Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Não é caô, nem preciso falar
Tanto que melhorou, você não vai negar
Nosso amor tem tesão, cê sabe como é bom
Vale a pena entender
Não vê, o problema não é você
Cada um tem um jeito de viver
Pra mim tá tudo lindo assim
E agora eu vou dizer
Enquanto existir a sexta-feira
Enquanto não acabar com a saideira
Enquanto o pagode não parar de tocar
Também não vou parar.

Pousar no aeroporto do Galeão depois de quase três anos foi estranho. não sabia o que esperar dos próximos dias, tampouco como seria a reação de algumas pessoas — uma, em especial.
Como já era de se esperar de uma noite do mês de Fevereiro, o clima estava quente e o aeroporto cheio — assim como o trânsito devia estar, o que fez suspirar descontente; sabia que levaria mais tempo do que gostaria até Niterói. Arrastando suas malas num dos carrinhos disponíveis no aeroporto, seguiu calmamente até o lado de fora.
— Maninha! — um grito a pegou de surpresa, fazendo-a virar para o lado direito. Diante de seus olhos, depois de tanto tempo, estava seu irmão mais velho, Guilherme. Como sempre, sorrindo e de braços abertos, esperando-a com carinho. Sem pensar duas vezes, aconchegou-se naquele abraço com vontade, aspirando o cheiro de lar que seu irmão possuía.
— Que saudade — ele sussurrou contra seus cabelos, beijando-lhe os fios em seguida. — Como foi a viagem?
— Foi tudo bem — deu de ombros, já pegando suas malas. — Senti tanta saudades, cara. Não sei como aguentei ficar tanto tempo longe de casa.
Guilherme apenas riu e a abraçou mais uma vez, afastando-se apenas para levar as malas até o carro que estava no estacionamento. Caminharam juntos conversando de forma animada, contando as novidades e planejando inúmeros passeios para os dias seguintes.
Desta vez tinha voltado para ficar, o que deixava todos os familiares e amigos muito animados. A experiência fora do Brasil havia sido incrível, de fato, mas ela não conseguia ficar muito tempo longe deles e não queria passar por aquilo de novo. Viajar pelo mundo ainda era uma vontade que ela sabia que cumpriria ao longo dos anos, aos poucos, levando quem pudesse consigo e não ficando fora por mais de dois meses. No momento, tudo o que mais desejava era rever todos aqueles que amava e aproveitar — descansar também lhe era uma opção, mas a empolgação do irmão falando sobre um novo bar que havia aberto em Icaraí deixava claro que naquela sexta-feira ela não iria dormir.



