Lookin' at me colourin' out of the lines now,
you only break when you take the bend too far…

— Eu não sei, . Não sei o que isso significa.
A confusão e a dor estavam estampadas nos olhos do rapaz.
Seu coração doía tanto que ao menos sabia explicar.
Como não havia cogitado a ideia de ficarem juntos? Ela nem mesmo
havia hesitado em arrumar alguma solução.
— Pensei que estávamos trabalhando nisso, . Pensei que estávamos
tentando consertar as coisas, a começar por compartilhar coisas simples como
essa.
deixou escapar um soluço, suas mãos tremendo.
— Nós estávamos, mas… Talvez seja hora de encarar a realidade. Talvez não
possamos simplesmente consertar algo que está quebrado há tempos.
colocou a mão sobre a boca, virando o rosto para o lado oposto ao que
se encontrava.
Ele sabia exatamente o que aquilo significava.
Significava dar adeus a tudo.
As palavras eram uma admissão dolorosa demais.
resolveu olhar para a namorada e agora seus olhos estavam úmidos como
os dela.
— Então é isso? Devemos terminar. — afirmou, sabendo bem que diria
aquilo.
O rapaz olhou para baixo, pressionando os lábios.
— Não quero isso, … — tentou se aproximar, levando os dedos de
encontro aos de . — Mas e se essa for a única maneira de seguirmos
adiante?
O silêncio pairou entre os dois, ambos assimilando tudo o que acontecia. Ele
sentia o toque morno da pele de com a sua e pensava em todas as coisas
que havia acontecido com eles. Os momentos marcantes, bons e,
principalmente, os ruins.
Como haviam chegado àquele ponto?
Engoliu em seco e ergueu seu olhar em direção à ela.
— Então esse é nosso adeus, .
Disse, baixo o suficiente para que a garota quase não o escutasse.
tinha os olhos imersos em lágrimas teimosas e dolorosas enquanto
sentia o nó em sua garganta apertar mais e mais.
Sem pensar muito, afastou seu toque do dela, a olhando uma última vez.
Era hora de enfrentar a realidade de uma vez por todas.
E aceitar que seus destinos estavam determinados a serem longe um do outro.

O apartamento estava silencioso, como de costume.
O som da cidade ao lado de fora se misturava com a playlist de que ecoava através do spotify. Até focaria na letra da música que tocava naquele instante se sua mente não estivesse tão longe.
estava sozinho, cercado pelas lembranças que insistiam em não ir embora.
Nunca.
Seu corpo estava escorado na cadeira acolchoada próxima a janela enquanto seus olhos vasculharam as fotografias presas à sua parede do quarto. Fotografias que o fazia se lembrar de tempos que viveu anos atrás. De sua família, amigos que conheceu na faculdade e uma em específico da pessoa responsável por despedaçar seu coração.
A imagem um pouco distorcida, apresentava sorridente, com os lábios e olhos que costumavam derreter o rapaz. Com o braço ao redor do pescoço de , em um abraço desajeitado e carinhoso.
A lembrança do término há anos atrás ainda era agoniante.
não havia pensado duas vezes em seguir o sonho ser grande em sua carreira. não se importava com aquilo, não fosse o fato de ela não ter o incluído em seus planos.
Machucava só de lembrar.
Fechou os olhos brevemente. A voz de ecoava em sua mente, a tensão no ar enquanto a mulher explicava sua decisão.
não conseguia entender e na época, tudo o que conseguia sentir era profunda mágoa. Decepção.
Não conseguia acreditar que realmente não o queria consigo.
Tentou entender. tentou entender e aceitar de todas as formas possíveis. Insistiu em seguir sua vida, assim como ela havia feito. Compôs sua música, trabalhou incansavelmente, fez novos amigos — e colegas de banda, e viveu imensas experiências que a fama trouxe para sua vida.
Ainda com tudo isso, sempre havia uma sombra de tristeza que o seguia, algo que não conseguia deixar para trás.
Olhou novamente para a fotografia.
Ele sentia tanta saudade. Saudade do perfume de , do cheiro específico que seu cabelo tinha e de como ela costumava acariciar seu rosto quando o mesmo estava tenso e estressado.
Ela havia sido única. não tinha dúvidas.
Conheceu várias mulheres trilhando o caminho até ser um astro famoso. Vários costumes e beijos diferentes, mas nada se comparava ao sentimento que havia lhe trazido.
Apesar de tudo.
Volta e meia se perguntava como ela deveria estar. Se cortou os cabelos ou os pintou. Se mudou o estilo de se vestir ou se conheceu outra pessoa.
Se, principalmente, conseguiu crescer na vida, como sempre havia almejado.
Desde o término, nunca mais havia a visto. Ou tido notícias. Até evitou.
Mas sentia tanta falta.
E queria tentar encontrá-la outra vez, por mais que seu coração doesse tanto por sua partida.
It used to be easy,
now you can't even look at me in the eye,
a visceral feelin',
that I can never leave behind…

