09. Write your Name

Última atualização: 27/04/2020

Capítulo 1

A maresia trazia o ar gélido do outono, o inverno logo se aproximaria e, então, a imensidão azul logo daria cenário ao palácio de Bering Ferrys. Odiava aquele lugar. Respirei fundo enquanto meus olhos deleitavam-se com o horizonte, o mar era a minha paixão e não havia nada que me deixasse mais feliz do que estar em um navio – ou como minha mãe dizia, banheiras flutuantes.
!
Eu me virei assim que meu nome fora pronunciado como o vento do oeste, forte, tempestuoso e nada agradável. Revesti a máscara de princesa, fria e enigmática. A figura feminina me avaliava de cima a baixo, perscrutando algum vestígio de defeito. Ela desejava aquilo mais do que suas joias. Um leve repuxar de meus lábios no canto esquerdo serviu para causar um olhar raivoso. Margarete me detestava e, para sua infelicidade, seu pai amava a família real italiana, ou seja, ela tinha que conviver com a minha presença quase sempre e não havia nada que pudesse fazer a respeito mas, naquele exato momento, desejava que ela fosse feita comida de peixe para que, enfim, pudesse desfrutar de alguns momentos de paz. Ela estava estragando a viagem até o País de Gales. Suspirei antes de proferir qualquer sentença.
– Sim, Margarete?
Os olhos dela faiscavam como as chamas das lamparinas que estavam sendo acendidas no convés. Não me dava o trabalho de compreender o que a atormentava. Não que a detestasse, apenas desisti de tentar ajudá-la, já que me repudiava de forma gratuita.
– Agora deu-se a fingir de sonsa?
Suas palavras carregavam uma raiva primitiva a qual não compreendia. Havia passado o dia a ler na cabine do comandante enquanto ele me instruía vez ou outra sobre as cartas de navegação e, após o chá da tarde, passei a derivar meus pensamentos enquanto observava o sol se por no horizonte anil.
Mia cara, esqueceu-se que está a falar com sua futura rainha?
Ergui meu tom, repreendendo-a. Não iria admitir qualquer desrespeito por algo que não havia feito, por São Genaro! Eu não era obrigada a aturar uma dama tão fútil e infantil.
– Sua...
? Margarete?
Margarete silenciou-se com a chegada de Vincent, meu bom e cortês melhor amigo. Sorri, agraciada com a sua chegada, ato que não passou desapercebido por Margarete. Que fosse!
– Vejo que cheguei em boa hora!
Vincent sorriu e encostou na amurada, ao meu lado. No entanto, Margarete saiu mais que depressa com o semblante um tanto infeliz. Ri com tal ato. Vincent olhou-me com ar risonho.
– Sempre. – Disse por fim, contendo as palavras mordazes que gostaria de dizer sobre as atitudes de uma certa dama.
– Vejo que a confusão estava prestes a estourar. Não seria mais fácil levá-la até James? – Vincent indagou com ar inocente, ele sabia que não diria uma palavra ao pai de Margarete e que, fosse o problema dela, resolveria sem colocar qualquer um naquilo.
– Para qual fim? Sabe muito bem que resolveria quer, fosse o problema da vez. Margarete teria que deixar logo disso. Caso contrário, mostraria então qual seu lugar. – Respirei fundo o ar gélido da noite que se aproximava enquanto me virava para encarar o semblante de meu amigo, o qual revelou um doce sorriso.
Baixei minha cabeça, repousando-a em seu ombro.
– Sua mãe a trancaria na cabine durante toda a viagem. – Vincent silenciou-se, abraçando minha cintura como forma de proteção contra o ar do oceano.
– Dona Graziela me repreenderia por todos os dias até que, enfim, chegássemos ao nosso destino. – Ri ao imaginar a cena de minha mãe "dialogando" por dias a fio.
– Algo fácil de se imaginar, mas creio que seu pai, rei Martino, iria tentar te livrar. – Vincent riu, embora a sentença tivesse seu real pensamento.
– Queria Henrico aqui mas, desde que casou-se com Collete, não sai de Paris por nada. Quem prefere ladys e lordes a exibirem sua pompa ao invés de uma vista dessa? – Meu tom revelava o quão revoltada estava com meu irmão.
Ele assumira a monarquia francesa, deixando o trono para mim. Estava infeliz, queria a liberdade que, como caçula, me permitia ficar longe do trono. papa havia me prometido quando criança que poderia navegar enquanto Henrico governaria o país mas, então, Collete teve de aparecer e estragar tudo! Henrico abrira mão do trono para governar a terra dos mesquinhos!
– Ele tinha obrigações com o nosso país! Ele escolheu a França, Vincent! França! – Dizia enquanto visualizava aquela fatídica tarde onde houve o casamento em Borgonha.

