Finalizada em: 20/09/2022

Capítulo Único


’s Version
As portas do elevador abriram no sétimo andar, mas eu não estava pronto para o que viria em seguida. Só que preparado ou não, obriguei minhas pernas a funcionarem mesmo que meu corpo inteiro estivesse travado com a tensão que tinha tomado conta de mim. Eu não tinha certeza de como tinha tomado a decisão de vir aqui no meio da noite mais chuvosa do ano até agora, mas o impulso foi mais forte e quando vi, já estava estacionando o carro na frente do prédio.
Parei diante da porta dela – a última e única porta colorida do corredor porque em um momento de loucura quis pintar a porta de lilás como em Friends – e hesitei quando meu dedo roçou a campainha. Nossa briga tinha sido feia, tão feia que eu não lembrava de outra parecida.
Eu a deixei me esperando no quarto do hotel, mas quando voltei, ela não estava lá. Eu não sei como achei que ela estaria esperando por mim depois daquela discussão, mas eu tinha um resquício de esperança que ela ainda estivesse lá. Foi o show mais torturante da minha vida e quando acabou eu só queria correr de volta para o hotel e apagar o olhar atormentado que me acompanhou durante a noite toda. Mas ela já tinha ido.
não atendeu as ligações e ignorou todas as minhas mensagens e tentativas de falar com ela usando o telefone de outras pessoas. Havia sido uma maldita tortura esperar uma semana para correr até Toronto e resolver isso, mas eu tinha uma agenda de shows a cumprir e não pude vir antes. E mesmo assim, quando cheguei na cidade, ainda não tinha certeza sobre vir falar com ela. Eu nem sabia se ela estaria em casa quando resolvi aparecer, mas ainda no carro vi a luz do quarto acesa pela janela.
Engoli a sensação ruim, o medo do que me esperava e toquei a campainha.
Os segundos que levou pareceram horas, mas a voz dela soou desconfiada do outro lado.
- Quem é? – perguntou.
Outra vez hesitei antes de responder.
- Sou eu – respondi, minha voz soando estranha até para mim. – .
Houve um longo silêncio após minha resposta e o corredor foi preenchido pelos sons de trovões e a chuva caindo ruidosa contra as janelas do corredor. A sensação esmagadora que eu já estava sentindo ficou ainda pior com a falta de resposta.
- Por favor, ... – engoli em seco. – Vamos conversar.
- Vai embora.
Mas eu não iria, não dessa vez. Ir embora significava desistir de nós e eu não podia fazer isso porque a mera ideia da minha vida sem ela era algo que eu nem conseguia imaginar.
- Nós precisamos conversar – insisti, quase implorei. – Por favor.
- Não, não precisamos! – retrucou. – Porque eu falei tudo que tinha para falar naquela noite, .
- Mas eu não falei!
Apoiei as mãos na porta e respirei fundo para tentar controlar o desespero que crescia dentro de mim. De jeito nenhum aquela última conversa seria o nosso fim, não podia ser.
- , eu estou implorando. – pedi, encostando a testa na porta. – Nós não podemos acabar daquele jeito. Grita comigo, me xinga, qualquer coisa, mas... Me deixa entrar. Eu preciso te ver. Nós precisamos conversar, você sabe que precisamos.
Minha testa caiu contra a porta e meus olhos fecharam. Tentei acalmar as batidas desenfreadas do meu coração, mas eu sabia que o que quer que decidíssemos esta noite, não seria bom.
Demorou um pouco, mas ouvi a tranca da porta abrindo e dei um passo para trás. A porta abriu e a luz quente do abajur da sala iluminou fracamente o rosto dela quando apareceu no meu campo de visão. Seus olhos encontraram os meus e por um momento, mesmo que breve, tudo pareceu melhor. Eu quase esqueci da briga terrível, de como a deixei sozinha naquele quarto e como a última semana tinha acabado comigo.
- Posso entrar? – perguntei.
Um raio iluminou o céu lá fora e o brilho refletiu em nós dois. Os olhos dela pareceram duas luas brilhantes e prateadas fitando os meus. Eu vi a relutância em seu rosto, mas mesmo assim ela deu um passo para o lado.
- Pode.

