Finalizada em: 14/06/2022

Capítulo Um

Eles não estavam sozinhos.
Sentiu a pele nua, arrepiou-se.
A madrugada era fria e muito escura, apesar da fraca luz produzida pelos domínios na pele cálida do caçador. A neve havia voltado a cair com mais intensidade em um determinado período no início da noite, o que deixava a trilha seguida pelo grupo recoberta pelo branco de uma camada mais intensa do gelo.
Eles avançavam em meio ao silêncio intimidante de uma floresta adormecida, contudo, foi o dragão que anunciou a chegada do estranho.
A fera agitou-se em suas correntes de titânio, a cauda mexia com mais frequência enquanto ele recuava, movendo as assas marcadas por pinos do metal em uma frustrada tentativa de romper o ar.
O rapaz grunhiu.
Irritado.
Preocupado.
As mãos que envolviam a corrente agarram-na com mais firmeza, tentando fazer a fera continuar o trajeto, mas ela via o que era obscuro de mais para se ver.
Seus olhos, dois globos vermelhos cortados pela linha escura da pupila, eram atentos para o novo.
O rapaz permitiu-se ficar preocupado. As marcas profundas pinicavam enquanto o brilho ganhava uma coloração purpura em meio aos sentimentos impróprios, mas ele sabia, arqueiros, a mando do imperador, ainda circulavam aregião das montanhas.
Eram como sombras, escondidos em meio os galhos altos dos pinheiros com olhos como a águia em sua presa.
Vigilantes.
Atentos.
Não tinham misericórdia. Suas pontarias eram precisas. Suas flechas certeiras eram como o fogo daquela fera vil do oeste.
-Faça-o se acalmar! – Gritou, quando o dragão nervoso tentou voar mais uma vez.
Grunhiu novamente, o corpo curvando ao tempo que buscava mais forçado xaana para que o dragão o obedecesse.
A fera estava muito agitada.
Algo estava errado.
Tinha a sua cabeça girando em alerta, procurava indícios daquilo que tanto temia, enquanto os olhos cuidadosos estavam em todos os cantos.
Sentia o medo fluir de seu núcleo, infectando-o a cada pulsar nervoso do coração, avançando por seus vasos enquanto tudo tornava-se mais escuro, a pele agora vibrava em angustia.
A traficante que o acompanhava suspirou. Estava irritada, confusa. O dragão ainda era jovem demais para o titânio queimar totalmentea pele abaixo da escama.
O desconforto era visível, embora que ineficaz.
Puxou mais forte em resposta a ordem do parceiro, mas, em meio as sombras das árvores da floresta, uma forma oculta tornava-se visível.
Os membros pareciam desproporcionais na criatura animalesca de morfologia brevilínea, mas era a pupila, coberta por um manto branco e brilhante, que destacava a sua presença na penumbra. O rapaz arfou, finalmente identificando o que perturbava o dragão.
As mãos tornaram-se fracas e as correntes escorreram, correndo sem destino e interrupção até o chão enquanto os olhos do caçador se arregalavam em pânico. A respiração travada. Shapeshiffer, em sua verdadeira forma.
O dragão, em meio a presença do metamorfo, tornou-se revolto novamente. Recuando com força arrastou consigo aqueles que ainda seguravam as correntes de titânio.
-? – perguntou assustada a traficante quando seus olhos seguiram os do amigo, seu timbre baixo em meio ao terror que lhe sucedeu, mas as mãos ainda detinham a sua corrente, tentando conter a fera.
O caçador nada disse.
Nervoso.
Estava paralisado.
Preso psicologicamente em um estado de choque pela surpresa do inesperado.
Seus olhos fixos na figura deformada.
Não tinha lábios, nem orelhas, a exoderme era enrugada, recoberta por pelos ralos e rubros e em pequenas áreas por escamas, a cabeça era quadrada, torta e careca onde um chifre pontudo se projetava e mais abaixo, na região frontal, a pele retorcida formada um focinho.
Mas as garras foram o que lhe roubaram a atenção, longas e reluzentes mesmo em membros tão curtos em relação a altura do tronco. Engoliu em seco.
- “Caçador” - sussurrou a voz do Shapeshiffer em sua mente, era arrastada e errônea, quebrando o escudo mental que ele mantinha com tanto zelo. O rapaz estremeceu.
Sentia o suor brotando em seu corpo, escorrendo pelos seus domínios enquanto o pânico o corroía. O coração acelerado, a respiração irregular.
Ele estava ali por sua causa. O Shapeshiffer está ali por ele.
Nervoso, levou lentamente a mão esquerda em direção a bainha da calça, em busca da adaga que guardava. Era um caçador da luz. Sua sina era matar as criaturas de alma sombrias. Não havia nada a arrecear.
Seus domínios brilhavam em poder.
Seu núcleo pulsava em orgulho.
Sem hesitação, capturou a haste da arma.
Bravo.
Preparado.
Sentia o xaana vibrar, puro e intrínseco.
Então a criatura moveu-se, seus passos largos em pés grandes e digitígrado não marcavam a neve abaixo de si. Eram leves, sucintos e em sua andadura trazia um cordão, que estava entre suas garras até a cartilagem rompida e deteriorada do nariz pequeno e murcho.
Estava cheirando.
Capturando a essência do verdadeiro dono. Roubando a marca de identidade deixada ali.
A pele enrugada do rosto retorceu-se, tal como se ele estivesse sorrindo.
- “Estive a sua procura” - continuou, ainda apenas na mente do rapaz.
Entretanto, quando o cordão ainda estava próximo ao rosto, a criatura mudou. Tornou-se maior, no tempo em que o rosto assumia um novo formato. O chifre se retesou tal como as garras em suas mãos. Os olhos brilhavam, agora em um tom de azul-cobalto. Com pavor, , viu o metamorfo transforma-se em si.
Alguém o entregue a um Shapeshiffer.
Alguém o havia traído.
Sentiu seus dedos vacilarem em torno do cabo da adaga.
-Vejo que você possui algo que me pertence. – disse, sua voz firme e irônica não falhou ao falar com o metamorfo, embora seu corpo estivesse tremendo.
O Shapeshiffer sorriu, algo sínico, divertido, muito diferente do caçador. Tinha uma postura rígida, os braços atrás do corpo, as pernas juntas. O peito nu não se movia enquanto respirava como o rapaz.
Transmitia segurança, concentração, contudo metamorfos eram seres nefastos. Essências profanas e corruptas. Seus prazeres estavam nas confusões.
-Disseram-me que nunca o encontraria, caçador.– falou a criatura, desta vez não apenas em sua mente, os lábios finos moveram-se enquanto o ar vibrava e era modulado em som.
estremeceu.
Era a sua voz, mas seu timbre estava cálido de mais.
-O que queres? – Ousou perguntar.
-Seus donos o reclamam.
O caçador arfou, seus olhos arregalaram-se, seus domínios tornaram-se azuis. Sentia o terror afundando-o em desespero, cravando-o em sua alma obscuridade. Ele não voltaria – Ainda não.
-Nunca. – murmurou ao vento, em uma promessa pessoal e velada.
Seus passos recuaram, voltavam-se para trás junto ao grupo e o dragão, preparando-se para fugir novamente.
Não poderia lutar.
Sabia.
Ainda estava fraco.
Porém o metamorfo agora estava a sua frente. Cerca de um metro de distância os separavam, ele havia movido-se de forma rápida e apercebida enquanto andava vacilante ao tentar escapar tal como uma presa cercada pelo predador.
Engoliu em seco.
Seus domínios ganhando um brilho turquesa.
Contudo, a criatura sorriu em meio a tonalidade da luz, magnífica e satisfeita, feliz perante o desespero expresso pelo brilho do caçador. Não era humano, natural.
O rapaz ofegou. Os nervos duelando dentro de si. O padecimento o energizando. Fora capturado, vendido, testado e humilhado uma vez.
Os dias eram um martírio e a morte por vezes fora bem-vinda em meio ao desespero e dor. Não voltaria. Não se permitiria voltar. Ainda não estava pronto.
Atacou a criatura, o braço erguendo a adaga em mão por instinto, algo puro e profano que o instigava a matar e a se defender, levando a arma de forma precisa e rápida contra a sua região torácica no Shapeshiffer. Viu com satisfação, a lâmina perfurar o tecido, afundando sem dificuldade sobre a pele perante a força exercida. Contudo, não houve sangue e tão pouco o metamorfo pareceu se importar. Não expressou resposta, dor ou indignação. Manteve-se no lugar, inabalado, tal como se não tivesse sido atingido.
O rapaz temeu, e, enquanto ainda mantinha a adaga no corpo da criatura, levou seus olhos ao rosto conhecido. Arfou.
O coração falhando uma batida em meio ao desespero.
O Shapeshiffer ainda sorria, inatingível, indiferente, seus lábiosmoldados em arrogância. Entretanto, seus olhos já não eram azuis-cobalto como os do caçador, estavam maculados pelo vermelho carmesim que coloria a íris desde a pupila.
Nicccolas recuou.
Sentia o peito molhado, corrompido por um líquido espeço, grudentoe pútrido. Não havia dor, entorpecimento.
Engoliu em seco.
Seus olhos desviaram-se, rumando ao próprio peito e encontrando o sangue esverdeado do metamorfo.
A mão soltou-se do cabo da adaga ainda no corpo da criatura enquanto seus pés iam ao encontro do desconhecido, cegos, voltando-se para trás. Sentia sua cabeça, rodar tonta e confusa, a visão turva.
Ele soube, naquele momento, de seu erro. Tão tolo e impensado. Era um dos knides, subespécie de metamorfos tão singulares e ímpares deste gênero. E então, enquanto ainda olhava nos globos oculares do Shapeshiffer,tudo tornou-se escuro, consumido pela nuvem espessa da inconsciência.

