Finalizada em: 24/05/2020

Prólogo

Observei o quadro da nossa família mais uma vez e senti os olhos se encherem de lágrimas novamente. Fazia quatro dias que ela havia ido embora e levado meus filhos junto. Eu já havia sido chamado de muitas coisas: corrupto, asqueroso, egocêntrico, ignorante, entre muitas coisas, mas eu nunca havia traído minha esposa.
Eu não era exatamente flor que se cheire no meu trabalho, havia feito diversas coisas para nos manter no topo, conseguir os melhores contratos e fazer a empresa prosperar, mas dentro de casa, entre minha família, eu nunca deixei de amá-los e nunca fiz nada para ser acusado disso, mas parece que não era o suficiente.
Eu não deveria ter bebido aquele último copo de uísque, eu não deveria ter dado bola para aquela filha da mãe, eu não sabia que estaria lá. Nada aconteceu, mas foi a gota d’água para ela me deixar e levar meus filhos junto. Eu não tinha moral nenhuma para pedir para ela ficar, mas eu a amo demais e sei que era só questão de tempo para ela aparecer com um pedido de divórcio ou sei lá mais o quê.
Eu havia me apaixonado por uma pessoa simples, dona de uma floricultura charmosa no Queens, por sorte, ela também havia se apaixonado por mim, um empresário inescrupuloso de Manhattan, de alguma forma conseguimos fazer nosso amor prosperar apesar das diferenças, estamos juntos há 20 anos, dois filhos incríveis, mas muita coisa mudou.
Eu não sabia se pensava no possível divórcio, se eu pensava de quantas formas eu a havia magoado ou se eu merecia tentar lutar por ela. Me parecia inútil, eu não a merecia, lutar por ela e talvez ter uma grande chance de ganhá-la novamente, eu deveria deixá-la seguir em frente sem mim.
Me aproximei do bar e me servi de um pouco de uísque, virando o copo rapidamente, sentindo minha garganta queimar com o líquido puro e abaixei o porta-retrato mais uma vez naquele dia, sabendo que eu o levantaria amanhã novamente, só para ver o sorriso dela ao acordar.
Segui em direção ao sofá arrumado da noite anterior e me deitei ali. Não havia conseguido dormir em nossa cama desde que ela havia me deixado, não parecia certo. Mesmo chegando tarde diversas vezes, indo dormir quase quando o dia amanhecia, deitar ali sem ela não era certo.
Afofei o travesseiro e puxei a coberta, apoiando a cabeça no espaço fofo e apoiei as mãos em meu peito, respirando fundo. Olhei para o enorme lustre em cima de mim e suspirei, fechando os olhos. Os abri quase imediatamente quando o celular começou a tocar e eu bufei, jogando a coberta para o lado e esticando o corpo para pegar o celular que tocava no sofá ao lado. Vi o nome de meu filho mais velho e coloquei o telefone na orelha.
- Fala, Jordan! – Coloquei o telefone na orelha.
- Pai? Aonde você está? Eu preciso de você! – Ele falava rapidamente e percebi o desespero em sua voz.
- Eu estou em casa. Fica calmo, filho. O que houve? – Me levantei, sentando no sofá.
- A mãe sofreu um acidente, pai. Ela está indo para o hospital, ela não está bem, ela... – Ele começou a chorar.
- Sua mãe? Como, Jordan? Como assim?
- Ela caiu da escada, pai, eu não sei, eu... – Ele suspirou, sendo interrompido por alguém. – Estamos indo para o Presbyterian aqui no Queens, por favor, venha logo.
- Fica calmo, Jordan. – Respirei fundo. – Aonde está Micah?
- A vó está aqui, ele... – Ele respirou fundo. – Eu tenho que ir, venha logo, por favor. – Ele falou com a voz afinada e a ligação foi desligada.
Me levantei apressado, seguindo para o quarto e colocando o primeiro sobretudo que vi e saí correndo pelas escadas mandando mensagem para meu motorista noturno, checando se ele ainda estava lá.
- Para o hospital Presbyterian no Queens, Leon! Rápido! – Falei para ele, entrando no banco de trás do carro.
Demoramos cerca de 20 minutos para chegar até lá, Leon tentou tirar alguma informação de mim, mas eu estava agitado demais para pensar em qualquer outra coisa. Ele parou no embarque e desembarque e eu saí correndo para dentro do mesmo.
- Emergência, por favor. Onde fica emergência? – Parei na recepcionista e ela esticou o braço para o lado esquerdo.
