10. We Are Young

Última atualização: 01/06/2021

Capítulo Único

Um vento quente soprava do lado de fora, com o Sol raiando forte sobre todos que caminhavam pelo campus da faculdade. Era feriado! Finalmente, um tempo para refrescarem a cabeça. Bem... Apenas para quem não estava de dependência em nenhuma matéria.
Em uma das salas de aula de contabilidade, batucava com o dedo sobre o caderno já fechado sobre a mesa, nervoso. O relógio digital em seu pulso parecia ter pifado, já que, em sua visão, os números nunca mudavam. Ele sabia muito bem que poderia sair a hora que quisesse, mas ele não podia dar-se ao luxo de perder a lista de chamada da professora Bae.
Sua mente maquiavélica repassava diversos pensamentos como: “Por que eu não estudei mais para essa prova? Faltou menos de um ponto e agora preciso marcar presença aqui de novo.”
podia jurar que mais de cinco minutos haviam passado enquanto seu olhar se prendia ao bendito nove marcando os minutos.
– 54, 55, 56... – Contava os segundos, tentando manter a calma, mas seu nervosismo era tanto que nem mesmo sabia sobre o que a professora falava.
– Calma, cara. Se você ficar ansioso demais com o horário, vai demorar mais para passar. – disse tranquilo ao seu lado, rindo do jeito afobado com que se comportou nos últimos dez minutos.
– Eu só quero ver a logo. – O rapaz respondeu com a voz apressada, olhando rapidamente para o amigo. – Deu!
tacou todo seu material dentro da mochila e, sem nem mesmo fechar o zíper, botou-a sobre um dos ombros e caminhou apressado até a mesa da professora, assinando a lista de presença e correndo para fora da sala de aula, sem esperar a despedida de seu melhor amigo.
O calor insuportável parecia inexistente para o garoto naquele instante. só conseguia pensar que, em minutos, estaria perto de novamente. Depois de um longo ano.
Ele correu pelo campus, chegando até perto da escadaria para que, enfim, pudesse ir na direção dos dormitórios.
Ela estava lá. Sentada, distraída com alguma coisa na barra de sua calça jeans clara, no último degrau. sentiu fogos de artificio explodirem em seu corpo. Ele nem mesmo conseguiria contar em quanto tempo desceu aquela centena de degraus.
!
A menina mal pôde levantar-se, pois o garoto arremessou-se sobre ela. Passou os dois braços em volta do seu corpo, abraçando-a com força e totalmente sem jeito. A posição não estava confortável, mas apenas de tê-la ali, dentro de seu abraço, era o suficiente.
, tá machucando... – respondeu baixo, achando engraçada a reação exagerada do rapaz.
– Desculpa, desculpa, desculpa! – Ele disse diversas vezes, pegando na mão da garota e ajudando-a a ficar em pé. – Eu só estava com muitas saudades.
– Eu também senti sua falta, . – A menina sorriu, tombando a cabeça para o lado enquanto encarava os olhos dele.
Num ato repentino, o moço rodeou o corpo da garota, puxando-a para mais perto pela cintura e, finalmente, beijando-a. Seus olhos se fecharam automaticamente e ambos os corações passaram a bater de forma mais intensa. Um mix de emoções se formou e eles se esqueceram das pessoas que passavam em volta, encarando o casal com uma cara desgostosa.
separou o rosto da menina com leves selares em seus lábios, então segurando em seu rosto. Abriu os olhos devagar, ainda sentindo o macio da boca de na sua. Ele não queria largá-la, não depois de tanto tempo.
– Eu realmente senti sua falta. – Ele disse depois de um tempo.
– Eu também.
procurou a mão de , sem quebrar o contato visual que mantinham. Ela sorria, sabendo exatamente o que ele queria fazer.
– O pingente não tá aí. – Avisou assim que sentiu seu pulso sendo puxado com cuidado.
– Por quê?
nada respondeu, apenas balançou a cabeça enquanto jogava o cabelo para trás, possibilitando que enxergasse o cordão de ouro, junto do pingente em formato de quebra cabeça em seu busto.
– Vou continuar com o meu na pulseira. – Ele retrucou, achando que a menina fosse pedir algo, mas ela apenas riu.
– Não se preocupe, eu só coloquei no colar pois meu cordão da pulseira arrebentou. Depois, vou comprar outro.
assentiu, fixando o olhar em sua mão, ainda segurando o pulso de . Escorregou até que seus dedos se tocassem e ele pudesse entrelaçá-los aos dela, fazendo um carinho singelo com o dedão.
– Para onde você disse que ia me levar mesmo? – voltou a falar, prendendo a atenção de .
Com a mão livre, pegou a chave do carro no bolso traseiro da calça.
– Não sei ainda, vamos andar por aí.

