Finalizada em: 12/06/2022

Prólogo

Centenas de anos atrás, uma profecia foi feita.
Duas almas gêmeas, interligadas pelo destino, teriam suas vidas interrompidas por um mal maior, impossibilitando-as de se conhecerem e viverem um verdadeiro amor.
Com compaixão, os deuses os presenteariam com a chance de se reencontrarem. Não uma, nem duas, mas sete vezes. Suas almas viveriam por muito tempo, e eles teriam sete chances de compensar a história de amor que perderam, aproveitando um dia inteiro dentro de um mundo paralelo e perfeito.

Depois de terem seus destinos interrompidos ainda pequenos, e cumpriram a profecia ao renascerem no dia 24 de agosto de 1970, vivendo suas vidas como meros humanos. Por obra do destino – e da profecia –, ambos se conheceram quinze anos depois. Suas almas automaticamente se reconheceram e um amor sobrenatural os consumiu.
Eles sabiam o fim que teriam, e seus corações estavam ansiosos por aquilo.
era uma simples garçonete, ao mesmo tempo que era um escritor não tão conhecido, mas com muito potencial. Eles viveram, se conheceram e, sete anos depois, suas almas finalmente puderam se amar devidamente.

Era estranho, até mesmo para eles, reconhecer apenas alma de outro alguém. desde o início percebera que tinha algo de diferente ali, mas nem tudo fora claro assim a .
Finalmente, o dia havia chegado.

E, agora, eles poderiam se entrelaçar pela segunda vez.

