Finalizada em: 03/06/2020

Capítulo 1

Era mais uma manhã como qualquer outra, era um dia qualquer, numa semana qualquer. O apartamento estava da mesma forma que sempre estivera, a louça do jantar estava no escorredor, a cafeteira estava sob o balcão de mármore. Algo que nos custara muito empenho para adquiri-lo, mas ela não estava mais ali! Ela partira sem qualquer anúncio, sua partida não tinha qualquer explicação. Não havia um bilhete, uma carta ou até mesmo uma mensagem. Fora repentina e inesperada. Mas os detalhes de sua estadia ainda permaneciam; odiava isso, mas era impossível negar que esteve ali!
As fotografias espalhadas pelos cômodos, os móveis que ela brigou tanto para escolhê-los e seu perfume nos travesseiros que ela costumava usar. Não havia qualquer motivo que justificasse sua partida, mas ali estava a realidade! Dura, cruel e inegavelmente verdadeira, diante dos meus olhos havia o vazio que ela deixara.
A noite anterior havia sido a melhor de todas, fora uma noite sem igual ou comparação. Passara o dia anterior organizando, ajustando todos os detalhes para recebê-la em nossa casa; havia preparado o jantar e escolhido uma playlist que ela gostava. Tudo para fazer o pedido mais importante da minha vida.
No entanto, aquela noite parecerá uma outra realidade. A voz embargada de ao aceitar meu pedido e a sua partida apenas criava uma ferida tão grande e sem qualquer comparativo. Disquei novamente seu número para apenas receber a resposta da operadora de que ele não existia. Era impossível que isso realmente fosse verídico! Havia falado com ela pelo mesmo número na noite anterior, mas agora nada havia um pretexto condizente com a razão.
Ouvi o interfone tocar, mas não dei qualquer atenção a isso. Levantei-me do chão da sala cansado de encarar o retrato em minhas mãos. Me direcionei ao quarto não encontrando uma única peça de roupa de dentro do guarda-roupa, irritado, lancei minhas roupas para fora e revirei a cama tirando o lençol, cobertores deixando o ambiente numa confusão assim como estava dentro de mim. Ouvi passos se aproximarem e por alguns milésimos tive esperança de ser ela, seguindo em direção ao nosso quarto falando que não passara de uma brincadeira, mas assim que entrou e me olhou com pena soube que não havia o que pudesse fazer a respeito da minha situação.
Minha irmã se ajoelhou em minha frente, me abraçando com força, desde o momento em que me dera conta que havia sumido. não havia derramado uma única lágrima, saí pela cidade desesperado em busca dela, mas não a encontrei em seu trabalho, na casa de suas amigas, no aeroporto não havia qualquer vestígio que houvesse estado lá, muito menos na rodoviária ou em qualquer lugar da cidade. Seu número não existia e por alguns minutos quase tomei uma atitude que ceifaria minha vida, mas vazio e despedaçado retornei ao apartamento onde havia tantas provas da presença dela, mas não a encontrara ali.
A dormência me dominou até aquele instante em que envolveu seus braços ao meu redor. E sem qualquer vergonha ou pudor chorei feito um bebê nos braços da minha irmã. A abracei como se dependesse disto para permanecer lúcido, o vazio tragava-me a cada instante e parecia que sufocava quando na verdade era a dor da partida de , me tomando por completo. Não tenho certeza por quanto tempo permaneci naquela mesma posição com , mas soube que, independente de tudo, ela estava ali para o que precisava. Assim que as lágrimas secaram e a respiração normalizou-se ela me levou até a sala me deixando alguns minutos sozinho e quando retornou segurava uma mala e minhas chaves.
— Até que você esteja bem irá ficar onde posso ajudar a cuidar das suas feridas. – Ela falou num tom que revelava seu cuidado e seriedade.
— Ser mais velha por sete segundos não lhe dá o direito de mandar em mim. – Brinquei embora sentisse os olhos marejados.
— Eu não vou permitir você ficar aqui onde tudo lembra ela. Não vou deixar você se machucar mais... – Ela não precisou terminar de falar, assim que não encontrei liguei desesperado para ela e o meu quase incidente.
Sem qualquer objeção quanto as palavras dela, permaneci em silêncio e a segui para dentro do elevador após trancar o apartamento. Permaneci impassível quando, na verdade, minha mente me torturava com as lembranças dos momentos que tive com naquele espaço, eles eram agridoces porque sempre entravamos discutindo e terminávamos aos beijos e impacientes para que ele abrisse logo e pudéssemos desfrutar do êxtase que o movimento de nossos corpos produziam juntos. Arranquei a aliança de meu anelar e a lancei pelo estacionamento assim que percebi que permanecia com ela. Era um objeto vazio, com lembranças amargas.
guardou a mala no banco de trás antes de entrar no veículo e começar a conduzi-lo pelas ruas de Ybring, uma cidade que ficava a poucas milhas de distância de Londres. O outono logo daria lugar ao inverno e em seguida chegaria o natal e logo depois o aniversário dela. estacionou o carro em frente à sua casa, saindo do carro ela me obrigou a descer e pegou minha mala; não conseguia entender como ela me entendia, mas sem falar qualquer palavra me direcionou ao quarto de hóspedes no terceiro andar me deixando sozinho em seguida.
Não ouvia quaisquer resquícios dos gritos de meus sobrinhos. Ela deveria ter falado com Petrick antes de ir até mim. Sem qualquer ânimo, segui até o banheiro e coloquei apenas uma calça de moletom antes de deitar na cama com o meu celular em minhas mãos, meus dedos recusavam-se a parar de discar o número dela e minha mente não aceitava o ocorrido.
Abri a galeria e, em poucos segundos, estava chorando, no silêncio meus soluços pareciam ressoarem mais alto e a ausência dela intensificara-se. Não demorou muito para que retornasse e surgisse com um prato de comida, mas ela prontamente o deixou no criado-mudo antes de envolver-me em seus braços afagando meus cabelos enquanto derramava minha dor entre palavras balbuciadas envolvidas pelo gosto salgado das lágrimas e o amargor do que ocorrerá.