Segui correndo para o lado apontado e via as placas meio embaçadas e encontrei Justine abraçava a Micah na sala de espera. Ela se levantou quando me viu e passei os braços ao redor de seu corpo, sentindo-a me apertar fortemente.
- Meu filho! – Minha sogra falou chorando em meus ombros e deixei que ela se acalentasse e eu suspirei, sentindo algumas lágrimas deslizar pela minha bochecha.
- O que aconteceu? – Perguntei, segurando seu rosto com as mãos.
- Ela está tomando calmante desde que saiu de casa. – Ela passou as mãos nos olhos. – Eles estão deixando-a meio fraca, zonza...
- Ela não pode tomar isso, Justine, ela tem...
- Eu sei! – Ela me interrompeu. – Ela estava tão mal, eu não consegui impedi-la e...
- O que aconteceu? – Perguntei novamente.
- Ela deve ter ido beber água, não sei, eu acordei com o barulho e ela estava desacordada no pé da escada. – Respirei fundo, apertando-a novamente.
- Pai, o que aconteceu? – Micah perguntou e eu o peguei no colo, erguendo-o.
- Eu vim ver a mamãe, meu pequeno. – Falei, acariciando seus cabelos bagunçados.
- Ela vai ficar bem? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Vamos ver, querido. – Falei, olhando para Justine. – Cadê Jordan? – Perguntei.
- Na sala de espera lá de dentro, ele...
- Pai! – Ouvi um grito e virei para o lado, colocando Micah no chão e vendo meu mais velho correr em minha direção e me abraçar fortemente.
- Ah, meu filho! – O apertei, sentindo-o chorar em meus braços e respirei fundo.
- Eu vi tudo, eu a vi caindo, eu não pude fazer nada e...
- Xí, xí! – Falei, segurando seu rosto. – Não é culpa sua, não é culpa de ninguém, se acalma! – Falei rapidamente. – O que o médico disse? – Segurei-o pela nuca.
- Eles estão fazendo exames ainda, mas ela está em coma. – Ele falou e eu respirei fortemente.


Capítulo Único

- Obrigado, Leon! – Falei para meu motorista e ele deu um meio sorriso.
- Eu te busco as seis. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Pode pegar Micah na escola, por favor?
- Claro! Depois eu levo ele e Jordan para almoçar. – Assenti com a cabeça.
- Acho que Jordan tem aula até mais tarde na faculdade, eu vejo e te aviso. – Ele assentiu com a cabeça. – Até mais.
- Até, mande um beijo para ela. – Assenti com a cabeça e suspirei.
Olhei a porta de entrada da clínica particular no Queens e tirei o capuz da cabeça, pegando o buquê de flores e subi os poucos degraus, vendo a porta se abrir automaticamente quando me aproximei. Observei o espaço que eu conhecia há dois anos e parei na recepção, encontrando Ravena na mesma.
- Bom dia, Ravena. Onde está Joe? Hoje não é seu dia. – Perguntei com um sorriso, vendo-a me estender a lista de presença.
- Bom dia, senhor , tudo bem? Ele tem apresentação da filha dele no balé da escola, estou quebrando um galho para ele. – Sorri, assinando embaixo do meu nome do dia anterior e ela sorriu.
- Faz muito bem! – Rimos juntos. – Posso entrar?
- Claro! Fique à vontade. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, devolvendo a prancheta para ela e peguei o buquê novamente, seguindo pelo corredor.
Acenei para alguns conhecidos que eu via todos os dias e eles deram sorrisos para mim e acenos de cabeça. Entrei na porta do quarto 12 e encontrei minha esposa da mesma forma que eu tinha visto no dia anterior. Ou melhor, haviam trocado a roupa de cama, agora tinha uma branca com listras amarelas.
estava bem pacífica, os machucados já haviam sido curados há muito tempo, mas ela não acordou nem depois que o inchaço em sua cabeça reduziu. Muitos médicos já haviam dito para eu desistir, já outros achavam que ainda existia recuperação, pois todos os exames estavam bons e era só questão de tempo.
Por isso eu havia trazido ela para essa clínica. Aqui eu pagava mensalmente para que ela se recuperasse e eu não tinha pressa. Não estaria ocupando lugar em leitos e nada, era quase como uma clínica de reabilitação.
Depois que tudo aconteceu, eu decidi me afastar da empresa. Falei sobre todas as merdas que eu tinha feito, passei por todos os julgamentos e ainda consegui ficar de sócio majoritário na empresa, tinha pessoas que tinha feito muito pior, aparentemente. Então a parte monetária estava acertada. Para me ocupar, eu decidi cuidar da floricultura, entender o porquê não havia largado aquilo mesmo com todo dinheiro do mundo na mão.
