Última atualização: Fanfic Finalizada

Prólogo

tinha em mente todos os lugares em que gostaria de pisar, mas um presídio não era um deles.
Ela encarou a estrutura do lugar por um momento, tentando decidir se estava fazendo a escolha certa. Se, talvez, ela não iria se arrepender depois. Mas, bem… ela já estava ali, não estava? Dar um passo para trás seria patético. E não era patética.
- Identidade, por favor - um dos seguranças pediu.
Ela assentiu rapidamente, odiando o nervosismo comandando o seu corpo. percebeu que não gostava da energia do lugar. Tentou manter o controle de si mesma e entregou o documento ao homem, que a vistoriou por alguns segundos, encarando-a. Em seguida, balançou a cabeça positivamente.
- Nome do prisioneiro.
A dançarina engoliu a seco. Que os céus ouvissem as suas preces e não permitissem que nenhum paparazzi estivesse à espreita por ali. Como poderia explicar a manchete no dia seguinte, expondo-a em um lugar como aquele?
Claro que ela não devia nada a ninguém, mas gostava de ser clara com os fãs.
O assalto em que ela fora feita de refém tinha sido noticiado em todo lugar, ela não teria uma explicação para estar visitando um dos assaltantes. Não para o mundo todo.
- - murmurou.
Depois de passar por todo o processo e ser revistada mais de duas vezes, mesmo explicando que não havia nada para encontrar, batia os pés contra o chão, sentada na cadeira com as mãos cruzadas sobre a mesa redonda. Ela não sabia se estava ansiosa ou se realmente estavam demorando para trazer ele, mas quando olhou ao redor, notou que não era a única esperando. Esfregando as têmporas, ela suspirou, desejando ter tomado uma aspirina antes.
- Você não deveria estar aqui.
A voz grave de a fez se virar. Ele estava com uma aparência desleixada - mas também, o que ela esperava daquele lugar? Um tratamento cinco estrelas para quem cometia crimes contra a sociedade? -, e com a barba por fazer. Estava um pouco mais magro também, mas ela se concentrou em respondê-lo.
- Eu sei - admitiu. Não sabia se para ele ou a si mesmo. - Por favor, sente-se.
a encarou com um ar cansado, as íris demonstrando a sua irritação, apesar de tudo. Ele tinha consciência de todos os seus erros, mas não queria que qualquer um deles envolvesse . A imagem dela sangrando ainda o assombrava todas as noites, mas ele não diria isso.
O homem deixou os ombros caírem e andou apenas dois passos, sentando-se de frente para ela, uma mesa pequena separando-os. Ninguém disse nada imediatamente.
- Você não deve vir me visitar, .
A dançarina remexeu seu corpo na cadeira. Juntou suas mãos sob a mesa e apertou o polegar um contra o outro, encarando o homem, mordendo a parte interna da bochecha. Seu corpo inteiro reagia sem permissão a ele.
- Não pode me impedir - respondeu, a voz tranquila.
soltou um suspiro longo e usou as duas mãos para esfregar o rosto. Céus, aquela mulher era impossível de todas as formas. Ele poderia implorar, de joelhos até, e ela não cederia.
- Por favor - ele tentou outra tática. - Não venha me ver assim.
Pela expressão no rosto dela, pareceu ter funcionado.
não queria que ela estivesse naquele lugar, não queria ficar sendo visto por ela daquela forma, não queria assistir a preocupação nos olhos dela.
Ele tinha se entregado por ela, mas ainda assim…
- Você pode sair em menos tempo por bom comportamento - disse. - Só…
- Por quê?
A expressão de vacilou.
- O quê? - questionou, confusa, sem entender a pergunta repentina.
- Por que você está aqui, ?
A dançarina engoliu a seco. Esperava todo tipo de pergunta, mas não aquela, porque era exatamente o que ela tinha se perguntado quando chegara ali. A mulher tinha consciência que não deveria estar, mas nem sempre conseguia seguir os próprios conselhos. E era… muito mais para ela do que ela podia imaginar.
Eles tiveram uma vida juntos, afinal.
- Porque eu me importo.
a encarou com intensidade. As palavras fugiram da sua mente por alguns segundos que pareceu durar uma eternidade.
- Não deveria - ele, enfim, disse. - Não sou bom para você.
Não mais, ele quis completar, mas não conseguiu. Era doloroso admitir que ele mesmo tinha a deixado escapar. O caminho que ele trilhou era totalmente diferente do dela e tudo tinha sido por escolha dele.
- Você só está tornando as coisas mais difíceis - comentou. - Eu só queria vê-lo mais uma vez e…
não poderia. Não poderia mais suportar a ideia dela tendo alguma esperança nele, que esperasse que ele tivesse alguma redenção. Ele mesmo não esperava isso de si próprio e ele se arrependeria, mais do que tudo, que ela estragasse a própria vida por ele. Então, tinha que tornar as coisas difíceis. Tinha que ser mais… firme.
- Vá embora - interrompeu-a, a voz soando tão firme que ele se surpreendeu.
parou de falar. Encarou-o por alguns segundos, quando por fim assentiu e se levantou. Seus olhos brilharam, mas ela se recusava a chorar ali. Não na frente dele e definitivamente, não por ele.
- Sobreviva, - sussurrou.
A dançarina soltou o ar pela boca e deu as costas a ele, pronta para ir embora, como ele tinha pedido.
- ? - a chamou.
A mulher virou somente o rosto na direção dele, já pronta para passar pela porta. Ela sabia que deveria ter ignorado-o e simplesmente ido embora, mas não conseguia. Ela não respondeu nada, mas ele não esperou.
- Não volte para a Califórnia.


Parte Um

Três meses atrás


nasceu na Califórnia, há vinte e oito anos atrás.
Atualmente, não morava na cidade Natal. E, se fosse sincera consigo mesma, não gostava muito do ar do lugar. Era como se a sufocasse e ela não gostava da sensação de não conseguir respirar.
gostava de ter controle sobre tudo, principalmente se envolvesse o seu corpo. Era por isso que dançar era tão leve quanto uma pena de pluma. Gostava de dançar desde sempre. Com muito esforço e dedicação, conseguiu transformar seu hobby em profissão, levando à ao estrelato.
Às vezes, não conseguia acreditar mesmo que era uma dançarina famosa, mas um convite, como aquele que tinha em mãos no momento, lembrava-a de sua nova realidade.
- Eu sou obrigada a ir?
Joana levantou os olhos para encarar a amiga. mordeu o próprio lábio, encarando o seu nome no convite, escrita em uma caligrafia impecável, mas não era isso que a incomodava. O local do evento não a instigava muito a comparecer.
- , ele é o diretor de uma das maiores companhias de dança do mundo - Joana começou, sempre direta e prática, como sempre era. já tinha percebido que ela nunca respondia suas perguntas com sim ou não, era sempre com frases prontas, às vezes longas. - E você foi convidada a estrelar uma peça principal, dirigida por ele. É óbvio que você é obrigada a ir.
parou de encarar o convite e virou o rosto para Joana, que além de amiga, também gerenciava a sua carreira.
- Um sim bastaria como resposta para mim - comentou.
Joana deu de ombros, voltando a atenção para o celular. A dançarina bufou. Por que precisava ser justamente a Califórnia? Tinha tanto lugar no mundo, ela poderia começar a citá-los por ordem alfabética.
- Precisa começar a esquecer ele, - Joana murmurou sem tirar os olhos da tela do celular. - Não vai encontrá-lo toda vez que pisar na Califórnia.
A outra se remexeu na cadeira, desconfortável. Jogou o convite em cima da prateleira e soltou um suspiro, sentindo os ombros tensos.
- Não estava pensando nele - respondeu.
Mas era uma mentira, claro. Ele sempre estava nos seus pensamentos. Fazia bastante tempo desde a última vez em que o viu. Os encontros sempre ocorriam na Califórnia, então ela sempre evitava o lugar.
Mas, aparentemente, recusar o convite de uma festa de um diretor renomado que tinha lhe presenteado com um papel principal importante, era falta de educação.
Encarou a si mesma no espelho, quase como se implorasse por encontrar quem era antes. Virou-se para Joana em seguida, fingindo que era uma mulher bastante decidida, quando perguntou:
- Quando vamos?