۞

Capítulo 1

Hana e Yura continuavam a discutir quase sussurrando quando Gi se aproximou, tentando intrometer-se na conversa:
— Estão falando sobre o quê?
— Gi, conhece a teoria das almas gêmeas? — Yura virou o rosto na direção da mais nova chegada, fazendo com que Hana revirasse os olhos ao perceber que iria começar tudo de novo.
Gi negou com a cabeça, assustada com o ânimo repentino da colega de sala. Elas estavam no meio do intervalo entre a aula de caligrafia e artes, mas decidiram permanecer na sala de aula, discutindo, ao invés de saírem até o parquinho e brincarem com as outras crianças. A professora parecia concentrada demais na correção das atividades que seus alunos lhe entregaram poucos minutos antes do recreio, por isso, as meninas conversavam baixinho.
— Bem, a teoria diz que duas pessoas nascem destinadas a viverem uma linda história de amor. — Yura contava com um enorme sorriso. Suas mãozinhas se entrelaçaram e, num gesto apaixonado, ela fechou os olhos enquanto suspirava, imaginando-se naquela situação.
— O que é uma completa besteira. — Hana cruzou os braços, bufando com a reação da amiga. — Como podem duas pessoas nascerem já destinadas, sendo que elas nem ao menos se conhecem? Quem garante que elas irão realmente se apaixonar uma pela outra?
— São as almas que se apaixonam, Hana. — Yura saiu de seu devaneio, ficando de frente para a outra e esquecendo-se completamente da existência de Gi, que parecia cada vez mais perdida com o rumo da conversa.
Destino? Amor? Alma? Ela já deveria se preocupar com aquilo na idade que estava?
— Por isso se chamam “almas gêmeas”. — a menina fez aspas com as mãos, além de um biquinho fofo que se formara em seus lábios por estar se sentindo contrariada.
— Uma baboseira. — Hana replicou seca, fazendo com que Yura se irritasse de vez, e, num ato de raiva, aumentou o tom de voz:
— Você fala isso porque ninguém nunca vai se apaixonar por você.
Gi arregalou os olhos, não achando que a discussão chegaria àquela proporção. Arrependida de ter se metido, a menina apenas cruzou as mãos em frente do corpo e saiu andando pequenos passinhos para trás, afastando-se.
Yura e Hana já discutiam em um volume mais elevado, chamando a atenção da professora, que desviou o olhar para as alunas. Calmamente, a mulher se levantou e seguiu até as meninas, agachando-se até ficar próxima da altura delas.
— Certo, por que estão brigando?
— Nada, professora. — Hana respondeu, ainda irada com a amiga. — Yura que não está aceitando a verdade.
— Não é verdade! Você que é chata!
— OK, OK. Vamos nos acalmar primeiro. — tentou acalmá-las, percebendo que Gi estava cada vez mais distante. — Para onde a mocinha está indo?
— E-eu... — sibilou nervosa, mas sem nenhuma desculpa. Ela não tinha culpa, né?
Depois que Gi se aproximou novamente, a professora pediu para as três meninas se sentarem nos pufes que ficavam no final da sala. Assim que cada uma se aconchegou, puxou uma das cadeiras e esperou que alguma delas se pronunciasse, o que não ocorreu.
— Por que estavam discutindo?
Hana e Yura tentaram falar ao mesmo tempo, mas, em um segundo, a mulher tossiu forte, fazendo com que ambas se aquietassem e mirassem o olhar em seus próprios colos.
— Gi? — chamou a única que permanecera em silêncio. — O que aconteceu?
A menina piscou os olhinhos rapidamente, não querendo falar. A professora sorriu calma, demonstrando que ela poderia dizer quando quisesse, pois a mais velha estaria escutando.
— Yura estava me explicando sobre almas gêmeas e a Hana acha que isso é besteira, daí elas começaram a discutir. — Gi proferiu baixinho.
assentiu, compreendendo qual fora a faísca que provocou aquela quase briga. As três garotas ficaram em silêncio enquanto a mais velha as observava com um sorriso. A sala estaria vazia se não fosse pelas quatro ali.
— Bem, vocês precisam entender que cada um pode ter sua opinião. Estão crescendo, devem aprender a respeitar a crença de todos. — a professora começou a falar, e as meninas levantaram o olhar para a mulher. — Hana, é essencial que você não zombe daquilo que sua amiga acredita.
Yura sorriu e virou-se para a colega, mostrando-lhe a língua.
— Mas, ao mesmo tempo, Yura, você não deveria ter começado a brigar com Hana por ela ter discordado da sua opinião.
A menina mordeu o lábio inferior, arrependida.
— Para ser bem sincera, acho que vocês não precisam discutir sobre isso por agora. Vocês têm seis anos, não precisam se preocupar tanto assim com o futuro de vocês, não ainda. — a mulher sorriu, esperando alguma resposta das mais novas, mas recebeu apenas o silêncio. — Fiquem tranquilas, tem muita coisa para viverem ainda, não se preocupem tanto com o amor por agora.
As três permaneceram quietas, sentindo uma leve culpa. Nenhuma delas imaginou que começariam a discutir daquela forma, muito menos que fossem levar bronca da professora por conta de uma simples teoria.
— Mas professora, a senhora já encontrou o amor da sua vida? — Yura perguntou com um fio de voz, não querendo soar acusatória ou algo do gênero. Estava apenas curiosa.
— Hm, será? — ela soltou uma risadinha abafada. — Vocês vão entender mais para frente que essas nomenclaturas nem sempre serão o suficiente para descreverem o que você está vivendo ao lado de outra pessoa.
As garotas corresponderam ao sorriso, pedindo licença à mais velha e seguindo, juntas, até o parquinho para brincarem um pouco até o final do recreio.
Com uma gargalhada baixa, se levantou e posicionou a cadeira no lugar em que se encontrara anteriormente, seguindo até sua mesa e voltando a corrigir as atividades.
Um toque avisando a chegada de uma nova mensagem no Kakao* chamou-lhe a atenção, mas a mulher não se preocupou de checar o celular naquele instante.
Ela teria a noite toda para isso.

