Until the End of Time
Aprendi e me descobri.
Obrigada por me ensinar a ouvir, ser empática
E que mesmo nos dias mais sombrios é possível ser sol.
Obrigada por me ensinar que lealdade e confiança
vão muito além de duas palavras com mais de 7 letras.
Obrigada por não desistir e ser forte, resiliente.
Segunda, 26 de Julho de 2021
Casa de Anna e Sebastian Vettel, Alemanha.
Chuva.
Uma chuva torrencial, do tipo que forma rios onde antes haviam ruas, do tipo que destrói todo jardim, das tulipas até as roseiras e a horta. O tipo de chuva que te trancafia em casa, assustadora, teimosa e que acaba com seus planos.
Na casa dos Vettels estavam alguns amigos de longa data que precisaram se abrigar para fugir da tempestade horrenda de verão que assolava aquela região da Alemanha. A maioria dos pilotos de Fórmula Um estavam reunidos no país para um evento da federação e todos presos nas terras germânicas devido as fortes e perigosas chuvas. Eles estavam espalhados por hotéis, torcendo para que a chuva indesejada fosse embora e que os alagamentos extraordinários acabassem para que pudessem voltar para casa e alguns, afortunadamente aproveitavam a hospitalidade e companhia de Sebastian Vettel e sua esposa, uma advogada discreta e de espirito altivo.
Junto aos pilotos estavam outros integrantes das equipes, membros da federação, médicos e outros profissionais. Entre eles, , um dos rostos que se podia ver quando o medical-car era acionado. amava o que fazia, embora nunca conseguisse explicar com clareza se a razão disso era a atuação com aquele tipo de cuidado médico ou a proximidade com o esporte tão amado. A médica também estava no país para a premiação da FIA e devido a amizade de longa data com Anna e Sebastian, assistia a chuva de uma das janelas cuidadosamente limpas da casa. A residência grande e interiorana, com ares de uma casa de campo moderna, localizada num espaço mais afastado e alto, não sofria nenhuma consequência das fortes chuvas, mas não estava alheia ao isolamento que os alagamentos nos lugares próximos causava.
Além de , ali também estavam hospedados outros amigos do casal, deixando a casa quase sempre silenciosa de Sebastian e Anna mais parecida com uma casa de vó, com falatório e risadas altas demais. e Anna eram amigas, se conheceram por causa do esporte e algo no universo decidiu que era uma boa combinação. Logo, Lorelei, esposa de Lewis Hamilton também se juntara a dupla. Afinal, Anna e Lorelei não eram apenas esposas de pilotos, eram mulheres incríveis que sempre acompanhavam seus companheiros, ora porque esse é o papel de uma esposa, ora por amarem o esporte talvez mais do que os próprios maridos o faziam.
Com o tempo e convivência, outra foi adicionada ao grupo, Claire era amiga de Sebastian e Lewis Hamilton, havia conhecido o alemão em congressos sobre o clima e integravam juntos comissões voltadas a preservação do meio ambiente. Já Lewis a havia procurado para uma conversa depois de assistir uma fala da mulher em um seminário sobre o genocídio da juventude pobre. Quando as três mulheres se deram conta, Claire já fazia parte do grupo e assistia a maioria das corridas ao lado delas.
Naquela segunda barulhenta, quente e molhada, Lewis e Lorelei estavam na casa de Anna e Sebastian, com e Claire, que surpreendentemente havia levado uma companhia, a nova namorada. Quando a mais nova integrante do grupo passou a ir aos autódromos com as amigas, o plano era que Claire saísse de lá com um piloto, mas em vez disso, a ativista havia roubado a atenção da namorada de um deles, Elena, com quem adorava se exibir.
Ser a única solteira não incomodava a médica, o que realmente tinha essa função era outra presença ali, que parecia sugar sua energia como um dementador. Aquele que não devia ser nomeado porque dizer seu nome ainda doía muito, a razão das idas a terapia semanalmente, das noites chorando ao som de Olivia Rodrigo e Céline Dion, All by myself nunca pareceu encaixar tanto a sua vida.
.
A droga de estava de volta.
Depois de fugir do olhar castanho do piloto canadense durante toda temporada até ali e no evento, pensou estar a salvo na casa dos amigos, até ser pega de surpresa pela chegada repentina de , a lembrando que Sebastian ainda era seu amigo.
Na madrugada da premiação, depois de não conseguir chegar a um hotel, havia enfrentado um super alagamento para chegar até a casa de Vettel. A médica quase não pode conter o impulso de terminar de descer as escadas para confirmar se ele estava bem, assim como precisou lutar muito para não se derreter quando o canadense sorriu grande em sua direção durante o café da manhã no dia seguinte. Naquele momento Mariana teve certeza de que não poderia compartilhar os mesmos espaços que ele. Parte de sua superação se devia a não o ver nunca mais, nunca mais falar com ele ou tê-lo por perto. Não sabia o que faria em sua presença, se conseguiria evitar a tormenta de sensação e sentimentos, se se lembraria dos motivos que levaram ao termino e não somente as boas lembranças.
Qual era o problema dele? Ela questionava enquanto relembrava do sorriso do piloto, que parecia inabalável por sua presença. Por acaso se esqueceu de tudo? Se esqueceu de tudo que aconteceu entre nós dois? Se perguntava enquanto amaldiçoava a chuva pesada que a mantinha presa na mesma casa que . Não conseguia entender como para ele parecia estar tudo bem o suficiente para que a cumprimentasse com um sorriso doce, com aquele maldito sorriso doce. Será que pelo menos uma vez ele não podia facilitar as coisas?
Já fazia algum tempo, mas ainda perdia o sono por causa dele, ainda sofria por ter que vez ou outra cruzar com durante as corridas. Mas sofria ainda mais quando não podia vê-lo, quando sabia que ele estava num mal dia, quando o percebia triste e se enxergava de mãos atadas, quando algum acidente acontecia, quando ele fazia ótimas corridas e tudo que a médica queria era abraça-lo, como nos velhos tempos. A droga ainda estava agarrada em seus ossos, como um tipo de tatuagem permanente que não se desfaz com o tempo. Um tipo de ligação inexplicável e que não fazia sentido nenhum.
Aquele sentimento era tão terrível quanto as chuvas que caíam torrencialmente do lado de fora, intensa e com grande potencial de destruição.
- Última chamada para o almoço. – Claire avisou batendo na porta entreaberta e colocando a cabeça para dentro do cômodo.
- Tô meio sem fome. – respondeu sorrindo fraco, desviando apenas por alguns segundos o olhar da janela.
- É por causa dele, não é? – Claire quis saber, sentando-se sobre a cama do quarto onde estava.
- Pelo que tô vendo daqui, essa chuva não vai parar tão cedo. – A médica apontou para fora. – Saiu alguma coisa na TV? Meu celular desligou.
- Entendi. – Claire riu abafado. – Se você quiser, vigio a cozinha e depois que almoçarem te chamo. Ou posso trazer aqui, dizer que você está indisposta...mas pode ser que ele queira vir te ver.
- O que? – girou o tronco sem cuidado, buscando os olhos da amiga.
- Ele perguntou de você. – A outra levantou os ombros. – Só para mim, duas vezes, mas perguntou para Lewis e Sebastian também e para as garotas, é claro.
- É sério. – Bufou. - O que ele quer? Já não basta tudo?
- Talvez esteja querendo conversar, resolver algum ponto. Ele pareceu interessado em saber de você, como se quisesse aproveitar a oportunidade. – Claire contou.