Califórnia - EUA

- O evento é às 19:00, o motorista estará aqui antes para te levar, seu vestido já está… ?
Joana listava toda a lista de tarefas para a dançarina, como ela sempre fazia, mas enquanto andava pelo saguão do prédio depois de algumas horas de viagem, não parecia estar prestando atenção em nada. Não tinha dito sequer uma palavra assim que pisou na Califórnia, sentindo o ar calorento do lugar.
- Sim?
Joana revirou os olhos. Parando de andar, ela obrigou a amiga também.
- O que está acontecendo?
- Eu não gosto de ficar aqui - respondeu. - Pode me deixar sozinha por alguns minutos?
Sua agente a encarou, com um misto de desconfiança e compreensão. Todo mundo tinha algum lugar no mundo que não gostava muito e com a dançarina não seria diferente. coçou a bochecha, esperando uma resposta, seu pé direito batendo contra o chão, impaciente.
- Ok - finalmente Joana concordou. - Vou fazer o check-in.
assentiu, assistindo-a ir até a recepção do hotel. Era um hotel enorme. Até alguns anos atrás, não imaginava que poderia pagar para se hospedar em um lugar como aquele, mas gostava da sensação.
A mulher suspirou e olhou ao seu redor, ainda parada no meio do saguão. Ela tinha parado de observar Joana e encarava o fluxo de pessoas entrando e saindo dali. No caminho do aeroporto até ali, ela tinha passado por uma casa que se recordava muito bem. Desde então, andava quieta e pensativa daquela forma.
Odiava a Califórnia. Odiava todas as lembranças que lhe trazia.
Sentindo-se um pouco sufocada, ela saiu do prédio, sentindo o ar do lado de fora.
Ela não tinha a intenção de fazer uma visita ao passado ali, mas mal pensou quando parou um táxi, entrou dentro e deu um endereço antigo. Ela esperava que a casa ainda estivesse lá, mas não esperava ver as mesmas pessoas de antes. Muito tempo havia se passado. assistiu a cidade passar por seus olhos através da janela fechada do carro. Ficou tão concentrada em seus próprios pensamentos que não notou o tempo passar e que já havia chegado.
- Obrigada - agradeceu ao motorista, lhe entregando o dinheiro da corrida.
A dançarina abriu a porta do carro, saindo do mesmo. Se arrependeu na mesma hora em que colocou os pés para fora, mas não podia mais voltar atrás, o carro já tinha ido. Ela respirou fundo e engoliu a seco. Só precisava atravessar a rua e o jardim. A casa estava bem ali, na sua frente, a poucos metros de distância. Seu coração disparava dentro do peito e ela sentia as batidas fortes contra a sua pele. Sem esperar mais um minuto, atravessou a rua e chegou ao jardim. Não havia muitas pessoas passando por ali, o que significava que a chance de alguém a reconhecer era muito menor, então ela não se importou muito em estar exposta. Encarou a casa, finalmente. Antes, ela era pintada de um azul marinho muito claro, mas agora notava que a cor tinha desbotado e substituída por um amarelo muito forte, que não combinava nada com o astral. A grama do jardim estava aparada e molhada. O estado da casa parecia perfeito, bem cuidado, mas todas as janelas e portas estavam muito bem fechadas. Ela tentou se concentrar em ouvir alguma risada infantil, mas não conseguiu nada. Tirando o salto dos pés, ela pisou na grama molhada.

flashback on

- Mona! Mona, não faça iss…
A bola de água estourou em cima de . As outras crianças gargalharam ao vê-la completamente molhada, como todas as outras. tinha tentado escapar, já que era a única criança com as roupas secas, mas Mona havia dito que não era justo e correu atrás dela com uma bexiga roxa cheia de água. Era uma brincadeira bastante comum entre elas.
- Você é terrível - soltou, passando as mãos pelo rosto. - Podemos pegar o agora?
Mona deu um sorriso muito sapeca. sabia que ela tinha aceitado a ideia, pois a amiga adorava a possibilidade de molhar qualquer pessoa com uma bexiga colorida de água. As outras crianças ficaram em silêncio, acompanhando Mona e , andando até o outro lado do jardim, atrás da casa. gostava de ficar ali, sozinho, com seus lápis coloridos e papéis de desenhos. Sempre tinha sido um garoto solitário, mas gostava da presença de e ignorava as outras crianças.
Assim que as crianças chegaram, Mona levou o indicador aos lábios, pedindo silêncio. Ela era a única que estava de biquíni, já que sempre era a primeira a planejar a brincadeira e pegar todo mundo desprevenido. A Sra. Tadis tinha tentado banir a brincadeira, mas desistiu quando notara que Mona sempre dava um jeito de reunir todas as outras crianças para um único propósito: jogar água em todas elas. Eles não tinham piscina ali, mas sabiam se divertir.
acompanhou Mona em silêncio. As outras crianças tinham parado de andar atrás dela, assistindo ao momento de longe. deixou que Mona fosse primeiro, segurando uma bexiga laranja que tinha pegado no caminho. ficava tão concentrado no próprio desenho que nunca percebia quando alguém se aproximava. Por isso, foi tão fácil para Mona chegar atrás dele e finalmente soltar a bexiga sobre a sua cabeça, estourando-a, derramando água por ele inteiro. As crianças riram quando levantou em um pulo, de susto. Todo mundo ainda estava rindo, mas não. Ela tinha visto a expressão dele antes de todo mundo e mordeu a parte interna da bochecha, sentindo-se culpada pela ideia.
- Você me molhou todo! - ele exclamou irritado, ficando tão vermelho quanto uma criança de oito anos ficava. - E molhou os meus desenhos!
Mona riu.
- Você é tão chato e tão nerd, - ela zoou. - Precisa se divertir um pouquinho!
- Eu não quero me divertir! - ele rebateu. - Quero que vocês me deixem em paz!
Mona deu de ombros e chamou as outras crianças para voltarem para o outro lado do jardim e continuarem a brincadeira, mas continuou ali. Sua roupa estava toda encharcada, igual a agora. Os fios enrolados do cabelo dele estavam grudados na testa. Sem jeito, ela se aproximou dele.
- Me desculpa, - ela murmurou, as mãos atrás das costas, uma mania que tinha quando se culpava.
levantou os olhos para ela. O vermelho sumiu das suas bochechas e ele relaxou a expressão, ainda encarando .
- Não foi sua culpa - por fim, ele disse.
abriu um sorriso.
- Foi, sim - confessou. - Mona me pegou desprevenida também e falei de você.
sabia que não estava irritado por ter tomado um banho sem aviso, mas porque seus desenhos não valiam mais nada molhados. Ela devia ter imaginado que ele estaria desenhando antes de ter dado a ideia.
- Tá tudo bem, - ele respirou fundo e voltou a se sentar no chão, tirando os fios do cabelo do rosto. - Quer sentar comigo?
assentiu rapidamente, sentando-se ao lado dele. Observou os papéis jogados no chão, molhados, e os lápis coloridos espalhados pela grama.
- Você não é chato - ela murmurou. - E eu gosto de você ser nerd.
Pela primeira vez, virou-se para ela e sorriu. Os dois tinham se tornado muito amigos ali. confessava para si mesma, que às vezes sabotava a sua possibilidade de ser adotada, porque não queria ser separada dele. não suportava a ideia de nunca mais se verem.
- E eu gosto de você, .
Aquela foi a primeira vez que sentiu borboletas no estômago. E quando ele segurou a mão dela com a sua, também foi a primeira vez que soube o que era estar apaixonada.

