FFOBS - 09. More, por Má

Finalizada em: 19/09/2019

Prólogo

O clima que pairava naquele cômodo era quase palpável. Ao longe, o soar de uma sirene era audível e só conseguia pensar que ela poderia estar indo para aquele apartamento, porque ele com certeza precisava de uma.
Sentado no sofá da sala, com apenas uma garrafa de vinho para lhe fazer companhia, ele soluçava a plenos pulmões, sentindo todo o peso que estava preso em seu coração. Sua cabeça doía e parecia pesar alguns quilos a mais, não que ele estivesse se importando, afinal seu cansaço mental era mais dolorido.
Apoiou seu rosto lavado pelas lágrimas em sua mão e se deixou chorar, querendo, mesmo que inocentemente, que toda aquela confusão de sentimentos ruins fosse empurrada para fora de seu corpo em forma de água.
Ouviu um barulho no final do corredor e se virou, desejando instantaneamente que não houvesse feito. saia do quarto puxando sua mala em direção à sala. Encarou e suspirou, deixando se perder um pouco naqueles olhos que tanto amava.
O coração dos dois doía inexplicavelmente e se apertavam cada vez mais. Eles estavam perdidos e longes um do outro. Mesmo que a alguns passos de distância, nunca estiveram tão distantes. Nenhum deles sabia explicar o que tinha acontecido, em que parte do caminho tudo isso aconteceu, mas não eram mais os mesmos.
- Eu vou indo. – disse, suspirando baixo.
O coração de se apertou ainda mais.
- Pra onde você vai? – Indagou com a voz completamente embargada.
- Pra casa do Harry, já até falei com ele. – Respirou fundo e se aproximou do loiro à sua frente.
O envolveu em um abraço apertado e sentiu os braços dele se apertarem em volta de si.
- Eu prometo que assim que a gente conseguir esfriar um pouco a cabeça nós vamos conversar. – Disse acariciando os cabelos do outro.
- A gente vai fazer isso dar certo. – murmurou, enterrando sua cabeça na curva do pescoço de .
- Vamos sim. – Respondeu e sorriu fraco. – Te prometo que seu pai não estava certo. – Apertou mais o abraço com volta dele e depositou um beijo demorado em sua testa.
Pegou sua mala e seguiu em direção à porta, dando uma última olhada para o loiro que tinha o rosto inchado, os olhos e a ponta do nariz vermelhos pelo choro. Respirou fundo e abriu, fechando a porta atrás de si. Seu coração quebrava a cada passo e com não era diferente, que se entregou mais uma vez ao choro quando se viu sozinho naquele apartamento. Uma casa cheia de tudo que sempre quiseram, mas ao mesmo tempo, vazia.


1

7 anos antes.
Instituto Saint Lucky, 7:15 AM.

A professora de literatura havia apenas começado a escrever na lousa, quando três batidas na porta a interromperam. Mrs. Potts, secretária do diretor, colocou sua cabeça para dentro e sorriu amarelo por estar interrompendo a aula.
- Desculpe a interrupção, mas o diretor está solicitando a presença de na sala dele. – Ela disse encarando a professora, que vasculhou a sala a procura do aluno solicitado.
Quando encontrou, sorriu para ele, assentindo.
se levantou, trocando um breve olhar com seu melhor amigo, Taehyung, e saiu pela porta, seguindo Mrs. Potts até a diretoria. Quando chegaram, ela se sentou novamente em seu olhar e apontou com a cabeça para a sala do diretor, para onde foi. Deu algumas batidas e abriu, encontrando-o a sua espera.
- , oi. Entre e feche a porta, por favor. – Disse sorrindo ao vê-lo.
Assim que se sentou na cadeira à frente de sua mesa, a porta foi aberta novamente e ele se virou.
Coturnos pretos, calça jeans preta rasgada, camiseta de uma banda de rock qualquer, jaqueta jeans por cima, um sorriso de matar e um olhar penetrante. Talvez estivesse se deparando com o próprio pecado e não soubesse?
- , finalmente resolveu se juntar a nós. – O diretor disse com um tom tedioso e se virou para ele, deixando de encarar o semideus que entrava pela porta.
- Desculpe o atraso, Brandon. – O garoto disse debochado e se jogou na cadeira vazia.
- Nas dependências da escola, por favor se refira a mim como Watson ou senhor, por favor. – Pediu e o moreno soltou uma risada debochada.
- Bom, deixe-me apresentá-lo ao nosso aluno exemplar, . – Apontou para o loiro, que sorriu fraco para .
O olhar do moreno esquadrinhou o garoto à sua frente, fazendo ele sentir um leve nervosismo florescendo na boca de seu estômago.
- . – Deu seu melhor sorriso. – O prazer é todo seu, mas pode ser nosso.
sentiu todo seu corpo esquentar. O garoto a sua frente era bonito demais e tinha acabado de lhe lançar uma cantada nada discreta, na frente do diretor. Ok, talvez ele fizesse isso com todos, mas o ego do loiro não deixava de ter sido amaciado.
- ! – O diretor ralhou o encarando sério. – Eu só aceitei lhe ajudar em respeito ao seu pai, mas se você soltar mais uma das suas gracinhas eu desisto de tudo agora.
- Tudo bem, desculpe. – O moreno levantou os braços como se rendesse e relaxou na cadeira.
- Bom, ignorando essas besteiras, vamos voltar ao começo. – Watson disse e se virou para . – Esse é , filho de um grande amigo meu e é por ele que estou lhe fazendo um grande favor. – Encarou , que ouvia tudo atentamente. – foi expulso das últimas três escolas que estudou, nenhuma outra instituição pública quer aceita-lo, então estou fazendo isso por meu amigo, estou acolhendo o garoto em nossa escola.
- E eu entro onde? – perguntou um pouco confuso e o diretor suspirou.
- Entre tantas confusões e expulsões, e por ter estudado em escolas públicas, o aprendizado dele está um pouco defasado. – Explicou. – Se eu só colocá-lo em uma sala, talvez não consiga acompanhar por essa fata no conteúdo, portanto é aí que você entra. – Sorriu. – Isso é um favor que estou lhe pedindo e você não tem a obrigação de aceitar, mas é o melhor aluno dessa escola e eu preciso perguntar se você aceita dar algumas aulas para ele e passar o conteúdo?
- Eu? – Perguntou um pouco chocado e viu o diretor assentir.
- Não há ninguém melhor do que você para isso. – Ele sorriu e encarou o garoto ao seu lado, que encarava um ponto qualquer na parede, parecendo completamente entediado.
- Tudo bem, eu aceito. – Respondeu voltando sua atenção para o diretor e sentiu o olhar do garoto ao seu lado queimar em seu rosto.
- Ótimo. Muito obrigado por isso. – O diretor disse e se virou para . – E você o trate com muito respeito e aproveite a oportunidade que está tendo.
- Claro. – Sorriu sem vontade e se levantou, sendo seguido pelo loiro.
Saíram da sala do diretor em silêncio, seguindo pelo corredor em direção às salas. Nenhum dos dois parecia ter muito interesse em falar algo. Quando parou em frente à sua sala, se virou, encarando o garoto.
- Sexta-feira, depois da aula, na biblioteca. – Disse e viu o moreno franzir a testa. – Pra gente começar a estudar.
- Ah sim, pode deixar. – Sorriu fraco. – Estarei lá.
- Não se atrase. – Alertou-o e recebeu um sorriso sacana em resposta. – Eu só estou fazendo isso por consideração ao diretor.
riu baixo, se aproximando ao loiro e abrindo seu melhor sorriso. Percebeu que o mesmo começou a se afastar e deu mais um passo em sua direção, encurralando-o na parede.
- Não se preocupe, eu estarei lá, bonitinho. – Piscou, deixando um beijo demorado no canto da boca do outro, que sentia suas pernas bambearem, e então saiu para achar sua sala.
sentiu seu rosto esquentar e, provavelmente, já estava vermelho feito um tomate. Respirou fundo, acalmando seu coração e olhou novamente pelo corredor, onde sumia por uma porta, bem no fim, e suspirou. Teria trabalho com ele.

Tempo atual.
Apartamento dos dois, 6:30 PM.


O corpo inteiro de doía, afinal, fazia anos que ele não tinha uma noite tão mal dormida quanto a anterior. Se mexendo o tempo todo, sem conseguir desligar seu cérebro, ele não descansou nada e por isso trabalhou igual um trapo. Quando o relógio apitou anunciando a chegada das 17h da tarde, ele suspirou, quase soltando um grito de felicidade. Finalmente poderia ir para casa descansar.
O elevador apitou, fazendo ele abrir os olhos e sair. Girou às chaves do apartamento e entrou, encontrando-o silencioso e escuro. Respirou fundo sentindo aquele incômodo no coração. Normalmente encontraria jogado no sofá ou na cozinha preparando algo para eles.
Mas não estava ali.
Balançou a cabeça, tentando espantar aqueles pensamentos, e pegou uma roupa confortável, seguindo para o banheiro. Tomou um banho quente e reconfortante, trocou sua roupa e entrou na cozinha procurando algo para comer. Encarou desanimado os armários e, mesmo que à contragosto, preparou um miojo.
Se sentou em frente à TV procurando algo para assistir e parou em um filme qualquer, dando toda sua atenção para ele. Ou pelo menos tentando dar, porque sua cabeça dava mil voltas e estava em qualquer lugar, menos ali.
Sua mente viajava entre o apartamento de Harry, localizado na quinta avenida, onde um certo moreno tatuado e lindo de morrer se encontrava.
.
Quem mais seria?
Ele havia passado o dia pensando nele e agora estava ali, com problemas para se concentrar no bendito filme porque, mais uma vez, o garoto estava lhe rondando os pensamentos.
bufou, irritado. Não gostava da sensação de ser tão apaixonado por alguém àquele ponto, mas definitivamente não era algo que ele tinha como escolher. E, mesmo assim, sabia que se pudesse escolher, com toda certeza escolheria se apaixonar por .
Desligou a TV, se rendendo ao fato de que não iria assistir nada ali e encarou seu celular encostado no braço do sofá. Suspirou derrotado desejando ter forças para resistir aquela ideia, mas era fraco demais e no segundo seguinte já estava discando o número de , torcendo desesperadamente para que ele atendesse.
Tamborilando nervosamente os dedos por sua perna, se viu encarando a televisão desligada, enquanto ouvia os toques da ligação em seu ouvido. Depois de uma eternidade – Na visão de -, os toques cessaram e a respiração de se fez presente na linha, fazendo perder a coragem.
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo. Não sabiam explicar como haviam chegado tão longe um do outro, quando até uma ligação parecia estranha demais. Era como se houvesse uma porta no meio deles ou como se, do dia para a noite, não falassem mais a mesma língua. respirou fundo e encarou o porta-retratos com uma foto deles que estava enfeitando estante à sua frente.
- ? – Chamou receoso e recebeu um murmuro em resposta. – Como foi seu dia?
- Normal. – Respondeu. – E o teu?
- Péssimo. – Suspirou. – Não dormi nada essa noite, revirei na cama o tempo todo e só fui pegar no sono quase na hora de levantar.
- Você tomou seu chá? – perguntou preocupado e sorriu.
- Não. – Respondeu. – Eu só sabia chorar, não tinha vontade de fazer mais nada.
- Você sabe que dorme melhor quando toma o seu chá... – suspirou e se ajeitou melhor no sofá, jogando o cobertor por cima de si.
- Eu durmo melhor porque tô com você, não por causa do chá. – Disse e a linha voltou a ficar em silêncio. suspirou, fechando os olhos e apoiando sua cabeça no batente da porta.
- Você já tá deitado? – Perguntou.
- Não, tô no sofá. – disse dando de ombros. – Estava tentando assistir um filme, mas não deu certo.
- Por que? – Indagou. – Não vai me dizer que você já quebrou a TV, ?
- Claro que não, seu idiota. – Disse, rindo. – Eu só não conseguia me concentrar. Minha mente ficava pensando em você o tempo todo.
- Por isso você me ligou? – Perguntou, mesmo que já soubesse a resposta.
- É.
- Não era pra gente estar se falando no começo. – disse, respirando fundo em seguida. – Eu te expliquei que era melhor pra nós mesmos se ficássemos afastados e sem contato nenhum.
- Mas eu sinto a sua falta, . – Disse triste, sentindo a vontade de chorar vindo à tona.
- Eu sei, eu também sinto sua falta. – Admitiu e suspirou. – Não estou acostumado a dormir sem você.
- Nem eu. – respondeu triste e se levantou, indo para o quarto. Se jogou na cama e se encolheu debaixo das cobertas. – Pronto, agora já estou deitado.
- Não vai tomar seu chá? – Ouviu perguntar e sorriu.
- Hoje não. – Suspirou. – Hoje você tá aqui comigo, mesmo que por telefone.
- Então fecha os olhos que eu fico com você até o sono vim. – Disse abaixando o tom de voz e fez o que ele pediu.
- ? – Chamou, depois de alguns minutos em silêncio.
- Hm?
- Eu te amo. – Bocejou e se entregou finalmente ao sono, com o celular ainda pendurado em sua orelha.
- Eu também te amo. – sussurrou e desligou a ligação.


7 anos antes.
Casa do , 5:47 PM.