O sol de Sydney brilhava como habitualmente acontecia, iluminando as ruas movimentadas.
caminhava apressadamente pela calçada com seus olhos fixos no chão, em uma tentativa fútil de evitar olhar para o mundo ao seu redor. Sydney, afinal, era uma cidade grande, mas o destino muitas vezes tinha planos diferentes dos nossos.
O destino, naquele momento, se chamava .
Não imaginou que depois de tantos anos, saindo de Melbourne para seguir sua vida, encontraria justo ao voltar para suas férias com a família em Sydney.
Foi impossível não se lembrar do relacionamento de anos atrás. O que era para ser um amor promissor, transformou-se em mágoa e arrependimento.
Nunca desejou magoar como havia acontecido. Não queria ter feito aquilo, o rapaz não merecia. havia sido um namorado gracioso, dedicado e, no final, a mulher havia terminado.
Para ser sincera, não se arrependia do que havia feito, para seguir sua carreira. Mas, se arrependia de como as coisas haviam terminado.
Poderia ter tido uma solução, como ele mesmo havia lhe dito.
Desde então, mesmo indo para tão longe de onde estava, evitava qualquer contato ou notícia do mesmo, o que parecia ser impossível já que, por ironia do destino — outra vez —, ele havia se tornado membro de uma banda famosa que estava estampada em todos os cantos e rádios do mundo.
ainda permanecia com lembranças e pensamentos intrusivos em sua mente.
Fechou seus olhos brevemente ao parar na faixa de pedestres e, ao erguer seu olhar, um brilho nos olhos de um transeunte a fez estremecer.
estava a apenas alguns metros de distância, sua figura imponente acompanhada por um segurança discretamente posicionado, o qual parecia olhar para a mesma direção que o rapaz encarava.
Ela engoliu em seco. Se xingava de todas as palavras grosseiras e ofensivas por ter decidido viajar para a cidade justo naquele fim de semana.
Nunca que ia imaginar encontrar outra vez, depois de tanto tempo…
Respirou fundo e tentou manter a calma, ignorando todo olhar curioso dos pedestres que reconheciam o famoso cantor.
Esperava, do fundo de seu coração, que não a reconhecesse. Que nem mesmo resolvesse parar para falar algo.
Manteve sua cabeça baixa e tentou parecer o mais invisível possível. Evitar era o único plano viável.
O que não esperava era que havia notado sua presença e tão espantado como ela, não soube como reagir. Apesar de todo o passado dos dois, a única coisa que se passou pela cabeça do rapaz foi abordá-la.
Não fosse por alguns fãs se aproximando. E fazendo com que a perdesse de vista.
A brecha havia sido perfeita para . Rapidamente se misturou com algumas pessoas que atravessavam a faixa e, sem que percebesse, já estava longe o suficiente para que não avistasse mais.

