08. What now

Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

2 De Agosto de 2015, 16:30

Eu deveria estar feliz. se encontrava a meu lado naquela tarde péssima de verão, onde a chuva insistia a cair por horas e horas sem fim. Eu estava no seu quarto, deitada na sua cama que eu tantas vezes explorara de mil e uma maneiras e feitios. Estava enlaçada nos seus braços enquanto assistíamos um filme comum. Ou melhor, ele assistia, eu apenas o observava. Observava o suposto amor da minha vida. Era eu que estava ali a seu lado, mais ninguém, nenhuma outra mulher. Eu deveria estar feliz.

“I've been ignoring this big lump in my throat
I shouldn't be crying, tears were for the weak.”


Mas algo me impedia de abraçar essa felicidade. Aquela sensação de estar incompleta comandara o meu corpo nos últimos dias. Deitei uma pequena lágrima que rapidamente limpei com o meu polegar, fazendo os possíveis para que não conseguisse percecionar que algo estava errado. Eu sentia que algo estava errado, tremendamente desconexo. O que não fazia sentido algum, eu estava no melhor local do mundo: nos braços no meu grande amor. Mas algo me impedia de abraçar essa felicidade.

“The days I'm stronger, know what, so I say
That's something missing.”


Senti afagar os meus cabelos enquanto me encontrava aninhada no seu peito caloroso. Aproveitei a sua distração com o que passava no ecrã para o observar. Cada detalhe do seu rosto parecia ter sido esculpido da maneira mais detalhada e gentil que poderia haver. Era tão delineado e perfeito que até parecia de mentira. No momento, a sua boca formava um pequeno “o” devido a uma cena qualquer, se estendendo rapidamente num largo sorriso em seguida devido à sucessão de acontecimentos no filme. Engoli em seco. Não sabia o que se passava comigo, me sentia insatisfeita. Mas porquê? Eu o tinha finalmente, tínhamos assumido a nossa relação após tanta luta. E agora me sentia incompleta, parecia que estava alguém a manipular as minhas emoções a rir da minha cara. Porque sentia que algo não batia certo?

“Whatever it is, it feels like it's laughing at me
Through the glass of a two-sided mirror.”


Eu amava aquele garoto há mais de dois anos. De início começamos por nos envolver apenas de forma carnal. Ele apenas me trocou pela seguinte, enquanto eu, eu me apaixonei perdidamente por ele no nosso primeiro beijo. Rapidamente esse affair terminou. Contudo, consegui me aproximar dele de novo. Dessa vez acabou por ser mais sério, era como se namorássemos. Conheci amigos, conheci os pais, pessoas maravilhosas, passava dias incríveis em sua casa. Estavamos a um passo de ter uma relação séria, quando ele decidiu terminar tudo de novo. Sofri como nunca na vida na altura. Afinal, ele me mandou embora sem qualquer motivo aparente. Apesar de estarmos separados durante meses, a nossa história não ficou por aí. Como um acaso do destino, nos voltamos a cruzar na rua. Não falamos, sequer nos cumprimentamos, mas ele me contactou no dia seguinte, pedindo desculpa, dizendo que sentia minha falta e que fugira por ter medo de compromissos. Acabei por perdoar, como não? Eu era louca por ele, sempre tinha sido desde o primeiro momento. Nos aproximamos de novo segundo o pretexto de uma amizade, que logo se transformou em desejo e novas noites de paixão e companheirismo. Voltamos ao que éramos e tudo parecia perfeito. Até que me mandou embora. De novo. Era a terceira vez que dilacerava o meu coração de forma cruel e, ao que parecia, satisfatória. Escusado será contar o que sofri, acho que todos podem imaginar. Decidi esquecer, ignorar este amor que me matava por dentro. Afinal, se ele não me amava de volta ele não poderia ser o meu grande amor, não é verdade?
Contudo, há cerca de duas semanas, voltou. Me pediu perdão e disse que queria apostar numa relação comigo porque eu sim era merecedora do seu amor. Sabem como é uma pessoa apaixonada, eu aceitei de imediato. Me lancei em seus braços rapidamente, sem questionar tudo o que tinha acontecido no passado. Como eu já referi, eu era completamente embevecida por aquele garotinho de sorriso sarcástico e, ao mesmo tempo, amoroso.

“Whatever it is, it's just laughing at me
And I just wanna scream.”


