa apressado. Eu acabo de morrer e voltar a viver.
— Ore para que aqui não tenha câmeras — abaixa seu vestido com as mãos. — Não vou conseguir enfrentar a repercussão e comentários maldosos caso uma sextape minha vaze — Eu rio fraco. — Eu falo sério, . Você sabe que as consequências disso sempre são piores para as garotas e eu pretendo sair da cidade em breve, mas não agora.
— Você pode sair dela comigo se quiser — sorri.
— Se eu fizesse isso, nós viveríamos de cidade e cidade, porque com certeza isso aconteceria mais vezes — brinca e viro a cabeça para ao lado, visualizando seus olhos fechados e seu sorriso relaxado, espontâneo. —, mas não vou negar que é uma boa ideia.
— Hum... A banda conseguiu um contrato de shows hoje de tarde, nós vamos sair em turnê — conto e não demora muito para abrir os olhos e me olhar surpresa.
— O que?! Isso é sério? — assinto com a cabeça e um sorriso enorme surge em seus lábios. — Oh meu Deus, ! — suas mãos cobrem a boca por um estante — Parabéns! Eu não acredito, isso é... é.. fantástico!
— Eu sei — suspiro. Essa não foi a forma que eu pretendia fazer isso, por mais que seja um pouco parecido. — Todo mundo vai, o Seth vai levar a Leighton, Chris a Mallory, Heath dispensou qualquer companhia e ainda tem um lugar disponível — explico, sentindo os olhos de ficarem duros em mim. — Então eu pensei, por que você não vem com a gente? Se você quiser, é claro.
eu… — pausa, molhando os lábios e olhando para baixo antes de volta-los em mim. — Eu vivo fugindo de tudo e de todos. A minha vida inteira eu passei fugindo de algo, me escondendo, correndo de coisas inacabadas, não conseguindo ir até o fim de algo...
— Você vive fugindo? Ótimo! Fuja comigo então — interrompo e ela engole seco, balançando a cabeça negativamente.
— Nada consegue ser suficiente durante muito tempo para me fazer ficar. — vira o corpo para o lado, para o meu lado. — Eu não posso fazer isso . Eu não posso simplesmente ir com você e correr o risco de um dia decidir desaparecer da sua vida, eu não posso estragar as coisas com você e com o resto o da banda. Eu não posso fazer isso, eu não posso ir com vocês, eu não posso ir com você.
— Você pode, , você pode sim fazer isso — tento novamente convencê-la, mas permanece firme em sua escolha. — Ok, olhe, só pense sobre isso ok? Eu só peço que você pense no meu convite e me deixe ser o suficiente para você, nem que seja por alguns meses, ok?
— O suficiente para mim? — balbucia incerta, provavelmente se perguntando se escutou direito.
— Sim, , para você — sorrio. — Eu não desejo ser outra coisa para mais ninguém.
Seus olhos deslizam entre minhas irises em um vai e vem por alguns instantes, buscando algo dentro deles e no minuto seguinte, sinto as mãos de sobre meu rosto e sua boca avançando contra a minha com vontade e urgência, mas isso infelizmente não dura muito já que temos que nos separar para poder respirar.
— Me prometa que vai pensar na proposta — digo, encostando nossas testas.
— Não posso prometer isso, eu já me decidi.
...
— Eu vou — me interrompe. — Eu vou fugir com você desde que seja agora, hoje — ela sorri. —, pela segunda vez.


Capítulo Cinco


PRIMEIRO SHOW – CALIFÓRNIA / SÃO FRANCISCO


pega o microfone após os meninos se posicionarem com os instrumentos e gritos junto com palmas preenchem o local inteiro que está lotado. Lotado. É o primeiro show da turnê e eles conseguiram lotação. Uma grande plateia está na frente de deles e eu Leighton e Mallory estamos também, no segundo andar, na grade, olhando para eles e olhando para .
— Boa noite, São Francisco! — ele fala ao microfone e gera mais gritos. — Nós estamos muito felizes por essa ser a cidade que abre a nossa turnê e para comemorar isso, vamos começar com uma música alegre, ok? — ele olha para cima, para o segundo andar, para mim, e dá sorriso de lado. — Vowels And the importance of Being Me! — anuncia o nome da música e uma explosão de notas musicais ecoam pelas caixas de som, fazendo todo mundo e eu começarem a pular.