flashback off

A porta da casa foi aberta, mas não percebeu. Ela ainda tinha os pés descalços na grama, a mente longe. Só tinha voltado a si mesma quando uma voz infantil gritou. A dançarina se assustou, levantando os olhos na direção da voz. Quando encarou a porta da sua casa antiga, viu uma mulher com um casal de crianças e a menina apontava sem parar para . Sem jeito, saiu da grama e calçou o salto novamente.
- Oi! - a menina mais nova correu até ela, parando bem na sua frente. - Você é a , não é?
- Ah… - murmurou, abrindo um sorriso, embora ainda se sentisse desnorteada. Não esperava que houvesse alguém em casa. - Sim, eu sou a . Você é a…?
- Louisa! - respondeu, com animação evidente na voz. - Eu sabia que era você.
- Desculpe - a outra mulher chegou atrás de Louisa, acompanhada de um menino. - Ela gosta de te acompanhar. Diz que, quando crescer, quer ser que nem você.
não esperava sentir lágrimas acumulando nos olhos. Ela encarou Louisa com um sorriso melancólico.
- É verdade?
- Sim - Louisa respondeu, parecendo tímida agora.
- Ela dança pela casa inteira - o menino avisou, abrindo a boca pela primeira vez.
- Cala a boca, Leo!
A mulher ao lado deles pigarreou e as crianças pararam de discutir quase imediatamente.
- Você está bem? - questionou para .
A dançarina também não esperava aquela pergunta. Pensou em dizer que sim, estava bem, apenas por costume de responder sempre a mesma coisa, mas encarou a casa atrás deles e piscou os olhos, a lembrança ainda vívida na sua mente.
- Sim, eu só… - respondeu, voltando a olhar para a mulher e as crianças. - Eu cresci aqui.
- Aqui? - Louisa indagou. - Na nossa casa?
sorriu, assentindo.
- É, a casa era cheia de crianças - lembrou.
As crianças não pareciam saber do que estava falando, mas a outra mulher sim.
- E o que aconteceu com as outras crianças? - o menino questionou, curioso.
encarou-o. Ele usava óculos e tinha um rosto um pouco redondo, mas era magro demais e os fios do seu cabelo eram muito lisos.
- Eu não sei - confessou, mordendo o lábio. - Fui adotada aos 14 anos. Deixei a pessoa que eu mais amava para trás.
- Nossa! - Louisa exclamou. - Eu nunca deixaria o Leo.
- Louisa! - a mulher repreendeu, pedindo desculpas silenciosamente para . - Vão para dentro os dois.
Louisa parecia querer protestar, mas quando olhou para a mais velha de novo, desistiu e obedeceu, entrando na casa com Leo.
- Meu nome é Francisca Tadis - a mulher se apresentou. arregalou os olhos, reconhecendo o sobrenome. - Eu sou filha da Sra. Tadis, sim.
- Nós não… Eu não sabia que ela tinha uma filha - confessou, confusa.
- É uma história longa - Francisca sorriu. - Mas minha mãe me contou sobre todos vocês. E como você tentou não ser adotada para não deixar .
- É, não deu muito certo - disse. - Faz um tempo que não o vejo.
Francisca assentiu. piscou os olhos para afastar as lágrimas, odiando estar se sentindo tão sensível naquele momento. Tinha voltado para a Califórnia antes, por que só agora tinha ido parar naquela casa?
- Às vezes ele aparece por aqui - a mulher disse. - Me perguntei se algum dia você apareceria também.
- Por quê?
Francisca não respondeu. Apenas tirou do próprio bolso duas fotografias que carregava consigo, desde que tinha visto na grama, pela janela da casa. Esticou as mãos e estendeu as duas fotos para , que aceitou. A primeira era uma foto com todas as crianças. tinha nove anos ali e estava, como sempre, ao lado de , que não olhava para a foto, mas olhava para ela, sorrindo. Eles estavam reunidos na frente da casa, fantasiados de seus personagens favoritos. sorriu ao encarar a foto.
A segunda era ela e , sozinhos. Ela tinha treze anos ali, um ano antes de ser adotada. Os dois estavam de mãos dadas, abraçados. Os cachos de estavam grandes demais, quase cobrindo os seus olhos, muito diferente da última vez que tinha encontrado-o.
- Pertence a você - Francisca disse.
sentiu o celular tocar, e mesmo sem pegar o aparelho, sabia que era Joana. Ela precisava voltar, esquecer o passado, e se preparar para o evento.
A dançarina engoliu a seco e estendeu as fotos de volta para Francisca.
- Obrigada - murmurou. - Mas já tenho lembranças demais.


Parte Dois

- Você está bem?
Joana indagou com cuidado. Depois que tinha voltado sabe-se de onde, ficou calada o tempo inteiro. Joana, mais do que sua agente, não gostava de invadir o espaço dela.
- Sim.
A dançarina olhou a sua agente através do espelho. Joana deu de ombros, contentando-se com a resposta, mas não significava que ela acreditava. Resolvendo deixar o assunto para depois, ela focou em observar toda a produção em .
- Como estou? - a dançarina questionou.
olhou para si mesma no espelho. Usava um vestido longo azul, meio cortado na coxa esquerda, mas não deixava muito à mostra. Seu decote era aberto e um colar com um pingente discreto brilhava no seu pescoço. Seu cabelo estava amarrado em um coque muito bem encaixado, alguns fios caindo e uma tiara fechava o look, com um salto preto pequeno. A maquiagem estava bem leve, contrastando com o seu tom de pele e cor dos olhos.
- Está linda, como sempre - Joana respondeu, sincera.
Ela também iria na festa, mas só porque insistira. A agente usava um vestido preto simples, com o cabelo solto e uma maquiagem leve também, um batom vermelho marcando os seus lábios.
- Está na hora.
assentiu. Dando uma última olhada no espelho, ela assentiu para si mesma, satisfeita com o resultado e ensaiou um sorriso para a noite toda. A parte mais chata da festa era fingir estar feliz e socializar com todo tipo de gente, porque era importante para a sua carreira. Principalmente agora, que era a estrela principal da peça do dono da festa. Ela iria receber muita atenção, mesmo que não desejasse isso.
Suspirando mais uma vez, ela deu as costas ao espelho e seguiu Joana até o carro.