Ah, lembram da parte de que eu é que era merecedora do seu amor? Eu esqueci de um detalhe nessa história toda: ele me trocou sempre por outra pessoa. E, de todas as vezes, era por ela que me abandonava. Não sabia quem era a mulher que o enlouquecia de tal maneira, nunca me preocupara em saber porque o sofrimento não seria suportável. Mas sabia que ela existia. Que ela o podia roubar de mim a qualquer momento, como de todas as vezes. E que ele apenas voltava quando ela o mandava embora. Ele regressava porque eu era o seu porto seguro. Ele sabia que eu o amava e estaria sempre lá. Não havia qualquer risco em ficar comigo. E eu o aceitei, ignorando tudo isto. Porque o amava. E, acreditem, o amor pode nos fazer cometer as maiores loucuras. Até fazer com que desperdicemos o nosso coração com quem nunca nos amará da mesma forma. Contudo, ele agora estava comigo e era nisso que eu me tinha de concentrar, certo?

“I'm supposed to be in love
But I'm not mugging.”


Fui afastada dos meus pensamentos quando senti largar o meu corpo para encontrar seu celular, que havia tocado. Quando observei a sua expressão percebi exatamente de quem se tratava. Era ela. Eu pude ver no seu rosto um pequeno sorriso, eu pude ver os seus olhos esperançosos. Eu sabia que era o seu amor. E, por uma simples mensagem dela, ele me largara de novo. Suspirei e me levantei da cama, me dirigindo para pegar minha mochila.
- Que se passa? – Perguntou, pousando o celular e me observando com uma sobrancelha arqueada. Ele me conhecia demasiado bem.
- Eu vou embora. – Respondi secamente, jogando alguns itens que tinha espalhados em cima da sua mesa na minha mala.
- Porquê? Aconteceu alguma coisa? – tinha um ar completamente confuso.
- Acho que isso é você que tem de me falar.
Me voltei repentinamente, largando tudo e o observando. Rapidamente se fez luz na sua cabeça e ele percebeu porque estava assim. Mordeu o lábio e desviou o rosto, evitando ver o sofrimento espelhado no meu. Suspirei e me sentei ao seu lado, pousando uma das minhas mãos em cima da sua, a apertando.
- Ela voltou. – Disse, calmamente. Não valia a pena contrariar o destino.
- , é diferente desta vez. Eu não vou te trocar. – Ele disse, suspirando pesadamente. Nem ele próprio acreditava nas palavras que saiam da sua boca.
- Sim, a nossa relação está diferente. – Respondi, passando a mão nos seus cabelos. – Mas o final vai ser o mesmo. Ambos sabemos que você vai me largar e correr atrás dela. E que vai voltar para mim quando ela cansar de você. E depois para ela. E depois para mim. E isso , isso não é vida para ninguém. Muito menos para mim, eu não mereço isso.
- Eu sei mas eu… - O interrompi imediatamente.
- Eu sei que você não faz de propósito. Mas, infelizmente, ninguém pode controlar o coração. Por muito que você goste de mim, você nunca me vai amar da mesma forma. – Dei um pequeno sorriso. – Eu estava sentindo que algo estava errado faz dias. Que algo não estava certo, eu me sentia incompleta, sozinha, estranha. Eu percebi agora que me sinto assim porque eu nunca vou ter o seu amor. E eu não posso amar sozinha numa relação, ninguém pode. Eu te amo muito, mais do que já amei alguém. Contudo, se você não pode retornar o meu amor, eu tenho de procurar quem possa e não me limitar a você.

“But was it me that changed?”

Sim, era isso que estava errado. Eu finalmente percebia o que era aquele nó na garganta que parecia não desaparecer nunca. Eu sabia que nunca o teria inteiramente, ele nunca me pertenceria. Não agora, enquanto ainda estava amarrado aquela pessoa. E eu estava machucando o meu próprio coração sem nem notar. E, talvez, eu já não amasse da mesma maneira. Mas ele representava uma certeza enorme e eu precisava de certezas na minha vida. Por isso me agarrei a si. Contudo, aquela situação era um erro. Ambos sabíamos disso.
Ele podia ser a pessoa que mais amara até à data, mas eu também tinha consciência que o amor nunca seria mútuo. Então, para que insistir? Durante dias, semanas, meses e anos eu tinha insistido. Eu tinha me declarado constantemente, eu tinha demonstrado todo o meu amor por ele das mais variadas formas e feitios. E nunca tinha resultado. Nunca resultaria. Porque o destino fez com que eu me apaixonasse por alguém que nunca me veria da mesma forma.

“What now? I just can't figure it out.”