- Hitler cometeu suicídio em 30 de abril de 1945 e foi substituído por Goebbels. – explicava detalhadamente a matéria de história para , que parecia estar no mundo da lua. – Então eles colocaram um vestido rosa no corpo de Hitler e ofereceram ele para os deuses egípcios.
- QUE? – perguntou confuso, encarando o garoto à sua frente. – Que porra é essa?
- Ah, nisso você está prestando atenção, né? – riu, fazendo o moreno rolar os olhos. – Você está mais distante que meu pai e olha que ele está no Brasil.
- Desculpa. – Pediu sincero e recebeu um sorriso como resposta.
- O que aconteceu pra te deixar assim? – Perguntou fechando o livro e virando seu corpo completamente para ele.
- Nada, só alguns problemas com a minha mãe. – deu de ombros, encarando . – Mas obrigado por se preocupar.
- Não precisa agradecer. – Sorriu. – Nós somos amigos, certo?
- Você quer ser meu amigo, ? – Encarou o garoto à sua frente.
- Se eu disser que quero você vai me zoar? – perguntou e viu o outro negar com a cabeça. – Então, sim, eu quero.
- Que bom, porque pra mim você já é meu amigo. – Sorriu e fez o mesmo. – Mesmo que a gente seja os dois amigos mais improváveis daquele colégio.
- Por que?
- Ué, olha pra gente, . – disse olhando para si e depois para ele. – Você é o filho do prefeito, tem notas perfeitas, não faz nada de errado, já eu sou todo perdido, preciso de tutoria pra acompanhar o conteúdo das aulas e só faço besteira.
- Eu não sou esse cara chato que você descreveu. – disse se sentindo um pouco ofendido. – “Filho do prefeito, notas perfeitas e não faz nada de errado”. – Repetiu a fala do moreno. – Eu não quero ser assim, .
- Isso não é ruim, . – O moreno disse. – É só o seu jeito e não há nada de errado com ele.
- Não, você não entende. – Riu fraco. – Eu não gosto de ser assim. Quero ser mais livre, deixar de me prender ao que vão pensar do ‘filho do prefeito’ e sim no que vão pensar de mim, . – Passou as mãos pelo cabelo. – Eu quero ser mais do que o filho do prefeito.
- Você é mais do que o filho do prefeito. – o encarou nos olhos. – Não se reduza a somente isso.
- Eu queria ser mais como você. – Sorriu. – Mais doido, mais despreocupado... Quero ter coragem de fazer o que eu quero, ao invés de ficar remoendo certas coisas dentro de mim.
- E o que você quer fazer? – Indagou, curioso. encarou o moreno, sentindo seu coração disparar e as mãos tamborilarem nervosas em sua cocha.
Reunindo uma coragem que ele não soube de onde tirou, se aproximou mais de , sentindo o frio na sua barriga se intensificar. Encarou-o nos olhos, procurando algum tipo de resistência, mas não encontrou. Então sorriu novamente e selou seus lábios nos dele.
Levou uma de suas mãos para a nuca do moreno, intensificando o beijo, e sorriu quando sentiu as mãos dele em sua cintura, o puxando para sentar em seu colo. Seu corpo inteiro foi tomado por uma euforia sem tamanho. Fazia 3 meses que estava dando aulas particulares para e desde as primeiras vezes que se viram sentia uma vontade enorme de beijá-lo.
- Poderia ter feito isso antes. – disse quando cortaram o beijo e sorriu ao ver esconder seu rosto na curvatura de seu pescoço. – Ei!
- Para, . – disse rindo, enquanto sentia as cosquinhas que eram feitas em sua barriga.
- Então olha pra mim! – Pediu e, mesmo envergonhado, ergueu seu olhar até encontrar-se com o dele. – Tão difícil assim me olhar?
- Não é isso! – disse rápido, querendo desfazer o mal-entendido. – É que eu nunca faço essas coi-
Não conseguiu terminar sua frase, pois foi interrompido pelos lábios de sendo selados juntos aos seus novamente. E de novo. E de novo. E de novo. E por muitas vezes seguidas naquela noite.


2

Instituto Saint Lucky, 6:45 AM.

não era acostumado com muitos olhares voltados para si. Já era seu 11° ano na mesma escola e já estava acostumado a passar despercebido pelos corredores, pelas festas e, principalmente, pelas aulas de educação física que tanto odiava. Por isso, naquela manhã de terça-feira, quando desceu de seu carro e seguiu para dentro do colégio, se assustou ao perceber o burburinho e os cochichos das pessoas ao seu redor. Algumas chegavam até a apontar, afinal, a noção passava longe para esses.
Viu as líderes de torcida o encarando e franziu o cenho. Que diabos estava acontecendo ali? Será que estava sujo? Tinha algo na sua cara? Sempre fora invisível e estava bem daquele jeito.
Ignorando todos aqueles olhares, caminhou até a biblioteca vasculhando o local com os olhos até encontrar Matthew, seu melhor e à sua espera.
- Alguém pode me explicar o que tá acontecendo? – pediu, se sentindo ainda mais confuso que antes.
- Vem comigo, anjo? – perguntou, esticando sua mão para o loiro, que não hesitou em entrelaçar seus dedos nos dele.
O moreno o puxou até o fundo da biblioteca, se enfiando no meio das prateleiras para que não fossem interrompidos. Seu coração tremia um pouco com medo da reação de . Desde que soube da fofoca que corria pelo colégio se sentiu incomodado e extremamente irritado. Não por si, é claro. Que falassem o quanto queriam dele, mas que deixassem de fora.
Sentou-se em uma prateleira baixa e vazia que achou e se encaixou no meio de suas pernas, passando os braços por seu pescoço, aproximando seus rostos e depositando um selinho em seus lábios.
Fazia dois meses que os dois estavam ‘juntos’. Quer dizer, juntos era uma palavra muito forte. Eles se beijavam muito pelos corredores escondidos daquela escola e ficavam de chamego na casa de , com a desculpa de que estavam estudando. Não saíam juntos e não eram vistos por ninguém além de seus dois melhores amigos. Por isso estava tão nervoso, o que não passou despercebido.
- Pode começar a falar, , o que tá acontecendo? – Perguntou assim que cortou o beijo. – Não me enrola, por favor.
- Não vou. – Sorriu e acariciou o rosto do loiro, fazendo este sorrir. – Eu não sei bem como tudo isso começou e quero que saiba que eu não tenho nada a ver com essa história.
- Que história?
- Você reparou que tem algo diferente, certo? – assentiu. – Tem um boato rolando pela escola...
- Isso o Matthew me disse, mas boato de que? E por que eu estou envolvido? – Perguntou já perdendo a paciência. – Fala, , que boato é esse?!
- Um boato sobre nós. – Respirou fundo. – Que nós dois estamos juntos.
- Como é que é? – Perguntou, nervoso. – Como assim? De onde surgiu isso?
- Eu não sei. – Colou sua testa na do garoto. – Eu só recebi diversas mensagens perguntando se era verdade que eu estava com você, que era o que todo mundo estava comentando. – Suspirou. – Eu não sei de onde tiraram isso e eu sinto muito. Sei que você não queria que soubessem disso. – Encarou suas mãos entrelaçadas. – Seja lá o que isso for.
respirou fundo sentindo o coração um pouco apertado. Não tinha nenhum problema que as pessoas soubessem que estava com , aliás, sua vontade era gritar para o mundo inteiro que aquele monumento de homem terminava as noites na sua cama. O único problema, e seu grande medo, era que aquela história chegasse em seu pai. Ai sim teria um problema enorme nas mãos.
Olhou no fundo dos olhos de percebendo que eles estavam carregados de preocupação e não tinham o brilho que tanto gostava. Passou o polegar por seu rosto, vendo-o fechar os olhos e sorriu, beijando seu nariz de botão.
- Se você não quiser mais me ver, eu vou entender. – disse, ainda de olhos fechados. – Eu sei que seu pai não pode saber.
- Para de falar besteiras, por favor. – Rolou os olhos e viu o outro o encarar confuso. Sorriu doce e beijou sua bochecha. – Meu pai nunca pôde saber da minha orientação sexual e você não é meu primeiro cara. – O moreno rolou os olhos, arrancando uma risada de . – A gente só precisa tomar mais cuidado.
- Você tem certeza? – Perguntou, com a preocupação transparecendo em sua voz, e viu o outro assentir.
entrelaçou suas pernas ao redor da cintura do moreno, que instantaneamente levou suas mãos para sua cintura, deixando um apertão forte por ali.
- Eu não tenho... – Beijou o maxilar de . – a menor intenção – Mordeu o lóbulo de sua orelha. – de acabar com isso. – Rebolou no colo do moreno, que suspirou baixo tentando conter um gemido.
Antes que pudessem aprofundar as coisas, o sinal da primeira aula soou estridente, fazendo bufar com raiva. lhe deu mais um selinho e desceu de seu colo, dando uma arrumada em sua roupa.
- Não é bom que nós sejamos vistos juntos se não for pra estudar. – O loiro disse, enquanto passava a mão por seu cabelo. – Então eu vou na frente, tá? – Viu o tatuado assentir e sorriu, baixando seu olhar para o meio das pernas dele. – Até porque você tem que cuidar disso aí, né? – Piscou e saiu rindo da cara de tacho de .
Apesar dos olhares grudados em si, as aulas foram tranquilas. No intervalo, assim que entrou no refeitório, teve que reprimir a vontade de sentar-se na mesma mesa que . Este, que comia sozinho, prendeu seus olhos no loiro e o seguiu com os olhos, mesmo que tentando – e falhando – por todo o local, até que ele pegasse sua comida e saísse dali com Matthew.
Sentiu o celular vibrar e o desbloqueou, encontrando uma mensagem de .

Bebê: Desculpa por não sentar com você. :(

Sorriu.
tinha algo que ele não conseguia explicar o que era, mas já vinha lhe enlouquecendo por dois meses.
O resto das aulas seguiu normal.
Assim que o sinal da saída soou pela escola, a multidão de alunos começou a se dirigir em direção ao portão principal e ele foi junto. Mas, antes que pudesse chegar na metade do caminho, encontrou com Mr. Potts, que lhe lançou um largo sorriso.
- , querido, o diretor pediu para perguntar se você tem um tempinho para conversar com ele. – Ela o encarou e ele respirou fundo.
- Agora? – Perguntou desanimado e ela assentiu. – Será que vai demorar?
- Não faço ideia, mas acredito que não. – Ela disse e ele deu de ombros, seguindo-a até a diretoria.
A secretária sentou-se em sua mesa e apontou com a cabeça para a sala do diretor, para onde foi sem questionar. Bateu duas vezes e escutou a voz do senhor Watson lhe dizendo para entrar. Se acomodou em uma das cadeiras à sua frente e o encarou, ansioso para saber o que era tão importante que tinha que lhe atrasar.
- , oi. – Sorriu. – Desculpe lhe atrasar, mas não tive tempo mais cedo e precisava conversar com você.
- Pode falar.
- Bem, sei que a vida pessoal de meus alunos não é responsabilidade minha, mas me sinto pessoalmente atrelado a esse caso. – Ele disse retirando os olhos e colocando-os em cima da mesa. – Chegou ao meu conhecimento um rumor de um suposto envolvimento romântico entre dois alunos dessa instituição, sendo eles você e o senhor . – encarou o diretor, incrédulo com o que tinha acabado de ouvir.
- Como é? – Perguntou.
- Como eu disse, um envolvimento não me diz respeito e o problema não é ser um rumor sobre um relacionamento homossexual, mas sim por eu ter lhe apresentado o e deixado bem claro o problema que ele é. – usou toda a sua força para reprimir a vontade absurda de rolar os olhos. – Você é o nosso aluno estrela, tem as melhores notas dessa escola, tem um futuro brilhante à sua frente, com certeza não estragaria tudo isso se envolvendo com um sem noção perdido como o . Você merece mais do que isso.
- Você tem razão. – disse e o sorriso do diretor se alargou.
- Eu sabia que era absurdo demais, mas eu precisava confirmar. – Ele disse aliviado.
- Você tem razão. – Repetiu. – Definitivamente não é da sua conta.
O diretor perdeu a cor no rosto. Com certeza não esperava uma resposta atravessada do seu aluno favorito.
- As pessoas falam muito, Sr. Watson, o senhor deveria estar acostumado com isso. – Sorriu falso. – Mas nada lhe dá o direito de se meter na minha vida desse jeito. Se eu estou ou deixo de estar envolvido com ele é um problema meu.
- Desculpe, , eu não quis me meter.
- Mas se meteu. – Respondeu, sério. – Era só isso?

Viu o diretor assentir e se levantou, saindo dali rapidamente, seguindo para seu carro sentindo a raiva lhe consumir. Era só o que faltava, o diretor da escola querendo se meter com quem ele estava ou deixava de estar.

Tempo atual.
Apartamento dos dois, 7:29 PM.


- Graças a Deus, chegamos. – disse, colocando as sacolas com compras em cima da mesa. – Nossa, mais um pouco e meus braços iam cair de tanto peso.
- Ninguém mandou você querer comprar tudo que vê pela frente, né? – Matthew o encarou rindo e ele rolou os olhos.
Pegou dois sacos de pipoca e jogou na direção do melhor amigo, rindo ao ver ele se atrapalhar e deixá-los cair.
- Faz a pipoca, eu vou escolhendo o filme pra gente ver. – Disse animado, saindo da cozinha em direção à sala.
- Folgado! – Ouviu Foster gritar e riu.