Socializar era cansativo, às vezes. Os músculos das bochechas de doíam de tanto sorrir, mas ela repetia o mesmo jeito a cada vez que era apresentada a alguém novo. Joana tinha deixado-a sozinha em algum momento da festa, mas a dançarina não a culpava. Não era obrigação da agente socializar com as pessoas, então podia aproveitar a festa de outro jeito, como qualquer outra pessoa normal. sentia-se exausta.
Quando tinha chegado, uma hora atrás, a casa parecia discreta demais. Do lado de fora, não dava para saber que estava rolando um evento importante lá dentro, mas sua agente tinha lhe garantido que, embora não houvesse nenhuma decoração do lado de fora, o evento foi noticiado em algum site de fofoca local. Era uma mansão enorme. Beirava o luxo a cada cômodo que a mulher passava.
- Se me dão licença - o tom educado na sua voz fez a mulher quase suspirar de cansaço.
Ela ainda era humana, e como toda boa humana, precisava de um copo de bebida, mas antes, iria passar no banheiro. A dançarina despediu-se do grupo de homens e mulheres e saiu discretamente, tentando o máximo possível não esbarrar em ninguém. Não aguentava mais responder sempre as mesmas perguntas e explicar os detalhes de sua nova coreografia, que até então, era confidencial. Ela adorava a sua profissão, mas odiava socializar com quem não entendia metade do que ela fazia.
seguiu para o banheiro, fechando a porta atrás de si, abafando os acordes de piano que vinha direto do salão. Era um som um pouco irritante demais, mas era muito melhor do que o barulho estridente da sanfona. Quem diabos tocava uma sanfona em um evento social discreto?
A mulher parou na frente do espelho, a expressão séria. Depois de quase uma hora sorrindo sem parar, ela precisava relaxar os músculos do rosto. Massageou as bochechas com os dedos indicadores das duas mãos, notando que sua maquiagem ainda estava impecável. Não havia um fio de cabelo fora do lugar. Sinceramente, não entendia como Joana conseguia fazer com que ela ficasse tão impecável, mesmo depois de passar uma hora rodando pela casa inteira. parou de massagear as bochechas e ligou a torneira, deixando a água escorrer por suas mãos. Sentiu uma vontade súbita de molhar o rosto, mas isso estragaria a maquiagem, então desistiu, deixando os ombros caírem.
Então, silêncio.
Nenhum barulho de sanfona e nenhum acorde de piano estava sendo tocado mais. achou que fosse a hora deles começarem com música de verdade, mas não veio nada. Ela deu uma última olhada no espelho, verificando o estado do seu vestido e a sua aparência, quando escutou gritos vindo do lado de fora. Franzindo o cenho, ela andou até a porta, abrindo-a com cuidado.
Tinha alguma coisa errada.
A dançarina seguiu o corredor. O único som era do seu salto contra o chão e, quando chegou no salão principal, desejou não ter saído do banheiro. Todos os convidados estavam jogados no chão, algumas mulheres chorando em silêncio abraçadas aos maridos. tentou encontrar Joana com o olhar, mas não foi rápida o suficiente para isso, antes de ser notada por um homem cujo rosto estava coberto por uma touca preta. Ele carregava um rifle em mãos.
- Você! - o homem esbravejou, apontando o rifle para ela. Instintivamente, levantou as mãos. - Abaixe! Agora!
Ela obedeceu. Abaixou-se contra o chão quase imediatamente.
Não era possível que aquilo estivesse mesmo acontecendo. Era só um evento idiota, como estavam sendo feitos reféns de um assalto? A Califórnia nunca colaborava mesmo para mudar o conceito de sobre a cidade. Era melhor continuar odiando o lugar do que aprender a amar.
Discretamente, agora sentada no chão, ela fingiu mexer nos saltos, enquanto olhava os homens. Havia dois deles ali. Não dava para saber quem eram devido ao rosto coberto, mas notou que, enquanto um era alto demais e cheio de tatuagem, o outro era mais franzino. Um usava rifle, o outro uma arma pequena.
- Quem é o dono da festa? - o homem alto questionou.
Ninguém disse nada. Nenhuma alma atreveu-se a dar uma resposta sequer. não seria diferente. Talvez, se continuasse de boca fechada até o fim daquilo, sobrevivesse. Mas, aparentemente, paciência não era uma virtude do assaltante.
- Quem é a porra do dono da festa?! - gritou mais alto dessa vez, chutando alguma coisa perto.
se assustou com o barulho. Quando o assaltante mais alto mirou alguma coisa e atirou, o dono do evento levantou um braço.
Bem, pensou, ao menos não era um covarde.
- Levante-se - o homem ordenou. - Leve ele.
Um terceiro homem apareceu em cena, pegou o diretor e saiu, deixando os outros reféns ali. se livrou dos saltos. Quando levantou os olhos novamente, encontrou Joana do outro lado, os olhos assustados. Sua agente balançou a cabeça ligeiramente, como se a avisasse para ficar quieta. Os dois homens começaram a cochichar entre si, até aparecer mais um deles, o quarto homem.
Céus, quantos deles eram?
- Aí, prestem atenção - o mais franzino comunicou. - Quero todas as mulheres de pé. E acho bom obedecer, porque eu sou louco por meter bala em carne humana!
Uma ameaça como aquela não teria como fazer um efeito mais direto. Os maridos não queriam deixar as esposas levantarem, mas elas fizeram mesmo assim, temendo mais a própria vida do que qualquer outra coisa. também levantou, descalça. Com todas as mulheres em pé, o assaltante franzino prosseguiu.
- Acompanhem meu amigo aqui - ordenou. - Não se preocupem, ele é legal.
A risada que ele emitiu era nojenta. definitivamente estava vivendo seu pior pesadelo. Como ela tinha deixado Joana convencê-la a estar ali? Ela sabia que era um erro, sempre sabia.
- Para onde estamos indo? - antes que pudesse pensar, as palavras escaparam da sua boca.
Algumas mulheres viraram o rosto para ela, horrorizadas. também estava apavorada, mas isso não significava que ela precisava ficar parada. O medo dava impulso a alguns e paralisava os outros.
- Hm - o homem alto resmungou. - Então você é a primeira atrevida.
Ela não entendeu a resposta, mas deu de ombros, encarando um deles. O homem alto deu uma risada de escárnio e a empurrou para seguir as outras. trincou os dentes, com raiva. Não era tão estúpida para abrir a boca de novo, mas bem que morria de vontade de xingá-lo em alto e bom som.
Em silêncio, ela seguiu o quarto assaltante.
Começaram a subir a escada para o segundo andar. E quando estava andando pelo corredor em direção a uma única porta, percebeu o terceiro homem voltando, aquele justamente quem tinha levado o diretor. Ele a olhou por um breve momento e parou o quarto assaltante.
- Vou levar ela - anunciou.
O quarto assaltante olhou para . Medo transpassou os olhos das outras mulheres quando perceberam que eles estavam escolhendo a dançarina para alguma coisa. Não era bom, a julgar pelo olhar de horror.
sentiu-se desesperada. Era muito melhor ser feita de refém com outras mulheres, do que ficar sozinha com um homem que nem conhecia.
- Você nunca teve mal gosto, não é? - o outro respondeu, deboche e malícia escapando pelo seu tom de voz.
se sentiu enjoada.
- Cale a boca - o terceiro assaltante disse, com a voz grave e irritada. - Leve as outras. Ela vem comigo.
O quarto assaltante, que era baixo e magro, deu de ombros e mandou as outras continuarem seguindo-o. tentou ir junto, mas o homem de antes a segurou pelo braço.
- Por favor - ela suplicou, sussurrando.
O homem a soltou. Tinha uma Glock 19 nas mãos, mas não parecia ter intenção de usar. Ele acenou com a cabeça, indicando uma porta. Sem escolha, obedeceu. Era jovem demais para fazer qualquer coisa estúpida e morrer por isso.
Ela abriu a porta primeiro e entrou, notando que era um quarto de hóspede. O homem entrou atrás dela, trancando a porta atrás de si. Pânico tomou conta da dançarina. O homem guardou a Glock na cintura. o encarou, engolindo a seco.
- Não vou machucar você - ele disse, o tom de voz normal.
Espera aí… ela conhecia aquela voz.
Quando o homem se livrou da máscara do rosto, quase se engasgou.
- Puta merda - murmurou. - ?!