Agora eu entendia. As flores estavam presentes na vida das pessoas em diferentes formas. Presentear os outros era incrível, fazê-las sorrir com flores, seja em momentos de felicidade ou de tristeza, as flores estavam presentes em todos os momentos. E aquilo me dava uma calmaria incrível quando eu não estava aqui. E eu tinha certo jeito com arranjos, o que foi bem peculiar quando eu descobri.
Nesses dois anos, além de tudo o que aconteceu comigo, Jordan entrou na faculdade, decidiu fazer hotelaria, ele tinha uma visão diferente sobre o mundo dos negócios e daria certo no que é que ele decidisse fazer. Micah havia entrado no ensino médio, já estava com namoradinhas e tudo, estava difícil segurar aquele garoto.
Eles passavam aqui quase todos os dias. Micah as vezes vinha tomar um café da tarde comigo, agora Jordan estava um pouco mais corrido por causa da faculdade e estágio, mas aparecia nem que fosse 10 minutos antes de fechar. De certa forma, eles haviam me perdoado, não sei, parecia tão distante o motivo da nossa briga, eu só queria que ela acordasse e soubesse que, apesar de tudo, eu consegui manter a família unida.
Justine havia sido uma surpresa. Minha sogra, que fazia questão de me culpar por todos os problemas de , também havia me perdoado e cuidava da floricultura comigo. Ela fazia o atendimento na loja e eu cuidava da maioria das entregas, era bom ter esse contato com as pessoas. Não sei, muito havia mudado desde o acidente.
Peguei as flores murchas do vaso e joguei-as no lixo, desembrulhando o buquê que havia trazido e coloquei-as no lugar. Observei as diversas fotos presas na parede e percebi uma foto nova, de Jordan com sua namorada e o recado “você gostaria dela, mãe”. Ele deveria ter trazido no fim de semana, quando foi visitar a família de Melody.
Observei as outras fotos e vi uma foto de novinha, quando nos apaixonamos. Ela havia ido entregar um buquê para a esposa do meu antigo chefe, ela esbarrou em mim, derrubou água e um pouco de terra e eu acabei xingando-a, mas ela não se abalou e me xingou de volta. Eu fui cafajeste o suficiente de chamá-la para sair e ela achou interessante o suficiente aceitar.
- Olhe para onde anda! – Eu falei, vendo minha blusa limpinha com alguns pingos de terra que derretiam na água.
- Opa, me desculpe! – Ouvi sua voz e reparei a moça de franjinha e um sorriso mais que angelical.
- Não tem muito o que eu posso fazer com as suas desculpas. – Falei, puxando um pouco a camisa para evitar que tocasse em minha pele.
- Poderia ser mais educado, para começo. – Ela falou, se afastando com o grande buquê de flores rosadas.
- Epa, aonde a mocinha vai? – A segurei pelo braço, vendo-a revirar os olhos.
- Fazer o que me contrataram? – Ela olhou para o vaso de flores. – Entrega para o senhor Watson.
- Você não... – Ela esticou o crachá. – Ah sim.
- Posso ir? – Ela perguntou.
- Claro... – Olhei para ela. – A não ser que queira sair comigo mais tarde? – A mesma deu uma risada sarcástica.
- Isso funciona com as mulheres por acaso? – Ela perguntou. – É grosso, tem essa pose de superior e espera que saiamos com você?
- Por que não? – Perguntei, dando de ombros.
- Meu Deus! – Ela riu fracamente, me encarando. A mesma suspirou duas vezes antes de franzir a testa e olhar em meus olhos. – Por que não? – Ela deu de ombros e eu sorri. – Me encontre as sete aqui na frente.
- Pode deixar. – Falei, vendo-a sorrir.
- Ah e troque de roupa, eu tenho uma reputação a zelar. – Ela falou, seguindo seu caminho e eu sorri, checando o relógio e vendo que faltava quatro horas para nosso encontro.
Nossas diferenças não nos atrapalharam no começo, foi quase no final que isso interferiu. Se ela não tivesse caído da escada, aposto que teríamos nos separado, mas ela não estaria nessa situação. Estaria sendo feliz com outra pessoa.
A foto mais recente com ela era do último Natal em que tudo estava bem, ou que deveria estar bem. Ela olhava para mim e eu olhava para a câmera. Não dizíamos nada, mas seu olhar em mim dizia muitas coisas, sentia muitas coisas, e eu sentia muita falta deles me amando, me julgando, me acalmando nos momentos difíceis e agora eles não diziam nada.
