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Prólogo

Em meu país, Werran, assim que um bebê nasce ele recebe um cartão onde são encontradas apenas duas informações além de seu nome: sua futura profissão e a idade que terá quando encontrar o amor de sua vida e já estiver em um relacionamento com ele.
A falta de livre arbítrio para a profissão se dá pelo fato de nossa população ter crescido demais e grande parte dela ter migrado para algumas poucas profissões, o que gerou um acúmulo de profissionais em determinadas áreas e falta de ofertas de emprego. Nosso governo decidiu atribuir aos recém-nascidos uma profissão que deveriam seguir pelo resto de suas vidas a partir do momento em que completassem 17 anos.
A idade para conhecer o amor de sua vida era praticamente um bônus, uma previsão extra dada por um de nossos oráculos para aqueles que acreditassem em suas visões e nessas baboseiras de destino pré-determinado.
No meu caso, meu cartão dizia o seguinte:



Dona de Pet Shop – 26 anos

Capítulo 1

Espanha, 16 de Outubro de 2002, 22:57.
Era véspera do meu aniversário de 26 anos e, tecnicamente, até a meia noite eu deveria estar em um relacionamento com o aka amor da minha vida e ser dona de um Pet Shop, para evitar pagar o preço de quem desacredita das profecias dos cartões de nascimento.
Claro que eu estava pagando para ver, certo? Não me leve a mal, mas eu realmente não tinha vocação alguma para lidar com animais, quem dirá para ter um Pet Shop. Além disso, quem acredita nessa história de destino fixo e previsão de oráculo? Fala sério!
Quando fiz 17 anos e atingi a maioridade em meu país, decidi me mudar. Fui para a Espanha, comecei a estudar moda e a seguir minha vida do jeito que sempre imaginei e quis. Por enquanto, tudo parecia estar dando certo: fazia o curso que gostava, era estagiária de um dos maiores nomes da Moda na Espanha, tinha alguns relacionamentos não muito duradouros, mas prazerosos. Faria 26 anos em algumas horas e tudo estava indo às mil maravilhas. Para que temer profecias, ainda mais quando nem em meu país eu estava?

Alec estava me olhando copiosamente, deitado ao meu lado na cama de casal. Ele sabia sobre o estranho costume em meu país e defendia que eu deveria aceitar e colocar em prática o meu destino pré-determinado. Faltavam alguns minutos para meia noite e estávamos vendo um filme, deitados em sua cama.
– Está sentindo algo? Algum indício de que está prestes a voltar a ser um bebê? – Alec perguntou, levemente humorado, e eu revirei meus olhos.
– Eu já te disse que é besteira, não entendo porque acredita. – Dessa vez ele quem revirou os olhos. – Vamos fazer uma aposta! São 23:56 e, se em quatro minutos eu não desaparecer e um bebê surgir em meu lugar, você deve me levar para Amsterdã. Caso eu desapareça, você segue sua vida. – Ri de leve da aposta ruim e vi Alec fazer o mesmo.
– Eu adoro essa sua capacidade de achar graça até nas coisas mais sérias. Tudo bem, você tem sua aposta. – Ele falou e automaticamente nossos olhares se voltaram para o despertador, na mesa de cabeceira, e ali se fixaram.
A cada movimento do ponteiro de segundos do relógio, meu coração pareceu se acelerar mais. O que antes parecia não estar fazendo a mínima diferença para mim, agora parecia estar afetando até minha respiração, tornando-a lenta e irregular.
Três minutos.
Dois.
Um.
Quando o relógio finalmente marcou meia noite, um peso pareceu sair de meu peito ao perceber que nada aconteceu. Meu olhar se desviou do pequeno despertador para Alec e eu passei a encará-lo com um sorriso vitorioso. Ele estava prestes a dizer algo quando senti uma dor estranha em meu estômago, como um repuxar. Minha visão periférica notou uma luz branca surgir ao meu entorno enquanto a sensação de repuxo aumentou em meu corpo. Tentei falar algo para Alec, que parecia apenas uma miragem à minha frente, mas minha boca não se mexeu. Estranhando tudo aquilo e imaginando ser algo provocado por meu psicológico, fechei meus olhos e respirei fundo.

