Postada em: 07/01/2017

Capítulo Único


Quando você entra em um relacionamento, você jamais vai imaginar o que realmente vai acontecer. Afinal, é uma pessoa diferente, uma pessoa nova, alguém com gostos, maneiras, manias e jeitos diferentes do seu. Morar numa cidade pequena é quase como ter casamento arranjado, você nasce na mesma época que fulano e a família já idealiza a lua de mel de vocês, você não tem quase nem a chance de sair e conhecer o mundo. Ah, isso, na verdade, é impossível.
Eu namorei Kelvin, filho do dono da venda da cidade, você deve imaginar que estamos há uns dois séculos atrasados, mas não é. Kelvin nasceu dois anos antes e com as mães amigas somos prometidos ainda na barriga. Sua mãe, quase uma tia para mim, cuidou de mim quando minha mãe trabalhava, eu cresci naquela família, passava os dias ali, mais tempo até mesmo que na minha própria casa. Kelvin foi o primeiro amor e, quando completei 15 anos, Kelvin tocou no meu aniversário e depois do parabéns, me beijou atrás do salão da igreja. Sendo assim, meu primeiro beijo, Kelvin foi o primeiro em tudo na minha vida. Namoramos por três anos.
O início? Foi lindo, quase uma festa para todos, as duas famílias quase marcaram o casamento ali mesmo, no primeiro mês. Eu achava demais namorar o “líder” do grupinho da cidade, o carinha mais lindo do colégio, aquele que qualquer menina arrastava um caminhão, mas eu arrastava um caminhão para sair desse relacionamento abusivo, impulsivo, maltratado. Se leva um tempo para você entender a mente da pessoa que você namora, as pessoas de fora julgam, dizendo “poxa, mas tu passa por isso porque quer”, não é bem assim. Todos os dias você acorda esperando uma melhora, uma nova pessoa, espera que ele realmente vá montar no cavalo branco e ser seu príncipe encantado e todo dia uma ilusão nova se faz presente na sua vida, isso acontece porque cada dia ela é uma pessoa. Ontem ela pisou e hoje ela está te enchendo de beijos e te jurando amor eterno.
O início de um namoro é maravilhoso, vários sonhos em conjuntos, você acredita que nunca mais ficará sozinha e nem mesmo irá precisar de outra pessoa que cuide de você. Me lembro há três anos, quando Kelvin foi me pedir em namoro ele disse ao meu pai.
- Seu Márcio, eu amo a Lavínia desde que me conheço por gente, não duvide que irei cuidar dela, para sempre.
Pois ele cuidou, da maneira dele. Cuidar para Kelvin é me trancar em casa e falar que não posso ter amigos, que ele é a única pessoa boa o bastante para mim, o único que pode me vigiar na rua.
Eu cresci sendo filha da dona do único colégio da cidade, obviamente eu teria amigos demais. Teria é a melhor palavra para colocar aqui já que ele me fez acreditar que todos estavam contra mim, que todos eles não eram bons o suficiente e hoje sobrou apenas eu e ele.
Quando completei 16 anos, fizemos um ano de namoro e pela primeira vez tivemos uma briga muito feia. O roxo do meu braço eu levei por semanas, mas as palavras duras eu levarei pra sempre na minha mente.
- Lavínia, para de ser burra, você acha mesmo que tem alguma chance de fazer qualquer estudo desse?
- Kel, eu estudo e estudei a minha vida toda para ser professora. Minha mãe sonhou isso comigo.
- Pois esquece a sua mãe, e quando a gente casar? Quem vai ficar na venda? Sua irmã que tome conta da escola, você não. Imagina, você nem fala direito e quer ensinar pirralho a falar, se toca, Lavínia, você é burra.
- Kelvin, eu não vou cuidar de venda, eu vou cuidar do que é da minha família. E quem você pensa que é para falar comigo dessa maneira.
- Eu sou a sua família Lavínia, eu serei o homem que vai colocar dinheiro na sua mesa, EU SOU A PESSOA QUE SERÁ SUA FAMÍLIA, esquece mamãezinha.
- Você só pode estar brincando, eu não estou nem mesmo te reconhecendo. Talvez seja melhor…
Mas essa frase não foi concluída, ele segurou meu braço com força e gritava para que eu calasse a boca, e nunca mais ousasse falar aquilo. Afinal, eu era dele.