- Eu mal posso esperar para a chuva passar, quero sair daqui o mais rápido possível. – A médica pôs-se de pé sem paciência. – Não tem nada para conversar. Não existe conversa entre nós, eu não quero ficar no mesmo ambiente, no mesmo andar que ele.
- Vou avisar a Anna que de agora em diante você vai fazer suas refeições no quarto. – Claire mordeu o lábio, empática.
- Obrigada.
- Certo. – Sorriu ao se levantar. – Vou almoçar, então. Antes que alguém indesejado venha me procurar. Quer alguma coisa?
- Na verdade, preciso de um carregador. Me empresta o seu? – Pediu a médica. - Claro, deve estar na mesa de cabeceira. – Claire deu de ombros. – No quarto onde Elena e eu dormimos.
seguiu a amiga para fora do quarto, mas não a seguiu para o andar de baixo, tomou outra direção, até o quarto de Claire. Três portas de distância do seu, à direita, e agradeceu a organização da amiga quando encontrou facilmente o carregador junto a um livro de cabeceira, Drácula de Bram Stoker. A médica sorriu, esquecendo-se por alguns instantes da presença indesejada no andar de baixo. Gostava de perceber como as amigas eram diferentes entre si e como aquelas diferenças se encaixavam e combinavam formando um conjunto harmonioso.
Pensava nisso, nas diferenças de leituras, músicas favoritas e até equipes que torciam na Fórmula Um, enquanto fechava atrás de si a porta do quarto de Claire, um pouco mais aquecida por dentro, planejando fazer algo para demonstrar a felicidade em estar perto das amigas naquele fim de semana de felicidade, apesar os apesares.
Depois de virar a maçaneta com cuidado, virou-se para voltar ao seu próprio quarto, mas fora surpreendida pela colisão com um corpo estranho. A médica apertou os olhos com o choque e só os abriu novamente quando percebeu ter um par de mãos envolvendo cintura, oferecendo um tipo de apoio para que não caísse no chão. subiu o olhar devagar, pelo que pareceu ser uma eternidade, como se sua mente quisesse se certificar de que não era um sonho.
E então lá estava ele, o olhar doce e intenso, profundo e suave de a encarando de volta.
- Você? – Disseram juntos.
- Mari...- sorriu numa feliz surpresa, sentindo o coração aquecer um pouco.
ainda tinha os olhos presos aos dele, congelada em seus braços por depois de tanto tempo ouvi-lo, ouvir a voz de tão perto, sentir seu hálito quente, sua respiração forte e a junção da voz do canadense com seu apelido. Mas como um balão que estoura de repente, a médica voltou a razão, apertando os olhos com força na tentativa de apagar aquela lembrança sentimental de sua mente, afastou-se dele sem qualquer delicadeza.
- Não me chame assim, é só para pessoas íntimas. – Rosnou, pondo as mãos na cintura, de costas para ele, tentando se concentrar em um pequeno furo na parede.
- Certo. – sorriu fraco, entendia a reação dela. – . É bom de ver.
A médica não respondeu, preferiu se concentrar em sua respiração, olhar para cima, contar até dez, cantar em pensamento músicas que a relaxavam e tentar dissociar, fingir que aquilo não estava acontecendo. continuava parado, analisando a postura tensa dela, como seus ombros se moviam quando ela tentava respirar mais fundo. Tentou alcança-la duas vezes, tocá-la, mostrar que ainda estava ali, mas desistiu no meio do caminho nas duas, só seria mais uma razão para ela se afastar.
- Você parece bem. – mentiu, tentando puxar assunto. – A premiação, foi bem merecido. Você tem feito um ótimo trabalho, fiquei muito feliz quando soube. Sei o quanto sua carreira é importante para você. – o respondeu com uma risada incrédula, nasalada e carregada de ironia.
- É sério? – A médica girou em seu próprio eixo, encarando o canadense mais uma vez. – Carreira...- Expirou irônica, balançando a cabeça negativamente e passando a língua no interior da bochecha. – Agradeço, e se é só isso...
deu tentou dar alguns passos em direção a seu quarto, mas o piloto fora mais rápido, pondo-se a sua frente e segurando com firmeza o antebraço da médica. A mulher precisou de alguns instantes para processar novamente o contato de suas peles.
- Espera, não vá assim...- pediu com as sobrancelhas juntas.
- O que você quer? O que é que você quer agora? – Indagou afetada, aumentando um pouco o tom de voz.
- Eu...queria ver como você está...queria conversar...nós não...
- Não. Não se atreva. – ergueu um dedo, interrompendo-o. – Não se atreva a dizer que não conversamos, que não resolvemos o que tinha que ser resolvido. Não venha com esse papo de querer saber como eu estou. Não agora. Não depois de tudo.
- Eu sei que as coisas não terminaram como deveriam e que muito ficou mal resolvido. Talvez você ainda tenha raiva de mim...- tentou dizer.
- Raiva? Raiva, ? Raiva? Acha que eu tenho raiva de você?
- E não tem? Não é isso que está parece agora? – Ele argumentou, apontando para o estado da médica, que mais uma vez sacudiu a cabeça incrédula. - Sabe, acho que é pedir muito. – acusou com a voz um pouco mais suave. – É pedir muito, não é? Pedir para que você entenda alguma coisa sobre o que eu sinto ou não agora, sendo que nunca conseguiu fazer isso nem quando estávamos juntos. – Fora a vez de balançar a cabeça negativamente.
- Isso não é verdade.
- Quem bate nunca lembra. – A médica cuspiu e em seguida tentou se afastar mais uma vez, mas fora impedida pelo piloto novamente.
- E agora, quando tento conversar, você reage assim. Você diz que eu não fiz coisas...sempre me acusa, mas nunca me deixou saber o que estava errado, nunca me deu a chance de consertar.
- Ah, por favor. – afastou-se dele. – Desculpe, não sabia que precisava te ensinar a se relacionar. Eu não tenho nada para falar com você, não existe nada para ser resolvido. Tudo já está morto e enterrado há tempo demais. Já passou.
- Mentira. – acusou. – Dá para ver nos seus olhos que não e não foi isso que disse quando foi embora.
- Tem razão, eu ainda sinto algo por você. – Disse ela e respirou, enchendo-se de expectativa. – Decepção. Arrependimento. Vergonha. Pena. – O olhar do canadense se partiu e a expressão de transformou-se por completo. – Meu maior sonho é nunca ter conhecido você, nunca ter estado com você. Eu sinto raiva de mim mesma apenas com as lembranças, as poucas coisas que eu ainda não esqueci. O tanto que suportei. - Mentiu.
- Eu...- tentou falar.
- Você queria conversar, não é? Queria me ouvir? Então agora ouça e depois disso, me deixe em paz. Me esqueça! – Ordenou a ele, sangrando por dentro, odiaria se aquilo realmente acontecesse.
- Não acredito. Não acredito em você. – acusou. – Seus olhos...não é isso que eles dizem.
- Não fique se agarrando a falsas esperanças. Quando olho para você, tudo que sinto é pena e não há nada que eu queira mais do que sair daqui. Não suporto ficar na sua presença por nem mais um segundo. – mentiu e rumou a passos rápidos e duros até o quarto.
continuava com os olhos presos no ponto onde antes estivera a médica, sentia-se sangrar com as palavras ditas por ela, mas também se sentia culpado por toda aquela situação. Não entendia onde o relacionamento calmo e tranquilo havia se tornado aquele mar de ressentimento, raiva e angustias. Queria ouvi-la, entender, mas não parecia tão disposta quanto ele a repensar o fim, a dar outra chance aos dois.