flashback on

- ?
Ele resmungou algo em resposta, ainda encarando o teto. tinha o rosto apoiado no peito dele, a mão dele acariciando as suas costas.
- Sim? - incentivou ela a continuar.
suspirou. Era uma situação complicada e ela não queria complicar ainda mais. Mas não tinha outra escolha. Vinha pensando naquilo há um tempo.
- Não posso mais continuar assim - finalmente disse.
Ela sentiu tenso debaixo dela. Ele não respondeu imediatamente e parou de acariciar as suas costas. teve medo de olhá-lo nos olhos e não gostar do que encontraria, então permaneceu com a cabeça quieta contra o peito dele, escutando as batidas ritmadas do seu coração.
Ele sabia que aquele momento chegaria. Como não chegaria, afinal? estava construindo uma carreira promissora como dançarina e só tinha 19 anos. Ele, por outro lado, tinha problemas familiares demais e nenhum emprego. Nenhuma perspectiva de vida ou de futuro. Era apenas quem aparecia na cidade para visitá-lo e sempre acabavam na cama, agarrados juntos. nunca podia oferecer ao menos um jantar decente. Vinham do mesmo lugar, mas não tiveram a mesma sorte.
- Eu sei - foi tudo o que ele respondeu.
mordeu a parte interna da sua bochecha e finalmente levantou, saindo de cima do corpo dele. Ela puxou o lençol consigo, cobrindo-a, enquanto encarava ele.
- Eu sei? - repetiu. - Eu esperava mais do que isso.
a encarou de volta. Ao mesmo tempo que esperava que aquele momento chegasse, tentou adiá-lo o quanto conseguisse. Infelizmente para ele, estava mesmo disposta a seguir em frente com aquela discussão. levantou-se, não se importando nenhum pouco em ficar nu na frente dela, e começou a procurar suas peças de roupa.
- O que você espera que eu faça, ? - indagou, a voz soando cansada.
E tudo ainda estava começando. Uma parte de si odiava começar qualquer discussão com ela, mas às vezes era inevitável. Ele não gostava do clima que se instalava entre eles e alguma coisa o dizia que as coisas não terminariam bem. Não como todas as outras vezes.
estava cansada da situação, e quando ficava cansada… também ficava impossível.
- Pelo amor de Deus, , eu espero que você acorde! - ela exclamou, pressionando o lençol contra o corpo. - Faça qualquer coisa, tome algum rumo. Essa não é a vida da qual eu quero ficar agarrada.
- É a única que eu posso te oferecer - ele respondeu.
sentiu seu coração pequeno dentro de si. Ainda agarrada ao lençol, também se levantou da cama, observando-o vestir a boxer e a calça. Os fios do cabelo dele estavam grandes demais e caíam em camadas por seu rosto. Um rosto que expressava a infelicidade e derrota, mais do que qualquer coisa. Algumas horas atrás, ele estava rindo com ela, murmurando que a amava mais do que tudo no mundo. Como as coisas davam erradas tão rápido?
- Quero me casar com você - a dançarina declarou, para a surpresa dele. atacou a calça e levantou o rosto na direção dela. - Quero ter filhos, quero ter uma vida inteira ao seu lado. Não quero estar indo e vindo entre Los Angeles e Califórnia e tudo o que fazemos é acabarmos na cama.
O peso daquelas palavras o atingiu. Ele também queria aquilo, mais do que queria qualquer outra coisa no mundo, mas ele não era nada. Ele não tinha como dar aquela vida para ela, não tinha como dar conforto e jamais pediria que ela desistisse do seu sonho para passar dificuldade com ele. Não. Ele era tudo, mas não era egoísta. Não iria repetir a infância difícil que ambos tiveram juntos.
- São sonhos de crianças, . Você deveria superá-los - um suspiro escapou dos seus lábios.
se sentiu uma pessoa horrível por dizer aquilo. Desde que se separaram, quando ela foi adotada primeiro, eles comentavam sobre aqueles sonhos. achou que nunca mais a veria, até ela aparecer, dois anos depois, na frente dele.
- Está escolhendo ser um babaca? - seus ombros caíram, cansados.
se livrou do lençol e começou a vestir as próprias roupas também.
- Estou escolhendo acabar com isso. Virei um fardo para você, não virei? - acrescentou, passando os dedos entre os fios longos do cabelo, jogando-os para trás.
- Eu não…
- Não precisa mais voltar para me ver quando sexo é tudo o que eu posso te oferecer - ele completou.
abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Quando terminou de se vestir, seu coração batia tão forte que ela duvidava que ele também não estivesse ouvindo. Passou um milhão de coisas por sua mente, enquanto ele estava ali, olhando-a como se ela fosse tudo no mundo. Ela desejava mais e tudo e odiava que ele não estivesse incluído em nada. Seu futuro estava sendo construído sem ele. Uma vida inteira.
Estavam se tornando um passado, uma lembrança no tempo, capturadas em uma fotografia.
- … - ela murmurou, mas nada saiu.
Ele se aproximou dela. Segurou o rosto dela com as duas mãos, com delicadeza, beijou os lábios da dançarina com leveza e se afastou. usou o polegar para acariciar a bochecha dela.
- , eu te amo - ele disse. - Vá viver a sua vida.
Então, depositou um beijo na testa dela e foi embora. Ela ainda escutou a batida da porta sendo fechada. Processava o fato de que ele tinha mesmo ido embora. Que tinham terminado.
Viraram passado, afinal.