Capítulo Dois

A corrente correu sobre sua pele em mais um choque elétrico, rápida e indolor em meio aos seus domínios que quando energizados, tornavam-se um isolante de elétrons. Entretanto, ela ainda avançava, penetrando a espessa camada externa do epitélio laminar pelas áreas limpa da marca, pulando até o núcleo do caçador, atraída pelo xaana. Ele podia sentir os elétrons excitando sua energia vital, expandindo-a, transformando-a em fogo. Grunhiu. A dor era insuportável. O xaana crescia, queimando-o por dentro, avançando em seu ser etornando-o cinza. Inspirou. As narinas dilatas, abertas em meio a uma respiração difícil. O brilho em seus domínios oscilando em um intenso e anormal tom prateado.
Não conseguia externar sua angustia.
Encontrava-se fora de si.
Nervoso.
Indignado.
Era uma vergonha para sua ordem.
Um caçador que não suportava o sofrimento.
Moveu-se, em um reflexo involuntário, enquanto tentava fugir do torpor provocado pela eletricidade. Os músculos lutavam, convulsionando-se contra as amarras de couro em sua volta, contraiam-se em espasmos contínuos. Não tinha controle sobre si. Sentia a raiva dominando-o, avançando sobre seu ser a cada novo choque.
Estava frustrado, irritado, imponente.
Era uma punição, um teste, uma humilhação.
Estava sobre o poder daqueles que deveria matar, enrolado por suasteias de submissão, usurpado de sua essência. Um caçador da luz maculado pelas trevas das criaturas sombrias. Estava degradando-se, sua constituição esvaindo-se pelo sofrimento.
Por um momento, seus olhos abriram no cômodo claro e conhecido, contudo estava cego pela raiva. Tudo lhe era violeta, tudo era ruim.
O brilho intenso em seus domínios começou a mudar gradativamente para o magenta, colorindo o xaana que esvaia pelas marcas em agonia. Gritou, o fragor modulado pelo martírio escapando pelos lábios abertos em meio a mais uma descarga elétrica. Já não suportava. Estava ultrajado em meio a mais uma vitória da bruxa, transtornado pelo mal-estar vil e perverso.
Então, de repente, cessou. As chamas que o consumiam já não cresciam como labaredas, estavam morrendo, apagando-se em seus tecidos. O calor desfazia-se juntamente ao fluxo de energia que alimentava seu xaana e sofrimento.
Já não sentia mais a corrente em seu interior.
Os elétrons haviam sido suspensos dos pequenos fios grudados ao corpo nu, conectados a máquina desconhecida e moderna.
E, embora a dor ainda fosse perceptível em seu ser doente, o brilho que emanava já não era tão intenso.
-E ai, vaga-lume, ainda sentindo-se incrível? – zombou a voz de veludo da bruxa, seu tom irônico em um timbre arrogante.
não respondeu.
Estava fraco, cansado. Sua garganta encontrava-se seca, seus lábios formigavam, dormentese a língua em sua boca parecia-lhe inchada. Todavia, moveu-se contra as amarras buscando a visão da sua opressora, mas seu corpo recuou, reclamando e despreparado para o pequeno esforço.
Os ossos estavam pesados, latejantes e estalaram a menção do movimento, teve a sensação de que rachariam sob sua estrutura fadigada.
Fechou os olhos.
Impotente.
Sentia-se derrotado, infeliz, entretanto não desistiria, não falharia com o seu povo, com sua ordem. Suspirou, concentrando a dor em seu núcleo enquanto erguia muralhas em sua volta, enclausurando os sentimentos ruins.
Sentia a luz queimando-o, crepitando em sua pele acesa.
Estava curando-o, afastando-o de toda a tortura em um brilho avermelhado de balsamo.
Então, preparado, tirou o manto que recobria-lhe a mente, a proteção rígida e fragmentada que privava os malignos de seus pensamentos.
- Muito mais do que você possa imaginar. – gritou as palavras petulantes em resposta a bruxa.
Não era verdade, sabia, mas não se importava.
Abrindo novamente os olhos, levou-os em procura da mulher, encontrando-a de forma rápida atrás do vidro de proteção.
Soube, naquele momento, que ela havia o ouvido.
Seus lábios estavam curvados, esboçando um sorriso satisfeito. Sardas formando pequenas rugas ao redor dos olhos opacos e violetas tal como a magia do ar que possuía.
Notando que era observada pelo caçador, ela apenas maneou a cabeça.
Ele não tinha jeito.
Não havia solução.
Contudo, seus olhos assumiram um brilho incorruptível, cálido e ameno.
O sorriso tornou-se gentil.
Já não parecia tão má, era quase piedosa.
Ele suspirou.
A respiração tornando-se regular mais uma vez, enquanto o coração.Batia de forma acelerada, a mente parecia nublada.
Todavia, ele permitiu-se relaxar.
Conhecia-a.
Idolatrava-a.
- .-Deixe-nos. – bradou para aqueles que ele já não via.
Só ela existia e era o bastante.
No rosto jovial, sua garota ainda tinha os lábios contraídos em umsorriso.
Era pura, solene.
Então ela se afastou do vidro pelo qual ele a vislumbrava, o rosto virando, fazendo com que os cachos ruivos balançassem em sua volta em uma visão infantil enquanto seus passos modulavam as poucas curvas conhecidas em um contrates antagônico, sexy e erótico no tempo em que o corpo delgado caminhava em uma direção desconhecida.
Entretanto, sabia que ela estava indo ao seu encontro.
Eram como ímãs, atraindo um ao outro tal como dois polos opostos.
Estavam presos, amarrados pelas mesmas correntes de titânio que umdragão não poderia se livra. E precisava dela, desejava-a.
Não conseguia escapar, não queria lhe era irresistível.
- Você não deveria estar aqui, garotão. – apontou a mulher quando abriu a porta da sala que ele estava, sua voz sonora era divertida.
Piscou.
Seu caminhar era lento embora preciso. Ela não hesitava, firme e cheia de poder. Era como uma visão, um sonho irreal, deslumbrante.
-Na-na-Não… Não. – gaguejou, a garganta seca tornando sua voz rouca e baixa, pausada, as palavras não saiam.
assentiu, o sorriso tornando-se culpado, ela lia nos olhos do caçador as palavras que não conseguia formar: Não tive escolha.
Sabia, contudo não se importava.
Era egoísta, orgulhosa demais.
Aproximando-se do corpo cansado do rapaz ela apenas ergueu o lenço que levava consigo, enxugando a testa molhada pelo suor da transpiração excessiva em meio ao processo de teste tão necessário.
Sua fadiga era visível, ela via em sua mente aberta como ele estava esgotado.
-Sinto muito. – disse de forma sincera, a voz falhando quase envergonhada.
era um rapaz de brilho sempre verdadeiro.
Era mais que apenas um caçador, que um assassino.
Não deveria, mas estava encantada, fascinada.
-Sabes que não tive escolha, não sabes? – continuou em meio ao silêncio do rapaz, os olhos violetas da mulher ganhando um brilho malicioso. – Não poderia perdê-lo.
A mão que segurava o lenço enxugando-o, abaixou, percorrendo os domínios que marcavam o peito de músculos trabalhados.
Viu seus olhos arregalarem-se, cheios de compreensão e desejos.
Ele era apenas um objeto, um brinquedo em suas mãos.
Uma mercadoria.
Um escravo.
Ela o comprara por orgulho, sua atenção era fruto do desejo. – O fato era de conhecimento de ambos.
Todavia, ele não se viu supresso ao perceber como sentira falta damulher.
Era um tolo, não conseguia evitar ou tão pouco se importa.
Era maior do que ele.
Ele queria tocá-la, deslizar os dedos pela pele leitosa e saber se linda era tão macia e delicada como se lembrava.
Mas não podia, não conseguia, o couro em volta dos pulsos limitavam os seus movimento, prendendo e repreendendo.
Odiava aquelas amarras.
Odiava aquela situação.
Contudo ela estava ali a sua frente, tocando, desejando-o, tudo jánão parecia ter tanta importância, tudo ficaria bem.
Então ela estava sorrindo, o mesmo sorriso delicado embora sacana que ele tanto gostava, o seu sorriso.