۞


O sinal de fim das aulas ressoara pela sala de aula, e aguardou que todos os alunos saíssem da classe para que ela pudesse seguir o caminho para casa.
Sentindo uma animação esquisita no peito, dirigiu até sua casa. Sua rotina seguiu como sempre: chegar em casa, tomar um banho, cozinhar, alimentar Kiko, seu cão, e assistir algo no jornal.
Assim que a programação acabou às dez horas da noite, se levantou do sofá, desligando a televisão, e seguiu até o banheiro para escovar os dentes e dormir. Nada fora do costume, mas algo estava diferente, ela podia sentir.
Só não sabia o que.
— Estranho. — observou seu próprio reflexo no espelho. — Será que esqueci algo na escola hoje?
O sentimento estranho permaneceu até mesmo quando a mulher se deitou em sua cama, tentando dormir, mas sua mente permanecia desperta. Olhou no celular mais uma vez, e notou que havia uma mensagem apagada que mandara durante o trabalho. Ela se arrependeu de não ter visto na hora que recebera.
Colocou ASMR, tentou meditar, leu um pouco, mas não conseguiu desligar a mente nem por um segundo. Não era comum que tivesse insônia, na verdade, aquilo só acontecera duas vezes na sua vida. Uma quando ela conheceu , seu amigo do colegial, e uma outra quando era pequena e havia perdido sua boneca predileta no passeio da escola.
Ou seja, não era normal que aquilo acontecesse, e por isso ficou tão encucada.
Observou a Lua brilhando do lado exterior da janela, bufando mais uma vez. Buscou o celular sob a cabeceira, sem nem ao menos tirá-lo do carregador.
— Duas da manhã?! — seus olhos se arregalaram, abismada por ainda estar sem sono.
O cansaço já tomava conta do seu corpo, mas seu subconsciente parecia mais alegre que o normal. Seu estômago, ainda revirado, pulsava como se borboletas estivessem voando por ali.
Levantou-se da cama, se arrependendo de não ter vestido meias. O chão gélido pareceu despertá-la ainda mais, e era o que menos precisava no momento. Caminhou nas pontinhas dos pés até a cozinha, abrindo um dos armários e procurando pela sua caixinha de remédios. Diariamente, ela ia até lá procurar por algum analgésico para sua dor de cabeça depois das aulas, mas não era o caso.
Assim que encontrou as duas caixinhas de doxilamina, escolheu a que possuía a maior dose. Uma leve onda de déjà vu lhe dominou, e se recordou de quando conhecera e tivera insônia.

dava passos apressados, com o café na mão, tomando cuidado para não tropeçar e derrubar todo o líquido em sua roupa. Ela já estava atrasada, chegar com a roupa suja seria o estopim dos seus problemas.
Mas Murphy estava certo quando disse que se tinha como algo dar errado, daria.
— Merda. — a mulher reclamou assim que reparou a mancha de café em sua camiseta após ter trombado em um desconhecido. Sua “sorte” era que sua calça era preta, então a marca do líquido não aparecera.
— Meu Deus, moça, me desculpe. — o rapaz desesperou-se, sentindo-se culpado por estar andando com tanta pressa.
— Não foi sua culpa. — reconheceu, logo levantando o olhar ao garoto. — Bem, não totalmente.
O homem apenas acenou, com os olhos fixos na mancha escura cobrindo o lado esquerdo da blusa da mulher. Ele mordeu o lábio inferior, nervoso. Já sentia-se frustrada, conseguira chegar na faculdade cinco minutos antes da sua prova começar, e não havia tropeçado nenhuma vez.
— Minha apresentação... — murmurou, olhando rapidamente no relógio. Ela tinha mais três minutos, mas não poderia apresentar um seminário com a roupa daquele jeito.
Ele ouvira, e uma ideia surgiu em sua mente.
— Ei, vamos fazer assim. — ele chamou-a, começando a tirar o próprio moletom. — Usa meu casaco e faça o que precisa fazer hoje, pode me devolver outro dia.
Antes que pudesse recusar, o garoto entregou a vestimenta em suas mãos, logo seguindo seu próprio caminho. Ela começou a ir em direção a sua sala, mas lembrou-se de um pequeno detalhe.
— Ei! — a mulher o gritou antes que virasse o corredor. — Como vou te devolver se nem sei seu nome?
Já distante, o rapaz apenas se virou, com um sorriso.
— Procure pelo , é meu nome. Só existe um no mundo todo.


Uma risadinha saiu de seus lábios, lembrando-se de como fora encontrar-se com ele uma semana depois, com o moletom limpo, dentro de uma sacola. E ainda, naquele dia, ela tivera de tomar o mesmo remédio para conseguir dormir, mas acreditava que era apenas pelo nervosismo da avaliação.
Servindo um copo com água do filtro, a mulher engoliu o comprimido rapidamente, logo largando a louça sobre a pia e voltando ao quarto, desejando apenas conseguir dormir. ainda estava em seus pensamentos, principalmente depois daquela mensagem apagada.
nunca quis tanto que o ser humano viesse com um botão de ligar e desligar, para poder, enfim, dormir em paz por algumas horas. Mesmo com o remédio, aquela sensação esquisita de que algo se aproximava não dissipava.
Será que ela deveria perguntar se algo havia acontecido com o rapaz?
Não, ela precisava dormir primeiro, amanhã ela poderia mandar alguma mensagem.
Dito e feito, começou a sentir o corpo relaxar depois de um tempo. Suas pálpebras pareciam mais pesadas e sua mente passara a processar seus pensamentos mais lentamente, até que tudo se apagou.

