10. Everything About You

Última atualização: Fanfic finalizada.

Prólogo

Um dia de Outubro…

Seria impossível que se lembrasse, afinal, quase ninguém guarda lembranças dos seus dois anos de idade. Isso também ocorre com recém-nascidos. Eu, particularmente, não conheço ninguém que se lembre dessa fase da vida, e , como qualquer um, também não se lembrava.
Era uma tarde qualquer de outubro para muitas pessoas, mas uma tarde não tão qualquer para a nossa história. Os pais de e , amigos da época da escola, enfim se reencontravam. Estes com seus três pequenos filhos, aqueles com o seu único. Enquanto os gêmeos Alan e Ricardo, irmãos mais velhos de , no auge de seus cinco anos corriam de um lado para o outro no parque em que se encontravam. , embora sempre tão agitado, permanecia quietinho. Com seus pequenos olhos brilhantes ele observa a bebê nos braços de sua mãe e com quem seu pai brincava, como se ela já pudesse dar boas gargalhadas. Não, ele não sentia o ciúme com o qual a primeiro momento os pais da garotinha acreditavam que ele estivesse. Não, ele apenas tinha se encantado com aquele bebê e esse encantamento se expressava em curiosidade, assim ele não deixava de olhá-la um minuto sequer. Os adultos perceberam o interesse do garotinho, que sentado em um banco alto demais balançava seus all-star azuis, e começaram a supor motivos para tal comportamento, sem, no entanto, chegarem a uma conclusão. Em dado momento, os gêmeos hiperativos, também interessados no assunto, disseram em uníssono como se tivessem combinado (e eles tinham combinado): " gostou da ". Assim. Na lata. Acertando em cheio uma coisa que os adultos não viam e que nem tinha certeza, porque, afinal, ele era uma criança e não tinha parado para pensar muito nisso.
Concordando plenamente com as crianças sempre tão mais perceptivas do que os adultos, as mães soltaram um longo e sonoro "awn", enquanto o pai do garoto o olhava orgulhoso como se pensasse "Esse é o meu garotão!" e os gêmeos voltavam a correr, arrastando o pai para comprar-lhes sorvete. Olhando antes em busca de permissão para a amiga, a mãe de colocou com cuidado a bebê no colo do filho. Ele, por sua vez, agiu como se dependesse somente dele que a garotinha não caísse segurando-a firme, ao ignorar a mãe que mantinha os braços ao redor dos dois, em um aperto que firmava a ambos. Em uma ação que eu considero como mágica, a bebê que dormia desde o início do encontro abriu seus olhinhos no rosto ainda amassado de um recém-nascido, encarou o garotinho por alguns segundos e voltou a seus sonhos, ao passo em que ele soltava uma gargalhada sonora e verdadeira, cheia de uma pureza que só as crianças têm. E se risos de bebês realmente se partem dando origem a fadas, aquele ali deu vida a um milhão delas.

***


Crianças esquecem rápido, alguns diriam: experimente brigar com uma e após algum tempo tentar conversar com ela para ver se ela não conversa. Eu não concordo muito com isso, crianças têm boa memória. Elas só esquecem o desnecessário, como as mágoas. O pequeno não se esqueceu de . Ela não era uma coisa desnecessária.
Sempre quando os pais de ambos se encontravam, dividia seu tempo entre brincar com os gêmeos e observar a bebê, que com tempo, é claro, foi crescendo. Primeiro ela conseguia se sentar, depois engatinhava, dava os primeiros passinhos e por fim, também corria com os meninos. Ela falou, riu, entrou na escola, conheceu suas primeiras amiguinhas, brincou de boneca e de carrinho, andou de bicicleta, ralou o joelho, jogou bola na rua, perdeu os dentes de leite e ficou banguela. Enfim, fez tudo o que o ser criança demanda. Não é preciso dizer que participou de tudo isso. Seu nome foi um dos primeiros a ser pronunciado, ele estudava na mesma escola, ele conhecia as amiguinhas, ele entrava em quase todas as brincadeiras, ele estava sempre lá para conduzi-la a mãe quando ela ralava o joelho. Enquanto isso os gêmeos riam, enganavam os dois mais novos, mandavam neles, e depois os ignoravam, porque, afinal, eles também cresceram. A adolescência chega para todos e as mães daqueles quatro jovens não podiam acreditar que ela chegara tão cedo. cresceu e descobriu o que estava escondido nele, disfarçado sob o papel de melhor amigo. O encantamento que ele sentira tão novo, finalmente dava as caras.


Capítulo Um

It's everything about you, you, you Everything that you do, do, do
From the way that we touch baby
To the way that you kiss on me
It's everything about you, you, you
The way you make it feel new, new, new
Like everybody is just us two
And there's nothing I could point to
It's everything about you, you, you
Everything about you, you, you
It's everything that you do, do, do
It's everything about you

