Finalizada em: 04/05/2021

Capítulo 01

Oswald segurou minha mão, dando um sorriso e me puxou para perto dele, passando seus dedos pela lateral de minha cintura como se me abraçasse. Forcei o meu mais belo sorriso, esperando que estivesse sendo o suficiente para enganar quem é que fosse ver aquelas malditas fotos. Homem de negócios com sua bela esposa. Aquilo sempre me dava vontade de vomitar. Enfim, eterna hipocrisia. Foda-se, também.
Segurei os dedos dele e o tirei disfarçadamente de minha cintura e os entrelacei com os meus. Ozzy me olhou, dando um pequeno sorriso, ele sabia muito bem que odiava que me tocassem, mas, ainda assim, gostava de fazer umas gracinhas às vezes na frente dos outros, só porque eu não podia reclamar com isso. Abusado.
Algo atraiu minha atenção naquele meio de flashes. Outro carro parando, um que eu conhecia. St. Jimmy.
“O que ele estava fazendo ali?”, quase perguntei aquilo em voz alta para meu marido, mas me mantive calada, apenas vendo um segurança abrindo a porta do Maserati preto e dourado, e logo saiu do lado do motorista com uma roupa social extremamente linda, em vinho, com uns desenhos em um tom mais escuro que não consegui identificar o que era de tão longe.
Ele fechou seu blazer com seus belos dedos cheios de anéis e passou a mão em seu cabelo, que estava perfeitamente penteado para trás. Maldito homem que parecia a porra de um Deus Grego! Queria chutar a sua cara para ver se ficava um pouco feio e facilitasse as coisas, mas aposto que ficaria sexy se tivesse uma cicatriz em seu belo rosto.
Não, nada disso. Péssima ideia.
Reparei que seu nariz não estava machucado com o soco que eu havia dado, mas também já tinha passado tempo para se curar, tinha mais de quinze dias desde nosso primeiro encontro.
Então fiquei olhando a forma como andava. Era despreocupado, vagando como se não se importasse com o mundo ao seu redor, atraindo todos os olhares em sua direção, deixando que nós, reles mortais, pudéssemos vislumbrar de seu pequeno sorriso, onde sua pele se afundou ligeiramente em suas bochechas, formando covinhas quase imperceptíveis, mas eu sabia que elas existiam quando seus lábios se estendiam e curvavam para cima sem o menor pudor.
era totalmente magnético e todo mundo podia ver isso naquele momento, enquanto caminhava. Um simples ato que me mostrou mais como me sentia em sua relação.
Ele me atraía de alguma forma, mesmo que isso não devesse acontecer, porque eu simplesmente não podia me dar àquele luxo. St. Jimmy tinha conseguido me prender em uma noite e eu o odiava profundamente por isso. Ainda conseguia ouvir suas palavras nitidamente em minha mente, onde declarava que não me prenderia apenas com seus olhos. Aquele maldito sabia o poder que tinha sobre as pessoas e eu não poderia jamais demonstrar que tinha aquilo sobre mim também — ou aquilo poderia ser a minha queda.
Seus olhos claros se encontraram com os meus e percebi seu maxilar travando com aquilo. Desviei o olhar e segui para dentro do enorme prédio espelhado junto de Ozzy, querendo sair um pouco da vista daqueles fotógrafos irritantes. Odiava ser uma celebridade para eles, só porque meu marido era um puta empresário famoso na cidade... pelo menos era isso que mostrava ser, ninguém sabia o que ele fazia por baixo dos panos.
— Por que o St. Jimmy está aqui? — Perguntei, assim que estávamos distantes de qualquer pessoa relevante que pudesse ouvir aquela conversa.
— O convidei. É bom para os negócios.
Estreitei meus olhos em sua direção com raiva daquela maldita frase.
— E não me avisou por quê? — Quis saber, já sentindo que meu rosto estava ficando na cor de meu vestido, bem vermelho.
— Pensei que tinha visto o nome dele na lista de convidados que lhe enviei. — Aquilo me fez morder a minha bochecha por dentro. — Você nem a abriu, não é?
— Suas listas de convidados são sempre enormes, cheia de gente desnecessária. Não perdi meu tempo para olhar. — Rebati, virando meu rosto quando um garçom parou ali para nos servir algum champanhe que não consegui ver o rótulo.
— Então pare de reclamar como uma garotinha mimada. Você está ficando vermelha. — Avisou e meus olhos se reviraram com aquilo. — Por que você não dá uma volta para esfriar a cabeça e fuma um daqueles seus cigarros fedorentos? Tente também se desculpar com o St. Jimmy. — Provocou, porque tinha ficado putinho por eu não ter lido sua maldita lista.
