10. Dear My Friend

Finalizada em: 02/11/2021.

Capítulo Único

Quando recebeu aquela ligação, foi como se seu mundo tivesse ruído, pegou o carro e dirigiu o mais rápido possível, mas o centro de detenção de Seul em Anyang era muito longe de onde ele estava naquele momento, comemorando mais um prêmio que tinha ganhado com seu grupo atual. Não podia ser verdade, precisava ver com seus próprios olhos. Quando chegou lá já era tarde demais para visitas então se hospedou em um hotel, mas antes de deixar a penitenciária recebeu uma "carta" do agente penitenciário, que estava no destinado a ele, no meio das coisas dele que foram recolhidas. Se sentou na beirada daquela cama dura, porque não procurou um bom hotel, só foi no que ficava mais perto dali e abriu o envelope, que tinha seu nome secreto com tinta azul de uma caneta esferográfica qualquer.

"Até hoje, como sempre, como todos os dias, como um sentimento imutável, eu sinto e sinto a sua falta.
Até hoje, como sempre, como todos os dias as nossas memórias me assombram, como éramos felizes juntos, como fomos bons um para o outro.
Talvez, se, por acaso, eu tivesse te pego, te pego não, essa não é a palavra certa, se eu tivesse te impedido, se eu não tivesse te deixado partir naquele dia. Se eu insistisse que você ficasse em Daegu comigo, se não tivesse seguido seus sonhos, se nossa amizade continuasse a mesma daqueles tempos felizes. Se eu tivesse parado você naquele dia, te impedido de pegar aquele trem você ainda seria meu amigo? Como seria se você estivesse ao meu lado vendo o que eu me tornei? Ainda sim, seríamos amigos?

Eu sinto saudade, saudade de novo, saudades de tudo, saudades de você, saudades de nós.

Seu amigo wan)"


As lágrimas quentes escorriam pelos olhos dele. Estava frio aquela noite, as janelas estavam escancaradas, porque, assim que viu a caligrafia naquele papel o ar faltou de seus pulmões, reconheceria aquela letra mesmo que estivesse cego, então precisava de ar, muito ar, mesmo que congelasse ali, que qualquer coisa acontecesse, não podia acreditar que era verdade, que aquele com quem passou toda sua infância, e início da vida adulta estava naquela situação. Deixou o celular jogado em algum canto que nem se deu conta porque não estava ligando para mais nada, deitou na cama encolhido no meio dela, sem ao menos tirar os sapatos e ficou pensando naquelas palavras, se eles continuassem juntos, o que será que aconteceria? Se ele tivesse o levado com ele para Seul? Insistido para que ele saísse daquela vida miserável que levavam na cidade natal, e tentasse algo diferente na cidade grande? Será que ele estaria em outra posição naquele momento? Ou se ele não tivesse aceito o convite para aquela audição? Se não tivesse se mudado, se tivesse ainda naquela vida, ele também estaria daquela maneira?
Todas essas questões martelavam a cabeça dele, quando acordou na manhã seguinte, e quando pegou o celular viu algumas mensagens e ligações de seus companheiros de grupo, preocupados com como ele saiu abalado do evento na noite anterior e da namorada, que estava igualmente preocupada. Não teve energia de responder a ninguém, pegou suas coisas, e saiu, tinha horário de visita logo pela manhã e ele precisava fazer aquilo. Precisava, por ele e pelo amigo de tanto tempo. Chegou na frente do centro de detenção e sentiu um calafrio percorrer o corpo, estava nervoso mas precisava fazer aquilo. Entrou, respirando fundo, se identificou e ficou sentado naquele banco frio, atrás daquela cabine de vidro blindada, esperando que o amigo aparecesse do outro lado. Não demorou muito para ver ele naquele macacão azul marinho, camiseta e sapatos brancos, algemas e o cabelo raspado, estava mais magro e com linhas fortes de expressão e um olhar, que não era aquele que ele conhecia, tinha algo diferente naquele olhar. Pegou o telefone do gancho, assim que viu o outro fazendo e começou a falar.

