Capítulo Único
Os dias e noites na casa dos ’s costumavam ser monotonamente iguais, sempre que chegava tarde do trabalho encontrava os filhos prontos para irem para a cama, Jordan e Lisa mal falavam com o pai, quando com sorte ele conseguia pegar as crianças acordadas faziam sempre bagunça e os três acabavam levando uma bronca da matriarca da família.
que sempre fora tão doce e paciente sentia o peso dos dias e das responsabilidades aumentarem dia a dia, e seu sorriso antes tão constante agora já parecia uma estranha expressão em seu rosto.
– Por favor, não agite mais as crianças! Lisa demora muito mais pra dormir quando você chega fazendo bagunça…. – reclamou entrando no quarto enquanto se preparava para deitar, sem nem reparar no olhar cheio de segundas intenções do marido que a desejava enquanto ela trocava de roupa.
– Desculpe se eu atrapalho quando tento ter um momento com eles! – levantou as mãos em sinal de rendição.
– Argh! Eu não vou discutir isso com você de novo, estou exausta pra ter que te explicar como poderia fazer as coisas diferentes!
– Você é muito chata com eles, poderia relaxar mais, querida! – Nada irritava mais do que ouvir a ironia na voz de , ele sabia mais do que ninguém o quanto ela odiava sarcasmo.
– Não me obrigue a ser a chata e fique mais em casa, talvez eu ache espaço na agenda para relaxar! – de um lado da cama encarava esperando a resposta dele e o viu revirar os olhos impaciente.
– Lá vem você, o problema é sempre o meu trabalho! – Ele puxou o edredom e fez o mesmo, brava e irritada.
—Não, é você! – Disse ela se deitando ao lado de e olhando para o teto do quarto.
– Chata! – se virou para o outro lado, de costas para a esposa evitando mais uma discussão sobre o quanto ele estava sempre errado.
– Irritante! – se virou para o lado oposto encarando a parede manchada e sentindo um nó se formando na garganta. Quando a exaustão a tomou, o travesseiro já tinha sinais das lágrimas que escaparam dos olhos dela em mais uma noite.
Quando amanheceu viu que havia saído mais cedo para o trabalho, suspirou pesadamente e começou mais um dia onde se desdobraria no mim imo em três para dar conta da casa, do trabalho e dos filhos.
XXX
Para toda a briga da noite anterior e todas as outras que sempre acabavam surgindo entre ele e o deixavam chateado, cansado e por vezes já se viu fazendo a mesma coisa, se enfiando ainda mais no trabalho como fazia naquele momento.
O prédio do escritório de contabilidade já começava a ter a movimentação normal de um dia de semana e que havia chegado uma hora antes já estava com a mesa cheia de trabalho, como se quanto mais ele trabalhasse menos ele precisaria pensar na grande bagunça interna que estava sua vida familiar.
Quando o relógio marcou 17 h nem mesmo aguentava mais ver números em sua frente, seu chefe que já conhecia e gostava muito da maneira de trabalhar de deixou que ele saísse antes com a desculpa de precisar resolver um problema de saúde.
e seu jeito desatento para a vida não parou pra pensar que aquele era o horário de grande movimentação no elevador, quando se deu conta estava com mais 5 pessoas dentro da caixa de metal esperando para que aquilo lotasse até que chegassem ao térreo, mas o que houve foi muito pior, dois andares abaixo de onde estavam sentiram um tranco e as luzes do elevador piscaram.
Presos no 10º andar, todos se entreolharam e começaram a pedir ajuda, quando os informaram que estavam tentando resolver sentou no chão do elevador e sacou seu celular do bolso, a primeira coisa que viu foi a foto de sua família reunida, ele e na ponta de um banco tentando se beijar enquanto Jordan e Lisa no meio deles faziam caretas enojados, aquele dia tinha sido tão incrível que mal parecia ser o mesmo casal de ontem a noite.
Enquanto as outras pessoas no elevador tentavam se acalmar e se distrair, se viu preso nas memórias esquecidas em seu celular, com seu fone de ouvido ele abriu o vídeo daquele mesmo dia da foto e viu gargalhando logo no início do vídeo.
“Amor, se você não desligar esse treco eu vou te jogar no mar!”
“Isso mesmo, papai! Me paga aqui no colo….”
Lisa esticava os bracinhos na direção de sorrindo sem dois dentes na frente, mostrando com toda a empolgação do mundo a sua nova janelinha.
“Ah, eu também quero!” Jordan que antes tentava dar uma estrelinha na areia veio correndo na direção do pai que gargalhou ao fundo do vídeo, dizendo:
“Vocês são folgados, né! Só por isso….” conseguiu agarrar a cintura de sua esposa e a puxou com ele para a beira do mar.
“Guerrinha de água!” chutava água na direção das crianças e que gargalhava e puxava Jordan para a ajudar.
“Vem, gente! Joga água nele!” Lisa com as mãos pequeninas acabava jogando mais água em si mesma do que em qualquer outra pessoa, Jordan se divertia tentando acertar o pai e principalmente quando os dois se juntaram para molhar a mãe que reclamava e os chamava de ingratos.
Aquela noite nas férias improvisadas da família nada era capaz de entrar na bolha deles, lembrava exatamente da sensação de paz quando ele andava abraçado a enquanto viam os dois filhos brincando a frente deles, a sensação de ter exatamente o que sempre quis bem ao alcance das mãos. Quando chegaram na casa de praia, depois que colocaram as crianças na cama, os dois foram até o jardim e deitaram olhando para o céu mais lindo que já viram.
“Quero isso pra sempre!”
“Isso o que?” se virou para encarar que desviou o olhar do céu para ele.
“Nós, nossa família e o amor que a gente tem!” Os olhos dela brilhavam e quando a puxou para um beijo, tudo que se passava pela mente dele era que aqueles olhos pelos quais ele se apaixonou um dia eram mais brilhantes que as estrelas daquele céu, e seu maior desejo era ter sempre aquele brilho para o guiar.
Quando sentiram novamente um tranco e o elevador voltou a funcionar, o único pensamento a rondar na mente de era chegar logo em casa e ver aquelas três pessoas, rever os seus e matar a saudade que há tempos estava ali, adormecida.