Ele havia permitido aquilo. Havia dado seu consentimento. E até incentivado ela. Mas mesmo assim era impossível não se embriagar de ciúmes vendo , de recém completos quinze anos, ter seu primeiro beijo com um cara que absolutamente não era ele. E por que ele estava vendo? Masoquismo? Idiotice? Ele mesmo havia se perguntando isso muitas vezes e no fim estava certo de que seria pior não ver.
Agora, no entanto, não tinha mais certeza. tinha certeza de sua paixão por desde os quinze anos, ela tinha treze. A princípio, não chegou nela como resultado da soma do ela ser nova demais com o fato de conhecê-la desde sempre. Depois, quando a paixão virou algo mais profundo, bem próximo de amor, ele decidiu que era melhor que ele não fosse o garoto a quem ela beijaria primeiro, muito menos que fosse seu primeiro namorado. Isso porque ele acreditava piamente que, nos dias atuais, ninguém tinha seu primeiro beijo com aquele que seria seu amor para toda a vida. abriria mão de ser o primeiro, mas faria de tudo para ser o último. Então, ele esperaria, até que ela passasse por tantas experiências quanto fossem necessárias, para que no fim ela fosse sua. Sabia que não seria fácil, mas todo o seu discurso e ações estavam intrínsecos ao famoso: “os fins justificam os meios”, e o fim que ele queria fazia jus a todo e qualquer meio. E , bem, com seus treze anos, e, aliás, até o momento, só sentia ciúme da atenção demasiada que as amigas davam para e não gostava de nenhuma namoradinha ou “peguete” que ele arrumava. “Ciúmes de irmãos”, ela pensara. No entanto, se tivesse reparado bem, veria que nunca sentira nada nem perto disso pelos seus dois irmãos de verdade.
- Você tá bem, ? - ela estava radiante. viveu o real sentido de contradição quando, ao vê-la sorrindo daquele jeito, sentiu seu coração aquecer e ao mesmo tempo sufocar-se mais, lembrando-se do motivo por trás daquele mostrar de dentes e brilhar de olhos.
- Tô, mas eu acho que essas luzes aqui estão me tonteando.
- Sempre me deixam tonta também. - ela sentou-se na cadeira ao lado da de e colocou sua mão sobre a coxa dele que estremeceu um pouco.
- Você viu? - perguntou sem saber se estava com vergonha ou não.
- Vi.
- E então?
- E então o quê, ?
- Argh! - fez uma careta.
- Você nunca me chama assim.
Ele apertou o nariz dela, como fazia quando eram mais novos e uma pequena agia tão “fofamente”, como ele mesmo se acostumara a dizer.
- Então o quê, ? - ele sorriu estalando a língua ao pronunciar aquele apelido.
- Como foi minha performance? - o sorriso dela alargou-se mais e ela não pensou muito sobre o quão estranho era aquela pergunta. - Tipo, não ficou parecendo um daqueles “desentupidor de pia”, né? - riu, esperando que ele a acompanhasse. “Até parece que ela faz isso para me provocar” ele pensou. - Né? - ela repetiu apreensiva.
- É, , não ficou.
- E o que mais? - a garota tornou a sorrir. ás vezes era muito inconveniente, concordava, ele esquadrinhou o rosto dela a procura de um sinal de que ela estava brincando com a cara dele, sem obter sucesso no fim. Aquela conversa seria estranha mesmo se ele não gostasse dela e parecia não perceber isso.
- Minha cara . - ele suspirou com os olhos fechados em um sinal de impaciência. - Para que eu tivesse um veredicto assim tão detalhado a respeito de sua performance, eu teria que beijar você. - abriu os olhos e a encarou por alguns segundos. sustentou o olhar até que ele levantou-se e a deixou ali, pensando seriamente no que seria beijar . E ela não admitiria, mas a ideia já não lhe soava tão estranha.

***


Cabe deixar claro aqui que não esperou tanto (baseado nos termos atuais) para beijar pela primeira vez, porque ela era uma menina romântica em demasia e que esperava alguém especial para fazê-lo. Não, ela só não tivera oportunidade antes. Não que não houvesse garotos loucos por esse papel, porque havia. Mas porque ter dois irmãos e um pai super protetor não ajudava muito. Agora, no entanto, seus irmãos estavam na faculdade e acobertada por , ela podia e já havia beijado algumas bocas. E, até, construídos curtos relacionamentos e um namoro, dos quais seu pai tomara conhecimento, ela lá sabia como, sem, no entanto, reagir como ela esperava. É claro, que como pai, quase não conseguia acreditar que sua garotinha se transformava a cada dia em uma mulher feita, mas, como um bom conhecedor da vida ele sempre soube que esse dia chegaria e que sua única opção era aceitar. também teve sua porção de namoros e rolos, mas ele sabia, e fazia questão de não iludir aquelas garotas, que aquilo era tudo temporário.
A amizade dos dois nunca mudou, mesmo que ambos tivessem ciúme um do outro, o de aceitado e causado por seu amor por , o dela nunca admitido e ainda disfarçado pelo ótica do “ciúme de irmãos”. Mesmo que brigas surgissem cada vez mais por esses sentimentos, a amizade continuou lá, como um porto à espera, com um pronto para acolher e consertar qualquer ferida do outro e era para lá que eles sempre voltavam.