Mas nos últimos dias, principalmente depois de quase ser arrastado por uma super enchente durante uma tempestade atípica demais até mesmo para aquele ano, as coisas haviam mudado. se perguntava para onde estava indo, para onde as escolhas de sua vida o estavam levando. Depois de alguns meses sem entender como se sentia exatamente sobre o término, tudo agora parecia encaixar. Talvez não estivesse pronto na época, talvez não fosse tão maduro quanto julgava, talvez só não fosse para ser, mas ainda a amava. Pensava no sorriso dela, nos falatórios aleatórios, nas músicas dela, no cheiro e até nas manias irritantes. Ainda a amava, e mesmo depois de ouvir tudo aquilo, de ver como a mulher estava profundamente ferida, a certeza do sentimento parecia aumentar.
Quinta, 23 de Abril de 2020
Casa de e , Suíça.
Era mais um dia, mais um dia de isolamento.
A segunda semana de isolamento social não estava sendo melhor que a primeira, pelo contrário, parecia pior, mais insuportável. As paredes pareciam sufocar, não havia espaço mesmo dentro de um apartamento grande na Suíça. Ficar contido, aprisionado não era uma experiência das melhores, principalmente para alguém que sempre gostou de sentir o vento tocar a pele, a adrenalina que certos esportes poderiam causar, a sensação de liberdade, a felicidade depois de vencer um jogo de basquete ou a energia depois de vencer um jogo de hockey no gelo.
sentia-se afetado, triste, desanimado. A pandemia estava fora de controle, os casos da doença aumentavam a cada dia, assim como o número de mortos e não havia o que se fazer. Evitava os noticiários sempre que podia, mas em alguns momentos era preciso acompanhar as notícias, saber como estava o mundo, um panorama geral. Era uma pessoa pública e entendia o que aquilo significava, mesmo não sendo tão bem quisto ou considerado. Gostava de usar seu lugar de fala para coisas positivas, para tentar fazer do mundo um lugar um pouco melhor.
Estava deitado no sofá com o rosto parcialmente coberto por uma manta, apenas ouvindo as notícias sobre o crescente número de mortos, enquanto esperava angustiado notícias da família sobre a irmã que começara a apresentar os sintomas daquela maldita doença horrível. O dia estava sombrio e se perguntava para onde a humanidade estava indo, era terrível, angustiante e tudo parecia não ter mais jeito. No cômodo ao lado, sua namorada finalizava mais uma entrevista virtual em um canal sobre saúde. era médica, aspirante a médica de Fórmula Um, o esporte dos dois. Ela era dócil, centrada, firme e inteligente, talvez uma das pessoas mais inteligentes e alegres do mundo todo.
Nos últimos tempos estava dedicada a se tornar um dos rostos dentro do medical-car na Fórmula Um. A mulher já atuava em outras categorias, mas a Fórmula Um, na categoria de seria diferente. E esse percurso era marcado por muito esforço, dedicação e horas a fio de estudo, reuniões intermináveis, conversas. Às vezes sentia-se um pouco enciumado, o foco da namorada era tanto que sentia ser um pouco abandonado.
Mas ela estava ali, sua estava ali do lado, em suas intermináveis reuniões, entrevistas, planos e mesmo depois de tudo, de um dia absurdamente cheio, ela conseguia sorrir. Conseguia olhar para frente e sorrir, conseguia olhar para e transmitir paz, dizer que tudo ficaria bem e que por mais complicado que parecesse o momento, tudo ficaria bem porque estavam juntos.
se dedicava a vida, a carreira, a discutir a situação da pandemia em entrevistas, em divulgar seu campo para outras mulheres interessadas no esporte, queria mais garotas ali, era o que ela dizia. Ainda encontrava tempo para ouvir as lamentações de , as angustias, as ansiedades e todo o medo e incerteza dele, arranjava tempo para rir com as amigas, para conversar com a família e para cozinhar para ele algo especial. Aquilo aquecia seu coração.
Abrir os olhos em meio a todo aquele caos e enxergar seu farol, sua luz, o guia de seu caminho. Entre todas as ideias malucas de atividades, shows online, leituras, hobbies novos e milhões de coisas que inventaram de fazer para passar o tempo durante a quarentena, a melhor era estarem juntos. Os cafés despretensiosos, os almoços levemente queimados, os biscoitos que não assaram o suficiente e a nova lista interminável de deliverys favoritos. Nada trazia mais paz, nada era melhor do que estar na presença dela, sentindo o cheiro dela, tocando a pele fina dela.
Aquela era sua vacina, sua cura e o fogo que mantinha seu coração aquecido em meio a todo aquele caos. A beleza, a existência de era o que fazia ter certeza de que um dia tudo ficaria bem, cedo ou tarde.
Sexta, 29 de Maio de 2020
Casa de e , Suíça.
assistia pela TV a cobertura dos protestos pela morte de George Floyd. Entediado e chateado, era fim de semana e mais uma vez estava só no apartamento a meia luz, na companhia da internet e de seus próprios pensamentos. estava fora, em mais uma reunião importante para finalização dos termos e acordos para seu início no medical-car quando as corridas voltassem. Estava feliz pela realização do sonho da namorada, obviamente, mas não podia ignorar seu ponto de vista.
Ficava cada vez mais sozinho e cada vez mais ocupada. Seus compromissos pareciam intermináveis, precisavam encontrar uma brecha na agenda dela para passarem o dia jogados no sofá ou irem jantar em algum lugar especial. Talvez fosse egoísmo de sua parte, reconhecia isso, mas não conseguia disfarçar sua solidão sempre e por isso se flagrava sendo um pouco rude e ressentido com a médica. Mas sempre sorria e tentava compensá-lo de outras formas.
não se moveu quando seus ouvidos notaram os passos da mulher que chegava em casa, passava das oito da noite.
- Cheguei. – Anunciou ela sorrindo, deixando a bolsa perto da porta e se higienizando para entrar em casa. – Vou tomar um banho. Depois a gente pode ver um filminho. – Cantarolou sorridente, apesar da aparência cansada.
- Pode ser. – respondeu do sofá. – Pedi comida, está na geladeira.
- Tudo bem? Como passou o dia? – Ela quis saber.
- Okay.
apenas assentiu, indo direto para o banheiro se livrar de toda aquela possível contaminação. Estava moída, morta, queria dormir como nunca, mas sabia que precisava dedicar certo tempo ao namorado e estava empenhada em passar o resto da noite com ele, ouvir sobre seu dia ou sobre o que quer que ele quisesse falar.
Depois de um delicioso banho quente, ela já estava deitada junto a ele no sofá, acariciando seus cabelos, depois de comer um yakisoba frio sozinha. escolhera um filme de comédia sutil e leve e permanecia atento a tela. sabia que o namorado não estava com o melhor dos humores e sentia-se terrivelmente dividida por isso.
De um lado, sua realização profissional e pessoal, sabia que estava no caminho certo e que se quisesse colher os frutos, tempo e esforço precisavam ser desprendidos. Parte sua entendia que aquele era o momento para abnegar-se, sacrificar-se para um fim e estava em paz com isso. Por outro lado, sentia-se terrivelmente culpada por deixar de lado, principalmente durante aquele período pandêmico. não conseguia disfarçar sua chateação todos os dias, embora na maior parte deles tentasse. E ela sabia que o namorado sentia-se só, isso a fazia questionar suas escolhas, por vezes se flagrava pensando se tudo aquilo valeria mesmo a pena em um momento como aquele.