Em compensação, eu me lembro das lágrimas que caíam de seus olhos dois anos antes, no dia em que ela foi embora. Lembranças vagas se passavam em minha cabeça. Ela estava agitada, nervosa, parecia que o mundo havia parado aos seus pés e ela procurava formas de tirar aquela dor de seu peito.
E eu não fiz nada. Eu só tentei me explicar que aquilo era tudo coisa da cabeça dela. Talvez não tenha sido a melhor escolha de palavras naquele momento, para ajudar. Também não me senti no direito de pedir para ela ficar, e tudo pareceu morrer dentro de mim no momento em que ela deixou nossa casa, que ela decidiu me tirar de seu coração.
Mas eu prometi ser outra pessoa depois daquele fatídico dia há quase 730 dias. Prometi lutar por ela e vencer essa batalha. Nem que eu fosse vencer sozinho. Eu precisava respirar por nós dois, pelos nossos filhos, pela sua mãe, por ela. E eu sabia que não importava se passasse mais dois anos ou talvez um século sem ela, eu estaria aqui esperando por ela, pois ela sempre está em minha mente.

- Bom dia, senhor . – Virei o rosto, vendo a psicóloga da clínica aparecer.
- Alexis! – Falei, abrindo um pequeno sorriso e ela se aproximou de mim com uma prancheta na mão e nos cumprimentamos com um rápido beijo na bochecha.
- Como você está hoje? – Dei um pequeno sorriso, ponderando com a cabeça.
- Tem dias bons e ruins. – Suspirei. – Às vezes eu me pego perdendo um pouco de fé, o espírito fica mais fraco, não sei. – Dei um pequeno sorriso.
- Isso é completamente normal. – Ela falou. – Tentou alguma das dicas que eu te passei na semana passada? Aprender algo novo para fazer? Talvez conhecer alguém novo? – Ri fracamente.
- Não posso, Alexis. – Falei. – Meu coração pertence a ela, ninguém vai conseguir tomar de novo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Uma aula de artes, talvez? – Ela perguntou e eu ri fracamente.
- Eu já estou fazendo arranjos muito mais bonitos, viu?! – Ela sorriu.
- Eu vi o que você deixou na recepção ontem, muito bonito mesmo, ela ficaria orgulhosa de você. – Dei um meio sorriso.
- Talvez. Essa talvez ainda queira me matar. O tempo passou para nós dois, mas temos visões diferentes. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Bom, muita coisa vai acontecer quando ela acordar, vai ser bom uma lista de prioridades. – Ri fracamente.
- Eu deixo nas mãos dela, eu aceito tudo. – Ela sorriu.
- Já sabe o que vai fazer amanhã? Completa dois anos, não?! – Assenti com a cabeça.
- Sim, as crianças vêm mais tarde ficar conosco um pouco, a mãe dela quer vir também, nada de novo. – Ela confirmou com a cabeça.
- Se precisar de algo, pode falar com a gente.
- Vocês já estão fazendo muito. – Apertei sua mão e ela sorriu.
- Vocês não são meros pacientes mais, . Vocês já fazem parte daqui e merecem um tratamento mais especial.
- Obrigado. – Sorri. – Espero não precisar.
- Com licença... – Uma moça se aproximou de Alexis.
- Se precisar de alguém para conversar, sabe onde eu estou. – Assenti com a cabeça.
- Bom trabalho! – Falei e deixei-a seguir com a outra moça.
Voltei para dentro do quarto novamente, me sentando na poltrona que eu já estava acostumada e peguei o livro A Cabana apoiado na mesa de cabeceira de e abri no lugar do marcador. Ela adorava aquele livro, a capa já estava gasta e as páginas com diversas marcações que ela fazia.
- Vamos continuar? – Perguntei para , dando um pequeno sorriso. – “Ainda acho que precisamos conhecer o inverno para compreender o verão, assim como é necessário passar por momentos de tristeza profunda para conseguir identificar e valorizar a felicidade quando ela chegar. E não devemos, nunca, nos esquecer das pessoas que nos amamos”. – Ri fracamente. – Tentando me dizer algo, ? – Sorri, voltando a leitura.

- Melody, que bom que veio! – Sorri, vendo Jordan, Melody e Micah entrando no quarto.
- Espero que não tenha problema, pai. – Jordan falou.
- Claro que não. – Dei um abraço rapidamente nos três, vendo Micah correr para a poltrona ao lado de .
- Como ela está? – Micah perguntou.