•••Flashback•••


Cerimônia de Henrico e Collete

Havia passado algumas horas viajando por parte da Europa a fim de chegar ao castelo no qual a família real francesa passava a primavera. Collete havia escolhido com exatidão a data para o enlace entre as duas famílias. De alguma forma, desejava que o dia estivesse chuvoso, então ele combinaria com o meu humor. A carruagem estava me sufocando. No entanto, minha mãe, rainha Graziela, estava perfeitamente bem, confortável e completamente majestosa. Não conseguia compreender como ela suportava passar horas numa abóbora sobre rodas a estar sobre as ondas e o horizonte sem fim mas, de alguma forma, ela tinha aversão a navios. Contive um sorriso. A última vez em que estivemos em um navio, ela me trancara na cabine enquanto me passava o maior sermão sobre como uma dama deveria se portar logo após eu assumir o timão, seguindo as instruções do capitão. mama olhou-me de esguelha, um tanto desconfiada. Ajeitei minha postura enquanto voltava a folhear o livro, um romance qualquer que possuía uma única função: distração.
Chegamos a Borgonha ao fim de uma semana. Respirei aliviada assim que coloquei meus pés para fora da carruagem. Tal ato serviu apenas para mama repreender-me com um único olhar. Henrico aguardava-nos com papai na entrar do majestoso castelo. Ambos haviam saído de Turim um mês antes de mamãe e eu sairmos da Alemanha, uma visita cortês ao Grand Duque, um amigo fiel que sempre prestava serviços à nossa família. Cumprimentei papai mas fiquei indiferente ao meu irmão, o máximo que lhe prestei foi um olhar zangado. Estava chateada com a escolha dele! Ele era o herdeiro! O primazio! Segui à frente de minha famiglia enquanto ouvia o sussurrar de meus pais. Não desrespeitaria quem amava, porém não lhe prestaria felicitações. Ao fim do grande salão de entrada, estava a corte real francesa: Rei Pierre. Ao seu lado, estava sua esposa, Rainha Anabelle, Príncipe Luís e Collete. Meu sorriso artificial não desgrudou de meus lábios até que estivesse no quarto, era exagerado assim como toda corte francesa. Respirei fundo. A recepção durara horas! Meus pais prolongaram por horas a conversa sobre a viagem, sobre o casamento, e ainda teria que engolir um pouco mais durante o jantar!
Joguei-me em minha cama enquanto fechava os olhos, o colchão era macio mas a renda incomodava um pouco. O desejo de me aninhar e dormir era grande, mas somente a imagem de mama furiosa ao me encontrar com as vestes da viagem e cara amassada servia de alerta para começar a me despir e seguir para a banheira. Um banho bem preparado, porém dispensei a criada. Era capaz de cuidar de mim mesma, oras! Papa e mama que engolissem a minha insatisfação. Após o banho, coloquei um vestido simples de cetim. Ele delineava minhas curvas mas era elegante o suficiente para a realeza, possuía insígnias e brasões de todas as províncias das terras pertencentes ao meu pai. Era um lembrete e uma provocação a Henrico e Collete. O casal estava sussurrando com olhares risonhos um para o outro e sorrisos grudados nos lábios. Aquela cena causou uma dor em meu peito, estava perdendo o meu irmão para a herdeira da coroa francesa. Dei passos leves para trás antes de sair correndo pelos corredores. Ao longe, ouvia mama chamar pelo meu nome. Após passar pelas portas ao sul do palácio, cheguei ao jardim. Tudo estava preparado para o enlace no dia seguinte, e ver aquilo comprovava que não havia nada que pudesse fazer a respeito.
Maledetto!
Cuspi a palavra enquanto atravessava com rapidez a estrutura para o casamento. Assim que cheguei ao outro lado do imenso jardim, avistei uma choupana, simples mas com certo requinte. Curiosa, eu me aproximei a passos lentos. Era possível ver, pelas janelas, os criados dançando e se divertindo à mesa de jantar. Escorei-me na árvore, obtendo certo esconderijo. A alegria deles era contagiante, o sorriso sincero, a parceria e amizade era admirável, e o principal: liberdade. Eles possuíam o que almejava, e ser lembrada daquilo causava uma sensação agridoce. Fiquei ali, cativada por algum tempo, e não percebi uma figura masculina se aproximar e me colocar em seus ombros. O perfume denunciava quem era.
– Coloque-me no chão. – Vociferei, irritada.
– Você sabe que fugir da situação não mudará a realidade, sorella. – Henrico pronunciou-se com um pesar em sua voz.
– Você não possuía o direito de ter nos abandonado! – Eu o respondi irritada, encobrindo a minha mágoa.
– Eu não abandonei ninguém, ! – Henrico colou-me no chão, passando as mãos em seu cabelo antes de me encarar com um olhar frustrado. – Já tivemos essa discussão inúmeras vezes! Eu não estou dando as costas ao nossos pais ou ao povo! Estou apenas lutando pelo meu amor. Será que uma única vez não posso tomar uma escolha, a qual quero mais do que tudo?! – Sua voz se elevou enquanto seu olhar travava no meu. – Desde que nasci, o peso do trono foi colocado em meus ombros, decidiram a minha vida sem que me consultassem. A minha vida não pertencia mais a mim. Você, , cresceu com escolhas. Poderia viajar, navegar, brincar mas, a mim, foi destinada toda uma nação. Meus dias se resumiam a diplomacia e muito estudo. Não havia tempo para meus desejos enquanto você tinha tudo o que desejava e, quando enfim tomo uma decisão, você a entende como abandono! – Sua acusação tácita tirou-me do ar por breves segundos, mas não era sem sentido.
Estava sendo mesquinha e infantil, mas o peso da coroa e do trono havia quebrado todas as minhas defesas. Nos últimos meses, havia encarado toda a responsabilidade que me aguardava assim que papa passasse o trono a mim. Aquilo me assustava até os ossos.
Io... – Balbuciei enquanto meus olhos marejavam.
Não queria descontar tudo em meu irmão, ele era a minha base e estava com medo de perdê-lo. A responsabilidade que recaiu em meus ombros havia me levado a me afastar do meu melhor amigo.
Henrico me abraçou enquanto afagava meus cabelos, entendia o porquê dele partir. Ele não podia suportar perder a pessoa amada porque, se ele não se casasse com Collete, outro o faria. E somente essa ideia o deixava louco. Conhecia meu irmão tão bem assim como ele me conhecia. Éramos grudados, apesar dos três anos de diferença. Mesmo que ele estivesse ocupado, sempre tinha um tempo para mim.
– Eu sinto muito! – Enxuguei minha face molhada, seu olhar era de afeto e havia um riso discreto em seus lábios.
– Não precisa desculpar-se. Somente sorria, odeio tirar o brilho de seus olhos sorella. – Ele respondeu-me com pesar.
– Você sabe que, embora estivesse agindo de forma mesquinha, estava assustada até os ossos com tudo. – Eu o acusei com certo humor.
– Você é parte de mim e eu de você, lembra? – Ele disse com um ar descontraído.
Ao fim, passamos umas boas horas juntos, como quando éramos crianças. Mas, dessa vez, havia a seriedade de um matrimônio no dia seguinte. Sentiria falta daquelas conversas, tentei não pensar muito a respeito enquanto ríamos.
Quando adentramos o salão principal, papa e mama nos olhavam com certo afeto. Aproximei-me e curvei-me aos pés de ambos em respeito.
– Perdoe-me por meus atos insensatos. – Supliquei, permanecendo com a cabeça abaixada.
– Vejo que está arrependida, filha. – Papa disse suavemente em seu tom de voz grave.
– Na Itália, falaremos a respeito disso. – Mama se levantou mas, antes de seguir, me colocou de pé, ergueu minha face e beijou minha testa com carinho. – Uma boa rainha sabe reconhecer seus erros.
E, assim, ela partiu, após beijar a testa de meu irmão também. Sorri e abracei Henrico e, logo em seguida, papa. Meu irmão me acompanhou até meu quarto.
– Princesa , futura rainha da Itália, dobrou Graziela? – Henrico disse, risonho.
Ambos caímos na gargalhada diante da situação que escapei.
– Boa noite, majestade. – Fiz uma reverência exagerada como os franceses.
– Vou sentir sua falta. – Henrico disse, me abraçando, um pouco meloso.
Io sou parte de ti e você é parte de mim. – Disse, o abraçando uma última vez com a mão sob a maçaneta. – Bona seratta, fratello.
Io sou parte de ti e você é parte de mim. – Henrico repetiu com um sorriso fraternal. – Bona seratta, sorella.
Com isso, Henrico seguiu adiante, me deixando sozinha no enorme corredor. A sensação agridoce voltou em meu peito e, sem controle, deixei as lágrimas escorrerem por minha face. Estava feliz por meu irmão ter conseguido achar a felicidade, mas estava triste por ele ter que deixar nossa casa. Deixei que lembranças me tomassem enquanto me deitava após colocar a camisola de linho. Com isso, adormeci. Fui acordada por mama, que me abraçou e confessou que sentia-se da mesma forma. Ela me ajudou a preparar-me para o desjejum e, com uma maquiagem leve, seguimos até o salão menor – um eufemismo, mas franceses adoravam oposições. Sentamos as duas e, em sincronia, ambas famílias agradeceram pelo alimento e seguimos o desjejum conforme os bons costumes, sem qualquer escândalo. Após isso, o que parecia calmo se tornou tempestuoso devido aos organizadores andando de um lado para o outro e mama me arrastando. Sentia-me como uma criança novamente. Ela conversava com pessoas influentes, mas logo voltava aos aposentos de Collete para verificar se precisava de algo, e então entendi que ela estava me ensinando de modo prático os deveres de uma rainha. Após 8 horas fazendo aquilo – contei cada segundo da torturante aula –, ela me deixou nas mãos das criadas para me arrumarem para a cerimônia. O vestido verde-esmeralda destacava minha pele, a tiara com rubis e lápis-lazúli dava um ar mais sóbrio. Enquanto me observava, sentia-me mais como uma pessoa diferente. Era talvez a realidade me alertando que tudo em mim mudaria. Suspirei e caminhei com altivez assim que coloquei o manto sob meus ombros. Ele era de um vermelho vivo, minhas luvas brancas completavam a minha vestimenta. Usava as queridas cores da bandeira de meu país. Os franceses que entendessem o que quisessem. Caminhei pelo corredor e encontrei mama vestindo um espetacular vestido azul-anil. Não era desrespeitoso porém não era uma concessão, seu manto verde-escuro indicava isso. Papa estava com seu traje de gala. Caminhamos juntos até a saída sudeste. De lá, subimos pelo palanque. Tudo o que eu via eram flores e mais flores, prata e tons pastel. Enjoativo! Henrico subiu as escadas até o palanque central. A partir daquele ponto, não processei mais nada. Imitava meus pais, minha face estava livre de emoções e eu era uma verdadeira estátua, mas quando meu irmão quebrou o protocolo e declarou seus mais profundos sentimentos à Collete e ela repetiu o mesmo ato, surgiu um sorriso espontâneo. Não consegui conter-me diante do amor dos dois. A cerimônia passou diante dos meus olhos e, assim que cumpri meus deveres, pedi a papa para me deixar voltar naquela noite para Itália, de navio. Após longas horas, voltei ao meu país com um batalhão de guardas. Somente o oceano era capaz de consolar-me.