e os outros amigos já estavam no terceiro ou quarto litrão da noite. Era uma sexta-feira comum e calorosa, como tantas outras que ele já havia desfrutado ao longo dos últimos meses. Porém, mesmo que tentasse negar, ele sabia que ia muito além de uma sexta comum; aquela noite estava mais para especial que qualquer outra coisa. Mesmo que as coisas não estivessem tão bem entre ele e , ele sabia que era o dia que ela voltava para casa e, certamente, apareceria naquele bar a qualquer momento com Guilherme em seu encalço.
— Você podia tentar disfarçar e parar de olhar para a entrada — César murmurou ao pé do ouvido do amigo disfarçadamente. — Nós dois sabemos que não tem a menor condição de ter no mínimo uma conversa entre você e ainda hoje.
— E nós dois sabemos que eu e não temos mais nada — respondeu e terminou a cerveja que estava em seu copo. — Não pretendo conversar com ela nem nada do tipo, o que tínhamos para dizer um para o outro já foi dito.
— Cara, a quem você quer enganar? — César o encarou depois de encher seus copos outra vez, voltando a rodar o litrão pela mesa. — Sério, você é o maior cachorrinho da que já vi na vida e não adianta negar. Você está com raiva, tudo bem, eu entendo, mas vocês não firmaram nenhum compromisso e você foi o primeiro a dar força para ela se relacionar com outras pessoas em Portugal. O namoro de vocês começou e terminou aqui no Brasil.
— Não estou com raiva, César, por deus! — bufou. — O problema nunca foi ela ter outras pessoas. Sei muito bem tudo o que eu disse e ouvi na nossa última conversa. O problema está em quem ela se tornou quando foi embora, eu sabia que ela mudaria mas não esperava que fosse tanto. A mina praticamente destratou todo mundo enquanto esteve fora, não dava notícias, não falava o mínimo. Sei que não tenho o direito de ficar sentido com isso, ela estava do outro lado do oceano e com várias horas à frente; mas, mano, e a consideração? Magoou um pouco, mas já foi, porra.
— Isso é porque você diz que já superou, imagina se não tivesse superado… — César comentou por alto, decidindo por encerrar o assunto. No entanto, antes que pudesse aconselhar o amigo a procurar uma outra boca para beijar, finalmente adentrou o bar em toda sua glória, usando um vestido tubinho curto e tênis nos pés, deixando-a com um ar de moleca e não mais a adulta responsável e jornalista internacional.
estagnou em seu lugar e virou a cerveja com mais pressa, mesmo sabendo que aquilo jamais daria certo — estava tenso, de repente, como se aquilo fosse uma espécie de praga jogada por César, que insistia em dizer que ele não superava aquela maldita mulher.
Inevitavelmente, e Guilherme caminharam até a mesa em que estavam. Cumprimentaram todos ao redor com educação e carinho, e tentou disfarçar o incômodo que sentia — mas estava explícito em seu olhar o desconforto e o pavor por estar cara a cara com outra vez.
murmurou ao chegar nele, dando-lhe os dois beijinhos de cumprimento rapidamente. — Quanto tempo…
— Oi, . Tudo bem? — respondeu baixo, tentando sorrir. Vendo que aquilo não daria certo, antes mesmo que o respondesse, virou-se para Guilherme e o puxou para um abraço caloroso e amigável. Apesar de sua situação com a irmã caçula do amigo, a amizade não havia sido abalada e Guilherme havia entendido que a irmã tinha sua própria vida e sabia lidar com seus problemas. Sendo assim, ele entendeu, principalmente, que não devia sentir ciúmes ou raiva do amigo por conta do drama que eles viviam — não era de sua conta, sua cerveja gelada e as mulheres bonitas do bar, sim, eram de sua conta.
O clima amenizou com a chegada de Caio, o marido de César, alguns minutos depois. O homem era bem humorado, bom de papo e aquele que conseguia ligar todos os presentes. Com Caio ali, o assunto nunca acabava e nenhum copo ficava vazio, o que fazia com que todos se soltassem ao som do bom e velho pagode que explodia nas caixas de som de todo o local.
— Assume, cara, você ‘tá muito mexido com a volta dela — César murmurou de novo, vendo que não conseguia tirar os olhos de .
— É claro que ‘tô, porra! — finalmente assumiu, voltando a correr os olhos pelo bar. — É por isso que eu vou dar uma volta, marquei com uma garota hoje.
— Para de ser otário, tenta conversar com a .
— Para você de ser otário, porra! Eu lá tenho cara de quem rasteja por mulher?
— É para eu responder sinceramente ou para manter nossa amizade?
— Vai se foder, César! — exclamou enquanto tentava segurar a risada. — Porra, mano, não dá, não. Não vou correr atrás dela, ela quem quis esquecer tudo que tivemos, eu tenho o direito de seguir em frente.
— Amigo, você só vai seguir em frente depois de se resolver com ela. Na moral — César se virou totalmente para o amigo —, vai ali pro meio da galera, chama ela pra dançar, sambem um pouco, bebam sozinhos e vejam se ainda têm aquela química. Se tiver… Que mal tem um flashback?
— Se eu ceder uma vez, vou querer de novo.
— E qual o problema? Ouvi dizer que ela voltou para ficar.
— O problema é meu ego, cara, ‘tá ferido.
— Isso você resolve depois que ela chupar teu pau, , larga de ser babaca. Corre logo atrás da mina. Você tá louco pra rastejar que eu sei, seu bosta.
— Vai tomar no seu cu, cara! — respondeu e deu o último gole em seu copo. — Para de se meter na minha vida. Vou dar uma volta.
César apenas riu do amigo e deu de ombros, percebendo, de canto de olho, que prestava atenção no que eles conversavam. Sabendo que a mulher era determinada e parecia muito a fim de conversar com , se seu plano desse certo, em algumas horas eles estariam se atracando em algum lugar daquele bar — e, no fim da noite, parariam no apartamento de um dos dois.