’s Version
Mesmo tendo ignorado todas as ligações e mensagens de durante a última semana, eu tinha lido cada uma delas e escutado os milhares de recados que ele deixou. Foi uma espécie de tortura, mas eu precisava daquelas palavras para tomar a decisão que eu vinha evitando há tanto tempo.
Eu o amava há mais tempo do que podia lembrar, mas amor nem sempre era o suficiente e nos últimos meses e eu fomos o exemplo perfeito disso.
Ele estava em turnê, eu estava correndo com os últimos meses da faculdade e nos víamos tão pouco que aprendemos a não sentir falta um do outro. As brigas tinham se tornado frequentes e nunca tinha tempo para nada. Eu entendia os motivos e nunca seria a namorada que pedia para ele escolher entre mim e a carreira, mas não tornava mais fácil.
Porque eu me sentia culpada por chorar quando falava que não ia conseguir me ver e também me sentia culpada quando ele me convidava para ir para algum show e eu não conseguia ir por conta das aulas. Ele também se sentia culpado e mesmo que entendesse quando eu não podia ir, eu sabia que ele ficava tão arrasado quanto eu. Isso estava nos matando e algum dos dois tinha que tomar a decisão difícil.
Eu sabia que ele estava de volta à cidade, mas não imaginei que viria até aqui hoje, então fui pega completamente desprevenida quando ouvi sua voz do outro lado da porta. Meu coração travou uma batalha no meu peito e meus dedos apertaram a maçaneta com tanta força que chegou a machucar. Eu ainda estava destruída depois da última briga quando fugi de Los Angeles, mas sabia que assim que entrasse aqui, este seria o nosso fim.
Encostei a testa na porta e respirei fundo, lutando contra as lágrimas que nublaram minha visão. Pisquei algumas vezes na tentativa de fazer doer menos, mas as lágrimas continuaram a vir e o nó na minha garganta aumentou a cada segundo de silêncio do outro lado do corredor porque estava lá e não iria embora até falar comigo.
Enxuguei as lágrimas antes de abrir a porta e precisei fazer um grande esforço para não chorar quando o vi. Travei o maxilar, mordi a língua e evitei piscar. Se uma lágrima caísse, as outras iam ter passe livre.
parecia ter corrido pela chuva até aqui. Seu cabelo estava pingando, assim como suas roupas. Em outro momento eu teria reclamado por ele estar encharcando meu apartamento, mas essa preocupação pareceu ridícula agora.
- , eu... – começou, mas eu o interrompi.
- Deixa eu falar primeiro – pedi.
parou no meio da sala há alguns metros de mim. Eu não sabia exatamente o que ia dizer, mas sabia que não podia deixar que ele falasse primeiro porque eu não conseguiria fazer isto se ele me pedisse para não desistir de nós.
- Você vai me pedir desculpas – eu falei, me recusando a encará-lo agora. – E eu sei que é sincero. Eu sei que se pudesse, você teria vindo atrás de mim no minuto que viu que eu não estava te esperando em Los Angeles. Mas eu te vi ir embora, . Eu fiquei naquele quarto chorando, perdida e arrasada por uma hora até conseguir ter forças suficientes para ir embora.
O bolo na garganta cresceu e minha voz quase falhou, mas eu não deixei que isso me interrompesse.
- E nos últimos meses nós estamos nos vendo ir embora aos poucos quando devíamos fazer isso de uma vez para doer menos – respirei fundo, sentindo meu peito arder com o esforço para segurar as lágrimas. - Só que eu não consigo fazer isso, … Não mais.
E mesmo que eu corresse o risco de chorar, olhei para ele mesmo assim. não parecia surpreso, mas a expressão de dor em seu rosto foi suficiente para que não desse mais para segurar a enxurrada que eu estava tentando evitar. Meus lábios tremeram, meus olhos encheram de lágrimas e no segundo seguinte eu estava soluçando.
Não só chorando, mas quebrando.
Cada pedaço de mim parecia estar quebrando em pedaços tão pequenos que seriam impossíveis de serem colados de volta. Ironicamente, correu para me abraçar como se pudesse segurar os pedaços de mim que estavam quebrando por causa dele.
Ele me abraçou com tanta força que eu perdi o ar. Não lutei, nem tentei lutar, porque era exatamente dele que eu precisava. Seu corpo estava congelando, mas eu precisava do calor que aquele abraço me passava e só percebi isso quando eu o envolvi com meus braços e chorei em seu ombro. Meus dedos cravaram suas costas como se eu pudesse me segurar ali para sempre, mesmo que eu não pudesse.
- Eu queria poder te pedir para me colocar no topo da sua lista, – murmurei em meio aos soluços. - Mas não é justo, não é justo... Isso tá me quebrando, você está me quebrando e eu estou me quebrando.
