08. Vigilante Shit

Fanfic Finalizada

I

você fez muitas coisas ruins, mas eu fui a pior delas.

O tiro passou raspando pela janela e acertou o espelho retrovisor do banco passageiro do carro. Meu corpo encolheu involuntariamente, um xingamento alto saindo dos meus lábios, enquanto eu ultrapassava os sinais fechados.
— Dirija mais rápido!
O carro quase derrapou para um lado, mas desviei e continuei seguindo na avenida na velocidade máxima. Eu conseguia ver três sedan preto nos seguindo muito de perto. Homens que eu não conhecia estavam com as cabeças para fora da janela, em posição de ataque, armas nas mãos, alvejando o carro que eu dirigia sempre que tinham uma oportunidade.
— Estou tentando, porra! — esbravejei, com raiva de estar presa naquela situação.
me lançou um olhar furioso, embora eu soubesse que não era alvo da sua fúria. Ele odiava a situação tanto quanto eu. A pior merda do mundo era ser perseguida em uma avenida cheia, com mercenários tentando a todo custo acabar com a sua vida e, embora nós dois estivéssemos acostumados com aquela merda toda, não significava que gostávamos de lidar. Ele olhou para trás, avaliando melhor a nossa situação, procurando por opções de saídas, mas eu estava perto de ser cercada. Se não conseguisse me livrar daqueles caras pelos próximos quinze minutos, nosso próximo destino seria o cemitério.
— Porra, que merda é essa, ? — ele soltou, começando a preparar suas armas, na intenção de revidar. O próximo sinal fechou e virei o carro para a esquerda com tudo, nossos corpos chacoalhando. Três tiros bateram no vidro de trás do carro e nunca agradeci tanto por aquela merda ser blindada. — No que você se meteu?
Engoli a seco, apertando o volante com força.
Eu não tinha contado a verdade para ele. Na verdade, eu não contei nada e ele não perguntou. Mesmo assim, ele não hesitou em me ajudar quando pedi hospedagem e nem se voltou contra mim quando aqueles caras invadiram o prédio do seu apartamento e atearam fogo nas suas coisas. Nós conseguimos fugir a tempo, roubando um carro na garagem, mas não impediu que eles nos seguissem.
— O que você está fazendo? — indaguei, ao invés de responder, quando ele começou a subir no banco.
não me respondeu imediatamente. Mantive meus olhos na estrada e as mãos no volante, o carro agitado de um lado para o outro, o barulho dos pneus sendo forçado contra o chão em uma velocidade além da permitida. Desviei de um táxi e depois de outro, avançando mais um sinal, fazendo com que uma moto e um carro colidissem. Merda.
— No próximo sinal, cruze a direita o mais lento que você conseguir — ele instruiu.
Os tiros começaram a atingir o vidro traseiro. Estava começando a rachar, mas continuava aguentando o ataque das balas. Olhando pelo espelho retrovisor, notei que o primeiro carro, o que estava mais próximo de nos alcançar, começou a preparar o lançamento de um míssil pequeno.
— É a prova de balas, mas não de míssil, certo? — murmurei, mal humorada.
olhou para trás, entendendo a minha pergunta e xingou baixo, preparando a sua única arma. Eu não sabia quantas balas aquela coisa tinha, mas esperava que, o que quer que ele fosse fazer, funcionasse.
— Agora!
Ele sentou ereto no banco, a mão na porta ao seu lado e fiz o que ele pediu. Cruzei a direita, pisando mais no freio que no acelerador, o carro derrapando lento e rápido ao mesmo tempo, se fosse possível. abriu a porta e o tempo desacelerou ao nosso redor. Ele se agachou, apontando a arma e, concentrado como o atirador profissional que era, eu o vi acertar o segundo carro nos dois pneus, o motorista perdendo o controle, batendo contra o hidrante. Menos um.
Sem perder tempo, ele atirou na base do míssil e a coisa toda explodiu, capotando o carro pela rua, atingindo outros. fechou a porta do carro quando não dava mais para atirar e eu acelerei, a respiração descompassada.
Mas ainda faltava um.
E ele vinha nos seguindo, furioso, os pneus barulhentos e fumaçando. Eu conseguia ver um motorista e um atirador, mas não os reconhecia.