— Vou mesmo. Dá licença. — Falei, soltando sua mão com brutalidade, jogando-a praticamente contra sua perna.
Saí andando por entre os convidados, não fazendo questão de falar nenhum deles. Eram convidados de Ozzy e não meus, ele que fosse cordial com aqueles imbecis engravatados. Sabia que não gostavam de mim por causa do meu jeito, por eu não me importar quem eram e nem quantos números tinham em suas contas, e aquilo era ótimo, porque eu não gostava deles também.
Bebi o resto do champanhe e entreguei a taça vazia para qualquer pessoa que passou por mim. Parei em uma das enormes janelas de vidro e puxei minha bolsinha para frente, pegando meu cigarro fedorento, como Ozzy gostava de chamar, e acendi, tragando com força e soltando a fumaça para cima, enquanto batia meu pé no chão, irritada com aquela situação. Eu deveria contornar aquilo e tentar mesmo falar com aquela noite, mas não tinha me preparado para isso e odiava profundamente ser pega de surpresa, e Oswald sabia muito bem disso. Não custava nada ter me avisado, quando sabia que eu não tinha paciência para suas listas de mais de cinquenta páginas.
— Senhorita, não pode fumar aqui dentro. — Um dos seguranças parou do meu lado, olhando-me com aquela cara de bunda.
— Posso sim. Reclama com o Ozzy. — Mandei, colocando o cigarro entre meus lábios e tragando com força, encarando o sujeito.
— Vou ter que pedir para se retirar. — Aquilo me fez rir da sua cara, ele não sabia quem eu era.
— Querido, acho que você ainda não entendeu. Eu sou a dona da festa, vou fumar aqui dentro e onde mais eu quiser. — A festa não era minha, era do Ozzy, mas tanto faz.
— Desculpe, senhorita. Eu não sabia. — Lamentou-se, o que me fez rolar os olhos.
— Ok, tanto faz. — Gesticulei com a mão para sair dali logo, porque eu estava ficando mais irritada ainda.
O homem apenas assentiu com a cabeça e se retirou. Então me encostei na janela e fiquei ali, fumando, olhando os convidados, alguns até torciam o nariz para mim e a minha vontade era de dar o dedo do meio para eles com um belo sorrisinho em meus lábios. Cuzões.
St. Jimmy parou perto de um dos quadros que tinha uma enorme placa de acrílico o sustentando e ficou me olhando através dele. Seus olhos claros e intensos nos meus, fazendo-me respirar fundo, puxando um pouco mais de ar. Inalei mais fumaça e a soltei pelo nariz, sem desviar meu olhar dele.
Sim, sabia que deveria ir falar com ele, mas agora estava fumando, matando-me lentamente, enquanto o olhava, e às vezes deixava meus olhos descerem por aquele homem inteirinho.
Lambi meus lábios depois que traguei meu cigarro pela última vez e joguei a guimba dentro de um copo vazio que tinha ali perto em uma mesa alta. Soltei a fumaça para cima e comecei a caminhar por entre as pessoas, indo em direção ao , mas um sujeito parou ao lado dele e eles começaram a conversar.
Droga.
Seus olhos me encararam de relance e apenas desviei meu caminho, indo até o bar e pedindo um coquetel de frutas vermelhas. Fiquei ali, esperando minha bebida, até que vi a presença de St. Jimmy ao meu lado, mas não me olhou.
— Bourbon sem gelo. — Pediu ao outro barman que lhe atendeu.
— Você realmente gosta de coisas fortes... — falei, atraindo sua atenção.
— Desculpa, te conheço? — Sua pergunta ridiculamente infantil me fez morder minha bochecha por dentro.
— Não. — Sorri sem mostrar meus dentes para ele. — Te confundi com outro babaca! — Completei, pegando meu coquetel que foi servido e saí dali.
Passei por entre as pessoas tomando minha bebida com vontade pelo canudinho de papel colorido e parei ao lado de Ozzy. Ele me encarou e torceu o nariz, certamente por sentir o cheiro de cigarro vindo de mim.
Rolei meus olhos, entediada com aquilo.
— St. Jimmy não quer falar comigo... — anunciei, antes que me pedisse para fazer aquilo de novo. — Não tem como me desculpar com quem não quer desculpas.
— O que ele te disse? — Quis saber, olhando-me com atenção, mas apenas bebi meu coquetel. — Pare de sugar essa porcaria como se fosse leite.