Um caminho. A garota começou a encará-lo, mas seus pés pareciam presos ao chão. Silêncio. Escuridão. Neblina.
Ela sentia como se a Lua fosse sua única luz ali. Queria seguir o caminho, mas ainda assim não conseguia.
Um vulto. Ela finalmente avistou a silhueta de alguém, mas não conseguiu reconhecer.
Passos. A pessoa começara a correr pelo caminho, para ainda mais longe dela.
— Espera! — gritou ao vento, notando que o vulto não a esperaria.
De alguma forma, seus pés finalmente começaram a se movimentar, e a menina finalmente se viu correndo. O caminho era estreito, feito de terra, que mais parecia areia branca, e pedrinhas brilhantes. Seus pés, descalços, não doíam ao pisar sobre o chão pedroso.
Ao percorrer do caminho, árvores começaram a aparecer. Elas começaram pequenas, mas pareciam ir crescendo a cada passo que a mulher dava. Seus galhos, sem qualquer indício de folhas, começaram a adentrar o caminho, dificultando a corrida.
— Hey! — ela tentou mais uma vez. A silhueta parou, virou-se para trás como se esperasse por ela. No entanto, em meio segundo, voltara a correr pela rua.
A pouca luz passou a apagar-se, provavelmente por conta de alguma nuvem que entrara na frente da Lua, mas não era como se ela pudesse se dar ao luxo de se preocupar com aquilo no momento.
Água. O chão de terra branca e cheio de pedregulhos brilhantes terminara no que parecia uma lagoa. O vulto estava sobre as águas, virado de costas para a menina.
Ela parou assim que a água alcançou seus joelhos, passando a molhar a barra da saia de seu vestido. Sentia-se cansada, como se tivesse corrido uma maratona, mas não suava. Estava limpa.
— Você pode me dizer quem é você? — disse alto, tentando enxergar o rosto da pessoa. Ainda não havia entendido como aquela silhueta estava sobre as águas.
Mudez. Nenhum barulho podia ser ouvido, senão o vento e as pequenas ondas da lagoa. Ela se perguntava por que diabos a pessoa não se identificara ainda, mas a escuridão e o frio passaram a incomodá-la mais.
— Quem é–
Ela tentou perguntar mais uma vez, porém, a pessoa se virou ao mesmo tempo que a nuvem saía da frente da Lua.
Aqueles olhos. Aquele nariz. Aqueles lábios. Aquelas bochechas saltadas e marcadas. Aquele maxilar. Aquele maxilar. Tudo era tão reconhecível.
Ela tentou dizer mais alguma coisa, mas a pessoa simplesmente começou a ser engolida pela água, dando tempo apenas de a garota arregalar os olhos antes do grito desesperado sair de sua garganta.


!!!



*Kakao – é o aplicativo de mensagens mais comum na Coreia do Sul, bem parecido com o Whatsapp.