Torcia para que tivesse um pouco mais de paciência e conseguisse suportar um pouco mais aquela situação.
Segunda, 26 de Julho de 2021
Casa de Anna e Sebastian Vettel, Alemanha.
A noite era fria e depois de um jantar barulhento, todos estavam recolhidos. Claire e sua namorada, Elena estavam no quarto de , junto a Anna e Lorelei, a modelo italiana namorada de Claire mostrava seus últimos recebidos e demonstrava a eficácia de alguns produtos para pele. Claire comentava os benefícios do uso, enquanto argumentava sobre a composição de cada item, com Anna e Lorelei atentamente focadas.
- Se deixa a pele aveludada eu quero. – Lorelei disse, pescando um dos hidratantes e segurando junto ao peito.
- Esse tem um cheiro maravilhoso, frutado. – Elena buscou outro potinho. – Lewis vai gostar.
- Pode deixar, vou testar agora. – A senhora Hamilton pôs-se de pé, correndo para fora do quarto rindo alto e levando os produtos com ela.
- Gente, mas olha isso. – sorriu com as mãos na cintura, acompanhada pelas outras.
- Que preconceito é esse, eu quero recebidos também. – Anna reclamou, ajeitando os óculos de grau no rosto.
- Aqui. – Elena sorriu ladina, entregando um óleo corporal para Anna. – Quando você espalha pelo corpo ele pode causar uma sensação fresca, gelada. E aí, se soprar...
- Funciona super. – Claire entrou no assunto.
- Lá vem ela. – brincou, rindo da amiga que sentiu as bochechas esquentarem instantaneamente.
- Eu ganho para testar. – Elena deu de ombros mordendo a língua.
- Se eu fizer uma massagem usando isso...- Anna pensou alto.
- Essa é a ideia. – Claire piscou e as amigas riram.
- Eu acho que a Lorelei está me chamando. – Anna desconversou. – Estão ouvindo? Acho que estão me chamando. Boa noite.
Despistou e também saiu do quarto, deixando as três a sós.
- Esse é o threesome que eu sempre sonhei. – Claire provocou a amiga, jogando-se na cama ao lado da namorada.
- Uma pena eu ser hétero. – rolou os olhos, caindo deitada entre as duas.
- Eu acho o contrário. – Elena riu. – Se você não fosse, eu estaria solteira. – Lembrou.
- Ou com seu ex. – A médica riu.
- É verdade, Elena era hétero. – Claire virou-se, deitando de bruços e apoiando o rosto com as mãos. – Se bem que, estudos provam que ninguém é totalmente hétero. Eu ouvi um podcast essa semana, dizendo que os povos nativos de toda américa tinham três gêneros, homem, mulher e um entre eles, acredita?
- Linda, vamos deixar a palestra para amanhã? – Elena cutucou a namorada.
- Mas eu nem estou falando muito hoje. – Claire resmungou.
- É, mas não quer ouvir falar disso. – Elena indicou a médica com o olhar, fazendo com que Claire voltasse a atenção para ela.
- E sobre o que ela quer falar? – Claire implicou, encarando a amiga até que ela percebesse que a atenção das duas estava sobre si.
- O que? Vocês disseram alguma coisa? – Ela perguntou sacudindo a cabeça.
- Onde está sua cabeça...- Claire começou a perguntar, mas Elena a interrompeu.
- É onde está seu coração. – Completou. – Nem precisa ser sensitiva para saber em que ela está pensando.
- Não, não é nada disso. – desconversou, afastando o olhar.
- Eu não sei bem o que aconteceu entre vocês, mas a mim parece que ele está realmente incomodado com tudo isso. – Elena comentou.
não respondeu.
- Você não quer falar disso, né? – Claire sondou com olhar empático, já conhecia a amiga o suficiente para conhecer seu jeito.
sorriu fraco.
- Mas você precisa falar. Não pode ficar aqui isolada de todo mundo, dos seus amigos, só porque está lá embaixo. Vocês já terminaram há um tempo, isso não é justo. – Elena opinou sem se preocupar com os olhares repreensivos da namorada. – Ou vocês se resolvem para ficarem bem ou se resolvem para ficarem mal. Mas você não pode ficar aprisionada aqui em cima por causa da presença dele. Que tipo de poder esse homem ainda tem sobre você?
- É complicado. – riu nervosa, apertando os dentes. – Eu realmente não quero falar disso.
- Não precisa falar, as vezes é o caso de só pensar. – Elena deu de ombros.
- Eu adoro dizer isso, Elena tem razão. – Claire concordou sorrindo. – Não vamos ficar jogando sal na ferida, não é piccola? – A ativista lançou um olhar firme na direção da modelo loira que expirou, concordando a contragosto. – Mas talvez, só talvez, seja o caso de pensar e se libertar. Você já sofreu demais com esse relacionamento para ficar enclausurada aqui em cima.
Claire afagou o ombro de e se levantou, estendendo a mão para Elena, que depositou um beijo na bochecha de e também ficou de pé, abraçando a namorada de lado.
- Vamos aproveitar a chuva e o tempo frio para fazer coisas de um casal cujo uma das partes não é Anna Vettel ou Lorelei Hamilton, como assistir um filme enquanto comemos chocolate e ficamos deitadas. – Claire brincou, fazendo a amiga rir.
- Deitadas de coalinha. – A modelo sorriu apaixonada.
- Se quiser se juntar a nós, eu deixo um espaço na cama para você. – Claire piscou e assentiu sorrindo fraco. – É só bater na porta com dois toques.
Elena acenou e Claire piscou mais uma vez, depois deixaram o quarto. encarava a porta fechada por onde as amigas haviam passado a pouco. Não queria pensar em nada daquilo, mas sabia que tinham razão, aqueles dias deveriam ser alegres e animados, devia estar se divertindo e não trancada no quarto. Sentia o estômago roncar, queria ter passado o jantar rindo ao lado dos amigos e não sozinha no quarto.
Elena tinha um ponto, quem era ? Havia se sentido triste, culpada e incomodada por ele durante o relacionamento, não permitiria que a fizesse sentir assim ainda agora. Sentir raiva dele era mais fácil, sabia que no fundo todo aquele rancor e raiva serviam para disfarçar o querer, o gostar que ainda morava dentro dela. Mas nada daquilo justificava se isolar, se trancafiar para não o ver. Ainda gostava do piloto, muito, mas não podia alimentar aquilo, precisava tomar uma decisão. respirou fundo e esticou a coluna, não permitiria, não daria a ele aquele poder sobre ela mais uma vez. Nunca mais.
Levantou-se decidida, vestiu um casaco e saiu do quarto, obstinada a ir até a cozinha e fazer um lanche antes de dormir em paz.
cruzava a casa de Sebastian, voltando da varanda, de onde gastara horas observando a noite chuvosa e pensando na vida. A casa estava silenciosa, exceto pela cozinha, ao perceber a movimentação ao redor da ilha, o piloto canadense piscou algumas vezes para ter certeza de não se tratar de alguma miragem. montava um sanduíche concentrada, com a mesma destreza e cuidado de quem opera um coágulo cerebral. Ele a observou por alguns instantes, hipnotizado e sendo invadido por um deja vu avassalador que fazia seu peito doer.
- O paciente vai sobreviver? – Perguntou tentando ser notado por ela.
levou o olhar sorrindo, mas trancou a feição quando encontrou o autor da brincadeira. Os dois sentiram um frio na espinha, mesmo que por razões completamente diferentes. pensava no que dizer, queria puxar assunto, perguntar como ela estava, notara que a médica não havia feito nenhuma refeição junto aos outros, nem frequentava a casa, parecia enclausurada. Insistindo em evita-lo ao máximo.