— Quantas balas você ainda tem? — perguntei, mantendo os pés no acelerador, dirigindo por uma ponte. O trânsito não estava tão caótico, o que me permitiu continuar dirigindo a toda velocidade por meio dos poucos carros e motos que passavam ali.
verificou e soltou um palavrão baixinho.
— Uma.
Eu estava prestes a responder, quando perdi o controle do carro por um momento. Um dos pneus tinha ficado ruim de repente e eu não conseguia fazer o carro parar de girar, percebendo que os mercenários restantes tinham atingido um dos pneus. Segurei os volantes com força, tentando manter o controle de volta, mas o veículo capotou, bateu com outro e, de repente, estávamos caindo direto na água.
!
O impacto do carro contra a água fez meu corpo inteiro doer. Minha cabeça bateu contra o volante, a testa latejando um pouco. Abri meus olhos, notando a escuridão do mar, a água começando a invadir dentro.
, precisamos sair! — avisou, soltando-se do cinto com dificuldade.
Eu ainda tentava entender o que tinha acontecido, mas fiz o mesmo que ele e tentei me soltar do cinto, os dedos das minhas mãos tremendo. Ele se soltou primeiro e me ajudou a me livrar do cinto de segurança. As portas não queriam abrir. A água engoliu o carro por completo e prendi a minha respiração quando fiquei completamente submersa. Forcei a porta do carro do meu lado, empurrando-a com o ombro, tentando fazê-la ceder. Eu não tinha escapado para morrer ali.
Mas se o vidro era à prova de balas, com certeza também era à prova de socos.
Eu estava começando a perder a consciência, meus pulmões implorando por oxigênio. Mal percebi um par de braços me puxando para fora do carro pelo lado oposto da porta e não sabia como tinha conseguido, mas não importava. Ele continuou segurando meu corpo, nadando até a superfície. Quando chegamos, a cabeça para fora da água, respirei tão fundo que me engasguei, tossindo a água que tinha engolido no caminho.
— Você está bem? — verificou.
Sua mão tocou o meu rosto e minha cabeça latejava tão forte que não consegui responder, mas assenti. O som de sirenes ao longe me despertou, me dando conta da merda toda da situação. Puxei o ar de novo e encarei .
— Temos que sair daqui — eu disse.
Ele concordou com um aceno e começamos a nadar para sair da água. Uma vez em terra firme, seguimos qualquer rumo desconhecido, só para fugir do local do acidente e das sirenes. A caminhada naquele espaço local deserto secou um pouco as nossas roupas e fez minha cabeça latejar menos. parou de andar e encostou-se contra uma árvore e percebi.
? — chamei, a voz incerta. Me aproximei dele, parando na sua frente. — Você está bem?
Eu não tinha parado, até aquele momento, para me certificar que ele estava bem. Não havia nenhum ferimento visível e sua respiração estava controlada, apesar de curta, mas nada que indicasse algum tipo de lesão. Ele respirou fundo e levantou os olhos na minha direção, passando os dedos pelos fios de cabelo úmidos.
— Que merda foi aquela, ? — ele indagou.
Umedeci meus lábios, sentindo o vento bater contra meu rosto. A roupa molhada e o vento forte estavam deixando o meu corpo frio, mas o treinamento intenso que tive no passado fez com que eu aprendesse a suportar todo tipo de temperatura. Um frio daquele nível não me incomodava. Mesmo assim, esfreguei meus braços com as mãos e deixei um suspiro frustrado escapar dos meus lábios, me preparando para responder a pergunta.
— Quando fui expulsa da Marinha, fiquei sem perspectivas — comecei a explicar. — Era a única carreira que eu tinha em mente, a única coisa que eu sabia fazer, e então… — Meu peito subia e descia em uma respiração lenta, os olhos de mantendo-se fixos em mim. — Comecei a ficar autodestrutiva. Uma noite, eu estava em um bar em Virginia, quando um cara me abordou. Ele queria me recrutar para um esquadrão de elite dentro da CIA e, embora eu devesse ter perguntado mais sobre aquilo, não me importei. Estava com tanta raiva do mundo que aceitei.