Capítulo 2

levantou-se, assustada com o próprio grito. Seus olhos estavam arregalados, sua boca parecia mais seca que o normal e, por mais incrível que aquilo soasse, ela sentia o próprio corpo mais leve, como se tivesse perdido alguns quilos.
Quando sua mente finalmente trabalhou, ela notou estar em seu quarto. Sua mão ergueu-se até a altura do peito, tentando amenizar as batidas de seu coração.
O problema era que ela não sentiu o coração batendo.
Uma avalanche de lembranças tomou-lhe a mente, fazendo com que abrisse os olhos novamente e esticasse os braços, apenas confirmando sua teoria.
Ela não era humana.
, ou melhor, olhou para trás e percebeu que seu antigo corpo estava ali, deitado sobre a cama, dormindo. Era uma sensação estranha, um sentimento que ela não se recordava direito.
O sentimento de ser apenas uma alma, sem habitar nenhum corpo.
Aquilo já havia acontecido mais de uma vez, mas não é como se a mulher conseguisse se acostumar com aquele momento. Ela queria ficar dentro de um corpo, era muito mais quentinho e confortável.
sabia muito bem o que teria de fazer em seguida, mas, por alguns instantes, permitiu-se levantar e ficar ao lado da cama, observando seu antigo corpo descansar.
O quarto não era tão pequeno, mas também não era luxuoso. Apenas... Confortável. Isso, sentia-se acolhida ali, naquele singelo espaço. As paredes cor de creme traziam uma paz aconchegante, dando-lhe uma vontade de permanecer naquele lugar por muito tempo.
Era algo confuso de se acreditar, e nem mesmo , que vivia aquilo, acreditaria caso lhe contassem. Onde já se viu uma alma ficar trocando de corpos dessa forma? Era no mínimo, uma lenda muito mal desenvolvida, sem pé nem cabeça.
A mulher se olhou no espelho, vendo apenas um vulto azulado. Esquecera completamente que não poderia mais observar seu reflexo, pois ela era apenas um espectro.
Ela desejou que não estivesse vivendo aquela profecia.
Suspirando, saiu da sua antiga casa, despedindo-se mentalmente de , sua antiga “dona”. A moça sentiu o nervoso lhe percorrendo completamente. Caso ainda fosse humana, suas mãos estariam suando e seu coração palpitaria tão forte que seu peito iria querer explodir. Ela estava ansiosa.
ansiou por aquele momento nos últimos sete anos, quando se relembrou do seu propósito ao, por meio da vida de , conhecer o rapaz , que guardava a alma de . Sua alma gêmea.
A sensação de déjà vu continuava presente. Era como uma música que já escutara diversas vezes no replay, ou aquela sopa de legumes com gostinho de casa da mamãe. Ela estava revivendo aquilo mais uma vez, e seu interior desejava aquilo cada vez mais à medida que os minutos se passavam.
A Lua estava radiante. Era época de Lua cheia, com o clima bem fresco. As estrelas brilhavam como lindos pontinhos no céu, deixando a situação cada vez mais propícia ao encontro de almas gêmeas. Um ar romântico, vivido apenas em livros de romance e séries clichês.
Ela desejou ser apenas a personagem de um dorama naquele instante.
se viu levemente perdida ao deparar-se com um parque, mais especificamente, o Hangang. Ela pôde enxergar o rio Han logo à frente, e um arrepio lhe percorreu quando se lembrou do sonho que tivera poucos minutos antes.
— Ele não deve demorar muito. — refletiu, olhando para os pequenos arbustos. Pôs as mãos na cintura, jogando a cabeça para trás e encarando as estrelas. — Na verdade, ele deveria estar chegando em 3, 2...
— Atrasei? — uma voz totalmente conhecida soou atrás de si, provocando um leve arrepio em .
Ela sentiu tantas saudades dele.
! — ela se virou para trás, querendo abraçá-lo, mas se conteve.
— Oi, meu anjo.
A garota jurou estar corada, mas sabia que era apenas coisa da sua mente desacostumada. tinha o mesmo desenho do rosto, mesmos olhos, mesmo nariz, e os mesmos lábios. O tom azulado de seu espectro era pouco mais forte do que o dela, mas não que eles se importassem tanto com a tonalidade do azul.
Eles se encararam por um tempo. O olhar fixo um no outro. Ela sentia como se pudesse morar ali, naquele olhar. Mesmo depois de tanto tempo, o brilho dos olhos de ainda era intenso e penetrante.
— Está pronta? — ele disse baixo, dando um sorriso de lado. A menina soltou uma risada abafada, apenas assentindo.
deu um passo para frente, aproximando-se da menina. Ele ainda a olhava nos olhos quando uma de suas mãos subiu até a nuca dela e puxou-a com carinho. Como em um pedido de permissão, arqueou as sobrancelhas, questionando se estava tudo bem.
— Me beija logo, .
Com uma risada, o rapaz quebrou a distância entre seus rostos, encostando seus lábios nos dela. O que começara com um simples selinho, intensificou-se. já estava de olhos fechados quando, involuntariamente, ergueu os braços e rodeou o pescoço de , trazendo-o ainda mais para perto.
O beijo causava-lhes um mix de sensações. Era como se aquilo já tivesse ocorrido, mas, ainda assim, era diferente.
Com alguns selinhos, foram se separando até abrirem os olhos e se encararem.
E lá estavam eles.
— Bem-vinda de volta, . — ele falou com um sorriso.
— Bem-vindo de volta, .

