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Última atualização: 14/12/2017

Capítulo Único

“Eu sinto sua falta”
Releu aquilo tantas vezes desde que tinha recebido a mensagem, na noite anterior, e ainda não sabia como reagir aquilo.
Parte de si queria mandá-lo se foder.
Xingá-lo de todas as formas possíveis, fazê-lo sentir um pouco da dor que ela tinha sentido durante todos os meses que tinham se passado.
Entretanto, outra parte de si, a que mais queria tomar conta de seu coração, queria sorrir.
Responder que também sentia sua falta, puxar qualquer assunto, na esperança que tudo voltasse a ser como tinha sido.
Mas tentava de todas as formas evitar essa parte de si, sabia o quanto tinha sofrido e tinha certeza que não queria passar por tudo aquilo de novo.
Não importava o número de mensagens que ele mandasse, não importava se a chamava de ”princesa”, não importava se ele dizia que ainda se importava com ela.
se recusava a passar por aquilo de novo.
Estava decidida a seguir em frente, e não seria que a faria voltar atrás.

Mas ainda olhava aquela mensagem, sem saber como deveria responder, sem nem mesmo saber se iria de fato fazê-lo, pois tinha medo que assim que mandasse alguma coisa, as borboletas despertassem e seu coração voltasse a bater mais forte.
E ela não deixaria aquilo acontecer.
Abriu seu notebook, respirando fundo antes de começar a escrever um novo email, o qual não tinha intenção de mandar para ele, mas que no momento parecia uma ideia boa o suficiente para fazer colocar tudo para fora, e filtrar o que responderia para ele.

”Sério? Você está brincando comigo, certo? Você sente minha falta, agora? Começou a digitar rápido, sentindo toda a ironia, raiva e tristeza preencher seu corpo, tomando conta de seus pensamento e digitando quase automaticamente; era como se o imaginasse em sua frente, e quisesse dizer tudo o que tinha guardado por todos aqueles meses. Fazê-lo entender que sim, ele a fez sofrer, mas que sim, ela tinha superado.
Tinha demorado mais do que ela imaginava, mas ela tinha chego lá.
Esperava que sim.

Engraçado, onde você estava durante o último ano quando eu senti sua falta? Quando eu tentei conversar com você, mas você estava sempre “muito ocupado”?”
Escrever aquilo, por mais infantil que parecesse, a fazia sentir como se tirasse um peso das costas, mesmo que soubesse que no fundo não teria coragem para enviar aquele texto, só de conseguir, finalmente, expressar em palavras o que sentia, já parecia um grande passo para afastar-se ainda mais dele.

Eu sempre disse, que se algo mudasse, qualquer coisa, eu só queria que você me contasse, que não sumisse. Quantas vezes eu disse que se você decidisse terminar tudo e só ir embora e nunca mais falar comigo, quantas vezes eu pedi para você simplesmente me dizer “tchau” antes de ir embora?”
Fungou, lembrando-se das semanas que passou sem saber o que poderia ter acontecido para ele se afastar daquela forma. Imaginando o que teria feito de errado, para ele nem mesmo se dignar a avisar-lhe que não queria mais nada. E o quanto aquilo doía, por ele saber que sempre tinha sido um medo que ela carregava, pelo número de vezes que pessoas com quem se importava apenas se afastaram, saíndo de sua vida sem despedir-se.
E o que você fez? Você me contou algo? Não.
Você alguma vez me disse que não estava feliz? Não.
Você só se afastou.”

“Tudo bem, isso provavelmente foi minha culpa, não? Porque eu continuei achando que você talvez estivesse com algum problema, que em pouco tempo estaria bem, que logo voltaria tudo ao normal.”

Sentiu uma lágrima escorrer, fungando baixo enquanto continuava a escrever.
Em que momento tinha se deixado levar daquela forma?
Por que era tão difícil para ela se afastar da mesma forma que ele fez?
Apenas virar as costas e ir embora.
O que ele tinha de tão especial que não a permitia esquecê-lo?
O que ele fazia que mesmo depois de meses sem se verem ou conversar, ela ainda gostava dele tanto quanto da primeira vez?