Por chegar mais cedo em casa, a primeira coisa que viu quando entrou em casa foi Lisa e Jordan brigando por causa do controle remoto da TV.
– Ei, o que está acontecendo aqui? – Lisa que estava toda esticada tentando alcançar o controle que Jordan segurava o mais alto que podia, desviou sua atenção para o pai, surpresa e muito feliz.
– Papai!!! – Correu até o mais velho e pulou em seu colo, com seus cinco anos e toda a empolgação quase derrubou que há muito tempo não a pegava no colo daquela maneira – O Jordan não me deixa ver desenho, mas ele já jogou videogame hoje!
– Eu só quero terminar essa partida…. Sua chata! – O filho mais velho concentrado tentando terminar seu jogo não viu o pai se aproximar, parado em frente a TV viu Jordan cruzar os braços e bufar largando o controle do videogame no sofá.
– Você conhece as regras, Jordan! Vai tirar o uniforme do colégio e eu já te encontro aqui embaixo, combinado? – Só de ouvir aquilo o garoto já se animou, pegou sua mochila e disparou escada acima indo em direção ao seu quarto.
sabia que estava em casa pois sentia o cheiro do perfume dela ao se aproximar do quarto e ao ver suas coisas espalhadas pela cama, o que ele jamais esperaria era ouvir a esposa chorando no banho, um choro doído e triste, que o atropelou ao ouvi-la dizendo pra si mesma: ‘Eu não aguento mais, não dá, é o nosso fim…..’
Atordoado e sentindo o coração bater mais lento com medo do significado daquelas palavras, foi o mais rápido que pode, sem fazer barulho algum trocou de roupa e deixou sua maleta sobre a cama para que soubesse que ele já estava em casa.
Quando reencontrou Jordan no pé da escada, teve dificuldade em voltar a sorrir para o filho, pegou a bola que o garoto lhe oferecia e o provocou erguendo-a acima de sua cabeça.
– Vamos ver se você consegue fazer umas cestas…. – O pequeno começou a pular para tentar pegar a bola do pai e ria sempre que levava um drible.
Assim que chegaram na área dos fundos e fez uma cesta a distância, ouviu os protestos do filho, Lisa surgiu na porta toda sorridente segurando sua boneca.
– Vou jogar também! – A garotinha sorriu e colocou sua boneca sentada para assistir ao jogo.
regulou a altura da tabela de brinquedo e começou a incrível partida com seus filhos, Jordan adorava driblar o pai e ouvir ele reclamando, Lisa já gostava quando o pai ajudava a erguendo para que ela fizesse uma cesta de vez em quando.
– Ei, o que estão fazendo? – apareceu no batente da porta, confusa e surpresa atraída pelas risadas e gritos de comemoração vinda dos filhos.
– Mamãe, vem jogar com a gente! – Lisa que estava no colo do pai tentando acertar mais uma cesta a chamou, correndo em sua direção para comemorar.
– Não posso, meu amor! Tenho que fazer o jantar!
que estava por perto jogou a bola para Lisa e pediu que ela jogasse com Jordan enquanto ele falava com a mamãe.
– Podemos pedir o jantar hoje, o que acha? – Ele olhava com atenção para os olhos da esposa conseguindo ver ali um rastro da tristeza que ouviu mais cedo, ela o olhou confusa e já estava prestes a protestar quando foi surpreendida por uma das mãos de se aproximando de seu rosto, tirando uma mecha de cabelo dali.
– Só hoje, acho que não tem problema…. – não sabia nem o que falar, tudo naquela situação era muito inesperado, semicerrou os olhos para o marido e o viu sorrir de leve.
– Aconteceu alguma coisa? Porque chegou mais cedo? – Ela não pôde evitar pensar que algo poderia estar errado e que talvez estivesse apenas a distraindo para depois soltar a bomba, mas o marido apenas gargalhou em resposta.
– Amor, eu só consegui sair mais cedo hoje, nada demais! Mas acho que podemos mesmo pedir o jantar! – Se aproximou dela sorrindo e entrou na casa novamente. Pegou o telefone e o cardápio do restaurante favorito deles e voltou para perto da esposa, escolheram juntos e enquanto fazia o pedido ouviu Lisa chamando a mãe para jogar basquete com eles.
A noite passou rápida, quando caíram na cama nem percebeu o quanto a olhava, o quanto os olhos dele a buscavam e assim que as luzes do quarto se apagaram e ela virou para o outro lado da cama, sem conseguir dormir lembrava do choro que ouviu mais cedo, sentindo o coração bater mais devagar só com a ideia de perdê-la.
A única vez que a ouviu chorando daquele mesmo jeito foi quando contaram aos pais de sobre a gravidez, depois de chegarem em casa e a mãe dela ter brigado horrores com a filha pela grande irresponsabilidade de se ter um filho tão jovem, a garota desabou. A grande diferença era que naquela época era o melhor amigo de e a amparou nos braços até que aquele choro se transformasse em sorriso porque nada no mundo era mais importante do que ela pra ele, aquela foi uma das noites mais inesquecíveis dos dois e pelo brilho no olhar de ambos, era perceptível que já não tinha mais medo, ela tinha a e isso era tudo que precisava.
No dia seguinte, no horário de almoço resolveu ligar para a única pessoa que podia ajudá-lo a encontrar uma solução, antes que fosse tarde demais.
– Uau!!! Que honra!! A que devo esse milagre de uma ligação no meio do dia?
– Ah, mãe! Você sabe que te ligo toda semana, só mudei o horário dessa vez….
– Você não me engana, ! O que houve, meu bem?!
– Bem…. Eu acho que preciso da sua ajuda com meu casamento!
– Eita! Me conte, o que foi? – e sua mãe tinham um laço muito forte, por ter sido criado apenas por ela, nada ficava oculto entre eles, desde a infância era assim e nada fugia da percepção da mulher que o conhecia melhor que a palma das próprias mãos.
– Eu cheguei mais cedo ontem e ouvi a chorando no banho, dizendo que não aguentava mais, que era o nosso fim, e aquilo me deixou totalmente mal! Não tive coragem de falar com ela, mas eu percebi o quanto a já não está mais tão feliz como era, sabe?! – Pelo tom de voz dele era perceptível seu nervosismo, sua ansiedade em resolver aquele assunto.