Aquele dia passei com a forte presença de minha irmã ao meu lado, boa parte do tempo permaneceu em silêncio, ela não questionou-me; não cobrou qualquer coisa apenas permaneceu ao meu lado obrigando-me a comer em todas as refeições, me confortou e permaneceu ali, pronta para o que quer que eu precisasse mas eu tinha conhecimento de que em algum momento teria de respondê-la mas como o faria se eu sequer possuísse respostas para as minhas perguntas.

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Haviam-se passado meses desde a partida de , havia vendido o apartamento e me focado mais em meu trabalho como delegado. Agora vivia em uma casa próxima de , visitava meus sobrinhos com mais frequência que minha irmã gostava, mas fora um ótimo período para curar ou tentar apaziguar o vazio em meu interior.
O pessoal do trabalho parou de perguntas por , mamãe me ajudara a buscar respostas e . Fora a minha base, passei semanas em sua casa até que conseguissem começar a falar sobre , mamãe logo chegou de Londres assim que soube do que havia acontecido e me ajudou a procurar por respostas, ela era uma mulher influente. ainda permanecia sendo a melhor advogada que o Reino Unido já havia visto e se ela quisesse encontrar respostas não havia quem conseguisse impedir. Papai estava envolvido com a empresa e não viera junto de dona , mas fiquei feliz com seu apoio através das chamadas e mensagens e algumas visitas à alguns amigos.
me entregara um envelope, sabia que, ao abrir, ele teria perguntas respondidas, mas reconhecia que iria somente me ferir ainda mais. Portanto, deixei ele guardado e busquei seguir em frente, afinal havia se passado 11 meses e suportei os dias mais longos e difíceis ao lado da minha família, lutei cada segundo para não abrir o envelope após ele ser entregue em minhas mãos, havia achado respostas em uma semana.
Ficou ao meu lado durante os 90 dias e retornou à Inglaterra após a venda do apartamento e a compra da minha nova casa. Mamãe sabia que precisava de um espaço, assim com , a nova casa era confortável e fora montada pelas duas, então sobrara tempo para focar em meu trabalho. No entanto, havia noites e mais noites que o sono recusava a aparecer e minha mente adorava torturar-me com lembranças e como um imã sempre acabava com o envelope em minhas mãos. A necessidade de respostas era tão grande quanto a autopreservação. E isso piorava em datas comemorativas, ou especiais.
Aquele dia estava de plantão, um crime estava tirando as minhas noites de sono. O pior não era a falta do sono, mas sim os assassinatos subindo em um grau que não conseguia acompanhar. Todas as vítimas eram homens, envolvidos com milícia, tráfico, prostituição. Era uma incógnita e havia vítimas comuns, mas elas eram uma distração. As mortes eram muito bem orquestradas, não havia vestígios, DNA do assassino e havíamos ficado de olhos nas vítimas recentes, mas eram mortes “limpas” embora a face de cada vítima esboçava o mais profundo terror.
Levantei-me e saí da minha sala cansado de analisar a REDE. Não havia qualquer ligação a não ser o fato de serem criminosos. Peguei um copo de café e segui para verificar o pessoal, eles estavam empenhados em resolver os casos mais simples e estava orgulhoso, pois a delegacia havia uma taxa de excelência em seus serviços em quase 100%, não éramos perfeitos, cometíamos erros a torto e a direita, mas éramos empenhados e com a turbulência que houvera na minha vida estava mais empenhado do que nunca em reduzir quase completamente a taxa de crimes por ali.
Após observar o pessoal voltei para a minha sala tentando ver o que estava deixando passar:
• Vestígios: 0%;
• DNA: 0%;
• Digitais: só o da vítima,
• Arma do crime: desconhecida;
• Causa da morte: asfixia;
• Perfil das vítimas: homens; em sua maioria ligados à criminalidade;
• Suspeitos: nenhum.

Ao me afastar, no entanto, observei que cada uma das vítimas foi deixada em uma posição diferente. E as expressões eram muito estranhas. Corri até Ferrys, o nosso garoto da informática, o que precisávamos, ele resolvia. O avistei perto da máquina de doces, sim policiais precisavam de açúcar, ele estava paquerando a tenente Johnson. Ferrys era quieto, mas ligeiro, ri da cena e me aproximei dando uns tapas em seu ombro antes de o arrastar para a mesa dele.
— Por que me tirou dali ? – Ferrys resmungou insatisfeito.
— Tenho um palpite sobre o caso do serial killer. – Digo, reprovando a atitude dele com meu olhar. — Preciso confirmar minha suspeita antes de dar mais detalhes. – O expliquei já que o mesmo me olhou curioso.
— O que precisa que eu faça? – Ferrys perguntou animado. Rabos de saia podia entretê-lo por um tempo, mas ele era movido pela adrenalina do seu trabalho.
— Selecione todas as fotos de cada vítima. – Orientei.
— E... – Questionou-me.
— Calma, moleque. – Rio um pouco antes de analisar as imagens. — Selecione a que enquadra as vítimas e as coloque em ordem, desde a primeira até a última.
Observei Ferrys trabalhar no que pedi, ele agia de forma assustadoramente empolgado, deveríamos cortar um pouco do açúcar do moleque, suas mãos eram ágeis e seus olhos estavam fixados na tela, havia um brilho divertido em seu olhar. Quando ele fora escalado para a delegacia, poucos botaram fé, por ser esguio e possuir poucos músculos, o pessoal não acreditou que ele integraria a equipe, mas o moleque tinha um olhar determinado e sabia que a central havia tomado uma ótima decisão ao escalá-lo. Desde que agregara o aparato eletrônico, se tornou muito útil, já que utilizávamos muito pouco, éramos antiquados; mas fazíamos um ótimo trabalho, mas com Ferrys a aparagem digital se tornou eficaz e a resolução foi melhorada, então, de um CDF da tecnologia, ele se tornou o nosso gênio. O moleque era esperto e parecia amar o que fazia, ele lembrava a minha empolgação ao entrar na polícia.
