Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Eu estava na cafeteria do meu bairro quando ouvi meu telefone tocar. Ao olhar a tela do celular, vi o nome do meu namorado. Havíamos brigado e era a décima ligação dele em dez minutos. Nossa relação já estava muito desgastada. Eu não me sentia mais valorizada - eu, um mulherão da porra, precisando mendigar atenção - e quando eu demonstrava não querer mais, ele vinha atrás. Quando estava tudo bem, a desvalorização voltava. Entramos num ciclo sem fim… namoramos desde o primeiro semestre da faculdade e estou a um de me formar. Eu estava ali aguardando meu café chegar e tentando me concentrar nas atividades a serem entregues naquele dia, mas , sabendo que eu precisava de concentração, me ligava a cada minuto. Sendo que quando eu estava em casa ele não falou comigo, mas sabendo que eu estava na rua, queria saber o que eu estava fazendo, com certeza. Eu não o entendo. Me sinto cansada de tanto controle.

- Mas porque se concentrar em um café se você pode se concentrar aqui no quarto? E ainda mais gastando alguns reais naquela cafeteira…
- Eu gosto de lá. O cheiro me lembra a minha casa, . Eu já trabalhei lá, sei que é tranquilo. Vai ser bom pra gente ter nossos momentos separados. Eu preciso disso. Por favor. - implorei e finalmente ele cedeu.

Eu não atendi o telefone, na verdade o desliguei. O local estava cheio, então sabia que ia demorar mais uns cinco minutos para o meu café chegar. Recostei minha cabeça sobre a mesa e relaxei. Eu realmente devia estar muito cansada, pois adormeci.

Sonho On

e eu subimos as escadas para o primeiro andar do prédio da escola. Ouvimos o som do alarme nos avisando que o intervalo tinha terminado, mas fingimos que não. A conversa era bem mais interessante que a próxima aula e eu queria aproveitá-lo ao máximo. No final da semana, ele entraria para o exército e continuaria seus estudos por lá.
e eu sempre fomos amigos durante o ensino médio. Estávamos no segundo ano e ele viu meu primeiro beijo acontecer nos corredores da escola e estava comigo quando esse mesmo carinha ficou com outra menina na minha frente, sem consideração nenhuma pela minha pessoa. Chorei horrores naquele dia e ele foi o braço forte a me acalmar. Depois de subirmos as escadas, encontramos uma sala vazia e instintivamente entramos nela. Me sentei em uma das mesas e sentou ao meu lado logo em seguida.

- Ah, fala sério, ! Não tem mais ninguém que queira beijar nessa escola? Pode me contar - bateu em meu ombro com o seu, me incentivando a falar .
- Não, não me vem ninguém à mente agora. Você já beijou todo mundo que queria? Lembre-se que semana que vem não estará mais aqui. - Eu quis saber.
- Ah na verdade tem, sim. Mas ela não me quer, não.
- Mentira! Quem vai negar um partidão desses? - eu ri pra ele enquanto ouvia outros alunos entrando em suas salas. – Vai, me fala quem é que eu vou dar uns cascudos nela! - brinquei com meu amigo.
- É você - revelou e eu entrei em choque. Nunca imaginei ficar com ele, mesmo achando ele muito bonito. Ele nunca dera sinais que algo poderia acontecer. - E eu quero te pedir um beijo, . Você me dá esse presente de despedida? - respirei fundo pois não sabia o que fazer. - É só um. - ele continuou. Mesmo estando escuro, senti seus olhos me encarando e criei coragem pra lhe dar um selinho tímido.
- Assim não vale! - Antes mesmo que eu pudesse contestar, senti os lábios de tocando os meus com vontade e segundos depois o beijo se intensificou, transformando-se em um beijo de língua. Então me deixei levar pelo momento. Por que não?

A mão do rapaz envolveu meu pescoço e senti descendo da mesa ao meu lado pra ficar em minha frente. Não houve corte no beijo enquanto fazia isso e na verdade eu nem queria que parasse. De repente me dei conta e comecei a rir, não pelo beijo, mas pela situação.

- O que foi? - meu amigo questionou, me beijando suavemente dessa vez.
- Não me imaginei nunca nessa cena. - voltei a beijá-lo.
- Eu já. Várias vezes. - mais uma vez senti seus olhos em mim.
- E por que nunca me contou? A gente podia ter se beijado mais - ri de nervoso.
- Você não me olhava de outra forma, apenas como amigo. Mas eu não podia perder essa chance, , não sei quando vou te ver novamente. Você vai terminar o Ensino Médio ano que vem e eu não vou estar aqui com você. Mas quero que você se lembre desse dia. Ok?
- Eu não vou esquecer. Prometo.

