Última atualização: 03/01/2021

Capítulo Único

Morar em uma cidade pequena significava que seu círculo social inteiro estava condicionado a ser sempre o mesmo, independente dos locais que você frequentasse ou das coisas que gostasse de fazer em seu tempo livre. Portanto, quando o verão chegava só havia uma coisa que todos os adolescentes da região queriam: festa. Não que eu não gostasse de festas, mas esta em específico eu não estava nem um pouco a fim de ir.
Fazia pouco mais de uma semana que havia terminado meu primeiro namoro. Não foi nada trágico, apenas mais um drama adolescente. Após descobrir que minha namorada tinha me chifrado um sem número de vezes com um cara gostosão da academia onde treinava, decidi que era hora de encerrar com o que restava do nosso relacionamento.
E, obviamente, como uma desgraça não pode acontecer sem trazer companhia, meus amigos se deram conta de que eu era o último virgem do grupo. Tinham depositado todas as expectativas de que namorando eu daria um jeito de perder a virgindade o mais rápido possível, o que, no fim das contas, não foi o que aconteceu.
Enfim, tudo isso nos levava ao momento em que meus amigos, de tanto insistirem, me arrastaram de casa até a tal festa. Não sabia quem era o anfitrião e também pouco importava, visto que só ficaria tempo suficiente para todos se embebedassem e eu poder ir embora tranquilamente sem ser questionado ou barrado.
Passei boa parte do tempo sentado no sofá, tomando refrigerante e vendo as interações sociais acontecerem entre todos. Só queria levantar e ir embora sem que meus amigos dessem falta de mim. Até que Chris, um dos meus melhores amigos sentou-se ao meu lado.
― Você certamente é a única pessoa que não tá se divertindo.
― Pra começo de conversa, eu não queria nem ter vindo.
― E passar outro sábado à noite em casa, remoendo tudo o que aconteceu? Qual é, cara. ― deu um soquinho no meu braço. ― A noite pode te reservar inúmeras surpresas. ― arqueou as sobrancelhas com um sorriso sugestivo estampando o rosto.
― Por que tenho a impressão de que não fui arrastado pra essa festa só pra ficar entediado em um lugar diferente? ― semicerrei o olhar em sua direção.
― Isso é você quem tá dizendo. ― riu. ― Aliás, você não falou mais com ela? ― sim, Chris estava falando sobre minha ex-namorada e não sei como ele esperava animar a pessoa mais desanimada da festa com um assunto desses.
― Tô agradecendo ao universo que ela não veio hoje. ― e, como se o universo quisesse tirar uma com a minha cara, cerca de dois minutos depois, Sara entrou pela porta da frente acompanhada de seu comedor de batata doce ambulante.
― Parece que hoje não é mesmo o seu dia de sorte, hein? ― Chris apertou meu ombro.
― Eu vou pra rua.
― Você é quem sabe. ― ergueu as mãos como se estivesse se rendendo. Levantei-me e saí pela porta que dava para o quintal nos fundos.
Boa parte dos presentes já estava chapado ou bêbado demais ― ou as duas coisas ― para se importar com quem estava ao redor vendo todas as vergonhas alheias produzidas por metro quadrado. Atravessei o quintal, desviando de todos os corpos dançantes e dos copos cheios de álcool, chegando até o outro lado, onde havia uma enorme piscina. Por algum motivo, ninguém havia tido a ideia de se jogar lá, talvez ainda estivesse muito cedo para isso.
Fixei a visão em um ponto, nada de específico, deixando minha mente divagar um pouco.
― Deve ser interessantíssimo tentar jogar sete erros com essas casas todas iguais. ― uma voz rouca desconhecida soou ao meu lado.
Voltei meus olhos naquela direção e quase congelei.
Era uma mulher alta, cabelos longos encaracolados e castanhos, usando um vestido curto colado ao corpo e que eu tinha certeza absoluta que nunca tinha visto na minha vida. O olhar voltado para o além, suas mãos tateavam os bolsos de seu casaco peluciado, como se buscassem por algo extremamente necessário. Quando achou, pude ver que era um maço de cigarros, de onde tirou um tabaco e o isqueiro.
Apontou o fumo para mim, me oferecendo. Agradeci com um aceno de cabeça, olhando-a. Ela era muito bonita e, apesar da expressão cansada, não parecia ser muito mais velha que eu.