Capítulo 2

Werran, 17 de Outubro de 2002, 14:39
Quando finalmente reabri meus olhos, a paisagem à minha frente mudou. Estava deitada, mas me sentindo menor do que de costume, o teto sobre minha cabeça era mais claro do que me recordava ser o teto do quarto de Alec. Tentei me mexer e uma pequena mão surgiu em meu campo de visão. Segui-a com o olhar e perdi o ar assim que percebi que a pequena mão era minha e que ela combinava tranquilamente com meu curto braço. O choque de realidade foi inevitável, assim como a dor em minha cabeça e a sensação de ter sido roubada de mim mesma, em meu coração.
Logo que fui me acostumando com a nova realidade, pequenos flashes de meus primeiros dias de vida surgiram em minha mente, pouco antes de se concretizarem diante de meus olhos. Eu consigui me lembrar da visita de minha mãe à mim, na ala neonatal, segundos antes dela aparecer falando exatamente a mesma frase: "Você é linda e eu não vejo a hora de podermos ir para casa. Tem muita gente querendo lhe conhecer". É como se eu estivesse vendo o filme da minha vida, segundos antes de revivê-la, e isso era desesperador.

Werran, 23 de Maio de 2017, 07:48.
Era meu primeiro dia no Ensino Médio, de novo. Desde que renasci – poderia considerar que foi isso o que aconteceu? –, vivia em um constante estado de flashback que se tornava real. Claro que algumas coisas eu consiguia mudar, mas, ainda sim, viver com a constante sensação de dé-jàvu era uma merda.
! Achei que ia para North High. – Amber repetiu a fala que eu já tinha escutado em minha memória, assim que parou ao meu lado na entrada do colégio, e tinha que me controlar muito para não fazer cara de tédio para minha amiga.
– Amber, que saudade! – A abraçei e dei meu melhor sorriso, tentando voltar a ignorar meus flashbacks, habilidade esta na qual eu estava me tornando melhor a cada dia. – Minha mãe achou melhor me colocar aqui, por ser mais próximo de casa.
– Me lembre de agradecer depois à senhora Marchall por isso. – Minha amiga sorriu e eu sorri de volta enquanto começamos a andar em direção às salas.

Para meu alívio, Amber estava na outra turma, assim como em minhas recordações. Logo que entrei na sala, encontrei-a exatamente como me recordava, respirei fundo e tentei mentalizar que faltavam apenas alguns anos para minha maioridade e posterior fuga do país. Sentei-me no mesmo lugar que de anos atrás e fiquei rabiscando formas aleatórias em meu caderno enquanto esperava o início da aula.
Para minha surpresa, a senhora Henkins entrou na sala e, apesar de não ter recebido um flashback desse momento, tinha quase certeza que minha primeira aula do Ensino Médio não foi de História.
– Bom dia, classe. Hoje vamos aprender um pouco sobre nossa história e sobre as profecias. – A senhora Henkins anunciou, assim que colocou alguns livros e papéis sobre a mesa, e meu corpo, automaticamente, se arrepiou e inquietou. Essa história de castigo me deixava cada vez mais assustada. – Como vocês sabem, nosso país foi fundado...

Estou concentrada em cada palavra dita pela senhora Henkins. Sentia que ela iria falar algo sobre pessoas que não acreditavam na profecia ou não conseguiam cumpri-las e foram castigadas, e eu não queria perder.
– É claro que nem sempre todas as pessoas conseguem achar o amor de sua vida na primeira tentativa, por isso elas voltam à vida de bebê e passam por um processo onde revivem suas vidas e podem revisar suas escolhas. A justificativa para isso é que assim podemos mudar o rumo de nossa vida e recomeçar. Achar o amor de nossas vidas é complicado, porém, uma vez que estamos no caminho, seguindo a profecia de nosso cartão de nascimento e acreditando nela, os oráculos nos ajudam no resto, colocando a pessoa certa em nosso caminho. – Enquanto a senhora Henkins falava, eu a encarava, mal respirando. Seguir o caminho da profecia. Acreditar na profecia do cartão. – Então, meus queridos, lembrem-se: caso estejam em uma das vidas extras, sendo atormentados pela sensação de dé-jàvu, tudo o que precisam fazer para que eles cessem é encontrar o momento de sua vida em que vocês se desviaram do caminho da profecia e mudá-lo.