Ele organizou as fotos como o instrui, e seus olhos me questionavam, Ferrys queria entender a minha linha de raciocínio. Observei as fotos, mas parecia estar faltando alguma coisa. Tive um estalo.
— Tenta enquadrar as vítimas... – Orientei analisando. — Agora vai encaixando-as até tentarmos... – Ferrys entendeu a minha linha de raciocínio e ao fim terminou em uma mensagem.
— Filho da mãe! – Praguejou me olhando de forma inquisitiva.
“Demorou para conseguir entender, não é mesmo?”
Olhei irritado a tela do monitor, ordenei que Ferrys encontrasse um padrão na face das vítimas revelando outra mensagem do doente, cerrei meus pulsos e então me levantei.
“Tente me encontrar, 13:97:07:11:17:61:59:89:83:71:02:03:73:79:19:05:29:31:37:41:43...”
— O que esse... – Respirei fundo antes de passar as mãos pelos meus cabelos, as posições formavam letras e números. Estávamos lidando com um psicopata. — Fale com Anabeth e Elize. – Digo antes de me afastar. Tentaria jogar as combinações em latitude e longitude para verificar se encontrava algum lugar.
Segui para minha sala e, em menos de cinco minutos. Ferrys apareceu com Ana e Lize, eles formariam o trio analítico, eles sempre cuidavam da análise, psicologia e criminalista. Tinha um trio perfeito. Sem mais delongas, repassei o que havia achado com a ajuda de Ferrys e, então, deleguei funções, Lize possuía doutorado no âmbito da psicologia, ela conseguia montar perfeitamente um quadro da mente de um assassino e sempre era ela que cuidava de interrogatórios. Ana era quem encontrava vestígios que haviam passado despercebidos e cuidava da análise toxicológica, ela possuía mestrado em psicologia, era PHD em química e possuía uma visão diferenciada. Ferrys era o nosso gênio, ele sempre encontrava uma rota a qual os criminosos pegavam, ele analisava muito mais que as câmeras porque em muitas ocasiões eles a evitavam, mas ele enxergava reflexos, vidraças, não havia algo que ele não pudesse encontrar. Passei a ele os números para ne auxiliar na caça das latitudes e longitudes. Assim que os dispensei vi todos caminharem discutindo possibilidades e, então, tive a certeza que encontraria o filho da mãe que estava matando sem discrição.

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Em uma semana havíamos avançado mais que em um mês. Ana e Lize montavam um quebra-cabeça que nem havia notado, Ferrys havia me entregado as localização, mas todas elas indicavam localidades muito distantes, mas possuíam ligação direta com as origens de cada uma, frustrado por meu palpite ter dado apenas nisso, digitei os números em ordem numérica e descobri algo que não havia cogitado.
Chamei Ferrys imediatamente à minha sala, a delegacia estava um caos com a aproximação do feriado, estávamos próximo ao dia de São Valentim, infelizmente havia uma grande taxa de mortes, acusações, violência contra as mulheres nessa data. Sempre encontrávamos os idiotas que ousavam tocar nas mulheres dessa forma. Passávamos essa data em alerta com patrulhamento redobrado e com policiais disfarçados em bares, boates, em todos os locais da cidade. As câmeras de vigilância eram muito bem monitoradas e não permitíamos que mulher alguma sofresse nas mãos de otários.
Só de imaginar que um idiota, porque homens não eram, ousavam maltratar à coisa mais preciosa que existiu na Terra, as mulheres eram seres incríveis, batalhadoras, zelosas, amorosas e não havia nada que elas não podiam fazer! O nosso time policial era composto por boa parte delas e não havia nada que o pessoal masculino não desse oportunidade para que elas tomassem iniciativa. Havia reorganizado tudo assim que havia assumido à frente da delegacia, havia sido criado por uma mulher incrível, forte, determinada que enfrentava magnatas, criminosos e os faziam ir direto para seu devido lugar: a prisão!
Portanto, ver as mulheres sendo menosprezadas só pelo fato de um estereótipo que as acusavam de serem o sexo frágil, me indignava. Com o tempo, fiz os marmanjos aceitarem isso e vê-las sendo reconhecidas dentro das dependências e pelos outros policias externos as dependências me dava satisfação.
Ferrys adentrou minha sala pouco tempo depois de o chamar, seu olhar mostrava-se curioso.
— Posso não ser um gênio feito vocês. – Digo com certo humor. — Mas olha isso.
Mostrei o monitor indicando o que havia encontrado, havia algo muito mais profundo na mensagem do S.K. Havíamos o nomeado dessa forma para adiantar as informações.
— Números primos? – Ele questionou-me confuso.
— Veja, há uma parte dos números, e não todos, que foram deixados naquela mensagem e, se analisar a ordem das latitudes, vai bater com a ordem das palavras gravadas, ou seja, o número de vítimas ainda está para aumentar. E se... – Parei um momento digitando rapidamente.
— Superior, essencial e primeiro. – Ferrys leu as definições da palavra.
— Não lhe parece familiar? – Digo vendo-o aos poucos acompanhar meu raciocínio.
— O desgraçado está brincando de caça ao tesouro. – Ferrys soltou furioso.
— Pense um pouco mais, moleque. – Soltei.
— Não! Impossível! – Seus olhos me diziam que enfim havia compreendido.
— Estamos comprometidos. Temos que dar andamento bem longe daqui. E há um corpo encoberto só não o encontramos ainda. – Digo de forma clara. — Não fale nada a Lize ou a Ana. Tenho que ver isso por mim mesmo.
— Mas... – O interrompi, se minha suspeita estivesse correta, S.K estava muito mais próximo do que imaginávamos e, até que eu o encontrasse, manteria parte das informações comigo. Pegaria o que havia pressuposto e montaria a operação. Ferrys não parecia muito satisfeito.
— Eu não vou arriscar a vida de ninguém, você sabe que quanto mais eu me aproximar o alvo será só eu. E bem não há nada melhor do que vê-lo face a face. – Falo bem humorado.
— Você não muda, . – Ferrys riu desacreditado. — O que vai fazer agora?
– Perguntou-me.
— Proteger as pessoas, o que faço com maestria. – Sorriso em meio ao que falava antes de pegar minha jaqueta e sair dali.