DEPOIS DO QUINTO SHOW – CALIFÓRNIA / PAMONA

Encolho meus ombros e me abraço assim que uma brisa fria bate contra meu corpo. O céu está estrelado e o clima está frio. A jaqueta de aquece meu corpo a cada vez que eu a aperto ainda mais em mim, impedindo que eu comece a tremer de frio. também está ao meu lado, fumando um baseado e com os olhos fixos nas outras pistas de skate ali, fora a que estamos sentados na beirada da decida redonda que se compara com uma piscina. Meu iPhone está em seu colo e meus fones estão nos seus ouvidos, se eu chegar um pouco mais perto dele consigo ouvir toques da música que toca. A minha música, que não demora muito para acabar, fazendo tirar um dos fones e virar o rosto para mim.
— O que você achou? — disparo sem hesitar. Essa é a primeira vez que tenho coragem de mostrar para alguém meu EP que terminei de finalizar os arranjos e fiz alguns ajustes durante esses dias de turnê e estou nervosa para saber o que achou de tudo, incluindo minhas letras. — Eu sei que não é obscuro e as músicas não falam de como a minha alma é podre e como o amor me destrói, então não se preocupe em ser sincero, eu vou entender se você não gostou, não faz o seu estilo — brinco, e ele ri.
— As batidas são boas, sua voz é impecável, natural — ele bate seu ombro no meu ao dizer isso e eu sorrio. — e as letras são muito excelentes, mesmo que não fale sobre coisas obscuras e podres, ainda é sobre algo profundo, sobre algo seu — mordo o meu lábio inferior quando meu coração acelera, sem saber se eu tive essa reação pelos seus elogios ou se é apenas por ele estar me olhando. Talvez seja pelos dois.
— Você realmente gostou? — ele vira a cabeça para frente, colocando o cigarro na boca antes de falar.
— Sendo sincero... não, eu não gostei — faz uma pausa torturadora que me mata aos poucos por dentro me encarando sério pelo canto dos seus olhos. — Eu adorei, ‘tá incrível, mesmo não sendo um estilo que eu curto normalmente — eu paro de respirar durante vários minutos. — Música é sobre coisas que você acredita, sobre seus sentimentos e sobre sua alma, você colocou tudo isso nessas faixas, ‘tá incrível.
— Então... você acha que eu devo mandar para aquele produtor? — suspira fazendo uma careta e me deixando apavorada.
— Você já deveria ter mandado, — ele sorri e eu agarro seu braço, enterrando meu rosto nele e sentindo o cheiro de maconha misturado com seu perfume. deposita um beijo na minha cabeça e volta a fumar o baseado. Eu coloco meu queixo em seu ombro e encaro seu rosto de lado, o observando tragar o cigarro e soltar a fumaça pelos lábios depois de um tempo. Algo dentro do meu interior dói, apenas por isso, apenas em vê-lo e meu corpo estremece com todas as suas ações, com toda a sua existência e pela primeira vez desde o nosso primeiro beijo, sinto que entendo o que ele falou sobre o amor.
— balbucio incerta o chamando e ele solta um simples murmúrio, apenas para indicar que estava me escutando. — Eu estou sentindo — confesso com minha voz fraca e baixa, porém, foi alta o suficiente para seus olhos voarem em minha direção.
— Sentindo o quê? — vejo um vestígio de preocupação e curiosidade em suas irises azuis. Dentro de mim, alguma coisa se expande, fazendo meus pelos se levantarem.
Eu estou o sentindo crescer e tomar conta de todo o meu ser sem eu poder fazer algo para impedir, sem eu querer impedir. Eu o sinto me consumir e me... corroer — seu pombo de adão desce e sobe assim que ele engole seco, não demorando um segundo sequer para saber sobre o que eu falava.
— Eu sei, eu estou sentindo o mesmo — responde, deslizando um dos seus dedos gelados sobre a minha bochecha ao mesmo tempo que eu me sinto extremamente feliz e também desesperada, porque nada na minha vida dura por muito tempo e pela primeira vez, eu quero que isso dure, eu quero que dure, mesmo algo me dizendo que o que temos está destinado a acabar.