Se jogou no sofá, ligando a televisão e conectando a Netflix, começando a zapear pelas inúmeras opções no catálogo. Enquanto escolhia, reparou no telefone depositado no gancho, que piscava incessantemente. Era a luz da secretária eletrônica, avisando que havia uma mensagem pendente. Levantou meio mole e apertou o botão, ouvindo a voz invadir o ambiente.
“Oi, . É o Pedro! Estou tentando te ligar, mas você deve estar ocupado, então vou deixar essa mensagem aqui. Se você ouvir, por favor, me manda uma mensagem confirmando. Achei melhor ligar, do que mandar mensagem, muito impessoal. Enfim... Cara, eu vou casar! Dá pra acreditar? Hahahaha. Marcamos o casamento pra daqui algumas semanas, sei que tá muito em cima da hora pra você vim pro Brasil, mas é porque o pai dela tá doente, então queremos casar antes que aconteça algo. Vou enviar no teu e-mail o convite, porque não vamos conseguir enviar o físico a tempo. Quero muito te ver aqui, irmão. Você e o . Aliás, como vocês estão? Da última vez que a gente se falou você disse que estavam com uns problemas na relação, mas lembro bem de você falando que amava ele mais do que tudo e que desistir não era uma opção. Espero que tudo tenha se resolvido. Bem, é isso, estou esperando sua resposta. Até mais, cara, e venha me ver casar, por favor! Hahahaha. Tchau!”
A sala ficou em silêncio, enquanto se recuperava de tudo que tinha ouvido. falando sobre a relação deles para outras pessoas, que o amava mais que tudo e que desistir não era uma opção. Sentiu o golpe na boca do estômago, não estavam bem antes e agora muito menos. Não tinham conseguido se resolver e ele ainda havia saído de casa.
Seus olhos se encheram de lágrimas e, assim que a primeira correu por seu rosto, sentiu os braços de Matthew lhe envolverem em um abraço apertado. Sem dizer nada, Foster afagou os cabelos dourados do amigo, tentando o consolar. Sabia muito bem que ele amava com todo seu coração e que vê-lo saindo de casa não tinha sido nada fácil.
- Ei, não fica assim. – Pediu, ainda fazendo carinho nos cabelos dele. – Vocês vão se acertar.
- Eu tenho medo. – disse, com sua voz tremendo um pouco. – Não sei o que aconteceu com a gente, não sei como chegamos no fim do poço desse jeito. Sinto que a cada vez que a gente tenta, nos afastamos mais.
- Eu não posso te dar certeza, mas posso te dizer que acredito demais em vocês. Acredito no sorriso que você dá todas as vezes que olha pro , no quanto ele que tem pinta de badboy é o cara mais derretido do mundo por você, em tudo que vocês já enfrentaram pra ficarem juntos e no amor que há entre vocês. – Sorriu encarando o amigo. – Eu acredito em vocês e você também deveria acreditar.
- Você sabe que é a melhor pessoa do mundo, né? – perguntou e viu o amigo assentir. – Obrigado.
- Não precisa me agradecer. – Passou a mão por seu rosto. – Aliás, melhor, me agradeça secando essas lágrimas. Vai lavar esse rosto enquanto eu escolho o filme.
assentiu, seguindo pelo corredor até chegar no banheiro. Jogou um pouco de água gelada no rosto e encarou seu reflexo no espelho. Sentia uma falta absurda de , isso porque faziam apenas dias que ele estava longe. Definitivamente ficar longe dele não era uma opção para si.
Secou o rosto e voltou para a sala, onde Matthew já o esperava com o filme escolhido, os dois baldes de pipoca e os copos com refrigerante. Pegou sua parte das coisas e se jogou no sofá. Foster deu play no filme, se jogando no outro sofá.
Nos primeiros segundos de ‘Truque de Mestre’, ele até conseguiu manter a sua atenção, mas logo sua mente vagou com as lembranças de . Sentia seu coração cada vez mais apertado pela saudade e pelo medo deles não se acertarem. Era engraçado, quando finalmente tinham o que sempre sonharam, que estavam morando juntos, em uma casa cheia das coisas que sempre quiseram, tinham se perdido um do outro.
Mergulhado em todo o amor que sentia por , adormeceu quase na metade do filme que não tinha assistido nada. Quando acordou, ainda sonolento e devagar, piscou os olhos algumas vezes para que eles se acostumassem e percebeu que já estava na cama.
Procurou por seu celular, que encontrou em baixo do travesseiro, e viu que o relógio marcava meia noite. Chamou por Matthew, mas não recebeu resposta. Seu apartamento estava em silêncio e em um completo breu.
Ligou a lanterna do celular e percebeu que depositado no seu criado mudo estava seu copo térmico, com um pequeno bilhete ao lado. Pegou o papel e sorriu imediatamente.

‘Não sou o , mas também sei cuidar de você. Deixei seu chá prontinho. Boa noite, meu anjo!
Amo você!
PS: Você e o vão se acertar, tenho certeza.’


Terminou de ler e sorriu. Tinha o melhor amigo do mundo, sem dúvidas. Pegou o copo e tomou um gole do chá. Quando terminou, apenas se enrolou nas cobertas e voltou a dormir.


3

Apartamento dos dois, 7:20 AM.
A campainha tocou e franziu o cenho, não estava esperando ninguém aquela hora. Saiu do quarto e abriu a porta, dando de cara com seu pai parado no corredor. Ele sorriu largo ao ver seu filho, que o olhou ainda mais confuso. O grande Edward nunca havia pisado em seu apartamento desde que ele se mudou e agora simplesmente estava ali, parado à sua frente.
- Pai? – Perguntou, confuso.
- Oi, . Posso entrar? – Perguntou apontando com a cabeça para o interior do apartamento.
O mais novo assentiu, dando espaço para que ele entrasse. Fechou a porta e se virou para o pai, que passava os olhos por todo o ambiente.
- Posso saber a que devo a honra dessa visita? – Indagou, curioso.
- Um pai não pode sentir saudades de seu único filho? – Perguntou o encarando e o loiro soltou uma risada incrédula.
- Saudades? – Perguntou e o pai assentiu com a cabeça. – Em cinco anos, é a primeira vez que o senhor aparece aqui em casa. Só sentiu saudades agora?
- Você não acredita em mim? – Encarou seu filho e sentou-se no sofá, sendo acompanhado por ele.
- Desculpa, mas não.
- Uma pena, pois eu estava realmente com saudades de você. – Sorriu.
encarou o pai, tentando de alguma forma encontrar em seu rosto a real intenção dele ao estar ali.
- Como o senhor está? – Perguntou.
- Bem e você?
- Bem. – Deu de ombros.
Não estava nada bem, mas o pai não precisava saber seus motivos.
- Fiquei sabendo que o saiu de casa. – Edward disse e sorriu com escárnio.
Bingo! Ali estava o real motivo da visita. Seu pai não estava com saudade coisíssima nenhuma, só queria conferir com seus próprios olhos a desgraça de seu filho.
- É claro, é por isso que o senhor está aqui. – Riu debochado. – Veio conferir pessoalmente? Zombar da minha cara? Me xingar?
- Você tem um pensamento muito ruim do seu próprio pai. – Olhou para seu filho. – Só vim saber como está, lhe oferecer um ombro amigo e te levar de volta para nossa casa.
- Pera, quê? Me levar de volta pra casa? Enlouqueceu? – Perguntou, confuso.
- , eu moro em uma casa gigante, não há necessidade de você morar sozinho agora que está solteiro. – Respondeu e viu o filho rir baixo.
já tinha entendido tudo e sentia vontade de gargalhar da cara do pai. Ele tinha ouvido que saiu de casa e já assumiu que haviam se separado.
- Pai, o senhor ouviu o galo cantar e não sabe de onde. – O encarou. – O saiu de casa sim, mas a gente não terminou, só demos uma afastada pra podermos respirar. Nós continuamos juntos.
- O quê? Você não está falando sério, não é? – O ex prefeito perguntou indignado, mas assim que encarou a expressão debochada de seu filho sabia muito bem que ele não estava brincando. – , eu não acredito que você se prestou a um papelão desses.
- Minha vida amorosa não lhe diz respeito. – O loiro disse seco.
- Vim aqui achando que essa bosta de namoro sem noção tinha acabado e você tinha largado aquele delinquente vagabundo de uma vez.
- Lava a sua boca antes de falar do meu namorado, essa ainda é a casa dele e ele merece respeito. – Disse já sentindo seu sangue ferver. – O é um cara incrível, que me faz feliz todos os dias, mas que o senhor insiste odiar só porque ele é um cara e não uma garota.
- Ele é um cara problemático, você sabe disso. O diretor da sua escola te avisou, mas você caiu igual um patinho no conto daquele babaca. – Edward disse entre dentes. – O filho do prefeito envolvido com outro homem e ainda por cima um que não presta.
- Eu não cai em conto nenhum, eu me apaixonei. Nós nos apaixonamos. – bufou. – Fazer o que pai, eu nasci assim. Eu gosto do , aliás, gosto não, eu amo o . Ele é o amor da minha vida e não há nada que o senhor possa fazer. E que fique bem claro, ele presta sim e muito. Não tenho culpa se a sociedade acredita em qualquer merda pra dizer que alguém não presta.
- Você é um idiota. – O mais velho riu. – Uma piada, é isso que você é. Tinha um futuro incrível pela frente e jogou tudo fora por conta daquele idiota. – Passou a mão pelos cabelos e encarou seu filho. – Agora está aqui, sozinho e defendendo aquele trouxa. Você é uma vergonha, .
- Idiota é você! – Ralhou.
- Você? Cadê o respeito com seu pai? É senhor.
- Você perdeu o respeito quando começou a xingar eu e o . – Respondeu seco. – Entenda uma coisa, eu amo o e só eu conheço ele de verdade, então se eu digo que ele não é esse idiota que pintaram pra você, é por que ele realmente não é.
- Eu tenho vergonha de você. – Edward disse e encarou seu filho, reparando no exato momento onde sua pose forte fraquejou.
respirou fundo, sentindo o coração apertar e a vontade de chorar aparecer. Desde cedo havia feito de tudo para agradar seu pai. Tirava as melhores notas, estudava por horas a fio, não se envolvia em confusão... Mas nunca estava bom. O grande Edward sempre queria mais. O pai sempre quis perfeição e se irritava com qualquer décimo a menos que isso.
- Você é uma vergonha para a nossa família. Um gay, é esse o legado que você quer passar para as nossas próximas gerações? – Perguntou encarando seu filho. – Se bem que não teremos próximas gerações, pois você não vai reproduzir, não é?
- Pai, isso é uma idiotice sem tamanho. – Tentou argumentar, mas viu o mais velho levantar a mão, como se pedisse para que ele se cala-se.
- Você é fraco, sempre foi. Eu tive que deixar sua criação com sua mãe e deu nisso. Um filho fraco, viado e fracassado, que mora com um delinquente tatuado. Aquele gibi humano por acaso sabe o que é boa aparência? Já imaginou você chegando em jantares importantes acompanhado daquele garoto todo tatuado, com o cabelo cumprido e piercings? – Encarou o filho. – É uma vergonha.
- Pai...
- CALA A BOCA. – Edward gritou. – Mas ainda dá tempo de você se libertar disso, tenho certeza que essa fase gay passa, basta você querer. Vem comigo, vamos para casa. Vocês já estão separados mesmo, não vai doer nada.
- Eu já disse que não estamos separados. – Bufou.
- Estão sim, não existe essa de tempo. Ele saiu de casa, sabe-se lá quantas bocas diferentes está beijando. – Sorriu debochado. – Eu sempre soube que esse namoro não daria certo e eu lhe avisei um milhão de vezes. Você nasceu para voar alto, não para se contentar com aquele idiota que não tem onde cair morto. Mas a justiça sempre vem e agora você está livre, filho.
- Eu não estou e não quero estar livre do . Eu o amo muito e vamos superar esses problemas, você queira ou não, pai. – Encarou seu pai, com o rosto molhado com algumas lágrimas.
- Logo você vai perceber que eu estou certo e eu estarei aqui para lhe dizer que eu avisei. – Sorriu.
- Você está feliz, né?
- Mas é claro, você está finalmente livre daquele idiota. – O mais velho sorriu abertamente, o que fez com que mais lágrimas caíssem pelo rosto de .
Era seu pai ali, torcendo com todas as forças para que seu relacionamento desse errado. Torcendo contra ele, contra a sua felicidade. Não que aquilo fosse uma novidade, mas continuava doendo. Desde que assumiu seu relacionamento com não teve um dia de paz com seu pai e, depois de sete anos, continuavam brigando pela mesma coisa.
- CHEGA, PAI, CHEGA! – gritou. – Chega desse risinho debochado, dessa felicidade absurda, dessa torcida contra o seu próprio filho. Você não vê que eu estou sofrendo? Não vê que eu amo o e tê-lo longe, mesmo que temporariamente, me deixa triste? Não vê que você, meu pai, me deixa pior ainda com esses comentários idiotas? EU SOU SEU FILHO! Não é você a pessoa que mais deveria me amar no mundo? – Passou a mão por seu rosto, tentando secar suas lágrimas. – Mas você nunca se importou comigo, sempre prezou mais a sua reputação do que a minha felicidade. Você sabe que essa é a mais pura verdade. Você nunca me amou, pai. Nunca fez eu me sentir amado, nunca me deixou confortável o suficiente pra conseguir assumir a minha homossexualidade. Sempre colocando sua reputação em primeiro lugar, preocupado com que as pessoas achariam do grande prefeito. Você sempre colocou uma máscara em mim, pra que eu estivesse sempre sorrindo, mesmo que por dentro eu estivesse quebrado.
- Chega desse drama, . – Edward disse bravo, rolando os olhos. – Eu sempre te dei tudo do bom e do melhor. Você estudou nas melhores escolas, fez os melhores cursos, teve tudo que queria, e agora vem me dizer que eu nunca liguei para você? Que só ligava para a minha reputação? Ah, faça-me o favor. – Ralhou. – Quem estragou algo aqui foi você, sendo um viadinho de merda, se envolvendo com aquele idiota. Eu construí uma carreira na política, não podia deixa você estragar tudo por ser mimado demais. – Se levantou, ajeitando seu casaco. – Eu tenho nojo de você e vergonha de você, e a sua mãe também teria.
Antes que pudesse responder, o pai se dirigiu até a porta, batendo-a com força ao sair. Quando se viu sozinho na sala, se abaixou, sentando-se no chão e se entregando ao choro. Ele soluçava alto, sem medo que algum vizinho ouvisse. Só queria, e precisava, tirar aquele peso de dentro de si.

