Prólogo

Fixei meu olhar na janela do táxi, porém minha mente não estava focada nas paisagens que passavam, eu estava novamente perdida nos momentos que sempre ficariam presos a minha cabeça e fariam parte da minha vida.
Parte de mim ainda não acreditava que eu ficaria longe de tudo por seis meses. Eu não acreditava que tinha pego um avião e ido para o outro lado do oceano, deixando-o na Europa enquanto eu recomeçava uma nova vida na Oceania, por mais que ele tenha me deixado primeiro.
era o amor da minha vida, e agora eu estava totalmente sem rumo por ele ter me deixado tão cedo. Estávamos juntos há cinco anos e planejávamos nosso casamento, quando por infortúnio do destino, ele fora arrancado brutalmente de meus braços e de sua vida. Senti a lágrima escorrer e a sequei rapidamente, antes que eu começasse a chorar ali mesmo, dentro do táxi e prestes a recomeçar minha nova vida.


Capítulo Único

Quando avisei a todos que abandonaria Londres por um tempo e iria morar em Gold Coast, pois era para onde eu e sonhamos morar, minha família toda ficou contra minha ideia. Eu tinha acabado de perder meu noivo, o homem que eu mais amei na vida, e estava devastada. A ideia de estar em um continente novo e desconhecido não lhes agradava, mas eu sabia que não conseguiria seguir em frente se continuasse ali, onde tudo me lembraria ele e me deixaria de um jeito nostálgico.
Eu queria ficar longe da preocupação das pessoas, longe das perguntas sobre como eu estava me sentindo e como estava lidando com aquilo, e foi por isso que eu viajei o mais rápido que consegui. Mas isso também me trouxe a solidão.
Fazia um pouco mais de um mês que eu morava ali, e se alguém me perguntasse o nome dos meus vizinhos ou como eles eram, eu não saberia. Eu não tinha saído para conhecer a Austrália, o que sempre fora meu sonho, eu apenas vivia trancada dentro de casa, mal vendo a luz solar. Meu sustento ali só era possível devido ao fato de que eu usava o dinheiro da poupança para nosso casamento e nossa lua de mel.
Dois meses do acidente e um mês na Austrália, e eu sentia que eu tinha ido embora junto com . Eu não me sentia viva, era como se eu estivesse apenas sobrevivendo, esperando o destino ser bom comigo e levar-me de encontro a .
O som distante do celular me fez despertar dos pensamentos e eu saí em busca do celular, vendo o nome da minha mãe na tela do aparelho.
– Oi, mãe. – tentei fazer minha melhor voz.
– Oi, querida, como você está? – sua voz reconfortante fez com o que sentisse vontade de correr para Londres e deitar em seu colo, para poder chorar enquanto ela acaricia meu cabelo e diz que tudo vai ficar bem.
– Estou bem, e a senhora? – rezei para que ela não percebesse a mentira em minha voz.
Tudo ótimo por aqui. Não te atrapalhei não, né?
– Não mãe, você nunca me atrapalha. – sorri, mesmo sabendo que ela não poderia me ver.
Eu ainda não entendi o fuso o horário filha, eu sei que é muito diferente. – resmungou, fazendo-me rir. – Aqui já são sete horas, estou te ligando, pois estou me arrumando para trabalhar.
– Aqui são quatro horas da tarde, daqui a pouco o sol já se põe. – comentei enquanto olhava através da janela.
Você deveria sair hoje para ver o pôr do sol, querida, eu soube que eles são lindos. – eu sabia que aquela frase era o jeito sútil de minha mão falando que eu devia seguir em frente com a minha vida. – Quem sabe você faz alguma amizade interessante?
– Acho que eu não sou a pessoa mais sociável do momento para arrumar uma amizade. – ri fraco.