flashback off


Parte Três

- , calma aí, espera… !
Ele conseguiu segurar os dois braços dela, impedindo-a de continuar socando-o de todo jeito. Depois do choque da dançarina ter passado e ela começou a tomar noção do que estava acontecendo, aproximou-se dele e começou a estapear-lo por ser tão estúpido, tão idiota, tão burro.
- Se acalme - ele pediu.
Ela o olhou furiosa. Estavam mais próximos do que não estiveram em meses, em anos, desde que ele tinha ido embora.
- Me acalmar?! - esbravejou, tentando se soltar os braços dele, sem sucesso. - Você está comendo um assalto e fazendo reféns, seu idiota! Me solta.
- Vai voltar a me bater?
- É tudo o que eu mais quero - ela admitiu.
Ele a encarou. Sentiu uma necessidade enorme de abraçá-la, de beijá-la. Seu coração quase tinha saído pela boca quando viu ela entre as mulheres. Ela não deveria estar ali. O plano não era aquele, mas como diabos teria adivinhado que a mulher que ele mais amava estaria ali?
Os outros não poderiam descobrir sobre ela, ou as coisas sairiam do controle. E seria uma coisa irreversível, algo que não poderia suportar.
Ele a soltou.
se afastou o máximo que pôde dele.
- Você precisa acabar com isso - ela disse.
já esperava algo do tipo. Ele suspirou e trancou a porta atrás de si, girando a chave. Deixou sua arma em cima de alguma mesa que tinha ali e relaxou os ombros. Os outros lá fora só precisavam descobrir onde estava o cofre e qual era a senha dele, e então, poderiam dar o fora dali. Mas o dono da casa não estava colaborando muito.
Naquele meio tempo, garantiria a segurança dela.
- Não é tão simples assim - respondeu.
virou-se para ele. Estudou o rosto dele com cuidado e balançou a cabeça em negação.
- Quantas vezes? - indagou.
crispou os lábios, mas não respondeu.
- Meu Deus, - murmurou, caindo sentada em uma poltrona. - Você podia… podia ter conversado comigo.
- Eu não queria sua ajuda - ele declarou. - Tampouco a sua pena.
- Eu era a sua melhor amiga - começou a dizer. - Te amei mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Pena era a última coisa que você receberia de mim.
Amei. se fixou àquela palavra, no verbo passado. Sentiu-se enjoado, como se o fato dela não amá-lo mais doesse mais do que qualquer coisa. Seu coração ainda era dela, sempre seria, mas não tinha mais como oferecê-lo.
- Sua carreira começou a tomar forma - explicou. - Você começou a ficar famosa, conhecida demais. Eu estava orgulhoso que algum de nós conseguiu isso e não poderia chegar para destruir tudo o que você construiu, . Porque é isso que eu faço.
A dançarina esfregou o rosto com as duas mãos, pouco se importando com a maquiagem naquele momento. De todas as situações que esperava encontrar aquele homem, o homem que tinha o seu coração, aquela não era uma delas. Nem sequer era sua última opção.
- Eu odeio o que você está fazendo com a sua vida - desabafou. - Eu amo a minha carreira, amo a minha vida. Mas às vezes, me pego olhando para trás, quando eu tinha oito anos e sou infeliz. Eu sinto sua falta desde então.
piscou os olhos. Ele não disse nada imediatamente, processando as palavras dela. Andou até a poltrona do outro lado e se sentou, mas não o olhou sequer uma única vez.
- O que eu estou fazendo é…
- Não diga que é por mim - ela interrompeu, balançando a cabeça em negação.
Ele deixou os ombros caírem, derrotados. Culpa estava consumindo-o por inteiro naquele momento. Ele também pensava como tinha chegado ali e em todas as suas escolhas erradas, mas quando lembrava o quão afundado estava e como era tarde demais para voltar atrás, ele seguia indo em frente, seguia cometendo os mesmos erros.
- Eu sinto muito, .
O pesar na voz dele fez ela levantar o rosto para ele. Céus, seis anos depois e ela ainda o amava como nunca. E pela forma que ele a olhava, sabia que ele também a amava. Talvez ainda tivesse alguma influência sobre ele. Poderia tentar acabar com aquela estupidez.
- Acabe com isso - ela implorou. - Por favor, acabe com isso.
O corpo inteiro do homem ficou tenso. Era um pedido e tanto, e ele faria qualquer coisa por ela, mas seus companheiros não gostariam nada da ideia e ele temia que algo acontecesse à .
Ele engoliu a seco.
- Não posso.
sentiu a irritação tomar conta de si.
- Então me coloque com as outras - mandou. Ela levantou e andou até a porta, mas a impediu de abrir. - Agora.
- Também não posso, - ele disse.
afastou-a da porta. Tirou a chave e colocou no próprio bolso, impedindo que ela quisesse sair mais uma vez. Ele jamais deixaria-a junto aos outros reféns como pessoas tão instáveis quanto os outros assaltantes.
voltou a se sentar na mesma poltrona de antes. continuou encostado na porta e a dançarina sentiu-se péssima ao se dar conta de que ainda se sentia segura com ele.
Havia outras mulheres lá fora, com medo, passando pelo que poderia ser o pior momento de suas vidas. Joana estava lá.
- Isso é um erro - murmurou.
- Vai acabar em breve - ele prometeu.
Um silêncio se instalou entre eles. No segundo seguinte, se assustou com um barulho de tiro vindo do lado de fora. Ela levantou e correu até , que não se abalou.
- Me deixa sair! - gritou, mas ele não movia um músculo para fora do lugar. - Tem alguma coisa acontecendo lá fora, você não se importa?!
Ele segurou-a nos braços quando ela parecia que ia cair. Sentiu-se o pior ser humano do mundo quando a escutou chorar baixinho, agarrado a ele.
- Acabe com isso - ela continuou implorando. - Por favor, , acabe com isso.
O som de sirenes tomou conta do local. afastou-se dele e correu até as janelas, olhando do lado de fora, observando a rua se encher de policiais. parou ao lado dela e seu rosto ficou pálido.
agarrou ele pelo braço e o puxou para longe da janela. Limpou as próprias lágrimas e segurou o rosto dele com as duas mãos, obrigando-o a encarar ela.
- Você foi meu melhor amigo a vida inteira - começou. - Foi meu primeiro amor, meu primeiro amante. Você é um idiota e comete muitos erros, mas esse, , é o pior de todos eles. Eu não sei porquê você está fazendo isso e nem como chegou até aqui - continuou, sentindo a voz embargada. Alguma coisa acontecia lá fora. - Queria que pudesse ter contado comigo. Queria que não estivéssemos aqui. Mas você pode acabar com isso agora, pode me tirar daqui, pode salvar os outros reféns. Por favor, se entregue, .
A cor tinha voltado ao seu rosto. Sentir o toque delicado dela ainda era a mesma sensação e seu coração palpitava tão forte contra o seu peito que ele achou que não fosse sobreviver. Encarando-a tão de perto, vendo-a implorar para ele acabar com aquilo, fez seu peito doer. Ele era o responsável por ela estar ali. faria qualquer coisa, se isso significasse que ela fosse mantida em segurança, sempre.
Mas não havia segurança ali. E se algo acontecesse com ela, seria única e exclusivamente culpa dele.
- Você ainda me ama? - ele sussurrou.
piscou os olhos. Pela primeira vez em seis anos, juntou seus lábios nos dele, em um beijo rápido e se afastou.
- Eu ainda te amo - admitiu.
Então não se importava com mais nada.
Acabaria com aquilo.