Sonho Off

Acordei assustada, afinal aquilo não foi um sonho, mas uma lembrança do meu passado. Lembrar do mexeu comigo naquele momento, e de repente senti vontade de saber como ele poderia estar, se estava vivo. Não tinha se passado nem dez anos de formação do ensino médio - entrei pra faculdade um pouco mais tarde, mas aquela sensação de voltar a adolescência me deixou nostálgica.
A atendente chegou com o meu pedido. Tomei aquele café lembrando dos tantos outros momentos da adolescência e sorri feliz, esquecendo até de por um instante.
Terminei minha atividade e depois de dois cafés e um bolo mousse, fechei a conta e aproveitei pra voltar pra casa. Liguei o telefone e as mensagens pipocaram na tela. Continuei ignorando. Tudo pago, me apressei em sair da cafeteria. Faltava menos de uma hora pra entrega da atividade, por sorte a universidade era bem perto. Daria tempo.
Ao sair, tive a sensação de ouvir meu nome sendo chamado e olhei pra trás com rapidez, vendo que não era eu. Voltei a olhar pra frente e caminhar, mas, desastrada como sou, esbarrei em alguém, o que foi um grande susto. Ouvi coisas caindo no chão e me abaixei pra pegar. Ao levantar, vi que bati num rapaz aparentemente mais velho que eu poucos anos. Ele me olhava de forma diferente, o que achei estranho.

- Acho que te conheço de algum lugar. Você pode me dizer seu nome?
- Desculpa eu tô com pressa, não posso responder sua cantada agora. - tentei sair dali.
- Não é uma cantada, eu realmente acredito que te conheço. Eu me chamo . E você?
Meu coração gelou. Aqueles olhos... como pude esquecer?? Aliás, eu estava lembrando dele ainda pouco… como fui tão distraída?
- . Me chamo . Você é o do Rangel Pestana? - não pude evitar, seria muita coincidência, não? Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, me puxou pra dentro da cafeteira, já que estávamos na porta atrapalhando a passagem e haviam pessoas nos olhando com impaciência.
- Siiim! Caramba, você não mudou nada! Quer dizer, uma coisa aqui ou ali, mas quando eu te vi, não tinha como negar que já tinha te visto. Como você está? - sorria naquele momento e eu só sabia me encantar por ele.
- Eu tô bem! Um pouco apressada, tenho uma atividade pra entregar na universidade! - mostrei meus cadernos e afins. - Eu preciso ir. Foi um prazer.
- Não! Tenha calma. Eu te deixo lá e vamos conversando um pouco.
- Mas você não ia tomar um café? - questionei por achar que não ia ser boa coisa essa carona…
- Que nada! Já perdi a vontade. Agora eu quero você. - Essa frase soou estranha em meus ouvidos, mas eu sorri e aceitei a carona. Fomos conversando sobre nossa vida no ensino médio. Ele lembrou de quando dei um tapa na cara do irmão dele, por simplesmente nunca ter feito isso com alguém; das aulas de educação física que eu não fazia e ele sentia inveja, porque precisava fazê-las mesmo não querendo e eu só assistia.
- Mas eu tinha que entregar trabalhos, meu querido. Era ruim do mesmo jeito. - Eu ria como há muito tempo não fazia. Ele estava me fazendo bem e olha que conversávamos havia poucos minutos.

Chegamos à universidade e pediu meu número de telefone. Fiquei apreensiva, mas passei o número correto. Eu ia gostar de falar com ele durante meu dia. Não demorei em entregar o trabalho e me apressei a chegar em casa. Ao chegar, parecia aflito e preocupado. Ao me ver, fechou a cara como se me repreendesse por ter ido à cafeteira, contrariando-o. Estava eu na minha atual realidade. Ignorei a cara de irritado e caminhei para meu quarto, deixando-o na sala sozinho. Ouvi o chuveiro ligar, dando sinal que ele entrara no banho, e então aproveitei pra escrever um pouco; precisava desabafar e colocar tudo aquilo em ordem. Eu não cabia mais naquela relação. O mulherão que sou me sujeitar a migalhas... Não quero mais!
Mudei de folha e escrevi algo para .
Uma agonia se apossou do meu ser. Continuei escrevendo e fui atingida por uma coragem enlouquecedora e, sob lágrimas, peguei uma mochila e coloquei algumas roupas, meus documentos e todo o dinheiro que eu tinha guardado em casa pra pequenos custos. Peguei também o carregador do celular e depois fui até a cozinha e peguei um sanduíche que já estava pronto. Coloquei o bilhete na mesa e sai.