– Está na hora de deixar o convés, . – Despertei com a voz de Vincent, me alertando.
Avistei ao longe um conjunto de nuvens. Sorri. Era algo que aterrorizaria Margareth, mas me animava de uma forma. Papa nunca me deixara tomar o controle de um navio durante uma tempestade. Vincent continuava a falar, mas eu estava concentrada na tempestade que se aproximava.
– Se tranque em sua cabine, as coisas por aqui vão ficar difíceis. Console Margareth, eu sei que vocês estão cortejando um ao outro. Não sou cega, Vincent, suas expectativas em mim estão frustradas. Você é meu melhor amigo após meu irmão e, no exato momento em que trocou olhares com a maledetta, suas chances de se tornar meu noivo caíram por terra. – Disse da forma mais sincera e, de certa forma, carinhosa.
Ele era especial, mas não poderia aceitar alguém que se envolvesse com uma pessoa que me detestava de forma gratuita.
Corri até a cabine do capitão. Ele me olhou, curioso. Sorri graciosa, me aproximei do mapa e entendi o vinco entre suas sobrancelhas. Estávamos nos aproximando de uma área perigosa, formações rochosas que poderiam estraçalhar o navio.
– Uma tempestade se aproxima, capitão. Estou pronta para assumir o leme. – Disse com autoconfiança.
– Majestade, dessa vez, não posso entregar o controle. Isso aqui... – Ele apontou para as escarpas rochosas. – Naufragou muitos lobos do mar, meu conselho é que fique em sua cabine e torça para que saiamos dessa. – Ele saiu, me deixando sozinha.
Aproximei-me do mapa e fiquei analisando. Ao fim, ele era mais um gravado em minha mente, o mar ártico, o índico que banhava as índias e o pacífico. Estávamos no atlântico, o tão inconfundível e inesperado oceano.
Quando senti o navio balançar mais que o normal, tive a certeza de que a tempestade havia nos alcançado, as ondas batiam com mais violência contra o casco. Aproximei-me da janela, o céu estava completamente escuro e era iluminado vez ou outra por relâmpagos. Realmente, não estava preparada para conduzir diante da fúria da natureza; As ondas eram violentas, furiosas. Embora o cenário realmente não parecesse o mais promissor, sentia que sairia ilesa daquilo mas, conforme a tempestade ficava mais intensa, percebi uma coisa diferente no ar, como se algo não estivesse certo. No entanto, não tive tempo, pois senti o navio tombar para um lado. Não era um bom sinal! Abri a porta da cabine e vi o convés sendo invadido pelas ondas, marujos indo de um lado para o outro apressados e o capitão... Ele estava desacordado! Peguei minha adaga e cortei a barra do vestido, estava com calça de couro devido a estação e o destino que estávamos seguindo já estava quase no inverno. Retirei minhas sapatilhas inúteis e deslizei pelo convés, desviando dos homens que trabalhavam com afinco. Segurei firme nas escadas e subi, tentando não despencar com o sacolejar do navio. Assim que alcancei o convés superior, um par de braços me empurraram contra o mastro. Olhei irritada para a figura masculina. Vincent me olhava furioso, embora seus olhos também expressassem preocupação. Suas vestes estavam encharcadas e, embora não fosse o melhor momento, acabei prestando atenção no contorno que as roupas molhadas exibiam, os músculos rígidos sobre a ponta de meus dedos e sua respiração entrecortada contra meus lábios cerrados.
– Você não devia estar aqui! – Vincent disse com a voz entre a irritação e preocupação.
– Depois dele... – Apontei para o capitão desacordado. – Sou a melhor escolha para escaparmos com vida dessa situação. – Segurei suas mãos e ergui minha face, fixando meu olhar nas orbes cinzentas.
Eu o admirava, mas nunca o veria como ele me via. Possuía responsabilidades a cumprir e ele estava se envolvendo com a mulher que mais me odiava.
Vincent olhou para o capitão e para um guarda tentando manter o navio estável. Suas mãos subiram para minha face com delicadeza, o vento chicoteava meus cabelos e, por um momento, não me importei pelo o que veria, sentia como se estivesse pondo um ponto final na minha história e que, após aquela noite, nada seria mais como era em minha vida. Sem se demorar, ele juntou seus lábios aos meus. Sua boca era macia mas não parecia certo. Não que houvesse algo de errado com seu beijo, ele sabia como agradar uma dama. Eu o afastei e segui com passos firmes até o leme, segurei e dei um olhar para o guarda se afastar. Enquanto lembrava das cartas de navegação, olhei para frente e, com certa dificuldade, consegui enxergar a sombra do início das escarpas. Respirei fundo e girei o leme. Contei mentalmente o tempo que levou para aparecer a primeira e quanto tempo levou para iluminá-la. Com certa urgência, virei o navio a estibordo, vendo alguns guardas e marujos caírem, pegos de surpresa. O navio raspou levemente na escarpa enquanto seguia adiante, mas não houveram danos, o que me deixou aliviada. O que você pensaria agora de mim mama? Sorri enquanto manuseava com cuidado o navio entre o perigoso labirinto. Em minha mente, passava as melhores lembranças mas, principalmente, o sorriso de meu irmão ao se casar com Collete. Ele seria um ótimo rei e tinha a plena certeza de que o povo francês o amaria tanto quanto sua rainha. Sem me deixar abalar, virei o navio a bombordo, percorrendo agora o círculo que, no mapa, parecia uma boca repleta de dentes. Kraken, concluí enquanto sentia meu cabelo chicotear minha face. O vento não dava trégua, a chuva parecia pequenas agulhas a perfurar minha pele. Conseguia ouvir gritos vindo do convés inferior, algo como Dickinson. Grand Dickinson! O lendário navio de um dos maiores capitães que já existira. Com pesar, encarei por alguns milésimos a figura do que um dia fora um esplêndido navio. Por alguns segundos, senti meus pés escorregarem, quase me fazendo perder o equilíbrio, mas senti mãos fortes me darem sustentação. Não precisava olhar para cima para saber quem era.
– Vamos fazer isso juntos, mia cara. – Vincent envolveu um de seus braços em minha cintura enquanto sua mão segurava a minha no leme.
Grazie, mi amico. – Disse, embora duvidasse de que ele teria escutado.
Lembrei que estávamos quase no fim do labirinto, faltavam duas fileiras finais. O relâmpago iluminou muito mais que elas, haviam inúmeros navios, vítimas do labirinto. Respirei fundo e, com uma confiança renovada, consegui ir eliminando um a um os perigos. Em algumas, o navio passava a milímetros de distância. Em outras, éramos pegos de surpresa com as ondas que insistiam em balançar o casco. Ao fim, havia uma fissura. Era como se enxergasse uma luz entre as duas escarpas. As duas estavam muito perto uma da outra, parecia que seria impossível atravessar. Vincent tentou me impedir, mas me mantive firme em lançar o navio a estibordo. Parecia que ela estava mais perto mas, se eu não estivesse enganada, possuía uma cavidade que permitiria passar com folga. Quando, enfim, passei por entre as fendas, um sorriso iluminou minha face. Havia uma alegria surgindo e eu não poderia estar mais satisfeita. Estava viva! Havia conseguido navegar sem restrições! Sozinha! Mama iria enlouquecer e papa riria da situação. Gargalhei feliz, mas então comecei a reparar que algo não estava certo. Reparei que Vincent não estava mais atrás de mim. Olhei para o horizonte, enxergando construções estranhas. A tempestade havia cessado e não havia ninguém no convés! Olhei para trás e não vi o labirinto que acabara de passar. Havia algo luminoso brilhando logo à frente. A minha roupa ainda permanecia molhada, o vento frio não ajudava a minha situação. Pela primeira vez, não sabia onde estava e sentia-me sozinha. O oceano parecia reconfortante, mas a paz que ele me trazia não era o suficiente naquele momento. Segui as luzes estranhas receosa, mas era incapaz de permanecer parada. Como sucessora da coroa e com responsabilidades que teria que assumir, não pensei duas vezes em seguir em frente.

Capítulo 2

– Embarcação desconhecida, desligue os motores. – Ouvi algo estrondoso
Eu me virei e encontrei algo que podia ser muita coisa, mas não parecia ser um navio. Permaneci com uma posição altiva. Quem eles pensavam que eram? Com indiferença, permaneci no mesmo local. O sotaque dele indicava que eram irlandeses. Esperei pacientemente enquanto aquela coisa se aproximava de forma assustadora. Postura rígida e fardas indicavam que pertenciam à guarda, ou assim eu pensava.

– Nome?
, filha do rei Martino Gianluca e rainha Graziela Donatella . – Repeti a mesma sentença, estava sentada sobre uma cadeira de metal. – Por mio san Genaro. Por qual motivo mentiria à respeito da minha família? – Disse cansada.
Fui tirada do navio à força, me levaram a bordo daquela monstruosidade – embora estivesse curiosa sobre tal embarcação, fiquei em silêncio após me acusarem de louca. Havia acabado de enfrentar uma tempestade e um labirinto que poderia ter ceifado a minha vida! Olhei em volta, tudo o que via era um conjunto de cinza. Metal, ótimo, iria ser presa por estar dizendo a verdade!
– Acontece que, princesa...– O troglodita deu ênfase no título. – Isso é impossível. Estamos numa era em que poucos países ainda possuem monarquias.
– Era? Estamos no ano 1700, era do valoroso rei Martino. – Eu o respondi imediatamente.
Parecia mentira o que ouvia. Não era possível estar louca ou tão próxima daquilo. Até a noite anterior, estava no meio da travessia para o país de Gales e, então, estava em um cômodo muitíssimo estranho.
Ao ouvir um som de gargalhada, senti meu sangue efervescer. O maledetto estava rindo de mim. Seus cabelos indicavam claramente quem eram seus antepassados. Conforme sua risada se elevava, minha raiva também se engrandecia.
– Você deve ser uma ótima atriz mas, agora, quero que você seja bem clara. Não estou para brincadeira, princesinha. Navegar sem permissão próximo ao posto da marinha é considerado suspeito. – Ele disse.
– Não estou entendo, mio caro signore. – Eu o respondi com frieza, ser acusada sem ter feito qualquer coisa havia ferido o meu ego.
– Não estou com paciência para seus joguinhos. – Ele me respondeu com certa desconfiança, seus olhos analisavam-me por inteiro.

Horas antes....