Werran, 13 de Setembro de 2028, 20:23.
Estava concentrada, organizando as prateleiras da loja e reabastecendo os expositores de ração enquanto uma chuva forte caía lá fora, quando alguém bateu à porta, me provocando um pequeno susto. Era um homem que deveria ter uns 28 anos e estava com uma cara de desespero e todo ensopado. Caminhei até a porta rapidamente e o vi suspirar, aliviado, assim que a abri.
– Obrigado. – O rapaz disse, afobado, assim que cruzou a porta de entrada da loja. – Eu me esqueci de comprar a ração do meu gato e não tinha mais lugar nenhum aberto. Eu rodei a cidade inteira e estava quase desistindo quando vi a luz acesa. – Enquanto ele falava, eu ia analisando-o sutilmente, pensando no quanto ele era meu tipo.
Depois da aula da senhora Henkins, eu passei os anos pensando sobre o que fazer para evitar uma próxima reencarnação. Então, quando fiz 17 anos, em vez de ir para a Espanha e ignorar completamente, de novo, as informações do meu cartão de nascimento, eu fiquei. Agora, aos meus 25 anos, era dona de um Pet Shop, igual me ordenaram ao nascer, e torcia para os oráculos me ajudarem a achar o amor da minha vida.
– Espera!
Não era assim que funcionava nos filmes? Uma chuva forte, um personagem desesperado que "coincidentemente" fazia o estilo do outro personagem... e se? Será? Nããão!
– Sou Marck. – O rapaz à minha frente disse e eu só consegui falar "" antes de pular em seu pescoço e beijá-lo.

Capítulo 3

Werran, 17 de Outubro de 2028, 14:39
Reabri os olhos e quase entrei em desespero. Duas vidas de lembranças me atingiram em cheio e eu cheguei a pensar se aguentaria passar por aquilo tudo de novo. Era estranho demais um "bebê" pensar em suicídio?
Revi minha mãe. Você é linda e eu não vejo a hora de podermos ir para casa. Tem muita gente querendo lhe conhecer.
Dessa vez eu não sabia o que deu errado.

Werran, 23 de Maio de 2043, 07:48.
Passar pelo primeiro dia no Ensino Médio pela terceira vez era quase como uma tortura. Me sintia esgotada mentalmente, como se tivesse milhões de anos de idade, ainda que meu corpo refletisse a imagem de uma adolescente. Me intrigava o fato de que, salvo raras exceções, todos e tudo à minha volta fossem exatamente como eu me lembrava, como uma gravação.
Senti Amber se aproximando antes mesmo de vê-la. Ela ainda sorriu ao me ver, parecendo animada, e falou sobre como não esperava me ver ali. Tudo exatamente como nas duas últimas vezes.
Um clique, como o de um microfone sendo ativado, repercutiu pelos autofalantes do colégio e meu corpo todo se retraiu, estranhando. Nem tudo estava acontecendo como eu me lembrava.