***


Era verão depois do aniversário de dezenove anos de , e ele se encontravam em uma festa um pouco cheia demais na casa de um conhecido de ambos. O cheiro de drogas lícitas e ilícitas, os corpos que se balançavam e o suor que brotava deles, as bocas que devoravam uma a outra, as luzes baixas; tudo aquilo dava um ar de selvageria e causava um sentimento de aventura tão adorado pelos adolescentes. Os dois amigos, prestes a fazer dezessete anos, estavam separados a algum tempo. Ela dançava com um cara qualquer e ele bebia no bar improvisado enquanto a observava. Depois de quase dois anos, ambos estavam solteiros e sabia que chegara a hora de se aproximar de verdade, mas sabia também, que não poderia em hipótese alguma chegar nela e soltar tudo que estava guardado de cara. Ela se assustaria. E pior, ela fugiria. , então, faria tudo devagar, não tinha pressa, contando que tudo desse certo no fim, ele podia esperar mais um pouco.
Em dado momento, cansada e ligeiramente suada seguia para fora da "pista" rumo ao amigo, quando foi parada por uma de suas amigas de longa data que lhe sussurrou algo no ouvido fazendo-a jogar o pescoço para trás em uma gargalhada alta. A imagem daquele pescoço piscou nitidamente na mente de , fazendo-o tremer quase imperceptivelmente, ele, que claro, com a sua visão típica de um vigiador particular, vira tudo e que levando em conta o olhar que lhe dirigiu em seguida soubera que o assunto do tal sussurro era ele. A curiosidade se acentuou ainda mais no garoto, quando ele viu dar meia volta e voltar a dançar com o cara de antes, que, é óbvio, a recebeu acolhedor demais na opinião temperada em demasia com ciúme de .
O companheiro de dança de aumentava a cada instante o contato entre eles, mesmo que a garota evitasse a cada nova iniciativa os lábios dele, enquanto olhava fixamente para o amigo escorado no balcão que a encarava de volta parecendo tenso demais.
" tá morrendo de ciúmes de você" dissera Isabela, uma das várias amigas que sempre teve uma queda por , "dá para ler no rosto dele", ao ouvir isso rira e dissera-lhe "nada a ver", sem, no entanto, resistir à ideia de ler ela própria o rosto, há muito decorado, do amigo. "Não dá para ter certeza." concluiu com convicção ela, a iluminação não ajudava em nada, então podia estar simplesmente sustentando seu olhar como sempre fizera, sem nenhum motivo por traz disso. Decidiu assim, parar de prestar atenção no amigo e se entregando a música fechou os olhos. A parte dela que sentia os beijos que o garoto a sua frente depositava em seu pescoço e rosto estava em segundo plano, se ela se esforçasse mais poderia não senti-los. O que a dominava no momento era o nó que ela mesmo dera em sua cabeça, não conseguia chegar a uma conclusão a respeito de gostar ou não da possibilidade que Bella plantara em sua mente, a respeito de ir ou não ir até o amigo, a respeito de beijar ou não aquele garoto. Estava tão confusa, ela, que sempre odiara se sentir assim, teria que, definitivamente, dar um fim naquilo. Abrindo os olhos, ela empurrou o tal garoto a fim de afastá-lo de seu pescoço para que pudesse entrelaçar as mãos no dele e beijá-lo como a ocasião pedia. notara quando ela deixou de olhá-lo. Notara quando ela fechou os olhos e fascinou-se ao vê-la dançar assim, era uma visão digna de um paraíso. Visão que foi violada por aquele serzinho desprezível, segundo , que agora beijava o pescoço e faces de , sendo ao menos cavalheiro o bastante para parar de tentar beijar-lhe os lábios enquanto ela dançava tão entregue à música que eclodia das caixas de som estrategicamente ali colocadas. O garoto considerava todas as possíveis reações de se ele fosse até lá e a tomasse daquele cara, e as desculpas que poderia arrumar depois, porque ainda certo em sua linha de pensamento, ele não podia se declarar para ela tão abruptamente assim.
Se perguntassem a qual o maior defeito que possuía, ela com certeza responderia o que costumava falar para ele tão constantemente desde uma época da qual ela não conseguia se lembrar: ele pensava demais.
E por mais que não quisesse admitir, concordava com aquilo. Mas, assim como a falta de noção às vezes recorrente em , aquele não era um defeito fácil de curar, por mais que ele tentasse. E ele já tentara. E muito. Talvez aquele fosse o momento ideal para provar a si mesmo que ele conseguia agir sem pensar. Talvez uma oportunidade daquela não se apresentasse tão cedo. Talvez ver prestes a beijar, por iniciativa própria aquele garoto, o tenha feito agir daquele jeito.
fechara seus olhos, depois de alguns segundos encarando aqueles cujo dono iria beijar, esperando que o choque de lábios acontecesse, quando sentiu mãos tirarem delicadamente as suas do pescoço do tal garoto. Piscou algumas vezes para clarear a visão enquanto tentava entender o que havia acontecido.
- ! - ela exclamou em um sussurro encarando o garoto que sibilava alguma coisa para aquele que logo se retirou.
voltou seus olhos para ela e a garota sentiu todas as perguntas que estava prestes a fazer morrerem presas em sua garganta. Porque ela conhecia aquele garoto o bastante para saber que uma pergunta qualquer feita a naquele momento o impediria de fazer o que quer que ele estivesse prestes a fazer. E ela estava ansiosa demais por saber.
A princípio, os dois se encararam. Ela, na sua decisão de não perguntar-lhe nada. Ele, aproveitando a sensação que antecipava o que ele esperava há tanto tempo, porque não, ele não havia mudado de ideia sobre o agir sem pensar. Até porque aquela situação já estava estranha demais para que ele pudesse voltar atrás. Com um gesto suave e quente ele envolveu os pulsos finos da garota com as mãos e beijando um depois o outro os cruzou na própria nuca. Depois, sem quebrar o contato visual, que pela primeira vez sustentara a custo, escorregou as mãos para a cintura dela que ele sentiu estremecer.
- Você já sentiu isso? - ele sorriu antes de sussurrar-lhe, ainda acariciando a cintura dela. - Ou é só quando nos tocamos? - mordeu-lhe o lóbulo. - Porque, para mim isso já vem acontecendo há muito tempo e é só com você, sabia?
Ela meneou de leve a cabeça, sem conseguir pensar direito, se prendendo a cada segundo e sensação daquele momento. correu os braços no entorno dela na intenção de aproximar mais os corpos de ambos e encostou a testa na dela. O hálito dela tocava-lhe a face e ele suspirou enquanto beijava a pálpebra de que mal conseguia segurar seus pés no chão diante de tantas sensações. Em um impulso por parte dela e inesperado por parte dele, os lábios se chocaram, as línguas se conheceram e aquilo que ele tanto planejara começara a se concretizar. passeava os dedos pelos cabelos dele e ele esfregava suas costas, enquanto eles se beijaram repetidamente. Aquilo foi melhor do que pudera algum dia imaginar. E bem melhor do que teria imaginado.
encarou com satisfação o estrago que causara no batom de , quando eles já estavam do lado de fora da casa, andando de mãos dadas sem terem trocado uma palavra sequer. escorou-se, propositalmente em uma parede esperando que ele a cercasse e foi satisfeita rapidamente, porque, como ela, ele também queria mais e mais proximidade. Beijaram-se mais uma, duas, três vezes. E quando ela fez menção de que ia falar ele calou-a novamente.
- Seja minha. - ele disse ainda com os lábios roçando nos dela. Ele já havia corrido até ali, com certeza não daria meia volta ou diminuiria o ritmo.
- Oi?
- Sabe, ficar só comigo de agora para frente e eu só com você.
- Ser sua namorada?
- Se você quiser chamar assim. - deu de ombros. não interpretou aquilo como descaso da parte dele, sabia que rótulos nunca importaram muito a . - E então? - ele olhou-a fixamente nos olhos. Pareceram a , décadas aqueles segundos de espera e insegurança. O medo da rejeição, tão típico da condição humana, sobressaltando-se em meio aos outros sentimentos. decidiu naquele momento que mesmo que ela não aceitasse, ele não desistiria dela e ficaria em seu pé até que dissesse claramente para ele sumir da vida dela. Dramático, eu sei. Mas quem nunca é?
- Você tem certeza disso? - ela perguntou finalmente, a dúvida se expressando na ruguinha entre as sobrancelhas delineadas dela. Ele sorriu serenamente antes de com os dedos desfazer a tal ruguinha. Então tomou a mão direita dela nas suas e colocou-a sobre o peito dele para que sentisse a intensidade com a qual o coração dele batia, tendo um só motivo: - É você.
Não é preciso dizer que aceitou. Mesmo que para ela tudo tenha acontecido rápido demais, ela queria aquilo e acreditava realmente que fosse certo. Para ele, ao contrário, demorou demais, sem, no entanto, deixar de valer a pena. E para mim, bem, minha opinião não conta aqui.