Apartamento dos dois, 9:28 PM.

Os soluços de podiam ser ouvidos por todo o apartamento. Seu pai havia ido embora há mais de uma hora e ele ainda estava ali, sentado no chão, abraçando suas pernas e chorando copiosamente.
Cada palavra que saiu da boca de seu pai rondava sua mente, o deixando cada vez pior. E se ele realmente fosse tudo aquilo? Um lixo, uma vergonha, um peso. A cada lágrima derramada, se odiava mais e mais por ainda deixar-se afetar pelas palavras de seu progenitor, mesmo depois de anos.
O aperto em seu peito insistia em não passar, mesmo com tantas lágrimas derramadas. Sua cabeça doía como se fosse explodir e ele a sentia pesada, como se ela pudesse cair de seu pescoço a qualquer momento.
Em meio ao choro e soluços, um barulho na fechadura da porta chamou sua atenção. Quando olhou na sua direção, ela foi aberta e entrou, cruzando o olhar com o seu no segundo seguinte.
No instante em que seus olhos cruzaram com os de seu namorado, sentiu o coração apertar. tinha os olhos vermelhos, o rosto lavado de lágrimas e estava todo encolhido no chão, abraçando suas pernas como se estivesse com medo de algo. suportava muitas coisas na vida, menos ver seu garoto chorar. Então, fechou a porta e fez a única coisa que tinha vontade naquele momento, correu até , o envolvendo em um abraço forte e apertado.
Talvez fosse a saudade daquele toque ou simplesmente o fato de ter uma companhia ali, mas assim que os braços de lhe envolveram, sentiu seu coração acalmar um pouco.
- O que aconteceu, meu bem? – Perguntou, preocupado. – Você tá machucado? Sentindo alguma dor?
Não recebeu resposta verbal, mas percebeu que o choro do loiro só se intensificava, então o puxou para seu peito e depositou um beijo demorado em sua testa, deixando que ele chorasse à vontade.
puxava cada vez mais o moletom de , como se ele pudesse fugir a qualquer momento e lhe deixar sozinho. Percebendo a aflição do mais novo, começou a cantarolar algumas estrofes das músicas preferidas dele, sentindo seu coração se quebrar cada vez mais por vê-lo daquele jeito.
- Obrigado. – sussurrou.
- Não precisa me agradecer. – Sorriu e passou os dedos pelo rosto do loiro, secando as lágrimas que ainda estavam por ali. – O que foi, meu amor?
- Meu pai veio me ver. – Respondeu e o moreno respirou fundo.
- Já entendi tudo. – Acariciou os cabelos do namorado.
- Ele ficou sabendo que você saiu de casa e veio aqui tripudiar, dizer que ele tinha avisado que não ia dar certo. – Rolou os olhos e bufou.
- Você explicou que ele não estava certo coisa nenhuma e que nós ainda estamos juntos, né? – Indagou e o loiro assentiu.
- Ele não acreditou, disse que eu sou um idiota, que tinha um futuro brilhante pela frente e deixei você me enganar. – rolou os olhos e encarou .
- Seu pai é um idiota. – Passou o polegar pela bochecha do loiro. – Nós já provamos inúmeras vezes que o nosso namoro vai pra frente sim, mas ele insiste em fingir que não. A gente tá junto há sete anos e ele continua com essa ideia idiota. – Beijou a bochecha de e sorriu. – Ele não sabe nada sobre a gente, meu bem. Não deixa isso te abalar.
- Obrigado. – sorriu e passou os braços pelo pescoço do moreno, o puxando para um abraço apertado.
Fechou os olhos e suspirou, sentindo seu coração se aquecer. Tinha sentido tanta falta do seu lugar preferido no mundo e finalmente estava ali: nos braços de .
- Chega de chorar, bebê. – sorriu, beijando demoradamente sua testa. – Você comeu?
Viu o loiro negar e rolou os olhos. Se levantou e esticou a mão para , o tirando do chão. Passou seus braços pela cintura dele, andando em direção à cozinha.
- Você vai cozinhar? – perguntou vendo o namorado abrir a geladeira e os armários.
- O que você quer comer? – Perguntou voltando a se aproximar do loiro e viu ele dar de ombros. – Pode ser um macarrão?
- Pode, meu amor. – Disse, recebendo um sorriso em resposta.
- Vai lavar o rosto então, bebê. – Levou sua mão até o rosto de , acariciando-o. – Seus olhos estão vermelhos.
assentiu e saiu da cozinha. voltou para o armário e começou a tirar de lá tudo que precisava. Colocou a água para ferver e começou a cortar os tomates para fazer o molho.
lavou seu rosto e voltou para a cozinha. Encostou-se no batente da porta e sorriu ao ver a cena de fazendo uma dancinha desengonçada enquanto comandava o fogão. O moreno levou a colher até a boca, para experimentar o molho e jogou-a longe no segundo seguinte, sentindo a língua queimar. gargalhou com a cena, o que fez virar para encará-lo.
- Não sei onde tá a graça. – O moreno disse enquanto encostava a língua no céu da boca, tentando se livrar da dor.
- Ah, você não sabe? – perguntou, rindo. – Tá nessa sua cara de otário.
- Eu te odeio. – disse rindo e o loiro rolou os olhos. – Arruma a mesa pra mim?
assentiu e foi até o armário, retirando os pratos, copos e outras coisas para arrumar a mesa. Sentou-se ali e logo depositou a panela no centro. Serviu um pouco para ele e encarou , esperando que ele experimentasse.
- Pode falar, eu poderia ser um chef profissional. – Disse enquanto o loiro levava uma garfada até a boca.
- As vezes você exagera demais. – riu, enquanto o olhava indignado.
- Eu deveria ter deixado você com fome. – disse o encarando e vendo o loiro gargalhar.
- Você não teria essa coragem. – Encarou o moreno. – Me ama demais pra isso.
- Odeio quando você tá certo. – rolou os olhos e voltou a prestar atenção na sua comida.
Os dois terminaram de comer em silêncio. retirou a louça da mesa e começou a lavá-la enquanto secava. Não demorou muito e terminaram, então seguiram para sala e encarou .
- Ok , desembucha. – Disse encarando o moreno. – O que você veio fazer aqui?
- Vim pegar algumas roupas.
- Você saiu daqui com uma mala cheia delas, . – disse com a testa franzida e viu o moreno respirar fundo.
- Eu vou precisar viajar com o trabalho. – Disse.
- Por quanto tempo? – Indagou.
- Um mês. – Respondeu.
assentiu, se escolhendo mais no sofá. sorriu e seguiu até o quarto que dividia com o loiro, abrindo o guarda-roupas e retirando de lá o que precisava.
- Aquele seu amigo do Brasil ligou. – disse encostando-se no batente da porta do quarto.
- O Pedro? – indagou e viu o loiro assentir. – O que ele queria?
- Ele vai casar. – Respondeu e o moreno lhe olhou com os olhos arregalados.
- Casar? Mas já? – Perguntou e viu assentir.
- Parece que o pai da noiva dele tá doente, algo assim. – Deu de ombros. – Ele disse que ia enviar o convite no teu e-mail.
- Faz tempo que não abro meu e-mail, vou checar isso depois. – Sorriu fechando a mochila. – Obrigada por avisar.
- Por nada. – sorriu, voltando para a sala.
Pouco depois saiu do quarto, seguido pelo corredor até a sala. Encarou que olhava para a TV desligada com um olhar perdido.
- Eu preciso ir. – Disse baixo, ganhando a atenção do loiro. – Você vai ficar bem?
- Vou sim. – Sorriu e se levantou.
- Tem certeza? – Indagou, preocupado.
- Tenho, . – Suspirou. – Não precisa se preocupar.
- Me dá um abraço? – Perguntou encarando o loiro, que franziu a testa. – Vou ficar um mês fora, preciso me despedir direito.
- Como se você realmente precisasse pedir por um abraço. – sorriu, se aconchegando nos braços de .
Sentiu seu coração bater mais forte por estar de volta ao lugar que mais gostava no mundo. Respirou fundo, inalando o perfume gostoso que o moreno usava. Tinha sentido mais falta daquilo do que imaginava.
De olhos fechados, sentiu começar a depositar beijos por seu rosto e maxilar, até chegar em seu pescoço, onde mordeu de leve. Com o coração levemente acelerado, sentiu a língua do moreno em seu pescoço e mais beijos sendo distribuídos. arrancou os dentes pelo pescoço do loiro, até morder o lóbulo de sua orelha e voltar depositando beijos por toda a linha de seu maxilar.
- Não sei como vamos estar daqui um mês... – murmurou, mordendo o queixo do loiro. – Então eu preciso muito disso. – Finalizou, antes de selar seus lábios nos de .
Mesmo perdido, passou os braços em volta de seu pescoço e intensificou o beijo. Sentiu a mão de apertar sua cintura e gemeu em aprovação. sorriu, cortando o beijo e dando vários selinhos na boca do loiro.
- Até daqui um mês, meu bem. – Disse, beijando-o novamente e enterrando a mão em seu cabelo.