- Que bom te ver. – Optou por jogar com a verdade. – Já estava desconfiando se você estava mesmo aqui ou se foi só um sonho. – Brincou sorrindo, tentando disfarçar o nervosismo que se instalara de repente, tencionando seus ombros.
não respondeu, fingiu estar sozinha, mantendo os dentes apertados e rosto tenso, denunciando que não estava tão indiferente como fingia. mordeu o lábio e suspirou triste, se arrependia de cada tijolo que ajudara a mulher a assentar naquela grande barreira entre os dois.
Quarta, 10 de Junho de 2020
Casa de e , Suíça.
O cheiro das flores recém colhidas perfumava a casa, combinando com a melodia suave da flauta de bambu tocada repetidas vezes. Cortesia de Claire, uma das amigas de , que namorava um médico de pais chineses e com estresse pós-traumático. Fora Claire também a dar a dica para a amiga, meditação ajudaria o casal a lidar com as ansiedades causadas pela pandemia e também seria uma boa atividade para que os dois fizessem juntos.
e se convenceram juntos da ideia e tentavam sempre que podiam. Meditações guiadas, exercícios de respiração, que muitas vezes terminavam quando um dos dois pegava no sono sem querer, ou quando perdiam a atenção por um barulho qualquer ou por estarem com câimbra ou fome. Mas se divertiam, as tentativas frustradas os acalmava da mesma maneira, porque os fazia rir e o riso liberava muito hormônios bons, sempre gostava de enfatizar.
Inicialmente, tinha certeza que detestaria a atividade, mas depois de ler um pouco, descobrir sobre tradições indígenas antigas e conexões naturais, fora convencido a tentar. Mas acima de tudo, o fato de poder estar na companhia da namorada por horas, apenas respirando juntos, apenas estando juntos.
- E se a gente dissesse para a Claire que tentamos e que deu certo, mas fossemos para o sofá? – propôs, ainda de olhos fechados e soltou um riso nasalado.
- E como isso ajudaria na ansiedade? – Ela questionou sorrindo sem encará-lo.
- Ficar aqui tentando não pensar em nada e ouvindo essa música que me dá sono também não tem ajudado. – Ele a encarou com uma careta, abrindo apenas um dos olhos.
riu alto e desmontou, caindo sobre o corpo de que a abraçou, sorrindo também.
- Eu escolho o filme e você faz pipoca? – Sorriu para ela, beijando sua bochecha.
- E se eu fizesse vitamina de abacate? – Ela sugeriu, como quem sugere um plano maquiavélico para domínio do mundo.
amava vitamina de abacate desde que fora apresentado por no primeiro encontro dos dois. - Eu amo namorar uma brasileira. Amo. – agradeceu levantando as mãos para o céu, teatralmente. – Obrigada por ser brasileira.
Segunda, 26 de Julho de 2021
Casa de Anna e Sebastian Vettel, Alemanha.
- Se lembra das vezes que cozinhávamos juntos? – disse sem pensar e viu suspirar.
A médica cortava com muita calma as cascas de uma fatia de pão, torcendo para que ele fosse para seu quarto antes que se tornasse impossível embromar por mais tempo. Mas o gatilho que a pergunta de acionara era profundo e sensível demais para ser ignorado.
O golpe, ponto fraco quando se está esquecendo alguém é a fase em que você começa a deixar de sentir raiva ou rancor e passa a olhar para o passado com compreensão, a se lembrar dos momentos, dos bons momentos. Não estava totalmente nessa fase ainda, principalmente porque usava a raiva como proteção, mas depois dos meses em negação antes de aceitar que não teriam futuro e romper com , dos meses de raiva e depressão, agora parecia estar aos poucos entrando em uma fase perigosa onde se questionava se aquilo valia mesmo a pena.
Se perguntava por que não ir até ele e ceder, queria sentir seu cheiro, saber se estava bem. O piloto tinha uma cara péssima, parecia cansado, o olhar triste a torturava. Mas não podia esquecer dos próprios sentimentos, da raiva que alimentava e que por vezes esquecia a razão, da dor da separação, que fora maior pela separação em si do que por qualquer coisas que ele a havia feito.
- Se tornou um tipo de memória afetiva para mim. – continuou. – No início não queria ouvir sobre, nem ver ou lembrar de qualquer coisa que fizesse referência a isso. – Ele sorriu encarando os pés e enfim o encarou. – Mas depois comecei a sentir falta.
- E você espera que eu diga o que? – Indagou e seu tom era tão gélido que podia ser capaz de congelar o sangue dele em suas veias.
- Não espero nada. – inclinou a cabeça sobre o ombro e a encarou. – Só senti vontade dizer isso, entre todas as outras coisas.
passou a mão no cabelo, como se daquela forma fosse capaz de clarear os pensamentos. Depois enfiou as duas mãos no bolso da calça de moletom que usava e respirou fundo, se recostando de lado na parede, deixando o olhar vagar para a janela, se perdendo entre os pingos grossos de chuva que caiam.
- Eu acho que nunca disse. – voltou a se pronunciar. – Acho que nunca falei isso, não por falta de oportunidade...- Ele expirou num riso baixo e sem humor, sacudindo a cabeça. – Foi imaturidade. Burrice. Mas eu sinto muito, lamento de verdade tudo que aconteceu.
- Tarde demais. – jogou a faca que segurava dentro da pia com força, depois deu as costas e apoiou-se na bancada.
- Eu sei, não estou falando isso agora como tentativa de resolver, consertar. – Garantiu. – Nós dois construímos, tijolo por tijolo, um muro muito alto e forte de ressentimento e mágoa que não dá para simplesmente descontruir.
sentiu o peito apertar. Então era isso? Ele estava a atormentando para dizer que sentia muito e que tudo bem? Já era? Ela tinha mesmo razão?
Não lutar ou dizer nada quando ela propôs o fim do relacionamento já fora duro, mas ouvir aquilo naquele momento era pior. No fundo, bem no fundo, a médica ainda tinha a esperança de descobrir que ele se importava ou que tinha se importado em algum momento. Torcia em segredo para descobrir que ele sofreu, porque em sua opinião talvez fosse um sinal, mesmo egoísta, de que ligava pelo menos um pouco.
Mas não, era o contrário.
Talvez só estivesse tentando falar com ela ou se desculpar em nome das boas energias, tentando evitar o clima ruim entre os amigos. Talvez por isso tinha sorrido para ela quando chegou, porque não se importava e o final de tudo não fora nada traumático.
- É isso? – girou em seu próprio eixo, com olhar ferido e voz alterada. – Você está atrás de mim desde que chegou dizendo que quer conversar para dizer isso? Parabéns, . – Ironizou.
a encarou sem mudar a expressão pensativa e sóbria, respirou profundamente e caminhou até ela.
- Do seu lugar, do seu lado do muro, tudo que você vê é o que aconteceu. Você só vê quem eu era. Quem nós éramos. – Ele se corrigiu. – Não funcionaria tentar desconstruir. Essas pedras todas...- Ele gesticulou esfregando o peito e unindo a sobrancelha, e já estava a menos de meio metro de distância da médica. – São pesadas demais para carregarmos, para quebrar.
riu sem humor, apoiando-se novamente na pia, afastando-se sutilmente do piloto.
- Além disso, eu não poderia descontruir sozinho, precisaria que você também quisesse. – sorriu triste. – E acho que não é o caso.