Capítulo 2

Segui direto para o bar mais distante naquela cidade, frequentava com certa frequência o local, era um ótimo lugar para espairecer e um belo lugar para conseguir informações. Sem delongas saí do jipe e segui pelo cascalho até a entrada do bar, saudei Burnet e Bogges, os irmãos do dono, eles eram “seguranças”, e então avistei a última pessoa que veria e desejava ver, ela estava sentada no canto mais distante, próxima a saída dos fundos onde meus “amigos” gostavam de se esconder quando chegava. Minha fama por ali era boa, mas respeitava Gregor; as primeiras semanas após o sumiço de passei ali, saía carregado todas as manhãs, as vezes dormia por ali mesmo. ficava furiosa, conhecia Gregor da delegacia, ele era aposentado e assumiu o bar alguns anos antes da aposentadoria e me ajudava com algumas informações aqui e ali. Não espantava a clientela dele, mas não deixava escapar o criminoso da vez.
Respirei fundo umas 15 vezes antes de seguir até o balcão pedindo uma garrafa de rum. Gregor me olhou com o cenho franzido. Dei um sorriso amarelado, assim que ele a colocou na minha frente tomei umas boas doses direto do gargalo antes de me sentar em frente à mulher que havia me destruído. Seus olhos cinzentos, aqueles que eu adorava me perder, me questionaram.
— Eu não estou com cabeça para falar com você, . – Ela falou de forma categórica.
Ri sem um pingo de humor, a vi se irritar com minha atitude torcendo seu nariz de forma que achava adorável.
— Você sumiu sem me dizer uma única palavra! – A acusei sem piedade. — Você não tá com cabeça para falar comigo? – Desdenhei. — Eu te dei a porra de um anel de casamento para no dia seguinte sumir sem falar uma única palavra! Você tem ideia de como me senti? – Mantive o tom frio. — Passei semanas me culpando por algo que não tive culpa alguma. Passei semanas atrás de você até que desisti... – Passei as mãos pelo cabelo frustrado.
me encarou com o olhar perdido, a fragilidade dela me fazia quere tomá-las em meus braços e confortá-la independente do que sentia. E pensar que um ano atrás, na mesma data, estávamos o dois no Havaí curtindo as nossas férias. Me contive, esperando uma reação diante as palavras que pronunciei, mas ela permaneceu em silêncio, sem expressar nenhuma reação! Seus olhos eram expressivos e não havia nada que não pudessem falar, mas naquele instante mostrava apenas dor e isso tirou-me o fôlego. A amava. Não poderia mentir, a amava independente do que fizera comigo, a amava que chegava doer. Segurei sua mão e fiz um carinho com o polegar, como costumava fazer antes do que ela fizera.
— Fale qualquer coisa ...– Sussurrei demonstrando que não era a única abalada. — Preciso me certificar que não é uma alucinação ou um sonho.
... – Ela falou num tom receoso, contida, mas apenas ao falar meu nome fora o suficiente.
— Me diga aqui, agora, que tudo o que tivemos, o que vivemos juntos... Foram mentiras e então partirei sem uma palavra. – Digo de forma firme e embora me machucasse falar aquilo tinha que colocar um ponto final. Não havia propósito em lutar sozinho.
permaneceu em silêncio, seus olhos... Aqueles malditos olhos que tiravam-me o fôlego, o controle. Mas não podia ceder, não poderia mentir para mim mesmo, não mais.
— Vem, eu te deixo em um local mais seguro. – Me levantei e vi ela repetir meus movimentos, deixei pago o que consumi e a acompanhei em silêncio até o jipe. Ela sorriu de forma triste, seus olhos me pediam desculpas, não entendi. Antes que eu pudesse me aproximar senti uma pancada forte em minha cabeça e a última coisa que eu vi foi ela.

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Despertei sentindo meus membros pesados, não conseguia me mexer e abrir as pálpebras estava sendo uma luta, nunca havia sentido isso. Cansado, mas confuso, tentei me movimentar, qualquer músculo, mas parecia em vão. O ocorrido vinha aos poucos tomando forma em minha mente, o sentimento de traição deixou um amargor em minha boca e uma dor dilacerante em meu coração. Era difícil de acreditar, até improvável, mas sabia que minha vida estava correndo perigo, mas isso não me assustou, não me incomodou o fato de sentir uma lâmina sendo pressionada contra a minha jugular, ou ainda a voz de Ferrys Johnson sendo ouvida no ambiente.
Nada disso teve importância devido à traição de . Abri os olhos e vi que estava sentado, amarrado por correntes em um pilar de ferro. Estávamos numa fábrica abandonada, pelo pouco que conseguia enxergar, identifiquei que fora uma tecelagem. Ergui meus olhos analisando que estava próximo ao teto, portanto deveria estar no segundo andar, havia uma poça de sangue ao meu lado deduzi que fosse meu já que sentia minha cabeça latejar. Um pouco mais para o lado tinha a visão do primeiro andar há muitos metros abaixo de onde estava.
Parecia um laboratório completo, milhares de aparatos e mais ao fundo uma banheira, havia lido sobre isso enquanto investigava, não era tolo de lidar com um serial killer sem antes ter me preparado ao entrar para a polícia. Fora a minha base, embora não revelasse, trabalhava quase exclusivamente com isso, havia viajado o Reino Unido inteiro resolvendo esse tipo de caso ajudando os profissionais para então me sentir apto a assumir a delegacia. Não poderia deixar que pessoas ceifassem vidas por diversão ou qualquer outro motivo. Avistei Anabeth e Elize ao canto trabalhando com alguns líquidos, mas eu podia sentir a presença de alguém e pela voz que ouvi alguns minutos atrás eu sabia quem era.
— Você só está aqui porque falou demais, .
Ferrys Johnson se pronunciou saindo das sombras e parando bem a minha frente. Sua expressão estava límpida e seus olhos o entregavam embora nunca acreditaria no olhar de um assassino. Seu tom era livre de emoções assim como seu ser.