― Espero que esteja apreciando a paisagem. ― disse após a primeira tragada em seu cigarro aceso. Um meio sorriso tomou conta de seus lábios ao me olhar. ― Você é bem mais gracinha do que me disseram.
― Quem disse? ― semicerrei os olhos.
― Alguns amigos em comum. Quer dar uma volta? ― assenti, pensando que talvez ela apenas estivesse tentando mudar o foco da conversa.
Caminhamos rumo a calçada em frente a casa, tomando uma direção qualquer que nos levasse a algum lugar.
― Qual seu nome? ― questionou, entre uma baforada e outro.
. E o seu?
.
― Como se escreve?
― Do mesmo jeito que se fala. ― rimos.
― Engraçadinha.
― Significa ‘reluzente’, ‘resplandecente’.
― É bonito.
― É estranho. Mas obrigada. ― sorriu. ― E então, você parecia desanimado lá.
― Bom, eu não queria estar lá.
― Semana difícil?
― Muito. E eu só queria que meus amigos entendessem isso.
― Talvez eles entendam. Só queriam te fazer se sentir melhor. ― deu de ombros.
― Não funcionou. ― dei de ombros. ― Eu só queria, sei lá, ficar na minha.
― Se quiser, podemos seguir caminhos diferentes agora. Você já saiu de lá, acompanhado de uma garota, ou seja, eles vão pensar que você tinha algo melhor do que ficar esbarrando em um monte de adolescentes que não deveriam ter bebido o quanto beberam ou usado coisas que eles nem mesmo sabem nomear.
― Não, tá tudo bem. Só não queria continuar lá. Minha pressão já estava começando a baixar com toda aquela fumaça.
― Você não tem cara de quem tem amigo maconheiro mesmo.― rimos.
― Onde estamos indo?
― Onde você quiser. Era você quem queria sair de lá.
― Podemos só caminhar?
― Claro.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. com o cigarro na boca, preso entre seus lábios, ajeitava a gola do casaco. A brisa gélida facilmente bagunçava qualquer roupa aberta. Pela primeira vez, achei que deveria impressionar uma pessoa do sexo oposto, por isso, me segurei para não tremer de frio. Como quase sempre acontecia, o tempo virou e meu casaco extra ficou no guarda-roupa com as portas escancaradas, apenas me olhando ir embora sem trazê-lo.
― Você namora? ― soltou despretensiosamente.
― Não. ― não pude evitar lembrar de Sara e seu peito de frango cozido com batata doce em forma de homem.
― Namorava recentemente?
― Como sabe? ― franzi as sobrancelhas.
― Você fez um olhar de quem lembrou de alguém quando respondeu.
― Existe esse olhar?
― Tem muitas coisas que existem e que as pessoas não fazem ideia. ― sorriu.
apagou o cigarro na sola da sandália que usava e jogou a bituca na primeira lixeira que viu à nossa frente.
― Se importa se sentarmos um pouco? Estou um pouco cansada. ― indicou uma escadaria de uma catedral do outro lado da rua.
Não havia percebido, mas já estávamos nos limites entre um bairro e outro, sendo assim, caminhamos muito mais do percebemos.
Atravessamos a rua, sentando-nos lado a lado na escadaria. Tirei meu celular do bolso só para constatar que estava sem bateria e teria que voltar andando para casa, mesmo que isso significasse quase cinco quilômetros à pé, já que não teria como pedir um uber e muito menos pegar um ônibus, pois não haveriam horários antes das 07h da manhã.
― Me conte sobre como era a pessoa que te fez dar aquele olhar. ― apoiou o rosto em uma das mãos.
― Namoramos por quase dois anos até eu descobrir que minhas caspas de inverno na realidade eram meus chifres em pó. ― debochei, fazendo-a rir baixinho.
― Ela te traiu?
― É. E agora namora com um marombeiro qualquer.
― Você ainda a ama, né? ― dei de ombros. ― Você gostaria de voltar com ela?
― Acho que não quero mais estar com alguém que não quer estar comigo.
― Faz bem em pensar assim. ― pôs a mão sobre meu ombro, pressionando-o levemente.
― E você? Até agora só eu falei de mim.
― Não costumo falar de mim para caras estranhos.
― Bom, respondi todas as suas perguntas. Acho que não posso mais ser considerado um estranho, né? ― cruzei os braços à frente do meu peito, tentando me manter aquecido enquanto fingia que aquela era só a posição de um cara maneiro.
― É, você tá certo. Faça as perguntas, então.