pediu que ficasse o tempo todo atrás dele.
Seu corpo inteiro estava tenso e nervoso e ele sabia que nada de bom sairia dali. Tinham escapado da polícia antes, mas agora era diferente. Havia muitos deles cercados pela casa toda e sabia, por algum motivo, que não conseguiria escapar daquela vez. Então atenderia o pedido de .
Seu maior arrependimento seria aquele. Que ela o tivesse visto fazendo aquilo.
- Vamos - ele disse.
O homem abriu a porta devagar, olhando o corredor, que estava vazio. Ele podia ouvir vozes vindo de algum lugar, uma gritaria constante, enquanto as sirenes ainda soavam. estava atrás dele, como tinha prometido que ficaria e o seguia a cada passo lento e cuidadoso. Ela queria acabar com aquilo de uma vez, mas não dava para simplesmente sair pela porta e se entregar. Havia mais três deles ali e ela temia por outros reféns. E por Joana. Não deixaria sua amiga ali.
seguiu direto para o centro da discussão. Estavam no que parecia uma sala de jantar secundária e privada, as mulheres sentadas no chão, enquanto dois dos assaltantes discutiam um com o outro. O terceiro não estava ali. Ele deveria estar com o restante dos reféns, pensou .
- O que está acontecendo aqui? - questionou, entrando na sala.
prendeu a respiração, ainda escondida atrás dele.
- Esse idiota aqui quer abrir fogo contra os policiais - o primeiro apontou para o segundo, que tinha uma expressão raivosa. - Pode dizer para ele que isso é uma tamanha burrice? Estamos cercados!
- Como conseguiram chamar a polícia, cara? - o segundo indagou, nervoso. - Não vou para a cadeia de novo.
observou em silêncio. Abriu a boca para dizer algo, mesmo que fosse a coisa errada naquele momento, mas não tinha como voltar atrás.
- Deveríamos nos entregar - ele anunciou. - Não vamos sair vivos daqui.
- Você ficou maluco?! - o segundo explodiu.
percebeu que ele era o mais instável de todos. Nervosa, ela olhou as mulheres encolhidas e segurou o braço de com força. Se soubesse rezar, estaria fazendo exatamente aquilo no momento.
- Você deveria considerar, cara - tentou. - Cadê o J?
- Provavelmente fodendo o diretor - o outro respondeu, com raiva. - Se ele tivesse conseguido a senha do cofre desde o começo, já teríamos dado o fora daqui.
O som das sirenes aumentaram. Ninguém sabia como a polícia tinha sido acionada, mas aquilo não era mais um problema. Se livrar da emboscada era a prioridade.
- … - sussurrou.
Mas se calou no momento em que ouviu uma voz soar alta do lado de fora, provavelmente vindo de um auto falante.
- Atenção! Aqui é o Departamento de Polícia da Califórnia, vocês estão cercados - a voz disse. - Para evitar maiores tragédias, é melhor se entregarem.
- Vou me entregar - avisou. - E vocês vão soltar os reféns.
O primeiro assaltante, que até então estava mais calmo que o segundo, olhou para como se ele fosse louco.
- Eu também não vou para a cadeia, H - ele disse. - T?
O segundo, que descobriu se chamar T, ainda estava prestes a explodir de raiva.
- Tô com você, cara - T respondeu.
engoliu a seco. Aquilo não daria certo. Ele sentiu o aperto leve da mão de em seu braço e encarou os dois na sua frente.
- G, você sabe que não tem saída - tentou com o primeiro. - Não é como em Denver.
A dançarina sentiu que iria vomitar. Ela desconfiava que não fosse a primeira vez de naquilo, mas vê-lo admitir que existiu outras vezes deixou-a nauseada.
- O que está acontecendo com você? - G indagou. Pela primeira vez, pareceu notar atrás dele. - Você só passou alguns minutos com essa vadia aí e volta querendo desistir?
- Não fale dela - alertou. Por precaução, segurou mais firme o cano da arma. - Eu te disse que esse seria meu último jogo. E não vou sair daqui carregado em um saco.
gritou.
se virou na direção dela somente para descobrir que J tinha a puxado para si. T era muito explosivo, mas J beirava a psicopatia. temeu.
- Ninguém vai se entregar aqui - ele avisou, ainda segurando pela raiz do cabelo dela com força. Ele ainda segurava uma arma carregada na outra mão. - As grades não são uma opção.
- Cadê o diretor? - G indagou.
J deu uma risada lunática. Ele apontou a arma para todo mundo ali e as mulheres se encolheram.
- Morto - confessou. Os reféns exclamaram, assustados. - Ele não queria dar a senha e estamos sem tempo. E como eu gosto de perfurar bala em carne humana…
- Não, cara! - G exclamou. - Nós dissemos “sem mortes!”, porra!
- Isso foi antes da polícia nos cercar! - J gritou, descontrolado.
Ele não gostava quando as coisas saiam do controle.
- Solte ela, J - pediu, alerta.
gemeu de dor.
J olhou para ele com desdém. Apontou a arma para e ela ouviu Joana arfar.
- Acha que não sei quem é ela, H? - J cuspiu as palavras. Passou o cano da arma na bochecha de , que continuava encarando . - Vi uma foto dela que você carrega e olha toda noite antes de dormir. É uma enorme coincidência você querer se entregar tão rápido quando ela está aqui, não é?
- Você está perdendo o controle - observou.
Ele tinha que ser cauteloso. Se J tinha mesmo matado o diretor - e ele não duvidava disso -, era sinal que J estava ainda mais instável do que não estivera antes. Era muito perigoso desafiá-lo.
- Não, estou perfeitamente no controle - J debochou. Em seguida, apontou para um dos outros. - T, vá verificar os outros reféns. Eles estão trancados na área externa.
T hesitou, mas no fim, acabou indo. G e H trocaram um olhar, mas não havia cumplicidade entre o gesto. estava sozinho naquilo, afinal. Era o único disposto a arriscar a própria vida para tirar dali a salvo. De tudo.
- J - ele tentou mais uma vez, uma mão fechada em punho e a outra no cano da arma. chorava baixinho. - Solte ela.
J riu.
- Quantas vezes você fodeu ela, H? - ele indagou, usando um tom muito nojento. - Estou tentado a experimentar o feitiço que ela colocou em você.
ainda chorava, mas se irritou com o comentário a ponto de chutá-lo com a perna. Não tinha sido um chute muito eficiente, mas distraiu J o suficiente para usar a arma e atirar na perna direita dele, onde não atingia a dançarina.
Ela abafou um grito e quando J a soltou, correu até . G se exaltou, o outro xingava em alto e bom som segurando a perna, caído no chão. foi rápido e esperto o suficiente para tomar a arma de J, tirando-a dele. Apontou para G.
- Prenda ele.
G abriu a boca para dizer que não iria fazer aquilo, mas quando também apontou a arma para ele, ele obedeceu.
observou quando G puxou as duas mãos de J para trás e os prendia com as algemas que eles tinham roubado.
- E agora? - G questionou.
- Agora, cara, nós vamos libertar os reféns e nos entregar - avisou . - Ou vamos acabar como ele. E acredite quando eu digo, é uma opção muito pior.
G engoliu a seco, sentindo que não tinha muita escolha entre um ruim e um pior. Ele assentiu e começou a mandar as mulheres levantarem do chão para segui-los até a saída.
- … - chamou, pressionando a parte fina da camisa dele. - Eu não queria…
- Shh - ele sussurrou, balançando a cabeça em negação. Segurou o rosto dela com uma mão e acariciou a bochecha dela levemente. - Eu faria tudo por você, . Agora, vamos acabar com isso.
A dançarina sentiu o coração pequeno demais dentro de si, mas assentiu. Ela foi na frente com ele e G, enquanto as outras mulheres reféns vinham atrás. Eles pararam de andar por um momento, se deparando com T vindo com o restante dos reféns.
- O que está acontecendo? Cadê o J? - indagou, furioso.
- Deixado para trás - respondeu. - Se entregue conosco, T.
T olhou em volta e então riu. Parecia o riso de um lunático.
- Eu te disse, cara, não vou para a cadeia de novo - ele respondeu. - E também não vou deixar vocês fazerem isso.
teria dito depois que tudo aconteceu muito rápido. Ela não saberia descrever com clareza a dor que sentiu quando uma bala atingiu a parte direita da sua cintura, bem abaixo da barriga. Todo mundo só tinha percebido que o tiro ecoado por T tinha atingido ela quando o corpo dela caiu no chão, ao mesmo tempo que o dele, porque tentou impedir ele de atirar primeiro, mas falhou.
- ! - o homem exclamou.
Ele caiu de joelhos ao lado dela. gemia de dor, com as mãos ensanguentadas na ferida. Ele a segurou em seus braços e ela tossiu de esforço.
-
- Não, não fale - ele pediu. - Vou tirá-la daqui. Não vou deixar você morrer, entendeu? Isso é tudo culpa minha.
Ela não conseguia abrir a boca para dizer mais nada. Seu corpo inteiro doía e ela sentia o sangue encher as suas mãos, sem força para pressionar a ferida. levantou-a no colo e andou correndo pelos corredores. As sirenes da polícia estavam cada vez mais altas agora e ela fechou os olhos por alguns segundos quando o vento gélido do lado de fora soprou contra o seu rosto.
- Não atirem! - ela ouviu gritar. - Não atirem! Eu me entrego, mas por favor, salvem ela.
A voz dele estava embargada e quando abriu os olhos novamente, viu lágrimas de culpa descer pelas bochechas dele. Ela queria poder dizer que estava tudo bem, limpar as lágrimas dele, mas não conseguia. Em menos de alguns segundos depois, seu corpo estava fora do colo dele. agora estava em uma maca, cercada de paramédicos. Ela começou a resmungar coisas sem sentido, mas quando olhou para trás, o mínimo esforço fazendo todo seu corpo doer, ela assistiu os policiais prenderem seu melhor amigo de infância, primeiro amor da adolescência e amante da sua vida adulta.
Antes de perder a consciência, assistiu os reféns saírem correndo da casa, assistiu ser levado.
Ele tinha feito uma escolha errada. Agora, pagaria por ela.


