Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Dei uma espiada pela janela do vestiário, tendo uma visão bem limitada da quantidade de pessoas naquele lugar. Eu sabia disso porque o barulho das centenas de vozes era quase insuportável e a música que tocava no ambiente não cumpria em nada o papel de sobressair a elas.
Permaneci da mesma forma por mais alguns segundos, passando meus olhos até onde conseguia enxergar numa tentativa de localizar alguém conhecido no meio do público, mas não tive muito sucesso.
De qualquer forma, meu foco naquela noite só poderia ser um.
Ao menos o ringue eu conseguia ver dali e meus olhos se estreitaram em determinação quando os fixei nele.
Eu precisava vencer aquela luta, não apenas pelo prêmio, mas pelo título que eu receberia. Campeão nacional.
Era tudo ou nada. Derrotas não combinavam comigo.
Respirei fundo, então saí de perto da janela e caminhei até a pia, me abaixando para molhar meu rosto porque eu o sentia pegar fogo, então ergui a cabeça e encarei meu reflexo no espelho.
— Você consegue, — minha voz ecoou como um sussurro, mas, ao mesmo tempo, não parecia que havia sido eu a pronunciar aquelas palavras.
Talvez porque ela tivesse me dito exatamente a mesma coisa na noite anterior, quando contei que não podia de jeito nenhum perder aquela luta.
.
A mulher que me deixava louco e a última com quem eu deveria me envolver, já que seu irmão era meu melhor amigo e um verdadeiro pé no saco.
O problema era que eu não conseguia resistir a ela e, pra falar bem a verdade, nem queria.
Elliott que se virasse. Nós dois éramos adultos.
Eu entendia a preocupação dele com a irmã mais nova, é claro, porém Elliott era exagerado demais. Como se estivesse em uma bolha de vidro e não pudesse ser tocada em hipótese alguma.
Sobre isso, eu tinha uma notícia bem triste para ele.
Soltei uma risada de mim mesmo, focando de novo o olhar em meu reflexo e negando com a cabeça.
Aquilo era hora de ficar pensando naquelas coisas?
Bom, eu não conseguia evitar. Volta e meia, a jovem estava mais uma vez em meus pensamentos.
No entanto, pensar nela e na noite anterior seria um péssimo negócio. Como é que eu ia lutar de pau duro?
Acabei rindo, então escutei passos se aproximando.
— Tá na hora, . — Era Dave, meu treinador.
Assenti para ele, então fui em sua direção.
— Não esqueça dos detalhes que conversamos. O ponto fraco do Scorpius é o queixo. Se conseguir acertá-lo com força, o cara não vai aguentar e você consegue um nocaute. — Eu nem estava surpreso com suas palavras. Aquele era mesmo o jeito dele, sempre vinha reforçar as coisas que tinha me ensinado momentos antes das minhas lutas.
— Tá certo. — Não havia muito o que dizer, então eu apenas o abracei pelos ombros. — Valeu, cara.
— Vamos pegar aquele cinturão logo.
Soltei uma risada rouca, então o acompanhei para fora do vestiário.
Realmente, o lugar estava muito mais cheio do que eu imaginava, e assim que fui reconhecido, várias vozes dispararam meu nome.
Não contive a vontade de erguer meu olhar e mais uma vez buscar rostos conhecidos no meio da multidão.
A quem eu estava tentando enganar? Eu só queria ver se realmente tinha vindo, como disse que faria.
Talvez Dave desaprovasse a presença dela se eu dissesse o que rolava entre nós dois. Para ele, aquilo poderia atrapalhar a minha concentração, mas no fundo eu tinha certeza de que não era bem assim. Pelo contrário, saber que estava ali só ia aumentar a minha vontade de vencer.
Não localizei ela de novo e sacudi a cabeça, aceitando a água que Dave me oferecia, bebendo alguns goles e então me preparando para subir no ringue.
Escutei meu adversário ser anunciado e acompanhei sem me intimidar. Eu sabia que a luta não ia ser fácil, afinal, ele era o atual campeão nacional, mas estava confiante em dar o melhor de mim naquela luta.
! — escutei meu nome ser chamado mais um zilhão de vezes, porém eu pude jurar que havia uma voz conhecida até demais em meio a todas as outras.