— Ter usado foi uma ótima armadilha, mas já tinha você em primeiro lugar como suspeito. Acha mesmo que o coloquei na equipe por acaso? – Digo mantendo meu olhar firme no dele. — Vamos, moleque... Você sabe a resposta.
A verdade era que investigava a vida de Ferrys Johnson havia um tempo, suas recomendações eram suspeitas; suas atitudes me levaram a ter ele sempre em meu campo de visão e, quando o caos se instaurou, foi um pouco depois de sua chegada, as localidades estavam ligadas a cada vítima em cada cidade. Não era burro. Estava bem longe disso! Mantive uma fachada de um chefe gente boa, burro, mas nem tanto para manter as ajudantes dele tranquilas. Os relatórios passavam pelas mãos de Elize e Anabeth e Ferrys realizava parte das investigações.
Foi difícil juntar provas e escondê-las. Os três eram uma anormalidade, geralmente um serial killer agia sozinho, mas bastava pesquisar mais fundo e ir em busca de documentos impressos já que como gênio da tecnologia Johnson, apagou o registro de qualquer coisa relacionado aos três para seguirem com as atuais identidades. Fora duro seguir o rastro até a fonte. Os três eram irmãos, órfãos, mas muito ligados.
— Então você sabe. – Johnson se abaixou em minha frente.
— Achou que um pudesse ser burro?! – Rio em divertimento mesmo em tal condição. — se ofenderia caso visse sua surpresa.
é uma mulher surpreendente. – Ele completou. — Há quanto tempo? – Questionou-me.
— Há muito tempo na verdade. Usar só serviu para dar sua sentença final. – Digo de forma clara.
— Que chato você ter que sair de cena . – Comentou com falso fingimento.
— Você sabe que não vou sair tão cedo. – Sorrio de forma irônica. — Para um assassino você está se saindo um prefeito amador. – Digo fingindo falsa decepção.
Vi raiva brilhar no olhar dele antes de sentir seu soco em meu maxilar, cuspi o sangue e arqueei uma sobrancelha em divertimento como se o perguntasse: “Isso é tudo o que consegue moleque?!”. O que serviu de incentivo para colocar a faca novamente em meu pescoço assim como enquanto desmaiado. Olhei para baixo vendo que se tratava de uma adaga, com cabo todo desenhado.
— Coleciona armas como cadáveres? – Sugeri de forma irônica.
— O seu não terei o prazer de colocar nos jornais. Seria um feito e tanto, mas você sabe que seu nome seria um acréscimo, mas ainda preciso parecer um CDF do DP. – Ferrys deslizou a lâmina pela minha garganta causando um ferimento superficial.
Controlei-me, não iria lhe dar a satisfação em demonstrar o que sentia, enquanto isso, ele se ocupava em talhar sua assinatura. Enquanto ele fazia isso sentia ficar dormente como se houvesse alguma substância na lâmina. Então ele levantou-se para analisar o que havia feito. Controlo o olhar de nojo diante da satisfação que Ferrys exibia. Ocupei-me em tentar avaliar o que sentia para tirar conclusão e então agir. Ferrys estava me olhando por tempo demais, em busca de algo?! Não tinha ideia, mas sabia que tudo o que provinha dele não era algo bom.
Embora a situação não fosse propícia, sorri divertidamente. Quem diria que estaria naquela situação, traído, mas não surpreso. Havia perdido , parecia estar anestesiado pela partida dela, mas reencontrá-la fora o estopim de uma bomba relógio!
Desloquei o pulso afrouxando o que me atava e com um estralo coloquei ele no lugar soltando em seguida minha outra mão. Mantive com o corpo quase imóvel, vendo que Ferrys esperava uma reação minha, o truque de deslocar o pulso havia aprendido com Gregor. Agradeceria a ele por isso e muito mais.
Me joguei em direção a Ferrys com um olhar mortal, deixaria ele em pedaços. Não admitiria que ele continuasse com toda essa palhaçada, mas claro que ele enfiou a faca em meu estômago. Retirei ela, soltando um resmungo e logo fui atingido por socos, e então seguiu o embate. Ele vinha em minha direção com um sorriso sádico enquanto havia um olhar doentio e eu procurava sobreviver e encontrar .
Detestava sentir-me assim, mas eu poderia negar um milhão de vezes que não sentia mais nada relacionado aquela mulher, no entanto estaria errado. Ela era o ar que eu respirava. A cor no meu mundo acinzentado, a calmaria da manhã tempestade e iria até o fim, mas meu corpo paralisou ao ouvir meu nome ser pronunciado de forma lenta, porém suplicante. Havia sido ela, me virei e fui acertado por Ferrys ao mesmo tempo que via ser carregada até a banheira. Logo entendi o que pretendiam fazer com ela!
Me levantei e empurrei Ferrys da plataforma nos jogando, usei o corpo dele como amortecedor, obviamente senti dores excruciantes percorrer meu corpo, mas a adrenalina me movia, vi o olhar de Ana e Lize furiosas, sorri ironicamente antes de arremessar-me na direção de Ana, ela estava prestes a enfiar uma agulha na jugular de e isso eu não permitiria. Estava agindo no automático, pouco me importando se era uma colega de trabalho. Meu foco estava em que os três eram criminosos e estavam prontos a assassinar a mulher da minha vida. Após incapacitá-la com a agulha que ela mesma ia usar em , notei que minha garota havia dado um jeito em Elise. Sobrara lidar com Ferrys que se levantava, não sabia como havia resistido a queda, com um olhar mortal.
Respirei fundo e peguei a primeira coisa que vi e empurrei para atrás de mim. Absorvi o impacto da barra de ferro contra meu tronco e enfiei uma agulha no pescoço de Ferrys, aproveitando a momentânea distração dele, e o empurrei contra uma pilastra enquanto gritava para localizar qualquer meio de comunicação para solicitar o meu batalhão. E sem piedade, o joguei contra as paredes até ver sangue escorrer por sua face, chutei o abdômen dele, e o apaguei com o revólver que encontrei.