-Diga que ainda é meu. – ordenou de forma presunçosa, reforçando os nós que sabia que tinha sobre ele, apertando as correntes de seu domínio e o imobilizando, entretanto as mãos pequenas e delicadas migraram aos pulsos livrando-o das amarras que perceba que tanto o perturbavam.
Seu semblante era tão calmo e amoroso.
Ele sorriu, embora fosse apenas um esboço fraco, os lábios.Erguendo-se quase imperceptivelmente.
, as vezes, era tão ardilosa quanto a bruxa, irritante e impulsiva.
Mas seus olhos ainda eram cálidos, ainda brilhavam, o violeta nas íris não era tão intenso.
Era , lembrou-se, sua garota, ao menos ainda era ela.
Inocente e imaculada.
Desta forma, apenas assentiu, não por ser uma ordem, mas porque, mesmo naquela situação no laboratório, sempre seria dela, apenas dela.
Contudo, ela maneou a cabeça, parecia decepcionada, os lábios fazendo um bico desapontado enquanto a mão direita migrava até o queixo quadrado do rapaz.
-Tchs, Tchs, caçador, diga. – ordenou novamente.
O corpo abaixando sobre o do rapaz, tão perto e ainda tão longe, ele sentia seu calor, tão sedutor, tão pungente, seus olhos fixos um ao outro.
Ela riu em excitação, em seguida, mordendo o lábio inferior, cravando os dentes na carne da região bucal de modo tão inapropriado.
Ainda próximo do caçador, levou a boca até o seu pavilhãoauricular e arrepiou-se em meio a respiração calma no local.
-Eu quero ouvi-lo, garotão, diga que ainda me pertence. – sussurrou, mordendo o lóbulo da orelha morena do rapaz, dengosa, tentadora.
Ele suspirou.
Parecia insegura, entretanto, era apenas mais um truque em seu jogo.
Esperou, tentando sentir a mesma indignação que o corroía no começo.
Não houve nada.
Estava calmo, maculado pelo medo e insegurança.
Tudo parecia-lhe um presente, um ato de misericórdia.
No fim, era um sopro de esperança, uma luz nas trevas das criaturas vis que o tornavam fraco de mais exercer seu treinamentoe destino. Uma aliada.
Uma benção.
Já não lhe havia mais defeitos, já não se importava com ele.
Pigarreou.
-Sim. – disse calmo, a voz rouca e baixa, arrastada, a mão buscando a da garota que ainda descansava em seu peito apoiando-se nele. Queria sentir a marca dali, o pequeno domínio que fizera antes de fugir na outra vez que fora preso no laboratório macabro. – Sou seu, nunca deixei de ser.
Os dedos então passaram a massagear a marca no pulso da garota, uniforme e bela, contornando o desenho geométrico e mágico.Era sua, o mesmo extinto primitivo lhe dizia, sussurrando a certeza enquanto a pregava em sua consciência. Nada havia mudado. A garota riu satisfeita, o som muito próximo ressoando por todo o seu corpo em algo doce e bem-vindo e perigoso.
As unhas da mão livre rasparam pela pele que recobria o ombro do rapaz em sua forma delicada de carícia.
Não era profundo.
Não era superficial.
Afastando-se, levou novamente o rosto ao encontro do caçador.
Ele a esperava, percebeu. Ansioso, obediente.
Os olhos brilhavam, encantados.
Era dela, lembrou-se, como deveria ser.
Assim, abaixou sobre o rapaz, os lábios próximos aos dele, provocando, incitando-o a obter mais dela.
Ele o fez, rompendo o curto espaço atrás da sua garota, beijando-acom a fome que o dilacerava.
A língua bifurcada invadindo-a antes que ela pudesse permitir ou gostar, explorando a boca que já conhecida, provando-a, chupando. E, da forma que esperava, ela o correspondeu, duelando com ele como ele queria que ela fizesse.
Puxou-a contra si com a mão que já a tocava.
Estava reivindicando-a.
Brincando da mesma forma que ela fazia com ele.
Era bom.
Uma dança instigante onde não havia movimentos errados.
Sentia o pulso da garota esquentando em volta de seus dedos, onde estava o domínio que havia feito, sabia que brilhava, no mesmo tomrosado que ele.
Eram um.
Peças opostas feitas para se completarem.
Contudo, o contato entre ambos foi breve, do mesmo modo que o provocara a iniciar o beijo a garota o finalizou, afastou-se, rindode modo fácil, inatingível.
Era perversa.
grunhiu, algo visceral um som íntimo e desesperado, moldado a partir do abandono repentino da garota.
Estava inebriado.
Cego pelo cor-de-rosa, uma nuvem densa e fumegante que os recobriam em tribulação.
Sentia o desejo pulsando em seus vasos, forçando contra os seus sentidos aguçados.
Precisava tê-la mais uma vez.
Queria-a, queria-a, queria-a.
-Tão apresado para se provar, não é mesmo, caçador? – disse ela, afastando-se dele enquanto virava-se a fim de pegar a agulha pertodo leito do rapaz.
Ele nada disse, remexendo-se irritado sobre o colchão duro, procurando conforto com a excitação de seu corpo.
Ademais, o ar pareceu-lhe rarefeito, contudo não era.
O coração acelerado, ainda querendo algo que não poderia ter.
A mente tonta e confusa.
Algo estava diferente, mas não podia estar.Por que ela estava fugindo?
Por um momento fez o que não deveria: Ele inalou, filtrando os cheiros e sensação que vinham dela.
Ela emanava desejo, um cheiro forte e adocicado que tornava suas narinas sensíveis e o corpo quente.
Contudo havia algo a mais, interlaçado no cheiro como se forcem um, maculando a essência com uma fragrância cítrica que irritava seu nariz sensível. Seu corpo estremeceu.
Isso não era bom.
Então, ela virou-se mais uma vez em sua direção, calma e segura.
Os olhos do caçador rapidamente a sondaram, buscando aquilo que a perturbava, vagando pela garota até o objeto pontiagudo que ela segurava já preenchido por um líquido escuro.
Seus olhos arregalaram-se.
A respiração travando.
-Não. – disse sem se conter, o pedido baixo o fez se sentir humilhado.
Todavia, ele entendia.
Não queria, embora soubesse que era necessário.
Ela tinha que fazer aquilo. Era seu dever, seu trabalho.
E ele queria ser útil a ela, ajudá-la da mesma forma que ela fez em todo o tempo em que ele era apenas mais um escravo, mais um teste em uma revolução sádica que escolhia aqueles que deveriam morrer.
Mas já não era digno.
Desonrara a sua ordem.
Não a merecia.
Não podia protegê-la nem salvá-la.
Era fraco de mais.
Suspirou.
Aquilo também não havia mudado.
-Isso é maior do que nós, . – disse-lhe, a voz doce tremendo ao pronunciar o apelido, as sobrancelhas franzidas mostrando o seu descontentamento. – muito maior que nossas escolhas.
Embora não concordasse, ele assentiu.
Tentavam despertar o monstro, apagando as estrelas.
Destronar um tirano para que o mal pudesse reinar novamente.
Eram tolos se acreditavam que a princesa sobre a pedra deveria fidelidade aqueles que a levariam ao poder mais uma vez. Entretanto estavam tão certos que sua causa valia a pena.
Firmados sobre o sonho que tudo seria melhor quando a princesa vivesse. Uma falsa.
Uma mentira.
Contudo não discordou de suas ideologias, já aprenderá a lição.
Desta forma, apenas tentou dizer alguma coisa que levasse a mulhera beijá-lo antes de aplicar a droga no seu sistema, mas então a porta abriu e o seu pesadelo começou:
-Estamos prontos. – disse o guerreiro feérico sem adentrar no cômodo.
sorriu, algo vazio e sínico tão diferente dos que costumava direcionava a ele.
-Oras, garotão, que notícia agradável, não? Espero que goste do presente que nós preparamos para você.
A mulher parecia mais fria, distante.
Cruzou o pequeno espaço que os separavam e puxando o braço do caçador. Procurou a veia que passava no local antes de aplicar a substância tóxica.
Os olhos do rapaz estavam nela, sondando-a novamente.
Ela ainda sorria, mas os olhos já não eram tom brilhantes, havia uma sombra sobre eles, recobrindo o violeta que ele tanto gostavae odiar de um modo estranho.
Ainda era a mesma mulher, mas já não era apenas ela.
Era , contudo também era a bruxa.