۞


— Uma fruta. — ela perguntou.
e estavam sentados um ao lado do outro, sobre uma toalha de piquenique, observando o campo esverdeado à sua volta. Eles haviam chegado àquele mundo há algumas boas horas, por isso decidiram comer algo depois de terem nadado na lagoa.
— Melancia.
— Quem em sã consciência prefere melancia a um morango? — riu alto, desacreditada pela escolha do homem.
— Melancia é uma delícia e faz muito bem à saúde, okay?
Ela apenas revirou os olhos, logo se esticando para alcançar uma uva no cacho. A toalha estava coberta de frutas e doces. Um piquenique digno de casal de filme. O Sol já estava baixo, indicando que o fim do dia se aproximava. se saboreava com o bolo de chocolate enquanto aproveitava as deliciosas frutas. Ambos ficavam fazendo perguntas um para o outro.
— Um filme. — ele disse após dar uma mordida em seu pedaço de bolo.
— Hm... — ela parou por um tempo, limpando a mão em um guardanapo. — Eu gostei de quando assisti Pure Love com a Qin.
— Esse filme é muito triste. — arregalou os olhos. O rapaz já havia jogado o corpo para trás e se apoiado nos cotovelos, como se estivesse deitado. — Eu tinha saído com alguém para assistir no cinema e a garota não parou de chorar.
— A história é bem dramática mesmo, por isso gostei. — ela sorriu, pegando um pedaço de manga. — E você? Qual filme você mais gostou de assistir quando estava vivendo como ?
— Não tenho ideia. — sorriu sem graça. — Gostei de todos os da Marvel que eu assisti.
— Eu chorei com Guerra Infinita.
— Confesso que deixei uma lágrima escorrer, mas é porque foi realmente triste. — começou a rir da própria confissão, lembrando-se de como tentou esconder o olho avermelhado de choro após a sessão.
jogou as costas para trás, deitando-se para fora da toalha. Seus olhos caminhavam pelo céu, observando cada nuvem e seus formatos esquisitos. continuava comendo.
Se alguém lhe contasse, em vida, que ela poderia passar horas e horas com sua alma gêmea em um lugar como aquele, ela com certeza não acreditaria.
A grama estava bem verde como se lembrava. Quando nadou na lagoa com um pouco antes do piquenique, ou quando caminharam descalços pelo campo, tudo lhe dava uma sensação de lar.
Era outro déjà vu.
— Você sonhou com esse lugar? — ela questionou de repente, paralisando-o por meros segundos.
— Não que eu me lembre.
Ela se levantou, sentando-se com as pernas cruzadas, e virou-se para ele, o cabelo todo bagunçado cobriu uma parte do rosto da menina, deixando-a levemente assustadora.
— Eu sonhei. Hoje mesmo.
— Como assim?
— Foi esquisito, não sei como resumir ao certo. — pôs o dedo indicador no canto da boca, como se pensasse no que dizer. — Eu estava sozinha. Era de noite e só tinha a luz da Lua para me guiar. Eu andei pelo caminho de pedras brancas que dão no rio, pois estava correndo atrás de alguém, mas a pessoa ficou andando pelas águas até que afundou.
— E você conseguiu reconhecer a pessoa? — se preocupou, ajeitando a postura ao se esticar em direção à menina.
— Sim, era você.
Ambos ficaram se encarando por um tempo, em silêncio. porque não sabia o que dizer, e porque estava confusa demais enquanto se recordava da adrenalina dentro do sonho, que mais parecia um pesadelo. Olhando agora, ela conseguia reconhecer o caminho que traçou, mas ainda assim sentia-se meio sufocada.
— Vamos esquecer isso, quer fazer alguma coisa? — ele estendeu a mão assim que se levantou.
Ela ficou analisando o rapaz por alguns segundos, avaliando qual era a melhor coisa que poderiam fazer no momento. estava certo, ela precisava esquecer aquele sonho, pelo menos por agora. Precisava aproveitar cada segundo ao seu lado, pois, em pouco tempo, eles precisariam se despedir mais uma vez.
, esse é o nosso mundo. — chamou-lhe ao perceber que ela ainda estava nervosa. — Estamos livres para fazermos o que quisermos. Vamos curtir.
Assim que a garota agarrou sua mão e levantou em um pulo, puxou-a para correrem no campo. Mesmo que tivessem acabado de comer, eles poderiam fazer o que quisessem naquele instante. Eles aguardaram muito por aquele momento, e nada poderia estragar aquilo.
Todas as preocupações, medos e desafios haviam passado. Eles estavam bem, estavam juntos, como deveriam ficar para sempre. Aquilo era o que importava.
Eles só precisavam estar juntos.
— Meu corpo está esquentando, ‘tô sentindo meu coração acelerar. — ela gritou, já longe dele. Em algum momento, enquanto devaneava sobre ambos, soltou sua mão para sair correndo. — Duvido você me pegar, !
— Não diga algo assim! — ele berrou de volta, passando a correr em direção à garota.