Querida, você foi para a Austrália para distrair sua mente e voltar com um bronzeado maravilhoso que causasse inveja nesses ingleses branquelos. – falou como se me contasse um segredo, fazendo-me rir verdadeiramente pela primeira depois de dois meses.
– Mãe, a senhora sabe que é um desses ingleses branquelos, né? – ri novamente ao ouvir minha mãe reclamando.
A senhorita também, não sai de dentro dessa casa. – resmungou, fazendo-me olhar novamente pela janela, vendo o sol dourado começar a abaixa–se. – Vai voltar mais branquela que nós, ingleses.
– Com você falando assim, até parece que eu não sou inglesa. – ri fraco, trocando o pijama por uma roupa aceitável.
Oh, querida, você é totalmente inglesa. – falou amorosa. – Tão inglesa que está enfurnada dentro dessa casa na Austrália, sem nunca ter ido curtir uma praia.
– Não precisa mais falar na minha orelha por causa disso. – ri fraco e saí de casa, trancando -a e guardando a chave no bolso. – Acabei de sair de casa, vou ver o pôr do sol no píer aqui perto.
, você não sabe como eu me sinto imensamente feliz por você estar se dando uma chance. – eu sabia que ela estava orgulhosa, e isso já fazia com o que eu me sentisse um pouco melhor. – Você ainda tem uma vida toda pela frente, minha filha, e eu espero que você aproveite cada minuto dela.
– Mãe, assim você vai me fazer chorar. – funguei, rindo fraco.
Desculpe-me, meu amor, não foi minha intenção.
– Tudo bem, mãe, eu não choraria só de tristeza. – admiti.
Eu te amo tanto, querida, você é tão forte. – suspirei, desejando que aquilo fosse verdade. – Agora eu preciso ir, eu te amo muito, se cuida.
– Também te amo, mãe, beijos. – encerrei a ligação e guardei o celular no bolso, enquanto seguia até o píer que todos sites da internet indicavam.
Eu não sentia vontade de andar pela Austrália, eu não sentia a mínima vontade de sair da casa que seria minha por esses meses, mas eu não conseguia deixar de pesquisar sobre os pontos turísticos e os lugares mais bonitos.
Caminhei pelo píer, vendo-o repleto de casais e senti meu coração parando de bater, enquanto minha vista marejava. Respirei fundo e segurei o choro, seguindo até a ponta do píer e apoiando-me na grade, vendo o seu azul começar a mudar de cor.
Quando o céu já estava laranja, eu virei o rosto para o lado e precisei piscar duas vezes ao vê-lo ali. Com um bronzeado bonito e mais músculos do que eu estava acostumada, eu vi caminhando para onde eu estava. Meu coração parecia que ia explodir de tanta felicidade e minha cabeça não entendia como ele podia estar ali, vivo e tão próximo de mim, quando meses antes eu vi seu corpo sem vida.
parou um pouco longe de mim, mas eu ainda conseguia vê-lo. O pôr-do-sol tornou-se desinteressante, toda minha atenção estava focada em . Continuei o encarando fixamente e abri um sorriso, ao ver seus olhos vidrados no meu. arqueou uma sobrancelha, sua expressão de quem não entendia nada, mas sorriu.
Voltei a encarar o horizonte azul que já não era mais banhado pelo sol, e quando eu voltei a encarar o local onde estivera há minutos atrás, eu não encontrei nada além do vazio.
Franzi o cenho, não querendo acreditar que aquilo era apenas uma criação da minha mente perturbada que desaprendeu a conviver com as pessoas e agora criava alucinações. Perfeitas alucinações.
Balancei a cabeça de um lado para o outro, disposta a dispensar aqueles pensamentos, e segui para casa.

...