Ele pediu que eu usasse blusa comprida aquela semana. Depois que viu a merda que havia feito, me pediu perdão, disse que pensar no fato de eu ir pra outra cidade estudar era enlouquecedor, pediu que eu não contasse a ninguém, que tudo ficaria bem.
Pois aqui vai uma dica, nunca mais ficará nada bem.
Eu sempre fui uma menina que amou o mundo, amava conhecer cidades novas, conhecer pessoas diferentes. Antes de namorar com ele, todo final de ano ia com meus pais viajar e todo ano pedia de presente que me levassem a um lugar desconhecido ainda por mim. Guardava lembranças e fotos de todos ele, quando ia embora sempre me despedia com uma foto e todas elas estavam no meu mural. Kelvin não curtia muito viajar e isso foi um problema grande. Eu insistia para que a gente fosse viajar juntos, eu queria ver tantos lugares mas ele se recusava sempre.
Certa vez, de tanto eu insistir para ir à praia, ele decidiu me levar - eu amo praia e na minha cidade não tem, a mais próxima fica a km de distância. Ele, depois de tantas promessas, me levou, pagou o hotel que ele julgou ser bom o bastante para dois dias e para seu gosto impecável. O hotel era realmente lindo, eu não tinha o que reclamar; a viagem foi maravilhosa fomos cantando músicas que gostávamos, vendo a paisagem que passava pela janela do seu carro, eu sentia sua mão brincar na minha coxa enquanto ele dirigia, eu tinha certeza que seria ótima, eu estava com tanta saudades do mar. Foi ótimo até chegar lá, Kelvin pegou um apartamento que tinha um infeliz video game e ele passou dois dias - DOIS FUNCKING DIAS - jogando enquanto eu olhava o mar pela janela do quarto. Pedi incansavelmente que ele descesse comigo que eu não tinha ido até ali para ficar no quarto, ele dizia que já ia que só precisava passar de fase.
- Amanhã se você não acordar cedo e não descer comigo, eu vou sozinha.
- Amanhã eu vou, eu prometo.
Dormi e ele continuou ali jogando, até que horas? Eu não faço ideia, quando acordei na manhã seguinte tentei acordar ele por minutos e ele só resmungava, peguei minhas coisas e fui para a praia sozinha mesmo. Quando coloquei meus pés na areia quis chorar, me senti liberta, a maresia me cheirava liberdade. Tirei minha saída de praia e entrei no mar deixei que a água batesse nos meus pés e ali pedi que as energias boas me renovassem, que minha alma fosse lavada. Fiquei na praia por umas duas horas, eu não havia levado nada além de uma canga. Quando pisei no saguão do hotel, ali estava Kelvin com as malas na mão, ele não disse nada só me olhou apenas de biquini, sozinha e suja de areia. Eu sentia de onde eu estava a tensão no ar, o quanto ele estava puto. Eu queria rir da situação, mas eu ia levar um esporro muito grande, pedi uma foto quando fomos embora com o mar ao fundo e ele não falou um A a viagem inteira.

Aquela época eu já não era mais a idiota da vida dele, a menininha ingênua que ele fazia o que bem queria, eu já havia entendido tudo e tentava me livrar de todas as amarras que ele colocava em mim, mas existia um ponto muito grande que eu não conseguia abrir mão, sua família. Eu não conseguia simplesmente acabar com aquele namoro, Tia Rosa ia sentir demais e eu buscava todo dia tentar deixar claro para ela o que se passava ali.
Não vou mentir, Kelvin tinha seus defeitos, mas eu tinha também! Eu amava quando ele chegava depois do trabalho em casa, com aquela carinha de cansado, pedindo por um carinho. Eu o amava demais, ele era o que sentava do meu lado no sofá e me via reclamar do colégio, cuidava de mim quando eu estava doente, se preocupava em ligar pra saber como eu estava no meio do dia. Aqueles eram detalhes que me deixavam caminhando em nuvens, ele também trazia algodão doce para mim todo dia, pois era meu doce preferido. Ele me conhecia como ninguém, ele sabia o que falar, o que tocar, como me levar ao paraíso. Tudo isso quando ele não estava surtado com algo.
Quando estávamos bem, eu o desejava como um usuário de droga, qualquer momento longe era abstinência, qualquer final de semana que eu ia para a fazenda dos meus avós e ele não ia era loucura, eu passava os dois dias e meio sentada na varanda aguardando o ronco da moto dele, mas isso não acontecia, meus avós não gostavam dele. A sua presença ali não era a mais querida e eu brigava todas as vezes com a minha família tentando os fazer entender do quanto Kelvin era bom para mim.