Ergui uma sobrancelha.
— Mas é leite com vodka. — Rebati, rindo um pouco, vendo a cara que Oswald fez. — Ele fingiu que não me conhece, foi isso.
— Então se apresente novamente. — Disse como se fosse simples, arrancando-me um suspiro cansado. — Vamos lá falar com ele. — Segurou minha mão.
— Pare de me tratar como criança, Ozzy. Isso me irrita. — Declarei, voltando a beber meu coquetel.
— Muitas coisas te irritam. Mais uma não fará diferença. — E já foi me puxando.
Revirei meus olhos, dando uns passos de má vontade ao seu lado, até pararmos ao lado de , que parecia admirar uma das esculturas à sua frente — a minha favorita. Um homem nu, que parecia estar saindo de dentro da parede. A prisão de corpos humanos. Era lindo.
Seu corpo virou para nós, seus olhos ficaram exclusivamente em Oswald como se eu nem ao menos existisse. Poderia jogar minha bebida em sua cara naquele momento? Poderia, mas isso daria mais merda ainda.
— Olá, St. Jimmy. — Ozzy estendeu-lhe a mão e ele a pegou, dando um aperto firme.
— Olá, Ozzy. — St. Jimmy cumprimentou de volta.
— Quero lhe apresentar minha esposa. — Fiz uma careta com aquelas palavras sendo ditas e com a mão do velho me pegando pela cintura, quase me empurrando na frente dele. — Essa é .
Apenas bebi o resto do meu coquetel, fazendo aquele barulhinho irritante no fundo do copo e Ozzy o tirou da minha mão.
— Prazer em conhecê-la, . — estendeu a mão em minha direção, bem cínico, dava para ver em seus olhos que parecia se divertir com aquilo.
— Oi. — Respondi seca, olhando para sua mão e não a pegando, logo ele a recolheu.
Senti a mão de Oswald me apertando por causa daquele meu comportamento e dei a mínima para aquilo.
— Bela exposição, Ozzy. Gostei bastante dessa escultura, estou pensando em levá-la para colocar em minha sala. — Elogiou, quebrando o clima que tinha se formado ali.
— Fico contente que esteja gostando. quem escolheu todas as peças dessa noite. Ela tem um ótimo gosto para arte. Inclusive, essa foi uma de suas favoritas. — O velho começou a socializar como se eu não estivesse ali e me olhou agora nos olhos. — Você já falou com um dos agentes?
— Realmente, você tem um excelente gosto. A peça é deslumbrante. — Disse, encarando-me daquele jeito intenso dele, que me deixou arrepiada. — Ainda não falei com nenhum deles... — declarou, olhando para Ozzy agora.
— Se quiser, posso te mostrar outras bem interessantes também. — Soltei em um tom de provocação, atraindo o olhar dos dois, mas antes que me respondesse, meu celular tocou. — Licença. — Dei um sorrisinho sem sal.
Peguei o iPhone em minha bolsinha, já dando as costas e saindo dali, vendo o nome de Lana na tela. Uni as sobrancelhas por conta daquilo, a mulher não costumava me ligar, só mandava mensagens quando era extremamente necessário, o que queria dizer que deveria ter algo de muito errado acontecendo.
— Alô. — Atendi logo.
, desculpa estar incomodando, mas uma das meninas sumiu. — Aquilo me fez parar de andar no mesmo instante.
— Como assim sumiu, Lana? — Perguntei, tentando entender aquilo.
— Ela saiu ontem para um programa e não voltou. Os rapazes da esquina falaram que a placa era de Boston. — Aquela informação me fez travar o maxilar com força. — Não posso pedir para eles irem lá. — É, eu sabia disso, agora entendia o motivo de estar me ligando.
— Me manda a foto da placa. —Pedi, porque eles sempre tiravam quando uma das meninas saíam com os clientes, era algo que pedi para fazerem desde o começo. — Quem foi que sumiu?
— A Verete.
Apenas balancei a cabeça, mesmo que não pudesse ver, eu sabia quem era a garota.
— Ok, vou trazer ela de volta. — Avisei e encerrei a ligação.
Logo recebi a mensagem com a foto e olhei a hora que foi tirada nas informações. Já mandei a mesma para o meu contato, pedindo para rastrear para onde o carro tinha ido e lhe passando alguns detalhes adicionais.
Guardei o celular de volta na bolsa e voltei para Ozzy, que continuava conversando com St. Jimmy. Toquei de leve no ombro do velho e levei meus lábios até seu ouvido.