HOTEL / DEPOIS DO DÉCIMO SHOW – CALIFÓRNIA / LOS ANGELES

Dou uma última conferida na minha roupa antes de abrir a porta do meu quarto e ver apoiado ao lado da madeira. Ele puxa os cantos dos lábios para baixo assim que me olha, analisando cada detalhe meu.
— Uau, você está linda — sorrio, fechando a porta atrás de mim e dando um selinho rápido nele.
— Estou? Os funcionários aqui do hotel dizem que eu sou linda — pega minha mão gentilmente, beijando o colo dela e então começamos a andar pelo corredor juntos, indo para o elevador.
Ele faz uma careta.
— Os funcionários do hotel não mentiram, mas eu prefiro não inflar ainda mais seu ego — responde, apertando o botão do painel e chamando o elevador que logo chega.
— Irei fingir que não escutei isso.
— Não escutou o que? Que eu disse que você tem o ego inflado? — Abro a boca, incrédula enquanto finge que não foi um hipócrita e entra dentro do elevador, apertando o botão do primeiro andar no painel.
— Você é ridículo — bato em seu ombro, e no mesmo momento que as portas de metal se fecham, ele me puxa e cola nossos corpos.
— E você é linda — eu sorrio quando começa a aproximar sua boca da minha.
— Pensei que você não quisesse inflar ainda mais meu ego — ele sorri de lado.
— Mudei de ideia — diz e no minuto seguinte, cola nossos lábios.

[...]