— Meu querido amigo, como você está? — Disse amigável, mas com um nó na garganta, não recebendo nenhuma resposta dele. — Eu estou ótimo, como você deve saber, eu presumo! — Mesmo afastados, ele sabia que as pessoas tinham conhecimento do sucesso dele com o grupo.
— Meu querido amigo, eu vou ser sincero! — Foram as primeiras palavras que wan) disse, depois de tudo. — Eu ainda te odeio pra caralho. — Abriu um sorriso amarelo.
— Ainda lembro dos dias que estivemos juntos, as incontáveis vezes que passeamos por todos os lugares de Daegu juntos, era nosso lugar, a nossa casa, nós não tínhamos medo de nada naquela época. — O tom estava um pouco mais animado, mas seu semblante estava vazio. — lembra, que costumávamos dizer: Se estamos juntos, até o mundo não é assustador, e não era mesmo, era como se tivéssemos super poderes, e… — Respirou fundo olhando nos olhos de . — E agora nós percorremos caminhos completamente diferentes.
— Você também se lembra desses dias? — perguntou a , pensou que só ele vivia a nostalgia daqueles dias às vezes, era um pensamento egoísta, mas não tinha como saber se o amigo também guardava com carinho e saudade, aquelas lembranças. — Acho que foi em Apsan Park, meu dia favorito do nosso último verão juntos, aquela conversa que tivemos enquanto bebíamos soju, sobre a ambição que tínhamos de conquistar o mundo, mudou a minha vida. — Aquele tinha sido mesmo um divisor de águas na vida de . Depois daquela conversa, começou a se mostrar mais e enviar suas demos para as empresas em Seul, e decidiu que o mundo todo era o limite para seus sonhos.
— Nós éramos jovens, apenas 20, com grandes sonhos, não é mesmo? — disse relembrando os bons tempos. — De repente perdemos o contato, e aqui estamos, você em frente às câmeras e eu atrás das grades. — Era possível sentir no ar o tom de amargura naquelas últimas palavras.
— Como… O que aconteceu com você, irmão? — sabia por alto que ele tinha sido preso por envolvimento com drogas.
— A vida , ela não sorri para todos, você sabe, estávamos juntos quando éramos dois fodidos, naquela cidadezinha, acho que pensávamos ser o porto seguro um do outro, mas eu acho que era sua âncora, aquele negócio que impede o barco de navegar. Então você zarpou e eu continuei no fundo do mar. — Sua expressão não era triste, embora suas palavras fossem, parecia que ele tinha aceitado aquilo fazia muito tempo, mas era mentira, ele não impedia o crescimento de , era a pessoa que mais incentivava, que o fez acreditar que era possível. Ele só não quis ir junto, não quis deixar Daegu, não tinha um plano traçado, mas eles podiam ter feito aquilo juntos.

O tempo de visita, como estava em um centro “provisório” esperando seu julgamento, não tinham muito tempo para conversas informais. Assim que o guarda entrou na sala, se levantou e saiu, sem olhar para trás.

— Você mudou? Ou eu mudei? — perguntou assim que chegou aquela manhã, para a visita costumeira da semana, desde que o amigo foi preso, ele o visitou todas as semanas até aquela, que era a última sexta-feira antes de seu julgamento. — Eu ainda odeio a forma que esse tempo está passando. — Durante todas aquelas visitas as conversas eram vazias e estranhas e não conseguia mais reconhecer seu melhor amigo.
— Fomos nós que mudamos. — wan) disse, depois do tempo que sempre ficava em silêncio, quando iniciava as conversas, assim que chegava — eu acho nós dois mudamos, olhe para você, cadê aquele cara que underground, estiloso, que fazia rap de verdade — Aquelas palavras atingiram em cheio , já tinha ouvido aquelas besteiras quando iniciou a carreira, de gente que um dia se espelhou ou tinha como exemplo, agora ouvir aquelas palavras de desdém de todo seu trabalho duro, da garganta daquele que sempre esteve ali por ele e pela conquista de seus sonhos, foi algo doloroso e que ele nunca esperava viver. — Sabe, aquele dia, você estava de maquiagem, com o cabelo arrumado, perfume de marca, que aqueles esnobes vendem por rios de dinheiro e esses brinquinhos aí, francamente , você ainda me pergunta se só um de nós mudou? — Ele ria, mas não esboçava nenhum segundo, amava a vida que tinha agora, lutou por tudo, tinha fãs que o amavam pelo mundo todo, aprendeu, que nem ele mesmo se sabotaria mais menosprezando ou diminuindo a sua carreira ou suas conquistas, ele já esteve no palco do Grammy, feito turnês por ESTÁDIOS pelo mundo todo, quando pensou que isso aconteceria com ele, a realidade em que ele vivia atualmente eram muito MUITO melhor que qualquer sonho que ele tinha almejado no passado.

O silêncio tomou conta do lugar, como não poderia, quando aquele clima pesado tinha se instaurado.

— Ei, sabe eu te odeio, não sabe? — disse puxando assunto dessa vez. — Eu te odeio, desde o dia que você chegou no nosso esconderijo com esse seu sorriso de felicidade, que eu sempre vejo nas fotos da internet, me contando as boas novas, te odeio desde o dia que você nunca mais voltou e se estruturou aqui. — Havia verdade em sua voz e sabia disso, pelo menos aquilo ainda existia do velho amigo.
— Eu também não gosto mais de você, — olhou dentro dos olhos dele. — Você se tornou aquele tipo de pessoa que odiávamos quando éramos jovens, se tornou aqueles adultos vazios e que menosprezavam as outras pessoas para se sentirem melhores, se tornou aquilo que juramos que nunca viraríamos e mesmo nesse momento em que eu digo isso, eu sinto sua falta! — Foi sincero também, sentia a falta do amigo sempre, mas a vida aconteceu, e ele sonhava com o dia em que eles se reencontrariam, sempre que ia a Daegu, não conseguia encontrar com ele, mas nunca pensou que seria naquelas condições. E descobriu que sentia a falta do amigo e sozinho sempre que estava no meio daquele longo caminho de três horas que fazia do seu apartamento, até ali naquele centro de detenção, toda semana.