— Preciso resolver alguns assuntos, não sei que horas vou voltar. — Declarei apenas para que ele me ouvisse e Oswald me olhou.
— Tudo bem. — Só falou isso, lendo em meus olhos que tinha dado merda com uma das minhas garotas.
— Tchau. — Acenei para , que balançou a cabeça.
— Foi um prazer lhe conhecer! — Disse de um jeito falso e eu sorri para ele da mesma forma.
Então sai dali apressada, seguindo para o lado de fora já mandando mensagem para o Javier trazer o carro para frente do prédio, pois eu precisava ir para casa, enquanto bufava irritada com aquela bosta toda.
Se tinha uma coisa que eu odiava que fizessem, era mexer com minhas garotas. Toque na minha mercadoria, mas não nas minhas meninas! Bando de babacas que não sabiam desfrutar das coisas de forma educada, tinham que achar que eram suas e fazerem o que tivessem vontade. Imbecis de merda mesmo.
Assim que saí, Javier já estava na porta, os flashes voltaram a bater e eu grunhi de raiva com aquilo, querendo varar minha mão naquelas câmeras infernais. Entrei pela porta de trás, jogando-me no banco e puxando meu vestido com força, batendo a porta igualmente. O motorista não falou nada, apenas segui para casa, enquanto eu fumava um cigarro atrás do outro, impaciente para chegarmos logo, enquanto pensava nas coisas. Em St. Jimmy, principalmente.
Ai, ele era um babaca! Eu não deveria nem estar me preocupando com nada! Mas seu desprezo tinha me incomodado além da conta e a vontade que sentia era de enfiar meu punho fechado dentro da sua boca.
Bufei, revirando meus olhos com aquele pensamento.
O carro parou e eu saí dele em um pulo, já abrindo a porta de casa com força, fazendo com que batesse na parede e causasse um barulhão. A governanta já apareceu assustada, olhando-me sem entender o que estava acontecendo, mas não falou nada, apenas foi lá e fechou a porta delicadamente.
Subi para meu quarto e arranquei aquele vestido, já jogando a minha bolsinha em cima da minha cama e segui para meu closet. Peguei apenas uma calça jeans preta e uma camiseta da mesma cor, vestindo rapidamente e calcei um par de coturno, dobrando a barra da calça, deixando um pedaço da minha canela à mostra. Coloquei um par de luvas de um couro bem fino, não queria sujar minhas unhas, porque sangue era uma merda de tirar dos cantinhos.
Abri uma gaveta e apertei um botão que tinha no fundo da de cima, fazendo uma porta se abrir no fundo do armário. Empurrei meus casacos e entrei ali. A sala se acendeu quando pisei nela por conta do sensor de movimento. Era o lugar onde eu guardava meus brinquedinhos.
Parei na frente de um mostruário repleto de pistolas de todas as cores e tipos. Peguei uma cromada toda desenhada com arabescos e coloquei sobre a mesa de centro, e abri a gaveta ali embaixo, pegando alguns cartuchos recarregados dela.
Virei agora para outra mesa, que tinha ali com o tampo de vidro, olhando as facas que tinham embaixo, apanhei duas karambit totalmente pretas e me virei, já abaixando o vidro. Coloquei-as junto com as outras coisas e fui pegar os coldres para as armas. Os prendi em minhas pernas e cintura, mas parei olhando os de ombro. Ponderei com a cabeça e o coloquei, pegando duas glocks e as prendendo ali.
Vai saber como seria minha noite e estar armada nunca é demais.
Coloquei as karambit em minhas coxas, uma de cada lado e a taurus em minha cintura. E, por fim, peguei também dois socos ingleses, guardando-os nos bolsos — eu não ia machucar a minha mão batendo na cara de gente bosta.
Prendi meu cabelo laranja em um rabo de cavalo alto e senti uns fios ficarem soltos na nuca por ele estar curto. Foda-se. Deixei meus dedos finos passarem por meu pescoço e encarei meu reflexo no espelho que tinha dentro da sala, vendo como eu estava. Perfeita, eu diria. Pronta para fazer um babaca implorar pela própria vida.
Virei e saí, fechando a porta quando passei por ela.
Peguei meu celular e cigarro dentro da bolsa, e vi que tinha uma mensagem do meu contato me passando o endereço de onde o carro estava e por onde tinha passado nas últimas vinte e quatro horas. Ótimo.