Esperei pacientemente enquanto aquela abominação se aproximava rapidamente. Assim que ela parou ao lado do navio, senti um frio percorrer minha espinha, e não tinha ligação alguma com as vestes molhadas. Homens uniformizados pularam para o navio, comentando sobre quão antiga era a embarcação. Eles estavam falando em irlandês, estranhei. Pelas cartas náuticas, estávamos muito longe da Irlanda. Eles analisaram minhas roupas e sussurraram entre si. Estranhei eles também. Por que homens da guarda real usavam vestes tão inferiores?!
Signores? Posso compreendê-los perfeitamente. Recebi instruções com a dama de companhia de Lady Anabeth. – Eu os indaguei.
Eles me olharam entre a surpresa e desconfiança.
– Por gentileza, sua identificação e autorização. – O que parecia ser o líder se aproximou, sua postura indicava que ele sabia a minha resposta.
Ele não havia se identificado em nenhum momento.
– Não entendi o que deseja. – Eu o respondi, realmente confusa sobre o que ele estava pedindo mas não sobre a intenção dele.
Seus olhos vaguearam sobre a minha figura. Nesse momento, entendi o quão deplorável a minha aparência estava. Roupas grudadas e molhadas, cabelos ensopados e desgrenhados, vestido rasgado. Por que isso estava acontecendo?! Eu me senti exposta e fraca, a primeira vez que sentia aquilo. Estava sozinha diante de três trogloditas que não estavam acreditando em minhas palavras, não havia meios pelos quais conseguiria escapar deles. Respirei fundo, tentando controlar o pânico crescente. O desconhecido, sem pedir qualquer autorização, puxou meus braços para trás colocando algo metálico em meus pulsos sem qualquer delicadeza, empurrando-me à sua frente.
– Quem pensas que és? – Virei furiosa.
Mesmo que meus pulsos estivessem atados, não me importei de enfrentá-lo. O fato dele agir sem qualquer educação provocou em mim o sentimento de revolta e repúdio de imediato.
– Almirante de esquadra a serviço da força de defesa da Irlanda. – Seu tom passou a ser arrogante e inflexível.
– Almirante? Esquadra? – Eu me perguntei, sem me dar conta que havia dito as palavras em voz alta.
Eram desconhecidas e haviam me deixado um tanto perturbada. Embora conseguisse compreender o que ele falava, as palavras eram desconhecidas.
Sem qualquer outra palavra, ele me carregou à força para dentro da monstruosidade que atracara ao lado do navio que conduzia havia poucas horas. Enquanto era levada a força pelo convés, que era feito todo em materiais que nunca havia visto, com pessoas circulando de um lado para o outro com a mesma veste que o gentil cavalheiro, todos os olhares que me lançavam estavam entre espanto e desgosto. Após caminhar por um labirinto, cercada por paredes de metal, fui forçada a me sentar sobre uma cadeira de metal. Ao me recostar sobre ela ,senti de fato um frio nunca sentido antes tomar-me por inteira. O olhar invasivo do troglodita não deixava-me nem um segundo, ele me observava como se eu fosse um animal em exposição. Suas orbes buscavam informações que não poderia lhe dar por simplesmente não entender o objetivo final.
– Seu nome? – Proferiu sem qualquer resquício de paciência ou simpatia.
– Diante das ações que tomara, signore, achas que merece saber o meu nome? – Eu o respondi no mesmo tom. – Sequer revelara o seu. Afinal, que motivos terei eu para dar qualquer resposta a um estranho?
– Escute bem as próximas palavras que lhe direi. Me ouça com atenção. – Ele levantou-se e parou ao meu lado, inclinando-se em minha direção. – Não sou um homem paciente e muito menos gentil, você está numa posição em que não se pode exigir nada. Portanto, ou me responde o que lhe perguntar ou as coisas ficarão desagradáveis para o seu lado. – Sua voz estava fria, sua face indiferente, mas seus olhos eram incapazes de refletir sua real emoção, e era irritação completa o que ele sentia.
Sorri delicadamente para ele antes de me levantar com certa dificuldade devido ao frio que sentia. Meus olhos transbordavam raiva mas, em meus lábios, permanecia o delicado e amável sorriso. Ergui minha cabeça de modo altivo e ajeitei minha postura. Não iria admitir tamanha afronta. Olhei diretamente para ele, sem qualquer traço de medo. Ele também endireitou a postura, mostrando superioridade. Contive a vontade de rolar os olhos.
– Achas que tomar atitudes grotescas iram me assustar? – Disse calmamente, sem demonstrar o repúdio que sentia. – Enfrentei, há algumas horas, uma tormenta, e estou em um lugar que não tenho ideia do qual seja, portanto achas mesmo, signore, que irá me assustar com um monólogo insólito, agressivo e desrespeitoso?
Seus olhos faiscaram enquanto seus punhos cerraram. Sem pestanejar, ele parou a poucos metros de mim.
– Sabe que suas sentenças igualam-se a de uma louca. – Ao terminar de falar, ele sorriu de forma irônica, provocando-me.
– Não me assustas ou me ofendes. – Disse calmamente. – Poderás passar o dia aqui e não lhe darei qualquer detalhe que desejas até que comece a agir de forma respeitosa.
Ao ouvir minha sentença ele não se controlou e teve que se afastar. Sua respiração parecia alterada, mas não iria ceder diante um desconhecido. Estava só e não possuía aliados ali, precisava me defender.
. – Ele respondeu a contragosto. – É tudo o que terá. – Finalizou, inflexível.
– Princesa . Filha de rei Martino Gianluca e rainha Graziela Donatella . – Respondi a sua pergunta inicial, as ligas de metal que atavam meus pulsos começavam a me incomodar.
– Não acredito em uma única palavra. – Almirante respondeu-me sem qualquer traço de mentira.
Fechei os olhos por alguns minutos, precisava me acalmar. Ele não acreditava em minhas palavras e eu não colocaria as palavras dele como verdadeiras. Ao abrir meus olhos, eu o vi verificar algo inédito, diferente e um tanto curioso, possuía o formato retangular e de espessura fina. O aspecto era muito diferente de qualquer coisa que tinha visto em toda minha vida e não poderia comparar a qualquer objeto de igual semelhança porque não o havia.
– Poderia retirar essa coisa do meu pulso? – Indaguei após o período de silêncio que se seguiu após ele identificar meu olhar curioso sobre o objeto que estava em suas mãos.
– Até que se prove seus reais objetivos, o protocolo é de que permaneça com isso. – Ele respondeu sem pestanejar.
– Achas mesmo que sou uma ameaça? – Eu o indaguei com um toque de sarcasmo em minha voz.
– Suas palavras são as mesmas de uma louca. – Justificou-se, sem se dar o trabalho de explicar.
– Me tens como louca? – A afirmação dele havia me causado certo enojo à figura dele.
– Eu não acredito que estou perdendo meu tempo com uma louca. – Ele reafirmou sua opinião ao meu respeito. – Nome?

– Jogos? Achas que estou me divertindo? – Indaguei ofendida.
– Não se trata de diversão, ! – Ele respondeu, irritado.
Mio caro signore, se não fores claro e explicar-me, não o entenderei. – Eu o respondi em igual tom.
Estava cansada e tudo o que mais desejava era estar junto a meus pais.
– Quem é você? – Ele repetiu a sentença.
– Já lhe respondi, embora o signore insista em contradizer minhas respostas. – Expliquei, cansada.
Eu me sentei e o encarei sem qualquer fingimento.
– O que me diz é irracional, impossível e completamente impertinente. – Seu tom era acusatório.
– Já imaginou, mio caro, que, esta manhã, estava naquele navio, tomando meu desjejum ao lado do general Vincent Went e ao lado do Capitão Harrisson, seguindo para o palácio de Bering Ferrys no país de Gales, tendo de atravessar mares para chegar, enfim, ao meu destino? Estou há dias no mar, iria assumir o trono em um ano, governaria uma nação, mas entende que estou aqui, em um lugar desconhecido, numa monstruosidade que jamais vi em toda a minha vida, com as vestes encharcadas e tendo de lidar com um troglodita, intragável, inflexível, arrogante e sem qualquer etiqueta? – Todas as palavras que o direcionava, eu as fazia sair de meus lábios como lâminas.
Queria mostrar que não estava louca, queria que ele enxergasse que estava falando a verdade. Estava farta da dúvida e acusação. Não eram provas o suficiente o navio e minhas vestes? Será que tudo o que falasse seria deturpado pela mente vil de tal homem? Quando terminei de falar, enxerguei o quão cego eram os homens daquela época. Se estivesse falando a verdade e estivéssemos no ano 2019, teria perdido tudo o que amava. Ao me dar conta disto, senti faltar-me o ar. Cambaleante, dei alguns passos para trás antes de desmaiar.

Despertei em uma superfície macia e com vestes estranhas, mas quentes e confortáveis. Não saberia dizer de que material eram compostas, mas a sensação delas cobrindo minha pele me trazia conforto. Observei o ambiente em que havia despertado, era completamente diferente de onde estava discutindo com o . Parecia ser um quarto, embora possuísse objetos diferentes e estranhos. No entanto, assim que me dei conta do motivo que fizera eu perder o fôlego, meus olhos marejarem e um nó se formar minha garganta, abracei minhas pernas, enquanto fechava os olhos, sentindo as lágrimas escorrem por minha face. O que seria de mim sem mama e papa? O que faria sem que pudesse visitar meu irmão em Paris? Mesmo que não gostasse de lá, era por meu irmão que iria à França. Como poderia seguir adiante sem cumprir meus compromissos para com o meu povo? Mas era a falta da minha família que me corroía. Deixei toda lágrima cair e todo soluço sair ao ponto de não me importar verdadeiramente como aparentava estar. A dor em meu peito era real demais para acreditar que estava em um pesadelo do qual não conseguia despertar. A realidade era dura demais, não conseguia suportar o impacto que causara. Reinos surgiram e desapareceram antes que eu pudesse vivenciar o surgimento deles. Agarrei-me firmemente às minhas pernas, buscando conforto em mim mesma. Estava focada em minha situação a tal ponto que não me dei conta de alguém havia adentrado o cômodo. Somente me dei conta quando senti uma mão sobre meus ombros. Ergui minha face, encontrando uma mulher confusa mas comovida com minha dor. Sem pronunciar qualquer palavra, ela me abraçou forte. Estava sem entender mas ainda sentindo o mundo que conhecia desmoronar. Não me lembro em que momento, mas acabei adormecendo enquanto era embalada por uma canção que a desconhecida cantarolava em tom suave.