4

A música ao fundo era a única coisa em que conseguia prestar atenção. De nada lhe interessava o papo chato sobre ações da bolsa de valores que os seus colegas de trabalho estavam tendo. Respirou fundo, reprimindo uma vontade enorme de rolar os olhos com aquilo.
Tomou um longo gole de sua cerveja, quase secando todo o conteúdo da long neck e fechou os olhos, com sua mente vagando instintivamente até . Sorriu fraco e desejou que ele estivesse ali. Os happy-hours sempre eram mais animados quando ele estava ao seu lado, fazendo carinho em sua perna e distraindo-o das conversas chatas.
Sentiu o lugar ao seu lado ser ocupado e virou-se ao ouvir um pigarreado, encontrando um ruivo sorridente o encarando.
- , certo? – Indagou e ele assentiu. – Prazer, Mark Willians.
- Prazer. – Sorriu meio sem vontade, tentando se lembrar quem era o rapaz ao seu lado.
- Entediado? – O ruivo perguntou e assentiu. – Eu te entendendo, esses papos são um saco.
- Nem me fale. – Disse rindo. – Definitivamente a bolsa de valores não é meu assunto preferido pra uma conversa em uma mesa de bar.
- As pessoas adoram esse mundo corporativo... Eu prefiro fazer outras coisas em um bar. – Sorriu. Mark encarou a garrafa de cerveja vazia do moreno e o olhou. – Toma uma cerveja comigo, ? Eu pago.
deu de ombros. O ruivo sorriu e pediu mais uma cerveja para o garçom, que logo voltou a mesa com as duas long necks.
- Saúde. – Mark disse sorrindo galanteador e batendo sua garrafa na de . – Então, é só o papo chato que te deixou assim?
- Assim como? – perguntou, tomando um gole da cerveja.
- De mal humor. – Willians riu fraco.
- Eu não estou de mal humor. – Respondeu, ofendido, o que fez o ruivo gargalhar.
- A sua cara fechada diz outra coisa, gatinho. – Piscou e o encarou ainda mais sério. – Que foi?
- Eu tenho namorado. – Disse e viu o ruivo abrir um sorriso malicioso.
- Não tem problema. – Piscou e bebeu um gole da cerveja, o encarando. – Eu não tenho ciúmes.
- Você não, mas meu namorado tem. – Respondeu, sério.
terminou de beber a cerveja e levantou-se. Pagou sua parte no caixa e saiu, deixando Mark sozinho na mesa. Ele sabia que não iria fazer nada, o ruivo não fazia seu tipo e ele não estava com cabeça, mas se sentia mal tendo alguém, que não fosse , dando em cima dele.
Sem paciência nenhuma para sustentar uma conversa com algum taxista, começou a andar pelas ruas, seguindo a pé para seu hotel. Distraído, assim que dobrou uma esquina esbarrou forte em alguém.
- Desculpa. – Pediu e o rapaz sorriu.
- Não foi nada. – Respondeu e seguiu seu caminho.
teria seguido seu caminho também, se seus olhos não tivessem marejado quase instantaneamente ao sentir o perfume que o outro usava. Ele reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar do mundo, afinal, era o mesmo de . Sentiu o coração apertar um pouco e respirou fundo pensando em seu relacionamento.
era inegavelmente apaixonado por desde que ele tinha começado a lhe ajudar com a matéria. No começo a ideia parecia idiota demais, mas depois de descobrir quem seria seu ‘tutor’, não quis mais desistir. era absurdamente adorável e certinho, o que deixava tudo ainda mais divertido. Era para ser apenas algumas provocações, alguém tão perdido como ele nunca poderia se envolver com o filho do prefeito.
era o garoto exemplo daquela escola. Os professores praticamente o idolatravam, era um garoto de ouro, com as notas perfeitas. Sua influência só aumentava quando relacionava ele a seu pai, o prefeito. Sem dúvidas, o loiro já tinha todo um futuro brilhante traçado. Terminaria a escola com louvor, seria aprovado na melhor faculdade do país, se dedicaria aos estudos e seria extremamente bem-sucedido em sua profissão.
O filho do prefeito tinha um futuro de sucesso esperando por ele e não havia espaço para o tatuado e problemático, .
Até aquela noite.
sabia que não deveria ter correspondido aos beijos, que não deveria ter deixado os outros beijos que vieram acontecerem, mas não conseguiu. E eles se envolveram, provocando uma mistura de sentimentos doidos, mas bons. Muito bons.
Ele e eram o casal mais improvável do mundo e ele nunca entenderia o que o loiro tinha visto nele, mas agradecia que tivesse feito. Não sabia que rumo sua vida teria tomado sem aquele par de olhos dando sentido a sua vida a cada vez que o mundo parecia querer desabar.
sabia que não era o genro dos sonhos do pai de , mas amava o loiro com tanta intensidade e só conseguia agradecer por qualquer que fosse a força do universo que tinha juntado os dois. E não conseguiria nunca ficar longe dele, mesmo que estivessem tão distantes agora. Não fisicamente falando, mas em relação aos seus sentimentos. Se amavam, era um fato, mas pareciam estarem constantemente perdendo algo.
Percebendo que tinha passado tempo demais pensando em , voltou a andar em direção ao seu hotel. Não sabia exatamente o porquê, mas sentia seu coração cada vez mais apertado ao pensar no loiro.
Ou melhor, sabia sim. Sabia muito bem porque sentia aquele incômodo e era pura e exclusivamente por medo. Medo de perde-lo, medo de que fosse tarde demais. Medo de que o pai dele estivesse certo e aquela relação não fosse para frente, mesmo com tanto amor envolvido.
Abriu a porta de seu quarto e se jogou em sua cama, fechando os olhos e respirando fundo. Ficou alguns minutos apenas ouvindo o barulho da cidade lá do lado de fora e então sacou o celular do bolso, sentindo que ficar quieto só fazia com que sua mente gritasse suas paranoias para si. Mas se arrependeu de ter feito, quando a foto de acompanhado do melhor amigo pipocou na tela. O loiro sorria e era abraçado pelos ombros por Matthew. Os dois estavam em uma balada e seguravam duas garrafas de cerveja nas mãos.
suspirou, sentindo o choro tomar conta de si. Aproximou a foto, encarando o sorriso de . Para quem não o conhecia, ele aparentava estar feliz, mas conhecia cada detalhe daquele homem e sabia que aquele não era um sorriso feliz. Era um sorriso que demonstrava todo o sofrimento que ele também estava passando.
E com esse pensamento, enquanto acariciava a foto na parte em que estava, se entregou ao choro, sem ter forças para segurá-lo e sem a intenção de fazê-lo.
Ao acordar, seu primeiro pensamento foi de que iria morrer de tanta dor de cabeça. Ele a sentia latejando, os olhos pesados e inchados pelo choro da noite passada, além do aperto no peito, que não havia passado. Levantou-se preguiçosamente e seguiu até o banheiro, despindo-se de suas roupas e se enfiou debaixo do chuveiro, relaxando imediatamente.
Saiu do banho e parou em frente ao armário, tirando de lá um terno. Trocou de roupa, arrumou os cabelos em um rabo de cavalo já que não tinha conseguido lavá-los e eles estavam oleosos. Assim que terminou de se arrumar, estava prestes a sair, quando ouviu seu celular tocar. Voltou até a cama, procurando-o no meio dos lençóis da cama e viu que no visor constava um número desconhecido.
- Alô? – Perguntou ao atender.
- ? – A pessoa do outro lado perguntou e ele franziu o cenho. Achava que sabia quem era, mas não podia ser...
- Sim. – Respondeu. – Quem é?
- Edward .
- O pai do . – Disse, sentindo seu estômago revirar.
- Isso mesmo. – Ouviu o homem concordar. – Então, será que podemos conversar?


5

O dia pareceu passar incrivelmente lento depois daquela ligação mais do que inesperada. Era mais fácil acreditar que o Homem de Ferro lhe ligaria, mas nunca o grande Edward , que lhe odiava desde o primeiro dia em que tinha posto seus olhos nele.
Por conta daquela maldita ligação, que só tinha servido para lhe deixar com mais raiva, ele passou o dia com problemas para se concentrar no trabalho. Então quando o relógio marcou 18h, ele pôde, finalmente, desligar o computador e sair daquela sala que parecia sufocá-lo. Jantou rapidamente no restaurante do hotel e subiu para o quarto, afrouxando a gravata.
Se jogou na cama e encarou o celular, tentando se convencer se realmente faria aquilo. Estava doido de saudades da voz de e ele merecia saber o que seu pai havia aprontado. Juntando o pouco de coragem que conseguiu, respirou fundo e apertou o botão da chamada.
E tudo estaria bem, se não tivesse apertado o botão da chamada de vídeo. Quando percebeu, arregalou os olhos e tentou desligar, mas foi tarde, pois logo viu a imagem de aparecer na tela de seu celular, lindo como sempre.
- ? – Chamou e o moreno choramingou, frustrado consigo mesmo. – Que surpresa você me ligando... Ainda mais em vídeo!
- Era pra ser uma ligação normal, mas eu apertei o botão errado. – Disse baixo e viu o loiro rir. – Desculpa.
- Pelo que? – Perguntou encarando a imagem do namorado pela tela. – Eu estava mesmo com saudade de ver você.
- Eu também. – Confessou, passando a mão pelo rabo de cavalo.
- Cabelo preso, ? Não lavou, né? – perguntou, arrancando uma risadinha frustrada de .
- Você me conhece tão bem... – Sorriu encarando a imagem do namorado sorrindo no ecrã e sentiu o coração se aquecer. Podia ter tido um dia péssimo, mas em apenas cinco minutos de conversa tinha feito tudo desaparecer.
- São sete anos, meu bem. – Piscou, enquanto se sentava no sofá. – Mas então, como tá sendo a viajem?
- Chata. – O moreno rolou os olhos, afrouxando a gravata ainda mais. – Eu trabalho o dia inteiro e os papos no happy-hour são extremamente chatos.
- Você nunca gostou disso mesmo. – riu. – Se bem que nos últimos anos fomos em algumas...
- Aqui eu não tenho você pra me distrair das conversas corporativas. – Encarou o loiro, que sorriu, sentindo seu coração bater mais rápido.
- Você pode me ligar sempre que quiser. – Ele sorriu. – E falando em ligação... Vai me contar o motivo dessa aqui?
gemeu, frustrado. Não estava planejando contar aquilo tendo que ver a cara de decepção de , mas agora era tarde. Encarou sua imagem pela tela do celular e respirou fundo, criando coragem.
- Hoje de manhã, quando eu estava saindo pro trabalho, eu recebi uma ligação. – Começou, sem saber muito bem o que falar.
- De quem? – perguntou após alguns minutos de silêncio.
- Do seu pai. – Respondeu e viu a feição do loiro mudar em segundos.
- Como assim? O que ele queria? – Perguntou, preocupado.
O sorriso, que ele carregava desde o começo da ligação, sumiu e deu lugar a uma expressão preocupada. conhecia muito bem o pai que tinha e por isso sabia que coisa boa não viria daquela ligação.
- O que meu pai queria, ? – Perguntou novamente.
- Ele me ofereceu dinheiro. – Respondeu, encarando a imagem confusa do loiro.
- Como assim dinheiro, ? Por que ele te ofereceria dinheiro? – perguntou, confuso e o moreno sentiu o coração apertar ainda mais.
Encarou pela tela do celular e respirou fundo, sentindo a tristeza esmagar seus ossos. Não se importava a mínima que Edward não gostasse dele, mas se sentia absurdamente triste e incomodado quando suas atitudes afetavam . Ele poderia superar as idiotices do mais velho, não.
- Ele me ofereceu dinheiro pra ficar longe de você. – Disse o mais rápido que conseguiu.
Diferente do que imaginou, não teve reação nos primeiros segundos. Ele piscou atônito, sem acreditar no que tinha ouvido, então respirou fundo, quando finalmente sua ficha começou a cair.
Seu pai tinha oferecido dinheiro ao seu namorado para que ele ficasse longe dele.
Seu próprio pai.
Respirou fundo novamente, sentindo seus olhos marejarem e aquela sensação amarga tomar conta de si.
- Meu pai fez o quê? – Perguntou, ainda incrédulo.
- Me ofereceu dinheiro. – O moreno respondeu.
- O que você respondeu? – Indagou, encarando a imagem ansiosa de .
- Eu o mandei a merda. – Disse, arrancando um sorriso fraco do loiro.

Sem dizer nada, encarou , sentindo o gosto amargo da recém descoberta. Abaixou a cabeça, sentindo o peso daquela informação e deixou que as lágrimas finalmente corressem por seu rosto.

12 horas antes.
Quarto de hotel, 6:25 AM.

- Sim. – Respondeu. – Quem é?
- Edward .
- O pai do . – Disse, sentindo seu estômago revirar.
- Isso mesmo. – Ouviu o homem concordar. – Então, será que podemos conversar?
- Conversar? Eu e você? - perguntou, ainda sem acreditar naquela ligação. – Com todo respeito, Edward, mas... Você bebeu?
- Por que eu teria bebido? – Indagou.
- Porque você me odeia e nunca fala comigo, mas agora resolveu me ligar. – respondeu como se fosse óbvio.
- Para tudo existe numa primeira vez. – O mais velho disse. – Voltando ao motivo dessa ligação, queria dizer que fiquei sabendo que você e terminaram.
- Me desculpe, mas você precisa melhorar suas fontes, Edward, porque nós não terminamos. – Respondeu, sem paciência. – Nós só estamos dando um tempo.
- Não existe essa de tempo, . Ou estão juntos, ou estão separados. – disse e soltou uma risada de desdém.
- Não existe pra você, pois na nossa relação existe sim e não há nada que você possa fazer para impedir. – O moreno respondeu, passando a mão pelos cabelos, irritado.
- Tem certeza que não há nada? – O mais velho perguntou e franziu o cenho.
- Do que você está falando?
- Sabe , não é segredo para ninguém que eu não gosto de você. Certo? – O moreno soltou uma risadinha fraca e murmurou em concordância. – Você não é nada do que eu sonhei para o meu . Além de ser um homem, é rebelde, tatuado e inconsequente... Enfim, nada do que estava planejado para meu filho. – Respirou fundo. – Mas você insistiu em se meter na vida dele e estragou tudo... Até agora.
- Será que você pode ir direto ao ponto? – perguntou. – Eu preciso ir trabalhar...
- Claro... – concordou e respirou fundo, começando a falar com a voz carregada de maldade. – , me dê o seu preço.
- Que preço?
- O preço que você quer para se afastar de vez de meu filho. – O ex-prefeito disse e parecia não acreditar no que havia acabado de ouvir.
- Como é que é? – Perguntou para si mesmo, torcendo para que tudo fosse uma pequena e péssima brincadeira. Mas não era.
- Isso mesmo que você ouviu... Todo mundo tem seu preço e eu quero saber o seu. – Riu. – A única coisa que você tem que fazer é terminar com e pronto, não importa qual o valor, a quantia vai estar em sua conta.
- Você só pode ter ficado louco. – disse, incrédulo.
Então a imagem de invadiu sua mente, o que só fez piorar sua situação. Mesmo com as discussões e a falta de apoio por parte do pai, ainda o amava muito, ainda que ele não parecesse estar muito interessado.
- Quanto você quer, ? – O mais velho perguntou novamente.
- Eu não vou terminar com o . – Disse, firme, e escutou o mais velho bufar.
- Deixe de ser teimoso, garoto. Nós dois sabemos que ambas as partes só têm a ganhar com isso. – Ele riu. – Você fica com uma ótima quantia em dinheiro e meu filho pode voltar aos trilhos e seguir o que eu preparei para ele.
- Eu amo seu filho, Edward, e não importa o quanto você me odeie e me queira longe, isso nunca vai mudar. – passou a mão pelos cabelos, sentindo seu corpo queimar de raiva. – Nem todo o dinheiro do mundo me faria ficar longe dele.
- Deixe de ser idiota...
- Idiota é você, com todo respeito. – Disse. – E se eu fosse você, começava a melhorar sua relação com ele, pois você está a um passo de perde-la de vez. – Respirei fundo e sorri malicioso. – E aproveitando essa ligação, vá a merda!