Procurei com o olhar a vendo com um aparelho em seu ouvido segurando uma arma apontando-a para as duas figuras femininas que estavam desacordadas. Sorri, ela era de fato a minha garota. Caminhei com dificuldades até alcançá-la. Segurei sua face e a beijei com toda a intensidade que percorria meu corpo.
, você está sangrando! – falou desesperada enquanto rasgava minha camisa, ela tocou meu abdômen tentando verificar os danos e eu sabia que estavam completamente ferrado. Não era burro, sentia dores por todo o meu corpo e Ferrys não permitiria que eu saísse vivo.
— Eu ainda a amo. – Soltei afagando sua face e pegando a arma dela e atirando em Ana que se arrastava lentamente até a faca que o irmão havia deixado cair. Ouvi em seguida o grito de Elise, ambas estavam acordadas e, antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, todo o meu DP surgiu e se espalharam seguindo o protocolo. — Tem um envelope no meu apartamento, peça a levá-lo até você. – Sussurrei antes de desmaiar, ouvindo-a chamar meu nome em prantos, quem diria que minha garota ainda me amava da mesma forma que eu a amava.


Capítulo 3

. — Sim, meritíssimo. – Me levantei da cadeira em que estava sentada.
O tribunal estava lotado, parecia que todos os amigos de estavam ali. Era possível ver , ela me olhava de forma analítica, possuía uma face indiferente tendo, ao seu lado, seu marido, e envolta deles estavam as mais diversas fardas, desde policiais do condado, como do país. Até Gregor estava com seu uniforme que ele havia aposentado. era um homem valoroso, e muito querido por seus amigos de trabalho. Ele passara boa parte da sua vida ao lado deles, havia aprendido e desenvolvido seu trabalho até que assumiu o cargo de delegado da cidade. Fora difícil encarar todos ali presentes. Nenhum deles tinha qualquer ideia do motivo de eu ter deixado-o. Eram questões complicadas, mas havia chegado a hora de enfrentar a justiça. Elise havia sido julgada e condenada à prisão perpétua na sessão anterior; ela preferia a morte, mas fora por isso que os colegas de lutaram pela perpétua. Ela deveria sofrer pelas mortes que seus irmãos e ela cometeram. Fora descoberto muito mais vítimas dos três irmãos. Se inserir na polícia os haviam safado da punição, mas a justiça tarda porém, de modo algum falha e a prova disso era que seus dois irmãos estavam mortos.
— Você jura perante a lei, falar a verdade e somente a verdade? – O promotor falou o juramento antes que se prosseguisse a sessão
— Eu juro. – Afirmei me sentando em seguida no assento de frente para todos.
O advogado de acusação então iniciou suas acusações, em parte ele estava correto, mas não era culpada por nenhum crime que o trio de irmãos haviam cometidos; estava ali por causa de ter sido obrigada a levar algumas vítimas até eles. Respirei fundo ouvindo calmamente cada uma das acusações e então foi me dado a palavra.
— Eu entendo cada uma das questões levantadas, mas como você mesmo salientou: só há suposições ao meu envolvimento. – Falei em um tom significativo. — Ferrys, Ana e Elise me obrigaram usando o meu filho e minha mãe. – Soltei a sentença vendo os olhos de e seu marido expressarem sua surpresa. – Eu sei que todos os presentes nesta sala desconfiam das minhas palavras, mas, meritíssimo, não cometeria o crime de perjúrio diante das autoridades. Sou tão vítima quantos as almas ceifadas pelos três irmãos. Elise admitiu que me ameaçaram e que, segundo a lei, estou sob jurisdição de vítima e não criminosa. E há provas sobre o que estou falando. – Meu advogado entregou o envelope que havia dado à . Ela sorriu para mim e olhou para ela confusa.
O envelope continha fotos comprovando que estava sobre ameaça, havia cartas, bilhetes que recebia de Ferrys enquanto estava . Aquele dia tive de partir pois ele me enviou a foto de minha mãe morta e meu filho com uma faca e atrás da fotografia estava os dizeres:
“Sua mãe já é um ponto ao final de uma história, mas creio que não irá apreciar mais uma alma em tuas mãos. ”
Havia tantas fotos de momentos íntimos com , os irmãos monitoravam cada passo que eu dava. No entanto, não podia abandonar meu filho. sabia agora sobre ele, mas eu o escondi até estar preparada para o apresentar à toda família. Meu pequeno era fruto de um deslize da minha juventude e, para poupá-lo das questões que sua deficiência implicava, preferi cuidar dele em casa, trabalhava como designer de interiores e fazer home office sempre me rendia tempo ao lado do meu pequenino. era meu maior tesouro e escolher entre e foi a escolha mais difícil que havia feito. Todas as cartas, dados laborais, bilhetes, mensagens, fotografias comprovavam a minha inocência. Agradeceria mais tarde.
Após o episódio da fábrica, estava internado e até aquele presente momento não tinha qualquer notícia dele; meu filho estava sob os cuidados de que, após eu ser levada até uma cela, ela conseguiu com um amigo a guarda temporária do meu filho já que ele necessitava de cuidados especiais e não podia ficar simplesmente num orfanato.
Após alguns debates entre o meu advogado e promotor de justiça, algumas testemunhas e outras provas circunstâncias, fui absolvida pelo júri. Enfrentar cada um dos presentes, mas à mim mesmo fora uma tarefa que roubara cada uma das minhas energias e tudo o que rondava os meus pensamentos se dividia em duas pessoas: e . A falta de notícias de até agora havia tirado o meu sono. A cela fria temporária que ocupei não era absolutamente nada pelo que havia enfrentado em minha mente.
Admitia covardemente que cedi à Ferrys por medo, não queria que acabasse morto e bem... Não sabia seu real estado. Tudo o que não queria acabou por acontecendo diante dos meus olhos. Ter passado dias sob o mesmo teto que aqueles três, ouvindo e recebendo ameaças, ter sido forçada... Eram fatos que aprenderia a lidar com sessões de terapia. Caminhei para fora do tribunal após agradecer ao meu advogado; respirei fundo e apertei o número um e ouvi então a voz de meu menino.