Enquanto antes eu não tinha nenhum ânimo para sair de casa, agora eu possuía todos. Eu precisava descobrir se realmente aquele homem que eu vi, a personificação australiana de , era real ou apenas um fruto da minha mente apaixonada e machucada.
Durante toda a semana eu visitava o píer no mesmo horário, na esperança de vê-lo novamente e afirmar que eu não estava enlouquecendo, porém o plano não deu muito certo. Já havia se passado dez dias desde que eu o vi aqui, dez dias que eu sonhava com , porém agora bronzeado e surfista.
Coloquei a mão no bolso para chegar se o celular continuava ali, uma mania estranha, e ao voltar o braço para frente, senti colidindo com alguém. Virei preparada para pedir desculpas, mas ao ver ali o homem que ultimamente rondava meus pensamentos, eu travei.
– Tudo bem? – ele perguntou após alguns segundos constrangedores onde apenas nos encarávamos.
– Oh, sim, me desculpe. – balancei a cabeça levemente para os lábios, sorrindo fraco em sua direção.
– Têm certeza? Você pareceu assustada quando me viu. – coçou a nuca e eu prestei atenção nos seus músculos tensionados.
– É que você parece com o meu amigo. – falei baixo, dando um sorriso fechado.
– É vocês são muito próximos? – sorriu, como se compreendesse o motivo pelo susto.
– Sim, éramos namorados. – mordi o lábio inferior, sentindo-me estranha por falar aquilo enquanto encarava o homem com a cara do amor da minha.
– Eram? Sinto muito. – deu um sorriso fraco. – Acho que foi por isso que você se assustou, achou que ele estava te perseguindo.
– Quem me dera. – suspirei e o homem franziu o cenho.
– Você ainda gosta muito dele, né? – questionou enquanto apoiava–se na grade, ficando do meu lado.
– Sim, ele foi meu primeiro amor. – juntei o lábio em linha reta. – Mas acabou que ele fora arrancado brutalmente de mim recentemente.
– Meu Deus, eu sinto muito. – falou sincero. – Acho que eu vou embora então, não deve ser legal para você, sabe, ficar me encarando, e, você sabe.
– Na verdade é reconfortante. – sorri fraco. – É como se você fosse o irmão gêmeo dele. – brinquei rindo, fazendo-o rir também. – É bom continuar vendo a cara do homem que eu amei, mesmo que eu saiba que não é a mesma pessoa.
– Já sabe onde me encontrar todo dia. – riu fraco, abrindo os braços e referindo-se ao redor.
– Mentira isso. – o acusei, vendo-o arquear a sobrancelha.
– Como assim?
– Eu estou vindo aqui há dez dias na esperança de que você aparecesse para eu afirmar que não estava alucinando. – o acusei, fazendo-o rir.
– Você está vindo aqui há dez dias direto para confirmar se eu sou real? – riu incrédulo, como se não acreditasse naquilo.
– Não é todo dia que se vê um homem que é a cara do seu ex namorado. – dei de ombros. – Eu não via pessoas há mais de um mês, realmente achei que a solidão estava afetando minha mente.
– Bem, agora que você sabe que eu sou real e que pode me achar aqui sempre que quiser, não vejo motivos para você continuar sozinha. – sorriu, fazendo-me sentir-me feliz verdadeiramente.
– Você parece ser muito legal e já sabe de metade da minha vida, mas eu não sei o seu nome. – ri, sendo acompanhada por ele.
– Verdade, eu esqueço completamente de coisas assim. – deu de ombros, como se fosse super normal esquecer-se de se apresentar para as pessoas. – Me chamo .
. – sorri sincera.
– Sabe, , eu bem consigo entender o que o oceano fala. – falou divertido, fazendo-me encará-lo com a sobrancelha arqueada.
– É? E o que ele está falando agora? – ri da cara que fazia.
– Ele está falando que seremos ótimos amigos. – sorri sincera, concordando com o oceano, por mais que eu soubesse que ele não tinha falado isso.

...