– Ai, filho! Pode ser só uma fase, ou talvez ela esteja sentindo o peso da rotina, as mulheres infelizmente acabam sempre sentindo um peso a mais por cuidar de tantas coisas sozinha!
– Tenho medo que a gente acabe por desgaste, de fazer tudo muito errado.
– Lembre-se que você não prometeu pra mim! Quando casaram você prometeu pra , que espera que esteja lá por ela, que anseia por ter aquele parceiro que você disse que seria! Lembre-se de tudo que prometeu…. Ainda está disposto a cumprir? Cada uma daquelas palavras?
– Sim! Claro que sim, ela e as crianças são a minha vida! Você sabe o quanto eu sou louco por ela!
– Então encontre um jeito de ser aquele cara de novo! Seja o marido que você prometeu que seria! Essa tem que ser a verdade de vocês!!
– Eu vou ajudar mais em casa, estarei mais presente….
– Meu amor, se lembre que ajudar nunca é o bastante, você não é um ajudante, é um parceiro! Dividir tudo, as tarefas com os filhos e a casa, dividir a vida de verdade é difícil, mas pode ser o que esteja faltando.
– Eu vou dar um jeito! Obrigada por me dar uma ajuda! Te amo!
– Te amo mais!
Depois de voltar ao trabalho tudo que fez foi não parar de pensar em tudo que conversou com a mãe, começou a rever seu jeito em casa, o quanto ele foi se deixando relaxar, o quanto ele pensava que sempre dava conta de tudo e não precisava tanto dele assim.
Decidiu começar a mudar as coisas, passou no mercado e comprou tudo que precisaria, quando chegou em casa no horário de sempre deu graças a Deus que ainda não tinha começado a fazer o jantar e foi até os filhos, Lisa dormia agarrada a sua boneca e Jordan mais uma vez estava no videogame.
– Hoje eu e você vamos fazer o jantar! Se prepara, hein! – riu da cara de dúvida do filho e o viu olhando para os lados confuso.
– Tô falando sério, vou me trocar e te encontro na cozinha em 10 minutos, combinado? – Mesmo achando estranho, Jordan fez um high five com o pai e foi se trocar também.
– Você vai mesmo me deixar ajudar? – Os olhos questionadores do garoto analisando o rosto de de perto, com entusiasmo e desconfiança ao mesmo tempo só fizeram o mais velho sorrir e colocar a criança no chão.
– Claro que sim! Vem! – decidiu por fazer algo simples e prático, separou as coisas menos complicadas para Jordan e foi direto para o fogão, ligou as panelas e finalmente começou o jantar.
Jordan adorou a ideia do pai de colocar nele um avental e deixá-lo mexer nos ingredientes do molho, lavar e separar tudo, ouvindo o pai cantarolar uma música antiga era algo que o pequeno nunca havia feito ou visto o pai fazer e pelo sorriso em seu rosto ele estava amando.
– Olha, pai! Tô fazendo certo? – Jordan ajoelhado em cima de uma cadeira chamou a atenção do pai que se aproximou e o ajudou a colocar tudo no liquidificador. Quando os dois ligaram juntos o aparelho Jordan gargalhou pelo susto e pela diversão de ver tão de perto como tudo era feito.
Quando terminaram aquele molho, levou tudo ao fogo e enquanto mexia a panela explicava cada passo a Jordan, mostrando porque não podia deixar ele mexer na panela, mas o deixou ver tudo de perto.
Enquanto esperavam o que estava no forno ficar pronto e Jordan começaram a lavar a louça, e por mais que odiasse essa parte viu o quanto Jordan se divertiu o sujando de espuma e cantando a música mais importante de todas.
– É a sua música com a mamãe, né?! – Jordan perguntou quando a música ‘All My Loving’ dos Beatles começou a tocar na playlist aleatória do celular de .
– Isso mesmo! – sorriu fraco pensando no que ouviu no quarto e o quanto precisava consertar as coisas com sua esposa. Ele não queria perder tudo que eles tinham.
Jordan tentava cantar mesmo sem saber a letra e fez o pai rir só de ouvir as tentativas. Não perceberam que estavam sendo observados e levaram um susto ao ouvir uma tosse forçada, quando olharam para trás encontraram uma os olhando meio chocada.
– O que está fazendo, ? – Tentou não parecer tão surpresa, mas era perceptível em sua voz e em seu olhar o quanto aquilo era estranho para ela.
– Eu e meu parceiro aqui vamos cuidar do jantar! – com um pano de prato em seu ombro, deu uma piscadinha para Jordan que sorriu para a mãe mostrando o avental todo sujo de trigo e massa de tomate.
– Só não…. – Pelo tom de voz dela já sabia sobre o que se tratava o aviso e se adiantou.
– Não se preocupe, eu cuido da sujeira! – Ele sorriu verdadeiramente para ela que não soube como reagir, foi salva por Lisa que pediu para sentar no balcão para ver os dois cozinhando.
– Mamãe, o que você acha que eles estão fazendo? – Lisa aproveitou que estava na altura da mãe e ficou com a cabeça encostada a dela, alisando a bochecha da mais velha com toda a calma do mundo.
– Não sei, filha. Será que eles vão contar ou teremos que adivinhar? – com os olhos fechados aproveitando o carinho da pequena respondeu animada e viu que Lisa ao seu lado gostou da ideia.
– Vamos tentar adivinhar…. Eu acho que é aquela carninha comprida – A pequena tentava mostrar com mímica seu palpite no strogonoff, que observava as duas apenas negou com a cabeça vendo um bico se formar no rosto de Lisa
– Minha vez…. – cutucou de leve a costela da filha vendo-a sorrir e voltar seu olhar para a mãe novamente – Acho que pode ser batata e frango! – Desta vez quem negou com a cabeça foi Jordan que em seguida sorriu por saber a resposta.