continuou em silêncio, incapaz de me interromper, enquanto eu finalmente dava a sua resposta. Ele sabia, na época, que eu estava passando por problemas quando fui expulsa e realmente tentou me ajudar, mas cega pela raiva que sentia, afastei qualquer pessoa que me oferecesse consolo. Ele ainda tinha seu emprego e sua carreira, eu não.
— Éramos assassinos sob o disfarce de agentes para a CIA — continuei, mordendo a parte interna da minha bochecha. Não tinha vergonha do meu passado e muito menos do meu presente. Eu era aquilo que tinham me tornado. — Só o Diretor sabia da nossa existência. Cada missão passava pela aprovação dele. Na última missão que tivemos, nosso alvo era um líder de uma facção terrorista em Paris, mas deu tudo errado.
“Nós tínhamos uma única regra, : sem testemunhas.
Conseguimos eliminar o líder e alguns de seus seguidores que nos atacaram, mas quando pensamos que tínhamos terminado, havia uma criança do outro lado da rua, que testemunhou tudo. Eles me encarregaram de cuidar dela e eu sabia o que aquilo significava, mas não consegui. Era só uma criança. Não devia ter mais que 8 anos.”
— Estão atrás de você porque se recusou a matar uma criança? — Seus lábios tremeram de frio.
Deixei meus ombros caírem, me sentindo exausta das últimas doze horas. Três tentativas de assassinatos devia deixar qualquer um cansado.
— Não só isso — respondi, olhando ao redor, me certificando que ainda estavámos mesmo sozinhos. Não dava mais para ouvir as sirenes. — Eu comecei a me questionar sobre tudo o que tinha feito. Quantas pessoas, dentre tantas que matamos, eram inocentes? Investiguei por duas semanas escondida e descobri que estava certa em suspeitar. Eliminamos alvos realmente perigosos, mas no geral, esse esquadrão de elite nada mais era do que outro disfarce para a CIA eliminar seus inimigos pessoais. Políticos, cientistas, agentes deserdados. A maioria, inocente. Acenei com a cabeça, indicando que continuassémos andando. Não dava para ficar ali parados, sem saber se ainda estavam nos seguindo e eu realmente queria um lugar onde pudesse me livrar das roupas molhadas. Nunca desejei tanto vestir um moletom quente. aceitou minha sugestão silenciosa e, com uma mão na base da minha cintura, um toque mais íntimo do que eu esperava, retomamos nosso caminho.
— Você juntou provas contra eles? — O atirador me questionou, mostrando que ainda me conhecia, mesmo depois de anos sem contato. Deveria significar alguma coisa o fato de eu ter procurado-o primeiro quando toda aquela merda estourou, porque ele era a única pessoa em que eu ainda confiava. Deveria significar mais ainda que ele me ajudou sem saber o que estava acontecendo. De algum jeito, eu sabia que, mesmo que ele soubesse no que eu estava metida e estava arriscando a sua segurança, ele não se importaria em me ajudar.
— Sim.
O silêncio surgiu entre nós, conforme andamos. Ele não disse nada durante aquele tempo e eu também não. Foi só quando, uma hora depois, dentro de uma cafeteria de bairro que não possuía câmeras, ele perguntou:
— O que você vai fazer, ?
Uma pergunta de resposta fácil. Eu estava disposta a entregar as provas que consegui, claro, mas não sem antes cumprir a minha promessa pessoal: vingança. Se não fossem idiotas o suficiente para mandarem me matar, eu teria considerado seguir em frente e destruir aquela porra de esquadrão o mais quieta que conseguisse. Destruir uma organização por dentro era melhor que por fora, mas eu daria um jeito.
— Pretendo destruí-los, — respondi, sentada na mesa mais afastada do local, ele na minha frente, a expressão serena, nossas roupas úmidas. — Deixarei os outros para serem expostos, mas vou cuidar do Diretor pessoalmente.
Ele não mudou a expressão. , apesar de ter convicções muito diferentes da minha, não tentou me convencer do contrário. Ele sabia que, independente do que ele dissesse ou fizesse, eu ainda faria o que queria. O Diretor tinha enviado mercenários à minha casa. Me encontraram no apartamento de e colocaram-o em perigo. Me perseguiram e me jogaram no fundo do mar. Não iam parar, se a ordem tinha partido dele. E eu ia provar que sabia revidar.
A CIA precisaria de um novo Diretor em breve.