Capítulo Três

estava em uma das máquinas que ele havia causado prejuízo no verão, durante sua fuga.
A grande estrutura de ferro tornava-a pequena e indefesa, sobre osarcos moveis e os fios que conduziam a eletricidade.
O corpo curvado, preso pelos membros nos quatro grilhões laterais de ferro que compunham parte da máquina.
Estava desprovida de suas roupas comuns, coberta apenas por uma camisola de tecido fino e transparente sob a pele nua.
O cabelo escuro encontrava-se bagunçado, jogado parcialmente sobreo rosto.
Parecia desacordada, com a cabeça baixa e a boca semiaberta.
Não era a mesma garota.
Seus traços delicados já não expressavam a selvageria ao qual costumava ver em suas batalhas.
Sua ironia e imprevisibilidade outrora esquecidas.
Era fraca sem a armadura de bronze e a espada.
O caçador sentiu-se estremecer.
A pele vibrando enquanto os domínios giravam sobre sua estrutura robusta ganhando uma nova conformação em um brilho esverdeado tal como o da caçadora.
Ele reconhecia o xaana da garota, sua potência e intensidade.
Eram os mesmos, diferentes e iguais, ligados por um estolão familiar invisível presente desde a sua formação.
Tudo estava errado.
Remexeu-se contra as amarras da cadeira de rodas na qual haviam o colocado antes de deixar a sala do laboratório buscando . Entretanto, ao focar em seus olhos opacos ele soube que ela já nãoestava a li A bruxa a havia dominado mais uma vez.
- Não, por favor, não. Ela não. – sussurrou, a voz baixa implorando, não a bruxa, mas a mulher que estava oculta naquele corpo escondida em meio a corrupção da magia. – Liberte-a.
Contudo, ela não respondeu, nem uma das duas mulheres no corpo.
Segura diante do controle da máquina que ele tanto temia, não houve sinal que lhe ouvia.
Ela era fraca diante da bruxa, maleável em meio ao seu poder.
Engoliu em seco, o rosto voltando-se para o vidro de proteção que permitia-o vê a irmã.
Tão pura.
Tão inocente.
Sentiu o corpo arrepiar, o pânico o dominando enquanto a aflição escurecia a sua alma.
-Obrigada, vaga-lume. – disse repentinamente a bruxa, a voz cheia de sarcasmos. – Seu prejuízo nos fez ver onde estávamos errando, agora nós vamos conseguir aquilo que você tanto se negava a nos dar.
Estremeceu.
As palavras roubando-lhe a atenção até a mulher.
Ela era tão diferente de sua garota.
-E no fim sua rebeldia nos fez encontra alguém tão cheia quanto você. Finalmente poderemos ir ao outro lado.
Grunhiu.
A menção do reino de origem fazendo-o odiá-la.
Não poderiam chegar até lá.
Não deixaria.
A maldade não iria macular aquele lugar onde habitava a verdadeira essência da vida, onde o xaana fluía para além do poder vitaldando origem a tudo.
Era muito poderoso, embora muito simples.
Aquelas criaturas nunca chegariam ao outro lado.
Eles não pertenciam aquele lugar, ao seu lar.
Assim, de modo repentino, enquanto ainda a observava, a bruxa ligou a máquina, acionando um comando no painel emborrachado Os olhos do caçador arregalaram-se, girando o corpo bruscamente na cadeira, até encontrar a irmã do lado oposto ao vidro de proteção.
Ele viu, com pavor, quando a corrente elétrica chegou até ela.
Seu corpo inerte ganhou vida, debatendo-se enquanto o fluxo deelétrons era acima do que ela poderia suportar.
Não tinha consciência, estava dopada.
Os domínios brilhavam intensamente, pela primeira vez em um tom diferente do caçador, energizados pela corrente enquanto o xaana vazava pelas marcas, escorrendo do corpo raquítico da garotaabandonando seu núcleo.
Era um aviso.
Uma amostra do que eles poderiam fazer, do seu poder edeterminação.
Eles iriam esgotá-la.
Secá-la de toda a energia que possuía.
Eles podiam, queriam.
sentiu o corpo enrijecer, paralisado por um momento.
O desespero pulsando de seu núcleo quando via a irmã sofre.
Iriam fazê-lo pagar, porque o caçador havia os afrontados aodestruir a máquina. Usariam sua irmã.
- Não – disse, mas a palavra não soou ao ser pronunciada pelos lábios entreabertos, ele não conseguia fazer com que parassem Agitou-se, os membros encontrando as amarras com força enquantotentava vencer aquela barreira.
Ele precisava protegê-la.
Precisava salvá-la.
não devia está ali, não naquela máquina barbara e nefasta.
Ele vira o que ela podia fazer, como ela apagava as estrelas.
-Não! – enfim gritou, o ato rasgando a garganta já machucada.
Entretanto, o martilho da irmã pareceu torna-se mais pungente.
A luz rasgava-lhe a pele, forçando o tecido a partir dos domíniosrompendo a coesão entre as células.
Corroendo.
Machucando.
E assim, enquanto a luminosidade consumia a garota, os pontos brilhantes mais perto do corpo ganharam uma tonalidade azulada pelo sangue que vazava das feridas abertas que tingiam o xaana emdesesperança, sujando a energia de vida.
Maculando algo tão puro e limpo.
Mas, caçadores não sangravam.
Não era natural ou tão pouco certo.
Eram seres superiores, agora, rebaixos por criaturas profanas.
Repentinamente, os olhos da garota abriram-se, contudo estavam consumidos pela luz, eram como dois faróis em meio a escuridão,tão diferente do azul da mãe que herdara.
Sua luz era prateada e errônea.
Estava desnorteada em meio a dor.
Inerte.
Aflita.
Não suportava o sofrimento.
Contudo, os olhos rondavam o local, focando-se na parede de vidroonde a ligação a levava Procurava pelo caçador.
Puxando o estolão em busca de paz, de ajuda.
Ela sentia-o, o ouvira.
Estava desesperada.
Gritou, histérica e incontrolável.
Os membros chocando-se contra as correntes enquanto tentava souta-se.
Estava lutando para não perecer.
sentiu as lágrimas acumularem-se em seus olhos, sem queele permitisse que elas realmente caíssem.
Só os fracos choravam.
Engoliu em seco.
Ela era tão integra, amorosa.
Não merecia aquele sofrimento.
Não deveria sofrer.
Estava se transformando em luz, enquanto seus sonhos tornavam-sepó.
Não deveria ser assim.
Ela era uma guerreira mais digna e forte.
Mas nunca chegaria a idade necessária para defender o lar.
E no fundo, o rapaz sabia que era sua culpa.
- ! – disse o nome tal como uma petição, clamando para que suportasse, para que sobrevivesse, a voz mais baixa perante a dor na garganta. – !
Então a bruxa levantou uma alavanca, próxima ao caçador, um últimodisparo de eletricidade na máquina para o corpo da jovem.
E assim o xaana abandonou por completo o corpo inerte pelos domínios da jovem enquanto ganhava uma forma luminosa: Um portal Ele ondulava, crescendo e regressando, enquanto a energia tentavase estabilizar.
As lágrimas rapidamente romperam as barreiras nos olhos do rapaz, correndo pelo rosto marcado sem autorização.
Não suportou.
A dor em seu peito era forte de mais.
Fora tão rápido.
Tão brutal.
Era o fim da garota.
Puxou mentalmente o estolão que os ligavam pelo xaana, tentando convencer-se que ela estava bem, que apesar dos pesares, ainda havia esperança, mas do outro lado ela não respondeu a conexão Só havia o silêncio.
- O procedimento foi concluído com sucesso. – disse alguém que ele não conhecia.
A visão maculada pelas lágrimas ainda estava focada na irmã.
Sua família.
Sua energia.
Contudo não se mexia, seus olhos inertes não olhavam para nada.
Não havia brilho em seus domínios.
Não havia xaana em seu núcleo.
Estava vazia.
Sem vida.
Eles haviam a roubaram.
- Nós conseguimos… Conseguimos! – vibrou a bruxa incrédula, regozijada em meio a sua apoteose, porém sua voz tão baixa que ele não se importou.
se foi.
Não podia ser verdade.
.
- Senhora, temo que o portal ainda não seja instável. – contrapôs um dos cientistas anões que acompanhava os testes do caçador da primeira vez que ele estivera naquele lugar, Calixto era seu nome. – Não podemos mantê-lo por muito tempo.
A voz cada vez mais baixa, não notou uma reação da bruxa, mais umavez não lhe despertou interesse.
Ele havia falhado com a irmã.
Havia deixado que eles a apagassem.
Soluçou, as lágrimas caindo com mais intensidade de seus olhos.
Precisava concerta seu erro, precisava energizá-la mais uma vez, antes que fosse tarde de mais, antes que ela acordasse novamente.
Sem xaana.
Sem vida.
Não deixaria que a transformassem em uma Sugadora.
Naquela criatura vil, impura e desprezível.
Seria um pesadelo.
Não poderia permitir.
Eles – sua ordem – a caçariam e quando colocassem fogo em sua cabeça, ela queimaria, desprotegida pela energia que já não possuía e que agora procurava loucamente.
Seria profano.
Contudo, ele sabia que o pouco que restava de no corpo maculado imploraria pela verdadeira morte, desejaria ir, buscando respeito e fim.
Sentiu o coração pesar, as vísceras se contorcendo em desespero.
A visão turva, a cabeça rodava.
Os rebeldes não entendiam.
Deixariam que ela virasse um monstro tal como eles.
Contorceu-se contra as amarras em uma resposta natural de seu ser a necessidade de reacende a caçadora, mas já não havia força Seus olhos fecharam-se quando a droga aplicada mais cedo finalmente o levava a inconsciência.