– O senhor não deveria ter sido tão duro com ela, Almirante.
Uma voz feminina sussurrou em um tom repreensivo.
– Não se deixe enganar por emoções fajutas, tenente!
Havia despertado com a voz de , permaneci da mesma forma para identificar em que rumo seguiria a conversa. Pelo tom de voz de , dificilmente seria algo agradável para mim mas, ao que parecia, havia conseguido convencer alguém que nem ao menos sabia quem era. Como poderia ser tão cético?!
– Ela estava prestes a entrar em colapso quando a encontrei desperta, Almirante. – Novamente, a voz feminina o repreendeu.
Não poderia negar, meu estado quando ela chegara realmente estava caminhando para este fim, o colapso. Não sabia qual poderia ter sido o final caso ela não houvesse entrado.
– Vamos colocar como se fosse verdade o que ela dissera. Como ela simplesmente surgiu em nosso século? – A incredulidade estava presente na voz de , expondo que ele não considerava a possibilidade.
– Está se ouvindo, ? – Ela pronunciou com advertência. – Nem ao menos considerou a possibilidade. Eu entendo perfeitamente que é absurda a ideia de aceitar o que houve, mas essa menina está muito mais abalada que você. Entende que ela pode ter perdido tudo, família, amigos? O que ela conhece sequer existe mais!
Houve, então, silêncio, como se as palavras estivessem sendo digeridas, ou pelo menos sendo aceitas aos poucos.
Eu realmente compreendia o quão absurdo tudo parecia. Eu sequer me imaginava fora da realidade na qual vivia. Mesmo com a mudança que ocorrera com a união de Henrico a Collete, não imaginava que, numa viagem, poderia chegar a um ano que jamais pensei existir.
Após o silêncio, houve então o som de alguém sair do recinto. Imaginei ser . Ao que parecia, o nome dele era mas, diante de tanto afeto e cuidado, levava-me a crer que poderia ser uma palavra de carinho destinada ao Almirante. Permanecendo imóvel, senti o colchão afundar levemente ao meu lado, isso indicava que alguém estava sentado. Sem que esperasse qualquer coisa, senti dedos gélidos em minha face, acariciando-a com cuidado. Senti vontade de abrir os olhos tamanha curiosidade, mas contive-me. Esperaria e, assim, descobriria o que aconteceria logo em seguida.
– A ideia é assustadora . Considerar isso é loucura! Como posso dizer aos meus subordinados que você não pertence à mesma realidade que a nossa? – pronunciou sem qualquer fingimento ou barreiras, sua sinceridade era límpida. – Quanto mais eu penso a respeito, tudo fica cada vez mais absurdo... – Sua voz perdeu-se por uns segundos, ele parecia estar relutando em falar algo. – Assim que avistei seu navio, tive certeza de que algo não estava certo. No entanto, ao pousar meus olhos sobre você0 entendi que não me importava. Se houvesse qualquer coisa que poderia ser feita para protegê-la, assim seria, mas tenho sido, como você mesmo diz, um troglodita. Será que conseguirá entender minhas palavras agora?
Em momento algum, ele interrompera seus movimentos. Não entendia como havia permitido ele permanecer afagando minha face após as palavras que ele dissera e como me tratara. No entanto, havia algo que me atraía nele, semelhante – até mesmo mais intenso – à forma como o oceano me atraía. Era inexplicável e sinuoso como aqueles sentimentos me preenchiam, desalinhando todo e qualquer pensamento racional. intrigava-me da mesma forma que me desconcertava. Abri vagarosamente meus olhos diante da última pergunta que fizera como se esperasse uma resposta provinda de meus lábios, o que quer ela fosse. Pensei que, após abrir meus olhos, ele interromperia seu toque, mas ele permaneceu com sua mão em minha face. Seus olhos estavam atentos, esperando algo. Não sabia o que ele esperava mas, ao menos, poderia tentar responder seu questionamento.
– Se usares uma linguagem um pouco mais simplificada ou tentares elucidar o que disseres, conseguirei então compreendê-lo, signore. – Segurei sua mão e a coloquei ao lado de seu corpo para, então, sentar-me sobre o colchão.
– Exijo então que fale a verdade. Não mintas, pois tudo está caótico desde que você surgiu. – Respondeu-me com seriedade.
– Não possuía qualquer intenção de esconder-te a verdade. – Eu o respondi no mesmo tom, sem precisar elevar a voz.
– Como chegou aqui? Não estou falando da embarcação, é um grande mistério você simplesmente aparecer no meio do oceano. – Indagou-me, confuso.
– Direi exatamente o que aconteceu. Estava no convés quando avistei a tempestade. Desde que possuo entendimento, tenho apreço pelo oceano. Então não fora surpresa alguma para meus pais preferir realizar a viagem até o Palácio de Bering Ferrys pelo mar ao invés de seguir em uma carruagem. Então, durante esse trajeto, uma tempestade nos alcançou. No entanto, este não era o problema, mas sim o labirinto das escarpas que nos aguardava pela frente. O capitão não me permitiu pegar no leme, mas ele acabou sofrendo um incidente que o impediu de prosseguir guiando, então tive de assumir o posto dele e, quando completei o trajeto, estava em outra realidade, sozinha e sem saber onde estava. – Contei resumidamente o que ocorrera.
Minha mente só conseguia pensar no que houvera após completado o trajeto. Como Vincent lidara com o meu desaparecimento? Será que eles conseguiram realmente escapar? Se sim, com que embarcação? E mama e papa? Henrico?

Meus olhos ainda permaneciam fixos nas orbes que me olhavam em dúvida, embora dissesse a verdade. parecia realmente divido entre acreditar no que proferi ou não.
– Somente isso? – Indagou-me.
– Sim, nada mais a acrescentar. – Respondi.
– Vejo que me diz a verdade, somente é difícil acreditar. Isso foge ao que acredito, embora você seja a prova de sua história. Somente me dê um tempo para compreendê-la. – Pediu-me e, após dizer isto, levantou-se, mas então voltou a se sentar. – Eu estou confuso e não sei como poderá me entender mas, desde que não se submeteu ao meu rigor, não dobrou-se às duras palavras que lhe dirigi mas enfrentou-me de igual para igual e não disse nada além de verdades, um sentimento desconhecido tomou-me. Peço desculpas pelas minhas ações.
– Aceito suas desculpas. – Disse sinceramente.
Vejo, então, ele levantar-se, mas com um semblante diferente e, assim, deixou o recinto, deixando-me sozinha novamente. Encarei minhas mãos com um pequeno sofria em meus lábios. Ele não era tão troglodita como pensara!


Capítulo 3

Após a conversa com , não o vi mais por semanas. Tive autorização para andar por algumas áreas do navio, que acabei descobrindo ser igual à minha embarcação, só que possuía muitas melhorias. Era incrível como ele funcionava, como era indiferente se havia ou não ventos suficientes para levar a embarcação para seu destino, tudo devido aos motores que descobri serem as “rodas” do navio. Descobri que existia energia elétrica e que, para tomarem banhos, não precisavam ferverem água para terem um banho quente. Era incrível como existiam milhares de coisas que desconhecia. A cada nova descoberta, encantava-me. No entanto, estava ficando farta de estar proibida de estudar o que mais gostava: cartas náuticas. Descobri que era quem comandava aquela unidade e, por isso, fora tão rígido.
O preço que se paga ao ocupar lugares de destaque.
Fiquei próxima de Olívia, a desconhecida que me acalmara em um momento que pensei que desabaria. E era na cabine dela que estava após percorrer o convés com ela. Olívia me tratava como filha e ela era amável com todos. Ela me ensinava os costumes e linguagens daquela época e, quando o navio atracava, ela sempre me levava pelos melhores lugares, e ali me dava conta de como as vestes, os lugares e as pessoas haviam mudado. Estava tentando me adaptar à minha nova realidade, mas era inevitável pensar na minha família.
– Então você parou de falar com seu irmão porque ele se casaria com uma francesa? – Olívia perguntou-me, confusa.
– Não, estava chateada com ele por abdicar de algo que lhe era devido por direito para governar outra nação. – Respondi de bom humor. – E havia o fato de que, assim, ele deixou seu direito de sucessão e a coroa passou direto para mim. Teria de governar uma nação sem estar preparada. E também porque eu não teria mais a liberdade para navegar como desejava. Papai sempre dizia que, assim que Henrico assumisse o trono, eu poderia, então, viajar sem restrições, porque o foco recairia sobre meu irmão, me dando algum respaldo.
– Mas isso não era uma birra sua? – Olívia indagou-me.
– Birra? – Repeti sem entender.
– Capricho. Desejo frustrado, deixando de modo simplificado. – explicou e acabou nos surpreendendo.
Olívia riu mas não expressei qualquer emoção ao vê-lo. Fazia semanas que ele não se dava o trabalho de falar conosco. Por muitas vezes, eu o vi pelos corredores e até mesmo pela cidade. Estava indignada não com a ausência dele, mas a falta de resposta dele sobre como ficaria a minha situação. Afinal, não pertencia à marinha, não tinha habilidades e não havia motivos para me manter no navio. Não que odiasse estar ali, era somente o fato de não compreender o propósito de permanecer.