— Leighton disse que é melhor você não estar de tênis — lê a mensagem no celular e para de andar no meio da recepção do hotel, olhando para os meus pés. — E você está de tênis — voltamos a andar.
— Saltos não fazem o meu estilo — respondo, entrelaçando nossos dedos e dando um sorriso simpático para o porteiro ao passar por ele que retribui a minha ação. Depois dos três primeiros shows do Deadsouls, passei a não ir muito nos shows e ficar mais no hotel, o que significa que quando Mallory e Leighton iam, eu ficava sozinha e aproveitava esse tempo para finalizar meu EP ou conversando com os porteiros na recepção quando a banda e as meninas estavam prestes a chegar.
— Não sei se ela vai se importar com isso quando começar a gritar com você assim que chegarmos lá — ele termina de digitar e guarda o celular no bolso do jeans assim que nós chegamos ao lado de fora e desativa o alarme do carro preto, estacionado na esquina do hotel.
— E desde quando Leighton se importa com qualquer coisa? — pergunto enquanto andamos até o automóvel.
— Ela se importa com Seth.
— Eles são namorados, seria estranho se ela não se importasse com ele.
— Chris e Mallory são namorados e eles não se importam nenhum pouco um com o outro — rebate, arqueando uma das sobrancelhas.
— Chris e Mallory começaram a namorar esse mês depois dela quase escrever em um outdoor que queria um pedido para ele. E eles fazem o tipo de casal que fingem que não se importam um com o outro, mas se importam sim.
— Para alguém que disse ter só tido relações que não incluíram em ensinamento algum, você lê muito bem os casais.
— Sou uma ótima observadora — pisco, dando de ombros e assisto procurar a chave do carro assim que chegamos no automóvel.
— Já que você diz isso, me conte qual o tipo de casal nós somos — dispara e eu rio porque nunca tinha dito que somos um casal e porque não sei se nós temos um tipo.
— Bem, eu diria que nó...
?! — uma voz soa atrás de mim, me interrompendo. Os olhos de , que estavam em mim, voam para a pessoa que permanece atrás e suas sobrancelhas ficam retas, confuso. Não demoro muito para girar os calcanhares, procurando o dono da voz e sentindo o pavor possuir cada célula minha ao enxerga-lo.
— G-Greg? — balbucio, desacreditada da imagem que vejo na minha frente e que pode me destruir em um estralar de dedos se quiser. — O-o que você faz...
— Essa pergunta é minha! — aponta para o seu peito e me olha de cima a baixo. — O que você ‘tá fazendo aqui?!
— Eu..
— Desculpa, acho que não fomos apresentados e eu realmente não gosto de ser o invisível quando uma conversa está acontecendo então... — me corta, olhando para Greg com a expressão séria ao dar um passo, ficando na minha frente e levantando a mão. — Eu sou .
Ele encara a mão de por alguns minutos, antes de soltar o ar dos pulmões e endireitar sua postura.
Greg Colth — aperta a mão dele e as palavras que vêm a seguir, me dão arrepios. — Atual namorado da .
cerra os olhos em Greg, soltando sua mão e dá um sorriso confuso.
Namorado? — repete, e Greg assente. vira a cabeça lentamente para o lado, olhando para mim. — ...— mordo a bochecha por dentro, sentindo tudo dentro do meu corpo entrar em desespero. Ele estava esperando a minha negação quanto aquilo, eu consigo sentir.
Engulo seco.
— Diga que não é verdade — pede.
...
— Diga que não é verdade, — desta vez sua voz soa mais rígida. Sinto meu coração começar a quebrar em pequenos e milhares de pedaços. Eu não consigo permanecer com meus olhos nele por muito tempo, por mais tempo nenhum após eu abrir os lábios, preparada para negar aquilo, se no fundo, por mais que eu não quisesse, não fosse um pouco verdade. Abaixo a cabeça, encarando meus pés e percebendo que minha visão está começando a ficar embaçada.
— Eu posso explicar... — digo com dificuldade, voltando à olha-lo. — , por favor, me deixe explicar — suplico, tentando incansavelmente não derramar nenhuma lágrima, mas é em vão, pois no mesmo instante que começa a se afastar e seus olhos, que eram confusos e estavam esperando uma resposta, se tornam duros e decepcionados. Eu sinto como se tivessem arrancado algum órgão dentro de mim, eu sinto dor, uma dor insuportável que aumenta quando ele solta uma risada sem humor, vira de costas e sai andando, me deixando para trás.
! — grito, chamando sua atenção, mas em nenhum momento ele para, em nenhum momento ele vira para trás. — !! — grito novamente, cada pequeno pedaço de mim está gritando seu nome em desespero e meu coração bate acelerado enquanto o vejo lentamente sumindo da minha visão. Passo as mãos nos meus cabelos, os afastando do rosto e procurando uma saída quando percebo que Greg ainda está ali, com os braços cruzados me encarando.
— Você pode me explicar o que foi isso? — seu tom é repreensivo e eu sinto nojo do homem que vejo na minha frente.
— Eu não preciso explicar nada para você — digo, não demorando muito para saber que eu preciso sair dali, eu preciso sair de perto dele.
— Não precisa explicar nada para mim? Você simplesmente sumiu, , por dias! Você faz ideia do que aconteceu comigo nesses dias?! Você tem ideia do que eu, seu namorado, passei enquanto você estava com um idiota qualquer aqui?! — grita.
Que grande filho da puta! Eu o socaria se não tivesse chocada com a audácia que ele acaba de ter ao se auto titular meu namorado depois de tudo que ele fez.
— Sim, Greg, eu faço! — exclamo, possessa. — Você ficou com todas as garotas que consegue beijar e usou toda merda que consegue sem sofrer uma overdose como você sempre faz quando eu estou longe ou perto.
— Isso é sério, ? — coloca as mãos na cintura. — Eu saí da porra da minha cidade para vir encontrar você!
— Você vai realmente fingir que foi por vontade própria e não porque meu pai mandou? — pergunto, assustada com seu cinismo. — Você deve achar que eu sou muito idiota mesmo para acreditar nisso — balanço a cabeça negativamente. — Diga para ele que eu estou bem e me esquece — digo, girando os calcanhares, pronta para sair de perto dele.
— O que?! Você ‘tá loca, ?! — sua mão envolve meu braço e ele me puxa, me virando novamente. — Eu não dirigi durante horas para você me dar as costas e me deixar aqui sozinho — me desvencilho da sua mão, movimentando meu braço para trás rapidamente.
— Você dirigiu durante horas para me encontrar e me encontrou, pronto. Agora você já pode ir embora e me deixar em paz, de preferência para sempre — ele abre a boca, incrédulo e com raiva.
— Eu sou a droga do seu namorado! Você vai voltar comigo agora! — berra, usando o tom agressivo que em todas as vezes usava para me fazer agir como ele queria, o que não vai acontecer dessa vez, não hoje.
— Não, eu não vou voltar e você não é a droga do meu namorado, então me deixe em paz. Vai embora, eu não te quero aqui, eu nunca te quis em lugar nenhum! — rebato gritando dez vezes mais alto que ele e atraindo a atenção das pessoas que passavam na rua para nós. Solto o ar dos meus pulmões, recebendo seu olhar assustado. — Diga para ele que eu estou bem e que eu não vou voltar com você e nem com ninguém — concluo e então finalmente dou de costas para ele, começando a correr para onde tinha ido, torcendo para encontrá-lo.