Tempo atual.
- Meu pai é inacreditável. – disse com a voz pesada e passou a mão livre pelo rosto. – Desculpa por isso, , sério.
- Não é sua culpa, meu bem. Não precisa se desculpar. – sorriu fraco.
- Eu não deveria ficar tão afetado assim, mas não consigo evitar porque apesar de tudo ele ainda é meu pai. – O loiro respirou fundo, sentindo o peito apertado. – Ele nunca foi o mais carinhoso dos pais, mas agora passou dos limites.
- Eu sinto muito, . Não queria que fosse eu a te contar essas coisas, mas me senti na obrigação, pois sei o quanto você gosta dele. – respirou fundo e encarou o reflexo do moreno na tela.
- Obrigado, , de verdade. Eu sei que você realmente não gosta do meu pai, mas ainda contou tão educadamente. – Sorriu sem vontade.
- Eu nunca te contaria de outro jeito, meu problema é com ele. – Respondeu. – Dele eu não gosto, mas você eu amo.
- Eu te amo, . – sorriu, secando as lágrimas que começavam a rolar por seu rosto.


6

7 anos antes.
Casa do , 5:52 PM.

jogou a cabeça para trás sentindo a boca de fazendo estragos em seu pescoço. Quando o moreno raspou o dente pela pele branquinha, o loiro enterrou mais seus dedos por seu cabelo, forçando sua cabeça ali, em um pedido silencioso para que ele continuasse. O moreno suspirou, dando mais alguns beijos por ali, então levou suas mãos até a bunda de , apertando-a. Ouviu o gemido arrastado do garoto e sorriu, selando seus lábios.
Sem que eles estivessem esperando, a porta da casa foi aberta e Edward entrou conversando, sessando a conversa logo em seguida, quando seus olhos caíram nos dois se beijando no meio da sala. Seus olhos correram do moreno tatuado para seu filho, focando por muito tempo no pescoço marcado do loiro.
não conseguia respirar. Sentia seu peito apertado, os olhos já ardiam querendo chorar e o coração batia completamente desgovernado no peito. O olhar de decepção e surpresa do pai parecia queimar sua pele.
- Seu filho, Edward? – O senhor que acompanhava Edward perguntou, cortando o silêncio desconfortável que havia pairado.
- Não. – O prefeito respondeu e apertou os ombros de , sentindo o coração apertado.
Seu pai estava o negando por vergonha.
- Não é meu filho não, é o da empregada. – Ele disse voltando seu olhar para o senhor grisalho e depois voltou a olhar para o filho. – Que pouca vergonha é essa na minha casa, garoto? Você sabe que não deveria fazer essas coisas na casa do patrão da sua mãe. – Passou a mãos pelos cabelos, olhando com desprezo para o filho. – Eu vou deixar passar dessa vez, mas não faça isso novamente. – Se virou e apontou para a porta da rua. – Agora vão, saiam da minha frente.
O loiro não conseguia se mover, então grudou em sua mão, o puxando para fora. Assim que a porta foi fechada atrás de si, sentiu o choro finalmente sair, enquanto os braços de o envolviam em um abraço forte. Seu peito queimava de tristeza, decepção, medo, raiva e tantos outros sentimentos ruins.
Seu pai tinha o negado. Disse que era filho da empregada para não admitir que tinha um filho gay. Pelo olhar carregado de decepção do mais velho dos parecia que o loiro havia matado alguém. E talvez seu pai até achasse melhor.

Tempo atual.
A porta da casa de seu pai foi aberta e a empregada sorriu para ele, lhe dando espaço para entrar. Assim que passou pela porta, ouviu o pai lhe chamando e seguiu até ele, que conversava com alguns políticos importantes.
- Pronto, apresento a vocês, meu filho, . – Edward sorriu, abraçando o filho.
- Muito prazer. – O loiro sorriu, apertando a mão de cada um ali.
Os quatro iniciaram uma conversa animada sobre filhos e faculdade, enquanto o ex prefeito se gabava do filho advogado, mesmo que não se orgulhasse verdadeiramente dele nos outros dias. Mas aparências sempre foram mais importantes para o grande Edward e agora não seria diferente.
Algum tempo depois, eles estavam sentados no sofá e torcia para que ninguém conseguisse ver ele rolando os olhos a cada piada idiota contada por seu pai, que o loiro sabia muito bem que eram indiretas.
Respirando fundo, o loiro se levantou, indo atrás de uma taça de champanhe para aguentar os ataques de seu pai. Assim que retornou ao sofá, encontrou seu pai conversando cumprimentando um senhor grisalho que chegava acompanhado de sua mulher e uma moça, que ele deduziu ser sua filha. Edward apontou para o filho e eles se aproximaram.
- , deixa eu te apresentar, este é John Bernard, trabalha na promotoria atualmente, mas ano que vem vai concorrer a deputado. – Ele disse apontando para o homem e o loiro esticou sua mão. – John, esse é meu filho, .
- É um prazer. – sorriu.
- O prazer é meu garoto, seu pai fala muito de você.
- Coisas boas, eu espero. – Brincou e eles riram.
- As melhores. – O homem sorriu e apontou para as duas mulheres ao seu lado. – Essas são Marie, minha esposa e Britanny, minha filha.
- Muito prazer. – sorriu para elas, que retribuíram.
- Britanny tem sua idade, querido. E está cursando o último ano de Direito. – Seu pai disse. – Meu filho se formou em Direito no ano passado.
- Olha só, parece que vocês têm algo em comum. – John disse e o encarou.
- Tenho certeza de que podem achar muito mais coisas em comum. – Edward disse sorrindo para o filho, que lhe olhou estranho.
Algum outro político chamou John e os três foram até ele, deixando pai e filho sozinho. O mais novo encarou seu pai, incrédulo pelas coisas que ele estava fazendo.
- Pai, o que foi aquilo? – Perguntou incomodado.
- Aquilo o que? Não fiz nada demais, filho. – Ele se defendeu e o loiro rolou os olhos.
- Você sabe muito bem o que fez. – Ele disse sério e saiu de perto.
Na hora do jantar, todos se juntaram na mesa e Edward continuava a jogar indiretas para .
- Filho, eu mencionei que a Britanny é solteira? – Perguntou sorrindo e o loiro rolou os olhos.
- Pai...
- Solteira e a procura de um namorado, talvez? – Ele perguntou encarando a garota, que corou.
- CHEGA PAI, PELO AMOR DE DEUS, QUE COISA MAIS CHATA! – gritou, perdendo a paciência.
- , que falta de respeito é essa? – Edward perguntou sério.
- Respeito? E você lá me respeita, pai? – O mais novo perguntou, sentindo seus últimos resquícios de paciência se esvaírem.
- Não fale besteiras, meu filho.
- Não, pai, quem tá falando alguma besteira aqui é você. – Respondeu.
- , deixe de graça, nós conversamos depois. – O ex prefeito disse com a raiva explícita na voz.
- Conversamos depois porra nenhuma! Você tá a noite toda me jogando pra cima dessa garota, que não tem nada a ver com isso, mas não é quem eu quero e você sabe disso pai!
- ... – Edward advertiu, mas já estava com muita raiva para conseguir parar.
- Não adianta fazer essa cara pra mim, chega pai, chega de me esconder. O senhor tem vergonha de mim e não me respeita. – Passou os olhos pela mesa, percebendo que todos assistiam atentamente à discussão. – Eu sou ga...
- ALEXANDER MILLER, CALA ESSA BOCA! – O mais velho gritou, já vermelho de raiva.
- EU SOU GAY, PAI! – gritou em resposta e viu o pai arregalar os olhos. – SEMPRE FUI, MAS O SENHOR INSISTE EM ME JUNTAR COM MULHER. EU GOSTO DE HOMEM, PAI, DE HOMEM. – Passou a mão pelos cabelos. – Sem contar que não me interessa nenhum outro homem a não ser , meu namorado, o homem da minha vida, que você insiste em tratar como lixo.
- CALA A BOCA, CALA ESSA BOCA SEU IDIOTA! – O mais velho gritou, olhando desesperado para seus amigos.
olhou para os amigos do pai, que encaravam a cena chocados e riu.
- Pronto, pai, agora todos sabem e você não vai me fazer esconder o que eu sou. – Ele sorriu. – Ou será que agora você vai atrás do ? Sei lá, oferecer uma grana pra que ele me largue ou algo do tipo? – Os olhos do mais velho se arregalaram. – Sim, ele me contou. Não posso dizer que foi um grande choque, mas a decepção foi grande. – Encarou o pai com os olhos marejados. – Por isso, chega de aturar suas atitudes absurdas contra a minha orientação sexual, chega de aceitar esse relacionamento abusivo que a gente vive. A partir de hoje não precisa mais me procurar, pai, porque eu não faço mais questão. – se levantou, seguindo em direção à porta. – Seja feliz, porque eu, ao lado do , com certeza vou ser.
Fechou a porta atrás de si e sorriu. Estava livre. Pela primeira vez na sua vida, não tinha o medo da reprovação de seu pai. Tinha finalmente se livrado daquela relação abusiva e se sentia melhor que nunca.
A euforia tomava conta de si, algo que ele nunca tinha sentido antes. Sentiu os olhos marejarem e sabia que não era um choro de tristeza, mas de alegria. Gostava de seu pai, mas sabia que ele nunca foi um pai de verdade. A única pessoa que havia lhe apoiado em tudo era sua mãe, ela sim o amava incondicionalmente.
Quase chegando em casa, a imagem de surgiu em sua mente, acompanhada do sorriso que lhe rasgava o rosto. Queria que ele estivesse ali, queria abraçá-lo e pedir para que acabassem com aquilo, não aguentava mais. Então, levado pela felicidade que sentia, procurou o contato dele e iniciou uma ligação.
- ? – Ele atendeu após alguns toques.
- Oi, meu bem. Não fala nada, só me escuta, por favor. – O loiro pediu, sorrindo. – Quando você voltar de viagem a gente precisa se encontrar e se resolver de vez. – Secou algumas lágrimas com a mão e sorriu. – Eu acabei de fazer uma loucura e tenho certeza que você iria adorar ter visto. Eu amei fazer, parece que me libertei, mas agora só consigo pensar no quanto eu queria que você tivesse aqui do meu lado. – Respirou fundo, sentindo mais lágrimas caírem. – Eu te amo, , e não vejo a hora de te ver de novo.