P.O.V

Estava de plantão, o oceano parecia tranquilo, o céu estava limpo, uma raridade para Newport. O céu, em sua maioria, permanecia encoberto, impossibilitando a visão das estrelas mas, naquela noite, ele se encontrava sem uma única nuvem. O manto negro repleto de estrelas era refletido pelas águas do atlântico. Estranhamente, elas estavam calmas. Segui para a cabine de comando e fui analisar os radares. Algo estava incomodando-me e não havia nada de errado mas, teimosamente, permaneci olhando a tela do monitor por minutos até que, como se tivesse surgido do nada, literalmente, dei as coordenadas para Luke verificar. Como o radar me mostrava, havia alguém navegando em uma área restrita. Inicialmente, senti raiva de quem ousara quebrar o protocolo e, então, se transformou em curiosidade pois o navio apareceu milagrosamente no radar. Gritei para Dickson e Gerd seguirem as coordenadas, nos levando diretamente para quem ousara quebrar o protocolo. Saí da sala de comando e segui até a proa enquanto o navio se aproximava da embarcação desconhecida. Meus olhos buscavam compreender o que via. Era uma cópia perfeita de um barco a velas, possuía detalhes riquíssimos e impressionantes, uma autêntica cópia.
– Almirante, veja isso. – Oficial James me passou seu binóculos.
Meus olhos custaram a acreditar no que via. Uma mulher estava conduzindo o leme. Sua aparência estava desordenada, suas roupas e cabelos estavam encharcados, ela parecia perdida. Observei-a se assustar com a ordem de Dick para que ela desligar o motor, mas seu atordoamento indicava que não havia entendido o que fora lhe pedido. O que estava me intrigando era seu assombro diante da aproximação do navio em que eu estava. Ela parecia buscar entender o que era e sua confusão evidente me deixava cada vez mais perturbado.
Quem era ela? De onde viera?
Devolvi o binóculos para James e me aproximei da amurada. A postura altiva e sua face indiferente elevavam meus sentidos. Minha desconfiança e confusão estavam me deixando agitado e, assim que o navio parou rente ao dela, não hesitei em saltar. Dick e Gerd seguiram-me, não havia me dado conta de que eles estavam ao meu lado até ela analisar um a um. Dick e Gerd comentaram sobre o navio e sua aparência, mas meus olhos recusavam-se a desviarem da figura feminina que trajava um vestido semelhante aos da era monárquica. No entanto, havia um detalhe que o diferenciava deles. A saia estava rasgada, dando vez a calças que aparentavam serem de couro. Era notável que ela estava incomodada com nossa presença. Dei ordens para eles permanecerem atentos. Acabei falando com eles em irlandês ao invés do habitual inglês, mas acabamos surpreendidos com a pronúncia perfeita da desconhecida. Seu modo de falar denunciava que algo ali estava errado. Tomei a dianteira e lhe pedi os documentos obrigatórios, mas a face dela demonstrou que não compreendia o que pedi, embora houvesse entendido o que proferi. Conforme ia prosseguindo com as ações, ela parecia ficar cada vez mais confusa. Sem qualquer resposta, resolvi colocar as algemas nela. Não era para elas estarem ali mas, após um “incidente” com Kiara em sua cabine, elas estavam no bolso da farda. A desconhecida ainda tivera audácia de questionar-me. Estava irritado e sem paciência para ataques. Sem qualquer gentileza, carreguei-a para o navio pela ponte que James providenciara e a levei até uma sala pouco usada. Iria a interrogar e estava determinado a tirar respostas dela mas, conforme as palavras saíram dos seus lábios, parecia cada vez mais que estava escutando loucuras. A aparência dela ia de encontro aos meus pensamentos, mas seus olhos demonstravam verdades. Havia lidado com todo tipo de criminosos – ladrões, rebeldes, terroristas –, mas ela não estava fingindo. Sua audácia e sua coragem em me enfrentar estavam despertando sentimentos ambíguos dentro de mim. Havia tentado assustá-la com uma ameaçada velada, mas serviu apenas para alimentar a coragem dela. Suas atitudes eram impulsivas, mas ela não demonstrava qualquer indício de loucura ou medo por estar confinada em uma sala sem ter um aliado. Sua postura indicava que pertencia a uma alta classe, e sua atitude não perdeu intensidade, mesmo quando agira de modo dócil para provocar-me. A discussão estava em um ponto que pareceu fazer com que ela dissesse coisas inconscientemente mas, após ela finalizar sua fala, pareceu dar-se conta a respeito do que proferira e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela desmaiou diante dos meus olhos.
Antes que atingisse o chão, consegui pegá-la. Sua face estava pálida e seu corpo estava frio. Temeroso, segui o mais rápido que pude para a enfermaria e deixei-a aos cuidados de Olívia. Era uma ótima médica e estava presente em todas operações que executamos.

Após sair da enfermaria dei ordens para que todos se apresentassem à sala de reunião. Deveria informar e conduzir a situação, embora não tivesse qualquer ideia do que falaria e o que faria.

Ao fim, consegui controlar a situação temporariamente, mas era o suficiente para conseguir pensar e planejar o que faria com mais clareza. Inventar uma mentira descabida junto a fatos havia sido minha melhor saída. No entanto, não conseguia parar meus pensamentos. Eles corriam em direção a uma pessoa. Conforme analisava, parecia que estava enlouquecendo e imaginava que, para – como ela se identificara –, estava sendo perturbador. Inquieto e desperto demais para adormecer, segui para o convés. Sentindo a brisa fria e o céu encoberto como companhias, pude respirar mais tranquilo. A questão era que fora criado inserido na realidade militar, a marinha sempre fora uma paixão que meu pai e eu compartilhávamos. Crescer em meio a isso e me tornar o que era fora um processo natural, e foi o que me sustentou por muito tempo após a morte de minha mãe. Meu pai e eu acabamos nos afastando devido a compromissos que nossos cargos exigiam mas, naquele momento, desejava contar ao meu velho o que estava acontecendo. Era algo grave e teria consequências catastróficas se não fossem tomadas medidas a respeito.

Passei a noite em claro, planejando e estabelecendo medidas que pudessem apaziguar a situação e que gerassem consequências com as quais pudesse lidar. Revisei e segui novamente para a minha sala, estava com meu uniforme desde que identifiquei que não conseguiria dormir. Era preciso agir, e fora isso que fiz durante as semanas que se seguiram, eliminando um a um obstáculos, somente restando um: . Antes de seguir para a minha sala após o fatídico dia, havia ido verificar a causadora da minha insônia, e vê-la desnudada de sua coragem me perturbou ao ponto de atrair-me como o ferro por um imã. A necessidade de tocá-la e contradizer Olívia pareciam torrentes corretas, mas é claro que estava me levando para um fim desprezível diante de tamanho impacto que me causava. Aquele início de manhã parecia ter sido algo fora daquele mundo. A veracidade em sua voz, sua face sincera e seu olhar intenso haviam atingido um ponto que estava alterando boa parte em mim. Tive de passar mais tempo do que desejava em ocupações desagradáveis para que, dessa forma, a distância de trouxesse minha sanidade de volta, mas tudo parecia piorar. Quanto mais tempo passava sem vê-la, mais possuía a sede de tê-la em meu campo de visão. Não poderia permitir que isso viesse tomar meus pensamentos e, por conta disto, acabava com Kiara em meus braços após horas preso em burocracia ou resolvendo conflitos de interesses e eliminando a loucura da presença da nova integrante à tripulação do Storm Sea.
O problema era que Kiara já não era suficiente para tirar da minha cabeça e, por vezes, me flagrava a observando enquanto tentava se adaptar. Particularmente, odiava a distância que impus, mas era preciso para não levantar qualquer comoção, só não esperava que não fosse o único atraído por ela. Boa parte dos oficiais e cadetes também haviam se rendido a ela sem que ela mesmo soubesse. passava os dias ao lado de Olívia e aprendia boa parte da vida moderna com ela, como já verificara mas, por Olívia ser a médica, sempre estava com um ou outro tripulante, o que levava a conhecê-los e até mesmo aproximar-se deles, levando-me a ter que tomar uma atitude. Se os rapazes se aproximassem demais dela, tudo que fizera teria sido inútil. Então providenciei roupas, uma história e documentos para que a estadia dela no navio parecesse correta, e tive de proibir áreas de acesso para que, assim, ficasse segura. Estava, então, observando Olívia e conversarem enquanto a mais nova contava sobre sua família para a mais velha. Contive um sorriso ao ouvir ela se justificar por sua atitude mesquinha. Assim que ouvi ela se questionar sobre uma palavra que não entendera, anunciei minha presença, respondendo sua pergunta. E claro, não deixando de notar o quão irritada ela estava.
– Vejo que está se adaptando bem à sua nova realidade. – Pronunciei após alguns instantes de silêncio.
– Não compreendo o objetivo de seu questionamento, signore. – me respondeu, direta.
Sorri levemente diante do que ela dissera. Sua visão aguçada sobre meus propósitos e suas dúvidas eram justificadas, e havia sentido falta de ouví-la confrontar-me.
– Senhorita , me siga. – Ordenei sem deixar abertura para questionamentos mas, assim que estava seguindo pelos corredores, ouvi o alarme do navio soar.
Havíamos sido convocados, então teria de deixar o que desejava para depois. Virei-me para as duas mulheres antes de falar.
– Mantenha ela longe do convés das áreas mistas, preciso que você... – Direcionei minha fala para . – Siga todas as instruções que Olívia lhe der, porque acabamos de ser convocados, isso significa que teremos de realizar algo muito sério. – Sem deixar espaço para questionamentos, saí do recinto a passos largos em direção a sala de operações.
E tamanha foi minha surpresa em ver meu pai no centro da sala. Seu olhar sério indicava que teríamos algo desagradável para frente.