A alegria dele em me contar o que havia visto e feito preencheu-me de alegria e satisfação. Nada valia mais que o som da risada e a respiração dele. Era algo muito importante, ao fim enfrentaria tudo de volta somente para garantir que ele permanecesse vivo. No entanto, escutei uma voz masculina que perguntava a o que ele queria comer. Meu coração errou a batida, paralisei.
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Fora extremamente difícil suportar as longas cirurgias, mas a ausência de era ainda pior. Sabia que ela estava detida enquanto seguisse o julgamento, mas não ver sua face quando despertei após a primeira cirurgia, depois do episódio Ferrys, fora quase pior do que senti quando ela me deixou sem uma palavra.
Fiz toda a bateria de exames, procedimentos e tudo o que comprovasse que estava apto a deixar o hospital, exigências, claro de Dona . Ela não ia aceitar apenas o diagnóstico de um médico e por isso me forçou a ficar por mais uns dias no hospital para que enfim pudesse sair de lá. Quando despertei após a fatídica noite, encontrei dormindo na poltrona e minha mãe vigiando o monitor que mostrava meus batimentos cardíacos. Ela parecia uma coruja séria, atenta e preocupada. Quando ela viu que estava acordado, a primeira coisa que ouvi foi o som de suas mãos estalando contra os meus braços enquanto me dava uma bronca. Ela era uma figura única! A amava demais e entendia o porquê do exagero. Mamãe era um “pouquinho” tendenciosa e, como estava sempre em situações “seguras”, acabava a assustando mais do que seu coração suportava. Palavras dela, claro!
Estava já fazia um tempo cuidando de Daniel, o caçula de , os gêmeos Luke e Vincent, e , o qual descobri ser o filho de após tomar coragem e enfrentar o envelope que me deixara. O menino não tinha mais que oito anos, mas sofria com suas limitações, pelo o que eu entendi, ele tinha uma doença rara a qual minha mãe não ousou me contar, por isso ele não se enturmava com os pestinhas de ; muito pelo contrário, permanecia quieto em seu próprio mundo enquanto desenhava.
E o moleque tinha jeito para isso. Era impressionante que mesmo que não conseguisse correr e ficava cansado quando se mexia em excesso, ele não se abatia e sempre tinha palavras e frases divertidas, ele me contara que havia contratado professores para ajudá-lo a melhorar no desenvolvimento de sua educação e da pintura. Ele também me contou que sempre estava com ele e a avó, que ela dizia a ele o quanto o amava sempre que podia e que ela era a sua rainha e heroína. Era incrível ver que havia essa parte dela que não conhecia, agora fazia sentido suas ausências e visitas frequentes a sua mãe. Tudo para ficar com o filho, mas a questão era: por que ela não me contou sobre ? Eram uma dúvida que não conseguia compreender, sempre fui muito receptivo sobre tudo relacionado a . Eu a amava mais do que minha própria vida e nunca dei motivos para que escondesse tal fato.
Fui até os gêmeos e os levei para a sala, estavam quietos no quarto e os encontrei fazendo as artimanhas, me mataria mais tarde, mas aqueles dois eram impossíveis! Voltei para a cozinha verificar , após deixar os gêmeos e Dani assistindo desenhos animados, estava sob a banqueta desenhando o que parecia ser uma paisagem, não entendia muito sobre arte, portanto não incomodava o menino.
Vi ele atender um telefone, estranhei porque ele era muito novo para ter um, mas dadas as circunstâncias compreendia o motivo. O observei falar animado com a pessoa que estava do outro lado da linha, por alguns minutos notei que devia ser extraordinário passar cada momento ao lado dele. Sua simplicidade e felicidade natural ganhava qualquer um. Não importava a ocasião, ele estava sempre com um sorriso no rosto. Deixando meus pensamentos de lado me ocupei em fazer algo para todos comerem, dado a hora os pestinhas deveriam estar roendo a mesa de centro da sala.
— O Da Vinci o que vai querer para comer? – Indaguei de bom humor. Vi terminar de falar algo para a pessoa do outro lado da linha e então uma careta se formou em sua face enquanto ele afastava o telefone.
— Mamãe quer falar com você tio . – falou me estendendo o aparelho.
Olhei confuso para o objeto em minhas mãos, não era o fato de que queria falar comigo, mas a naturalidade que me chamara de tio. Com toda certeza a mulher do outro lado da linha havia escutado perfeitamente seu filho pronunciar tais palavras. Com um tímido sorriso em meus lábios me pronunciei.
— Sim?!
— Sim? Essa é a única coisa que você sabe falar? – rebateu irritada.
— Calma, mulher! – Ri achando graça da irritação dela. — Estou cuidando das crianças enquanto os pais estão fora. – Comentei brincalhão.
— Não é disso que estou me referindo. – Ela soltou de forma zangada. — Você quase... – A voz dela falhou.
— Hey, . Agora está tudo bem, ok? – Sorri enquanto via sorrir enquanto desenhava. — Sei que tudo ficará bem, mas por agora só venha para casa, sim?! – A respondi de forma afetuosa.
— Mas, ... – A interrompi.
— Você vai vir com minha mãe e, então, conversamos. – Finalizei a sentença com insistência, não a deixaria fugir. Não mais!
— Ok. Te encontro em alguns minutos. – Então ela finalizou a chamada.
Me aproximei da bancada, me sentando de frente para o garoto, mas antes que eu pudesse falar com ele, três crianças invadiram a cozinha reclamando de fome, acabei rindo e fui preparar algo para todos, afinal saco vazio não para em pé.

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Observei acariciar a face de enquanto ele permanecia com a respiração calma, ele havia adormecido após passar alguns minutos na presença da mãe, era lindo a relação deles, porém sabia que ela estava adiando nossa conversa o máximo que poderia. Era visível seu receio embora seus olhos sempre voltavam para mim. Sorri de modo a tranquilizá-la e então a vi tomar fôlego antes de falar.
— Eu tive medo.
— Eu sei. Porém não concordo com o modo que preferiu agir. – Mantive o tom baixo por causa de . — Eu sempre lhe dei todo o espaço que precisava por isso não entendi o porquê de esconder uma parte importante da sua vida.