- Sem novidades, meninos! Entrem! – Voltei para minha poltrona e Jordan deixou um pequeno arranjo nos pés de .
- A mãe vai querer te matar se ela ver a raiz dela assim. – Jordan comentou e eu olhei a raiz branca dos cabelos de e eu ri fracamente.
- Acho que temos outras coisas para nos preocupar, gente! – Falei e eles riram.
- Ela é linda, Jordan. – Melody falou e eu sorri.
- Esse não é o tipo de apresentação ideal, Melody, mas essa é sua sogra. – Falei e ela se aproximou de .
- Ela é tão serena. – Assenti com a cabeça.
- Hoje faz dois anos que ela está assim. – Jordan falou.
- E vocês vêm aqui todo dia? – Ela perguntou.
- Papai vem. – Micah falou. – A gente tenta acompanhar.
- Ela sabe que vocês estão com ela. – Segurei a mão de e respirei fundo.
- Você é parecido com ela, Micah. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Já sei! – Ele falou, abanando a mão.
- Seja bem-vinda à família, Melody, fique à vontade em vir aqui, ok?!
- Talvez seja legal. – Ela falou e sorrimos juntos.
- Eu trouxe bolo, pai! – Jordan tirou um pote da mochila, esticando para mim. – Achei que seria propício.
- Faz bem, querido! – Falei e me aproximei até um pequeno móvel que tinha ali e tirei alguns pratos de plástico e talheres.
- Você tem tudo aqui! – Melody falou e eu suspirei.
- Eu fico mais aqui do que em casa, querida, aqui é minha vida agora. – Dei um pequeno sorriso.
- Sinto muito. – Assenti com a cabeça.
- Eu perdi muito tempo me preocupando com outras coisas, eu precisei perdê-la, ou quase, para dar valor. – Virei para . – Agora eu não saio daqui.
- É um amor bonito, senhor . – Ri fracamente.
- Agora é. – Falei e meus filhos concordaram, me dando sorrisos malandros.
- Cheguei! – Justine apareceu na porta.
- Ah, finalmente, hein?! – Falei e me levantei para cumprimentar minha sogra.
- A van quebrou o pneu e tinha entrega para um casamento, precisei ajudar os meninos. – Ela falou, tirando o casaco.
- Deu tudo certo? – Perguntei preocupado.
- Deu, tudo certo! – Ela apoiou a mão no ombro para eu me sentar novamente. – Relaxa! – Rimos juntos. – Bolo! – Ela falou feliz e sorri. – Essa é a famosa Melody? – Sorri.
- Vó, essa é minha namorada. – Jordan falou e senti as lágrimas subirem pelos olhos ao pensar que não podia acompanhar esse momento.
- Falaram muito de você, minha querida. – Justine falou.
- Ela é mãe da minha mãe. – Jordan falou e o sorriso de Melody se transformou em um sorriso triste.
- Está tudo bem, querida! – Justine falou, se sentando em um canto vazio no sofá.
- O que vocês fazem quando vêm aqui? – Melody perguntou.
- O que você faz quando se reúne com sua família? – Justine devolveu e Melody assentiu com a cabeça.
- Contamos para ela o que aconteceu na semana. – Micah falou, pegando um pedaço de bolo.
- Por que você não conta para ela sobre seu F em biologia? – Falei para Micah e ele fez uma careta.
- Vamos começar com coisas felizes, vai! – Ele falou e gargalhamos.
- Mãe, essa é a Melody. – Jordan falou. – Ela é uma boa moça, prometo. – Rimos juntos. – Ela é da igreja, tá?! – Melody gargalhou.
- Conta como vocês se conheceram. – Falei.
- Foi engraçado! – Melody falou, rindo fracamente.
- Eu estava andando de skate no Central Park, sei que você já falou mil vezes para eu não fazer isso, pois eu posso atropelar as pessoas, mas...
- Aconteceu, sogra! – Melody falou, me fazendo gargalhar. – Ele me atropelou.
- Aí ela ralou o joelho, eu queria levar ela para cuidar, mas acabamos tomando um sorvete. – Jordan falou e sorri, me perdendo na conversa e deixei a cabeça me levar mais uma vez em como tudo aquilo seria se realmente estivesse presente, com sua risada característica e seus comentários julgadores para cima de Jordan.

- Vamos, pai?! – Jordan perguntou quando terminou de arrumar as coisas e eu suspirei.
- Já estou indo, me dê uns minutinhos, pode ser? – Pedi e ele assentiu com a cabeça.