No aniversário de 50 anos dos meus avós, eles contrataram buffet da cidade grande, combinaram com um cantor ao vivo para animar a festa, todos estavam convidados. Cidade pequena. Mas o que era pra ser uma noite de festa e comemoração se tornou um pesadelo para mim.
- Você não vai sair assim! - Kelvin falou ao me ver passar com meu vestido da festa.
- E por que eu não posso ir assim? Você não gostou da minha roupa, amor?
- Pelo amor, ta parecendo uma biscate, aquelas que seus primos trazem pra cá pra pegar escondido no celeiro.
- Kelvin, já falei pra não falar assim, respeite a casa dos meus avós. E meu vestido vai até o joelho, por Deus.
- Por Deus digo eu, vai lá e coloca algo maior ou coloque uma calça mesmo.
- Eu não posso fazer isso, minha mãe comprou esse vestido para esse dia, ela vai me matar se me ver de bota e calças.
- Não seja por isso.
Eu só me lembro do som do tecido rasgando, a desculpa dele para a minha mãe era que fui uma desastrada e, quando fui sair do quarto, o vestido enroscou na porta e acabou rasgando.
Nosso relacionamento entre os amigos dele - porque eu não tinha amigos - era maravilhoso. Seus amigos invejavam o fato dele ter uma namorada tão comprometida, alguém que tinha nome, alguém que estava junto dele nas festas, nos momentos ruins, eu não era uma namorada ruim. Quando íamos a praça no final de semana, parecia até parada da cidade, todos estavam ali para nos comprimentar e perguntar quando sairia o casamento.
Certa vez, esse assunto chegou enroscado e acabou muito mal, já que ali descobri que meu namorado não era mais tão fiel a mim, quando trato de fidelidade não estou falando apenas de físico, às vezes a traição física nem é tão grande quanto aquela de confiança, eu e o Kelvin sempre fomos seguros em relação a isso. Porém, uma vez, a última vez, eu surtei. E naquele dia eu levei mais que um roxo pra casa.
- Quando vocês vão finalmente se casar? - Perguntou a Livia, uma garota que cismava em dar em cima do Kel na minha frente.
- Não sei porque você se preocupa, Liv, a sua vontade mesmo era de você estar se casando com ele. - Respondi irritada com ela.
- Qual é, Lavínia, todo mundo sabe que você é a única que ama nesse relacionamento. Quantos anos faz? Dez? E Kel nem mesmo botou um anel até hoje nesse dedo.
- Cala a boca, Livia, um anel não faz casamento e por enquanto isso ainda não é nossa prioridade, e outra, você não está dentro do relacionamento para saber alguma coisa.
- Eu não preciso estar, o Kel me conta algumas coisas quando ele passa lá em casa a noite.
- O que você quer dizer com isso?
- Que seu tão fiel e amado namorado, passa lá em casa quase todas as noite, sua casa é caminho da minha. Aí você sabe, né, ele não sai bem da sua, tem alguém que o conforte
- Ele não faz isso.
- Faz, e pode ir lá perguntar para ele. Mas cuidado, essa semana ele não está de tão bom humor.
- Quem sabe do meu namorado sou eu.
Eu saí segurando meu choro. Saí e deixei aquelas idiotas às minhas costas rindo da piada que eu era. Aos olhos de alguns, um relacionamento perfeito; aos olhos de quem realmente sabia, uma piada. Eu continuei andando firme até a venda do seu Lourenço, pai do Kelvin, ele trabalhava aquela hora, era pra estar na sala do administrativo. Quando cheguei a porta vi a secretária saindo da sua sala muito fogosa para uma simples secretária. Entrei na sala sem pedir permissão, bati a porta e explodi em choro. Sentei no sofá que tinha ali e fui abraçada por ele, ele me perguntava o que estava acontecendo, se eu havia brigado com meus pais, se no trabalho estava tudo bem. E eu apenas conseguia chorar. Quando dei por mim, ja estava soltando as palavras desconexas, gritando e tentando falar o que estava preso na garganta. Ele pediu uma água pra secretária exibida, e me deu com açúcar pra ver se me acalmava.