Capítulo Dois

And you have always been the only one I wanted
And I wanted you to know it
Without you I can't face it
All we wanna have is fun
But they say we're too young
Let 'em say what they want

- Casar?! - dissera o pai dela quase cuspindo o chá que bebia.
- Mas, querida, você só tem dezenove anos. - replicara a mãe dela, que mantendo um rosto quase compreensivo, dava tapinhas nas costas do marido.
Os pais de permaneceram calados, sentados no sofá bege na confortável sala de estar dos amigos. já os havia informado de sua decisão, e a eles, mesmo que meio contrários, só restava aceitar. Os dois eram jovens demais, todos eles concordavam, embora não fosse esse a justificativa maior para a reação de . era sua princesinha, e mesmo que ele gostasse muito de e que soubesse desde que eles anunciaram o namoro que aquele dia chegaria, aquela não era uma situação fácil de lidar.
tentara a todo custo impedir de fazer aquilo. Por ela, seu pai ficaria sabendo da boca dela, ou seja, ela o avisaria depois. , no entanto, estava convencido de que, devido aos anos em que conhecia a família dela, não havia desculpas para não contar a eles sobre o namoro deles formalmente. Um jantar na casa dele fora marcado, até os gêmeos estariam lá, eles e o pai dela eram os únicos a não saberem de nada. Em seu vestido rodado preferido, ao lado dos pais e irmãos, bateu a porta, impecavelmente preta e reluzente, da tão conhecida casa dos , esta, que instantes depois, foi aberta pelo pai de . Quando viu a garota, sorriu abertamente e sem querer ser descarado demais, foi cumprimentar primeiro os pais e irmãos da moça, que o olhava tentando parecer aborrecida. beijara a namorada no rosto quando esta o surpreendeu beijando-o nos lábios bem em frente a todos ali, sem qualquer cerimônia. Os gêmeos riram trocando olhares de quem já sabia que aquilo acabaria acontecendo mais cedo ou mais tarde e os mais velhos, bem como , voltaram sua atenção para , receosos de qualquer que fosse sua resposta àquilo. engoliu em seco umas três vezes, até que sentiu a mão de envolver a sua.
- É mesmo pai, eu não te contei? - ela sorriu docilmente para o mais velho. - Estamos namorando, e isto tudo aqui - ela indicou a casa e os presentes nela - era para te contar. Mas é melhor ser breve, não é? O senhor não está feliz por mim? - abraçou o pai numa empolgação palpável, ela não fizera aquilo para aparecer ou provocar, fizera porque não achava justo que durante todo o jantar seu pai ficasse alheio a tudo enquanto todos ficariam trocando olhares suspeitos. Se for para saber, que saiba logo de uma vez, era o que ela pensava. Todos ali riram mais por alívio do que por achar graça, uma vez que a reação de não fora nem de longe a esperada e o jantar ocorreu as mais que mil maravilhas.
- Vou ter vinte quando nos casarmos. - ela respondeu simplesmente.
- tem vinte e um agora e continua sendo novo. - a mãe rebateu.
Um silêncio quase incômodo invadiu o local. apertou mais a mão de e buscou os olhos dele. Eles não estavam ali para pedir permissão, estavam certos de que se casariam nem que precisassem fugir para isso, mas ter o apoio dos pais no momento em que ambos se sentiriam mais felizes e completos na vida seria algo absurdamente maravilhoso.
- Vocês também eram novos quando se casaram. - disse por fim.
- Eram tempos diferentes. - a mais velha respondeu, ela não era contra aquilo, só queria cumprir seu papel como mãe e impedir que os dois tomassem alguma decisão precipitada, se aquele fosse o caso.
- Vocês tem uma faculdade por fazer, nós não tínhamos, era um mundo diferente.
- Mas o mesmo amor, não? - aquela situação começara a frustrar , que impaciente bufou.
Vejam bem, como a única garotinha e caçula daquela casa, ela sempre fora mimada em demasia, até mesmo por aqueles que se tornariam depois seu marido e sogros. Estava acostumada a fazer o que quisesse e ter apoio para isso. era um tanto mais sensato e podia ver em todos ali que a única coisa que queriam era o bem dos dois. Eles só não entendiam que o casamento era o que de maior bem podia lhes acontecer.
- Vocês sabem que eu a amo e sabem também que ela me ama. - começou se dirigindo aos seus pais e aos da moça. - Isso não é o bastante? O amor? O resto não importa aqui. E acreditem essa decisão não foi tomada de cara, ela vem sendo construída há anos.
Outro silêncio tomou conta do recinto. Os pais de continuavam afundados no sofá, ela meio emocionada, ele se colocando no lugar do amigo; a mãe de havia se sentado no braço da poltrona do marido e olhava o jovem casal ternamente, , por sua vez permanecia quieto como se estivesse ausente.
- É isso? Vocês não vão nos apoiar? - paciência também nunca fora um dos fortes da garota que levantada puxava o agora noivo para que fizesse o mesmo. - Pois saibam que...
- Tudo bem. - interrompeu-a seu pai. - Tá tudo bem querida.
Ela olhou-o curiosa e ele viu mais nitidamente a garotinha que sempre veria nela, sentiu seu coração apertar e fungou tentando conter o choro.
- Pai - ela disse manhosa quando vira sua expressão e correu para sentar no colo do seu velho. - Você sabe que...
- Vocês têm a minha benção querida. - ele disse beijando a testa de sua garotinha, que como uma criança aninhou-se mais a ele.
Por cima do ombro de , olhou para que se aproximara mais de seus próprios pais e concluiu que não podia arrumar para ela um marido melhor.