Ele deu um beijo na testa de , Melody fez o mesmo e os dois saíram, acompanhando Micah e Justine que já tinham saído segundos antes. Me sentei novamente na poltrona, segurando a mão de e suspirei.
- Volta para mim, meu amor! – Sussurrei, dando um beijo em sua mão. – Eu não quero te perder, eu não posso te perder. – Suspirei, apoiando a mão dela levemente sobre a cama novamente. – Eu te amo, ok?! Vou continuar respirando por nós dois, está bem? Respirando por você! – Me levantei da cama, pegando o livro finalizado. – Amanhã eu trago um novo. – Suspirei, saindo de seu quarto.
- Já vai, senhor ? – Alexis perguntou e eu suspirei.
- Vou aproveitar a noite com meus filhos em casa. – Falei, encaixando o livro no bolso fundo.
- Aproveita sim, vai te fazer bem! – Ela falou e eu assenti com a cabeça, passando a mão embaixo dos olhos.
- Podemos conversar amanhã? Profissionalmente? – Perguntei e ela deu um meio sorriso. – Às vezes eu sinto que estou prestes a explodir.
- Claro que sim! – Ela sorriu. – Mas isso é normal, você está vivendo o mesmo dia há dois anos, senhor , tentando segurar uma barra dessas sozinho.
- Quando estiver livre, eu estarei aqui. – Ela assentiu com a cabeça.
- Não se preocupe, meu primeiro horário amanhã é teu. – Sorri.
- Obrigado! – Falei. – Até amanhã, gente!
- Até amanhã, senhor . – Eles falaram e eu acenei com a mão, enfiando ambas no bolso.
Segui pelos corredores, acenando para os funcionários no fim do expediente e senti os poucos raios de sol ainda iluminando a cidade de Nova York, me fazendo suspirar. Sorri para Sam, recepcionista da noite e peguei a prancheta, colocando minha assinatura para sair.
- ! – Ouvi um grito e virei o rosto, vendo Alexis e dois enfermeiros atrás dela. – !
- O que aconteceu? – Perguntei.
- Ela acordou! – Ela falou e eu arregalei os olhos, seguindo correndo pelo corredor e ouvi passos atrás de mim, provavelmente meus filhos.
- Como aconteceu?
- Eu não sei, você saiu e ouvimos o monitor dela apitar. – Edward, enfermeiro, falou e eu respirei fundo.
Cheguei na porta do quarto dela e prendi a respiração antes de entrar. A neurologista da clínica já estava ao lado dela, mas a mesma ainda não havia entendido o que estava acontecendo. Soltei a respiração forte quando percebi que ela estava de olhos abertos e me desmanchei em lágrimas, sentindo meu corpo fraquejar e os joelhos baterem no chão.
- ? – Ouvi sua voz fraca e suspirei, me deslizando para mais perto dela. – O que você está fazendo aqui? Onde eu estou?
- Xí! Xí! – Falei, engolindo em seco. – Nós temos muito para te contar.
- Eu estou em um hospital? – Ela perguntou, olhando para médica.
- Em uma clínica particular, você sofreu um acidente, caiu da escada. – A médica falou.
- Eu acho que me lembro disso. – Ela olhou para as mãos, checando os monitores. – Foi muito sério? Eu não sinto dor nenhuma. – Puxei a respiração, fechando os olhos.
- Você esteve em coma, senhora . – A médica falou. – Por exatos dois anos.
- Dois anos? – Ela perguntou surpresa e eu assenti com a cabeça, pressionando os lábios.
- Dois anos. – Afirmei, tentando puxar as lágrimas para dentro.
- Como eu cheguei aqui? – Ela perguntou.
- É uma longa história, mas eu te trouxe para cá para esperar que você se recuperasse. – Falei, passando as mãos embaixo dos olhos, secando as lágrimas. – E você se recuperou. – Falei, suspirando.
- E a gente? Eu lembro da briga, eu me lembro de sair de casa, eu me lembro de tudo. – Neguei com a cabeça.
- Para mim, nada mais importa, tem sido muito difícil viver a vida sem você. – Respirei fundo. – Mesmo assim você me fez sobreviver esses anos e agora eu valorizo tudo o que você faz, todo nosso amor, nossa vida... – Ela colocou a mão na minha cabeça.
- E como ficou as coisas? As crianças? A empresa? A floricultura? – Ela perguntou rápido.
- Calma! – Falei. – Vamos só checar se você está bem mesmo, por favor. – Falei aliviado, segurando sua mão e dando um beijo nela.
- Por favor, me abrace! – Ela falou e eu sentei na beirada da calma, apertando-a contra meu corpo, sentindo as lágrimas rolarem pela minha bochecha, me fazendo respirar fundo. – Está tudo bem. – Ela falou.