"Senhorita , por favor, compareça à sala do diretor."
A frase, dita na voz irritante da secretária, ecoou pela escola enquanto eu parecia despertar de um transe e começava a caminhar em direção à sala.
Assim que cheguei à porta, dei uma suave batida e logo escutei a voz do diretor Maxfield me pedindo para entrar. Ele estava sentado do outro lado da sala, acompanhado da senhora Henkins e me encarou enquanto eu fechava a porta atrás de mim. Sentei-me diante dos dois e aguardei enquanto não descubria a razão pela qual me chamaram ali.
– Dessa vez, senhorita , você quase conseguiu. – Meu diretor falou e minha testa automaticamente se franziu, em sinal de incompreensão. – Abriu seu Pet Shop, estava quase acreditando na profecia. – Assim que ele continuou a falar eu entendi do que se tratava aquela conversa.
– Quer dizer que vocês viram tudo? – Questionei e eles concordaram com a cabeça. – Confesso que estranhei as alterações em minhas memórias, porque minha primeira aula do Ensino Médio não foi História.
– Nossa função aqui é lhe ajudar a ter, finalmente, uma vida humana comum. Estaremos aqui todas as vezes que precisar voltar, para lhe ajudar a perceber o que ainda lhe impede de ter uma vida longa e feliz.
– Certo! Mas dessa vez eu estava fazendo tudo o que me pediram. Abri um Pet Shop, ainda que eu não tenha muita habilidade com animais e não saí de Werran quando fiz 17 anos. O que me impede de ter uma vida sem que eu precise recomeçar do zero?
– Você, de fato, estava fazendo tudo certo. Porém, ainda não acredita no que o cartão lhe disse! Você precisa acreditar que encontrará seu amor quando menos esperar, e aí sim vai conseguir ser feliz ao lado dele por longos anos. Quando você acreditar e parar de procurar, o amor vai surgir em sua vida e será o amor verdadeiro.

Werran, 31 de Julho de 2054, 15:26.
Estava no caixa quando um casal de idosos entrou na loja. Eles eram tão fofos vistos juntos que não consegui evitar sorrir.
– Boa tarde, mocinha. – O senhor disse, ao me observar atrás da máquina registradora. – Por acaso vocês possuem ração para coelhos? Depois de anos sem ter um animalzinho, resolvemos adotar uma lebre e estamos sofrendo um pouco. – Ele disse com um sorriso leve e a senhora ao lado dele o encarou, também sorrindo.
– Temos sim, vou pegar. – Respondi antes de ir pegar alguns sacos das rações que tínhamos disponíveis.
– Vamos levar essa. – A senhora disse, apontando para um dos sacos de ração dispostos sobre a bancada do caixa.
– Quando se ama alguém até mesmo o maior dos esforços vale a pena, inclusive ter um coelho quando já não se sabe cuidar nem de si mesmo. – O senhor brincou, antes de olhar para a mulher ao seu lado e sorrir. Ela, por sua vez, fingiu estar brava pouco antes de também sorrir.
– Há quanto tempo estão juntos? – Perguntei enquanto emitia a nota fiscal, achando extremamente fofo aquele relacionamento.
– Há 32 anos, minha filha. 32 anos longos e repletos de felicidades. – A senhora respondeu enquanto pagou, pouco antes de se despedirem e se retirarem.
Em meu íntimo, uma chama pareceu se ascender. Observar aquele casal de senhores me deixou com um fio de esperança na previsão do oráculo. Eu queria um relacionamento como aquele pra mim!
Guardei o dinheiro que recebi deles na caixa registradora enquanto fiz um voto comigo mesma de me esforçar para acreditar na profecia, mas sem tentar correr atrás de alguém e acabar metendo os pés pelas mãos.