― Você namora?
― Não.
― Você tem quantos anos?
― Sabia que não é educado ficar perguntando a idade de uma mulher? ― sua voz parecia irônica, porém sua expressão facial era séria, então, não soube exatamente como interpretar.
Provavelmente, ela vira minha feição confusa, pois começou a gargalhar repentinamente enquanto me olhava.
― Você não tem 18, né? ― seus dedos remexiam novamente na caixa de cigarros, em busca de mais um. Quando conseguiu tirá-lo, pôs entre os lábios para acendê-lo.
― Tenho 16.
― Você tem cara de bebê. ― deu a primeira tragada. ― Isso é um elogio, tá? ― sorriu.
― Obrigado… eu acho.
me encarava como se fosse descobrir o mais obscuro dos meus segredos ― algo que não existia ― se não tirasse os olhos de mim em breve. Seus olhos eram grandes e expressivos. Olhos de quem já tinha visto muito e vivido muito. A maquiagem preta borrada lhe acrescentava um charme misterioso, quase cinematográfico à sua figura.
― Você não respondeu minha pergunta.
― Eu não disse que responderia todas. ― sorriu.
― Você trabalha?
― Sim.
― Com o que? ― deu de ombros. ― Que pergunta você vai me responder, então? ― tragou seu tabaco em silêncio, desviando o olhar para a rua à nossa frente.
― Você ainda tá no ensino médio?
― Sim. Mas o que tem a ver? ― ri nervoso.
― Nada. ― riu, soltando a fumaça lentamente entre seus lábios. ― Sabe, olhando pra você, fiquei pensando que tipo de pessoa é a sua ex.
― O tipo que não me ama mais. ― dei uma risada sem humor. ― Não a culpo por isso, só queria que tivesse me dito antes.
― Geralmente, a pessoa mais interessada é a última a saber.
― Você já foi traída?
― Se você não for monogâmico, o chifre não existe. ― piscou, sorrindo em seguida.
― Nunca pensei por esse ângulo. Mas também não sei se conseguiria.
― A propriedade sobre outra pessoa foi algo criado com o capitalismo e o patriarcado, ou seja… ― deixou no ar.
― Deveria ser abolido? ― completei.
― Exato, garoto. ― deu tapinhas em meu ombro.
Após algumas tragadas caladas, fixou o olhar na rua à nossa frente. Seus olhos pareciam esvaziados de expressão e de emoções. Seus cabelos esvoaçavam ao vento, cada vez mais gelado.
― Você já teve a sensação de não saber muito bem o que está fazendo com a sua vida? ― questionei, olhando para o mesmo ponto que ela.
― Todos os dias, a todo momento. ― sorriu amargamente.
― Às vezes, quando acordo, tenho a impressão de estar vivendo a vida que outra pessoa construiu para mim, com os amigos que esta pessoa designou, com um destino já traçado, entende?
― Quando senti que estava acontecendo comigo, resolvi tomar as rédeas da minha própria vida. ― aspirou a fumaça do tabaco pela última vez antes e apagá-lo no degrau em que estava sentada.
― Como se faz isso?
― Primeiro: você precisa de grana. O resto se ajeita. ― deu de ombros.
De repente, como se levasse um soco, lembrei do que Chris me dissera ao se sentar do meu lado na festa. “A noite pode te reservar inúmeras surpresas.”
Minha cabeça começou a repassar todas as vezes que meus amigos haviam agido estranho ao longo da semana, a forma como paravam de falar quando eu chegava perto deles, como se estivessem tramando algo. Muito rápido, meus pensamentos correram para um tempo mais distante, mais especificamente quando Chris, Jeff e Jonas descobriram que eu ainda era virgem, mesmo tendo namorado durante dois anos.
? ― chacoalhei a cabeça, tentando voltar a realidade, onde toda aquela noite parecia uma mentira.
― Hm?
― Se importa se eu te fizer uma última pergunta?
― Pode fazer, se eu vou responder, é outra situação. ― virou-se para mim com um sorriso brincalhão estampado no rosto.
― Você por acaso é… você trabalha como… ― revirei minha mente atrás de um eufemismo para o que queria dizer, afinal, se eu estivesse errado, ela poderia ficar ofendida. ― Você é… acompanhante? ― depois de alguns segundos me encarando seriamente, explodiu em gargalhadas.
Apesar de preocupado com sua reação, não pude evitar pensar que sua risada era um dos sons mais agradáveis que ouvi na minha vida.