- Eu que deveria falar isso. – Suspirei, colocando as mãos em seu rosto quando nos afastamos.
- Você está mais velho. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Você também! – Falei e ela sorriu.
- Cadê os meninos? – Ela perguntou e eu olhei para fora, vendo Justine.
- Cadê os meninos? – Repeti a pergunta e Justine virou para trás, sussurrando alguma coisa.
- Mãe? – Jordan entrou primeiro e Micah veio atrás. Eles pareciam com medo do que iam encontrar.
- Ah, meus bebês! – Ela falou e ambos sorriram, correndo para abraçá-la e eu me afastei, respirando fundo.
- Finalmente! – Justine falou e eu a abracei de lado, fechando os olhos.
- Como vocês estão? Vocês estão tão crescidos! – Ela falou também chorando.
- Sentimos sua falta! – Jordan falou e eu levei a mão à boca, prendendo a respiração.
- Eu quero saber tudo, tudo, tudo! – Ela falou e os meninos se afastaram.
- Devagar, meu amor. – Justine falou.
- Mãe? – Ela perguntou e Justine seguiu para abraçá-la, fazendo-a sorrir.
- A senhora vai precisar fazer muitos exames, senhora , mas em breve você poderá sair daqui. – A médica falou e eu me sentei na poltrona ao lado novamente.
- Quem é ela? – perguntou e virei o rosto, vendo Melody ao lado de Jordan.
- Minha namorada, mãe, Melody. – Jordan falou e abriu um largo sorriso.
- Meu Deus, meu bebê já tem uma namorada! – chamou a menina com a mão. – Vem me dar um abraço, querida!
- Sem me fazer pagar mico, mãe. – Ri fracamente.
- Eu perdi dois anos da vida de todos vocês, eu tenho esse direito! – falou abraçando Melody e eu sorri.
- Teremos tempo. – Falei, sorrindo.
- Nós vamos fazer uns exames rápidos, amanhã fazemos os mais chatos, pode ser? – A médica falou e eu assenti com a cabeça.
- O que é mais um dia comparado a dois anos? – falou e eu ri fracamente.
- Podem nos dar licença, por favor? – A médica perguntou.
- Ele pode ficar? – perguntou, segurando minha mão e a médica confirmou com a cabeça.
- Claro! – Ela falou.
- Você ficou comigo todo esse tempo? – Ela perguntou.
- Todo dia eu venho aqui te ver, ler um pouco para você, bater um papo. – Ela colocou a mão livre em meu rosto e eu dei um pequeno sorriso. – Me desculpe por tudo! – Falei, sentindo as lágrimas em meu rosto novamente.
- Xí! – Ela falou, negando com a cabeça. – Não vamos voltar nisso. – Ela respirou fundo. – Se faz mesmo dois anos que eu estou aqui, e pela sua barba branca, parece mesmo, e você ficou aqui comigo todo esse tempo, eu não preciso te perdoar de nada. – Ela falou.
- Você precisa. – Suspirei. – Dois anos te apoiando não limpam todas as minhas falhas nos últimos 22. – Ela respirou fundo.
- Talvez não, mas me provam que você se tornou alguém melhor. – Ela sorriu e percebi como sentia falta do seu sorriso.
- Eu fiquei vivendo por nós dois, vir aqui era um impulso para eu te ver novamente, tentar limpar meus erros e, quem sabe, te ver assim, de olhos abertos, sorrindo para mim. – Ela repetiu o gesto. – Eu me levanto todos os dias só para ver você. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu nunca duvidei que você poderia ser alguém melhor. – Ela falou e eu sorri.
- Eu finalmente me convenci que meu lugar não é no mundo corporativo, eu estou cuidando da floricultura junto com a sua mãe. – Neguei com a cabeça. – Enfim, muita coisa mudou e temos muito para te contar. – Ela deu um sorriso.
- E eu quero saber tudo! – Ela aproximou seus lábios dos meus, tocando-os levemente. – Melhor eu escovar o dente antes.
- Talvez! – Falei e ela riu fracamente.
- Vamos fazer tudo, que o que eu mais quero é sair daqui! – Ela falou para médica que sorriu.


Epílogo

- Pronta? – Perguntei ao ver sair do banheiro com jeans, camiseta e um sobretudo por cima de tudo.
- Sim, a calça ficou um pouco larga, mas tudo bem. – Ela sorriu.
- Você perdeu um pouco de peso. – Falei e ela riu.