Capítulo Quatro

estava preso na cela mais uma vez.
As paredes feitas de ferro enferrujado eram estreitas o que tornava o cômodo pequeno opressor.
Era um lugar úmido e frio, mesmo para seu corpo aquecido pelo xaana, o grande aquecedor velho da prisão parecia ter quebrado novamente e a janela perto da cela estava aberta, o que deixava que a neve e o vento impetuosos do inverno entrasse, contribuindo para a baixa temperatura do local.
Moveu-se de forma lenta e maçante enquanto tentava senta-se, as mãos apoiando-se contra o leito ao tempo que forçava o corpo ao que queria.
Estava deitado sobre um coxão fino e duro no chão gelado, mas parecia que o acolchoado era feito de extremidades pontiagudas e frias coberto por um tecido áspero e vincado.
Era muito desconfortável.
Sentia o corpo dolorido, os músculos cansados pelo estresse e a posição desleixada que haviam o depositado depois de ter sido apagado pela droga.
As pernas pinicavam onde a circulação não corria livremente.
Gemeu.
A cabeça latejava.
A garganta seca.
Os olhos ainda tentavam acostuma-se em meio a parca iluminação proporcionada pelos domínios do rapaz.
Sua luz era vermelha e ele esforçava-se para lembrar porque estava com tanta raiva.
- Você parece horrível. – disse uma voz conhecida.
A cabeça girou em volta a procura de quem maculava o recinto rápida de mais em meio a dor.
Tudo pareceu rodar.
O corpo tombou na grade, fraco e pontos pretos romperam em sua visão enquanto tentava ver.
Entretanto, ainda conseguiu distinguir a forma da mulher encostada em sua cela.
Tinha o quadril apoiado ao ferro coberto pela túnica azul de ceda que vestia, um braço cruzado no abdome ressaltando os seios pequenos enquanto o outro segurava algo redondo e fumegante sob um pano espeço, cheirava a sopa.
Contudo, ele não via seus olhos.
A postura descontraída não era o suficiente para denunciar quem realmente o visitava Ele não sabia quem era.
- Você não deveria está aqui – disse de qualquer forma, a voz arrastada e baixa, estava rouca A mulher pareceu sorrir, mas não tinha certeza.
-Devo está onde eu quiser.
Assentiu, embora soubesse que era perigoso.
Expirou fortemente em desistência.
Estava cansado, fraco.
Não queria discutir, não podia.
Os lábios rachados estavam entreabertos e o ar condensava quando ia para o meio externo.
Estava muito frio.
Os olhos fecharam-se.
As lembranças confusas o abraçavam ao meio.
Estava rachado, quebrado, um pedaço faltando.
Seu brilho, agora, tornava-se cinza, escurecendo o vermelho da raiva.
Estava triste, vazio.
Então, passos ressoaram no recinto, firmes e baixos, contrariando suas vontades.
Mas ele não conseguia sentir nada.
Ela estava aproximando-se, e ele não se importou.
Estava parado, sem expectativas.
- Como você está? – perguntou a mulher, o corpo abaixando-se, acocorando-se, os joelhos dobraram-se enquanto apoiava o peso de sua estrutura sob as pontas dos dedos do pé protegidos pela bota de couro perto do coxão em que ele estava, seu tom incerto, o timbre ondulando, parecia preocupada. – trouxe lhe comida.
Ele apenas maneou a cabeça.
Não queria comer.
Não queria falar.
Não queria pensar.
O peito doía e o ar lhe faltava.
Sentia seu coração remoendo-se no mediastino.
- ? – chamou, a voz baixa não passando de um sussurro.
Ela tocou-lhe os domínios do rosto, em uma carícia, abandonando o prato que trazia consigo próximo do colchão do rapaz, entretanto não era quente o bastante.
Era errada.
Bruta de mais.
Inapropriada.
Abriu os olhos, encontrando os violetas da mulher, mas ainda não pode identificar quem era.
- Vá, antes que eles a encontre aqui. – implorou.
Não queria mais problemas.
Era um covarde.
- Não se preocupe, não vão nos pegar juntos de novo, prometo, eu cuidei de tudo desta vez.
Aproximou-se dele, contudo o caçador nada fez.
O corpo letárgico.
Em sua mente, um nome ressoava: .
Ele havia falhado com ela.
Indiretamente, a havia matado, a evanescido.
Agora, precisava salvá-la, antes que fosse tarde de mais.
- Onde está? – perguntou, o rosto muito próximo do dela A mulher apenas, sorriu, os lábios sendo repuxados sem malícia. - O que?.
engoliu em seco.
Os olhos estudando o rosto que tanto gostava.
Estava confuso, a mente nublada pelo receio e a desconfiança Quem era ela?.
A testa vincou.
Era inocente, sabia.
Apenas mais uma vítima da bruxa e dos rebeldes.
Contudo, ele ainda não conseguia diferenciá-las naquele momento.
Eram as mesmas, de uma forma incerta e lastimante.
- Onde está o corpo da minha irmã?.
O rosto dela ficou sério, consternado.
- Não sei.
Disse-lhe a mulher, mas, para o caçador, suas palavras não eram verdadeiras.
As sobrancelhas franziram-se.
Não a entendia.
- Ela precisa de um ritual, precisa ser purificada. – falou de modo firme e inquestionável para que ela pudesse o entender, a voz rouca na garganta machucada.
Não perderia .
Não deixaria que fosse corrompida.
Iria reacendê-la.
Ainda havia esperança.
Entretanto, não sabia quanto tempo estivera desacordado pela droga.
Talvez já não pudesse transferir.
Então, sua alma precisaria ser levada para o outro lado, para o.
Lãmuntea.
Ele iria moldá-la, preparar para que pudesse recebesse o xaana em seu núcleo mais uma vez quando chegasse a hora.
Guardaria sua essência enquanto o corpo imortal estava vazio, protegendo para que aquela estrutura não fosse maculada pela escuridão.
- Não sei onde está. – disse novamente a mulher no mesmo tom errado e inquestionável, parecia envergonhada, tentando transmitir uma certeza que não existia.
Maneou a cabeça, enfim entendendo.
Ela não podia falar.
Fora selada pelos rebeldes, pela bruxa.
Aquela era uma informação proibida.
Ficou enjoado repentinamente.
O estômago revolto, a bile subindo.
Não poderia conceder dignidade a irmã.
seria marcada por uma desonra fúnebre, uma vergonha.
Ele tinha que salvá-la Como? – a pergunta ressoava em sua mente – Como salvar? Como? Como?.
Nos olhos do caçador, lágrimas se acumularam sem permissão.
O brilho em seus domínios tornando-se laranja, uma mistura da cólera e desolação que queimavam-no, brasas frias que cresciam em seu peito marcando-o de forma austera.
Sentia-se perdido.
A mulher, vendo-o taciturno, aproximou-se.
O corpo mais próximo do rapaz, transmitindo-lhe seus pêsames.
As mãos subindo pelos braços dele em respeito.
A cabeça baixa, triste e tímida.
– Sinto tanto, . – disse-lhe de forma acanhada.
Via a tristeza dele, a sentia.
Estava desolado.
- Mas… - continuou, a voz falhando, incerta. – Você está vivo… Então fico feliz que tenha sido assim, que foi ela e não você a evanescer.
Ele engoliu em seco.
A garganta fechando.
O sangue correndo mais rapidamente pelos seus vasos.
Triste, derrotado, de luto.
Estava vivo. Mas a irmã não.
Ele já não merecia, não se importava.
Não deveria ter sido uma escolha, deveria viver.
Era um fraco, caído em meio a fúria dos rebeldes e de sua própria indignidade.
- Liberte-me, minha senhora, ajude-me a encontrar o corpo de minha irmã e purificar sua alma. – suas palavras não passando de sussurros desesperados Elas apenas maneou a cabeça.
- Não posso.
Ele assentiu em meio a sua voz firme indiscutível.
Os olhos buscando-a em meio a luz de seus domínios.
Era .
Sabia.
Via sua delicadeza e humanidade.
Seus olhos brilhavam e eram cálidos.
Notou as pequenas vibrações da energia que emanava do seu corpo em uma frequência mais baixa e continua, finalmente definida livre da.
eletricidade dos testes.
Suspirou.
Ela era tão bonita, quase majestosa.
Os cabelos revoltos estavam domados naquela noite, trançados em algo elegante em volta da cabeça até a lateral esquerda do corpo, constatando contra a pele leitosa do colo e indo até pouco acima.
da cintura marcada pela túnica.
Queria tocá-la.
Adorá-la.
Afastar suas dores enquanto tomava-a contra si.
Era sua, pertencia-o.
Pegando uma das mãos que estava apoiada em seu braço, procurou o domínio que havia feito no pulso dela, contornado mais uma vez o desenho que havia marcado na mulher Era cômodo, seguro.
- , você precisa nos ajudar. – disse de modo repentino, a voz baixa falhando enquanto olhava fixamente o rapaz que lhe acariciava, o corpo vibrando satisfeito.
Ele ergueu a cabeça, soltando o pulso da mulher enquanto buscava sua face As sobrancelhas franzindo em desentendimento. O que havia de errado?.
Tudo lhe era tão confuso.
Sentia medo, angustia, estava com raiva, em pânico.
- Eu não entendo. – disse de modo sincero. – Por que os ajudaria?
A mulher suspiro, contrariada.