Capítulo Seis

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— Vá embora — digo no mesmo minuto que sinto sentar ao meu lado, mas ela não vai, ela não sai e isso é tudo o que eu menos quero agora, sua teimosia, sua presença perto de mim. Raiva está em todo canto do meu ser, eu sinto fluindo entre meus poros, tudo o que ela disse, tudo o que fizemos fica passando em minha mente deixando meu sangue fervendo ainda mais quando eu penso que foi tudo uma mentira e que eu nunca a conheci verdadeiramente e pensar que tudo não passou de um simples personagem me faz querer mudar tudo o que aconteceu, me faz querer não ter iniciado uma conversa com ela naquela loja, me faz querer não ter olhado para ela e muito menos me sentido atraído ao ponto de me aproximar dela o suficiente para achar que seu personagem era alguém que eu sempre quis na minha vida.
— Primeiro você terá que me escutar — responde simplesmente, se aconchegando ainda mais ao meu lado. Não consigo pensar em qualquer ação minha agora que não nos prejudicasse, que na manhã seguinte não me fizesse se arrepender, então fico quieto enquanto ela está tensa.
— Eu já te escutei, há alguns minutos atrás, quando você dizia que podia explicar algo que eu pedia apenas a resposta. Você tem alzheimer? — eu me sentiria melhor se não soubesse que isso fez ela sorrir. Eu não queria fazer ela sorrir, eu queria faze-la ir embora e me deixar pensar no que tinha acabado de presenciar: um cara ridículo falando que era seu namorado e não negando isso, me fazendo enxergar o que fui para ela, uma simples válvula de escape.
— Eu posso responder de verdade agora. Greg não é meu namorado — diz depois de uns segundos.
— E por que você não falou isso na frente dele? — nós ainda não se olhamos e eu prefiro assim, por esse motivo, continuo olhando para frente, observando toda a péssima iluminação da grande roda gigante e dos outros brinquedos do parque que está do outro lado da avenida movimentada.
— Porque ele foi meu namorado, em uma época muito distante, antes de eu o conhecer realmente e viver em relacionamento tóxico — a revelação me pega desprevenido, sempre imaginei que seus relacionamentos antigos não foram bons, inclusive já tinha contado alguns casos, mas nunca achei que chegaria ao ponto de ser tóxico e desgastá-la. Nego com a cabeça e sinto seu olhar fixo em meu rosto, mas eu não viro a cabeça. Não quero olha-la. — Eu não falei porque eu nunca cheguei a terminar com ele oficialmente, cara-a-cara, com todas as palavras.
— Por que não? — ouso perguntar.
— Eu já disse o porquê, — engulo seco, lembrando das suas palavras no dia do estacionamento, ela se referia a isso. — Porque eu vivo fugindo de tudo e de todos. Porque a minha vida inteira eu passei fugindo de algo, me escondendo, correndo de coisas inacabadas, não conseguindo ir até o fim de algo. Não conseguindo pôr o fim em algo, não conseguindo enfrentar o que eu quero e o que eu sinto de frente. Porque eu sempre escolho fugir por ser a escolha mais fácil, porque nada é o suficiente para me fazer ficar durante muito tempo.
— Pelo jeito eu não consegui ser o suficiente para você também — falo, com um pequeno bile na garganta. Não consigo nem assimilar o quão cego eu fui durante esse tempo, o quão prepotente eu fui achando que poderia ser algo para alguém que desde o início falou que eu não conseguiria ser. Estamos destinados a dar errado e mesmo assim eu quis persistir por achar que precisava tê-la por perto, precisava sentir toda a sua energia caótica e perceber sua escuridão em meio ao seu sorriso brilhante.
— Isso não é verdade — sua voz soa tremula e é como se algo dentro dela tivesse doendo tanto quanto dói em mim. — Você foi o suficiente, você é o suficiente. Eu só.... — suspira. —, eu só devia ter contado a verdade no mesmo momento que percebi que você é até mais que o suficiente para mim, quando percebi que, provavelmente, você é a única pessoa da qual eu não nunca conseguiria fugir.
É inevitável não olha-la depois de escutar o que disse, e é inevitável eu não sentir vontade de morrer ao ver uma pequena lágrima escorrendo sobre seu rosto bonito enquanto a grande escuridão dos seus olhos me encaram cheios de sentimento e dor antes dela abaixar a cabeça, se escondendo de mim.