Eu conhecia todos os seus traços. Sabia quando estava animado com algo pequeno, sabia quando alguma coisa o estava incomodando há já um longo tempo, sentia quando ele precisava de mim e nem era necessário ele chamar. Parece romântico não? Mas não o era. Tal acontecia porque eu era o seu porto de abrigo apenas, a pessoa que ele sabia que podia contar para sempre. Tal acontecia porque, se ele a chamasse, ela não iria. E eu sim, porque o amava. Mas me apercebia finalmente que esse não era o meu caminho. Não podia ser a minha jornada. Simplesmente não podia. E agora? Agora eu nem sabia como chorar. O vazio que se instalara no meu peito era gigante mas eu já não podia fazer mais nada. Eu tinha de sair daquela situação, mesmo que isso significasse mudar grande parte da minha vida. Contudo, não significava deitar dois anos fora. Aprendi com eles e nunca, nunca nos podemos arrepender de nos entregarmos ao amor, por muito que isso nos magoe.
Não disse mais nada. Me levantei calmamente, peguei nas restantes das minhas coisas e lhe depositei um beijo na testa. Ele sabia que eu não iria voltar. Não da maneira a que ele estava habituado. Talvez, num dia longínquo, a amizade pudesse surgir. Por enquanto eu tinha de tratar de mim, aprender de novo quem eu era. Joguei tantos jogos nos últimos anos que me esgotei emocionalmente. Tinha passado tantas horas a pensar no que queria, a tentar lidar com os meus sentimentos, que agora nem sabia como reagir a tudo aquilo. Tinha de me conhecer de novo. E, quando bati a porta daquele quarto, soube que seria a última vez.

12 De Agosto de 2015, 20:45

Se tinham passado dez dias. Sim, era ridículo eu ainda contar, mas quem pode julgar? Afinal, era amor e amor não acaba com um toque de magia, por mais infeliz que isso seja para todos nós que sofremos a rejeição de quem desejamos. E eu já tinha sido rejeitada tantas vezes que não sabia nem por onde começar o meu luto. Alias, sabia: não saindo da cama durante dias e dias. Era uma estratégia. Contudo, nem uma única lágrima.

“There's no one to call, ‘cause
I'm just playing games with them all.”


Eu não tinha sequer ninguém a quem ligar. Na busca incessante pelo amor de eu tinha deixado tudo para trás. As minhas amigas já não me podiam ver humilhar mais, estavam cansadas de me ver sofrer. E eu já nem lhes podia falar do assunto dada a vergonha que tinha. Eu nem tinha contado que tínhamos tentado de novo. Agora que penso, ainda bem que tal tinha acontecido. Agora estava ali, solitária e presa devido aos meus joguinhos de esconde esconde com as únicas pessoas que me poderiam apoiar naquele momento.

“The most where I'm happy, the more that I'm feeling alone.
‘Cause I spent every hour just going through the motions,
I can't even get the emotions to come out.”


Honestamente, existiam momentos em que eu me sentia estranhamente feliz. Como se tivesse libertado um peso de dentro de mim, como se tivesse finalmente escapado de algo que me prendia há demasiado tempo. Mas a felicidade se esvaia quando me recordava do que tinha perdido pelo caminho. Tinha perdido as minhas amigas, a quem eu ainda não tinha contado que acabara de vez com medo que não se acreditassem. Quem as pode censurar, já tinha falado aquilo tantas vezes e voltara a cair no mesmo precipício. Além das minhas amigas, me tinha perdido a mim própria. O sentimento de solidão era simplesmente desgastante. E, no final, eu nem sabia o que sentia. Eu tentava chorar, gritar, parar de estar apática e com aquela dorzinha no peito que parece que não desaparece. Contudo, eu não conseguia fazer com que as minhas emoções aparecessem por nada. Parecia seca que nem uma bomba prestes a explodir. E, naquela noite, eu só queria arrebentar de vez.

“Dry as a bomb, but I just wanna shout…”

Me levantei num pulo, vesti o primeiro moletom que encontrei e sai disparada de casa. Nem me importei em dizer o que fosse aos meus pais, eu precisava mesmo, mesmo de me encontrar. E rápido. Apanhei o metro e saí na estação onde costumava esperar por . Não me perguntem porque, parecia que gostava de me torturar.
Mas eu só queria sentir. Eu só queria finalmente chorar, encontrar o meu caminho. Sentir alguma coisa além desta apatia e desilusão comigo própria. Eu precisava e merecia mais que isso. E, enquanto eu não me entregasse à dor, eu nunca o superaria. Como eu não chorara uma única vez desde que acabou? Eu era louca por ele, porra. Eu precisava chorar! Eu necessitava sentir aquela dor antes que fosse tarde demais, antes que ela chegasse um dia e me dilacerasse por completo.

“What now? I just can't figure it out.”