Werran, 02 de Agosto de 2054, 17:49.
O poodle da senhora August adora me molhar toda quando lhe dava banho, então nem me irritei quando senti o jato de água com shampoo atingir meu rosto e cabelo. A essa altura do campeonato, depois de anos de Pet Shop, era quase engraçado ter que passar por situações do tipo.
Depois de finalizar mais uma tosa, estava guardando todo o material quando um rapaz entrou na loja. Ele deveria ter quase uns 30 anos e, a julgar pela expressão de perdido, não parecia fazer muita ideia do que estava fazendo ali.
– Hum, desculpe. – Ele falou assim que me viu parada atrás do vidro que separava a sala de tosa do restante da loja.
– Pois não? – Respondi, secando minhas mãos no avental e saindo da pequena sala.
– Vocês têm ração de passarinho?
– Temos alpiste e ração para calopsita. – Respondi e a expressão de perdido dele pareceu se intensificar.
Ele coçou a nuca, em claro sinal de nervoso, antes de falar:
– E isso lá é ave?
Precisei me esforçar para não rir. Respirei fundo, ainda segurando um pouco o riso, antes de falar:
– Você não tem muito jeito com animais, né?
– É tão claro assim? – Quando eu concordei com a cabeça, ele continuou: - A ave era do meu avô. Agora que ele morreu, se tornou uma espécie de herança.
– Só tenha cuidado para não matar a ave e ter que lidar com mais um sepultamento. – Brinquei e ele riu de leve.
– Sou . – Ele disse, estendendo a mão para me cumprimentar.
. – Respondi e o cumprimentei. – Você tem alguma foto do...
– Paschoal.
– Paschoal? – Estranhei levemente o nome e ele pareceu perceber.
– Nomes de animais não são o forte de minha família. – Ele deu de ombros, pegando o celular no bolso lateral da calça. – Aqui. – Jake me estendeu o celular, com a foto de Paschoal na tela.
– Parabéns, , você herdou uma belíssima calopsita. – Brinquei, lhe devolvendo o celular e ele riu de leve, guardando o aparelho de volta no bolso. – E, para a sua sorte, eu tenho ração para ele, sim. – Respondi à pergunta inicial dele, caminhando até uma das prateleiras do setor de aves e pegando um pacote de ração.
– Prometo que quando eu voltar aqui saberei mais sobre como cuidar de uma calopsita. – Ele disse, pegando o saco de ração que eu lhe havia estendido.
– Se eu consegui todo mundo consegue.
– Deixe-me adivinhar: os oráculos adoraram te sacanear e você não gostava de animal. Acertei? – Ele perguntou, erguendo uma de suas sobrancelhas.
– Na mosca! – Assim que respondi, nós dois rimos.
– Eles são mesmo uns malas!
– Nem me fale. Terceira vida já. Não aguento mais ser bebê.
– Terceira só? Estou na quarta, beirando minha idade limite de 28 anos e não tenho a menor esperança de reconhecer o amor da minha vida, muito menos de me relacionar com ela. – Ele disse com um olhar vago, mas leve humor na voz.
– Já que está ganhando de mim, saberia me dizer o que acontece quando renascemos? Quer dizer, o que acontece com quem fica para trás, com quem não revemos na nova vida?
– Quando voltamos a ser bebê, as pessoas que deixamos para trás, que não iremos reencontrar – como um ex-namorado ou ex-chefe – se esquecem de nós. No mesmo instante em que começamos a desaparecer, essas pessoas caem em um sono profundo. Quando acordam, as lembranças conosco ainda estão presentes, mas distantes, como se elas soubessem que fomos especiais para elas um dia, mas que vão ter que aprender a lidar com o fato de nunca mais nos ver. Algo tipo uma morte.
Queria perguntar para como ele sabia tanto sobre aquilo, mas me contive. Em vez disso, comecei a pensar nas pessoas que passaram pela minha vida e que nunca mais iria reencontrar. Era estranho pensar que elas me tinham como morta, ainda que de uma forma diferente.
– Preciso ir alimentar minha calopsita. – Jake falou e eu não consegui evitar rir. – Nossa, até parece que estou te dando um fora grosseiro.
– E você está? – Brinquei com um leve tom de provocação, e nós dois rimos.
– Eu não seria louco a esse ponto. – Ele respondeu, antes de pagar a ração e ir embora.