Um jantar tão simples, com alguma ajudinha de – Claro! – fez aquela noite tão normal de terça-feira se tornar especial, Lisa cobrando o pai que da próxima vez ela que ajudaria, Jordan lutando por seu posto e prometendo que todos iam trabalhar juntos. Quando chegou a hora de colocar as crianças na cama, o peso que sempre sentia naquela noite já não era tão grande.
Os dias passaram e mesmo tentando não se acostumar estava gostando do marido mais presente em casa, mais participativo em tudo sem que ela precisasse ficar cobrando. Quando ele passou a pegar Jordan nas aulas de karatê e a ajudar Lisa todas as tardes a fazer as lições de casa, começou a desconfiar que algo pudesse estar errado, mas não teve coragem de perguntar.
Depois de duas semanas, ainda desconfiada achou muito estranho quando lhe mandou uma mensagem dizendo que hoje ele que cuidaria do jantar e que só precisava se arrumar porque a noite seria somente deles.
– O que está fazendo, ? – perguntou assim que desceu as escadas e viu a luz baixa, o silêncio mais do que anormal para o horário fez com que ela olhasse tudo ao redor sem encontrar nenhum rastro das crianças.
– Eu gostaria de poder te levar naquela praia que um dia a gente fugiu junto com nossos pequenos, onde tudo parecia mais simples e a nossa parceria era maior do que tudo, era a nossa base.
– Não estou entendendo nada! É alguma data especial?
– Eu sei que não tenho sido o parceiro de vida que prometi que seria, que eu deixei o meu trabalho, os problemas e tudo o mais se colocar no meio de nós e eu não vi... – se aproximou de a olhando profundamente, com o mesmo olhar de sempre, a venerando e desejando, com as mãos na cintura dela ele a trouxe para mais perto – Eu não vi que estava nos deixando pra trás, que deixei você me esperando!
Os olhos de se encheram de lágrimas e toda a mágoa e cansaço acumulados vieram a tona, quando ela finalmente entendeu sem conseguir se controlar sentiu as lágrimas escapando de seus olhos, o peito chacoalhando e alguns soluços a tomarem. Ela sentia como se tivessem descobertos seus segredos e agora a pessoa da qual mais sentia falta estava diante dela, a olhando como quando eles se conheceram, com os olhos mais amorosos do mundo e o abraço que a fazia se sentir sempre em casa.
– Me perdoa, ! Eu prometi que sempre lutaria por nós, mas não foi o que eu fiz, e se você ainda quiser, eu vou fazer tudo diferente, como estou tentando fazer há alguns dias, não posso te prometer que não vou mais errar, que a gente não vai quebrar de novo, mas posso prometer que sempre darei tudo de mim pra ser o melhor pra vocês!
– Então é isso que você tem tentado fazer…. Eu pensei que alguma coisa muito errada estivesse acontecendo, nem sei o que dizer…. – Secando as lágrimas viu a careta que fez ao ouvi-la, com as mãos ainda ao seu redor passeando entre sua cintura e suas costas, ele aproximou sua boca da dela sentindo a respiração descompassada da esposa bater em seu rosto e a beijou devagar.
– Eu não quero nada com ninguém que não seja você! Não posso te deixar sem lutar com tudo que tenho, sem te dar tudo….
– Vem cá, deita comigo! – a pegou pelas mãos e com uma calma que desconhecia ele a conduziu até o tapete no meio da sala e pediu que ela fechasse os olhos.
– Lembra quando fomos naquela praia, ficamos em uma casa muito ruim, mas que todo mundo se divertiu tanto, quando conseguimos ficar sozinhos e deitamos na grama….
– Lembro, a gente não planejou aquela viagem e…. – O sorriso no rosto de se transformou em um Ó perfeito ao ver o céu estrelado projetado no teto da sala.
– Como naquela noite! – sorrindo se deitou ao lado da mulher, vendo os olhos dela brilharem – Não consigo te levar pra lá agora, nossas vidas mudaram muito, mas tem uma coisa que não mudou nem por um segundo….
– O quê? – Os olhos dela brilhantes devido as lágrimas se voltaram novamente para que se apoiou em um dos cotovelos para poder observá-la melhor.
– O querer o que nós temos, é tão raro e nós podemos ficar aqui pra sempre, reaprender a nos amar, nem que a gente quebre de novo…. Eu não ligo de reconstruir as coisas contigo! – As mãos dele foram para perto do rosto de , com a ponta dos dedos traçava um caminho por todo a extensão da face da esposa, como se ela pudesse quebrar a qualquer instante, como se precisasse gravar cada detalhe – Eu não consigo desistir de nós, !
– Eu já esqueci o quanto você consegue ser persuasivo…. E se a gente estiver insistindo em algo que já morreu?! – Por mais acelerado que seu coração estivesse não conseguia escapar das memórias, não conseguia esquecer das vezes em que se viu sozinha e perdida, o receio era real, a triste realidade que já viveram também.
se sentou novamente e encarou com intensidade, sentindo o coração cantando muito mais baixo, como se pudesse parar a qualquer momento apenas por sentir o quanto ele já tinha machucado sua esposa, o quanto ele teria que pagar um preço extremamente alto por seu descuido.
– Pra mim ainda não acabou, mas se você não quiser mais eu te entendo perfeitamente! Eu te amo e deixo você ir se for o melhor…. – A voz falha e as mãos suando foi o que ele mais tentou esconder, embora se sentisse quebrar em apenas dizer tudo aquilo, ele não prenderia a ele.
O silêncio que prosseguiu depois daquele momento era ensurdecedor, deitou no tapete ao lado dela e fechou os olhos, sentindo o peso daquela conversa sobre sua mente e coração.
Se surpreendeu ao sentir as mãos de se entrelaçarem as suas, ainda de olhos fechados sentiu ela se aconchegar ao seu lado e o abraçar.
– Podemos aprender a amar de novo? – sussurrou no ouvido de , sentindo o coração acelerar apenas em ver o sorriso que ele deu ao se virar para ela.
– Podemos! Juntos podemos! Te amo, !
Aquela noite marcou o recomeço do casal, vivendo dia a dia buscando se reencontrar no amor que construíram. Enquanto houvesse o desejo de ambos em seguir na mesma direção, os corações poderiam cantar alto, sem medo do futuro.
que sempre fora tão doce e paciente sentia o peso dos dias e das responsabilidades aumentarem dia a dia, e seu sorriso antes tão constante agora já parecia uma estranha expressão em seu rosto.