A conversa terminou ali, o tempo deles tinha acabado, e mais uma vez, saiu magoado daquelas visitas que fazia a ele, mas não conseguia não ir, os pais dele não tinham condições de fazer aquilo, por estarem longe e terem certa idade, então, ele o fazia e eles eram amigos caramba, os melhores amigos.

No dia do julgamento e que o libertaram, estava lá! O inverno estava severo com neve pesada. Ele vestia um casaco grosso e roupas quentes, segurava um pedaço grande de tofu, para que wan) cumprisse aquela tradição super utilizada no país e que quase ninguém mais sabia o real significado, mas existia e ele se sentiu um pouco patético quando quando vou um sorriso sacana nos lábios do amigo, que se encolhia no próprio casaco saindo daqueles portões grandes, de ferro.

— E ai, , baixinho como sempre, tinha me esquecido que você é um tampinha. — wan) disse chegando perto de e o abraçando de lado, era visivelmente mais alto que , sempre foi e por um minuto, com aquela brincadeira, pensou que tudo estava como sempre, eles tinham aquela intimidade e aquelas piadinhas internas.
— Falou gigantão. — Ele se permitiu rir, mesmo com aquela sensação de nó na garganta e o estômago levemente embrulhado. — Toma, eu te trouxe tofu. — Entregou o saco preto que envolvia o alimento na direção do amigo.
— Eu não quero me redimir, , meu contato está chegando e me trazendo uma paradinha branca para que eu não quebre essa tradição idiota! — Jogou o Tofu no lixo e viu os olhos dele brilharem, era aquilo que ele precisava, era aquela vida que ele levava e ele estava submerso nela.
— O que? — parou de andar na caminhada que fazia com o amigo, incrédulo com aquelas palavras.
— Qual é , vai me dizer que você nunca usou uma paradinha dessas, ainda mais nesse meio em que você está inserido. — Disse como se fosse normal, como se todos artistas usassem drogas, e pela forma que ele desdenhava a vida de artista que levava, fazia parecer que só usando aquelas coisas, as pessoas conseguiam seguir aquela vida.
— Como você se transformou nisso? Presta a atenção no que você está falando cara. — Estava com raiva, estava verdadeiramente puto, ele mais que ninguém sabia como odiava aquelas coisas, e nem era porque eram coisas proibidas, mas ele tinha péssimas lembranças com pessoas dependentes, e ele sabia daquele “trauma” para jogar aquelas coisas daquela maneira.
— O que foi? — Olhou para trás, para avistar o amigo que havia parado. — ah é, você tem aquela frescura com seu primo, eu esqueci, foi mal irmão. — Deu os passos atrás que precisava para alcançar o menor que recuou de seu abraço.
— Vai se foder wan), de verdade, eu, cara, eu estou com vontade de vomitar. Você virou uma pessoa completamente diferente, com os olhos pesados, esse seu jeito de falar e de agir comigo e eu acho que com qualquer pessoa ao seu redor, você é alguém que eu não reconheço mais e isso é dolorido. — As lágrimas nos olhos, mas não queria soltar na frente dele, queria socar aquela cara. Nada do que ele falasse iria adiantar, não tinha jeito do amigo voltar — Você se tornou um monstro. O você que eu conheci está morto e o eu que conheceu você está morto também. Eu sei que não foi simplesmente o tempo que nos mudou. — Respirou fundo e se virou, andando para o lado contrário do outro.
— O eu que conheceu está morto , está enterrado naquela maldita cidade e o você que eu conheci está morto igual, enterrado embaixo de toda essa fama, glamour e prêmios ridículos. — Disse enquanto caminhava para a outra direção.

A neve branca e passos para lados opostos os separavam agora, e mais que isso, eles mesmo optaram por aquela separação, não pertenciam mais a vida um do outro, e, talvez, nunca tenham pertencido antes, só estavam acomodados com aquela relação. ficava extremamente triste em pensar aquilo, mas quando não reconheceu wan), teve mesmo aquele sentimento de que naverdade, nunca tinha o conhecido de verdade. Afinal, só conhecemos o que o outro quer nos mostrar, muito dificilmente conhecemos as pessoas de verdade, nem elas se conhecem totalmente.




Fim



Nota da autora: Estamos incrivelmente felizes com essa fanfic, quando a Junx me chamou para escrever com ela, de novo, ainda mais essa música incrível eu tive que aceitar. E nós esperamos do fundo do nosso coração que vocês gostem assim como gostamos de escrever. Como essa é uma das primeiras fanfics da nossa querida Junx ela ainda não tem uma página de autora, mas vocês acham as minhas outras histórias (Jinie) na minha página de autora que vai estar aqui embaixo e também no meu Instagram. E se prepare para mais coisas da Junx por aqui. Até a próxima, beijinhos!





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