Virei na direção de onde eu achava ter vindo e finalmente a encontrei.
Porra, ela era tão linda que eu duvidava que pudesse ser real.
Fazia um tempão que eu sentia algo por . No começo, eu não quis admitir e fingia que a gente só se pegava de vez em quando para curtir.
Elliott me daria um soco na cara se ouvisse isso.
E falando no cara, ele não estava do lado dela, como eu imaginava, mas tinha certeza de que vieram juntos.
Só percebi que algo estava errado quando botei meus olhos nela e me senti bem melhor e ainda mais animado para ganhar aquele cinturão.
— Vai, ! — Nem sei quem berrou aquilo, mas eu acabei erguendo o punho pra cima só pra agitar a galera um pouco mais.
Meu nome foi anunciado e coloquei o pé no ringue, deixando tudo para trás e voltando a me concentrar em derrotar meu adversário.
Scorpius era um pouco mais alto que eu e seu nariz mais torto, consequência das três vezes que o quebrou.
Dave havia feito uma pesquisa detalhada sobre o cara e perdi as contas de quantas lutas dele eu assisti para poder entender suas estratégias. Algo que eu tinha certeza de que ele havia feito comigo também.
Aquela luta era importante para nós dois. Scorpius com certeza queria levar mais um campeonato nas costas, porém eu não estava mesmo disposto a dar o braço a torcer.
Coloquei o protetor na boca, me apoiando no canto do ringue e escutando as últimas instruções de meu treinador, respirando fundo e buscando me manter controlado para o que viria a seguir.
— Vou levar essa porra de cinturão hoje — gritei, em resposta a uma das perguntas que Dave sempre fazia pra me deixar com sangue nos olhos e não me importei nem um pouco com o que pensariam daquilo.
Eu tinha ligado o foda-se desde o momento em que decidi ser um lutador, contrariando toda a minha família que me queria sendo qualquer outra coisa.
Nada contra outras profissões, mas aquele ali era o meu lugar. No ringue.
A sineta anunciou o início da luta e eu fui para cima de Scorpius, vendo-o posicionar suas mãos em defesa e o rodeando, esperando o momento certo para partir para o ataque.
Ele me analisava do mesmo jeito e percebi que seu olhar oscilava entre minhas mãos e meu abdômen. Era uma tática dele para conseguir me acertar onde pretendia, ou seja, em qualquer outro lugar, menos no meu abdômen.
Quando Scorpius disparou o primeiro soco, no entanto, eu mal vi seus olhos se moverem. Na verdade, não vi nada além do vulto de sua mão mirando o lado esquerdo do meu rosto, o acertando com tanta brutalidade que meu corpo se lançou para trás.
Puta merda. Senti meu maxilar até estalar com o impacto e eu só não caí porque obriguei meus pés a se firmarem no chão.
Scorpius não deu tempo para que eu me recuperasse e logo avançou para cima de mim, disparando uma série de socos. Alguns eu amparava e outros ele acabava acertando, o que me deixou atordoado por alguns segundos.
Porra, . Reage, caralho!
Eu sabia que o cara ficaria mais confiante e só ia parar quando estivesse encurralado, porém não ia facilitar. Não foi pra isso que cheguei até ali.
Amparei mais dois socos e aproveitei a brecha para acertar meu punho em sua costela, colocando toda a força que eu tinha e escutando Scorpius urrar de dor.
Como ele fez comigo, disparei mais dois socos, o acertando com sucesso até que o cara se afastou num salto para trás e o público gritou alucinado.
O final do primeiro assalto foi anunciado e fui até Dave, vendo os juízes anunciarem que ganhei 10 pontos e Scorpius 9.
— Você tá indo bem. Não deixa ele te encurralar. O cara tá tentando fazer isso desde o começo — meu treinador me aconselhou, enquanto eu bebia um pouco de água.
Fui puxando na memória mais algumas coisas que havia visto sobre as estratégias de Scorpius e voltei a me levantar e seguir em sua direção quando anunciaram o segundo assalto.
Dessa vez fui eu que não dei tempo ao meu adversário. Avancei na direção dele e foquei em acertar seu estômago, dando dois jebs e um cruzado que por pouco errou seu queixo.