Sai sem rumo e sem saber para onde ir. Parei por um instante e decidi ir até a cafeteria que fecharia em pouco tempo, mas um café me faria acalmar. Não deu tempo de chegar até lá. No caminho, vi um carro que logo reconheci como o de . Meu coração acelerou. Não podia ser. Duas vezes no mesmo dia. Estava me seguindo?

- Que cara é essa, ? - disse assim que se aproximou.
- Tô tão ruim assim? - Tentei ajeitar o cabelo, me dando conta que sai de qualquer jeito de casa.
- Não é isso, mas parece estar assustada. Você quer dar uma volta?
- Quero! - Entrei no carro sem pensar duas vezes, enquanto dava partida em seu automóvel. Colocou uma música tranquila para me acalmar e eu comecei a olhar pela janela, pensativa, não queria falar nada naquele momento e agradeci pelo fato dele não me encher de perguntas.

decidiu parar em um Drive-thru e pediu dois lanches, então seguiu até uma praia pouco movimentada, parou o carro e me olhou comer meu sanduíche concentrada e beber meu refrigerante. Fiquei constrangida.

- O que foi? - Tentei descontrair.
- Eu não esperava te ver naquela lanchonete, sabia? Foi tão bom te ver e te rever agora.
- Eu também, , eu não esperava te ver e me sinto agradecida por te ver novamente no dia de hoje, ainda mais agora que eu ‘tô ‘fugida’ de casa. - dessa vez ri sem graça.
- Fugiu? Como assim? Alguém fez algo pra você? - tocou meu rosto procurando algum machucado, preocupado.
- Tá tudo bem, calma! Eu não sei o que aconteceu, mas não me senti bem em casa, apenas quis sair, mas no momento do furor acabei escrevendo uma carta ao meu namorado terminando tudo e eu não quero voltar pra casa hoje. Preciso manter a minha decisão, entende? Se eu voltar, ele vai me convencer a voltar pra ele.
- Você vai pra onde? Já tem onde dormir? - Senti preocupação em sua voz.
- Não. - abaixei a cabeça.
- Vai pra minha casa, e você pode ficar lá até decidir o que fazer ou quando se sentir bem pra encarar sua realidade, tudo bem? - arrancou com o carro em direção à sua casa, sem ao menos me dar direito de resposta.

Chegamos na casa dele e observei os cômodos da casa: tudo organizado, móveis rústicos e combinando. Certeza que ele mora sozinho? Se bem que o exército pode tê-lo ensinado a ser organizado. Deixei meus pensamentos de lado e fui acompanhando-o pela casa, enquanto ele ia me apresentando cada canto do lar. Uma sensação de acolhimento e conforto me invadiu. Eu não sabia o que estava acontecendo exatamente, mas estava bom.
Ao chegarmos no andar de cima, me mostrou os quartos, o dele de frente ao de hóspede, onde eu ficaria o quanto precisasse. Ele me deixou sozinha, abrindo o armário, informando que eu podia deixar ali minhas coisas. Deixei ali minha mochila e fui ao banheiro disponível no quarto e tomei um banho relaxante. Saindo do banheiro, vi na cama um pijama e um bilhete de boa noite com o aviso que o café é servido às nove da manhã. Achei graça com essa informação. Soldados...

Foi então que deitei na cama e pensei no dia louco que tinha vivido: minha manhã tinha sido tranquila, conversei pouco com , fiz alguns trabalhos da faculdade. À tarde, segui para a universidade trabalhar na bolsa que tinha conseguido pra arcar com meus custos e quando voltei pra casa, no fim do dia, encontrei impaciente com sei lá o que e querendo descontar em mim sua raiva. Eu não ia permitir aquilo acontecer de novo, estava cansada de me esforçar para fazer a relação dar certo! Só eu tentava. Foi quando pensei em ir à cafeteria ter a paz que eu precisava para concluir meus trabalhos e entregá-los à noite na faculdade. Mesmo com tentando me impedir - com certeza queria descontar sua raiva em mim, eu fui. E quando cheguei à cafeteria tive a surpresa de não só pensar no namoradinho da escola, mas, como num passe de mágica, ele tornar-se real bem a minha frente? Realmente foi um dia bem atípico. Eu ainda não acreditava nessa reviravolta que minha vida deu… Coisa de novela.... E ainda tenho que pensar no que fazer com o , já que num rompante eu terminei meu relacionamento e por carta. Que loucura!! Não posso voltar atrás, atingi meu limite e passar dali, seria só mais dor e sofrimento.
Agora eu estava no quarto de hóspedes do , que o reencontrei horas antes, sem nem saber mais detalhes da vida dele, mas não me importei com isso. Ele foi respeitoso e carinhoso, não foi invasivo comigo e ali eu sentia paz. De repente, senti um peso em meus olhos e peguei no sono.