- Bom, agora eu preciso manter esse corpinho de quando eu tinha 20 anos. – Ela falou e eu ri fracamente, pegando sua mala em cima da cama.
- Não brinque com isso. – Falei e ela sorriu ao meu lado.
- Tenho boas memórias dos meus 20 anos. – Ela falou, passando um braço em meu ombro e eu sorri.
- Eu também, mas meus 40 estão sendo mais sensacionais ainda. – Falei e ela sorriu, colando nossos lábios por alguns segundos.
- Pronta para ir embora, senhora ? – Virei para o lado, vendo Alexis na porta.
- Com certeza! – sorriu e segui na frente.
- Obrigado por tudo! – Abracei Alexis e ela sorriu.
- Espero nunca mais vê-los, está bem? – Alexis abraçou em seguida e eu ri fracamente.
- Para assuntos de saúde, espero nunca mais vê-los também, mas vocês se tornaram minha família aqui, eu nunca vou me esquecer de tudo o que fizeram por nós. – Falei e ela sorriu. – E eu ainda quero aquela conversa profissional que falei para você uns dias atrás.
- Estarei por aqui, só marcar! – Ela sorriu. – Mas você evoluiu muito, , muito mudou nesse tempo todo. – Sorri.
- Eu entrei aqui com as mãos cheias de coisas ruins, estou indo embora com elas vazias agora. Estou deixando tudo aqui. – sorriu ao meu lado.
- Isso é muito bom! – Alexis falou sorrindo. – Agora vão, sejam felizes, ok?! – Ela falou e sorriu.
- Obrigada por tudo! – a abraçou mais uma vez.
- Pegue todo esse perdão e façam acontecer na vida real, estamos entendidos? – Alexis falou e eu estendi a mão para que sorriu.
- Entendido. – sorriu e eu dei um beijo na cabeça dela. – Obrigada!
- Tchau! – Alexis falou e Edward sorria ao lado dela.
Seguimos pelos corredores da clínica e os profissionais formaram um corredor para a saída de e aplaudiam ela que não conseguia conter as lágrimas, nem eu para ser honesto. No momento em que eu entrei nessa clínica, eu não tinha esperança nenhuma de sair com de braço dado ao meu e andando, achei que nosso final seria bem pior.
Acenei para os profissionais que me atenderam de diversas formas e seguimos para as portas. Jordan e Micah estavam do lado de fora com Leon e correu abraçá-lo quando o viu e sorrimos juntos com a alegria de ambos. amava meus empregados e eles eram mais do que isso, já eram parte da família.
- É muito bom ver a senhora. – Ele sorriu.
- Você também, Leon! – Ela sorriu e eles entraram no carro.
Virei o rosto para a clínica, vendo alguns funcionários saírem da mesma e coloquei a mão no peito, fazendo uma flexão em agradecimento e respirei aliviado. Havia sido uma grande batalha, mas tínhamos vencido, eu tinha mudado muito e tinha muitas promessas para cumprir, mas o que importava é que eu tinha recebido uma segunda chance e não desperdiçaria de jeito nenhum.
- Vai ficar? – Virei o rosto, vendo perguntar com o vidro abaixado e eu ri fracamente.
- Obrigado! – Falei novamente para os funcionários e entrei no carro, fechando a porta.
- Para onde, senhor? – Leon perguntou e eu virei para .
- Para o Queens. – Ela arregalou os olhos e eu segurei sua mão, dando um beijo nela. - Mudanças são feitas por dentro e por fora. – Falei e ela sorriu, apoiando a cabeça em meu ombro novamente e eu sorri, sabendo que mesmo com bem, eu continuaria respirando por nós dois, pois eu só sobrevivi esse tempo todo, acreditando que ela estava em algum lugar, esperando para voltar.
E ela voltou.




FIM!



Nota da autora: Eu me apaixonei por músicas de língua espanhola quando aprendi a língua, e se apaixonar pelas músicas do Yatra é muito fácil, tanto que quando eu entrei nesse ficstape, eu fiquei muito em dúvida de qual música pegar e acabei pegando essa e Fantasía, que antes eu conhecia pouco e agora são as minhas favoritas.
A intenção dessa fic era fazer uma continuação para 01. Sucker, mas não tinha tempo, então decidi criar um enredo novo e me apaixonei. Espero que vocês se apaixonem também!
Não se esqueçam de deixar seu comentário e me dizer o que acharam.
A música 05 também é minha, hein?! Dá uma olhada!
Beijos.




Outras Fanfics:
  • 05. Fantasía


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