- Está melhor assim? O que aconteceu com você, Lavínia? - ele perguntou segurando meu rosto.
- Quantas vezes você foi à casa da Livia?
- O quê?
- Quantas vezes você foi à casa da Lívia, Kelvin?
- Não sei do que está falando, eu vou lá sempre. Você sabe, nossos pais são amigos, eu faço entrega lá.
- Eu não estou falando disso, Kelvin. Estou perguntando das vezes que você foi lá pela Livia. - eu tentava segurar o choro novamente, mas ele estava quase explodindo meus olhos.
- O que que a Livia foi te falar?
- Ela me falou que você vai lá à noite, depois que sai de casa. É verdade?
- Vou, às vezes, Livia é minha amiga, vou lá apenas conversar.
- Ah, claro, conversar ou confortar, essa a palavra que ela usou. Quem vai na casa de outra conversar meia-noite? E sem nem ao menos me falar.
- E eu tenho que te contar de cada passo que dou?
- Você é meu namorado, Kelvin. Isso não é obrigação, é respeito.
- Respeito eu te dou todos os dias, depois de três anos se você não entendeu isso.
- Em três anos a unica coisa que eu entendi é que você não me respeita, que você me humilha, que você pode até me amar, mas eu nunca serei nada melhor que você, para você. Qualquer uma na rua parece ser melhor para você.
- Não sei como você pode falar algo assim, com tudo que eu te dou.
- Claro, presentes são tudo na vida de alguém.
- E o que mais você quer? Quer que eu faça o quê?
- Eu não quero mais nada, Kel, eu quero ir pra minha casa agora, esse dia já foi merda o bastante para mim.
- Eu não vou deixar você ir embora assim.
- Sabe o que é pior, não é a sua preocupação se eu estou bem e sim me levar para casa para não ter perigo de ninguém me ver assim.
- Claro, o que vão pensar se te verem assim, no meu relacionamento quem manda sou eu.
- Não, não existe um que manda. Existem dois que se respeitam, que se entendem. Mas você não entende porra nenhuma, aliás vai lá perguntar à Lívia como se conserta um relacionamento de merda como esse, já que ela te conforta ela é boa para qualquer coisa para você.
- Para de colocar a Livia nas coisas, que saco. Quer saber, é por isso que eu vou na casa dela, ela não torra meu saco como você.
- Sabe, eu deveria ir na casa do Lucas quando também estou com um porre de você, me lembro bem que ele cuidava bem de mim.
- Você não se atreva.
- Ué, meu amigo, só estou indo conversar, talvez me confortar das coisas ruins.
- Lucas não é seu amigo, ele quer te comer.
- Não, nas últimas vezes ele só me confortou mesmo.

O barulho do tapa que levei na cara aquele dia acredito que até mesmo a secretária que estava do lado de fora ouviu, meu rosto ardia enquanto ele me olhava com aquela cara de quem tinha feito uma grande merda. Larguei ele ali e corri, corri sem enxergar a rua, meus olhos ardiam por conta das lágrimas, ouvi algumas pessoas me chamando pela rua, mas não me dei o trabalho de olhar para o lado. Eu não chorava pelo tapa, nem pela dor, que era grande, mas sim por ter permitido que tudo aquilo chegasse ali, naquele ponto quase sem fim. A falta de respeito estava nítida no nosso namoro, o companheirismo acabou no momento que eu o desafiei e ele levantou a mão para mim, ou nunca existiu. Vai saber.
Aquele dia de noite pedi para que minha mãe não deixasse ele entrar, não deixasse que ele soubesse de mim, que ele gritasse, jurasse que fosse pro inferno e o caralho a quatro. Eu não queria saber. Eu o estava odiando naquele momento, queria que ele morresse, assim eu não iria precisar olhar pra sua cara nunca mais.