― Você quer dizer prostituta? ― corrigiu assim que seu ataque de riso deu uma trégua. Não sabia se deveria afirmar ou apenas deixar o assunto morrer, no entanto, me traindo, minha cabeça se moveu, confirmando o que ela perguntara. ― Sim, eu sou. Achei que você nunca ia perceber. ― deu, novamente, uma sequência de tapinhas nas minhas costas.
― E o fato de estarmos aqui agora não é mera coincidência, é? ― meneou a cabeça, negando e tudo dentro da minha cabeça se encaixou.
― Pediram para eu não te contar, mas você descobriu. Então, não há muito que eu possa fazer.
― Foi o Chris, Jeff ou Jonas que te contratou?
― Na verdade, foram os três. Me contaram sobre o seu término e como eles queriam te consolar. Me garantiram que você tinha 18 anos, mas, quando botei os olhos em você, tive certeza que não e você me confirmou. ― contou e tudo que sentia naquele instante era um misto de raiva com frustração. Por um breve momento, hesitei fazer aquela pergunta, tentando convencer a mim mesmo de que tudo não passava de algo que só existia na minha cabeça.
Ficamos calados por alguns minutos.
Podia sentir os olhos de sobre mim.
― Sabe que eles fizeram isso porque se importam com você, né?
― Se fosse verdade, eles saberiam que não era preciso te contratar. ― com uma feição de compreensão, concordou.
Mais alguns instantes quietos.
Minha cabeça era um turbilhão. Só conseguia pensar no quão burro havia sido para não ter percebido antes o que eles estavam aprontando pelas minhas costas. O que me deixava furioso não era o fato de terem contratado uma prostituta e, sim, de não terem percebido que talvez, só talvez eu ainda fosse virgem porque não me sentia seguro para tocar uma garota dessa forma. Ou me deixar ser tocado dessa forma.
― Você vai querer a grana de volta? ― interrompeu minha linha de raciocínio.
Meneei a cabeça negativamente.
― Esse dinheiro não é meu, então, pode ficar.
― Se é assim, então, vamos. ― levantou-se em um pulo, estendendo a mão para mim.
― Pra onde?
― Você vai ver. ― hesitante, agarrei sua mão, levantando-me do degrau onde estava sentado.
Voltamos a caminhar por mais alguns quarteirões.
Baixinho, entre uma tragada e outra no que parecia ser seu terceiro cigarro, cantarolava All my friends, do LCD Soundsystem. Senti-a esbarrar seu ombro no meu, provocando-me a cantar com ela.
‘And so it starts; you switch the engine on; we set controls for the heart of the sun; one of the ways we show our age’. ― cantei desafinado.
‘You spent the first five years trying to get with the plan; and the next five years; trying to be with your friends again’. ― praticamente gritou a letra, pulando uma parte.
me deu uma cotovelada de leve para que cantássemos juntos:
‘You're talking forty-five turns just as fast as you can; yeah, I know it gets tired, but it's better when we pretend’. ― cantei um pouco mais alto, vendo-a rodopiar em uma placa de pare à minha frente. Ri com a visão.
Parando na entrada de uma ruela, a garota, outra vez, apagou o cigarro no solado de sua sandália, jogando-o na calçada e fazendo um gesto para que eu a seguisse. Entramos em um local que se parecia muito com um pequeno hotel e, por um segundo, tive medo do que estava prestes a acontecer.
Observando-a um pouco de longe, a vi trocar meia dúzia de palavras com a mulher na recepção do prédio, que me olhou dos pés a cabeça enquanto escrevia algo em um caderno sobre o balcão. A mulher lhe entregou uma chave e minha “acompanhante” gesticulou para que eu a seguisse mais uma vez.
Escada acima, paramos em frente a segunda porta à esquerda em um longo corredor do primeiro andar. Após abrir a porta, a primeira coisa que fez foi se sentar na beirada da cama para tirar as sandálias. Tirou o casaco de pelos, jogando-o no chão e deixou seu tronco cair para trás na cama.
― Era o que as minhas costas precisavam, mesmo que por só cinco minutos. ― soltou as palavras acompanhadas de um suspiro muito parecido com um gemido.
Ainda de pé, não me sentia à vontade de estar em sua companhia em um quarto, com a porta fechada, pois não tinha a menor intenção de…
? ― chamei-a bem baixinho, quase miando.
― Hm?
― Nós não vamos… ― não consegui terminar a frase.