- Você...- Ela riu sem qualquer humor, um riso arrepiante, morto. – Eu ainda sou a vilã aqui? A que não quer desconstruir, que nunca está presente, que não sabe dialogar, que não pode ceder ou se desligar um pouco da carreira para viver um grande amor.
- Não disse isso. – se defendeu.
- E foi preciso? É sempre isso, sou sempre eu. Sempre foi minha culpa, sempre foi falha minha. – alterou seu tom, batendo com os dedos em seu peito. – Eu sempre estava errada, culpada, apanhando calada e ainda agora, depois de todo esse tempo, nada mudou. Quando você tem a chance de falar algo, diz que construímos um muro que eu não quero descontruir.
- Eu não menti quando disse isso, menti? – também se exaltou um pouco. – Todas essas coisas ajudaram e fortaleceram essa barreira entre nós dois, pouco a pouco.
- Por que é que eu ainda pareço a culpada para quem lê? – indagou ferida. – Por que eu?
- Você nunca se magoou comigo pelas mesmas coisas. – respondeu.
- E essa é a diferença entre nós dois. – riu baixo, esfregando os olhos. – Você sempre pareceu tentar achar coisas que podia usar para reclamar, coisas que te incomodavam. Ficava mal-humorado, pensava que tudo era pessoal e que eu era fria e que não dedicava o suficiente de mim a você. Mas eu nunca reclamei das suas ausências, de quando era eu a ficar sozinha enquanto você se dedicava a sua carreira, quando era eu a ter a vida de cabeça para baixo por namorar alguém famoso. Quando era eu quem sofria por ver, nitidamente, que você estava distante e frio, mesmo quando você negava. – Ela suspirou. – Mas eu nunca reclamei, não é? Nunca gritei, berrei. Nunca joguei na sua cara ou te critiquei o tempo todo, não é? Talvez eu tenha errado nisso. De verdade.
Terça, 14 de Julho de 2020
Casa de e , Suíça.
rolava o Twitter, pulando toda menção a ela e sua aparência, ou sua profissão ou sobre seu relacionamento. Uma das piores partes em namorar alguém famoso era lidar com a atenção da mídia, os falatórios de quem odiava ou amava . Para alguns ela era a vilã que estava com o piloto por dinheiro e fama, para outros, era alguém com que saia para tentar limpar sua imagem. Tinha perdido seu nome, não era mais , era a namorada de , só mais uma F1 Wag.
Aquilo a chateava, embora tentasse disfarçar, não queria incomodar com aquelas besteiras. Não queria ser chata ou cansativa, sabia que ele também sofria e evitava a internet, e que aquilo era uma consequência, não existia nada que o namorado podia fazer para poupá-la daquilo.
Nos últimos dias passava pouco tempo com o namorado e não deixaria que, no pouco tempo que tinham, tivessem momentos desagradáveis. estava focado em seu trabalho, ocupado e cheio de tarefas, os dias de folga que a médica havia separado para ficar ao lado dele estavam sendo usados com filmes e séries. Passava o dia só, em casa se analisando e se perguntando sobre a vida, tentando ser útil e cuidar do namorado mesmo à distância.
Pensava nisso, no resumo dos seus dias enquanto encarava o namorado trocar de roupa, havia recém-chego de um dia longo de treino com seu preparador físico. , que geralmente a lembrava de sua falta e quando não, também demonstrava por suas atitudes, agora era quem parecia distante, e algumas vezes ocupado demais para qualquer coisa que tivesse relação com ela. Às vezes tinha a impressão de que o relacionamento dos dois sobrava na vida do piloto quando ele estava se preparando ou se dedicando as corridas, como se talvez para ele, fosse mais fácil se não tivesse a médica por perto, como mais uma tarefa, um peso.
Embora fosse um homem adepto ao diálogo e ela agradecia por isso, não era comum que homens se sentissem à vontade para falar de assuntos os afetava emocionalmente. Nos últimos tempos o piloto parecia um pouco distante, como se algo o perturbasse o juízo
parecia cansado, o piloto caminhou para a cama, jogando-se no lado direito do colchão, fechou os olhos e respirou profundamente. o olhava, memorizando seus traços e detalhes, os cabelos escuros, as mãos grandes, o peito subindo e descendo.
- Treino puxado? – Ela perguntou, deitando-se de lado e ainda o observando.
- Muito, preciso recuperar o ritmo. – Contou. – Vou treinar até tarde amanhã também.
- De novo? Você vai acabar fadigado. Está treinando pesado por vários dias, quase não te vejo em casa. – o alertou.
- Faz parte do processo, linda. – sorriu, virando-se para ela. – Parece que em julho devemos voltar as pistas. Preciso estar em ótima forma, porque os outros estarão. – Disse ele animado. – Checo estará.
- Isso com certeza. – sorriu. – Colocar a iogurteira no pódio. Quero um pouco de alegria no meu coração de torcedora. – Eles riram juntos.
- No que depender de mim, vamos estar no pódio, de um jeito ou de outro. – piscou. – E você? Parece meio chateada.
- Não, só cansada. – sorriu.
- Vamos pular a parte que você nega.
- Você ainda me ama? – Ela foi direta.
sobressaltou-se, piscou e sorriu.
- Claro que sim. Por que essa pergunta?
- Eu...- Não soube dizer.
Poderia falar sobre o medo de abandono, sobre como as vezes pensava que seria melhor deixa-lo antes que ele percebesse que ela não estava a sua altura e terminasse tudo. Dizer tudo que a incomodava, dizer que percebera o estado estranho do piloto, mas não podia.
- Não seja boba, eu amo. – a beijou com doçura.
-Também te amo. – Declarou.
pensou em tudo que sentia, tudo que se passava em sua mente, os pensamentos se atropelando. Respirou fundo e depois de alguns minutos, de olhos fechado, começou a falar:
- A verdade é que estive ocupada e focada na minha carreira, sei que te deixei sozinho e me sinto culpada por isso. Sei que você também não gostava, mas eu tentei, até tirei alguns dias para ficar com você. Mas agora, você também está ocupado, com sua carreira e tudo isso...e eu tenho medo de que isso tudo seja uma desculpa para ficar longe de mim, porque minha mente disfuncional sempre me lembra o quão substituível eu sou. – Desabafou rápido, lutando para não se embolar com as palavras. – Eu tenho medo disso sempre, mas a qualquer sinal mínimo já fico desesperada. E eu tenho tido muito tempo livre, ficando em casa sozinha enquanto você treina e minha cabeça não está como a oficina do diabo, ela é a fábrica dele. Eu só tenho medo, de tudo. E fico confusa o tempo todo, com meus instintos dizendo uma coisa e minha mente outra.
Quando terminou, respirou fundo e sorriu, orgulhosa por ter conseguido dizer quase tudo que estava entalado em sua garganta. Abriu os olhos e o viu dormindo tranquilamente.
- Boa, . – Ironizou. – Muito boa noite, senhor .
Segunda, 26 de Julho de 2021
Casa de Anna e Sebastian Vettel, Alemanha.
- Viu só? – riu friamente inclinando a cabeça para trás ao ouvir o desabafo da médica. – Como eu poderia fazer qualquer coisa, mudar, se nem mesmo sabia que algo te incomodava?
não respondeu, estava cansada, triste, não queria ficar naquele jogo de certo ou errado, revivendo tudo mais uma vez.
- Se você não me diz que estou errado, me priva de melhorar, de tentar consertar. – Disse ele encarando a janela outra vez.
- Isso é tudo? Terminou? – quis saber. – Por que eu não quero mais ouvir o quanto errei na sua opinião.