As mãos apoiaram-se em volta do rosto do caçador, obrigando-o a aproximasse, certificando-se de que sua atenção estava nela, focado e atento.
Por alguns instantes, apenas o olhou.
Mas já não havia brilho em seu globo ocular, não era amena tão pouco benevolente Estava possuída pela escuridão.
-Eles iram matá-lo caçador, você é o próximo.
sentiu o corpo estremecer.
A visão afunilando.
O brilho em seus domínios mudando tornando-se alvo, pálido, quase translúcido, em antecipação.
Porem, estava calmo.
Sentiu seus membros relaxarem e a aflição esvair.
A mente leve.
Tudo brilhava.
Já não havia preocupação ou medo.
Só alívio, percebeu.
Estava em paz, entretanto aquele era um sentimento feio, remendado com tecido bonitos.
- Não me importo. – disse, e mais uma vez foi sincero.
Era sua sina verdadeira, maior do que qualquer outra, mais forte que o destino preterido por sua ordem.
Ele esperava o fim desde que fora capturado, agora, apenas o acolhia.
- Não, ! Você não pode desistir assim. – a voz frágil e desgostosa, falhando em meio a sua emoção. – não pode desistir de nós dois, você precisa sobreviver, lutar como estou lutando por você.
Ela vibrava.
Parecia assustada, com raiva.
As mãos que ainda repousavam em volta da lateral do rosto quadrado do rapaz puxaram-no para si, aproximando em desespero os lábios de ambos.
O caçador paralisou.
Não esperava.
Sentia-se acuado, maculado.
A pressão em seus lábios era errada, dolorosa e pesada.
Não sentia seu gosto doce.
Seu corpo não reagia ao dela.
Não havia emoção.
Não havia nada.
Afastou-se, rompendo o contato que ela obrigava-o a ter.
Estava frustrado.
Os olhos faiscando pela raiva.
Ali estavam ambas – , Bruxa – dividindo um mesmo corpo com.
duas essências diferente Lutando para dominar uma a outra.
-Não posso perdê-lo – disse a mulher emocionada, embora insatisfeita e desconcertada pela rejeição.
Ele maneou a cabeça.
Aterrorizado.
Sentia sua aspereza, o cheiro profano que emanava de sua essência.
- Quem é você? – sussurrou o rapaz, a voz fria, seu timbre acusador.
Ela nada disse.
A cabeça virando-se em um ângulo estranho enquanto ainda observava o rapaz.
Havia sido descoberta.
Era um ser obscuro, maculado pela maldade da magia.
Não havia luz.
Era profano.
grunhiu.
Os olhos azuis-cobalto ainda focados no violeta buscaram vestígios da outra mulher.
Contudo, ele não a encontrou.
Era uma presença fantasma, escondida em meio a essência nefasta da bruxa, coberta pelo manto escuro da magia naquele receptáculo pequeno.
se fora.
maneou a cabeça.
O brilho de seus domínios ganharam uma tonalidade âmbar em meio ao asco que sentia.
A bruxa a havia dominado de novo.
Forte, embora vil e vulgar.
Ela havia matado – lembrou-se, as palavras cravando na sua ferida aberta.
A vertigem voltando, enquanto a pressão no globo ocular aumentava.
O corpo estremecendo.
Ela havia apagado o brilho da estrela.
Tão pura e inocente.
Abaixando a vista, seus olhos focaram em algo em seu colo: A chave da cela, presa em um colar, estava torta apoiada na clavícula sobressalente dela.
-Diga-me, vaga-lume, como posso estabilizar um portal de xaana?
Finalmente perguntou, sem se importa com sua identidade, estava ali apenas para descobrir como chegar ao outro lado.
Energia.
Ele não a respondeu, embora estremecesse.
Sentia seu núcleo crescendo enquanto o xaana era acumulado em seus domínios, juntando-se nas marcas em meio a sua determinação.
O calor era terrível.
Entretanto, ainda não era o suficiente, ele precisava de mais.
- Você pode me contar, vaga-lume, sabe que sim, prometo drenar um caçador desconhecido seu da próxima vez.
Ela sorriu, parecendo desfrutar de suas palavras, porém era errada, sádica.
maneou a cabeça mais uma vez, entorpecido em meio a energia que fluía para seus domínios.
A bruxa era outra face da máscara.
Profana e arrogante.
Não era boa, mas era a outra essência do receptáculo que o atraia.
Chamava-o, enchendo seu poder de receio.
Seus olhos buscaram a outra garota no corpo maculado da mulher – a sua garota, tão terna e graciosa.
ainda deveria está ali, embora o caçador não a encontrasse, ela era uma parte quebrada que ele gostava, escondida.
em meio a maldade e impossível de mistura.
Seu brilho tornou-se intenso, embora que fugaz.
A pele quente, saturada.
Iria salvá-la, a libertaria da bruxa.
Mas, não agora.
Então, olhando-a, procurando sua presença vencida, desculpou-se,
da forma que só ela poderia entender.
Havia coisas mais importantes que o gostar ou amar.
Sacrifícios eram necessários.
-Oh! – a bruxa recuou, os olhos estreitando-se ao tempo que o sorriso morria em seus lábios, o corpo tornando-se rígido – eu sei o que você está fazendo!.
Ele arqueou uma sobrancelha.
Os braços cruzando sob o peito nu em divertimento.
-Não, minha senhora, você não sabe.
Assim, liberou a energia que prendia em suas marcas.
E a luz explodiu no cômodo, iluminando toda a cela, a energia vibrava, limpa e absorta, avançando e convertendo a matéria em brilho.
Sua força, impelindo o ar, então tudo era poder, tudo era xaana.
Não existiam limites a luz, tudo era um borrão.
Desta forma, a bruxa caiu, empurrada por mãos brilhantes de energia.
Estava surpresa, ele podia ver, os olhos arregalados a boca entreaberta enquanto a força era roubada, atraída pelo poder liberado, desejosa a junta-se a algo tão intenso, a magia calava-se, curvando-se.
Ela esmoreceu, a cabeça batendo contra o ferro da grade da cela, quando já estava desacordada, fraca e impotente.
A vida era um fio fino que fora balançado pelo vigor da explosão, descascado pelo xaana que ela tanto desmerecia.
arfou.
A pele arrepiada, o corpo trombando.
Era mais do que ele poderia suportar.
Sentia-se vazio.
Erguendo-se com dificuldade ele caminhou de forma vacilante até o corpo caído da bruxa, pegando a chave que ela ostentava acima do decote. Inspirou.
Expirou.
O xaana transformava-se dentro de si.
Piscou.
Os olhos focando-se ao tempo que seu núcleo era recarregado O que ele fez?.
Grunhiu.
Tinha perdido o controle.
Não deveria ter feito isso.
Não deveria ter mostrado tanto.
Será que ela estaria machucada? Que ele a teria machucado? Não sabia, mas ao ver seus olhos fechados notou como ela parecia pura Não havia luta, nem magia ou maldade, era apenas uma garota em.
paz… .
Sentiu seu coração acelerar, retumbando contra sua caixa torácica.
Queria abraçá-la, beijá-la.
Não poderia conter-se.
Era maior do que ele.
Seu ser clamava por ela.
Abaixou-se mais uma vez, os joelhos dobrando, o corpo curvando, a chave firme na mão direita cruzada atrás do corpo, assim os lábios quentes pressionaram cariosamente a têmpora da mulher, em um beijo reconfortante.
-Tudo vai ficar bem, minha querida. – prometeu, embora não soubesse o que significava.
Contudo, ele ainda precisava salvar .
Seu destino estava marcado em suas mãos, e estava escurecendo, ganhando tons de cinza enquanto a alma presa ao corpo da irmã apodrecia e transformava-a em uma Sugadora.
Ergue-se de forma desengonçada, tombando ao tentar portasse de pé novamente, fazendo com que a mão esquerda apoia-se na grade e a direita, fechada contra a chave que segurava, levanta-se em reflexo para obter equilíbrio Suspirou, apoiado contra a cela.
Estava cansado.
Com dor.
O corpo mole. Os membros dormentes.
Sentia o mal-estar enevoando-o, contorcendo suas vísceras.
Entretanto, andou, os músculos retesando a cada movimento de sua andadura, contrariados, fadigados.
Ele precisava encontra a irmã.
Assim, chegando nos limites do cômodo, ele farejou.
Puxando fortemente o ar até o nariz apuradas de caçador ele detectou as essências e as suas direções.
Ele separava os cheiros quando estes chegavam as suas fossas nasais, esquerda ou direita e desta forma determinava o sentindo de sua origem, percebeu que o cheiro da urina provinda da cela ao lado era forte, mas não interferiu em sua análise.
Ele sentia o medo, a escassez, a morte.
Era tudo tão intenso e intrínseco.
Era pútrido.
As flagrâncias invadiam-no, impactando-o de modo exigente e letárgico.
Então, ele a sentiu, detectando-a em meio ao ardor ferroso de guardas feéricos: Rosas silvestres do oeste.
.
Inspirou mais uma vez, identificando sua direção, mapeando-a em sua mente.
O peito cheio de orgulho e determinação. Não deixaria se transformar.
Levando a chave até a sua fechadura circular ele a encaixou e girou ouvindo com alegria quando um clique soou pela cela uma vez.
Sorriu.
Ele estava indo atrás da irmã.