***


Dois dias antes...

quicava impaciente os dedos no painel do carro. Sentada no banco do passageiro ela tinha uma cara amarrada e emitia ruídos a todo momento para que não se esquecesse que ele era a causa de todo o seu mau humor.
- Por que você não pode me contar, ? - ela perguntou pela vigésima vez entre dentes.
- Porque é uma surpresa ora. - o sorriso lindo que ele lhe lançou a fez ficar com mais raiva ainda.
Não a entendam mal, ela gostava de surpresas, mas vinha a infernizando há tantos dias a respeito dessa, insinuando-lhe coisas e deixando outras tantas no ar, que já conseguira deixa-la louca.
- Não gosto de surpresas. - ela disse mimada.
- Gosta sim.
- Tá bom, não gosto desta então. - ela apontou-lhe a língua.
- Olha que eu mordo.
- Você não se atreveria.
- Ah, não? - Ele estacionou o carro e soltou seu cinto de segurança com uma rapidez que ela mal conseguiu acompanhar. encolheu-se junto à porta e olhou apreensiva a aproximação lenta e gradual dele. - Repete. - a garota negou com a cabeça, tendo os lábios apertados se negando a abrir a boca um milímetro que fosse. então a puxou de volta para perto e beijou-a com vontade antes mordendo demoradamente seu lábio inferior. A garota suspirou e lutou para não sorrir em meio àquilo. Ele continuou distribuindo beijos pelo rosto, testa, pescoço e lábios dela, incansavelmente.
- ... - ela esforçou-se por dizer. - Para. Por favor.
- Do que você me chamou? - ele sorriu safado afastando o rosto dela, mas mantendo seus braços finos presos.
- Foi de .
- Uhum. - ele olhou-a acusador. - Agora, me dê um bom motivo para parar.
- Hm... Eu estou com raiva de você. - ela fechou a cara de novo.
- Não é um bom motivo.
- Então, - ela olhou em volta pela janela. - estamos no meio da rua...
- Dentro de um carro.
- Mesmo assim, é na rua e... - ela olhou novamente. - em frente a uma relojoaria ainda por cima. - dramatizou como se aquele estabelecimento fosse um lugar de extremo respeito, como uma Igreja. - Aliás, por que estamos aqui mesmo?
- Porque era exatamente onde eu queria estar.
Os olhos dela brilharam quando ela sorriu, era um daqueles momentos em que via nela a de seis anos que acabara de trocar pela primeira vez um de seus dentes de leite por moedas. se lembrava de não ter gostado muito daquela história, por ele cada pedacinho de deveria ser guardado, às vezes os ciúmes dele por ela davas as caras exagerada e repentinamente. “Foi uma troca mais do que justa” ela lhe dissera, encerrando de vez aquela discussão e eles foram tomar todo o sorvete que aquelas moedas pagassem.
- Você vai me dar uma joia? - sua carranca foi substituída quase que imediatamente por uma cara de completa excitação. Ela não era interesseira, longe disso, ela só não costumava disfarçar suas emoções como algumas mulheres faziam.
- É, mas é mais do que isso.
- São duas joias então? - a animação dela quase podia ser apanhada no ar.
- Sim, mas uma delas é para mim. O rosto de perdeu um pouco do brilho quando aos poucos sua mente trabalhava em uma possível razão daquilo tudo.
- Pode explicar. - ela disse em um fio de voz. segurou as mãos geladas dela nas suas e encarou por algum tempo o esmalte rosa que ela usava. - Eu pensei em nos casarmos. - ele disse de vez. - Por isso te trouxe aqui, para que você pudesse escolher uma aliança. - ele riu fraco. - Aliás, eu não podia comprar uma sem saber, vai que você...
- Não aceitava. - ela interrompeu e sorriu amarelo.
nunca saberia explicar o que sentia naquele momento. Ela estava absolutamente certa de seu amor pelo garoto a sua frente e da reciprocidade do mesmo. Sabia também que era em busca dele que ela atravessaria uma Igreja em algum lugar vestida de branco algum dia. No entanto, ela nunca esperara que aquilo fosse acontecer tão cedo. Eles eram tão jovens.
- Você tem que dizer alguma coisa, meu amor, ou eu vou pirar aqui. - As mãos de começaram a suar e pela primeira vez ele considerou uma recusa por parte dela. Ele a amava a tanto tempo e tinha uma certeza romântica ,e até ligeiramente ficcional, a respeito dos dois que nunca pensara na possibilidade de eles não ficarem juntos no fim, ou de ela recusar aquele pedido seu. Fora ela que ele sempre quis e aquilo nunca mudaria.
- O quê as pessoas vão dizer, ? Ninguém, hoje em dia, se casa tão novo. - ela tinha no rosto uma expressão próxima de desespero. - Ai meu Deus vão dizer que eu estou grávida!
- E você se importaria com isso? - ela não respondeu, não saberia na verdade. - A questão aqui é: você quer se casar comigo?
Ela respirou fundo, fechou os olhos e tentou ignorar o calor ainda presente do momento vivido há pouco; como também a mente que tentava calcular os prós e contras da decisão que tomasse; concentrando-se totalmente no órgão que pulsava freneticamente em seu peito. Por alguns minutos ela permaneceu assim, de alguma forma conseguiu se controlar e dar o tempo que ela precisasse, quando ia propor que voltassem ali outra hora, ela disse:
- Quero. - e aquela resposta, ele sabia, vinha direto do coração.


Capítulo Três

Guess I like the way you smile with your eyes
Other guys, see it but don't realize
That it's my, my lovin'
There's somethin' about your laugh
That it makes me want to have to Is nothing funny
So we laughhing, no-no-nothing
Every minute's like a last so
Let's just take it real slow
Forget about the clock, that's tick tick ticking
I still feel it every time It's just something that you do
Now ask me why I want to