II

— Obrigado, Peter.
aceitou a chave do homem, que alternou o olhar entre nós dois. Eu estava logo atrás de , deixando-os com o máximo de privacidade que eu conseguia dar, mas não dava para fingir que eu não escutava nada.
Peter era um colega antigo de , a quem ele me garantiu ser confiável. Ele tinha ligado para o ex-fuzileiro ainda dentro da cafeteria e, quando o homem ruivo chegou, nos conduziu a um carro discreto, nos levando até o sul da cidade. Ele estacionou o carro dentro do estacionamento apertado do prédio pequeno, instruindo que podíamos ficar escondidos ali pelo tempo que fosse necessário, que era um local seguro e sem câmeras ao redor. Havia riscos de sermos localizados, ele disse, mas as chances eram bem poucas. Serviria pelas próximas horas restantes, principalmente quando eu já estava começando a ficar sem opções.
— Sinto muito não poder ajudar mais — Peter lamentou, apertando a mão de em despedida. — Você sabe onde fica tudo. Me liga, se precisar de mais alguma coisa.
assentiu, agradecendo. Ele me deu uma olhada rápida e se afastou do carro de Peter, dando espaço.
? — Peter chamou. Quando olhou, ele completou. — Tomem cuidado.
Optamos por ir pelas escadas. O apartamento de Peter ficava no terceiro andar, a última porta à direita do corredor. Quando entramos, o cheiro de lavanda invadiu nossas narinas e eu espirrei sem querer.
— Você é alérgica? — quis se certificar, trancando a porta atrás de mim.
Esfreguei o meu nariz, negando com um aceno. — Não — tranquilizei-o. — Mas não sou muito fã do cheiro.
O som da sua risada me surpreendeu e reverberou por todo o meu corpo. Me vi ali, sem nada, olhando para ele com uma expressão taciturna de alguém que estava perdendo tudo. A tensão da situação não tinha dado espaço para nos permitir rir de alguma coisa ou nos sentirmos leve. No entanto, estar perto de mudava o rumo de qualquer situação.
Meu corpo tinha memória própria. Ele se lembrava dos toques das mãos dele pela minha pele, sua boca beijando cada parte minha que ele gostava de explorar. Ele se lembrava das batidas fortes do meu coração contra meu peito e de como tinha doído deixá-lo para trás. Agora aqui estava eu, destruindo não só a minha vida pela segunda vez, mas também a dele.