– Por favor, não agite mais as crianças! Lisa demora muito mais pra dormir quando você chega fazendo bagunça…. – reclamou entrando no quarto enquanto se preparava para deitar, sem nem reparar no olhar cheio de segundas intenções do marido que a desejava enquanto ela trocava de roupa.
– Desculpe se eu atrapalho quando tento ter um momento com eles! – levantou as mãos em sinal de rendição.
– Argh! Eu não vou discutir isso com você de novo, estou exausta pra ter que te explicar como poderia fazer as coisas diferentes!
– Você é muito chata com eles, poderia relaxar mais, querida! – Nada irritava mais do que ouvir a ironia na voz de , ele sabia mais do que ninguém o quanto ela odiava sarcasmo.
– Não me obrigue a ser a chata e fique mais em casa, talvez eu ache espaço na agenda para relaxar! – de um lado da cama encarava esperando a resposta dele e o viu revirar os olhos impaciente.
– Lá vem você, o problema é sempre o meu trabalho! – Ele puxou o edredom e fez o mesmo, brava e irritada.
—Não, é você! – Disse ela se deitando ao lado de e olhando para o teto do quarto.
– Chata! – se virou para o outro lado, de costas para a esposa evitando mais uma discussão sobre o quanto ele estava sempre errado.
– Irritante! – se virou para o lado oposto encarando a parede manchada e sentindo um nó se formando na garganta. Quando a exaustão a tomou, o travesseiro já tinha sinais das lágrimas que escaparam dos olhos dela em mais uma noite.
Quando amanheceu viu que havia saído mais cedo para o trabalho, suspirou pesadamente e começou mais um dia onde se desdobraria no mim imo em três para dar conta da casa, do trabalho e dos filhos.
Para toda a briga da noite anterior e todas as outras que sempre acabavam surgindo entre ele e o deixavam chateado, cansado e por vezes já se viu fazendo a mesma coisa, se enfiando ainda mais no trabalho como fazia naquele momento.
O prédio do escritório de contabilidade já começava a ter a movimentação normal de um dia de semana e que havia chegado uma hora antes já estava com a mesa cheia de trabalho, como se quanto mais ele trabalhasse menos ele precisaria pensar na grande bagunça interna que estava sua vida familiar.
Quando o relógio marcou 17 h nem mesmo aguentava mais ver números em sua frente, seu chefe que já conhecia e gostava muito da maneira de trabalhar de deixou que ele saísse antes com a desculpa de precisar resolver um problema de saúde.
e seu jeito desatento para a vida não parou pra pensar que aquele era o horário de grande movimentação no elevador, quando se deu conta estava com mais 5 pessoas dentro da caixa de metal esperando para que aquilo lotasse até que chegassem ao térreo, mas o que houve foi muito pior, dois andares abaixo de onde estavam sentiram um tranco e as luzes do elevador piscaram.
Presos no 10º andar, todos se entreolharam e começaram a pedir ajuda, quando os informaram que estavam tentando resolver sentou no chão do elevador e sacou seu celular do bolso, a primeira coisa que viu foi a foto de sua família reunida, ele e na ponta de um banco tentando se beijar enquanto Jordan e Lisa no meio deles faziam caretas enojados, aquele dia tinha sido tão incrível que mal parecia ser o mesmo casal de ontem a noite.
Enquanto as outras pessoas no elevador tentavam se acalmar e se distrair, se viu preso nas memórias esquecidas em seu celular, com seu fone de ouvido ele abriu o vídeo daquele mesmo dia da foto e viu gargalhando logo no início do vídeo.
“Amor, se você não desligar esse treco eu vou te jogar no mar!”
“Isso mesmo, papai! Me paga aqui no colo….”
Lisa esticava os bracinhos na direção de sorrindo sem dois dentes na frente, mostrando com toda a empolgação do mundo a sua nova janelinha.
“Ah, eu também quero!” Jordan que antes tentava dar uma estrelinha na areia veio correndo na direção do pai que gargalhou ao fundo do vídeo, dizendo:
“Vocês são folgados, né! Só por isso….” conseguiu agarrar a cintura de sua esposa e a puxou com ele para a beira do mar.
“Guerrinha de água!” chutava água na direção das crianças e que gargalhava e puxava Jordan para a ajudar.
“Vem, gente! Joga água nele!” Lisa com as mãos pequeninas acabava jogando mais água em si mesma do que em qualquer outra pessoa, Jordan se divertia tentando acertar o pai e principalmente quando os dois se juntaram para molhar a mãe que reclamava e os chamava de ingratos.
Aquela noite nas férias improvisadas da família nada era capaz de entrar na bolha deles, lembrava exatamente da sensação de paz quando ele andava abraçado a enquanto viam os dois filhos brincando a frente deles, a sensação de ter exatamente o que sempre quis bem ao alcance das mãos. Quando chegaram na casa de praia, depois que colocaram as crianças na cama, os dois foram até o jardim e deitaram olhando para o céu mais lindo que já viram.
“Quero isso pra sempre!”
“Isso o que?” se virou para encarar que desviou o olhar do céu para ele.
“Nós, nossa família e o amor que a gente tem!” Os olhos dela brilhavam e quando a puxou para um beijo, tudo que se passava pela mente dele era que aqueles olhos pelos quais ele se apaixonou um dia eram mais brilhantes que as estrelas daquele céu, e seu maior desejo era ter sempre aquele brilho para o guiar.
Quando sentiram novamente um tranco e o elevador voltou a funcionar, o único pensamento a rondar na mente de era chegar logo em casa e ver aquelas três pessoas, rever os seus e matar a saudade que há tempos estava ali, adormecida.
Por chegar mais cedo em casa, a primeira coisa que viu quando entrou em casa foi Lisa e Jordan brigando por causa do controle remoto da TV.
– Ei, o que está acontecendo aqui? – Lisa que estava toda esticada tentando alcançar o controle que Jordan segurava o mais alto que podia, desviou sua atenção para o pai, surpresa e muito feliz.