- Deveríamos ter comprado uma aliança maior, não acha?
- Não. - ela respondeu olhando amorosa para o anel em sua mão direita pela milésima vez naquele dia. fechou a cara para ela que demorou alguns segundos para perceber, estava entretida demais como o objeto. - Mas, por que você acha isso?
- Porque esses caras parecem não vê-la. - com "caras" ele queria se referir unicamente a um funcionário do supermercado do qual saíam agora, que olhou descaradamente por todo o tempo em que lá estiveram. - Se ela fosse maior talvez eles ficassem mais longe.
só conseguiu rir da reação ciumenta de , achando a cara de raiva dele adorável e amando se sentir amada assim. No entanto, graças a seus risos ela teve que correr para alcançar o noivo que agora mais enraivecido apressou o passo em direção ao carro estacionado a alguns metros dali. - Eles não precisam ficar longe. - ela disse segurando o rosto de , ele fechou mais a cara. - Não, enquanto você estiver perto o bastante. - ela sorriu. - Bem aqui. - apontou para o próprio coração, passando o nariz por todo o rosto agora sorridente do noivo.
- É engraçado sim.
- Não é não.
- É claro que é. - ela disse quase sem fôlego, iniciando outra sessão de risadas da piada que ela mesma havia contado há uns minutos. "Porque o piano se chama piano?" ela perguntara, "Porque ele foi inventado no ano da descoberta do número pi" ela completara rindo antes mesmo do fim. continuava sério observando o quão lesada sua noiva poderia ser, sem, no entanto, deixar de ser adorável.
- Às vezes você me assusta, . - ele confessou, acariciando os cabelos dela, que tinha a cabeça sobre o seu peito enquanto eles viam um filme qualquer na sala da casa dos pais dela. - Mas o que é isto aqui? - ela apontou para o canto da boca dele, ignorando seu comentário anterior. - É um sorriso minha gente! - fez uma voz de locutor de rádio.
- Não tem nada aqui.
- Tem sim, bem aqui. - ela se apoiou nos cotovelos e ainda deitada colocou o dedo na boca dele. Ele segurou a mão dela na sua e rolando por sobre ela, disse: - Não. Tem. Nada. Aqui. - e beijou-a. aproveitou bem o beijo até que se lembrando de outra piada ruim começou a rir de novo, fazendo com que se afastasse minimamente e encarando-a não conseguisse resistir à risada dela, mesmo sabendo que se tratava de outra coisa idiota. Como dois bêbados ou simplesmente dois idiotas, eles permaneceram rindo de tudo e nada por um bom tempo naquela tarde e o filme que passava no TV eles saberiam que não prestava, bem, se tivessem prestado atenção nele.

***


sabia que ele estaria ali. Isso acontecia há dois anos. Enquanto descia as escadas da casa de seus pais estando bem mais produzida do que estaria em qualquer manhã normal, ela não conseguia conter sua alegria. Naquele dia, e ela, completavam três anos de namoro e como havia acontecido nos dois últimos e primeiros aniversários, estaria ali. O garoto ergueu os olhos do seu celular quando ouviu os ruídos, da sempre tão “discreta” , ao descer as escadas.
Ele podia jurar que havia certa música ali, naqueles ruídos, na respiração dele e no seu coração que já batia descompassado. Quando por fim apareceu à vista, ele não demorou em correr até ela, e erguê-la no ar em meio ao abraço apertado que davam. E o coração dela, a respiração dela, os sussurros e as risadas de ambos, enfim se juntavam para tornar aquela música a mais feliz de todas.
- Eu te amo. - ela soprou no ar próximo ao ouvido dele.
- Eu te amo. - ele respondeu também baixinho. Era assim que eles gostavam de dizer. Não queriam gritar para o mundo saber, queriam apenas garantir que ambos soubessem. E eles tinham todo o sucesso nisso. - Que bom. - ela sorriu mais com os olhos do que com os lábios e se viu preso naquelas íris.
Entregando-lhe antes os pulsos para que ele os beijasse, como da primeira vez, entrelaçou seus braços no pescoço do noivo, que aproximando ao máximo seus corpos, começou um beijo cheio da mesma paixão que a do primeiro e do amor que só crescera desde então.
- E eu continuo sentido isso. - ele disse pousando uma das mãos dela no lado esquerdo de seu peito. - Isso o quê? - ela encarou a boca vermelha de enquanto sentia o coração do mesmo pulsar e o dela quase sair pela boca.
- A mesma sensação da primeira vez que te beijei.