- Eu não quero isso, não pretendia nada disso quando falei que queria conversar. – se explicou. – O que eu queria dizer desde o início é que eu entendo. Naquela época era imaturo, achava que falar sobre o que me incomodava, reclamar era o máximo que podia fazer, mas talvez tenha faltado da minha parte ceder, me pôr no seu lugar. Me arrependo todos os dias do tanto que errei, de não ter escolhido minhas batalhas, de não ter sido mais maduro emocionalmente. Eu pensei que era, juro. – expirou pesadamente. – Eu sei que eu te amei e amo muito, sei que você também me amou. Que éramos a luz um do outro, mas relacionamentos nem sempre são fáceis. Errei em nenhum momento te evidenciar e permitir que tudo girasse ao meu redor, errei ao desconsiderar que ser minha namorada atrairia muita coisa boa e ruim para sua vida. E acima de tudo, me arrependo todo segundo da minha vida, ter deixado você ir, de ter visto esse muro ser construído entre nós e ter sido orgulhoso demais para ir contra. Me arrependo amargamente de ter deixado você ir embora em silêncio.
Era aquilo.
nunca fora capaz de reconhecer aquelas coisas, nunca dissera que a entendia ou se mostrara capaz de compreender. Grande parte disso se devia a nunca ter dito qualquer coisa sobre o que a incomodava, mas de todo modo, sua postura ainda era capaz de surpreende-la.
Quinta, 6 de Agosto de 2020
Casa de e , Suíça
encarava a parede, deitada em sua cama ela tinha o olhar focado e vazio, como se estivesse fora dali, longe. Presente de corpo mais com espírito distante, vagando por seu passado tentando entender como chegara até ali, depois se arrastando por suas previsões de futuro, sofrendo com as inúmeras possibilidades que se desdobravam após os últimos acontecimentos.
A pouco havia tido uma discussão com . Depois de um dia estressante, o namorado se irritara com uma interpretação equivocada de uma piada feita por , gerando o caos. entendia aquilo como um ataque pessoal a ele, acusava a médica de ser dona da verdade e de ser arrogante demais para dialogar.
Não era nada disso.
só não conseguia conceber aquilo tudo. As acusações de eram injustas e a feriam profundamente, sempre tentou dialogar, ouvi-lo, entende-lo, mesmo que nunca fosse totalmente aberta sobre o que a incomodava. parecia usar coisas pequenas para justificar grandes que não faziam sentido, como se uma fagulha simples causasse um grande incêndio. Talvez nenhum dos dois sequer entendesse porque havia tanto combustível a ser queimado. Dos dois lados havia gasolina, mágoas, rancores, coisas mal resolvidas que pesavam e aos poucos lotavam o que logo transbordaria.
Talvez já estivesse passando da hora, talvez aquele fosse o final. Estava cansada.
Segunda, 26 de Julho de 2021
Casa de Anna e Sebastian Vettel, Alemanha.
- Por que você nunca disse isso? – Ela perguntou. – Por que não disse nada quando eu saí?
- É difícil pensar em algo para dizer quando seu mundo desaba. – expirou. – Eu não...eu não consegui. Tudo que pude fazer foi ficar lá, sentado, ouvindo você e depois te olhar saindo por aquela maldita porta.
Fez-se silêncio.
- Eu corri, quando caí em mim e percebi que era mesmo verdade, corri até você, mas já era tarde demais. – Continuou ele. – E desde então não se passou um dia sem que eu me arrependesse.
- Por que nunca foi até mim? Por que não me procurou? – passou nervosamente as mãos no cabelo. – Isso não faz sentido nenhum, .
- Orgulho, medo. Olha, você precisa entender que demorei muito para compreender tudo, os motivos que fizeram com que nós dois déssemos errado. – Ele falou com os olhos injetados. – Primeiro senti dor e alívio, juntos. – expirou desapontada e incrédula. – Depois senti culpa, depois raiva, tentei te culpar porque só conseguia ver o meu lado, os seus erros. Mas quando a raiva passou, quando a inflamação passou, eu voltei a pensar com clareza e percebi que errei muito. Pensando estar acertando, pensando estar a fazer o melhor.
respirou fundo, sem romper o contato visual e segurou suavemente os braços dela.
- Errei por imaturidade, carência, egoísmo, orgulho, mas errei achando estar a fazer o melhor que podia. E hoje, vejo que você também. – Disse calmo. – Talvez eu devesse acrescentar covardia a minha lista de erros, já que esperei todo esse tempo para criar coragem para falar com você. Mas não era como se você estivesse aberta a minhas tentativas também.
- E o que você quer, Lance? – fungou. – Depois de todo esse tempo, de todo esse sofrimento...o que é que você pretende com tudo isso?
- Quando você foi embora, me disse que não era para sempre. Não esqueci.
o encarou chocada, ainda o amava, sabia disso por mais que sempre negasse. Mas a ideia de era inacreditável.
- Você só pode estar de brincadeira. – Ela riu sem humor. – Eu sofri, fui para terapia, chorei, sofri e estou feriada profundamente até hoje. E então você me diz que...que...eu nem consigo repetir em voz alta.
- Eu sei que não é assim, que não é fácil. – Ele garantiu. – Estou propondo para que deixemos isso tudo de lado. Passado no passado. Estou pedindo uma nova chance, me permita me apresentar mais uma vez. Me permita conhecer você mais uma vez.
o encarou chocada, não sabia o que dizer.
- Ao menos me permita estar ao seu lado como amigo. – Pediu ele.
- Eu não sei, . – Ela sacudiu a cabeça. – Muito aconteceu para que eu simplesmente deixe de lado. Ainda estou sofrendo com isso.
assentiu respeitosamente, depois de alguns segundos com os olhares presos um no outro, deixou a cozinha de cabeça baixa, sem se despedir, deixando o sanduíche e um de coração apertado.
Era muito para ser pensado, eram muitas coisas. se declarando, assumindo a responsabilidade de suas ações, disposto a tentar de novo. Parte dos sonhos mais íntimos da médica estavam se tornando realidade, a figura dele correndo até ela no dia da despedida, sofrendo por sua partida. Não tinha certeza sobre o quanto daquilo podia ser verdade ou não, mas seu coração queria o que ele queria, e era acreditar no piloto.
Não sabia se poderia esquecer tudo que se passou, nem mesmo sabia se queria. Mas talvez, pudesse deixar de evita-lo, talvez pudesse não sofrer ao dividir a mesa do café na casa de Anna. Talvez pudesse não sentir o coração sangrar ao vê-lo agora que sabia o que sentia. Talvez e só talvez ele tivesse razão.
Segunda, 05 de Outubro de 2020
Casa de e , Suíça.
estava sentado no sofá com as mãos sobre o rosto, depois de mais uma discussão sobre algo simples e bobo, mais uma discussão desgastante, cansativa, tóxica.
Doía, mas precisava acabar. Há meses refletia e se preparava para aquela decisão, tentando de todas as formas evita-la, tentando se resolver, tentando consertar, ignorando os ataques, conversando. Mas depois do diálogo, a paz durava só até outra discordância, outra má interpretação. parecia não a conhecer, parecia não saber quem ela era, não confiava na pessoa que a namorada era, desconfiava de tudo, tudo tinha sempre um outro sentido em sua opinião, tudo era um ataque.
Para era como tentar dialogar com uma parede que não queria dialogar, mas sim esperar sua vez de falar. Para ela, não buscava entende-la, era injusto, egoísta, não era sincero, parecia não a querer por perto, como se quisesse desculpas para se livrar daquela relação.