– Papai!!! – Correu até o mais velho e pulou em seu colo, com seus cinco anos e toda a empolgação quase derrubou que há muito tempo não a pegava no colo daquela maneira – O Jordan não me deixa ver desenho, mas ele já jogou videogame hoje!
– Eu só quero terminar essa partida…. Sua chata! – O filho mais velho concentrado tentando terminar seu jogo não viu o pai se aproximar, parado em frente a TV viu Jordan cruzar os braços e bufar largando o controle do videogame no sofá.
– Você conhece as regras, Jordan! Vai tirar o uniforme do colégio e eu já te encontro aqui embaixo, combinado? – Só de ouvir aquilo o garoto já se animou, pegou sua mochila e disparou escada acima indo em direção ao seu quarto.
sabia que estava em casa pois sentia o cheiro do perfume dela ao se aproximar do quarto e ao ver suas coisas espalhadas pela cama, o que ele jamais esperaria era ouvir a esposa chorando no banho, um choro doído e triste, que o atropelou ao ouvi-la dizendo pra si mesma: ‘Eu não aguento mais, não dá, é o nosso fim…..’
Atordoado e sentindo o coração bater mais lento com medo do significado daquelas palavras, foi o mais rápido que pode, sem fazer barulho algum trocou de roupa e deixou sua maleta sobre a cama para que soubesse que ele já estava em casa.
Quando reencontrou Jordan no pé da escada, teve dificuldade em voltar a sorrir para o filho, pegou a bola que o garoto lhe oferecia e o provocou erguendo-a acima de sua cabeça.
– Vamos ver se você consegue fazer umas cestas…. – O pequeno começou a pular para tentar pegar a bola do pai e ria sempre que levava um drible.
Assim que chegaram na área dos fundos e fez uma cesta a distância, ouviu os protestos do filho, Lisa surgiu na porta toda sorridente segurando sua boneca.
– Vou jogar também! – A garotinha sorriu e colocou sua boneca sentada para assistir ao jogo.
regulou a altura da tabela de brinquedo e começou a incrível partida com seus filhos, Jordan adorava driblar o pai e ouvir ele reclamando, Lisa já gostava quando o pai ajudava a erguendo para que ela fizesse uma cesta de vez em quando.
– Ei, o que estão fazendo? – apareceu no batente da porta, confusa e surpresa atraída pelas risadas e gritos de comemoração vinda dos filhos.
– Mamãe, vem jogar com a gente! – Lisa que estava no colo do pai tentando acertar mais uma cesta a chamou, correndo em sua direção para comemorar.
– Não posso, meu amor! Tenho que fazer o jantar!
que estava por perto jogou a bola para Lisa e pediu que ela jogasse com Jordan enquanto ele falava com a mamãe.
– Podemos pedir o jantar hoje, o que acha? – Ele olhava com atenção para os olhos da esposa conseguindo ver ali um rastro da tristeza que ouviu mais cedo, ela o olhou confusa e já estava prestes a protestar quando foi surpreendida por uma das mãos de se aproximando de seu rosto, tirando uma mecha de cabelo dali.
– Só hoje, acho que não tem problema…. – não sabia nem o que falar, tudo naquela situação era muito inesperado, semicerrou os olhos para o marido e o viu sorrir de leve.
– Aconteceu alguma coisa? Porque chegou mais cedo? – Ela não pôde evitar pensar que algo poderia estar errado e que talvez estivesse apenas a distraindo para depois soltar a bomba, mas o marido apenas gargalhou em resposta.
– Amor, eu só consegui sair mais cedo hoje, nada demais! Mas acho que podemos mesmo pedir o jantar! – Se aproximou dela sorrindo e entrou na casa novamente. Pegou o telefone e o cardápio do restaurante favorito deles e voltou para perto da esposa, escolheram juntos e enquanto fazia o pedido ouviu Lisa chamando a mãe para jogar basquete com eles.
A noite passou rápida, quando caíram na cama nem percebeu o quanto a olhava, o quanto os olhos dele a buscavam e assim que as luzes do quarto se apagaram e ela virou para o outro lado da cama, sem conseguir dormir lembrava do choro que ouviu mais cedo, sentindo o coração bater mais devagar só com a ideia de perdê-la.
A única vez que a ouviu chorando daquele mesmo jeito foi quando contaram aos pais de sobre a gravidez, depois de chegarem em casa e a mãe dela ter brigado horrores com a filha pela grande irresponsabilidade de se ter um filho tão jovem, a garota desabou. A grande diferença era que naquela época era o melhor amigo de e a amparou nos braços até que aquele choro se transformasse em sorriso porque nada no mundo era mais importante do que ela pra ele, aquela foi uma das noites mais inesquecíveis dos dois e pelo brilho no olhar de ambos, era perceptível que já não tinha mais medo, ela tinha a e isso era tudo que precisava.
No dia seguinte, no horário de almoço resolveu ligar para a única pessoa que podia ajudá-lo a encontrar uma solução, antes que fosse tarde demais.
– Uau!!! Que honra!! A que devo esse milagre de uma ligação no meio do dia?
– Ah, mãe! Você sabe que te ligo toda semana, só mudei o horário dessa vez….
– Você não me engana, ! O que houve, meu bem?!
– Bem…. Eu acho que preciso da sua ajuda com meu casamento!
– Eita! Me conte, o que foi? – e sua mãe tinham um laço muito forte, por ter sido criado apenas por ela, nada ficava oculto entre eles, desde a infância era assim e nada fugia da percepção da mulher que o conhecia melhor que a palma das próprias mãos.
– Eu cheguei mais cedo ontem e ouvi a chorando no banho, dizendo que não aguentava mais, que era o nosso fim, e aquilo me deixou totalmente mal! Não tive coragem de falar com ela, mas eu percebi o quanto a já não está mais tão feliz como era, sabe?! – Pelo tom de voz dele era perceptível seu nervosismo, sua ansiedade em resolver aquele assunto.
– Ai, filho! Pode ser só uma fase, ou talvez ela esteja sentindo o peso da rotina, as mulheres infelizmente acabam sempre sentindo um peso a mais por cuidar de tantas coisas sozinha!