***
A aproximação de um casamento mexe com as emoções de qualquer um, com as dos noivos então faz um verdadeiro estrago. A cerimônia que uniria para sempre nossos personagens se aproximava cada vez mais e não podia sentir mais seus nervos a flor da pele. Fazer provas e mais provas do vestido, escolher o tipo de penteado, escolher o bufê e o bolo, as cores das flores, a disposição das mesas e tantas outras coisas; somadas as férias que ela não tirara da faculdade estavam acabando com ela. Quando disse que ela podia fazer tudo sozinha e como ela quisesse, achara lindo da parte dele. Mas agora vendo o quanto tudo aquilo dava trabalho ela só poderia supor que ele estava era tentando livrar sua pele. apenas tivera o trabalho de ir com ela à Igreja para marcar o casamento e sair para escolher seu terno. Era tão injusto, ela agora pensava. E ouvir sua prima, Marlene, dizer por umas vinte vezes que até da escolha do guardanapo o agora marido participara não ajudava em nada.
A o casamento afetara no aumento do ciúme possessivo que ele sentia por . A inconstância com a qual eles agora se viam e o estresse que ela agora tinha quase constantemente enraiveciam-no. Ele parecia não entender que tudo aquilo era causado pelo crescente aumento de tarefas na vida de . Ele nem ao menos conseguia entender que ela passava tanto tempo fora da casa dos pais pura e simplesmente para ocupar-se com os últimos detalhes do casamento e que estava em maior parte do tempo acompanhada pela mãe ou alguma madrinha ou ainda uma prima e, assim, seu cérebro não parava de trabalhar em suposições cada vez mais mirabolantes que ele, pelo resquício de sensatez que lhe sobrara, não dera voz. Ainda.
- Desculpe não te atender antes. - disse ao entrar no carro, fechar a porta e dar um selinho no noivo. - Eu me esqueci de por meu celular para carregar ontem à noite e não fui em casa desde a manhã.
tinha ido pegar na sexta loja em que ela passara naquele dia em busca da lembrancinha que os padrinhos iriam ganhar. Recentemente, ela tinha mudado de ideia a respeito da que já escolhera. Mas, ela pensara, se soubesse que seria tão difícil de agradar teria deixado tudo como estava. E, para piorar, naquele dia ela ainda havia ido à faculdade para fazer um prova para a qual teve que passar a noite inteira estudando.
- Uhum. - ele respondeu secamente.
- Você quer ver? A lembrancinha que eu escolhi? - disse encostada no vidro e de olhos fechados, tentando descansar um pouco.
- Não. - ele não se deu o trabalho de olhá-la e arrancou com o carro. - Qualquer uma que você escolheu tá bom.
não gostou daquilo, parecia que ele não dava o valor necessário àquela cerimônia tão importante. No entanto, ela preferiu não dizer nada, estava cansada demais para sequer correr o risco de terem mais uma briga.
- Então tá.
- Tá.
Ela esperou que os dois começassem uma conversa sobre o dia, ou sobre o casamento que viria ou que pelo menos o silêncio não fosse tão desconfortável. No entanto, nada disso aconteceu.
- Aconteceu alguma coisa? - ela abriu os olhos e observou o perfil do noivo, tentando não pensar no quão lindo ele ficava com o maxilar enrijecido.
- Nada.
- Não seja irônico comigo, .
- Quer que eu diga o quê?
- Que converse comigo pelo menos.
- E o que eu estou fazendo agora? - usou de ironia novamente e estremeceu de pura raiva, decidindo por se calar de uma vez. deu uma olhada rápida nela e viu que ela havia fechado os olhos de novo. - Ora, vamos conversar então. Não é isso que você quer?
- Eu não quero nada. - ela disse entre dentes, sem se mover do lugar.
- Pois eu quero, sabia? - estacionou o carro e esperou que ela lhe olhasse. - Quero uma noiva que atenda meus telefonemas, quero ver a minha noiva, quero que ela esteja alegre quando me ver. - ele respirou lenta e profundamente. - Quero que ela tenha tempo para mim. - Ele nunca falara assim com ela, doeu a ouvir cada uma daquelas palavras. Ela não podia acreditar que seu não entendia que toda a falta de tempo dela era pelos dois.
- Eu também quero algumas coisas, sabia?
- Ah é? E por que não me conta? - ele foi o mais sarcástico que conseguiu ser e sentiu sua decepção se transformar em raiva.
- EU QUERIA TER A PORRA DE UM NOIVO ME AJUDANDO! QUERIA NÃO TER QUE ESCOLHER TUDO PARA ESSE CASAMENTO SOZINHA! - ela cuspiu o que estava guardado nela há tanto tempo e respirou fundo se arrependendo em seguida pelos gritos. sabia que estava errado nisso, que não deveria ter começado aquela discussão, mas agora não seria tão fácil acabar com ela.
- olha eu...
- Eu estou cansada de ter que responder as organizadoras quando elas me perguntam onde está o noivo, ou até, ter que explicar que Alan e Ricardo são meus irmãos e não noivo e cunhado. - ela suspirou de novo com os olhos fechados, agora tentando não chorar. - Porque, sabe, - ela sorriu amargamente. - até eles tiraram tempo para me ajudar com isso.
O garoto sentiu seu coração apertar e nascer uma raiva de si mesmo por ter agido assim, o que só se agravou quando ele viu as lágrimas que brotaram sem consentimento dos olhos da amada. Ele tentou enxugar algumas delas, mas se esquivou do seu toque.
- Você não enxerga, né? Eu estou cansada, tantas coisas para fazer estão me matando. Eu até emagreci, sabia? E tenho passado mal constantemente de nervoso. - ela abriu os olhos marejados e encarou-o. - É claro que você não reparou nisso, estava mais preocupado em exigir de mim maior presença na sua vida, sem, no entanto, querer vir até mim.
então sentiu seus próprios olhos marejados, dando enfim uma boa olhada na noiva, e vendo o quão acabada ela parecia estar, e sabendo que não vira nada disso porque estava cego pelo próprio ciúme e concluindo amargamente que era a causa da maior parte daquilo tudo. Sem pensar muito, ergueu a mão até o rosto dela, que por incrível que pareça não recusou, e acariciou-o.
- Sabe, eu até entendo que você não queira se ocupar com esses preparativos, mas você podia ser mais compreensivo. Principalmente agora que você é a pessoa de quem eu mais preciso. Em um impulso ele a puxou de alguma forma para o seu colo e abraçou-a afagando lhe as costas, enquanto ela chorava o que tinha que chorar.
- Me desculpa, meu amor, me desculpa. - ele sussurrou para ela por longos minutos. Ela ergueu os olhos já mais secos para ele e quando ia falar foi interrompida. - Eu sei que errei, mas eu juro que achei que você ia preferir fazer tudo do seu jeito. - sabia que ele estava sendo sincero. - Mas, você podia ter me chamado, eu iria, eu juro que eu iria.
Ele chocou seus lábios com os dela, sem, no entanto, ser correspondido. via que os dois estavam errados ali, e um pensamento que ela nunca pensou em admitir invadiu lhe, fazendo com que seus olhos se enchessem novamente de lágrimas.
- ... Eu - ela soluçava agora. - Eles estavam certos...
entendeu, antes mesmo de ela terminar, ao que ela se referia e abraçou-a forte como que para segurá-la para sempre e soluçou junto com ela.
- Não . - ele fungou. - Não estavam.
Ela conseguiu a custo se soltar um pouco dele e beijou-lhe as mãos antes que, olhando em seus olhos, lhe dissesse: - Talvez sejamos mesmo jovens demais.
E com isso, entendeu. Entendeu que o fim deles talvez não fosse aquele no qual ele sempre acreditara. E diante daquelas palavras cheias de dor que ela proferira, ele não podia fazer nada senão deixar que ela lhe escapasse.


Capítulo Quatro

You know I've always got your back girl
So let me be the one you come running to
Running to, ru-ru-running
I see this, just matter of fact
Girl, you just call my name
I'll be coming through, coming through, I'll keep coming
On the other side of the world
It don't matter
I'll be there in two I'll be there in two, I'll be there in two
I still feel it every time
It's just something that you do
Now ask me why I want to