It's been a while since you and I been where we started,
i don't wanna let it fade away…

O MCA Cafe não estava tão movimentado naquele horário e agradeceu mentalmente por ter achado um lugar calmo depois de todo o turbilhão de emoções que se encontrou naquela manhã.
O sino da porta tilintou e uma onda de ansiedade a envolveu. Seu coração parecia martelar em seu peito, descompassado e acelerado, como se tentasse escapar de seu corpo.
Sua mente parecia estar em uma velocidade que não sabia decifrar.
não sabia o que começar a pensar.
A imagem de , deslumbrante e confiante, ainda dançava diante de seus olhos. Ele havia mudado, isso era inegável. Seu rosto tinha amadurecido e a segurança que o rapaz irradiava agora era muito mais forte do que a que ela se lembrava.
Um nó se formou em sua garganta. Foi difícil de se concentrar no que ia pedir.
Pensou nas palavras que não havia conseguido dizer, nos arrependimentos que ainda a assombravam, nas noites que passou sozinha, ansiando em voltar para ele e pela felicidade que uma vez compartilharam.
A saudade que sentia por já intensa, tinha apenas aumentado após vê-lo depois de tanto tempo.
esperou sua vez na fila, tentando acalmar seu coração e seus olhos pousaram nas enormes janelas da cafeteria. O luar de Sydney banhava a cidade e uma suave brisa acariciava seu rosto.
Aquilo quase a fez se esquecer do que havia acontecido.
O aroma do café recém-moído a envolveu e sorriu, se sentindo um pouco mais calma, pensando no que pediria.
O barista se aproximou e ela tentou sorrir, em cumprimento, apesar de seus pensamentos continuarem mergulhados na turbulência emocional que a atormentava.
Diante do balcão, hesitou por um momento, olhando para o cardápio com os olhos vazios. Seu coração ainda estava acelerado pelo encontro inesperado com Calu. Ansiava por escapar das memórias do que aconteceu anos atrás, mas agora ele estava de volta, desencadeando um turbilhão de sentimentos que ela pensou que havia superado.
— Eu gostaria de um…
— Caramel Mocha, por favor.
A voz atrás da mulher a petrificou. O coração de deu um salto e uma onda de choque percorreu todo o seu corpo.
Sua mente girou em um turbilhão de emoções conflitantes ao reconhecer a quem pertencia a voz.
Pensou muitas vezes se deveria virar o corpo ou não, e quando o fez, seu coração pareceu derreter como se estivesse preso a uma geleira enorme.
— Oi, . — disse, a observando. não sorriu, seu rosto estava inexpressivo.
Assim como , o turbilhão dentro do peito de tinha a mesma intensidade. Depois de tantos anos, ali estavam, de frente um para o outro.
— . — soltou.
O momento era vulnerável demais. Nenhum dos dois sabia ao certo como reagir. Qualquer palavra ou movimento parecia delicado demais e nenhum dos dois queria colocar mais alguma coisa a perder.
Nunca mais.
— Quanto tempo, eu…
tentou iniciar. Sua garganta ardia e o coração bombardeava dentro de seu peito. Não sabia o que dizer. Nem como dizer.
— Podemos conversar? — foi direto.
Ela ergueu o olhar em sua direção e pôde notar os olhos brilhantes, escuros, do rapaz em sua direção. Ele a observava pacientemente, como se nada do mundo pudesse atrapalhar aquele momento.
Os dois pegaram seus pedidos, igualmente preparados e se afastaram das poucas pessoas que ali estavam. informou ao segurança que precisava de um momento e o mesmo se afastou, minimamente.
Quando se sentou à frente da mulher, pressionou os lábios.
Não sabia o que esperar.
Para disfarçar sua tensão, a mulher pegou a bebida à sua frente, seus dedos tremendo ligeiramente enquanto segurava o copo.
— Me arrependo de como as coisas terminaram. — iniciou, sua voz mais firme, agora vacilava. — De como deixei tudo escapar assim, tão…
E ficou em silêncio. tentava assimilar o que acontecia e, principalmente, as palavras de , tão diretas.
Ela quem havia ferrado com tudo. Ela quem havia terminado e ele quem estava ali se desculpando?
O arrependimento começou a surgir, maior do que antes.
Como conseguiu fazer aquilo com ?