Olívia vigiou-me em todos os momentos. Como não podia nem mesmo falar com outra pessoa, fiquei presa na minha cabine, tendo como passatempo alguns livros. Como não havia qualquer janela, sentia-me presa, enjaulada, mas não poderia contestar a ordem que me fora dada em um tom tão sério. Dia e noite, sentia o navio trafegar sobre as águas. Passava tanto tempo que, muitas vezes, tentava deduzir em qual direção ele seguia mas, sem qualquer conhecimento sobre as cartas náuticas ou verificar o horizonte, não tinha ideia e, como meu quarto ficava distante de qualquer maquinário e do resto da tripulação, havia um silêncio desconfortável em muitas horas do dia porque, por vezes, Olívia era chamada. Em um dia, não suportei encarar as paredes metálicas e saí caminhando pelo navio. Já era noite e, então, a movimentação da tripulação estava escassa. Assim que estava prestes a atingir o convés, senti ser puxada de forma brusca e levada em seguida para uma cabine na qual nunca havia estado. Assim que senti-me, livre identifiquei quem havia me arrastado até ali. Era Dickson. Havia trocado poucas palavras com ele, gravara seu nome após ouvir dizê-lo, e o fato dele ter feito parte da abordagem “amigável” na noite em que cheguei àquele século tornou impossível esquecer seu nome.
– O que a princesinha faz andando às escondidas pelo navio? – Sua voz estava baixa, mas havia algo a mais que não havia conseguido identificar.
– Por acaso, eu lhe devo qualquer informação? – Eu o respondi sem qualquer traço de medo.
não soube domá-la, então deverei eu fazer isso. – Seu tom revelava desgosto, mas seus olhos tinham um olhar sombrio e, conforme ele se aproximava, eu me afastava.
A sala se encontrava escura, mas meus instintos indicavam que deveria sair dali o mais rapidamente que pudesse.
Ele estava me observando como se eu fosse sua presa. Suas intenções ficaram expostas conforme ele me analisava lentamente, parando seus olhos em meu busto e boca. Uma sensação de enojo me tomou. Já ouvira falar dos abusos que ocorriam a damas indefesas e não desejava ser mais uma. Tentava encontrar uma forma de escapar, mas não havia qualquer saída com a qual poderia fugir, com exceção da porta que estava bloqueada pelo corpo robusto de Dickson.
– Saia da minha frente, maledetto! – Vociferei, deixando claro a repulsa que sentia por ele.
– Farei você implorar para que eu tire sua vida quando fizer com você o que tenho em mente. – Dickson disse em um tom sombrio e com um sorriso doentio em sua face.
E sem se demorar mais nenhum segundo, ele se lançou em minha direção. Antes que ele pudesse me tocar, fechei minha mão e a choquei contra o seu maxilar. Havia crescido cercada por guardas, mas papa me colocara para treinar junto a eles para me manter segura caso não houvesse quem pudesse me proteger. Dickson me olhou furioso antes de se jogar sobre mim, me prendendo contra parede. Sem pensar muito, dei uma cabeçada nele, o suficiente para atordoar-lhe e soltar meus braços. Bati com as palmas de minha mão em seus ouvidos, fazendo com que ele me desse abertura para dar-lhe um chute entre as pernas. Assim que ele curvou-se, ergui meu joelho, acertando seu nariz em cheio. Eu me afastei com rapidez e corri em direção à porta, mas ele puxou meu cabelo e jogou-me no chão sem qualquer delicadeza, prendendo minhas pernas. Meu coração estava disparado e o medo pelo o que poderia ocorrer me tomou.
– Admito que surpreendeu, mas não admito que rebeldes fiquem impunes. – Sem demorar-se, ele me deu um tapa, fazendo com que ficasse atordoada por alguns instantes, nos quais ele simplesmente pegou em minha camisa e a rasgou, levando sua boca ao meu pescoço.
Eu me remexi e tentei me soltar. Assim que ele forçou sua boca contra a minha, o mordi até sentir o gosto do sangue em minha boca. Ele se elevou, furioso. Assim que ele foi me dar um soco, desviei para o lado e usei o peso dele para jogá-lo para longe. Eu me levantei e cheguei até a porta, mas ele me puxou com força, jogando-me de encontro aos móveis da sala. Senti uma dor aguda irradiar pela minha cabeça e tronco, tornando o ato de respirar algo doloroso. Ele me ergueu do chão pelos meus cabelos, fazendo com que soltasse involuntariamente gritos de dor.
– Se não resistisse, poderia matá-la de forma rápida mas, agora, implorará por ajuda. – Em seguida, ele me jogou de encontro à parede, então começou a desferir chutes.
Eu me encolhi a fim de conseguir proteger-me. Mas então a porta fora aberta de forma brusca e a figura de adentrou. Em segundos, ele se jogou em direção a Dickson. Tudo o que conseguia ouvir eram os sons deles lutando um contra o outro. A dor me deixou lenta, conseguia acompanhar pouca coisa. Assustada com o que estava vivendo, não entendia como havia acabado naquele século. Perdi toda a minha família, quase fora violada e estava sentindo dores em todos o meu corpo. Fechei os olhos e contive o choro que quase irrompeu. Em um momento, tudo se silenciou e, logo em seguida, senti alguém me levantar.
Per piace, não faça isso. – Sussurrei com a voz fraca.
– Ele não fará nada com você. – me segurou com cuidado.
Ele me levou até o consultório de Olívia, ela nos olhou espantada. Ele me colocou delicadamente sobre a maca e beijou minha tez.
– Cuide dela, Olívia. – Ele disse antes de se virar e deixar-nos sozinhas.
– O que fizeram com você, querida?! – Ela sussurrou, atordoada.
Com delicadeza e suavidade, começou a me examinar, mas era impossível não me encolher diante os toques dela. Sentia meu corpo doer, a exposição me aterrorizava. Encolhi-me e, então, senti uma picada. Em seguida, senti uma dormência tomando meu corpo.

Acordei gritando e, em seguida, senti alguém me abraçando com delicadeza e afagando meus cabelos enquanto sussurrava palavras tranquilizantes. Chorei, sentindo dor e aterrorizada. Minha vida havia mudado completamente. O perfume de trazia conforto. Eu me agarrei a ele enquanto normalizava minha respiração.
– O que fiz para tudo isto estar acontecendo, ? – Sussurrei, voltando meu olhar para ele.
– Me chame de . – Ele sussurrou, beijando minha testa. – Eu não entendo o que ocorreu para você estar aqui. Pelo pouco tempo que estive do seu lado, tenho certeza de que não fizera nada para se julgar tanto.
Eu o abracei, sentindo-me completa. Pela primeira vez, sentia-me estar com a pessoa certa. Ele nos deitou e me fez deitar sob seu peito. Adormeci, pela primeira vez, em paz.

Despertei sentindo algumas dores, mas estava mais tranquila e, assim que me sentei, senti leves dores. Olívia! Sorri assim que a porta se abriu e a figura de surgiu. Ele segurava uma bandeja e, nela, estava o meu desjejum. Pela primeira vez em semanas me senti como princesa. A minha antiga vida parecia ter sido havia décadas, mas a imagem dele sorrindo e se sentando ao meu lado parecia dar sentido a não ter me apaixonado por ninguém. Eu havia me dado conta de que estava apaixonada por ele, estar perto dele me deixava alegre.
– Como está se sentindo? – Ele me perguntou após beijar minha testa em ato carinhoso.
– Bem, apesar dos pesares. – Disse com um meio sorriso.
Ele segurou delicadamente minha face, fazendo-me olhá-lo diretamente nos olhos.
– Dickson nunca mais a incomodará, querida. – Ele sussurrou antes de tocar seus lábios nos meus.
Toquei sua face enquanto me entregava ao beijo. Ao contrário da vez em que Vincent me beijara, sabia exatamente o que fazia e me deixava em êxtase. Ele estava cuidando de mim quando esteve distante, fazia então sentido.
“Quando o amor te encontrar, ele te marcará, como se escrevesse o nome em seu peito, marcando-a para sempre.”
Mama sempre tivera razão. Enxuguei uma lágrima enquanto comia tranquilamente nos braços da pessoa certa, . Sorri e o vi me olhar com curiosidade, mas se manteve quieto. Era um belo recomeço. Às vezes, era preciso uma tempestade para vir a calmaria.

3 anos depois....

Havia me adaptado à rotina rigorosa da marinha, havia passado por um treinamento para integrar o esquadrão de meu amor. Logo após o incidente com Dickson, nos envolvemos cada vez mais. Descobri as maiores dores dele e o ajudei quando o dia era difícil demais ou quando o pai dele abusava de seu posto. Eu o defendi, o acusei, o amei e me envolvi por completo com ele. Havíamos tatuado nossas iniciais junto a um conjunto de andorinhas. O nome dele estava gravado não somente em minha pele, mas em meu coração também. Quem diria que teria que sair de meu século para encontrá-lo em um completamente diferente do meu, onde monarquias eram ultrapassadas. Estava feliz e completa.

P.O.V

Estava sentado em meu escritório, olhando fixamente para a tatuagem em meu antebraço, as inicias de . Dentre todas as marcas em minha pele, aquela era a minha favorita. era diferente de todas as que havia conhecido. E pensar que, se não fosse ela ter aparecido na área da qual tomava conta, jamais poderia estar feliz. Ela era a primeira coisa que via ao acordar e a última antes de adormecer. Já testemunhei suas descobertas daquele século, o esforço que ela fizera para integrar o esquadrão, a audácia em enfrentar meu pai. Havia tantas pequenas partes dela que eram minhas favoritas, quando ela agia indiferente a mim com seus ataques de ciúmes, mas ela respeitava meu trabalho, me dava forças quando fraquejava. Não havia alguém mais perfeita para ser a minha esposa do que ela. Peguei a caixinha de veludo da gaveta e liguei para fazer uma reserva em nosso restaurante favorito. Após confirmar a reserva, liguei para Olívia sair com para que pudesse arrumar a surpresa.