7

Aeroporto, 4:48 PM.
Assim que o avião aterrissou, deu graças a Deus que finalmente podia levantar e andar. Sentia seu corpo inteiro doendo por ter passado tantas horas na mesma posição. Além da cabeça que doía pela falta de sono, já que uma criança havia passado o voo inteiro esgoelando a plenos pulmões e ele não havia conseguido dormir nada.
Pegou a mala na esteira e seguiu para o saguão do aeroporto. Sentou-se em uma cadeira e abriu a conversa com Harry, perguntando onde ele estava.
- Precisando de carona?
Ele não precisou levantar a cabeça para saber exatamente quem era. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo.
.
sorriu e se levantou, sendo abraçado logo em seguida. Passou os braços pelas costas do loiro e fechou os olhos, matando um pouco da saudade que sentiu dele.
- Que saudade. – Murmurou e viu ele assentir.
Respirou fundo, sentindo o cheiro característico do perfume de se misturando com o cheiro do shampoo. Então reparou que até aquele momento não tinha percebido quanta falta havia sentido do outro.
- O que você tá fazendo aqui, meu bem? – Perguntou, calmo, e o encarou.
- Harry me ligou ontem, disse que você chegava hoje e perguntou se eu queria vim com ele te buscar, aí eu perguntei se podia vim sozinho, porque queria muito te ver. – O loiro explicou.
sorriu e passou o nariz pela bochecha dele, depositando um beijo demorado por ali.
- Vamos? – Ele chamou e assentiu.
Um tempo depois, os dois estavam com o carro estacionado no estacionamento do McDonald’s, tomando sorvete e matando a saudade. estava com os pés no vidro, enquanto estava sentado de lado, virado para o loiro, rindo de qualquer besteira que eles tinham falado.
- Você é muito idiota, , pelo amor de Deus. – Ele disse, rindo.
riu e tomou mais um pouco do sorvete. Então encarou o moreno, que ainda ria, e levou sua mão até seu rosto, acariciando-o. Ele sorriu fraco, desenhando cada detalhezinho com a ponta dos dedos. Passou o indicador pelos lábios gelados e sentiu um beijo ser depositado ali. Deixou o sorvete de lado e se aproximou, ainda fazendo carinho no rosto de .
- Eu senti tanto a sua falta. – Murmurou, passando o nariz pela bochecha do moreno. – Não sei o que a gente vai fazer, , mas ficar longe de você não é uma opção.
- Vamos dar um jeito, meu bem. – Ele sorriu, retribuindo o carinho no rosto.
sorriu, se aproximando mais e selou seus lábios nos dele. O loiro enterrou sua mão no cabelo de , puxando-o para mais perto, enquanto sentia sua cintura ser apertada por ele.
mordeu o lábio inferior do loiro e impulsionou suas mãos em sua cintura, puxando-o para seu colo. pulou por cima da marcha e passou suas pernas pela cintura dele. Com o outro no colo, o moreno intensificou ainda mais o beijo.
passou as unhas curtas pelo pescoço de e ele sentiu seu corpo inteiro se arrepiar. Cortou o beijo com alguns selinhos e encostou sua testa na do loiro, procurando normalizar sua respiração.
- Eu preciso dormir. – Disse, baixo. – Você pode me levar pra casa do Harry?
- Dorme lá em casa. – disse e o moreno abriu os olhos para encará-lo. – Dormir mesmo, bebê.
- Tô morrendo de saudade de dormir no nosso apartamento. – Ele sorriu, selando seus lábios nos do loiro, e deu dois tapinhas fracos em sua cocha, o que fez ele voltar para o banco do motorista. – Vamos então.
deu partida no carro e seguiu para o apartamento dos dois. Assim que entraram, olhou em volta e sorriu. Sentia-se diferente das últimas vezes que esteve ali, talvez ele e estivessem finalmente se encontrando. Ainda sustentando o sorriso, ele procurou o loiro com os olhos e o puxou para um abraço apertado, plantando um beijo em sua testa.
- Quer tomar um banho?
- Não, meu bem, só quero dormir mesmo. – Sorriu. – Você vem comigo?
- Você quer? – Indagou manhoso e o moreno assentiu.
- Tô morrendo de saudade de dormir com você. – Disse e selou seus lábios nos do outro.
- Então vamos pro nosso quarto. – O loiro disse, puxando-o pelo corredor.
Os dois escovaram os dentes, colocaram os pijamas e se jogaram na cama. puxou para deitar em seu peito e o abraçou forte.
- Você disse que tinha algo pra me contar. – Disse, lembrando da ligação esquisita do loiro, e ele riu.
- Eu cortei relações com meu pai. – Murmurou.
- Definitivamente? – O moreno indagou e ele assentiu. – O que aconteceu? Foi por causa da ligação?
- Também. Na verdade, foi a junção de tudo que ele já me fez, acho que eu esgotei. – Disse o encarando. – Naquele dia que eu te liguei ele tinha me chamado pra um jantar na casa dele, tinha um monte de políticos, aqueles amigos dele de sempre, enfim... Estava tudo indo ok, até chegar um cara acompanhado da filha e ele ficar jogando a menina pra cima de mim. – rolou os olhos, sentindo o carinho gostoso que o moreno fazia em si. – Teve uma hora que eu não aguentei e estourei. Falei pra todo mundo ali ouvir que eu sou gay e que ele não me aceitava, que não respeitava você e o nosso namoro... – Sentiu um beijo ser depositado na sua testa e sorriu. – Chutei o balde de vez. Disse que ele não precisava mais me procurar porque que eu não vou atrás dele.
- E ele?
- Ele gritou pra que eu não contasse, mas eu estava tão cheio de ter que esconder isso que não liguei, continuei falando até o fim. – Deu de ombros. – Depois ele ficou quieto e eu saí de lá antes que ele falasse comigo.
- Desde então ele não te procurou mais?
- Não, mas eu tô bem, , coisa que eu não imaginava que iria ficar. – Sorriu fraco. – Eu demorei muito pra me libertar disso e só agora eu percebo como era abusivo. O que ele fazia comigo, com você, com a nossa relação... Não estava certo.
- Não, não estava. – disse. – Seu pai nunca gostou de mim, mas eu sempre te disse que minha opinião sobre ele era imparcial, porque eu conseguia ver claramente o que ele fazia com você. – Sorriu acariciando o rosto do loiro. – Eu fico muito feliz e orgulhoso que você tenha conseguido se libertar de toda essa toxidade, mas muito triste por ele ter sido sempre tão tóxico com você porque apesar de tudo, ele é seu pai.
- Ele nunca foi meu pai de verdade. – Suspirou. – Nunca me senti acolhido por ele como eu me sentia com a minha mãe, nunca me senti amado de verdade... Não perdi muito.
- Sinto muito por isso. – Beijou a testa do loiro. – Você é incrível, meu bem, e merecia ter um pai que te amasse e respeitasse como merece.
- Obrigado. – Sorriu.
- Eu vou estar sempre do seu lado pro que você precisar6
. – Murmurou e beijou a bochecha do loiro, que o apertou mais no abraço. – Eu amo você, meu bem.
Quando acordou, tateou a cama em busca do calor do corpo de , mas ele não estava mais ali. Então, abriu os olhou devagar e procurou por ele, mas também não encontrou nenhum sinal. Enrolou na cama mais um pouco e levantou, vendo o céu escuro pela janela.
Quando pegou o celular, sorriu ao ver a mensagem de .
Bebê: Vim pra casa do Harry, meu bem.
PS: Estava morrendo de saudade de dormir com você.
Se jogou na frente da televisão e zapeou pelos canais, deixando em um filme qualquer. Não estava afim de assistir nada. Sentia sua mente inundada por e não conseguia se concentrar no que passava. Só conseguia pensar em como tinha dormido melhor naquela tarde, ao lado dele, do que em todas as outras noites que estava sozinho. Já estavam há mais de um mês dando um tempo e o loiro só queria que tudo se resolvesse, para que eles pudessem voltar a ser o que eram antes.
Distraído com seus próprios pensamentos, não percebeu quando o filme acabou e só foi se dar conta quando olhou para a televisão e percebeu que estava passando o jornal. Com preguiça de levantar, ficou por ali, até se engasgar com o ar ao ver uma reportagem sobre seu pai. Seu coração se apertou na hora, talvez finalmente se dando conta de que tinham rompido os laços.
Com 23 anos, tinha aprendido a ter o pai por perto. Mesmo que ele não fosse o melhor de todos e eles tivessem se afastado muito, o loiro sabia que podia ligar para o mais velho quando quisesse. E ele ainda podia, mas não queria. Tinha finalmente percebido a relação tóxica que tinha com ele e não queria mais passar por isso.
Com o choro entalado na garganta, soltou o primeiro soluço quando seu olhar caiu no porta-retratos que tinha uma foto sua e de sua mãe. As lágrimas começaram a correr por seu rosto e ele sorriu triste sentindo o coração doer de saudades da melhor mãe que ele poderia ter tido.

5 anos e oito meses antes.
Casa do , 2:46 AM.


O celular de tocou, fazendo um barulho infernal. Ele bufou e tateou sua cama em busca do mesmo. Assim que encontrou, olhou o visor, mesmo com a visão embaçada pelo sono e sorriu fraco ao ver o nome de piscando no visor.
- Oi, bebê. – Disse baixo.
- ? – Uma voz desconhecida o chamou, fazendo ele franzir o cenho.
- Quem é? – Perguntou, confuso.
- É o Harry, melhor amigo do . – Respondeu e o loiro vasculhou a mente tentando se lembrar dele.
- Ah, oi Harry. – Respondeu, finalmente se lembrando que o moreno já havia falado sobre o amigo. – Aconteceu alguma coisa? Cadê o ?
- Você tá sentado?
- Sentado? São quase três da manhã, eu tô deitado. – Disse. – O que aconteceu? Cadê o ?
- Desculpa pelo horário, mas eu achei que você ia querer saber. – Ouviu o outro dizer do outro lado da linha e sentiu seu coração apertar.
- Fala logo, Harry, o que aconteceu? Cadê meu namorado? – Indagou já nervoso.
- Ele chegou em casa e encontrou o padrasto batendo na mãe dele de novo. Os dois brigaram feio e ele ficou desacordado. – sentiu o choro batendo na garganta. – A mãe dele me ligou preocupada, disse que queria falar com você, mas não tinha seu número.
- Você tá na casa dele ainda? – Perguntou se levantando da cama. – Eu tô indo aí.
- Não, eu o trouxe pro hospital. – Respondeu. – Estamos no pronto socorro.
- Eu tô chegando, Harry. – O loiro disse, abrindo o guarda roupa e puxando a primeira roupa que viu pela frente. – Vou desligar pra poder me arrumar, se acontecer algo você me liga imediatamente, ok?
- Pode deixar.

Quando a ligação foi encerrada, sentia como se seus órgãos estivessem encharcados de água, porque tudo dentro dele parecia pesar uma tonelada. Terminou de se vestir, mesmo com os olhos embaçados pelas lágrimas e saiu do quarto, já procurando o número de um táxi. Sabia que não tinha a mínima condição de dirigir naquele estado e as mãos trêmulas denunciavam isso.
Completamente atordoado, chegou a sala e encostou no sofá tentando se concentrar para chamar o táxi.
- ? – Ouviu sua mãe o chamar e a encarou.
Brianna viu o filho com os olhos cheios d’água e sentiu o coração apertar. Desceu os últimos degraus da escada e correu até ele, o envolvendo em um abraço apertado.
- O que aconteceu, meu amor? – Perguntou preocupada.
- Um amigo... Um amigo meu apanhou do padrasto e foi parar no hospital. – disse e a mãe o encarou. – Eu preciso ir pro hospital, tô tentando chamar um táxi.
- Não precisa de táxi meu amor, eu te levo. – Ela sorriu. – Você espera eu trocar de roupa?
Vendo o filho assentir positivamente, Brianna beijou sua testa e subiu as escadas, indo direto para seu quarto. Trocou o pijama por uma roupa simples, escovou os dentes, pegou sua bolsa e desceu. Quando chegou na sala sentiu seu coração se quebrar me mil pedaços, vendo seu filho deitado no sofá com a cabeça abaixada. Os ombros dele se mexiam, denunciando que ele estava chorando.
- Vem, meu amor, vamos ver seu amigo. – Ela disse chegando até ele, que levantou e a encarou com os olhos vermelhos e molhados.
O caminho até o hospital foi silencioso. fungava baixinho, enquanto olhava perdido pela janela. Assim que passaram pela porta da emergência do hospital, um garoto com os cabelos amarrados em um coque se aproximou.
- ?
- Harry? – Perguntou incerto e viu o outro assentir. – Como ele tá?
- Eu não sei, levaram ele lá pra dentro e não me deram mais notícias. – Ele disse, com a preocupação evidente na voz.
Brianna viu o filho murchar e soltar um soluço baixo. Nunca tinha visto tão mal daquele jeito, era sempre reservado, não demonstrava sentimentos e gostava de se fazer de forte, mas agora parecia despedaçado, sem forças para esconder tudo aquilo.
O loiro respirou fundo, tentando controlar seu choro, e seguiu até o balcão, sorrindo o mais docemente que conseguiu para a atendente.
- Por favor, eu preciso de uma informação sobre o estado de um paciente. – Disse encarando-a.
- O senhor é parente? – Ela perguntou e ele negou. – Sinto muito, só podemos dar informações de pacientes para parentes.
- Moça, por favor, eu preciso muito saber como ele tá. – Pediu, agoniado, mas ela não pareceu se importar.
- Me desculpe, apenas parentes.
- Os parentes deles não vão vim. – Harry disse chegando perto deles. – A mãe tá tentando acalmar o marido, que foi quem o machucou, e o pai já morreu. Tudo que ele tem somos nós dois, só a gente vem, moça, pelo amor de Deus.
- Se ele tem mãe viva, ela precisa vim. – Ela disse com má vontade e caiu no choro.
- A senhora sabe quem eu sou? – Brianna perguntou chegando perto e viu a mulher negar. – Eu sou a primeira dama dessa cidade, meu marido é o prefeito e esse garoto que está aqui é amigo da nossa família. Nós precisamos vê-lo. Agora.
- Senhora, como eu ia... – A mulher começou a falar, mas foi interrompida por um médico.
- Judith, deixe comigo. – O homem disse para a recepcionista, que assentiu. – Eu sou o doutor Phillip, cirurgião chefe aqui do hospital. – Ele esticou a mão para a mulher, que a apertou. – Qual o nome do paciente que vocês querem notícias?
- . – disse e ele assentiu, passando por trás do balcão e digitando algumas coisas no computador.
- A ficha dele já foi feita, o que indica que ele já passou pela triagem. – Disse encarando a tela. – Pediram uma tomografia para averiguar a situação cerebral, porque ele chegou desacordado aqui, mas ainda não foi feita.
- Como assim não foi feita? – Harry perguntou. – A gente chegou aqui já tem mais de uma hora.
- Ele está na ala pública e estamos lotados. – O médico se explicou. – Vou ver se consigo agilizar algo, mas provavelmente ainda vá demorar uma meia hora.
- Meia hora? – perguntou, desesperado. – Isso é muito tempo, se ele tiver algo no cérebro pode ser tarde.
- Transfira o paciente para a ala particular, eu vou cuidar de todas as despesas dele. – Brianna disse. – Leve esse garoto o mais rápido possível para a tomografia e já peça para arrumarem um quarto para ele.
O doutor assentiu e saiu de perto deles, indo providenciar o que foi pedido. olhou para a mãe, sentindo seu coração bater um pouquinho mais aliviado, mesmo que ainda estivesse muito preocupado.
- Obrigado, mãe. Muito obrigado! – Ele disse a abraçando e ela sorriu.
- Não precisa me agradecer, meu amor. – Disse o encarando e secando suas lágrimas. – Vai ficar tudo bem com o seu amigo.
- Obrigado, senhora. – Harry sorriu para ela, que retribuiu.
Logo uma funcionária os chamou para irem até a ala de espera da ala particular do hospital. Milagrosamente com a menção da primeira dama, já tinha sido levado para a tomografia e eles estavam o examinando.
andava tanto de um lado para o outro que Brianna tinha certeza de que ele logo abriria um buraco no chão. Porém, sabia que se ele estava abalado nesse nível, que não conseguia nem esconder o sofrimento, ele nunca iria conseguir se acalmar.
Quando o doutor Phillip passou pela porta, o loiro correu até ele, o olhando com os olhos suplicando por uma boa notícia.
- Como ele tá doutor? – Perguntou, nervoso.
- Fizemos todos os exames necessários e felizmente, apesar da perda de consciência, o garoto não sofreu nada mais grave.
- Graças a Deus. – Brianna sorriu e abraçou seu filho. – Viu, meu amor? Eu disse que ia ficar tudo bem.
- Isso quer dizer que ele tá bem, doutor? Bem de verdade? – Indagou e viu o médico assentir.
- Ele está machucado, com escoriações e roxos no corpo, mas está bem e não corre nenhum risco.
- Eu posso vê-lo? – O loiro perguntou e o doutor assentiu.
- Venham comigo. – Ele disse apontando para o corredor de onde tinha vindo. – Ele já acordou, mas foi medicado e talvez esteja um pouco grogue. - Eles pararam em frente à um dos quartos e ele segurou a maçaneta. – Não deixem ele se esforçar muito.
Phillip abriu a porta e os três entraram. sentiu seu coração se apertar vendo deitado na maca, com o rosto todo machucado. Olhou para Harry, que o encorajou, então se aproximou levemente, parando ao seu lado. Com cuidado, levou uma mão até seu rosto, tentando fazer um carinho sem machucá-lo. Sentia seu coração pequenininho ao ver tantas marcas roxas salpicando a pele branca.
Fungou baixinho e se mexeu incomodado, abrindo os olhou em seguida. Assim que reconheceu , sorriu pequeno, aproveitando o carinho que recebia no rosto.
- Meu bem. – Disse, baixinho. – Você veio.
- É lógico que eu vim. – Respondeu. – Você sequer cogitou a hipótese de eu te deixar sozinho no hospital?
- Ele veio assim que eu avisei. – Harry disse se aproximando. – Que susto você me deu, seu idiota!
- Desculpa. – Pediu e viu o amigo negar. – Nem acredito que vocês se conheceram.
- Em um péssimo momento, mas finalmente conheci o famoso . – Harry riu e encarou o amigo. – Pelo pouco que vi, já gostei dele.
sorriu e entrelaçou seus dedos nos de . O loiro levantou o olhar até sua mãe, que encava as mãos dos dois unidas. Ele sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem. Nunca contou para ninguém que era gay, a não ser Matthew.
- Mãe. – Ele chamou e arregalou os olhos, seguindo seu olhar e olhando para sua sogra. – Esse é o .
- Muito prazer. – Ela sorriu para o moreno, que retribuiu e apertou a mão do namorado. – Está melhor?
- Tô sim, obrigado. – Disse, sem graça.
- Mãe, eu... – começou a falar, sentindo sua voz falhar. – Eu tenho uma coisa pra te contar.
Brianna sorriu e negou com a cabeça. Andou até ele e o envolveu em um a braço apertado, sentindo-se verdadeiramente feliz por finalmente ter tido coragem de lhe contar.
- Não precisa. – Ela beijou a testa do filho. – Eu já sei.
- Sabe? – Ele perguntou com os olhos arregalados e ela assentiu.
- Eu sempre soube, meu amor. – Ela sorriu com os olhos marejados. – E eu fico muito feliz que você finalmente confiou em mim o suficiente para me contar.
- Você não me odeia? Não tem vergonha ou nojo de mim? – Perguntou e viu a mãe negar.
- , você é o maior amor da minha vida. Eu te amo incondicionalmente, não importa sua orientação sexual. – Ela acariciou seu rosto.
- Mãe! – Ele choramingou e a abraçou pelos ombros, apertando forte o abraço. – Eu te amo.
- Agora, não vai me apresentar não? – Ela perguntou apontando com a cabeça para e riu.
- Esse é o , meu namorado. – Ele sorriu apontando para o moreno. – , essa é a minha mãe, Brianna.
- É um prazer. – disse sorrindo um pouco envergonhado.
- O prazer é meu em finalmente conhecer o rapaz que coloca esse sorriso lindo no rosto do meu menino. – Respondeu. – Obrigada, .
O moreno sorriu, mais sem graça ainda, e foi abraçado por , que depositou um beijo em sua bochecha. sabia que seu pai não seria tão compreensivo quanto sua mãe, mas ela havia o aceitado tão bem que naquele momento não havia espaço para outro sentimento que não fosse alegria.