— Eu queria ter feito diferente , eu juro que eu — uma pausa seguida de um soluço. — Eu queria ter falado a verdade e principalmente, eu queria estar pronta para você — ela morde o lábio e ergue a cabeça. —, mas eu não estou e você não merece uma pessoa incompleta que está se descobrindo agora, não quando tudo ao seu redor está dando certo, não quando você sabe o que quer, não quando tudo o que eu sou, tudo o que eu consigo ser e posso oferecer é isso — ela aponta para si. — Uma pessoa que vive fugindo, que sempre se apoiou nos outros para conseguir fazer algo e que não é madura o suficiente para encarar seus problemas de frente. Você merece alguém que entenda suas mudanças e que esteja pronta para receber seus sentimentos e toda a vontade de viver que você oferece. Que seja sincera e que consiga viver sem você para depois estar com você — lágrimas escorrem dos seus olhos sem parar, sem cessar a medida que meu coração se aperta cada vez mais, a medida que todo o meu corpo cede à e começa a implorar que ela não fale o que eu sei que ela irá dizer.
— Não faça isso — peço, mas balança a cabeça negativamente. — Não me faça ser só mais alguém sem importância na sua vida — ela abre a boca, assustada.
, você não é alguém sem importância na minha vida — rebate. — Você não faz ideia do que isso, isso que está acontecendo agora — ela aponta entre nós dois. —, é importante para mim. Essa é a primeira vez que eu estou enfrentando algo, é a primeira vez que eu estou encarando algo. Você é tudo, menos sem importância para mim.
— Então por que você vai fazer isso?! — questiono com minha voz saindo dez oitavas mais alta sem ter a intenção.
— Porque se eu não fizer, eu nunca vou mudar e isso vai se transformar em tudo o que eu mais odeio, porque se eu não dizer isso eu nunca vou estar pronta para você, porque na verdade, eu não sou o suficiente para você.
— Você não precisa acabar tudo para fazer isso, .
— Eu preciso conseguir isso sozinha . Eu passei a vida inteira me apoiando em pessoas, a primeira foi a minha mãe que se foi cedo demais, depois meu pai, que nunca esteve ali para mim e depois Greg que sempre esteve, mas da forma errada, do jeito errado. Eu preciso fazer isso sozinha.
A pior parte de tudo isso é saber que no fundo ela está certa, é saber que tudo o que vivemos desde o início se mostrava passageiro e que nem por causa disso, eu consegui bloquear qualquer sentimento que poderia sentir por ela.
Um silêncio preenche o ambiente e apenas nossas respirações fazem barulho. então, decide se aproximar, arrastando seu corpo no banco que estávamos sentados e tocando em meus ombros com suas mãos quentes sobre ele que me fazem virar para ela ao mesmo tempo que ela vira para mim, e eu seguro seu rosto.
— encosto nossas testas e ela fecha os olhos. — Está doendo, me machucando, como sempre fez, mesmo quando estava tudo bem — eu engulo seco.
— O meu também — lágrimas rolam dos seus olhos e eu sinto o gosto salgado delas quando encosta nossos lábios, permitindo que eu a beije pela última vez quando retribuo aprofundando o beijo ao deslizar minha língua na sua e me movimentar lentamente. Meu peito dói, minhas mãos estremece, eu sinto vontade de chorar e um frio na barriga está presente o beijo inteiro até nos afastamos a procura de ar e finalizando o beijo mais sentimental que já dei na minha vida.
abre os olhos e eu sinto toda a imensidão das suas írises.
— Eu amo você, — suas palavras me corroem e me destroem o mesmo tempo que eu morro e me sinto viver novamente. Meu coração está desesperado e o pequeno pedaço que ela não estava, acaba de ser preenchido completamente. Fico quieto e a vejo se levantar do meu lado, se desvencilhando das minhas mãos e ficando em pé. respira fundo, me olha pela última vez e em câmera se vira, começando a andar e sumindo lentamente da minha visão sem saber que minha alma acaba de pertencer a ela.
— Eu amo você, — digo com a voz fraca assim que sua silhueta desaparece completamente entre as luzes da cidade, indicando o final de nós dois e, um novo começo para ela.


FIM... EU ACHO



Nota da autora: Sem nota.



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