Estava em casa, a casa de , distraída enquanto era preenchida por lembranças, caminhando com o retrato de nós dois. Era impressionante como existia uma máquina gravava imagens, momentos, em um papel. Não cansava de me surpreender com tanta novidade. Estava distraída, perdida em meus pensamentos, quando senti que Olívia me abraçou. Soltei um grito, surpresa, mas logo a abracei. Ela havia se tornado minha melhor amiga e mãe. Cuidava de mim, me dava broncas quando brigava com , aconselhava-me, instruía-me. Lembro-me de quando anunciei que iria morar com ele. Claro que passávamos mais tempo em alto mar do que em terra firme mas, quando estávamos na Irlanda, não sabíamos o que fazer com tanto tempo, e sempre acabava que ficávamos em casa assistindo um filme juntos ou íamos a restaurantes.
– Estou pensando que faz muito tempo desde que saímos para fazer compras. – Ela comentou após tirar sua boina.
– Faz muito tempo mesmo. – Disse, relembrando de quando fiz compras pela primeira vez.
Fora divertido.
– Então, o que acha de irmos, após almoçar, no Macys e, em seguida, caminhar e olhar o que há de novo na moda? – Ela comentou, divertida.
– Parece ótimo! E depois dá para irmos buscar . Ele chega hoje da Alemanha. – Comentei, distraída.
– Nessa última missão, o pai dele separou vocês. – Ela comentou com amargor.
– Não me importo com o que ele faça. Já enfrentamos tempestades maiores que o pai dele. – Pisquei para ela antes de pegar meu sobretudo e a carteira.
Coloquei minha touca e seguimos para fora de casa. Ela entrou em seu carro. Na primeira vez em que vi um, pensei que teria dificuldades em me acostumar, mas brincava que era uma carruagem com motores. Olívia me contou que iria se casar na primavera com Otto, um simples pescador. Ela pensava em se aposentar já tinha algum tempo. Eu a abracei de lado. Passamos o dia entre refeições e roupas. Ela me faz provar várias roupas que escolheu após entrar no que declaramos como a última loja. Ri, entrando mais uma vez no provador após ela fazer uma cara de desgosto. Vesti a última peça da pilha, era um vestido de veludo, era azul petróleo, delineava perfeitamente minha silhueta. Não precisava de um corselete e aquilo era um dos fatos que me deixavam mais impressionada por conta de como as roupas se modificaram. Saí do provador e Olívia me olhou com um sorriso nos lábios.
– Está linda! Você não precisa nem tirá-lo! – Ela pagou o vestido e me entregou um sobretudo preto.
Para finalizar, mandou-me colocar saltos. Eu a olhei, estranhando sua real intenção assim que me deixou em frente ao restaurante que amava, assim como eu. Balancei a cabeça em negação antes de me despedir de Olívia e entrei no restaurante após confirmar a reserva e, sentado em uma mesa perto do oceano, estava o homem mais deslumbrante e amável de todos os tempos. Seus cabelos estavam perfeitamente alinhados, o deixando com um toque refinado, embora amasse o cabelo desgrenhado. Mas militar ou aquele, não me importava como ele estivesse. Contanto que ele estivesse ao meu lado, estaria feliz. trajava um terno preto, e aquela combinação destacava seus olhos. Seus lábios se curvaram em um sorriso brilhante, seus olhos me percorreram de cima a baixo. Nunca havia me sentido tão amada quanto diante o olhar dele.
– Meu amor. – se levantou e beijou primeiramente minha testa antes de tocar levemente seus lábios nos meus. – A cada vez que repouso meus olhos sobre ti, está mais linda.
– E eu me apaixono cada vez mais por ti, amore mio. – Sussurrei com carinho antes de sentar-me após ele puxar a cadeira para mim.
Jantamos num clima agradável, o confrontei quanto a Olívia e ele não negou. Rimos sobre como havíamos nos conhecido, desfrutamos da presença um do outro e, quando saímos do restaurante, ele nos levou até o porto. A neve caía em finos flocos, dando um ar mágico àquela noite. Ele parou em frente à sede e nos levou até o final de um jardim. Lá, entre uma pequena marina e um cais, estava a embarcação, a mesma na qual surgi ali.
– Estou vendo coisas? – Indaguei emocionada.
– Essa é uma parte importante de quem és e, portanto, não poderia destruir a única lembrança de seu passado... – disse, tomando minhas mãos e nos guiando em direção à embarcação.
Ao adentrarmos o navio, eu senti que não pertencia mais ao meu passado, mas sim ao presente em que vivia. Consegui suportar a falta da minha família. Havia criado novos laços e encontrado o amor.
– Sei que jamais poderei suprir a falta de sua família, mas prometo te fazer, todos os dias, a mulher mais feliz. Prometo fazer uma coisa por dia como prova de meu amor... – se abaixou, ajoelhando-se em minha frente. – , herdeira do saudoso reino da Itália, mas que reinará agora e sempre em meu coração, aceita se unir em matrimônio a mim?
Sorri e me abaixei, ficando na mesma altura que ele, meu sorriso era o mais verdadeiro que dera em toda a minha vida. Segurei suas mãos e beijei seus lábios antes de proferir a afirmação.
– Eu o amo e sei que meus pais ficariam felizes com como estou vivendo atualmente. Sei que tenho muitas falhas e você as suporta pacientemente em meus dias bons e, nos dias em que eu não me suporto, você reforça o quanto me ama. Não há qualquer outra resposta a não ser sim. – Eu o respondi, sentindo em seguida seus lábios nos meus
Ele nos levantou e, em seguida, me carregou até a cabine do capitão no convés superior. Os beijos se intensificaram após aceitar o pedido, peças de roupas foram deixadas no chão, uma após a outra, respirações descompassadas e, então, o clímax alcançado.

Despertei com um sorriso em meus lábios. No entanto, senti algo de errado. O colchão em que estava era mais macio do que aquele em que adormeci na noite anterior. Uma manta pesada cobria meu corpo. Abri os olhos em pânico e, ao observar o ambiente, me dei conta de que estava em um quarto gigantesco, semelhante ao que ficara no casamento de Collete. Eu me sentei na cama e percebi que estava com o vestido que Olívia comprara, mas o aperto em meu coração se intensificava. Saí da cama e saí pela porta daquele quarto desesperada, estava em um palácio. Precisava encontrar ! Tudo não podia ter passado de um sonho. Corri descalça pelos corredores. Não estava enganada! Estava no palácio em que Henrico se casara! Recostei-me contra uma das paredes, sentindo meus olhos marejarem. Queria gritar em revolta. Estava de volta ao meu século. Corri pelos corredores sem uma direção específica, a imagem de despertando sozinho naquele navio deixou-me atordoada. Quando me dei conta, estava no salão principal. Logo, senti braços me envolverem. Pelo perfume, era mama, e então tive a confirmação. Sem me conter, caí em prantos, desesperada.
– Querida, o que houve? – Papa se aproximou, o abracei ainda em lágrimas.
Mama, papa, eu...
Não consegui terminar a sentença. Henrico surgiu em meu campo de visão, me ergueu em seus braços e, sem falar uma palavra, carregou-me de volta ao quarto.
– Eu odeio esse lugar! – Falei em frangalhos.
– Você esteve desaparecida por anos, papa e mama quase enlouqueceram com isso. Encontraram-na na Inglaterra, deitada próxima a um farol. Onde esteve, ? – Henrico suplicou com tristeza transparecendo em sua voz.
Ao desaparecer daquela época, havia deixado um vazio, mas então eu estava vazia, com uma parte me faltando. Segurei as mãos de meu irmão.
– Agora eu entendo o porquê de ter deixado o trono. Agora eu entendo porque preferiu estar aqui. Se for por amor, não precisa de justificativas. – Disse ao meu irmão, o abraçando e, em seguida, mama e papa adentram o recinto. – Eu não tenho como explicar onde estive sem parecer que perdi minhas capacidades mentais, mas posso lhes dizer que estive bem, fui bem cuidada, conheci pessoas incríveis mas, nessa realidade, elas não existem. – Respirei fundo antes de continuar. – Mama, poderia me ajudar com algo?
Ela, então, se aproximou e encarou confusa o zíper de meu vestido. Ela não entendia o que era, assim como eu antes de descobrir as maravilhas e criações do século 21.
– Puxe para baixo. – Eu a instruí e, dessa forma, consegui desnudar meus ombros e clavícula.
.... – Meu pai iniciou, mas mama logo o silenciou com um olhar.
– Esse desenho gravado aqui... – Apontei para as andorinhas que eram separadas pelas iniciais de . – Fiz ao lado de . Nesse século, ele não existe, e não sei se o verei outra vez. era para mim como Collete é para Henrico... – Algumas lágrimas teimosas deslizavam por minha face. – No dia anterior, havia ficado noiva dele, papa... – Mostrei o anel que, assim como o vestido, viera à minha antiga realidade. – Mas hoje estou inconsolável, mama. Você o teria adorado!
Após desabar novamente em lágrimas, consegui contar detalhes sobre o que vivera e como fora parar em outro século. Eles confirmaram os detalhes com Vincent, que dissera que, ao atravessarmos o estreito, eu havia desaparecido e a tempestade havia cessado. Passamos meses na França antes de retornarmos à Itália. O meu país não parecia mais o meu lar, mas busquei me adaptar à minha realidade, embora jamais esqueceria , Almirante de esquadra, o amor da minha vida.


Fim.



Nota da autora: "Gostaria de agradecer a minha irmã que atura meus surtos, minhas neuras e falta de confiança, aos meus dois amigos que opinaram, me deram dicas e tiveram paciência para ler em uma noite tudo o que escrevia. E por fim quero agradecer a vocês leitores, sem vocês nós autores jamais estaríamos onde estamos. Não importa se você é um leitor fantasma ou participativo o principal é que somos gratos a vocês que nos incentivam a sempre melhorar e chegar a patamares que jamais imaginarmos alcançar. Obrigado a todos que lerem Write Your Name.


Notas:
As palavras estão todas em italiano, abaixo segue a tradução delas:
• Maledetto/maledetta: maldito, maldita.
• Sorella: irmã,
• Amico: amigo,
• Signore: senhor.
• Amore mio: meu amor.
• Mio caro: meu caro,
• Fratello: irmão,
• Bona seratta: boa noite.
• Per piace: por favor."

Outras Fanfics:
Oh My My : Ficstape Oh My My – One Republic.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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