Foi quando eu o vi que finalmente me apercebi que eu ainda não chorara por ter alguma esperança. Quando o vi, no mesmo local onde se encontrava comigo, com outra pessoa. Com ela. Sorrindo, de mãos dadas. A minha garganta secou e eu senti as minhas bochechas ficarem cada vez mais frias. E, como uma cena idiota de cinema, quando comecei finalmente a chorar compulsivamente começou a chover de igual modo.

“What now? I guess I'll just wait it out.”

Corri dali o mais rápido que consegui, rezando para que ele não me tivesse visto, e me abriguei debaixo do toldo de um pequeno bar ali na zona. Me sentei com a cabeça encostada aos joelhos e chorei. Deixei tudo sair durante mais tempo do que o que consegui contar. Só fiquei ali feita uma criança pequena a derramar lágrimas e lágrimas pelo brinquedo que a amiga tinha roubada. Porque eu tinha de sentir tudo aquilo para seguir em frente, tal como ele tinha seguido. Mas e agora? O que existiria para mim? Não via qualquer esperança.
- Nossa, detestou assim tanto o bar? Eu até que achei legalzinho.
Voltei rapidamente o rosto para trás, assustada com aquela voz rouca e as palavras que saíram noutra língua naquele maravilhoso sotaque britânico. Encontrei um garoto sentado a meu lado. Moreno, de olhos azuis e com um sorriso sapeca no rosto. Tinha uma jaqueta de ganga vestida que estava dobrava e expunha algumas tatuagens. Segurava ainda um cigarro na mão direita. E me observava fixamente.
- Não fala inglês? – Soltou, arqueando a sobrancelha. – Que merda, todo o mundo aqui fala inglês e a pessoa mais interessante que encontrei hoje não.
- A pessoa mais interessante que você encontrou hoje é uma garota de moletom, cabelo bagunçado e os olhos inchados?
- Ah, afinal fala inglês. – Respondeu, abrindo ainda mais o sorriso. – Sou uma pessoa estranha, fiquei atraído por esse seu cliché choroso de menina que acabou com o namorado e veio chorar para a porta de um bar.
- Como sabe se acabei com o meu namorado? – Retorqui perante a sua audácia.
- Ah, nem me venha dizer que não. – Levou o cigarro calmamente à boca. – Mulher só chora assim por homem.
- Se sou assim um cliché tão grande, porque veio perder seu tempo comigo? – Merda, falei meio irritada.
- Quem disse que eu não gostava de um bom cliché? – Encolheu os ombros, deitando o resto do cigarro fora. – Ainda para mais quando o cliché é gato.
- Sério que se está atirando para cima da garota que acabou de levar com o pé na bunda? – Não resisti, soltando uma gargalhada meio alta. – Depois sou eu o cliché!
- Não, eu estou me atirando para cima da garota que tem uma risada maravilhosa. – Sorriu tão docemente que eu não resisti a sorrir de volta. – E, quem quer que seja essa pessoa que fez essa estupidez com você, ela definitivamente não te merece. Só para completarmos o trio dos clichés sabe, você chora pelo garoto, eu me atiro em você e depois digo que ele não te merece.
Soltei outra gargalhada, enquanto olhava fixamente os olhos azuis do menino. Ele me transmitia paz, serenidade. Sei que parece loucura mas parecia que ia ficar tudo bem. Que as coisas se iam arrumar de novo na minha vida e que eu não precisava de temer nada. Que agora eu já sabia o que fazer. Que eu ia seguir em frente e que as emoções já estavam todas cá fora. E até borboletas eu já sentia.
- O meu nome é e o seu? – Perguntou, ainda sorrindo.
- . .
- Que acha de um dia ser em vez de ? – Ele questionou, se levantando e me estendendo a mão para eu me levantar junto.
- Acho que vai ter de trabalhar muito para isso! – Respondi, fazendo com que soltássemos uma pequena gargalhada juntas.
E sabem qual foi a melhor parte e o que me faz acreditar que aquela noite foi o destino que nos uniu? É que ele trabalhou e conseguiu.

“And he just happened to come at the right time…”


Continua...



Nota da autora: Oi minhas queridas!
Queria agradecer desde já a quem leu, foi bom para mim partilhar um pouco da minha história e tentar ensinar que nada se perde nestas alturas. Espero que, se algum dia tiverem desilusões amorosas intensas, nunca desistam de continuar a sorrir. Eu acredito que há sempre um príncipe à nossa espera, apesar de ainda não ter encontrado o meu ahah
Se quiserem ler outras fanfics minhas no site neste momento eu tenho quatro longas (jesus, sou meia louca). Se chamam “My Sister’s Murderer”, “Don’t Play Innocent”, “Greek Revolution” e “Baby, You Got Me Tied Down”. Se quiserem falar um pouco com a portuguesa aqui o meu twitter @drunklouisgirl 
Lots of love x

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