Epílogo

Alguns anos depois, voltou para Califórnia, mesmo que tivesse pedido que ela não voltasse.
Ela olhou para a própria roupa, verificando se não havia nada fora do lugar, mas sabia que só estava inquieta porque estava nervosa. Fazia quase uma hora que estava do lado de fora da penitenciária e ela ainda não tinha saído.
Desde aquela primeira visita, anos atrás, não tinha mais estado ali. Não pisara na Califórnia por um bom tempo, mas descobriu que ele iria ser solto. A pena de tinha sido diminuída por bom comportamento e ela queria estar lá para recebê-lo de volta.
A dançarina respirou profundamente. Encostada no capô do carro, de braços cruzados, ela levantou os olhos quando ouviu um barulho de portão sendo aberto. Observou três pessoas saindo juntas e demorou a reconhecer . Ele estava diferente. A barba estava por fazer e seu cabelo estava mais curto do que o normal, meio descolorido. Estava mais magro do que antes e tinha mais ossos do que carne. Ela observou os três homens se despedirem, notando que ele ainda não tinha percebido a presença dela ali.
De repente, não tinha mais certeza de sua decisão. E se ele não a quisesse ali? Ele tinha sido tão decidido quando mandou ela não visitá-lo mais.
Ela olhou ao redor, por puro costume, verificando se não havia nenhum paparazzi por ali. Depois do que tinha acontecido e com a morte do diretor, sua carreira ganhou mais forças ainda e ela recebeu diversos convites para ser a dançarina principal de diversos grupos e peças. Pela primeira vez, ela não se importou que aquela parte da sua vida pessoal fosse ser noticiada. era importante para ela, apesar de tudo.
Seu coração sempre tinha sido dele.
descruzou os braços no momento em que ele a viu. Um sorriso lento nasceu nos lábios dela, em contraste com o choque que nascia no rosto dele. segurou a bolsa sob o seu ombro e se aproximou dela em passos rápidos. Não havia nada em sua expressão que indicasse que ele estava furioso por encontrá-la ali. Na verdade, se bem o conhecia ainda, ele parecia quase aliviado de ver um rosto conhecido, finalmente.
- ? - seu sussurro era rouco e dolorido.
- Oi, .
Ele piscou os olhos e ela o abraçou de surpresa. Os braços dele rodearam a cintura dela, puxando-a mais para perto de si. enterrou o rosto na curva do pescoço dele, os braços em volta de sua nuca. inspirou o cheiro dela, que era o mesmo de sempre, desde que a tinha conhecido.
- O que está fazendo aqui? - ele murmurou, ainda sem soltá-la.
não respondeu de imediato. Ela aproveitou mais um pouco seu corpo junto ao dele e se afastou em seguida, somente para olhá-lo de perto. Ele não parecia disposto a largá-la tão cedo.
- Resolvi não atender o seu pedido - ela respondeu. - Vim levá-lo para casa.
Ele franziu o cenho.
- Não sei se tenho bem uma casa - confessou.
Ela sorriu. Um sorriso alegre, satisfeito, feliz.
Tinha esperado anos por aquele momento. E, enquanto ele insistia em não querer vê-la nas visitas, ela resolveu ajudá-lo de outra maneira. Procurou a sua família e entendeu em partes porque ele tinha escolhido o caminho errado, considerando mais fácil.
descobriu que seu pai adotivo era alcoólatra e batia na sua mãe, nele e em seu irmão mais novo. E depois da morte dele, descobriu que o desgraçado tinha perdido todo o dinheiro em jogos e bebidas, apostando até a casa. Eles tinham perdido tudo e sua família estava morando na rua.
Foi quando conheceu as amizades erradas, e quando realizou o primeiro assalto, a primeira coisa que tinha feito com o dinheiro foi colocar a mãe e o irmão em uma pensão, prometendo que eles teriam uma casa novamente. Mas então ele tinha sido preso antes de realizar isso. fizera questão de presentear a mãe dele com uma casa no norte da Califórnia, arrumara um emprego para ela em uma companhia de teatro como faxineira e tinha se certificado que o irmão mais novo estivesse estudando.
contou tudo isso a .
- Hoje é o primeiro dia de faculdade do seu irmão - ela acrescentou.
Os olhos de brilharam devido às lágrimas. Ele não estava acreditando que aquela mulher na sua frente tinha feito tudo aquilo por ele. não sentia que a merecia.
- O que ele está estudando? - ele indagou, tentando controlar a voz embargada.
Ela beijou a bochecha dele e limpou as suas primeiras lágrimas.
- Ora, - ela brincou. - Ele é seu irmão.
Ele soltou uma risada. Nunca se sentia tão leve com qualquer outra pessoa, senão com ela.
- Ele escolheu Direito, não é? - questionou.
lembrava do dia da audiência, quando estava sendo levado depois que sua sentença foi comunicada. Seu irmão segurou o braço dele com tanta força e prometeu que se tornaria um advogado melhor do que aquele que lhe foi designado, porque segundo o mais novo, ele não tinha feito esforço algum para melhorar a situação de .
- , eu não mereço você - ele começou a dizer. - Estou grato e vou ser grato pelo resto da minha vida inteira por você ter cuidado da minha família. E sinceramente, não sei como te retribuir.
Ela balançou a cabeça. Respirou fundo e encarou-o nos olhos.
- Você me merece, sim - a dançarina retrucou. - E você pode me retribuir prometendo que irá fazer escolhas certas, daqui em diante.
- Fácil demais - ele sorriu.
Era algo que eles tinham desde crianças. Quando precisavam prometer algo um ao outro, nunca era um “eu prometo”, mas um “fácil demais”, como se explicasse que promessa nenhuma era difícil de ser mantida, se fosse um para o outro.
- ? - daquela vez, porém, ela não se contentou.
Ele revirou os olhos, divertido. Seu coração estava cheio de gratidão e amor. Talvez um pouco de esperança.
- Eu prometo - ele sussurrou.
Os dois selaram os lábios em um beijo rápido e deixou ela se afastar daquela vez.
- Venha - ela chamou. - Vou te levar para ver seu irmão. Prometi uma surpresa.
Ele concordou e ambos entraram no carro.
ainda não gostava da Califórnia, mas silenciosamente reprimiu os seus sentimentos negativos quanto ao lugar. Estava feliz de estar ali.
E, silenciosamente também, prometeu que aquele era o primeiro dia do melhor da sua vida.
- ? - ela chamou, mantendo os olhos na estrada, enquanto dirigia. Ele resmungou uma resposta, incentivando-a a continuar. - Você estava errado antes. Você ainda é bom para mim.
Ele sorriu.
Sim. Definitivamente, o primeiro melhor dia da sua vida.


Fim



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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