– Tenho medo que a gente acabe por desgaste, de fazer tudo muito errado.
– Lembre-se que você não prometeu pra mim! Quando casaram você prometeu pra , que espera que esteja lá por ela, que anseia por ter aquele parceiro que você disse que seria! Lembre-se de tudo que prometeu…. Ainda está disposto a cumprir? Cada uma daquelas palavras?
– Sim! Claro que sim, ela e as crianças são a minha vida! Você sabe o quanto eu sou louco por ela!
– Então encontre um jeito de ser aquele cara de novo! Seja o marido que você prometeu que seria! Essa tem que ser a verdade de vocês!!
– Eu vou ajudar mais em casa, estarei mais presente….
– Meu amor, se lembre que ajudar nunca é o bastante, você não é um ajudante, é um parceiro! Dividir tudo, as tarefas com os filhos e a casa, dividir a vida de verdade é difícil, mas pode ser o que esteja faltando.
– Eu vou dar um jeito! Obrigada por me dar uma ajuda! Te amo!
– Te amo mais!
Depois de voltar ao trabalho tudo que fez foi não parar de pensar em tudo que conversou com a mãe, começou a rever seu jeito em casa, o quanto ele foi se deixando relaxar, o quanto ele pensava que sempre dava conta de tudo e não precisava tanto dele assim.
Decidiu começar a mudar as coisas, passou no mercado e comprou tudo que precisaria, quando chegou em casa no horário de sempre deu graças a Deus que ainda não tinha começado a fazer o jantar e foi até os filhos, Lisa dormia agarrada a sua boneca e Jordan mais uma vez estava no videogame.
– Hoje eu e você vamos fazer o jantar! Se prepara, hein! – riu da cara de dúvida do filho e o viu olhando para os lados confuso.
– Tô falando sério, vou me trocar e te encontro na cozinha em 10 minutos, combinado? – Mesmo achando estranho, Jordan fez um high five com o pai e foi se trocar também.
– Você vai mesmo me deixar ajudar? – Os olhos questionadores do garoto analisando o rosto de de perto, com entusiasmo e desconfiança ao mesmo tempo só fizeram o mais velho sorrir e colocar a criança no chão.
– Claro que sim! Vem! – decidiu por fazer algo simples e prático, separou as coisas menos complicadas para Jordan e foi direto para o fogão, ligou as panelas e finalmente começou o jantar.
Jordan adorou a ideia do pai de colocar nele um avental e deixá-lo mexer nos ingredientes do molho, lavar e separar tudo, ouvindo o pai cantarolar uma música antiga era algo que o pequeno nunca havia feito ou visto o pai fazer e pelo sorriso em seu rosto ele estava amando.
– Olha, pai! Tô fazendo certo? – Jordan ajoelhado em cima de uma cadeira chamou a atenção do pai que se aproximou e o ajudou a colocar tudo no liquidificador. Quando os dois ligaram juntos o aparelho Jordan gargalhou pelo susto e pela diversão de ver tão de perto como tudo era feito.
Quando terminaram aquele molho, levou tudo ao fogo e enquanto mexia a panela explicava cada passo a Jordan, mostrando porque não podia deixar ele mexer na panela, mas o deixou ver tudo de perto.
Enquanto esperavam o que estava no forno ficar pronto e Jordan começaram a lavar a louça, e por mais que odiasse essa parte viu o quanto Jordan se divertiu o sujando de espuma e cantando a música mais importante de todas.
– É a sua música com a mamãe, né?! – Jordan perguntou quando a música ‘All My Loving’ dos Beatles começou a tocar na playlist aleatória do celular de .
– Isso mesmo! – sorriu fraco pensando no que ouviu no quarto e o quanto precisava consertar as coisas com sua esposa. Ele não queria perder tudo que eles tinham.
Jordan tentava cantar mesmo sem saber a letra e fez o pai rir só de ouvir as tentativas. Não perceberam que estavam sendo observados e levaram um susto ao ouvir uma tosse forçada, quando olharam para trás encontraram uma os olhando meio chocada.
– O que está fazendo, ? – Tentou não parecer tão surpresa, mas era perceptível em sua voz e em seu olhar o quanto aquilo era estranho para ela.
– Eu e meu parceiro aqui vamos cuidar do jantar! – com um pano de prato em seu ombro, deu uma piscadinha para Jordan que sorriu para a mãe mostrando o avental todo sujo de trigo e massa de tomate.
– Só não…. – Pelo tom de voz dela já sabia sobre o que se tratava o aviso e se adiantou.
– Não se preocupe, eu cuido da sujeira! – Ele sorriu verdadeiramente para ela que não soube como reagir, foi salva por Lisa que pediu para sentar no balcão para ver os dois cozinhando.
– Mamãe, o que você acha que eles estão fazendo? – Lisa aproveitou que estava na altura da mãe e ficou com a cabeça encostada a dela, alisando a bochecha da mais velha com toda a calma do mundo.
– Não sei, filha. Será que eles vão contar ou teremos que adivinhar? – com os olhos fechados aproveitando o carinho da pequena respondeu animada e viu que Lisa ao seu lado gostou da ideia.
– Vamos tentar adivinhar…. Eu acho que é aquela carninha comprida – A pequena tentava mostrar com mímica seu palpite no strogonoff, que observava as duas apenas negou com a cabeça vendo um bico se formar no rosto de Lisa
– Minha vez…. – cutucou de leve a costela da filha vendo-a sorrir e voltar seu olhar para a mãe novamente – Acho que pode ser batata e frango! – Desta vez quem negou com a cabeça foi Jordan que em seguida sorriu por saber a resposta.
Um jantar tão simples, com alguma ajudinha de – Claro! – fez aquela noite tão normal de terça-feira se tornar especial, Lisa cobrando o pai que da próxima vez ela que ajudaria, Jordan lutando por seu posto e prometendo que todos iam trabalhar juntos. Quando chegou a hora de colocar as crianças na cama, o peso que sempre sentia naquela noite já não era tão grande.