Capítulo Cinco

Seus passos eram trôpegos no extenso corredor.
Estava atendo, confiante, embora também desesperado, os ouvidos apurados, assim como o nariz, ajudavam-no a evitar possíveis encontros com guardas.
O cheiro ferroso deixava-o enjoado enquanto caminhava, estava impregnado nas paredes, assim como a maldade dos atos.
A essência era ruim, forte e letárgica.
Estremeceu.
Ele ouvia suas risadas alegres, as palavras sussurradas em meio ao.
concreto da parede que os separavam.
Estavam ali, presentes, e visíveis em meio a seus sentindo.
Determinados e inatingíveis.
O coração tornou-se revolto, ao tempo que a insegurança corria em.
seu ser a cada batida.
Estava fraco, meio vazio após liberar o xaana.
O corpo era um caleidoscópio, refletido as intensas mudanças de.
humor e sentimento em seus domínios.
Ele brilhava em laranja, ora em azul e as vezes em verde.
Suspirou, sua andadura tornado-se mais constante ao notar que não havia guardas naquele ponto do corredor.
Tinha uma sensação ruim.
As vísceras quentes, implorando por algo que ele não compreendia.
Algo estava errado.
Todavia, aquela era uma missão, assim continuou a farejar o ar.
estava próxima, percebeu, seu cheiro era forte.
Desta forma, apenas seguiu seus sentidos, virando a esquerda em uma bifurcação ao notar que estava livre de guardas.
Ele vibrava.
O xaana ondulando.
A pele arrepiada.
Precisava aproxima-se.
Precisava afasta-se.
Mas ela estava ali.
Puxou o estolão em seu núcleo em confirmação, tentando sentir a presença de sua alma, entretanto a irmã já não podia responder.
Estava vazia.
Sabia, mas ainda havia esperanças em seu ser, fervente e constante Trombando, aproximou-se da porta da sala que ela estava, levando a chave mestra que pegara da bruxa até a fechadura da porta.
Abriu.
A sala era arejada e clara, iluminada por grandes lâmpadas fluorescentes, o aquecedor ligado dava-a uma temperatura amena.
E no centro, havia um leito onde um corpo descansava.
Era pequeno, delicado e apagado.
Inspirou, o ar sendo contido sem seu peito sem conseguir respirar.
Lagrimas borrarão a sua visão.
.
O corpo estava limpo do sangue, coberta apenas por um lençol fino, os cabelos jogados a sua volta constatando com a palidez da morte.
Arfou.
O corpo curvando-se e a mão apoiando-se no batente da porta.
A luz tornou-se marrom em desespero.
Não sabia que seria tão difícil.
Adentrando o cômodo, correu até a irmã, os passos desengonçados.
enquanto jogava-se em cima do corpo Soluçou.
- Me desculpa. – disse em meio as lágrimas que corriam de seus olhos, a voz embargada. – me desculpa.
A dor era palpável.
O sofrimento latente.
A respiração irregular em meio ao choro enquanto a culpa queimava em seu interior.
Levando a mão direita até o rosto da irmã ele tirou o cabelo que estava em seu rosto, acariciando o domínio triangular na pele.
Estava tão fria, tão frágil e delicada.
Todavia, ela ainda estava no corpo imortal.
Ele sentia sua alma.
Assustada, machucada e deprimida.
Estava corrompendo-se.
Havia uma sombra a sua volta, escurecendo a pureza do servir, viciando-a naquilo que perdeu.
Imaginou.
Suspirou aliviado.
Ainda havia tempo.
Afobado, procurou a mão da irmã coberta pelo lençol, rente ao corpo, apertando-a quando a encontrou Era pequena e macia, sem vida, sem calor.
- Eu vou concerta isso, – sussurrou a promessa, levando a mão até a face, apertando-a contra a sua, tão maior que a dela.
De repente, tudo parou.
O ar tornou-se rarefeito, a luz da lâmpada era mais intensa e o cômodo parecia mais quente.
O tempo, sempre constante, não avançava, imóvel pela energia Nos olhos do caçador não havia brilho, desfocados em meio a concentração do rapaz, então de repente a pupila tornou-se luz, espalhando-se por todo o globo ocular.
Seus sentidos foram anulados, cobertos pela massa de poder que expandia-se em seu núcleo.
Ele não sentia nada, não ouvia, não via.
Tudo era luz, tudo era xaana.
Estava isolado em um casulo de energia.
Mas ele notava a irmã, a mão presa na sua, ligados enquanto a envolvia em energia; o xaana vazava de seus domínios para os da garota de uma forma solene.
Ela vibrava e suas as marcas tornavam-se vivas, brilhando em dourado, ondulando pelo poder que vinha do corpo do caçador.
Entretanto, aquele poder não era suficiente.
O caçador estava fraco, a energia ainda recuperava-se em seu interior.
Não havia xaana o bastante para ambos e a transferência o evanesceria, drenando-o por completo Os lábios moveram-se de forma irônica.
Mas não se importou, a irmã era mais importante.
deveria viver.
Desta forma, apenas continuou transferindo, enchendo-a da energia.
que fora roubada e desperdiçada.
A estrutura imortal ainda estava vazia ao tempo que apenas a mão.
era recarregada.
Ele sentia o estolão sendo repuxado em seu núcleo, aproximando-os,
estava sedenta, implorando-o por mais.
Então o dedo anelar da garota moveu-se contra a pele da mão que apertava-a.
Estava despertando.
A energia fluía dele alimentando o núcleo vazio da garota.
O caçador sorriu, completo e feliz.
Estava cansado.
A força esvazia de seu ser.
O ar faltava.
Ademais, o coração falhou uma batida.
Mas, ali estava a irmã, revivendo a partir do seu xaana.
Era intenso, sublime.
Entretanto, uma barreira de ar surgiu em volta de .
E assim uma bala de titânio foi disparada contra o seu ombro, a mesma que usava para caçar dragões, apenas de um calibre menor Gritou, em um reflexo ao martilho.
- Não! – bradou, tentando aproxima-se mais uma vez da irmã e obter o contado físico necessário para a transferência de xaana, lutando contra o sofrimento provocada pela fina corrente acoplada a bala que puxava-o para longe dela presa a arma que havia efetuado o disparo.
Não era justo.
Não era certo.
Sentia a costa molhada pelo sangue que vazava da ferida, escorrendo rapidamente enquanto ele não se curvava a ela.
Desta forma, em meio a sua batalha, mais uma bala foi disparada.
Caiu, não suportando a dor do impacto.
- Ora, ora, Calixto, acho que finalmente encontramos o carregador que nós tanto precisávamos, não é mesmo? – zombou uma voz conhecida.
Sentiu seu corpo estremecer.
Gemeu.
A cabeça erguendo-se, girando para encontra a bruxa Não era possível!.
Ele a havia deixado na cela, trancada e inconsciente.
- Eu sempre soube que você era especial, vaga-lume. Você vai nos levar até o outro lado.
Havia um sorriso vitorioso moldado pelos lábios finos da mulher.
O caçador hesitou.
O rosto transfigurado em meio ao sofrimento.
Ele havia sido enganado, todo o tempo.
Era um tolo.
Tudo sempre fora um plano, uma farsa.
Nos olhos ele não viu , eram opacos e triste.
Onde ela estava? Ele não conseguia a encontrar.
Virou-se mais uma vez para a irmã.
A sombra havia regressado para longe de , contudo ainda estava lá, presente e paciente.
O xaana transferido ainda não era o bastante, ela se transformaria em uma Sugadora.
Suspirou.
Estava sendo rasgado.
A dor intensa borrando a sua visão.
Mas, ainda precisava dele.
Clamava, agora puxando levemente o fio do estolão pela energia que havia sido concedida, implorando por salvação.
Ela estava ali, maior do que tudo.
Assim, olhando para ela, o rapaz rompeu seu orgulho.
Dos lábios entreabertos soou um som em uma frequência diferente, alta apenas para os receptores, os únicos que poderiam ouvir.
O brilho tornou-se sépia ao enviar o pedido de socorro a sua ordem de caçadores, ao imperador.
Virou-se mais uma vez a bruxa, lutando contra a dor que sentia, e em seus olhos ele procurou por , implorando para que ela saísse dali.
- Não! – a bruxa grunhiu, seus passos soavam altos quando a bota encontrava o piso de madeira do cômodo quase correndo sua direção – O que você fez, caçador?.
Seu dedo apontava-o acusatoriamente.
Estava vibrando pela raiva, pelo medo.
- Minha senhora? – perguntou um dos guerreiros feéricos que a acompanhava, este segurava o rifle da bala do ombro do rapaz, seu timbre soando baixo e confuso.
Então, os domínios do caçador ganharam tons de ciano em resposta ao seu pedido graças a um sinal de mesma frequência que apenas seu corpo recebia e entendia Os caçadores estavam vindo.
Os lábios ergueram-se brevemente em um sorriso contido, afrontoso que não conseguia manter, fraco por causa do martilho.
A bruxa recuou ao perceber a mudança, os olhos correndo até as marcas do rapaz analisando.
Sentiu seu corpo gelar.
Virou-se ao anão -Calixto, prepare a máquina, nós precisamos sair daqui.
O anão engoliu em seco.
Aquiescendo uma vez antes de correr do cômodo para fazer aquilo que ela mandara.
- Levem-no, nós vamos precisar dele. – disse um dos engenheiros que estavam no lugar, este não compreendia o pânico que assolava repentinamente a bruxa.
A mulher direcionou sua atenção a ele, os olhos loucos e arrogantes.
Estava com raiva, desesperada.
Ela via a fraqueza do caçador, ele não suportaria o procedimento.
-Não, ele ainda não está preparado. – disse de modo firme.
Contudo, Magnus, o feiticeiro que também havia compreendido a mudança do brilho do rapaz não gostou.
- Não vai funcionar sem ele. - explicou de modo calmo a bruxa, embora parecesse irritado, assim virou-se para os feéricos e ordenou: - Levem-no, agora.
Estava calmo, contido.
Sua postura seria.
As pernas justapostas e as mão cruzadas atrás do corpo.
O terno passando uma imagem de poder.
Seus olhos firmes na bruxa impulsivam-na a desafiá-lo.
Contudo, ela não o contrário, não poderia, na hierarquia da rebelião ele assumia um posto mais alto que o dela.
Assim, os guerreiros levaram o caçador, aproximando-se do corpo moribundo e pegando em ambos os braços enquanto o carregavam.
piscou.
A cabeça rodando.
Pontos pretos sumiam e reapareciam maculavam sua visão Estava deixando Por quê?.
Não percebeu o caminho que tomavam, leso.
Já não suportava.
O sofrimento era de mais para ele.
A dor intensa era incessante.
Os batimentos cardíacos estavam diminuindo enquanto o sangue escorria pela costa do rapaz, a pressão caia ao tempo que o coração estava enfraquecido por causa da perda do sangue.
Piscou mais uma vez, confuso.
Estava perdendo a consciência.
Todavia, não sentiu quando o colocaram na máquina, prendendo seus membros nos mesmos grilhões que certa vez estiveram em volta da irmã.
A cabeça tombou, e a visão embaçada focou um corpo ao seu lado, também preso no mesmo tipo de maquinaria.
Franziu as sobrancelhas.
Não sabia da existência de mais uma máquina.
- Eu disse que não drenaria um dos seus conhecidos, vaga-lume. – soou a voz da bruxa dos alto-falantes, vazia e comedida, fazendo com que procura-se de onde vinha o som, não se surpreendeu ao encontrá-la atrás do vidro de proteção. – E geralmente eu cumpro as minhas promessas.
Ela sorria, mas estava triste.
Os olhos opacos brilhavam, cálidos e emocionados, pareciam unidos tal como se pudesse chorar.
A testa vincada.
O rosto sem cor.
Estava cansada e não gostava do que estava fazendo com ele.
No fim sentia-se culpada.
De todo modo, ela ligou a máquina, liberando a eletricidade até o corpo do caçador, tal como deveria fazer.
Contudo, não recebeu o estímulo da nova dor, notava a corrente elétrica formigando em sua pele, mas ela já não o martirizava.
Estava entorpecido, apático e emanava padecimento.
Nos domínios o brilho tinha mais uma vez uma coloração prateada, era sem graça e errônea pela pouca concentração de xaana.
Ademais, ele havia perdido as cores esplêndidas de um caçador.
Não as merecia, estava humilhado, sem honra.
Ouviu um grito, e acreditou que fosse dele, finalmente externando sua dor, mas ele já não tinha forças e nenhum som havia saído de seus lábios entreabertos.
Piscou, a visão manchada por pontos escuros ao tempo que seus globos oculares tornavam-se luz em meio a mais uma descarga elétrica.
Sentia a pele tornando-se diáfana, dissolvendo-se no brilho da combinação e mistura de energias.
O xaana estava vazando por seus domínios e feridas, intensificando os machucados de bala, rasgando a derme para que a luz fosse liberada e, por fim, se derramasse no meio externo.
O peito ardia.
Os membros dormentes.
Não era natural.
Não era algo bom.
Então os olhos ganharam focos mais uma vez em meio ao borrão escuro, e ele viu a mulher protegida pelo vidro, tão bela, inocente e má.
Não se importou de perder para ela mais uma vez – era a última.
AS vísceras contorciam-se.
A respiração falha.
A amava – naquele instante era uma certeza que tornava-se inquestionável, agarrando-se apenas ao sentimento em seu ser – não pode evitar, entretanto seu amor estava contaminado, doente, envolvido por uma camada viscosa de impunidade e desejo.
Ele precisava. Ele odiava.
Não conseguia resistir e soube, enquanto transformava-se em luz, que se tivesse outra chance faria tudo novamente. Tudo por ela,
sempre por aquela mulher.
Era inevitável.
Ele era um idiota, um bobo pôr a amar, era simplesmente tolo por ela.
Mas, não podia deter a si próprio, não conseguia.
Estava derrotado.
Fechou os olhos, desistindo, finalmente deixando-se levar pela nuvem espessa da inconsciência, mas em mente guardava a visão do violeta dos globos oculares da mulher que amava. Pela primeira vez, eles estavam maculados por lágrimas.