8

Tempo atual.
Cemitério, 3:28 PM.


suspirou enquanto encava a lápide. Sentia seu rosto sendo lavado pelas lágrimas e não fazia questão nenhuma de tentar pará-las. Visitava o cemitério pelo menos uma vez por mês, onde expulsava todas suas mágoas e preocupações enquanto conversava com sua mãe.
- Ele voltou de viagem, a gente dormiu juntos, mas ele continua na casa do Harry e as coisas ainda estão estranhas. – Suspirou. – Eu não sei mais o que fazer, mãe. – Encarou a lápide e abaixou a cabeça. – As vezes parece que a gente entrou em um labirinto cheio de portas. Eu o escuto atrás das portas, mas ele parece estar longe, e eu não sei o caminho até lá. – Passou a mão pelos cabelos. – Eu queria tanto que você tivesse aqui. Talvez você soubesse o que fazer nessa situação, porque eu me sinto tão perdido, tão longe do e mesmo assim tão conectado a ele. – Olhou para céu e fechou os olhos. – Eu amo tanto aquele idiota, cada dia que passa parece que amo mais, e eu sei que ele me ama também, mas ele não parece tão afetado quanto eu. – Sentiu mais lágrimas correrem livremente por seu rosto e deixou. – Eu não quero perde-lo, mãe. Me ajuda, por favor, me ajuda!
Finalmente se entregou ao choro e abaixou a cabeça, sentido as lágrimas molhando suas bochechas. Soltava pequenos soluços, enquanto encarava a foto de sua mãe sorrindo. Em momentos como esse, quando falava sozinho no cemitério, percebia verdadeiramente toda a falta que ela fazia, o que o deixava ainda mais triste.
Sentiu um par de braços lhe abraçar e se assustou, mas não precisou olhar para saber quem era. Quando aquele perfume inconfundível chegou até si, apenas se virou e retribuiu o abraço, chorando ainda mais, enquanto sentia o carinho que recebia no cabelo.
acariciava os cabelos do loiro, o apertando em seu abraço, deixando que ele liberasse toda a dor que estava sentindo. Sabia que Brianna era a pessoa que mais sentia falta no mundo e compreendia perfeitamente, primeiro porque era sua mãe e segundo porque até ele sentia falta da pessoa maravilhosa que era sua sogra. Por diversas vezes recorreu a ela quando precisava de algo e não à sua própria mãe.
Enquanto sentia as mãos de apertando seu moletom, levou sua boca até sua testa e depositou um beijo ali. Desceu a boca para sua têmpora e beijou outra vez, sem interromper o carinho em seu cabelo. Deitou a cabeça do loiro em seu peito e apoiou o queixo em sua cabeça, sentindo o choro cessar aos poucos.
- Como você sabia que eu estava aqui? – O loiro indagou quando conseguiu parar de chorar.
- Matthew me disse que você tinha saído para esfriar a cabeça. – Sorriu fraco, beijando a bochecha dele, enquanto ele ainda fungava. – Eu te conheço e sei que você esfria a cabeça conversando com a sua mãe, então vim te procurar.
- Obrigado. – Sorriu em meio as fungadas.
- Não precisa agradecer, meu bem. – Beijou a outra bochecha. – Já terminou de conversar com ela ou quer privacidade?
- Já terminei. – respondeu e se soltou do abraço, abaixando em frente à lápide. – Tchau, mãezinha. Obrigado por me escutar, como sempre. Eu te amo.
Ele se levantou novamente e o puxou para um abraço, enquanto iam em silêncio para o carro. O caminho inteiro foi feito em silêncio e sorria olhando para a mão do moreno apoiada em seu joelho. Quando estacionou o carro, olhou para o loiro, levando uma mão para acariciar seu rosto.
- Sabe o casamento daquele meu amigo lá no Brasil? – Indagou e viu o loiro assentir. – Quer ir comigo?
assentiu, fechando os olhos e aproveitando o carinho gostoso que recebia. Então sentiu os lábios de nos seus e sorriu.

Duas semanas depois.
Festa do casamento, 8:00 PM.

passou os olhos pela praia procurando por , até avistá-lo mais afastado da festa, então sorriu e se aproximou. O loiro percebeu a movimentação e se virou, sorrindo em seguida.
- Oi, meu bem. – disse, se sentando ao seu lado na areia. – Por que você tá tão afastado da festa?
- Oi, lindo. – Sorriu. – Eu só estava tentando organizar meus pensamentos, sei lá, o discurso do padre mexeu comigo. – Encarou o moreno. – Ele falando sobre as pedras no caminho de um casal, as dificuldades que eles enfrentam, mas que a força de um vem do outro. – Respirou fundo. – Eu sei que não somos casados, mas me lembrou a gente.
- Me lembrou a gente também. – disse, acariciando o rosto do loiro. – Parecia que ele estava fazendo aquele discurso pra gente, só faltava falar e , esse é pra vocês.
riu e jogou a cabeça para trás sentindo-se leve. Ele não sabia explicar, mas algo entre ele e estava diferente. A relação parecia estar mais leve, do mesmo jeito que era no começo.
- Enquanto eu o ouvia falar, fiquei pensando em tudo que a gente já passou. Brigas, a morte da minha mãe, meu pai, esse tempo separados... Parece que a gente sobreviveu a uma vida de tanta coisa que passamos e continuamos aqui. – sorriu. – Eu não acredito em coisas que acontecem por acaso. Acredito em coisas que estão destinadas a acontecer e que o universo vai moldando situações pra fazê-las acontecerem. – Ele se aproximou do moreno e beijou sua bochecha. – Acho que o destino queria que a gente escutasse esse discurso e que ele foi feito pra gente sim. – Roçou sua boca na de e sorriu. – Por isso, meu amor, agora mais do que nunca, tenho certeza que a gente consegue vencer qualquer pedra no nosso caminho se estivermos juntos. Acredito que vencemos essa, porque eu não aguento mais de saudades de você.
colou sua testa na de , ficando com o rosto tão colado no dele que sentia a respiração dele ricochetear no seu. Ele acariciou a bochecha do moreno com a mão e sorriu o encarando.
- Eu amo você, meu bem. – disse, o olhando no fundo dos olhos e seu sorriso aumentou ainda mais.
Sem precisar dizer mais nada, o moreno acabou com a pequena distância entre os dois, selando seus lábios. As mãos de foram direto para o pescoço do moreno, puxando-o para si. impulsionou o corpo e ficou por cima de , deitando-o na areia, com uma perna de cada lado.
- Namora comigo, meu bem? – pediu, brincando, e arrancou uma gargalhada gostosa do loiro. – Eu sei que nós não terminamos, mas nunca ficamos tanto tempo separados assim.
- Como eu disse da primeira vez que você pediu: Esse é o sim mais fácil da minha vida. – Sorriu. – Sim, mil vezes sim, meu amor.


Epílogo

Um ano depois.
Capela em Las Vegas, 9:57 PM.

- Vem, , a gente vai se atrasar! – disse rindo, enquanto eles corriam pelas ruas de Las Vegas.
Pararam em frente à capela exatamente às 10h da noite em ponto, horário que o casamento estava marcado. Logo que pagaram a última parcela, a balconista os levou até o saguão.
entrou na capela, onde o juiz de paz vestido de Elvis Presley já o esperava. Ele sorriu para o moreno assim que o viu e estendeu sua mão, que foi apertada por .
- E então, meu jovem, estou à altura desse casamento? – Perguntou o encarando e ele assentiu rindo. – Fico muito feliz em celebrar o seu casamento. Será um prazer!
- O prazer é nosso. – respondeu e se posicionou em seu lugar.
A marcha nupcial começou a tocar e logo a porta da capela se abriu, revelando , que trajava um terno branco, e sorria. Ele caminhou pelo corredor, até parar na frente do namorado, que o recebeu com um sorriso e um beijo na testa. Os dois se viraram para o cosplay de Elvis Presley e ele começou a cerimônia.
O sorriso tomava conta do rosto dos dois. Enquanto ouviam o juiz falar sobre os compromissos do casamento.
- , é de livre e espontânea vontade que aceita como seu marido? – O Elvis indagou e o loiro sorriu.
- Sim. – Respondeu.
- , é de livre e espontânea vontade que aceita como seu marido?
- Sim. – O moreno sorriu.
- Pelo poder que me foi investido eu vos declaro casados. – Elvis anunciou e os dois se encararam, sorrindo mais do que podiam. – Podem se beijar.
O moreno se aproximou, puxando pela cintura e colando seu lábio no dele. Sentiu a mão dele se enterrar em seu cabelo sorriu em meio ao beijo, apertando de leve a cintura dele.
sorriu, sentindo as borboletas fazendo a festa em seu estômago, e riu. Era a oitava vez que casavam e ainda ficava nervoso. Tinha sido assim na Inglaterra, Paris, Seul, Barcelona, Roma, Berlim, São Paulo e agora Las Vegas. Mas também, com todo o amor que sentia por aquele homem, não imaginava o dia em que não sentiria frio na barriga ao estar do seu lado.
Depois de se despedirem do Elvis Presley, saíram pelas ruas de Las Vegas. Entraram em um cassino, indo direto ao bar. Pediram duas cervejas e, quando elas chegaram, brindaram.
- Viva os noivos. – disse rindo e o acompanhou.
- Mais um casamento pra nossa conta, meu bem. – O moreno disse, sorrindo, e o loiro assentiu. – Próxima parada: Califórnia.
- E depois, pra onde vamos? – perguntou, roçando seus lábios nos de .
- Pra onde você quiser. – respondeu. – Com você eu vou até a lua, meu bem. – O moreno sussurrou, colando sua boca na de seu, agora, marido.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.



Eu estou apaixonada por essa fanfic, Má! Assim que o ficstape sair eu vou divulgar para todo mundo! Parabéns!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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