é especial.... Eu não queria dar esperança a ele e não poderia deixar ele se ferir. – O tom de resignação era evidente em sua voz. — Eu sei que tem todo o direito de se sentir assim, mas é o meu tesouro. Minha mãe cuidava dele em tempo integral enquanto dava duro para conseguir pagar o tratamento dele, mas eu... – Sua voz falhou. Senti a necessidade de ir até ela, mas me contive, teria de deixá-la falar tudo o que havia me escondido. — Você sabe a história por trás de Ferrys, mas a verdade é que passaria por cada episódio novamente somente para garantir que ele estivesse assim, vivo! – possuía uma força e determinação que sempre me deixava impressionado. Era um dos motivos que me fazia amá-la a cada dia mais.
— Eu sei que há muita coisa a respeito de sua vida que desconheço, mas caramba! Passamos por muita coisa juntos, eu lhe pedi em casamento! – Comentei exasperado, mas ainda em tom baixo devido ao . — Quando pretendia me contar sobre ele?
— Eu não sei. – Ela abaixou a cabeça e soltou o ar. — Estive tão acostumada em manter tudo para mim mesma que compartilhar informações é algo que terei de aprender, mas entenda, foi fruto de um romance passageiro. Nunca mais encontrei o pai dele e fora bem antes de o conhecer.
— É difícil tentar ao menos dividir suas preocupações? – Soltei frustrado. — Fico me perguntando quantas vezes teve de ser forte enquanto esteva prestes a desmoronar... , você sabe o que eu sinto, mas por agora descanse. Deve ter sido difícil as noites em que teve passar longe dele, vou deixá-la e amanhã resolvemos isso, pois se passarmos disto, vai acordar o garoto. – Me afastei e segui em direção a porta, antes que eu pudesse tocar a maçaneta, senti os braços dela envolverem meu tronco.
— Eu estou tão cansada, ... — sussurrou enquanto soluçava. — Me acostumei a lidar com tudo sozinha. Mamãe foi morta por aqueles doentes, tem o que não vai viver o suficiente por causa da maldita doença. – dizia tudo entre os soluços, me virei e a aconcheguei em meu peito. — Eu não posso perder você também... Quando caiu em meus braços após dizer que me amava, me senti a pior pessoa por ter feito você sofrer sendo que nunca o deixei de te amar... – Ela tomou fôlego enquanto eu permanecia afagando seu cabelo em silêncio, deixando que ela se abrisse. — Eu tenho medo de tantas coisas .
Ergui a face de olhando de forma carinhosa para ela. Sequei a face molhada dele e então a beijei de modo cálido, sem pressa. Apenas desfrutando a presença dela e buscando demonstrar que tudo estava bem agora. Eu a amava, era um fato inegável! tomava cada centímetro do meu ser e não havia qualquer outra mulher que pudesse a substituir por isso fora tão difícil seguir em frente sem ela! A ergui colocando-a sob a cômoda e a abracei aconchegando-a em meus braços.
— Você nunca vai me perder, porque me tem por inteiro. – Falei em seu ouvido sentindo-a relaxar em meus braços.
— Passa essa noite ao meu lado? – Ela sussurrou.
— O que eu puder fazer para te fazer sorrir. – Falei categoricamente.
— Estou cansada, vamos deitar. – Ela ergueu sua face enquanto sorria de modo cálido, porém dava para ver o quanto fora importante nossa “conversa”.
— O que não pedes que eu não o faça? – Brinquei arrancando um risinho dela que fizera valer minha noite.
A peguei em meu colo nos levando em direção ao colchão que estava ao lado da cama , na qual estava adormecido. A coloquei delicadamente sobre o colchão e me deitei ao seu lado após arrumar os cobertores em . O menino era especial e havia me fisgado. Queria cuidar dele e dar todo o amor que sentia por só que em dobro. Bati levemente sob meu abdômen indicando a ela para se pousar sua cabeça ali e, sem precisar falar, ela se ajeitou e então tudo pareceu certo. Era como o ditado: após a tempestade sempre vem a calmaria. Ela era o meu porto seguro, minha casa.
— Você ainda quer casar comigo? – Ela perguntou receosa.
— Mulher eu já te disse mais de uma vez que a amo. Será que casar com você não seria a minha realização? – A provoquei.
— É sério, ! Não é hora para brincadeiras! – resmungou brava.
— É claro que sim, ! – A respondi beijando o topo de seu cabelo já que ela estava com a cabeça em meu peito.
— Vamos remarcar a data amanhã. – Ela sussurrou erguendo sua face para que nossos olhares se encontrassem.
— Tudo o que você quiser, meu anjo. – A beijei sem demora, sentindo as mesmas sensações me tomarem assim como a primeira vez que a beijei. — Eu te amo, .
— Eu te amo, , só para ressaltar ainda não oficializamos para incluir o seu sobrenome. – Ela respondeu-me de modo a me provocar.
— Vamos dormir, senhora . – Acabei rindo após ela rolar os olhos e me dar um beijo antes de se ajeitar numa posição confortável.
— Boa noite, senhor . E eu te amo, bobo – Ouvi dizer antes que adormecesse.
A abracei e sorri feliz, o futuro não parecia mais ser tão ruim quanto alguns dias atrás. Eu teria a mulher da minha vida novamente e um bônus, seria pai sem precisar ter um filho, pois cuidaria com todo o amor do mundo de . Com isso em mente, adormeci sem demora embarcando num sono sem sonhos.




Fim.



Nota da autora: Espero que tenham gostado do rumo que Without a Word tomou, foi uma história que criei com muito carinho e atenção, ela me tirou noites de sono para desenvolver e deixá-la num resultado que eu gostasse.
Quero agradecer a minha irmã que sempre me incentiva, ouve todas as minhas inseguranças, e me ajuda com ideias e críticas para desenvolver melhor toda a narrativa.
Quero agradecer a Thay, a organizadora desse ficstape e que me ajudou, foi paciente.
Espero que tenham gostado de Without a Word, aproveita a caixa de comentários e deixem o que acharam.
Até a próxima Karoline Pereira.


Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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