Ele foi mais rápido que eu, erguendo uma mão, a palma virada pra cima na minha direção.
— Pare — ele disse. — Nada disso é culpa sua.
Seis anos não foram suficientes para esquecer o que eu sentia por ele. Na verdade, meus sentimentos permaneceram enterrados e amadurecidos. Amá-lo foi a única coisa certa que eu fiz a minha vida inteira. Só não era nosso destino ficar juntos.
— Todo esse problema é somente meu — rebati, já sabendo que era uma discussão perdida. — Você não precisa continuar.
Sem pudor, comecei a me despir das roupas úmidas. Ele não ligava de me ver seminua na sua frente, quando já fez isso tantas vezes, então ele só me imitou, livrando-se das suas peças molhadas também.
— Você está certa — ele devolveu, os olhos faiscando. — Mas não vai conseguir fazer isso sozinha, , e você sabe disso.
A sua boca dizendo meu apelido me despertou memórias nostálgicas e eu odiei. Não era o tipo de mulher que gostava daquele tipo de sensação e deixei que o ar saísse da minha boca, como se eu precisasse que tudo saísse junto, mas não era assim que as coisas funcionavam.
Fiquei somente de peças íntimas. Ele saiu, indo para um outro cômodo, me deixando sozinha por alguns segundos. Quando voltou, estava segurando peças de roupas femininas e masculinas.
— Peter tinha uma amante, então… — ele me jogou as roupas. Um vestido longo demais e um conjunto de blusa e calça jeans. Optei pela segunda opção.
— Vou fazer algo do qual você pode se arrepender — retomei a discussão, vestindo as peças de roupas.
me olhou rápido e desviou o rosto, vestindo as próprias peças de roupas também. Olhei ao redor, notando que o apartamento era realmente pequeno, mas confortável.
— Você vai matar o Diretor da CIA — ele foi direto. — As consequências decorrentes disso não são o suficiente para te fazer desistir?
Era uma pergunta retórica; ele sabia a resposta.
bufou, sabendo que era uma discussão inútil. Eu não conseguia convencê-lo a me deixar seguir sozinha naquela e ele não conseguia me convencer a desistir da ideia de assassinar o Diretor da CIA.
Ele se aproximou de mim, parando a poucos centímetros, estando perto o suficiente para que eu conseguisse sentir a sua respiração.
me encarou com uma intensidade familiar e, quando mal percebi, minha boca estava grudada à dele.
Me agarrei ao seu pescoço, aproveitando a sua boca explorando a minha, como se nunca tivesse feito aquilo antes. Eu conhecia o corpo dele melhor do que ninguém e pensei que, depois de tanto tempo longe, eu esqueceria todos os seus detalhes, mas isso não aconteceu. O gosto da sua boca era o mesmo. Suas mãos apertavam a minha cintura do mesmo jeito que antes, me segurando como se eu sempre fosse fugir ou cair. Meus dedos adentraram os fios úmidos do cabelo dele, aprofundando o beijo, a sensação esmagadora do seu corpo contra o meu nublado a minha mente por segundos longos demais.
Por mais que eu quisesse ir em frente com aquilo, eu não podia esquecer que eu tinha um propósito que não podia atrasar só para que eu pudesse transar com ele. Foi com esse pensamento desperto que eu me afastei, quebrando o beijo, puxando o ar para meus pulmões. Merda, eu nem devia tê-lo beijado.
— Não posso fazer isso.
Ele me ofereceu um meio sorriso, passou o polegar pelos seus lábios e acenou positivamente, entendendo a minha recusa.
— Tudo bem, . Mas, se vamos fazer isso, precisamos de um plano.
Mordi o meu lábio e trinquei os dentes. Eu tinha um plano. Não era o melhor plano do mundo, mas era um plano e o único rápido o suficiente que eu conseguia pensar. Então, eu disse a ele e a sua reação era exatamente a que eu esperava que ele tivesse.
— Você quer invadir a CIA?
Dei de ombros, indiferente ao choque na sua voz.
— Não é tão difícil.
balançou a cabeça, incapaz de me dar uma reação melhor que essa.
— O prédio é praticamente uma fortaleza, — ele argumentou, com razão. Me joguei contra o sofá e ele ficou em pé, de frente para mim. — Fora que você agora é foragida, como pretende fazer isso?
Ele tinha razão. Era um plano idiota e com falhas, mas eu já fiz coisas muito mais arriscadas do que aquela. Invadir a CIA seria só mais um para a lista. Não havia outro jeito de pegar o Diretor, por dois motivos, 1: ele estava me esperando. O homem não era idiota e conhecia cada membro da sua equipe fantasma, o que significava que ele sabia que eu iria atrás dele e, 2: por exatamente esse motivo, ele julgava o prédio da CIA seguro o suficiente para protegê-lo de mim.
— Não vou entrar pela porta da frente — respondi, a ideia mais imprudente tomando forma. — Vou escalar o prédio.
O quê?