Depois de sair da mesa dos amigos, não foi muito longe. Conseguiu encontrar a garota com quem havia marcado o encontro, deu uns beijos desencaixados e, logo depois, deu “um perdido” na moça e alegou para si mesmo que foi porque não rolou a química, o beijo foi ruim e não por que estava naquele recinto e poderia vê-lo se atracando com outra — ainda queria manter sua fama recém formada sobre não pensar em nada enquanto existisse uma sexta-feira, cerveja e um pagode ao fundo.
Mas, como já dizia César: a quem ele queria enganar? Também não sabia. Por isso, quando percebeu, já estava voltando para a mesa dos amigos com mais um litrão nas mãos — como se não tivesse ficado longos minutos fora dali.
— E então? — Foi Caio quem perguntou, vendo-o um tanto cabisbaixo e já cambaleante.
— O que? — o encarou, já enchendo os copos dispostos na mesa.
— Encontrou a tal garota?
— Encontrei.
— E aí?
— Foi uma merda, não combinamos em nada, nosso beijo não encaixou e eu não consegui conversar — deu de ombros e bebericou a cerveja gelada, sentindo a satisfação lhe correr o corpo inteiro. — Eu acho que já estou ficando bêbado.
Caio soltou uma risadinha e virou-se para o marido ao seu lado, lhe sussurrando algo no ouvido. Depois, voltou-se para e, bem pertinho de seu ouvido, murmurou:
quer conversar com você, não seja estúpido.
Dito isso, levantou-se com César e, juntos, foram para o meio do bar, onde já começava a ficar lotado de gente sambando ao som do grupo ao vivo que tocava no palco. Quando se deu conta, a mesa estava parcialmente vazia e todos os seus amigos sambavam ao redor do bar — alguns acompanhados, outros bêbados demais para sequer trocar ideia.
riu desacreditado do plano bobo dos amigos, mas não fingiu que não gostou. Apenas lançou um olhar para , que sambava graciosamente ao lado da mesa em que estavam. Ela cantava alto, acompanhando a música que o grupo tocava e, vez ou outra, rebolava ao som do batuque. Por um segundo, sentiu-se hipnotizado; era muito bonita e chamava a atenção facilmente; suas jogadas de cabelo, o suor escorrendo pela nuca e pescoço, o vestido colado ao corpo, a mão firme no copo de cerveja e os olhos fechados de maneira empolgada — tudo era motivo para fazer com que todos parassem para observá-la, nem que fosse um pouquinho.
Como se sentisse o olhar alheio sobre seu corpo, abriu os olhos e, sem parar de sambar, virou-se em direção a com um sorriso fraco na boca bonita. Estava disposta a pelo menos tentar fazer as coisas darem certo entre eles outra vez; sabia que havia errado tanto quanto ao tentar fazer aquela amizade misturada a romance à distância funcionar. deixou-se deslumbrar pelo lugar novo, pelas pessoas, pelo estudo diferenciado; e , emocionado como era, deixou-se cegar pela mágoa e o sentimento de troca que não deveria sentir — eles haviam conversado muito sobre aquilo. Ambos sabiam bem onde haviam errado, mas, por algum motivo, pessoalmente aquele joguinho de gato e rato parecia divertido; aumentava a tensão, deixava-os mais ansiosos e a bebida correndo nas veias só potencializava ainda mais os sentimentos e as sensações que somente eles causavam um no outro.
se levantou, por fim, e parou ao lado de sem saber muito bem o que fazer a não ser sambar junto com ela. Seu “gingado” era bonito, ela costumava dizer, porque ele sambava balançando-se por inteiro, parecia um moleque, um adolescente a fim de conquistar as garotinhas da festa — o que ele sempre estava tentando fazer, no fim das contas.
— Eu senti sua falta — murmurou ainda sem parar de dançar, aproximando-se mais de , a fim de dançar com os corpos juntos. — Não foi minha intenção te deixar de lado ou qualquer coisa do tipo, eu pensei que estávamos bem resolvidos.
— Eu também senti sua falta — a segurou pelas mãos e a girou no lugar, sem parar de sambar, e puxou-a para si em seguida. — Nós estávamos, mas, não sei, eu acho que pirei. Não consegui te superar, . Acho que jamais vou conseguir.
— E seus casos de sextas? — perguntou soltando uma risadinha. sentiu-se corar dos pés à cabeça e deu de ombros, fazendo-se de sonso.
— Não chegam aos seus pés, sabe disso — respondeu, ainda acanhado.
riu e o abraçou pelos ombros com carinho, puxando-o mais para si e parando de dançar aos poucos.
— Sei que só esse acerto de contas não será o suficiente, mas, podemos deixar para depois e fingir que eu só sou um casinho da sua sexta-feira? — perguntou, olhando-o nos olhos.
— Como nos velhos tempos… — sussurrou e se aproximou um pouco mais, deixando as bocas quase coladas. — Só que você nunca será só um casinho de sexta, .
Ela riu baixinho rente à boca alheia e, sem esperar mais, puxou-o para um beijo. Quando as bocas se encaixaram, percebeu que não tinha beijo melhor que aquele, não tinha abraço mais acolhedor e alguém que o arrepiasse tão fácil e rapidamente assim. Não havia espaço para outra pessoa, e sabia que era recíproco. Por mais que tentassem negar, fingir e ignorar o turbilhão de sentimento que carregavam um pelo outro, não tinham como esconder — estava explícito nos olhares, nos toques, nos beijos, no tesão quase palpável.
Como os amigos haviam previsto, não demoraram muito a sair do bar de mãos dadas e aos tropeços e risadas, tinham muito o que conversar, mas, também, muitas saudades para matar.
E bem, enquanto existisse a sexta-feira, enquanto não acabasse a saideira e enquanto o pagode não parasse de tocar, eles também não iriam parar.


Fim



Nota da autora: Sem nota.






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