— , não é você quem tem que se desculpar aqui. — tentou um sorriso. — Fui imatura, estava assustada. Era tudo tão novo, um emprego formidável em outra cidade. Você não tinha os mesmos sonhos que eu e não entendi isso na época.
Suspirou. O rapaz ainda a olhava intensamente. Não sabia se a encontraria outra vez, tão cedo. Queria gravar cada detalhe daquele rosto que tanto achava bonito.
— Senti tanto sua falta, , você não faz ideia. — engoliu em seco. Sua voz hesitava. — Achei que nunca mais veria você. E te encontrar justo aqui em Sydney me pegou de surpresa.
— Eu sei. Senti o mesmo. — assentiu, desviando o olhar. Sentia suas bochechas corarem só se vê-lo a olhando outra vez.
Se fosse fácil, queria deixar tudo no passado e dizer para que ela queria tentar de todas as formas possíveis.
Mas as coisas não funcionavam daquela forma.
não conseguia para de pensar em como a história entre eles era complicada, imersa em altos e baixos que deixaram cicatrizes mais que evidentes.
— Sei que nada que eu disser vai justificar minha atitude, mas você não saiu da minha cabeça desde que coloquei os pés para fora de Melbourne, . — confessou, cruzando as mãos acima da mesa. encarava suas unhas. Sabia certamente que se levantasse seu olhar para o rapaz, começaria a chorar. — Desde que nos separamos, nada foi suficientemente bom outra vez.
Os olhos do rapaz passeavam seu rosto com calma.
sentia seu coração descompassar.
— Nada vai justificar, . Éramos novos e inconsequentes. — balançou a cabeça, soltando uma risada sem humor. Como haviam chegado àquele ponto? — Isso é difícil, céus. Não imaginei que seria tão difícil te olhar outra vez…
— Eu sinto muito, …
sussurrou, sentindo o peito apertar. Ver o quão sua presença, depois de tanto tempo, nitidamente o abalava a deixava magoada. Magoada por saber que aquele havia sido culpa dela.
Inteiramente dela.
— Não se desculpe. Nem se culpe. Sei que é isso o que está fazendo. — mencionou, pressionando os lábios.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes. A bebida havia perdido a graça.
A única coisa importante ali, era tentar recuperar todos os anos sem se verem, apenas observando um ao outro.
— Você ainda significa muito para mim. — soltou, quase inaudível.
Foi difícil acreditar no que havia acabado de ouvir.
Não soube dizer há quanto tempo queria ouvir aquilo outra vez.
Sua garganta ardia. Queimava.
Seu coração, no entanto, doía demasiadamente.
Doía por não saber se poderiam recuperar o relacionamento. Se poderiam fazer dar certo.
Não depois de todo aquele tempo.
— Não faz ideia de como queria ouvir isso, — ergueu a mão, em direção ao rosto da mulher. Seus dedos acariciaram as bochechas rosadas e pôde notar uma lágrima solitária escapando. estava chorando. Chorando por ele. — Queria tanto que fosse fácil. Queria apagar o passado e começar com você, aqui e agora. Queria tanta coisa, mas não consigo acreditar que seja possível outra vez.
Os olhos da mulher arregalaram vagarosamente.
Seu coração descompassou e um aperto inexplicável tomou conta.
estava desistindo dela? De uma vez por todas?
abaixou o olhar segurando o choro que viria à tona, mesmo compreendendo a sinceridade das palavras de .
Entendi muito bem que as feridas do passado eram intensas demais e que reconstruir o que haviam tido seria um desafio árduo, justamente para ele, em uma rotina tão acentuada. Agitada.
Diferente da sua.
Os dois estavam em fases inteiramente distintas.
Ela ergueu o olhar uma última vez, notando os olhos castanhos que ela tanto amava e que nunca havia esquecido, marejados. As bochechas de estavam avermelhadas, indicando que o rapaz choraria a qualquer momento.
Assim como ela.
— Talvez um dia, , possamos tentar de novo. Mas não acho que agora seja o momento.

It used to be easy, it used to be easy…

Nota da autora: Oi, pessoal! Aqui estou com mais uma fic para vocês! Espero que tenham gostado e não esqueçam de deixar um pequeno feedback com o que acharam!
E para quem se interessar em outras histórias minhas, o link da minha página de autora vai estar logo aqui embaixo. Um beijão a todas, e volte sempre <3

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