۞


O céu já estava escuro quando ambos decidiram descansar, cansados de terem ficado correndo por tanto tempo. sentia o coração bater animado, não querendo que toda aquela adrenalina acabasse. Ele queria permanecer daquele jeito, com jogada no gramado ao seu lado depois de passarem o dia juntos. Era apenas isso que ele queria.
No meio da brincadeira, acabou deixando o campo esverdeado perto da lagoa e correu até um bosque. Haviam diversas flores coloridas, e eles continuaram se perseguindo e rindo por ali.
Ela sentiu o corpo relaxar por alguns minutos, querendo passar o resto da noite imóvel, mas sua mente já trabalhava ao pensar sobre o futuro. Em algumas horas, eles precisariam se despedir mais uma vez.
Ainda ofegante, a garota levantou-se e estendeu a mão ao rapaz, sem dizer nem ao menos uma palavra. Assim que ele se levantou, ela rodeou seu pescoço com as mãos e começou a andar de um lado para o outro, como uma dança.
— Mas nem tem música. — ele disse rindo.
— Só finja.
E ficaram ali por um tempo, dançando sem música alguma, apenas com a luz das estrelas e da Lua os iluminando. As flores ao redor deles acabaram chamando a atenção de alguns vagalumes, que começaram a piscar enquanto voavam de planta em planta, rodeando o casal que dançava de um lado para o outro.
se questionava se poderia passar a eternidade daquela forma, e apenas uma resposta brilhava em seus pensamentos.
Sim, ela passaria se pudesse.
— Gosto de ficar assim com você. — deixou seu pensamento escapar pelos seus lábios, causando uma onda de vergonha nas maçãs do rosto da garota. riu alto.
— Eu também gosto, meu amor.
Ela parou, ainda sem reação.
— O-o que...
— Você é o meu amor, não? — sorriu, distanciando-se um pouco para encarar os olhos da menina. — Se estamos vivendo essa realidade de novo, é porque estamos ligados, certo?
— É...
sorriu de lado, encantado pela forma que reagia aos seus elogios e investidas. Era um sentimento como se aquilo fosse comum e rotineiro, mas cada vez que ele a olhava, uma sensação nova surgia.
Era o mesmo, mas diferente.
Um déjà vu.
— Por que o tempo passa tão rápido quando estou assim com você? — ela perguntou manhosa, sentindo uma tristeza repentina ao saber que, em breve, iriam se separar. — Queria que ele enrolasse mais um pouco.
— Eu também. — sorriu, puxando a cintura de para mais perto. O rapaz encaixou o rosto na curvatura do pescoço da menina, sentindo seu cheiro ainda mais de perto.
Ficaram em silêncio, apenas curtindo a presença um do outro. Nenhum dos dois queria se separar, mas eles sabiam que era necessário. Eles tinham de cumprir com a profecia e passar por toda aquela situação outras cinco vezes. e apenas esperavam que pudessem passar a eternidade juntos depois de tantos anos de tortura.
Ele ergueu o rosto, querendo encará-la. Seus olhares se cruzaram, e se viu preso ali. Ele podia sentir os sentimentos dela apenas ao encarar seus olhos brilhantes, e aquilo era o suficiente. Saber que lutava pelos mesmos motivos que ele era o suficiente.
Afinal, era um amor correspondido.
— Vamos nos reencontrar assim, será? — a voz da mulher saiu falha com o choro se aproximando.
Ela não queria ir, não queria ter de deixar mais uma vez. E mesmo que soubesse que se veriam em breve, ela ainda assim queria apenas ficar com ele, abraçados daquele jeitinho, para sempre. Sem mais vidas, sem mais ciclos. Ela só queria ficar nos braços dele pelo tempo que pudesse.
estava cansada de ficar revivendo aquela angústia, mas o que ela poderia fazer? parecia conformado com a situação, talvez um dia ela conseguisse reagir da mesma forma.
Uma lágrima singela escorreu, e o rapaz a limpou com cuidado.
— É claro que vamos nos reencontrar. Aqui, mais uma vez.
— Vou esperar por esse momento, todos os dias.
— E eu irei te conhecer novamente nesse sonho.
sentia o peito doer. Ela com toda certeza reconheceria a alma de assim que a visse, independentemente da pessoa que estiver cuidando dela no momento. Mesmo depois de um longo tempo, ela o reconheceria.
— Nos veremos aqui mais uma vez, .