Estavam cansados, mesmo tendo absoluta certeza do amor que sentiam, estavam cansados. O amor dos dois era tranquilo, um lugar para descansar o coração e relaxar a mente. Estarem juntos eram como uma benção, só queriam estar juntos e assim saberiam estar bem. Mas relacionamentos eram difíceis e complicados, e o amor não era o bastante.
- Eu estou cansada. – desabafou, de pé, um pouco longe dele, encarando o chão.
- Eu também. – concordou, não sabia o que fazer para resolver aquilo.
- Isso não está me fazendo bem, eu amo você. – começou a dizer. – Nosso relacionamento era bom, me trazia paz, me fazia muito bem, era meu porto seguro. Mas ultimamente eu só consigo me sentir mal, isso só tem piorado minha ansiedade e me deixado em um limbo horrível. – Desabafou tentando não chorar. – Eu não posso mais fazer isso. Talvez um dia...não vou dizer que é para sempre, nem que não tenha volta...até porque eu amo você e isso não mudou.
Do que ela está falando? se perguntou estático. Não conseguia se mexer, ou questionar, estava chocado. Claro que sabia que a relação dos dois não era mais a mesma, nem que estavam saltitantes de felicidade, mas quando dizia o que o incomodava, questionava, discutia, eram com intenção de melhorar, não terminar. Devia ter se calado, devia ter silenciado e não reclamado de nada, ele se repreendeu. Sequer conseguia dizer alguma coisa, mas ainda falava sobre os muitos argumentos que tinha para defender a decisão de acabar com tudo. Ela era clara e calma, como sempre, em tudo que dizia.
- Eu só...- Ela suspirou. – Vou para um hotel. – Expirou frustrada, esperava ao menos um olhar, mas sequer havia a encarado.
foi até o quarto e jogou algumas coisas na primeira bolsa que encontrou, depois lavou o rosto e se dirigiu a porta, mas parou antes de abri-la, respirando fundo.
não sabia o que dizer, estava tão chocado que seus pensamentos sequer faziam sentido. Horas antes estavam escolhendo o voo para se juntarem a família dele e agora ela estava saindo de casa com uma mala. Não sabia o que dizer, sabia que aquilo estava errado, mas seu orgulho também o segurava, em partes.
Queria implorar para que ela ficasse, queria se jogar a seus pés, mas não podia, não podia e nem mesmo sabia porque não podia, ou porque ela estava indo embora. Estava congelado, estático, mal podia olha-la, mas ergueu o olhar para vê-la suspirar e sair pela porta, dando-lhe as costas.
Assim estava acabado o sonho, os planos, os momentos felizes, mas também os tristes, as brigas, as angustias, as ansiedades. Por mais dor que sentisse, por mais estranhamento e confusão, por alguns instantes os dois sentiram se misturar a todos os outros sentimentos um lampejo breve de alívio.
Terça, 27 de Julho de 2021
Casa de Anna e Sebastian Vettel, Alemanha.
Ao contrário do dia anterior, a terça-feira estava linda, ensolarada e os pássaros cantavam, como num tipo de cena de filme infantil. mal dormira a noite toda, pensando sobre o que havia acontecido na cozinha, o desabafo, a proposta. Esperava que o xingasse, brigasse, jogasse muito mais coisas em sua cara, mas não, ela mais ouviu que falou. Devia estar mais ferida do que ele podia imaginar ou ainda mais madura.
A ansiedade o consumia, lutava para controlar a vontade de bater na porta dela e tentar mais uma vez, dizer várias coisas que guardava, outras que se lembrara durante a madrugada, mas não queria pressionar a mulher ainda mais. Ela merecia espaço, tempo e por mais que doesse, não era obrigada a concordar com aquilo.
também não dormira naquela noite, inesperadamente se sentira mais balançada com e seu discurso de autoconhecimento do que esperava e gostava de admitir. Perdoa-lo? Talvez ainda não havia chegado naquele ponto com a terapia, ainda não tinham trabalhado aquele gatilho o suficiente. Sequer tinha tratado profundamente do assunto , não conseguia falar dele abertamente, sem o uso de piadas ou falas superficiais.
Abrir-se de novo a parecia absurdo, mesmo que ainda o amasse muito. Dar novamente a ele a chance de magoá-la, abrir-se mesmo com medo, como desconstruir as barreiras que ele mesmo havia dito na noite anterior serem intransponíveis? Como destruí-las?
Talvez, se fossem pessoas diferentes...talvez o grande muro que falara tivesse no passado, entre a e do passado. Os dois atualmente eram pessoas novas, ela pelo menos era. Talvez se resolvessem dar as costas verdadeiramente para aquelas barreiras, para aqueles erros, para as faltas do passado.
Mas seriam capazes de apagar? De esquecer completamente todo passado? De deixar para trás os traumas e entregar-se cegamente de novo, como se fosse a primeira vez?
Era uma questão muito complexa e que nenhum dos dois tinha a resposta. Eram humanos, nem sempre pensavam ou traziam soluções óbvias, sensatas ou acertadas sobre seus problemas, as vezes tudo que pensavam e diziam era um embolado de coisas que não fazia sentido algum para ninguém. Cheios de erros, acertos, não existia um vilão, era uma história complicada e só tinham aquele tempo para resolver. A chuva cessara e agora todos estavam se organizando para ir embora, não fazia ideia de quando teria uma oportunidade daquelas de novo.
Quando desceu para o café da manhã já passava das nove, os outros estavam no quintal, aproveitando o sol. Apenas Elena ainda estava na mesa, terminando uma panqueca com mais mel que o recomendado, usando uma blusa que ele reconhecera ser de Claire. Elena sorriu quando o percebeu se aproximando e lamentou não encontrar uma certa médica de cabelos cacheados sentada junto a modelo loira.
- Bom dia! – Ela sorriu.
- Bom dia, Elena. – sorriu fechado, se servindo de um pouco de leite.
- O pessoal está lá fora tomando sol. – Ela contou apontando para fora com o queixo.
- Vocês já sabem quando vão embora? – quis saber, tentando descobrir sobre .
- Claire quer ir logo, mas estou tentando convencer a irmos depois do almoço. – A modelo contou. – Não fiz minhas malas ainda, odeio que ela fique me apressando. – sorriu da careta que Elena fez. – Mas não sei que horas ela vai ou se já foi.
Elena foi direta e arregalou os olhos, ajeitando-se na cadeira.
- Acordei agora, não conversei com eles ainda. – Ela explicou. – Mas não a vi.
- Obrigada. – Ele agradeceu encabulado.
Elena terminou de comer rapidamente sua panqueca e se levantou, quase não percebera a movimentação dela.
- Os cereais acabaram? – perguntou, mas Elena não ouviu, já estava passando pela porta em direção ao jardim grande da casa dos Vettels. – E aparentemente o queijo e café também. – Ele observou. – Acho que vou ter que fazer café.
- E se eu fizesse vitamina de abacate? – Uma voz conhecida propôs e sentiu o estômago gelar, virou-se e a viu sorrindo fraco.
estava a passos de distância da mesa, com as mãos juntas, o encarando.
- Obrigada por você ser brasileira. – sorriu com coração quente.
Fim.
Nota da autora:Eu poderia dizer milhões de coisas sobre essa fic, vitamina de abacate ou sobre M., mas não seria suficiente.
Meu amor, obrigada por ser minha amiga e por estar comigo. Espero que tenhamos sensibilidade e paciência para continuarmos juntas por muito tempo.
Espero muito que esse texto te deixe com o coração quentinho. Te amo!
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