Os dias passaram e mesmo tentando não se acostumar estava gostando do marido mais presente em casa, mais participativo em tudo sem que ela precisasse ficar cobrando. Quando ele passou a pegar Jordan nas aulas de karatê e a ajudar Lisa todas as tardes a fazer as lições de casa, começou a desconfiar que algo pudesse estar errado, mas não teve coragem de perguntar.
Depois de duas semanas, ainda desconfiada achou muito estranho quando lhe mandou uma mensagem dizendo que hoje ele que cuidaria do jantar e que só precisava se arrumar porque a noite seria somente deles.
– O que está fazendo, ? – perguntou assim que desceu as escadas e viu a luz baixa, o silêncio mais do que anormal para o horário fez com que ela olhasse tudo ao redor sem encontrar nenhum rastro das crianças.
– Eu gostaria de poder te levar naquela praia que um dia a gente fugiu junto com nossos pequenos, onde tudo parecia mais simples e a nossa parceria era maior do que tudo, era a nossa base.
– Não estou entendendo nada! É alguma data especial?
– Eu sei que não tenho sido o parceiro de vida que prometi que seria, que eu deixei o meu trabalho, os problemas e tudo o mais se colocar no meio de nós e eu não vi... – se aproximou de a olhando profundamente, com o mesmo olhar de sempre, a venerando e desejando, com as mãos na cintura dela ele a trouxe para mais perto – Eu não vi que estava nos deixando pra trás, que deixei você me esperando!
Os olhos de se encheram de lágrimas e toda a mágoa e cansaço acumulados vieram a tona, quando ela finalmente entendeu sem conseguir se controlar sentiu as lágrimas escapando de seus olhos, o peito chacoalhando e alguns soluços a tomarem. Ela sentia como se tivessem descobertos seus segredos e agora a pessoa da qual mais sentia falta estava diante dela, a olhando como quando eles se conheceram, com os olhos mais amorosos do mundo e o abraço que a fazia se sentir sempre em casa.
– Me perdoa, ! Eu prometi que sempre lutaria por nós, mas não foi o que eu fiz, e se você ainda quiser, eu vou fazer tudo diferente, como estou tentando fazer há alguns dias, não posso te prometer que não vou mais errar, que a gente não vai quebrar de novo, mas posso prometer que sempre darei tudo de mim pra ser o melhor pra vocês!
– Então é isso que você tem tentado fazer…. Eu pensei que alguma coisa muito errada estivesse acontecendo, nem sei o que dizer…. – Secando as lágrimas viu a careta que fez ao ouvi-la, com as mãos ainda ao seu redor passeando entre sua cintura e suas costas, ele aproximou sua boca da dela sentindo a respiração descompassada da esposa bater em seu rosto e a beijou devagar.
– Eu não quero nada com ninguém que não seja você! Não posso te deixar sem lutar com tudo que tenho, sem te dar tudo….
– Vem cá, deita comigo! – a pegou pelas mãos e com uma calma que desconhecia ele a conduziu até o tapete no meio da sala e pediu que ela fechasse os olhos.
– Lembra quando fomos naquela praia, ficamos em uma casa muito ruim, mas que todo mundo se divertiu tanto, quando conseguimos ficar sozinhos e deitamos na grama….
– Lembro, a gente não planejou aquela viagem e…. – O sorriso no rosto de se transformou em um Ó perfeito ao ver o céu estrelado projetado no teto da sala.
– Como naquela noite! – sorrindo se deitou ao lado da mulher, vendo os olhos dela brilharem – Não consigo te levar pra lá agora, nossas vidas mudaram muito, mas tem uma coisa que não mudou nem por um segundo….
– O quê? – Os olhos dela brilhantes devido as lágrimas se voltaram novamente para que se apoiou em um dos cotovelos para poder observá-la melhor.
– O querer o que nós temos, é tão raro e nós podemos ficar aqui pra sempre, reaprender a nos amar, nem que a gente quebre de novo…. Eu não ligo de reconstruir as coisas contigo! – As mãos dele foram para perto do rosto de , com a ponta dos dedos traçava um caminho por todo a extensão da face da esposa, como se ela pudesse quebrar a qualquer instante, como se precisasse gravar cada detalhe – Eu não consigo desistir de nós, !
– Eu já esqueci o quanto você consegue ser persuasivo…. E se a gente estiver insistindo em algo que já morreu?! – Por mais acelerado que seu coração estivesse não conseguia escapar das memórias, não conseguia esquecer das vezes em que se viu sozinha e perdida, o receio era real, a triste realidade que já viveram também.
se sentou novamente e encarou com intensidade, sentindo o coração cantando muito mais baixo, como se pudesse parar a qualquer momento apenas por sentir o quanto ele já tinha machucado sua esposa, o quanto ele teria que pagar um preço extremamente alto por seu descuido.
– Pra mim ainda não acabou, mas se você não quiser mais eu te entendo perfeitamente! Eu te amo e deixo você ir se for o melhor…. – A voz falha e as mãos suando foi o que ele mais tentou esconder, embora se sentisse quebrar em apenas dizer tudo aquilo, ele não prenderia a ele.
O silêncio que prosseguiu depois daquele momento era ensurdecedor, deitou no tapete ao lado dela e fechou os olhos, sentindo o peso daquela conversa sobre sua mente e coração.
Se surpreendeu ao sentir as mãos de se entrelaçarem as suas, ainda de olhos fechados sentiu ela se aconchegar ao seu lado e o abraçar.
– Podemos aprender a amar de novo? – sussurrou no ouvido de , sentindo o coração acelerar apenas em ver o sorriso que ele deu ao se virar para ela.
– Podemos! Juntos podemos! Te amo, !
Aquela noite marcou o recomeço do casal, vivendo dia a dia buscando se reencontrar no amor que construíram. Enquanto houvesse o desejo de ambos em seguir na mesma direção, os corações poderiam cantar alto, sem medo do futuro.
Fim
Nota da autora: Oiee, tudo bem?! Amei escrever essa história, as músicas dessa banda sempre foram muito importantes pra mim, foi tão bom conseguir fazer parte desse ficstape *-* Espero que tenham gostado da fic, comentem, me contem o que acharam, ok?!
Qualquer coisa, tô sempre pelo Twitter
Miiil Beijooos, até a próxima!
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