Os próximos golpes dele foram rápidos. Consegui bloquear o chute de direita, mas ele logo me acertou com um jeb bem no lado do rosto. Não deixei aquilo me abater e revidei cada um de seus golpes.
Percebi que mais uma vez Scorpius tentava me encurralar e parti para cima dele, com o intuito de levar a luta para o chão. Eu sabia que aquele não era o seu forte e se conseguisse mantê-lo por tempo o suficiente, a maior pontuação mais uma vez seria minha.
Scorpius tentou resistir. Suas pernas estavam firmes no chão e senti alguns socos me acertarem nas costelas, mas não me deixei abater. Eu não podia. Eu precisava vencer aquela luta.
Coloquei mais pressão, até que suas pernas cederam e parti para cima dele, imobilizando-o pelo pescoço e tentando permanecer daquela forma o máximo que conseguia, por mais que Scorpius continuasse se movendo e chocando seus punhos contra a lateral da minha cabeça.
A uma certa altura, senti que ficava um pouco tonto e respirei fundo, me concentrando e colocando mais força em cima do meu adversário, até o momento em que juiz ordenou que nos afastássemos.
Pude ouvir a multidão comemorar, mas parecia algo bem distante, talvez porque toda a minha concentração estava na luta.
Nos dois assaltos seguintes, Scorpius pareceu ter se recuperado. A agilidade dele era insana, tornando cada vez mais difícil de bloqueá-lo e até mesmo de revidar seus golpes.
O cansaço gritava, assim como meus pulmões implorando por oxigênio. A torcida dele ia à loucura, ainda mais quando ele empatou tudo, tornando o último assalto decisivo.
, não desiste agora. Aquele cinturão é seu, cara. Seu! — Decidi que as palavras de meu treinador seriam um combustível e não mais uma pressão.
Eu venceria aquela luta porque merecia vencê-la, não porque tinha que vencer.
Essa porra de cinturão é seu, .
Encarei meu oponente, trincando o maxilar, sentindo a onda de determinação me fazer avançar em direção a ele como se a luta tivesse acabado de começar.
Desviei de um cruzado, acertando um jeb em seu ombro, não lhe dando tempo para se recuperar e o atingindo com mais dois socos, um de cada lado da cabeça.
Scorpius se afastou um pouco e eu tornei a ir para cima dele, chutando com tanta força que o cara acabou se desequilibrando e, mais uma vez, tratei de levar a luta para o chão.
Dessa vez, meu oponente lutou mais. Parecia sentir que as coisas pioravam para ele e fazia de tudo para se recuperar. Com certeza eu faria o mesmo se estivesse em seu lugar.
Enrosquei minhas pernas nele em um gancho, dificultando ainda mais as coisas para Scorpius, porque ele tentava me socar, mas não conseguia muito efeito em seus golpes. Revidei, acertando três socos em seu rosto e quando o terceiro acertou em cheio o seu queixo, senti que ele amoleceu embaixo de mim.
Eu havia conseguido nocauteá-lo.
O juiz sinalizou que devíamos nos separar e quando me desvencilhei e me levantei, a gritaria da plateia não estava mais abafada.
A luta havia acabado e toda aquela comemoração só significava uma coisa.
Eu havia vencido. O cinturão era meu.
Esperei até que reanimassem Scorpius e nós dois nos posicionamos ao lado do juiz, que segurou nossos punhos.
— O vencedor é ! — Meu braço foi erguido no ar, a plateia urrou ainda mais e meu peito parecia que ia explodir de tanto que eu estava feliz naquele momento.
Procurei o olhar dela em meio à multidão, enquanto erguia o cinturão. sorria para mim daquele jeito só dela, um jeito que dizia claramente que nossa comemoração seria ainda melhor.
Não me importei com mais nada. Eu não tinha visto Audrey e Elliott e só podia deduzir que minha irmã andou aprontando alguma durante a minha luta. Mas, ainda assim, tudo o que eu precisava estava bem ali.


FIM



Nota da autora: Espero que tenham gostado desse personagem, porque ele é tudinho pra mim.
Me digam o que acharam nos comentários.
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Beijos e até a próxima.
Ste.



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