°°°


aumentou o som do rádio assim que You’re so Cold começou a tocar, cantando com toda vontade e voz que tinha.
Deo mani mani saranghan jjogi deo apeudae neol mani mani barabon naega apeungabwa (Quanto mais eu amei, mais dói / Acho que fico doente quando olho muito para você). – Sibilava expressiva, enquanto apreciava o showzinho particular que a menina fazia no banco do passageiro. – You're so cold and you're so hurtful geuraedo naneun waeilkka neol nochi mothanda (Você é tão frio e tão doloroso / Mas por que não posso deixar você ir?).
– Você canta essa música com tanta vontade que eu tenho medo de estar insinuando algo. – confessou, rindo, apesar de realmente temer que pudesse estar cantando a verdade.
– Tá doido? Eu não passei todos aqueles anos esperando você recuperar a memória para depois te largar.
Ignorando o incômodo no peito que aquela confirmação lhe passou, esboçou outra risada, fingindo voltar a concentrar-se no trânsito.
– Como você está? – A moça o chamou assim que finalizou a sua performance da música de Heize.
– Não sei.
– Você sumiu esses últimos dias. Achei que não quisesse mais que eu viesse te visitar.
– Cala a boca. – Ele riu, olhando-a de lado brevemente. – Eu só estava ocupado, tentando resolver as coisas da faculdade, mas já tá tudo bem. E você? Como está?
– Levando. – Ela fez um biquinho. – Ando fazendo cursinho e estudando muito, mas tô bem cansada.
– Esse ano, você consegue, .
– Espero. – Torcendo a boca de forma fofa, a menina se virou para novamente. – Direito é muito difícil, e eu também fiquei muito tempo sem estudar por conta do tratamento, daí...
– Você ainda é jovem, mulher, pare de se cobrar assim. – Ele sorriu, pleno, passando uma tranquilidade acolhedora para a menina.
– Você fala como se fosse anos mais velho do que eu, e não meses.
– Só estou torcendo por você porque sei que tu és inteligente.
– Obrigada, mas você ainda não me respondeu como você está. – fez um biquinho, insistindo em obter uma resposta sincera da sua primeira pergunta
– Eu disse que não sabia.
– Por que não sabe?
suspirou pesado, sabendo que não tinha como fugir daquela conversa por muito tempo. Se fosse passar o resto do dia com , ele precisaria compartilhar pelo menos alguma das suas angústias.
– Fiquei de DP em duas matérias.
– Que isso?
– Dependência, tipo, não atingi a nota mínima pra passar e agora tô refazendo a matéria.
apenas assentiu, sem jeito para comentar sobre aquilo. Ela nunca esteve na faculdade, o que diria para ele? Nem mesmo sabia como era essa recuperação deles.
Absorto em seus próprios pensamentos, tentava concentrar-se na estrada. As músicas continuaram tocando na rádio sem que ninguém prestasse atenção, como uma melodia ambiente num elevador. Sua mente pincelava seus maiores pesadelos dos últimos meses, mas não que ele fosse revelar aquilo em voz alta.
Se ele fosse ser sincero, suas notas no curso não compunham nem mesmo dez porcento de tudo que incomodava-lhe ultimamente. E queria poder compartilhar suas aflições com , ele apenas não conseguia. Sabe aquele sentimento de ansiedade corroendo, como se houvesse uma batalha de borboletas dentro do seu estômago? Era mais ou menos isso que ele sentia. Só de pensar em desabafar suas reflexões da meia-noite, um calafrio percorria sua espinha.
– Vamos parar aqui. – se pronunciou depois de um tempo, apontando para um local de piquenique. – A gente sempre vinha aqui quando namorávamos.
assentiu brevemente, estacionando o carro numa área permitida ali perto. Saíram do automóvel juntos, e o rapaz andou até a menina, segurando sua mão com carinho, entrelaçando seus dedos – como sempre.