Werran, 16 de Outubro de 2054, 23:50.
Depois de reviver meu aniversário mais de 75 vezes, eu já sabia que esse dia passava voando, ainda mais aquele, o marco entre meus 25 e 26 anos. Porém, estranhamente, daquela vez o dia passou ainda mais rápido, se é que poderia considerar isso possível.
Depois de passar o dia todo na loja, tudo o que eu mais queria era um banho e meu merecido descanso, mas o que ganhei foi uma bela surpresa. apareceu na loja pouco antes de fechar, com um bolo e duas velas em forma de interrogação, uma delas rosa e a outra azul. Estranhei, claro, mas nem dei muita atenção a isso, preferi focar no fato de que ele havia se recordado do meu aniversário o suficiente para comprar um bolo.
Depois do dia do "preciso alimentar minha calopsita", ele se tornou um cliente bem assíduo e um bom amigo. Sempre que ia à loja, mesmo que fosse para somente olhar algo, nós conversávamos bastante e dávamos muitas risadas. O tempo com ele passava de forma leve e era bom conversar com alguém que entendia o quão ruim era ter que confiar cegamente em uma profecia maluca.
– Por que duas velas? Ainda mais uma azul? – Perguntei quando estávamos sentados lado a lado na mesa da cozinha da loja, comendo o bolo.
– Porque, digamos que você não é a única aniversariante hoje. – Jake respondeu simplesmente, encarando o prato com bolo a sua frente.
– NÃO ACREDITO QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU. – Protestei, deixando o prato de bolo na mesa da cozinha e passando a encará-lo, chocada.
– Eu demorei semanas para te contar que trabalhava em um banco. A data do meu aniversário não seria tão facilmente dita assim.
– Pois deveria! Eu teria comprado um presente!
– Depois você dá um saco de ração para o Paschoal e estamos bem.
Rolei os olhos para ele, logo em seguida voltando a comer meu bolo enquanto mudávamos de assunto.

O tempo passava depressa, mas por incrível que parecesse, meu íntimo parecia não se importar. Eu não tinha encontrado o amor da minha vida, muito menos começado a me relacionar com ele, mas isso não pareceu importar para a minha interior, já que não senti nenhum tipo de inquietação característica do nervosismo pré-transformação em bebê novamente.
Olhei para o relógio acima da porta de entrada e vi que faltava menos de um minuto para meia noite. Esperando o suor clássico de nervosismo, encarei minhas mãos. me observava atentamente e parecia entender o que se passava quando encarou o relógio e viu a quantidade de segundos diminuir a cada momento.
Quando o relógio deu meia noite, esperei pela sensação estranha em meu estômago novamente, mas ela não veio.
Os minutos se passaram e nada aconteceu a mim, muito menos a . A falta de compreensão do que aconteceu estava estampada em nossos rostos, mas ela logo deu lugar à surpresa.
– Não pode ser! – foi o primeiro a falar algo quando o relógio já marcava 00:07.
– Nem vem, garoto da calopsita! – Protestei quando ele começou a me encarar com um sorrisinho sacana nos lábios.
– Você tem alguma explicação melhor?
Primeiro eu tentei desistir da ideia, me lembrando do que aconteceu da última vez que tentei isso e também achando que tudo poderia ser somente um atraso no relógio dos oráculos. Porém, joguei todo o meu autocontrole para o alto e pulei no colo de , beijando-o.
Ainda assombrada pelas minhas escolhas erradas, esperei pelo momento que seria obrigada a interromper o melhor beijo de minha vida. Quando nada aconteceu e o ar já faltava aos dois, nos separamos, nos encarando de forma estranha.
– Não me importaria de reviver outras quatro vezes se for para ter você e esse beijo pra sempre em minha vida.
– Eu devia ter percebido que era você assim que passou pela primeira vez por aquela porta. – Foi tudo o que consegui responder antes de me beijar novamente.


FIM!



Nota da autora: Primeiro, gostaria de agradecer por terem lido. Foi uma ideia bem doida e eu fiquei muito insegura com a escrita dela, até porque nunca me imaginei desenvolvendo algo do tipo.
Espero do fundo do coração que tenham gostado!
Caso queiram dar uma chancezinha para alguma outra história minha, a listinha está logo ali embaixo e a seguir estão as minhas redes sociais, Whats e o link do meu grupinho do facebook.
Milhões de beijos e até a próxima!



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