III

— Como está indo aí em cima? — A voz de surgiu através do ponto eletrônico no meu ouvido e eu levantei um joinha com o polegar, me segurando na corda com mais firmeza do que eu pretendia.
Ele estava do outro lado do prédio, posicionado como um atirador de elite, me dando cobertura. Apesar de ter achado meu plano todo uma loucura, ele não queria que eu fizesse aquilo sozinha de qualquer jeito, então se convenceu a me ajudar. Eu comecei a escalar o prédio pelos pontos cegos, evitando as janelas maiores que eu sabia que estaria cercado de gente, me disfarçando como uma daquelas pessoas que costumavam limpar vidros. Não tinha sido difícil conseguir o disfarce. Descobrimos, logo depois de eu ter falado sobre meu plano, que Peter tinha um compartimento secreto dentro do apartamento. Lá tinha todo tipo de armas e recursos que um agente usava para se disfarçar. Foi assim que conseguimos o ponto eletrônico para conseguirmos nos comunicar de longe, caso algo desse errado.
— Estou pronta para entrar — avisei-o. — O andar está limpo?
Demorou um pouco para que ele respondesse.
— Sim.
Colei um dispositivo contra o vidro e ativei-o, observando a janela se estilhaçar silenciosamente em pedacinhos. Pulei para dentro, cortando a corda, me certificando que eu estava no andar certo. Me livrei do disfarce, ajeitando o blazer no meu corpo e amarrei o meu cabelo, pegando a arma das minhas costas.
E comecei a andar devagar, atenta a qualquer movimento. Aquele era um espaço particular. Ninguém tinha acesso, somente o Diretor, mas ainda não era a sua sala oficial. Ele usava essa para reuniões secretas, por isso estava vazia. Eu sabia sua rotina e planejei tudo com base naquilo. Aquele espaço era ligado ao seu escritório.
Andei até a porta falsa, forçando-a para o fundo. Ela abriu para o lado, revelando o escritório do Diretor, a estante de livros sendo usada para esconder aquele detalhe. Ele não me viu imediatamente. Avancei passos lentos, a arma apontada diretamente para o homem sentado do outro lado da mesa grande.
— Oi, Calhoun.
Era visível pelas suas íris o susto que ele tinha levado com o som da minha voz. Se eu não fosse tão boa em reparar em detalhes, mal teria percebido quando ele arregalou os olhos e tentou manter a postura ao perceber que eu estava ali. Calhoun passou os olhos ao redor, como se esperasse por algo, mas não havia nada. Ninguém.
Era o horário de almoço da sua secretária e nem mesmo ela poderia ouvir alguma coisa.
.
Meu sorriso era frio, em contraste com os seus olhos. Mantive a arma apontada para ele, obrigando-o a levantar as mãos, antes de tentar alguma gracinha. Meu ódio era tão grande que precisei me obrigar a manter a calma.
— Você deveria ter me deixado em paz.
Ele mal piscou, inabalado. O susto tinha dado lugar à arrogância.
— E você deveria ter cuidado da testemunha — rebateu.
Fuzilei-o com o olhar. Ele podia ter me tornado uma assassina, mas eu tinha limites. Matar uma criança inocente estava longe de ser algo que eu faria.
— Era só uma criança.
— Ainda assim, uma testemunha — ele continuou.
Desde quando o conheci, ele nunca foi um homem sensível. Ter um cargo de poder dentro da CIA fazia-o se sentir invencível. Na maioria das vezes, ele era insuportável, mas eu o aturava por ser meu chefe. Alguém que eu acreditava que sabia o que estava fazendo, mesmo que não fosse lá um cara muito inteligente. Ele nos protegia. Só não era pelo motivo certo.
— Parece que matar inocentes não é um problema para você — falei, atenta aos seus mínimos movimentos. — Lembra do Davies?
Seu pomo de adão se moveu e vi um vislumbre de irritação tomar conta do seu rosto. Mencionar Davies tinha sido um ponto certo; era um garoto de 19 anos, sobrinho da sua esposa, que tinha sido morto por estar no lugar errado, na hora errada. Calhoun podia ter impedido sua morte, mas não o fez.
— Ele foi um efeito colateral.
Eu quase ri.
— Eu acho que sua esposa teria uma opinião muito diferente, Diretor — avisei, balançando a cabeça.
Eu duvidava muito que ela soubesse o tipo de homem com quem se casou. Para a sorte dela, a partir daquele dia, não precisaria mais dormir com o inimigo. Tudo graças a mim.
— O que você quer, ? — A pergunta saiu com um tom controlado.
Ele continuava com as mãos erguidas. estava silencioso, mas ele podia ouvir tudo o que estava acontecendo ali. Se não tinha dito nada ainda, o lugar ainda estava seguro para eu continuar. Só não podia me estender por muito tempo e, na verdade, eu não pretendia mesmo.
— Você dificultou a minha vida, mandando aqueles caras atrás de mim — eu disse, furiosa, os dedos no gatilho. — Eles quase conseguiram, sabia?
Um sorriso arrogante surgiu no seu rosto. Tudo o que ele conseguia me causar era repulsa.
— Esse nunca foi o final que eu estava esperando — Calhoun começou a dizer, a voz mais calma do que eu podia manter. — Você sempre teve mais potencial do que explorou, . Algumas pessoas precisam morrer para que nosso mundo continue seguro.