Sabe qual é o problema maior de um relacionamento assim? Você só percebe o que ele realmente é quando você não faz mais parte dele, quando você olha para ele e entende ele como um grande erro. Você precisa passar por todas as etapas dele e chegar num nível como esse, às vezes, para entender e dizer chegar. Naquela noite eu o ouvi gritar meu nome na minha janela, ouvi meu pai o ameaçando, ouvi meu celular tocando por inúmeras vezes. Aquela noite, contei tudo aos meus pais, cada detalhe, cada momento, contei tudo que havia acontecido naqueles três anos. Meus pais queriam ir até a casa dele, o denunciar. Eu não deixei, me doía o rosto, me doía o coração, mas o que mais me doía era o amar, eu amava o Kelvin. Amava muito ainda. Perdemos tudo que um relacionamento precisava para se manter, mas o amor eu não havia perdido, mas ele não era suficiente, amor nem sempre é suficiente. Pedi aos meus pais que me mandassem para outro lugar, que me tirassem daquela cidade pacata, que me deixassem seguir. Ali naquele mundinho fechado e com Kelvin a duas quadras de casa eu nunca superaria e nem cresceria, no mesmo momento eles ligaram para minha tia de SP, explicaram o acontecido e ela disse que estaria de portas abertas me esperando por quanto tempo fosse necessário.
Liguei para a Tia Rosa e expliquei a ela os fatos, ela me entendeu e disse que por vezes já havia brigado com o Kelvin por conta disso, que acreditava que até mesmo tinha melhorado. Contei a ela que estava indo embora e ela caiu no choro, me pediu perdão, que não queria que as coisas tivessem chego nesse ponto. Não a culpo.
Tentei dormir, mas parecia impossível. Eu tinha medo de fechar os olhos e acordar com ele ali dentro do meu quarto, eu sei que ele iria pedir perdão igual as outras vezes, ele iria dizer que me amava e que tudo ficaria bem. Lembra que eu te disse no começo que nada mais ficaria bem? Eu sabia que dessa vez não tinha volta, sabia que o fim havia chego. Três anos não são dois dias, nem quatro meses, são três anos. Não vou negar a você, tivemos ótimos momentos juntos, momentos que sempre me lembrarei, dias que ele me surpreendeu, que ele me trouxe flores, que me fazia carinho, nem sempre foi ruim. Mas é aquela coisa, nunca se olha o bom, sempre o ruim.
Na manhã seguinte, quando minhas malas estavam todas prontas eu me despedi de cada um com uma dor no peito, eu estava indo embora e eu não esperava por aquilo até 12 horas atrás. Meus pais me levariam para SP e aos poucos iam me ajudar a se adaptar a cidade. Antes de sair pedi a eles que não me deixassem voltar, pois eu sabia, meu celular não me deixou esquecer que Kelvin ainda tentava falar comigo e ele iria pedir perdão. Mas eles me prometeram que não deixariam.
Eu sai da minha cidade, da minha vida, das minhas coisas para buscar algo novo. Tudo por você, garoto.
Durante a viagem eu consegui dormir, consegui pensar, não me permiti chorar e toda vez que eu segurava as lágrimas lembrava da dor e o quente que ainda estava meu rosto. Ele não me merecia, era o que eu repetia durante aquelas horas no carro.

Depois de dois dias, meu celular acumulava um total de 275 mensagens e 301 ligações, eu estava a ponto de tacar ele na parede, mas tinha algo que eu precisava fazer. No terceiro dia ali, eu atendi o celular, eu precisava dizer, precisava desabafar, precisava dizer adeus.
Ele chorou, pediu perdão, disse o quanto estava arrependido. Acreditou que eu havia atendido o telefone para dizer que estava tudo bem, ficou maluco quando eu falei que era o fim. Parecia não entender meus motivos e eu relatei cada grito, cada arranhão, cada briga, ele jurava não ser esse monstro, então relatei cada sorriso sincero, cada gesto de amor, a primeira transa, a primeira viagem juntos, a sua formatura. Ele apenas chorava, implorava que eu voltasse que íamos casar, então eu ri e ri descontroladamente e ele se irritou e foi ali que eu mostrei a ele que não tínhamos mais volta. Não quando o amor não se fazia presente, não quando apenas um se doava. E uma hora e trinta e três minutos depois a ligação foi finalizada.
Exclui tudo que tinha dele, joguei fotos fora, troquei as redes sociais, troquei o número de celular. Eu decidi ali que me amar era muito mais importante e maior que qualquer amor do mundo.
Hoje, dois anos depois, eu me sinto mais livre do que nunca, tenho tudo que preciso, revi meus amigos, entrei na faculdade que queria, fiz um mochilão. Me tornei mais fria, mais objetiva, aprendi a amar a tudo e a todos, todos meus sonhos e desejos e tudo que conquistei. Minha vida se tornou minha prioridade e hoje, Kelvin se tornou apenas um borrão que me assombra, mas que é apagado rapidamente por tudo aquilo que floresce na minha vida.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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