Eu passei o último ano sentindo sua falta, e toda vez que pensava que eu, finalmente, estava bem, lá vinha uma mensagem sua e eu voltava a estaca zero, pensando que tudo voltaria a ser como antes e nós estaríamos bem outra vez.
Estúpido, não?”

parecia ter algum tipo de dom, uma luzinha vermelha que acendia sempre que percebia que estava se afastando, estava seguindo em frente, deixando-o para trás.
E sempre que ela estava pronta para dar a volta por cima, um simples “oi” a fazia voltar todas as casas que tinha andado, voltando para aquele loop que parecia eterno, no qual só ele parecia bem, só ele aproveitava sua vida, só ele seguia em frente.
E ela continuava lá, esperando por algum sinal.
Demorou muito mais do que ela gostaria de admitir, mas ela tinha entendido que ela era o “step”, aquela que o fazia se sentir bem quando algo dava errado. Era o porto seguro para seu ego ferido, porque ele sabia o quanto ela o amava, e que sempre estaria ali para quando ele precisasse. Mas não era algo recíproco.

Mas, hey, parabéns! Eu nunca pensei que seria possível para alguém me fazer sentir mal desse jeito, mas você conseguiu.
Tudo bem, foi minha culpa, não é?
Porque sim, eu fui estúpida o suficiente para acreditar em tudo o que você dizia, e para te amar.
Você não faz ideia do quanto eu odeio a mim mesma por deixar alguém fazer isso comigo, ter tamanho controle sobre meus sentimentos.
Por me importar tanto com alguém que só quer se divertir ou sei lá.
E eu nem mesmo te culpo por isso.”

Parou por algum tempo, encarando aquela última frase;
Era tão burra para achar que o erro era dela por deixar-se levar?
Por acreditar quando ele dizia que a amava?
Acreditar quando falava sobre uma vida que poderiam ter juntos?
Realmente se culpava por se permitir amar alguém?
Não era sua culpa se ele tinha sumido.
Não era sua culpa se tudo o que ele dizia era da boca para fora.
E, definitivamente, não era sua culpa por se apaixonar por alguém como ele.

“Bom, talvez só um pouco.
Por todas as vezes que você disse um “eu te amo”, todas as vezes que você voltou dizendo que sentia saudades, que queria me ver, que se importava comigo e que esperava, de verdade, que em um futuro próximo tivéssemos uma vida juntos.
Pois é, talvez parte disso seja sua culpa. E outra parte minha, por continuar acreditando nessas palavras.
Na verdade, eu também culpo a mim mesma por ter demorado tanto tempo para perceber uma coisa que, pensando bem, estava óbvia desde o começo, não é?
Pensando nisso, eu nem mesmo tenho raiva de você, eu estou triste comigo mesma, por precisar de tanto tempo para simplesmente deixar pra lá.
Mas hey, quem se importa, não é mesmo?”

Queria demonstrar, de alguma forma, toda a ironia que queria colocar naquela última frase, por todas as vezes que deixou todos seus problemas e sentimentos de lado para ajudá-lo quando precisava.
Porque era para ela que ele ligava quando precisava conversar.
E ela sempre o atendia, sempre estava ali, disposta a esquecer tudo e conversar como se nada tivesse acontecido, porque, no fundo, achava que aquilo era amor; doar-se para a outra pessoa, apenas para vê-la feliz.
Questionou-se sobre aquilo.
Se amor era realmente algo que te fazia sentir tão mal, culpar-se pelo erro dos outros, chorar antes de dormir, e sentir-se a pior pessoa do mundo, o coração despedaçado por não ter uma resposta, um sinal.
Se amor significava ser feita de idiota vezes e mais vezes, e fingir que estava tudo bem para continuar fazendo o possível para que a outra pessoa estivesse bem… Bom, talvez amor fosse algo muito mais estúpido do que ela imaginava.
Se amor era aquilo, então ela não precisava dele.

Respirou fundo, pensativa, questionando todas suas ações durante os dois anos que esteve em sua vida, como poderia ter feito algo diferente? E o que seria diferente? Como poderia ter percebido aquilo antes? Afastando-se antes de se envolver tanto.
Como poderia esquecê-lo da mesma forma que ele tinha feito com ela?
Seu telefone tocou, assustando-a por um breve instante, e fazendo-a engolir em seco no momento seguinte;
estava ligando.
Encarou o aparelho por algum tempo, em dúvida do que deveria fazer, se iria ignorá-lo ou não.
Suspirou, pegando o celular em mãos, pronta para dizer em voz alta toda a carta que tinha escrito, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, escutou a voz rouca falar;
- Oi, princesa!




Fim (?)




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