Eu não conseguia ver seu rosto, mas sabia que cada palavra estava o machucando também. Embora não fosse o que eu queria, era simplesmente impossível controlar tudo que eu estava sentindo agora. Eu precisava desabar e ele precisava entender o porquê de eu estar fazendo isso com nós dois.
- Tá tudo bem, – ele sussurrou, pressionando os lábios na minha têmpora. - Me amar não devia te machucar.
- Te amar não me machuca, – apertei meus olhos com mais força. - Mas todo o resto, sim. Não é sua culpa, eu sei que não, mas nossas vidas... Estamos em momentos completamente diferentes agora e eu não consigo mais fazer isso. Eu te amo demais para deixar isso continuar a ponto de te odiar.
O peito dele pressionava o meu com tanta força que eu senti sua respiração mudar. Se tornou rápida, quase difícil, como se ele mesmo estivesse se esforçando muito para não chorar como eu.
- Sabia que eu vim aqui pronto para te implorar para não desistir de mim? - a voz dele quebrou no final.
- ... - tentei interrompê-lo, mas dessa vez ele não deixou.
se afastou o suficiente para me encarar, mas me manteve em seus braços mesmo assim.
- É a minha vez – ele retrucou.
Seus olhos estavam vermelhos, as bochechas úmidas. Meu coração quebrou mais um pouco.
- Eu estava pronto para pedir para tentar de novo, . Porque, sinceramente, eu não vejo minha vida sem você. Eu te amo tanto que... Porra, isso tá sendo a coisa mais difícil da minha vida – ele soltou uma risada sem graça, fechando os olhos por um momento. - Mas eu não acho que eu tenha percebido o quanto isso está machucando nós dois. Eu fechei os olhos e foquei na parte boa, quando, na verdade, nos últimos meses os momentos ruins têm ganhado.
roçou o polegar na minha bochecha, enxugando uma lágrima silenciosa que escorreu.
- E uma parte de mim ainda quer implorar para gente tentar, mas nós estamos tentando há meses – ele piscou, afastando algumas lágrimas. - Não estamos mais em Paris, não é?
Mordi o lábio inferior para não soltar outro soluço alto, mas entendeu e me apertou com mais força contra seu peito. Meus ombros chacoalharam com o choro silencioso mesmo que por dentro eu estivesse tão ruidosa quanto a tempestade lá fora.
- Eu queria que tivéssemos ficado em Paris – sussurrei.
levou um tempo considerável para responder, mas sua respiração ficou tão irregular quanto a minha.
- Eu também queria.
Nossa viagem para Paris tinha sido digna de filmes de romance clichê. Parecia ter sido em outra vida, mas foi poucos dias antes do álbum dele ser lançado há quase um ano. Não sabíamos naquele momento, mas foi o início do nosso fim. O último mês bom.
- Vai ser sempre você, – senti a necessidade de falar. - Antes, agora e depois. Eu preciso que você saiba disso.
- Eu sei – ofegou, abaixando o rosto para encostar a testa na minha. - Eu preciso que você saiba que eu nunca quis te magoar.
- E eu sei – confirmei.
- E também vai ser sempre você - disse, forçando um sorriso.
Como se fosse possível, meu peito apertou ainda mais.
- E eu nunca mais vou te machucar – ele prometeu, me olhando com tanta intensidade que eu pude ver a culpa no fundo dos seus olhos, mesmo que não fosse culpa dele. - Esta é a última vez que eu estou te pedindo isso, mas... Me deixa te beijar, .
Ele não precisou de resposta.
Me inclinei na ponta dos pés e alcancei sua boca com a minha. Os lábios dele estavam salgados pelas lágrimas, mas foi de longe o beijo mais inesquecível da minha vida. A boca dele capturou a minha, as mãos dele percorreram meu corpo como se quisesse gravar cada centímetro. Eu toquei seu cabelo, me perdi no perfume, deixei que cada detalhe dele me consumisse.
Nunca seria suficiente, mas eu precisava acreditar que seria.
Eu não queria deixá-lo ir, mas quando faltou ar e eu me senti intoxicada pelo turbilhão de emoções que estava sentindo, interrompi o beijo. manteve os olhos fechados por alguns segundos e eu o observei, gravando a sensação de tê-lo tão perto de mim. Imediatamente quis chorar novamente, mas iria segurar isso para quando estivesse sozinha.
- Eu te amo, beijou minha testa.
- Eu também te amo, – consegui reunir forças para responder.
Levou alguns segundos, mas se afastou e eu o observei ir até a porta em silêncio. Ele hesitou antes de sair, mas não virou para me olhar. Uma parte de mim queria que ele tivesse virado, mas fiquei feliz que não.
Então eu apenas o observei ir embora pela última vez.


Fim



Nota da autora: Eu amo tanto essa música que quase morri quando consegui escrever esta fic. Terminei de escrever soluçando de tanto chorar, mas com certeza minha TPM influenciou muito essa reação adversa. Espero que gostem, meninas. Beijos!



Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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