Trinquei os dentes, me aproximando um passo da mesa, a arma apontada direto para o meio da sua testa. Eu não me importava se seria uma morte rápida e indolor, contanto que ele fosse morto.
— Isso inclui você? — rosnei.
A expressão dele finalmente se fechou. Minha respiração acelerou.
— E se aquela criança for a próxima terrorista? — rebateu.
Eu sabia o que ele estava fazendo e já estava preparada, por isso, não me abalei tanto quanto ele achou que faria.
— É um risco que corremos — respondi.
Ele me lançou um olhar raivoso e ameaçou se mexer, quando eu apertei o gatilho, atingindo o primeiro tiro em seu ombro esquerdo. Ele soltou um grito e um xingamento.
— Não posso prever o que aquela garota vai se tornar no futuro — falei, pronta para puxar o gatilho outra vez. — Mas posso corrigir o presente. Nesse exato momento, o único risco para o mundo é você.
Antes que Calhoun pudesse dizer qualquer coisa, puxei o gatilho novamente e acertei-o direto na testa, seu corpo inerte contra a cadeira, o sangue escorrendo pelo rosto, os olhos abertos.
, você precisa sair daí agora! me avisou. — O primeiro tiro chamou atenção e há agentes indo direto até você.
Ainda segurando a arma, saí pela porta da frente. Ainda estava vazio, mas em alguns segundos começaria a encher de agentes. Atirei nas câmeras que havia ali e andei até a parede próxima ao elevador e puxei o alarme de incêndio, que obrigaria o prédio inteiro a evacuar, tendo incêndio ou não.
Corri até as escadarias, quando percebi que os elevadores estavam chegando até aquele andar e desci até o andar abaixo. As escadas começaram a se encher de pessoas, o que me permitiu me misturar. O mar de pessoas dificultaria os agentes me identificarem, me dando tempo necessário para conseguir escapar sem ser pega. O tumulto não me incomodava e continuei descendo, seguindo o mar de pessoas desesperadas para saírem logo do prédio.
— Me encontre no ponto de encontro — sussurrei para contra o ponto eletrônico. Ele não me respondeu, mas eu sabia que tinha me ouvido.
Cinco minutos depois, eu estava do lado de fora do prédio, as sirenes preenchendo os meus ouvidos. Não olhei para trás; continuei seguindo e seguindo, andando direto até o ponto de encontro que marquei com , caso eu conseguisse sair. As coisas ficariam caóticas quando descobrissem que o Diretor da CIA tinha acabado de ser assassinado e o suspeito escapou.
Fechariam as ruas e cercariam prédios, procurando por câmeras ao longo de todos os quarteirões. A imprensa ficaria alvoroçada, novos nomes seriam cogitados para ser nomeado como o novo Diretor.
— Você está bem?
me abraçou assim que me viu chegar. O choque do seu corpo contra o meu acalmou os meus nervos. Eu estava aliviada.
— Obrigada.
Ele me apertou ainda mais contra ele; afundei o meu rosto contra o seu pescoço e me permiti ficar ali dentro por um minuto inteiro, antes de me afastar. Eu não podia ficar. As coisas estavam muito recentes e não queria que ele fosse arrastado junto comigo.
— Ouça, — murmurei, segurando o rosto dele com uma mão. — Não há ninguém no mundo em que eu confiaria a minha vida, a não ser você.
Com a mão livre, puxei o pendrive pequeno do bolso do meu blazer, colocando o objeto na mão dele.
encarou a mão aberta, com o pendrive posto na sua palma e esperou que eu continuasse, apesar de entender o que aquilo significava.
— Você tem contatos confiáveis melhores do que eu tenho — expliquei. — Aí está todas as provas que eu consegui reunir. Não me importo para quem você vai entregar. FBI, MI-6, não ligo.
Ele assentiu, fechando a mão. Em seguida, escondeu o pendrive no bolso esquerdo do casaco e suspirou, a bolsa da arma pesada pendurada no seu ombro.
— O que você fez com a criança?
Abri um sorriso singelo e acariciei a sua bochecha, tocando-lhe enquanto eu ainda podia fazer isso.
— Mantive-a segura.
Ele sorriu, encostando a sua testa na minha. Outro minuto inteiro se passou e me lembrei de como odiava despedidas. Já tinha sido difícil deixá-lo uma vez.
— Vou te ver de novo? — ele sussurrou.
Aquela não era uma promessa que eu podia fazer, por mais que eu quisesse. As consequências do que fiz me seguiriam por um tempo. Minha vida inteira estava mudando outra vez.
A dele continuaria a mesma.
— Espero que sim.
Ele se contentou com aquilo. Seus lábios encostaram nos meus em um beijo rápido de adeus. me entregou a chave de um carro e me disse onde encontrá-lo e que havia dinheiro e documentos novos dentro. Eu me afastei e dei as costas, me obrigando a não olhar para trás.
Seria mais fácil ir embora se eu não o visse.
Eu não tinha começado aquela merda toda, mas sabia exatamente como terminava.Calhoun tinha feito muitas coisas ruins.
Não consigo abandonar o pensamento de que fui a pior delas.




Fim!



Nota da autora: Sem nota.



Nota da Scripter: CLIQUE AQUI PARA DAR AMOR À AUTORA!

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