caminhou apressada até uma das mesas mais isoladas, puxando o garoto pela mão. Ela odiava ficar totalmente cercada, sempre preferiu um lugar mais disperso onde pudesse ficar sozinha com seus amigos, sem se preocupar se outras pessoas ouviriam sua conversa.
O céu estava bem azulado, com os raios de Sol começando a ficarem um pouco mais distantes, desde que a noite começava a aproximar-se e, junto dela, um vento mais fresco. subiu os ombros com a brisa repentina, mas ela gostava daquela sensação.
– O que quer fazer? – Ele perguntou assim que sentaram em volta da mesa, um na frente do outro.
– Nada em especial, apenas ficar com você. – Sorriu, logo jogando a cabeça para trás, admirando o céu. – Eu gosto de azul, sabia?
– Sim. – riu, observando-a.
– É uma cor que me dá uma sensação estranhamente confortante.
ficou quieto, perdido nos detalhes da garota em sua frente. Ela parecia tão alheia em sua própria imaginação que ele nem mesmo tinha coragem de interrompê-la. Um arrepio diferente correu por todo o corpo do rapaz, provocando uma onda de sensações de déjà vu.
O problema é que eram apenas pressentimentos, sem nenhuma lembrança junto.
– Gosto de imaginar que o azul é o nosso futuro. Calmo e acolhedor. – continuou falando ao abaixar a cabeça e encontrar a encarando fixamente. – Algumas pessoas dizem que o azul é triste, mas eu não consigo imaginar uma cor que nos pinte melhor.
– É uma linda cor.
sorriu. Suas pequenas mãos rodeavam a mão esquerda do rapaz, fazendo um carinho leve com os dedos, além de brincar com a pulseira em seu pulso. não sabia ao certo o que estava sentindo ainda. O incômodo sentimento de déjà vu ainda corria em suas veias, causando uma leve tontura.
– Fico feliz de poder respirar um ar fresco, finalmente. – Comentou aleatoriamente, fazendo com que a menina desse um saltinho inesperado.
Os olhos brilhantes dela paralisaram os seus, e deixou um sorriso escapar.
– Eu amo seu olhar.
– Eu amo o seu também. – contribuiu o sorriso, percebendo logo que o céu passara a escurecer.
Ao longe, avistou uma banquinha vendendo algumas coisas e sentiu sede.
– Vou comprar um suco, você quer?
– Eu pego do seu. – riu com a careta que recebeu em resposta, mas não se importou.
se levantou e caminhou até a banquinha, com o rapaz a acompanhando com o olhar. De repente, um sentimento estranho e uma dor de cabeça avassalou e bagunçou todos os pensamentos divagantes do .
Déjà vu.
se sentiu frustrado ao passar por aquela situação novamente e, como sempre, nenhuma memória apareceu. Aquilo vinha acontecendo repetidamente desde que voltara viva do tratamento, e o garoto sentia que uma parte de si ia embora a cada sensação vazia de um déjà vu incompleto.
Apesar de estar em sua vida constantemente – por meio de ligações de vídeo e chat do Kakao e Instagram, não conseguia mais assimilar as coisas completamente da forma correta. Ele queria poder lembrar de tudo, e não apenas dos “momentos mais marcantes”.
Era revoltante quando e comentavam que “eles sempre faziam tal coisa” sendo que, na cabeça de , aquela era a primeira vez. Raiva, dor e mágoa o consumiam, além de uma certa decepção.
Sim, ele era jovem e tinha problemas, mas precisava ser justamente esse tipo de problema? Não podia ser, talvez, notas baixas? Quem sabe uma companhia ruim que teve durante a adolescência... Mas precisava ser a merda de um acidente que arrancou todas as suas lembranças?
Imperceptivelmente, lágrimas passaram a escorrer em seu rosto. Era um choro sofrido, com toda a raiva e angústia acumuladas em meras gotas salgadas e quentes. poderia jurar que sentia-se completamente nu e envergonhado por chorar no meio de um parque, mas quem disse que ele conseguiria controlar? A frustração era tamanha que ele nem ao menos teve chances de tentar impedí-las de cair.