Epílogo

Nunca, jamais, chame sua mãe para ir em uma reunião empresarial contigo caso você tenha a opção de ir sozinha.
Bitna já havia se arrependido amargamente de tê-la convidado.
— Vamos logo, Bit. Eu vou sem você! — a garota escutou sua mãe lhe chamando do andar de baixo. Com pressa, puxou a bolsa de cima da cama e saiu correndo escada abaixo.
Bitna não entendia tamanha pressa da mãe, sendo que não era ela quem dirigiria. E outra, ela nem mesmo era obrigada a ir. A mais velha estava indo apenas por birra.
A garota entrou no automóvel emburrada, querendo que a mãe apenas parasse de tagarelar por alguns instantes. Bit precisava passar no supermercado mais tarde, mas não sabia que horas a conferência da empresa de seu irmão mais velho terminaria. Deu a partida no carro assim que prendeu o cinto, logo se concentrando no trânsito e esquecendo sobre o falatório sem fim de sua mãe.
O dia estaria mais belo se não fossem as nuvens cinzas se aproximando, mas Bitna gostava de dias chuvosos. Traziam-lhe paz, refresco e...
— CUIDADO!
O grito de sua mãe causou um arrepio na moça, fazendo com que ela apenas jogasse o volante para o lado e desviasse do acidente a sua frente.
— Merda, eu não tenho calma nem mesmo no meu dia de folga. — resmungou ao soltar o cinto, correndo para fora do carro.
O acidente não fora tão feio, mas as pessoas curiosas já se aproximavam e rodavam o corpo de um homem que estava jogado alguns metros à frente.
— Licença, licença, eu sou médica... — Bitna tentava dialogar, mas as pessoas não pareciam lhe dar ouvidos. Cansada da boa educação, e preocupada com a vítima, a mulher apenas começou a empurrar os outros até que pudesse se aproximar do homem.
Com cuidado, agachou-se ao lado do corpo e avaliou a forma a qual estava jogado no asfalto.
Ele claramente quebrou a tíbia esquerda, mas não tem nenhum dano gravíssimo na direita senão os arranhões.
As pessoas pareciam cada vez mais próximas, e aquilo começara a dar nos nervos de Bit.
— Com todo o respeito, mas será que tem como vocês se afastarem? E alguém já chamou a ambulância?!
Uma onda se “sim” soou ao redor de Bitna, mas a mulher não se importou com quem havia chamado, apenas se haviam ligado ou não para a emergência.
A coluna não está reta, pode ter lesionado durante a queda. Espero que os profissionais que virão com a ambulância sejam competentes, pois qualquer errinho pode deixar esse homem paraplégico.
A sirene da ambulância soou alta, se aproximando. As pessoas finalmente abriram um espaço, permitindo que a equipe de paramédicos se aproximasse.
Bitna se levantou ao constatar que a vítima respirava e tinha o batimento cardíaco pouco mais lento que o normal. Ao caminhar até a ambulância, a fim de avisar o chefe deles sobre o estado do homem caído, a mulher sentiu os próprios pés fincando no chão.
Ela não se lembrava de ter visto aquele rosto, e mesmo assim parecia-lhe memorável. Bitna não sabia explicar o porquê que seu corpo travou ao prender seu olhar na feição nervosa do chefe da equipe de paramédicos naquela ambulância, mas uma luzinha se acendeu assim que o homem a encarou de volta.
Era ele.




FIM.



Nota da autora: Olá meus amoresss, como estão? Espero que estejam todas bem.
Enfim, essa história nasceu de uma forma engraçada, também conhecida como “desespero de ficstape”. Estou precisando de férias.
O que acharam? Mark e Sarang tiveram um bom final? Confesso que adorei escrever com o Lee, esse pitico lindo que tanto amo.
Espero que tenham gostado e entendido alguma coisa dessa loucura em forma de fic aí hehehe. Obrigada por terem lido!
Um cheirooo pra vocês,

~xoxo



Nota da beta: Eu não tenho nem palavras pra descrever o quanto isso aqui tá lindo, sério. Eu terminei de betar chorindo.
Bem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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