A garota levantou-se da cama instantaneamente.
― Claro que não. ― deu um sorriso zombeteiro. ― Você não achava que eu ia te abusar ou algo assim, né? ― riu.
― Não… não! Não, que isso. ― me enrolei, fazendo-a rir ainda mais.
, você só tem 16 anos e tem jeito de ainda ser virgem. Não quero ser presa e muito menos interferir em uma decisão que deve ser sua com uma garota que mereça fazer parte desse momento. ― finalizou com um meio sorriso no rosto.
Levantando-se da cama, atravessou o quarto e começou a mexer em um som antigo sobre uma cômoda. Tentando sintonizar em uma rádio local, logo, a melodia e a letra de Lunchbox Friends, de Melanie Martinez começou a soar pelo ambiente, preenchendo o ar ao nosso redor.
Murmurando no ritmo da música, abriu o frigobar do quarto, se apoderando de duas latas de cerveja. Estendeu uma para mim e pensei em recusar, porém a voz na minha cabeça questionou “por que não?” e eu aceitei, abrindo-a e dando o primeiro gole.
Apesar de a letra falar basicamente sobre clichês de “amizades” femininas, não pude evitar pensar naqueles que eu chamava de amigo e como, de alguma forma, aquela atitude deles estava me fazendo repensar nosso relacionamento. Talvez não fôssemos tão amigos quanto imaginava que éramos.
Secando sua lata de cerveja, subiu na cama, pulando como criança e enquanto cantarolava a plenos pulmões:
“I don't want no lunchbox friends, no; I want someone who understands, oh, oh, no; come to my house, let's die together; friendship that would last forever, no’.
Vendo o quanto ela parecia estar se divertindo, deixei minha lata de cerveja de lado, subi na cama para pular e gritar a música com ela.
Ao término da música, nos jogamos na cama, caindo um ao lado do outro, gargalhando com a situação. O som da risada de era contagiante demais para que eu me importasse que, depois do primeiro minuto, já não havia mais um motivo aparente para continuarmos rindo.
Ainda com o som ligado, continuamos ouvindo música e conversando sobre assuntos aleatórios. era um ser extremamente admirável. Muito inteligente, tinha opinião e argumentação para todo e qualquer assunto, desde política até gastronomia. Contemplando-a, só conseguia concluir que gostaria de ser como ela um dia.
Não vimos a hora passar. Quando nos demos conta, o sol já nascia no horizonte, iluminando todo o quarto. Nenhum de nós havia dormido, entretanto, parecia que poderíamos continuar conversando por mais horas a fio.
Calçando suas sandálias e vestindo seu casaco, a garota pediu para que fôssemos embora, pois, se ficássemos mais, teria que pagar uma segunda diária.
Do lado de fora do prédio, andamos lado a lado até o ponto de ônibus mais próximo.
― Você tem dinheiro para ir embora? ― questionou.
― Não, mas eu dou…
― Nada disso. ― interrompeu-me, tirando uma nota de 20 do bolso e estendendo-me. ― Pega.
― Não precisa.
― Anda logo. ― empurrou-a em minha direção e acabei aceitando.
?
― Sim?
― Gostei muito de te conhecer. ― sorriu.
― Também gostei de te conhecer, garoto. ― devolvi o sorriso.
Vendo no horizonte meu ônibus se aproximar, disse:
― Você pode me dar seu número?
― E você vai anotar onde se seu celular tá descarregado? ― zombou e eu fiz uma careta. Olhou para trás, também vendo o ônibus se aproximar. ― A gente se vê por aí, garoto. ― pôs a mão em meu ombro e saiu andando.
Quando o veículo estacionou à minha frente, pouco antes de entrar, chamei-a outra vez.
Parando de caminhar, virou-se na minha direção.
― Obrigada. ― sorri.
Fazendo uma continência com dois dedos e sorrindo, partiu.
E aquela foi a última vez que a vi.




FIM.



Nota da autora: Quando comecei a escrever essa história não sabia muito bem o que eu queria dela. Revirei a internet de cabeça para baixo para ver se conseguia me inspirar e construir um plot final pra ela. Aí eu achei a história por trás de Woman - The 1975 e achei que talvez fosse legal escrever algo que fosse na mesma vibe. Espero que vocês tenham gostado e, se quiserem ler outras coisas escritas por estas mãos e este cérebro, vai estar tudo aqui embaixo <3





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