Eu estava bem, encontrava quase todo dia com no píer, só não ia quando não sentia vontade de sair, porém quanto mais tempo eu passava com o homem, minha vontade de ficar reclusa em casa diminuía mais e mais.
Porém naquele dia tudo estava cinza. Faziam exatos três meses da morte de , e por mais que me distraísse, era impossível, e eu não queria, esquecer de .
Saí de casa no mesmo horário de sempre, seguindo o mesmo caminho de sempre e parando no mesmo lugar de sempre, esperando a pessoa que se tornou a pessoa de sempre. Suspirei fundo ao encarar o céu parcialmente nublado, nem o sol tinha amanhecido bem hoje.
– Como você está, ? – a voz de despertou-me de meu transe, fazendo com o que eu desse um sorriso de lado enquanto o encarava.
– Existindo. – respirei fundo e puxou-me para um abraço.
Durante esses dias, eu sempre saía para me encontrar com ele, e acabamos desenvolvendo uma amizade rapidamente. Seu rosto completamente idêntico ao de já não me causava surpresas e nem fazia com o que eu os comparasse, mas sua fisionomia completamente familiar ajudou para que eu me sentisse confortável.
– Eu sei como isso é ruim para você, eu também já perdi alguém que eu amava muito. – confessou e eu me afastei um pouco de seu corpo para olhar em seus olhos. – Eu fui criado pela minha mãe e pela minha tia, então eu tecnicamente tinha duas mães. Quando eu tinha dezessete anos, minha tia morreu, e eu fiquei completamente sem chão.
– Eu sinto muito. – acariciei suas costas, fazendo-o abrir um sorriso em minha direção.
– Tudo bem, eu já superei isso. – acariciou meu cabelo e eu suspirei fundo, querendo já ter superado.
– Essa dor passa? – perguntei com a voz fraca e abraçou-me ainda mais forte.
– Sim, você aprende a conviver com ela. – sussurrou em meu ouvido. – Ela diminui, até que você para de ficar triste e começa a lembrar da pessoa apenas em momentos de felicidade. Você vai olhar para o passado e sentir saudades, mas você não sentirá mais nenhuma dor.
– E o que fazemos enquanto esse dia não chega? – afastei-me de , apoiando-me na grade e o observando.
– Você continua a viver sua vida, você não pode estar parada no presente enquanto sua mente vaga pelo passado. – parou ao meu lado, copiando minha posição.
– Não é tão fácil seguir em frente. – suspirei baixo, com o olhar focado na água cristalina. – Ainda é tudo muito recente.
– Tenho certeza que ele não gostaria de te ver assim. – encarei-o, vendo que ele mantinho o olhar preso ao meu rosto. – Você viu como a vida é imprevisível, uma hora estamos aqui e na outra não estamos mais. – acariciou minha mão, fazendo-me abrir um sorriso fraco. – Precisamos aproveitar a vida ao máximo, não devemos nos privar de nada.
– Sem privações? – questionei e concordou com a cabeça.
– Só se prive de algo, se puder te levar para a cadeia. – piscou maroto e eu ri.
Era um dia triste e conseguiu me distrair e fazer com o que risse, naquele momento eu percebi que não poderia deixa–lo ir embora de jeito nenhum. Selei nossos lábios e eu senti meu corpo esquentar, fazendo-me abrir um sorriso aos afastar nossos lábios.
Josh acima de tudo sempre quis que eu fosse feliz, e eu tenho certeza que independentemente do lugar em que ele se encontrava, se ele me visse agora, ele ficaria feliz, principalmente por ser a sua cara.
Beijei novamente os lábios de , dessa vez aprofundando o beijo e naquele momento, eu percebi que tinha voltado a viver. Eu não estava mais vivendo em um casulo, eu finalmente era eu mesma de novo, eu finalmente voltei a ser eu mesma, eu estava em casa.




Fim.



Nota da autora: Admito que escrevi três versões diferentes dessa história e quando estava prestes a entregar, eis que surge essa ideia. Eu sei que ficou curtinha, e peço desculpas por isso, mas depois que eu tive essa ideia, mais nenhum outro plot me agradou. Espero que vocês tenham gostado desse neném e se apaixonado pelo pp igual eu haha






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