– Não tinha suco de morango, então eu peguei uma água mesmo. – avisou ao aproximar-se, sem perceber que o outro fungava baixo, tentando secar o rosto. – ?
Talvez tivesse sido a vaga lembrança de ela o chamando quando terminaram e ele partiu mesmo assim, mas as lágrimas quentes e sinceras do rapaz voltaram a molhar de suas bochechas até o queixo. A menina, assustada, correu até ele, largando a garrafa de água sobre a mesa e acolhendo-o com um abraço.
Ela nada disse, apenas ficou ali, aconchegando-o como podia. não era boa com palavras, nunca foi. Mas não que ela precisasse dizer algo para passar segurança a .
Ficaram naquela posição por algum tempo, em silêncio.
– Se quiser desabafar quando se acalmar, eu sou toda ouvidos, mas não te forçarei a nada, ok? Eu te amo.
Outras cinco lágrimas gordas vazaram de seus olhos, entretanto, sorriu. Era ela. Sempre havia sido a .
Ele poderia ter perdido a memória de diversos acontecimentos “banais” que seu cérebro, talvez, acabasse apagando em algum momento para poder armazenar novas lembranças. O importante era que ele tinha ali. No passado e presente, sempre fora, e sempre seria, sua peça perdida.
E essa era a confirmação que faltava na sua vida.
– Eu te amo tanto. – Suspirou cansado, sentindo a voz falhar brevemente por conta do choro recente. – O seu amor me preenche. Não suportaria sentir sua falta novamente.
compreendeu que ele falava sobre os dois anos em que ela desapareceu, logo após a carta e a entrega dos pingentes. Com um sorriso terno, a garota afagou as costas do rapaz com carinho, tentando passar sua calmaria e todo seu amor por aquele simples toque.
– Enquanto estivermos juntos, vai ficar tudo bem, .
– Eu não quero me arrepender de nada. – disse buscando o olhar da moça, ao mesmo tempo em que suas mãos cobriram as dela em seu colo. – Melhor, eu não me arrependo de nada. Viveria tudo novamente se fosse para te ter ao meu lado no final.
– Assim você vai me deixar ainda mais apaixonada... – Ela disse rindo, tentando esconder as bochechas rosadas pela vergonha.
Como se uma lâmpada tivesse acendido sobre sua cabeça, se lembrou do porquê estivera tão ansioso para encontrar-se com .
, eu quero que você seja meu conforto todos os dias, de manhã até de noite. – Declarou sério, engolindo a saliva da boca ao tentar dissipar o nervosismo.
Seu contato visual não se quebrou.
– Eu sei que é difícil, principalmente porque estamos em cidades diferentes por enquanto, mas eu genuinamente amo você.
A garota sorriu, imaginando o que talvez estivesse aproximando-se.
...
Sem mais delongas, o rapaz enfiou uma das mãos dentro de um bolso no interior do casaco, tirando dali uma caixinha de veludo azul escuro.
– Não, eu ainda não estou te pedindo em casamento. – Ele riu, finalmente abrindo a caixinha. – Mas você quer começar a planejar o seu futuro ao meu lado e ser minha namorada?
Ela nem ao menos conseguiu responder por tamanha emoção, apenas concordou com a cabeça ao mesmo tempo que ficavam de pé e abraçavam-se. A aliança prata mais fina, que aparentemente seria a sua, tinha uma elevação com o formato de um quebra cabeça. A mais grossa, tinha um buraquinho no centro do mesmo molde, como se os anéis se encaixassem.
– Eu te amo, .


Fim.



Nota da autora: "Oioi gente! Como vocês estão?
Confesso que essa fic me deixou com o coração cheio de buraquinhos. Eu queria muito escrever o spin off de Puzzle Piece, e veio aí a oportunidade! Essa música é linda e eu amei participar desse ficstape. Um carinho mais que especial para a Gabee por ter organizado esse álbum cheio de músicas lindas.
Espero que tenham gostado da história! Um cheiro, migles!
~xoxo"



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