Na manhã seguinte, senti o cheiro do café e acordei lentamente. Aquela cama estava tentando me segurar, mas olhei o relógio e faltavam dois minutos para as nove. Eita homem pontual… Levantei, tomei mais um banho, e corri pra cozinha, encontrando que me aguardava com pães, frios, bolo e uma caneca de café. Ah! E um sorriso largo ao me ver em seu pijama.

- Dormiu bem? - Ele quis saber.
- Como um anjo. - Peguei a caneca de café e fechei os olhos ao sentir o sabor. Tudo o que eu precisava era isso, um café quentinho e um abraço também.
- Você é um anjo, , e não merece sofrer por quem quer que seja.
- Eu sei. Por isso fiz o que fiz. Não quero voltar pra casa ainda, mas preciso procurar um lugar pra ficar, buscar minhas coisas…
- Mas eu disse que você pode ficar aqui! E eu posso ir com você até lá pra caso precise de ajuda. Se conheço bem homens, ele não vai aceitar muito bem um término por carta. Eu te faço companhia.
- Eu não quero atrapalhar... - Não terminei de falar e insistiu.
- Mas eu moro sozinho! Não irá atrapalhar ninguém. Você vai ser uma ótima companhia pra mim e darei o máximo para ser a você uma ótima companhia. Prometo ir ao Mc Donald’s todo dia, que tal? - ele tentou me distrair, dissipando a tensão do ar.
- Não vai dar certo isso, não. Porcaria todo dia? Melhor não, eu posso ficar e sem precisar me levar lá todo dia, tá bom? - ri com sua brincadeira e mais uma vez me senti acolhida e respeitada. Aliás, alguns sentimentos estavam querendo se manifestar, mas não quis pensar nisso, estava vulnerável e não queria confundir as coisas.
- Tudo bem! Eu vou sair para trabalhar, volto no meio da tarde! Na dispensa tem comida e na geladeira uns congelados. Acredito que fome, você não passa! - Ele se levantou da mesa em que comíamos. Já estava pronto, porém, reparei que não estava fardado.
- Eu me viro, pode ir! Você não é mais do exército? - apontei com a cabeça para a roupa dele.
- Fui dispensado uns dois anos atrás, mas eu tenho minha economia e agora eu tenho meu próprio negócio!
- Uau! Adorei, senhor empresário, então vá lá que tempo é dinheiro, eu cuido do resto aqui. Você quer que eu faça um lanche pra você ou almoço...
- Nem se preocupe, eu como por lá, na volta a gente vai buscar suas coisas e você fica aqui até sentir que é hora de procurar seu cantinho. Combinado?
- Combinado! - beijou minha testa e me deu um abraço, aquele que eu precisava no início da manhã. Ele saiu para trabalhar e eu fui ajeitar as coisas na cozinha e depois organizar minha mochila no guarda roupas e pensar no que faria a seguir.


Meses depois…

Eu estava arrumando a cozinha antes de seguir para a faculdade novamente - dessa vez pra estudar, quando a porta abriu e vi entrar com caixas empilhadas. Seus cabelos estavam bagunçados, lembrando-me da época da escola e das aulas de educação física onde ele chegava até mim todo suado, pra me abraçar e eu corria dele rindo. Esse era o clima que pairava sobre a casa desde o dia que fui buscar minhas coisas na casa antiga. Nossa amizade floresceu e parecíamos estar na época do colégio. Confesso que tenho percebido olhares intencionados vindos do meu amigo e até quero corresponder, mas ainda é cedo. Preciso desse tempo pra mim, mesmo ele sendo esse cara incrível que é: me incentiva a cada dia a me dedicar aos meus projetos, me trata como uma verdadeira estrela, acredita no meu potencial! Eu não poderia ter pessoa melhor para estar ao meu lado nesse momento da vida. Ele também parece pensar o mesmo sobre o assunto e nossa sintonia tem sido tão mágica desde nosso encontro que eu sei que quando for a hora vai acontecer. Assim como nos esbarramos naquela lanchonete, onde vamos toda semana comer algo e rir das coisas que acontece em nosso dia a dia, quando for o momento, vamos saber e vamos nos permitir viver aquilo que não pudemos quando éramos mais jovens.


Fim



Nota da autora: Não me matem, mas eu precisava terminar assim! Espero que tenham gostado e que eu não tenha decepcionado vocês. Um abraço a você que chegou até aqui e talvez uma promessa: talvez role um spin-off!
Até a próxima. Não deixe de comentar e me diga aí: quer saber como vai acontecer esse namoro?

Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Outras Fanfics:
» Depois de Você [Especial de Pagode]
» Eu Já Te Quis Um Dia [Especial de Pagode]
» Tudo é Tão Natural [Especial de Pagode]


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus