Última atualização: 11/06/2020

Capítulo Único

balançou a cabeça negativamente ao ver a garrafa de gin pendendo entre os dedos da menina parada do outro lado da rua, que lhe observava com um sorriso provocante nos lábios avermelhados.
– Acredita se eu disser que não senti sua falta? – Ela gritou por cima do som dos motores, aguardando os carros passarem em sua frente para seguir em direção a ele.
– Eu nem sei porque te avisei que estava na cidade. – Ele sorriu maroto, como se fosse necessário algum charme a mais para balançar as pernas da garota.
checou os dois lados da pista antes de atravessá-la correndo. Era pouco mais de cinco da manhã e o sol começava a colorir timidamente o céu azulado de um laranja atraente. Mas, para ela, nem a beleza do crepúsculo acontecendo bem acima das margens da baía de Santa Mônica se comparava ao encanto do homem à sua frente.
era o tipo de cara que tinha o mundo aos seus pés em um estalar de dedos. Apoiado em sua majestosa motocicleta, de jaqueta de couro e com os braços cruzados, os cabelos displicentes e os olhos intensamente faziam uma combinação absurdamente sublime com seu sorriso atravessado e as irretocáveis feições de seu rosto.
Podia, sim, ter a garota que quisesse. Mas a imprudência da menina à sua frente o levava à loucura e era uma ideia inaceitável passar com a banda pela Califórnia sem vê-la.
A correndo em sua direção, com os cabelos ao vento e a saia jeans mostrando mais do que deveria, era a visão do paraíso para ele. A maquiagem preta borrava um pouco seus olhos castanhos mas, na visão de , isso só deixava mais fascinante, pois ele sabia que aquilo era resultado de alguma aventura que acontecera durante a madrugada. E aquele era exatamente o tipo de coisa que mais o excitava sobre ela.
– Não achei que teria que te buscar aqui. – Os olhos de apontaram para uma placa de madeira caindo aos pedaços, onde as palavras Dançarinas Exóticas tentavam brilhar, com algumas letras faltando.
– Fala sério. Preferia me buscar em casa e me ver descer as escadas em um vestido brilhante e engomado do que aqui? Soa tão... Convencional. – A palavra escorregou como um palavrão entre os lábios da menina enquanto ela envolvia o pescoço do garoto com os braços.
– Você sabe que não. – soprou, apoiando as mãos no quadril da menina.
Em meio ao ar gélido da recém-chegada manhã californiana, não conseguiu esconder o sorriso quando os olhos dos dois finalmente se encontram, transmitindo um calor tão visceral e palpável que era capaz de fazê-la ofegar. escorregou uma das mãos para os cabelos da menina, sem esconder a urgência que seu corpo exigia para tocá-la. Em um movimento frenético, uniu os lábios aos dela, sentindo o gosto tão doce e a boca tão macia quanto ele lembrava. O beijo lento e exploratório, como um manifesto de saudade, era o nirvana para os dois. O garoto distribuía mordidas estratégicas, projetadas para enlouquecer a garota, que respondia apertando seu corpo cada vez mais contra o dele. O prazer deleitável era sentido em cada átomo do corpo de ambos, estimulados somente pela saudade.
Quando os lábios se separaram, e se encararam, sorridentes e extenuados. O gosto de desejo permanecia nectário na boca dos dois, e isso ficava claro no olhar saudoso que insistiam em trocar.
Sempre fora e sempre seria daquele jeito. A névoa de luxúria descomunal, exorbitante e singular os cercava toda vez que estavam juntos, volúpia do tipo que só era possível experimentar uma vez na vida.
– Temos quanto tempo hoje?
– Até amanhã de manhã. – Ele estendeu o capacete preto para a menina.
sorriu ao ajeitar o apetrecho na cabeça.
– É melhor começarmos a aproveitar então. , – Ela estendeu a mão para ele que, com um sorriso, a segurou de imediato. – me leve para algum lugar divertido.
Na garupa da moto do , atravessando as ruas de Santa Mônica em direção a algum ponto no centro que ela ainda desconhecia, não se importava com a alta velocidade. Ela, na verdade, gostava da sensação libertadora que o vento causava ao chicotear seu rosto e balançar seus cabelos – embora se agarrasse impassível nas costas do menino. Era apenas uma desculpa para explorar um pouco mais seu físico delicioso.
Para o garoto, o destino não podia ser outro – ele precisava dirigir até o hotel porque precisava matar a saudade do corpo da menina e não aguentaria tardar um segundo.

-


– O hotel é a sua ideia de um lugar divertido? – A menina indagou ao entrar no elevador do formidável Loews Hotel.
– Espere só até chegar ao meu quarto. – Ele sussurrou, apoiando a mão discretamente na bunda da menina e dando um sorriso discreto para o outro casal que dividia o cubículo de metal com eles.
Passando os olhos pelos botões prateados, algo em especial chamou a atenção de .
– Tem uma piscina? – Ela indagou, apontando para o último botão do painel, e ele assentiu com a cabeça, já imaginando o que viria a seguir. – ! Tem uma piscina e você ia me levar para o quarto? Mergulho primeiro, sexo depois!
No outro canto do elevador, a mulher de cabelos ruivos e compridos se remexeu, desconfortável. não se incomodou. Ela tinha a estranha mania de ser ela mesma o tempo inteiro, e estava acostumada com a forma com que isso fazia que nem todo mundo gostasse dela.
nunca tivera esse problema – ele sempre havia admirado a sua autenticidade, assim como admirava-a naquele instante, com um sorriso deslumbrado enquanto a menina tentava consertar a maquiagem borrada no espelho.
Na área externa, o frio não fora o suficiente para tirar a vontade de de mergulhar. Com um sorriso descarado, lançou um olhar lascivo para antes de se livrar da saia jeans, da camiseta preta e das botas de camurça.
A lingerie branca e as curvas delineadas no corpo da garota fizeram engolir em seco, e a ponta de seus dedos tremeram levemente, ansiando por tocá-la. Dando um passo na direção da menina, ele escorreu um dedo para dentro do elástico da calcinha rendada e puxou-a pra perto, fazendo seus corpos roçarem. Com o mesmo sorriso sujo, colocou as unhas esmaltadas de vermelho por baixo da camiseta preta do menino e, enquanto ele tirava a própria jaqueta, ela arranhava cada pedaço de pele recém-desnudo ao puxar a peça pra cima.
Era impossível não se perder no corpo do homem que ela tanto desejava. Para ela, sempre fora e sempre seria irretocável. Em um manifesto silencioso de carinho, eles deram as mãos antes de pularem juntos na piscina.
– Tá frio pra caralho! – Os lábios trêmulos de sopraram assim que ela emergiu.
Como ele tinha conseguido ficar ainda mais bonito com os cabelos molhados?
– De quem foi mesmo a péssima ideia de entrar aqui? – sorriu ao puxá-la pela cintura, posicionando-a de costas para o seu corpo em um abraço quente e reconfortante.
– Já podemos começar a fazer nossos planos que nunca vão ser realizar? – Ela indagou, a habitual sensação aprazível de sentí-lo perto de si.
Era uma brincadeira que faziam desde sempre: imaginar os dois, juntos, em um futuro impossível. Talvez porque a ideia daquilo ser realidade em algum tipo de universo alternativo, lá no fundo, agradasse os dois.
– Por que você gosta tanto disso? – apoiou o queixo no ombro nu da menina.
– É divertido me imaginar sendo essa pessoa tão diferente, vivendo uma vida que nunca vou viver. É como...
– Estar em um filme?
– Exatamente. – Ela sorriu e virou para o garoto apenas para abraçá-lo pelos ombros.
Ele nunca entendera o porquê daquilo tanto a encantar – a garota, aliás, tinha escolhido para si uma vida que mais parecia um filme.
Para ela, a diversão era pensar que, um dia, conseguiria sentir-se presa a alguém ou algum lugar, como se aquilo realmente fizesse parte do que ela era.
– O que acha de, só por hoje, aproveitarmos o agora? – Os dedos do garoto escorregaram pelos braços da menina, tão leves quanto seu tom de voz. – Eu senti sua falta, .
O corpo de endureceu instantaneamente. Ela precisou respirar fundo antes de apoiar uma das mãos no rosto de , tentando dizer a si mesma que ela, por sua vez, não sentia falta de ninguém.
Cenas guardadas em algum lugar no fundo da memória da garota resolveram encontrar o caminho até a superfície – mas ela fez questão de pará-las antes que algum sentimento conseguisse, de fato, escapar pelos seus lábios.
– Como está a banda? – Decidiu, por fim, mergulhar em um campo neutro, que não brincasse com o envolvimento que ela jurava não ter.
Sem desgrudar os olhos de , sorriu – um sorriso triste que ela pode sentir no peito.
Mas ele só tinha vinte e quatro horas ao lado da única garota que, um dia, deixou entrar em seu coração. E, acima de tudo, ele estava determinado a não deixar que nada atrapalhasse aquilo.
– Vamos tocar em Los Angeles amanhã. Você não imagina como é estar na estrada, linda.
Era impossível não sorrir com as palavras de . Não apenas pelo antigo apelido carinhoso, mas porque ela sabia o quanto a música era importante para ele.
– Eu não acredito que ainda não vi você no palco
– Você adoraria sair em turnê comigo.
Apertando seu corpo contra o do garoto, ela sorriu.
– Um dia.
levou o polegar aos lábios da menina e percorreu a pele macia, contornando-os. Ela, em resposta, deu uma mordida leve e sensual na ponta do dedo do garoto.
– Quer saber quantas vezes sonhei com você? – A voz rouca do garoto provocou algum ponto quase desconhecido no peito da menina.
– É melhor que tenhas sido todas as noites. – Disse, manhosa, deitando o rosto na palma do menino.
– Todas as noites... – Ele sorriu, deslizando os dedos para a nuca de e fazendo um carinho tão gostoso que a fez fechar os olhos. – E dias, e tardes…
À medida que o delicioso som da voz de se perdeu na quietude da manhã, os dois, em sincronia, se aproximaram.
Ela não precisava dizer que havia sentido a falta dele.
Os lábios – mais uma vez, tornando-se um só – gritavam, silenciosamente, as sete letras que não se permitia externar.
Saudade.

-


Mesmo que sua vida dependesse daquilo, não saberia enumerar com precisão seus momentos preferidos do começo daquela sexta-feira.
Sabia que tinha adorado o tempo com na piscina, onde a conversa vinha fácil e o cenário era perfeito para sentir o calor do corpo do garoto no seu.
Sabia, também, que tinha amado as horas seguintes, quando a cama de casal do hotel se tornara grande demais para os dois e o calor se transformara em chamas.
E talvez tenha idolatrado os momentos consequentes, quando pode desfrutar da familiar serenidade de descansar nos braços de e importar-se com nada além da presença dele.
Mas havia algo especial em estar de novo na garupa da moto de . Ela, daquela vez, não saberia dizer se fora o cheiro embriagante que emanava do garoto ou as imagens borradas dos lugares que, um dia, foram testemunhas do romance que envolvera os dois.
Olhar Santa Mônica da moto de era o mesmo que mergulhar em um mar de nostalgia. Assim como o caminho para onde as duas rodas rolavam – direto para os guarda-sóis do Big Dean’s Ocean Cafe.
O toldo verde da lanchonete trazia um gosto doce para boca dos dois. Não apenas pela reminiscência do sabor do melhor milkshake da Califórnia mas, principalmente, pelas lembranças dos fins de tarde que passaram ali, assistindo o pôr do sol ao dividirem sonhos e conversas à toa.
Quando estacionou a moto e, sem pestanejar, entrelaçou os dedos nos da garota, ela sentiu seu coração palpitar a milhão.
E ele sorriu – pois sabia que causava aquela sensação à ela.
Uma tarde envolta pela maré de sexo saudoso e insaciável, pra ela, não era íntimo o suficiente. Mas o simples entrelaçar de dedos era trazer à tona tudo o que, um dia, eles poderiam ser.
a deixou sentada em uma das mesas externas e sumiu por cinco a sete minutos. Quando voltou, com um milkshake de chocolate e outro de morango, o sorriso genuíno desenhou os lábios de .
O tempo poderia passar e as estações poderiam mudar. Mas nunca esqueceria de que ela não podia viver sem milkshake de morango. Era o tipo de anamnese tola que a fazia acreditar que sempre haveria algum tipo de conexão especial entre os dois. E aquilo, de alguma forma, era como se sentir em casa.
– Preciso provar o seu. – Com um sorriso brincando em seu rosto, debruçou sobre a mesa e selou os lábios da menina com um beijo. – Definitivamente, mais gostoso.
– Você sempre prefere o meu. – Ela rolou os olhos. – Não sei o porquê de pedir o de chocolate.
– Estava me referindo aos seus lábios. – O tom provocante fez as maçãs da menina se colorirem de rosa.
Sem conseguir impedir de se contagiar pela tranquilidade do momento, ao observá-la, sentiu a felicidade explodir aos poucos por cada milímetro de suas veias até refletir em seus lábios.
– Você devia ir me visitar. – Envolto pelo momento, disse o que estava preso em sua garganta desde a manhã daquele dia.
– Londres não é pra mim. E não sei se saberia lidar com o exército de fãs que você deve ter por lá. – As palavras da menina fizeram ele jogar a cabeça para trás em meio a uma gargalhada.
Para ela, restou confirmar o pensamento do quanto ele era lindo, especialmente quando exalava felicidade.
– Você sabe que continua sendo a número um.
Os dois se olharam por alguns instantes, cúmplices, o carinho evidente transbordando do olhar de cada um.
– Você consegue acreditar que fazem quatro anos desde que você saiu daqui? – A sutil tristeza da menina em pronunciar as palavras podiam ter passado despercebida para qualquer um, mas a conhecia bem o suficiente para saber que precisava colocar a mão sobre a sua e envolvê-la em um carinho reconfortante.
– E um que não nos víamos.
– É bom podermos ser os mesmos mesmo depois de doze meses, não acha? – Ela se inclinou levemente sobre a mesa.
– É uma das coisas que eu mais gosto sobre nós dois. – Ele repetiu o gesto da garota e, em um instante, os narizes se roçavam em um carinho genuíno.
– Você não pode dizer essas coisas… – A voz de saiu em um sussurro, pega pela proximidade entre os dois.
– Você é linda.
… – A garota soltou uma breve risada, abaixando o rosto ao sentir, mais uma vez, suas bochechas esquentarem ao se perguntar o que diabos fazia com ela que a deixava daquele jeito.
Ah, a quem ela estava enganando?
Era sempre daquele jeito.
Nas três últimas vezes que ele havia a visitado, tinha sido daquele jeito.
Ela começava o dia dura, irredutível, determinada a seguir o personagem que havia criado para si mesma – apenas uma garantia para não deixar os sentimentos falarem mais alto e, inevitavelmente, machucar-se.
chegava leve e, com sua leveza, fazia-lhe lembrar de como era boa a sensação de encontrar a felicidade nas coisas simples.
Como tomar um milkshake no final da tarde sob o céu da Califórnia.
E ele, aos poucos, encontrava um caminho silencioso até seu coração. Quando se dava conta, estava dando sorrisos bobos e as borboletas em seu estômago voltavam a dar os primeiros sinais de vida.
Algo que só sentia quando estava com ele.
Com o rosto apoiado nas mãos, saboreando a delícia de morango, ela se pegou pensando nos dois. Pensando de verdade nos dois.
A história era complicada. não sabia dizer ao certo se podia chamar o que tiveram um dia de um relacionamento – mas sabia que fora a maior e mais intensa aventura que viveu.
Eles se conheceram em uma festa. Ela queria um baseado, ele tinha um. Simples assim.
encontrou em o que sempre havia procurado – a sensação de estar sempre à beira de um abismo e sentir-se segura pois as mãos de quem ela mais confiava no mundo estavam segurando-a.
E encontrou em o que nem ao menos sabia que precisava – o sentimento de aventura constante em um lugar onde ele pensava que só encontraria monotonia.
Quando a oportunidade de assinar com uma gravadora no Reino Unido apareceu, foi a primeira pessoa que passou pela cabeça de .
Ele sabia que ela não iria com ele.
E ela sabia que era aquele o fator que estava faltando para acabar com o sentimento mais próximo de amor que ela já sentira na vida.
Ela sabia, desde o começo, que não daria certo.
Ele pertencia ao mundo.
Ela pertencia a Califórnia.
E eles nunca pertenceriam um ao outro.

-


A noite de verão, surpreendentemente, trouxe com ela os primeiros vestígios do outono. A primeira brisa de setembro bateu oportunamente quando podia ter os braços de à sua volta para esquentá-la.
O único tempo que passaram separados durante aquele dia fora o momento em que o garoto a levou em casa para trocar de roupa.
E lá estava ela, descendo as escadas do seu apartamento em um vestido brilhante de mangas compridas.
Talvez, anteriormente, ela odiasse aquela cena. Mas, naquele instante, estava deslumbrada demais com o brilho apreciativo no olhar de para se importar com o clichê ou o alto teor romântico da cena.
– Eu queria ter dado uma festa… Como te prometi tantas vezes antes de dizer adeus. – Ela murmurou enquanto passavam pela porta.
Um sorriso atravessado desenhou os lábios do garoto.
– Você acabou de dar a melhor ideia de todas. – Declarou ao girar a chave da moto nos dedos.
– Do que você está falando? – O sorriso refletiu nos lábios dela.
– Que você está linda. – estendeu o capacete para a menina. – E que temos uma festa pra ir.
E ali estava outra coisa que adorava em .
Ela não hesitava – apenas aceitava suas ideias mais loucas a qualquer hora e sob qualquer circunstância.
sabia onde ir para encontrar uma festa ao ar livre a qualquer hora em Santa Mônica – as ruas paralelas ao píer eram o segredo.
A garota já tinha uma expressão divertida quando desceu da garupa, observando as luzes penduradas e as pessoas dançando em um espaço gigantesco reservado para as ocasiões mais especiais da cidade.
– É um casamento. – Ele constatou o óbvio ao pegar na mão dela.
– É. E nós não fomos convidados.
– E isso já nos impediu alguma vez antes?
Ela não precisou responder. De mãos dadas, os dois apenas seguiram e passaram pela entrada improvisada com milhares de flores como se pertencem àquele lugar.
Alguma música animada de rock dos anos noventa era entoada pela banda no palco. Tão envoltos um no outro, os dois se abraçaram e balançaram com a melodia como se estivessem dançando uma canção lenta. Os lábios, vez ou outra, se encontravam e permaneciam juntos por alguns longos instantes, como se quisessem gravar o gosto que sabiam ser esperado ficar sem sentir pelos próximos longos meses.
Dessa vez, enquanto a lua brilhava no céu, o sabor já não era mais de saudade.
Era de despedida.
A garota se atreveu a levantar os olhos por um breve instante e, quando encontrou as íris de , sentiu-se tão inerte ao momento que quase deixou que as palavras presas em seu coração escapassem pelos seus lábios.
Quase.
… – Ele a chamou e colocou a mão no queixo da menina quando ela tentou abaixar o rosto novamente. – Não precisa ser tão forte quando está comigo. Você sabe disso. Está tudo bem se deixar levar pelos sentimentos de vez em quando.
Ela sentiu os olhos marejaram em um instante.
– Não quando o motivo desses sentimentos sempre precisa ir embora no dia seguinte.
O garoto soltou um suspiro. Era verdade, ele bem sabia.
A música, parecendo guiada pelo sentimento do casal, se tornou lenta. não pôde deter um sorriso quando ouviu as primeiras notas da melodia.

You don't ever have to be stronger than you really are
When you're lying in my arms
Baby, you don't ever have to
Go faster than your fastest pace
Or faster than my fastest cars


– Eu ouvi essa música outro dia. Me lembrou você… – Ela mordeu os lábios para segurar uma lágrima teimosa. – E então ela acabou e eu lembrei de você mais uma vez.
As palavras soaram como uma fisgada no coração do menino. Ele fechou os olhos com força e inclinou-se brevemente para encostar a testa na dela.
– Eu queria poder ficar…
– Eu não quero que você fique.
Ele não precisava olhar para saber que um sorriso triste tomava conta da expressão dela.

I shouldn't have done it but I read it in your letter
You said to a friend that you wish you were doing better
I wanted to reach out but I never said a thing
I wanted to call you but I didn't say a thing


– Você ouviu alguma das minhas músicas? – Ele murmurou como se contasse um segredo.
Uma risada irônica escapou da garganta da menina.
– Todas elas…
– E você se encaixou em alguma delas?
Eles abriram os olhos em sincronia e, ainda com as testas coladas, atreveram-se a espiarem a alma um do outro.
– Todas. Em todas, .

Ooh, I'll pick you up
If you come back to America, just hit me up
'Cause this is crazy love
I'll catch you on the flipside
If you come back to California
You should just hit me up


Daquela vez, ela não conseguiu impedir que a lágrima rolasse por seu rosto.
Mas ele estava lá, pronto para enxugá-la.
– Toda vez que leio uma nova letra sua, tenho vontade de te ligar. – a confissão veio tímida, quase inaudível.
– E por que não liga?

We'll do whatever you want
Travel wherever how far
We'll hit up all the old places
We'll have a party, we'll dance till dawn
I'll pick up all of your folks
And all of your Rolling Stones
Your favorite liquor off the top-shelf
I'll throw a party, all night long


– O acordo foi esse, não foi? Você me avisa quando vier pra cá. Nós aproveitamos um dia juntos e seguimos nossa vida.
Meu coração não aguenta que seja diferente, seu coração completou.
– Quatro anos depois, não começou a parecer um pouco masoquista?
...
Ela não precisava dizer mais nada.
Ele havia entendido.
Os dois nunca estariam juntos.

Ooh, I'll pick you up
If you come back to America, just hit me up
'Cause this is crazy love
I'll catch you on the flipside
If you come back to California
You should just hit me up


-


Todos os turistas adoravam o píer de Santa Mônica.
Todos os moradores também idolatravam o píer de Santa Mônica.
Para , aquele era o pior lugar de toda a cidade.
Porque era exatamente ali onde aconteciam todas as despedidas.
A ideia parecia boa a princípio – quando ela não podia mais ver os olhos de , a água tão intensamente azul quanto a do oceano podia acalmá-la.
Deu certo da primeira vez. Na segunda, o chão de madeira já parecia cheio de lágrimas demais para trazer a ela algum conforto.
Ela não sabia dizer por quanto tempo estava envolta pelos braços de . Vinte, talvez trinta minutos.
As lágrimas iam e voltavam.
A madrugada começava a deixar o lugar para a manhã mas, daquela vez, o céu parecia cinzento como nunca.
Ela não queria soltá-lo.
Ele não queria dar as costas.
Ela queria pedir para que ele ficasse.
Ele queria ouvir as palavras da boca dela.
Quando os braços se desvencilharam, os olhos se prenderam por uma eternidade um no outro.
A garota queria lembrar da sensação pacífica que acometia seu corpo ao olhar para ele.
O garoto queria lembrar apenas como era olhar para única garota que já havia deixado entrar em seu coração.
– Bom show… – Foi tudo o que o fio de voz que ainda restara em sua garganta conseguiu dizer.
– Seria melhor se você estivesse lá.
Ela lançou um último sorriso para ele. Ele tentou ao máximo guardar a imagem para recorrer a ela nos próximos meses.
A conhecida sensação de ver o garoto ir embora trouxe as lágrimas ainda mais fortes para o rosto da menina. As lágrimas, por sua vez, só faziam o garoto querer ainda mais ficar.
– Me avisa quando voltar para a Califórnia?
Sempre.


Fim.



Nota da autora: "Oi, amores!
Queria usar esse espacinho especialmente para agradecer todas as meninas que participaram desse ficstape. A todas que toparam participar com suas histórias e a Gabi e Kari, beta e capista, respectivamente, que também são grandes responsáveis por fazer esse projeto dar certo. Obrigada, meninas ♥
NFR, pra mim, é um dos melhores albuns da vida. A carga sentimental em cada letra é simplesmente impressionante e eu nem sei o que dizer da voz da maravilhosa Lana. E ouvir California é ter a certeza de que uma história está sendo contada.
Espero, de verdade, que tenham gostado da minha interpretação da canção.
Nos vemos em outras histórias!
♥"



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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