Por duas semanas escondeu aquilo de todo mundo. Porque, por um lado, que representava a maior parte do motivo, ela não queria acreditar que aquele era o fim para eles, mesmo que pensasse não poder fazer nada a respeito. Por outro, este menos representativo, ela não queria ter que admitir para as muitas pessoas que disseram que eles eram jovens demais que elas estavam certas. Puro orgulho, ela sabia, mas naquela situação aquilo realmente não importava.
Trancou a faculdade, porque no estado de estresse em que estava não conseguia pensar em nada e até mesmo começou a se perguntar se era aquilo mesmo que ela queria fazer. Deixou que sua mãe tomasse conta dos preparativos de um casamento que não iria acontecer, enquanto se recolhia a seu quarto por dias. A mãe, é claro, sentia que havia algo de errado com a filha, mas sabendo que a mesma estava sendo sobrecarregada demais preferiu esperar que ela lhe falasse quando estivesse pronta.
- Entra. - ela disse ajeitando os cabelos e se sentando na cama. - Ah, oi pai. - ela lhe sorriu quando este passou pela porta e veio se sentar com ela.
- Sabe filha, eu vou ser direto. - ele coçou a barba. - Sua mãe não concorda com isso e diz que temos que deixar você ter o seu tempo, mas eu não sou ela, sabe? - viu que a filha estava prestes a chorar e adotou um tom ainda mais carinhoso: - Estamos preocupados, querida, até seus irmãos estão. Os pais de também disseram que ele estava muito estranho antes de ir viajar. - ao ouvir aquele nome ela sentiu seu coração bater e murchar repetidamente. - Você não quer me dizer o que está acontecendo?
abraçou seu pai e chorou o quanto conseguiu, molhando toda a camisa que ele usava, enquanto ele afagava seus cabelos, sussurrando que tudo ia ficar bem.
- Não vamos mais nos casar papai. - ela disse ao erguer os olhos para ele. percebeu que aquela sim era uma situação complicada. Aceitar que ela se casaria tinha sido muito mais fácil. Para aquilo ali, pai nenhum se preparava.
Ver sua garotinha machucada, acabou com ele e dessa vez não havia beijo, sopro, ou consolo que pudesse fazer com que ela se curasse.
- Vamos cuidar disso para você querida. - ele disse por sobre a cabeça dela que voltara ao abraço. E pela primeira vez, ele não sabia o que fazer.

***


não sabia o que acontecera. Se seus pais haviam cancelado o casamento ela não sabia. Se tinham avisado aos convidados também não sabia. Desde a conversa com seu pai ela não falava mais disso. Porque não queria falar, porque ainda doía, porque aquilo não importava. Cada vez que os pais de iam até sua casa, mesmo que ela se recusasse a sair do quarto, se sentia afundar mais no mundo. Aquilo doía. Doía ainda mais quando, ela depois de horas pensando, não via perspectiva futura nenhuma para os dois. Ela se levantara muitas vezes para ir atrás de , mas algo interior, não exterior, a fazia desistir e ela acabava voltando à sua cama. Dele também ela nada sabia. E dele ela não concluíra se queria ou não saber.

***


- Vó! Vó! - andava aos gritos pelo corredor estreito. - Onde estão as chaves? - ela continuou ainda sem sinal da avó. - Tão batendo na porta. - a menina abaixou a voz por fim percebendo que senhora não estava mesmo em casa e também por se lembrar de que seu vô dormia na sala ao lado em frente a TV. Cruzou os dedos quase que involuntariamente torcendo para que ela não houvesse acordado o senhor. - Só um minuto. - gritou se lembrando da pessoa do outro lado da porta. - Desculpa de novo, vovô. Olhando a sala abarrotada de porta-retratos e almofadas da casa que lhe trazia tantas lembranças, por fim viu o objeto prateado que buscava. Enfiando a mão no bolso traseiro da calça jeans, ela andou até a porta e abriu-a. - Pronto. - ela disse ainda sem olhar para o visitante. - No que eu... - Ela nunca iria saber se o queixo dela caiu, se o rosto dela deu medo, se as mãos suaram ou se as pernas tremeram, ela estava concentrada demais no ser a sua frente para perceber a si mesma ali. - Você.
- Não faça essa cara. - ele disse a ela. - Você sabe que eu sempre vou te ter de volta garota.
- Como você me achou? - ela mais que gaguejou do que falou.
- A casa dos seus avós não é lá um esconderijo muito bem planejado e caso você não saiba, - ele se aproximou dela e abaixou o tom de voz. - eu conheço toda a sua família.
resolvera se dar férias há algumas semanas e era para casa de seus avós que ela havia ido. Com a faculdade trancada e sem trabalho, ela tentava esquecer o mundo e relaxar. Sua mente até trabalhava bem nesse sentido, seu coração é que não fazia sua parte.
- , eu... - adotou um tom sério e a garota percebeu o quão nervoso ele estava. Decidida a acabar com o sofrimento dele e sendo egoísta por ansiar mais ainda pelo fim do seu, ela tomou o rosto dele nas mãos e sem esperar por reação o beijou com todo desejo que guardara por tanto tempo. Ela fora covarde o bastante para não ir atrás dele, ela admitia, mas agora que viera até ela, não faria questão nenhuma de perder mais tempo. - ... - ele disse ainda com os lábios nos dela. - não era para ser assim, eu tinha preparado todo um discurso.
- Guarda ele pro casamento. - ela disse empurrando- o contra a porta e voltando a beijá-lo.
- , sobre isso... - segurou o rosto dela para olhá-la nos olhos. - Eu posso esperar, podemos namorar mais se é for isso que você quiser, podemos namorar para sempre se for necessário. Contando, que eu esteja com você, tudo vai valer a pena.
Ela sorriu como não sorria há muito tempo e se soltando dele colocou a mão no bolso traseiro da calça jeans e entregou a ele o que lá se encontrava. girou nos dedos o arco dourado que eles haviam escolhido juntos e sem conter as lágrimas olhou para ela.
- Eu sempre estive esperando que você me pegasse de volta, garotão, e você sabe bem disso.


Epílogo

No fim das contas, descobriu que o casamento nunca havia sido cancelado. Antes de fazerem qualquer coisa, os pais dela falaram com e sabendo das intenções dele resolveram esperar para ver. Graças a isso, o casamento pode ocorrer no dia antes marcado. Mesmo que os noivos tenham mudado várias coisas de última hora só para terem o prazer de escolher novas juntos, tudo ficou pronto a tempo e em uma tarde qualquer de outubro atravessou a Igreja vestida de branco.
- Eu te amo. - ela soprou no ar para .
- Eu te amo. - ele sussurrou pela primeira vez para a sua esposa.
E daquele momento, eu tenho certeza, ambos iriam se lembrar. Mesmo que fossem jovens demais. Mesmo que não passassem de duas crianças crescidas. E se as fadas realmente existem, foram elas que fizeram o coro da música que ouviu por toda aquele dia.


FIM



Nota da autora: É isso aí! Espero realmente que vocês tenham gostado! Esse álbum é totalmente demais e para mim foi uma honra participar desse ficstape! Obrigada por ter lido, e se você gostou (até mesmo, se não) comenta aí vai. Eu vou adorar ler e todos sabem que o site ganha com isso, então será de todo uma boa ação!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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