Bônus

O general analisava atentamente o portal que se desfazia no cômodo.
Os corpos vazios e sem vidas de todos os caçadores que foram encontrados mortos por evanescência no lugar estavam amontoados no centro da sala, perto da máquina que despertava-lhe curiosidade, enquanto aqueles que estavam apenas presos e foram libertados eram tratados pela pequena equipe de curandeiros que o general sempre trazia consigo no fundo do mesmo cômodo.
Seis rebeldes já haviam sido presos e estavam sendo encaminhados para a sede, onde seriam interrogados sobre os eventos que aconteciam naquele lugar, embora não acreditasse que soubessem de algo relevante.
Haviam invadido o esconderijo a cerca de uma hora, eram 24 caçadores da luz, armados e treinados, estavam preparados para o chamado que viera daquelas coordenadas Contudo, o local já havia sido esvaziado.
Eles tinham chegado tarde de mais.
- Encontramos mais um corpo senhor. – anunciou um dos seus caçadores, este trazia consigo uma jovem enrolada a um lençol com a ajuda de um outro guerreiro.
O general apenas assentiu.
A mão avançando sobre o portal confirmando suas suspeitas.
Era xaana.
Suspirou.
- Onde está a Heiki? – gritou irritado pela carregadora do grupo.
Rapidamente uma cabeleira branca se apresentou.
Estava escondida em meio aos caçadores, recém-recrutada a equipe.
Os olhos cor-de-rosa, quase vermelhos, eram grandes de mais para o rosto pequeno, em formato de coração.
Seus domínios brilhavam em amarelo e ela estava lívida.
Engoliu em seco.
Ela era inadequada, contudo tinha potencial.
A roupa não servia-lhe, folga em sua estrutura delgada, tornando sua postura errada.
Ela tinha as pernas afastadas de mais, os braços cruzados atrás do corpo de forma brusca e insegura Estava inquieta e assustada.
-Quero todos recarregados. – ordenou sem olhar para ela. – Liam, ajude-a.
Os olhos da garota arregalaram-se.
A boca abrindo-se em surpresa, estava branca, desde que mantinha os lábios pressionados interrompendo o fluxo sanguíneo no local, enquanto esperava uma tarefa do seu superior.
- Mas, senhor… - tentou argumentar, sendo interrompida por um grunhido do general. - Agora, Heiki! – bradou. – Não a tempo a perder.
A garota correu assustada, sendo interceptada pelo caçador que a ajudaria.
Eram corpos de mais.
Demandava uma grande quantidade de xaana.
O general focou-se em seu problema maior.
Monstros haviam fugido para o outro lado.
Os caçadores haviam falhado, deixado que ganhassem força ao tempo que eles os menosprezavam.
Não cometia o mesmo erro novamente.
Inspirou sentindo o cheiro cítrico da magia do ar.
– Uma bruxa.
- A quem pertencia este xaana, meu senhor? – perguntou um dos superintendes que o acompanhava, estava surpreso pelo poder.
O general maneou a cabeça.
Estava calmo, sem preocupação.
Descobriria ao recarregar os mortos.
Os rebeldes deveriam ter destruído os corpos, porém ele acreditava que não houve tempo.
- Nós vamos descobrir, não se preocupe.
Repuxando a mão do portal ele analisou mais uma vez o rastro viscoso de xaana que envolvia seus dedos.
Tinha um brilho prateado e era ralo maculado por uma energia inferior.
Então os lábios moveram-se de modo ladino.
Eles caçariam a todos que passaram por aquele portal, perseguiriam e matariam aqueles que possuíssem aquele rastro a sua volta apenas identificado pelo dono do xaana que eles haviam extraído Não importava onde eles tivessem, os caçadores iriam os encontrar.
-Se prepare tenente Smelte, tempos escuros estão vindo.
O sorriso ainda estava no rosto do general quando este finalmente virou-se para observar os mortos.
Percebeu que o rastro ficou mais intenso ao se aproximar de um caçador desconhecido.
Tinha o peito pressionado contra o chão e a costa exposta estava machucada por ferimentos de bala, surja pelo sangue que havia escorrido.
Seu cabelo era escuro e bagunçado.
Abaixando-se sobre o corpo, ele passou os dedos marcados por um dos domínios que o rapaz possuía, vendo-o ascender em reconhecimento.
- Comece por este aqui, Heiki. – instruiu ao se levantar.
Afastou-se, levando a mão até a adaga que guardava na calça de couro, alimentado por um repentino sentimento de vingança que não era seu.
A lâmina era pura, apenas um fio de aço com uma marca triangular da sua ordem de caçadores.
Estava ansioso, afinal, eles tinham monstros para matar.
A caçada estava apenas começando.


Fim.



Nota da autora: OMG eu nem acredito que eu finalmente terminei 10.Fool For You, estou em um verdadeiro estado de estase.
Admito que eu peguei este ficstape no impulso, Fool for you é uma das minhas músicas preferidas do mind of mine, então quando vi que ainda estava disponível eu simplesmente não me aguentei, mas essa foi uma das mais desafiadoras histórias que já escrevi.
Primeiro, porque interpretar o que compositor quis passar na letra da música não foi nada fácil; Segundo, porque eu nunca escrevi nada no fanficobsession e ter a sua “estréia”, por assim dizer, justo neste ficstape é uma grande responsa, principalmente porque algumas das minhas.
autoras prediletas estão nele.
Espero que você tenha gostado da história e possa ter se empolgado tanto como eu quando estava escrevendo.
Eu precisei analisar muito a letra da música até perceber que Fool for you nunca foi uma música de romance, mas sim uma de amor platônico ou uma desilusão amorosa, assim eu acabei tendo mil e uma ideias antes de finalmente surgir esta. Então, por favor, não me odeie ou me xingue se eu acabei te decepcionando, só que quanto mais eu analisava mais percebia que não havia outra história para te contar, meu caríssimo leitor.
Nos agradecimento eu não poderia esquecer de você, que acabou de ler a historia e para isso reservou um tempinho do seu dia (saiba que esta fic foi escrita pensada em você), segundo a minha mãe, que eu aperreei até ler tuuuudoo o que eu escrevia e me dizia uma opinião sincera sobre o texto e a história em si e em terceiro a Bruna Lobato (uma daquelas autoras de quem eu tinha comentado antem por ter tido tanta paciência compreensão e por ter sido tão atenciosa com todas nós que escolhemos uma música do álbum, Bruninha, valeu!.

P.s¹: Me desculpe qualquer erro que você encontrou nesta fic, algo pode ter passado despercebido quando eu fazia a revisão, por favor releve.
P.s²: Por favor, me deixe saber o que você achou da história, comente, juro de mindinho que é importante para mim :D.



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