Desci para o galpão onde ficavam os carros. Eu poderia ir com meu Bugatti, porém, se o arranhassem, eu ficaria com um ódio eterno. Então caminhei apressada até meu Mustang 68 SS preto. Entrei nele e abaixei o quebra-sol, fazendo a chave cair em cima das minhas coxas. Enfiei-a na ignição e dei partida, saindo lentamente da vaga e seguindo até o portão, que se abriu quando apertei o botão do controle no chaveiro.
Segui para Boston o mais rápido que consegui, parando no motel safado onde o cara tinha estado. Desci do Mustang com o cigarro entre os lábios e segui até a recepção, empurrando a porta que logo tocou um sininho me denunciando. Não tinha ninguém.
Puxei o livro de registro, vendo o nome de Verete ali e a hora de entrada. Um garoto apareceu, olhando-me por inteira.
— Posso ajudar? — Perguntou, torcendo o nariz por causa da fumaça do meu cigarro.
— Uhum... — falei, tirando o rolinho branco de meus lábios e virei o livro para ele. — Qual quarto que ela estava? — Apontei para o nome da menina.
— Não podemos dar informações dos hóspedes.
Aquilo me fez rolar os olhos.
— Amigo, eu não estou pedindo... — disse simplesmente. — Ela trabalha para mim, é uma das minhas garotas e está desaparecida desde ontem. Você fala qual é o quarto que ela esteve ou vou arrombar todas as portas desse motel, e acho que não vai querer que eu troque tiros com a polícia a qual tenho certeza que vão chamar. Então, me fala logo qual é a porra do quarto. — Sorri amigavelmente para ele, que já se sentou ao computador, enquanto traguei meu cigarro com força.
— Quarto 29. Final do corredor do segundo andar. Ainda não deram check-out e não foi feita limpeza no quarto por estar com a placa de “não perturbe”. — Avisou, apenas me virei e saí andando, puxando a porta com força.
Joguei a guimba do meu cigarro na poça de água que tinha ali e segui até o quarto 29, já sacando a minha taurus, destravando-a e engatilhando, caso precisasse de atirar logo. Parei na frente da porta e bati, encostando minha cabeça de lado dela para ver se conseguia ouvir alguma coisa lá dentro e tudo que escutei foi música tocando, nada além disso.
— Verete, sou eu. Abre a porta! — Pedi e nada. — Verete! — Chamei de novo e fui olhar pela janela, mas lá dentro estava escuro e a cortina estava fechada.
Então voltei para a porta e girei a maçaneta, estava aberta. Empurrei ela lentamente para que se abrisse e não consegui ver nada ali dentro. Acendi a luz, vendo o cômodo todo bagunçado, tipo, muito mesmo. Até o abajur estava jogado no chão, mas não tinha ninguém ali dentro.
Respirei fundo e caminhei por ali, abaixei-me e olhei embaixo da cama achando um par de saltos ali, peguei-o, vendo o número e o soltei, constatando que era de mulher por ser pequeno.
Levantei e fui até o banheiro, ligando a luz. A cortina do box estava fechada.
Não esteja morta, Verete, pedi umas cinco vezes mentalmente e fui em passos lentos até lá, puxando logo a cortina.
Vazio.
Suspirei aliviada e saí dali, olhando no armário também. Vazio. Menos mal, ainda tinha chance de a garota estar viva.
Mandei-me daquele motel e fui para o outro endereço que o meu contato tinha me mandado, estacionando na frente de um enorme portão e ao fundo era um galpão. Bufei com aquilo. Aquela porra deveria pertencer à Ramsey. Ela comandava tudo naquela região. A questão ali era se ela sabia o que estava acontecendo ou não. Poderia entrar de forma amigável e perguntar, mas o tanto que odiava aquela mulher não cabia em mim tinha hora. E não duvidava nada que também pudesse ser uma provocação, aquela peste amava me arrancar a porra do juízo.
Dane-se essa porra. Sabia que entrar ali sem permissão poderia acarretar uma guerra entre nós, mas não era como se aquilo já não existisse. Então fui até a mala do carro e peguei o pé de cabra que tinha ali dentro. Então arrebentei a fechadura do portão, abrindo-o.
Entrei no lugar e corri em passos silenciosos até o galpão, indo para a parte de trás dele e abri a porta que tinha ali com o pé de cabra. Segui em passos lentos, agora ouvindo umas conversas paralelas.
Avistei um sujeito parado ali perto, então só bati com o pé de cabra na lateral de sua cabeça com toda a minha força, fazendo com que caísse do chão já morto ou apenas desmaiado, tanto faz. Passei por cima do corpo e vi outro cara, estava fumando encostado em umas caixas grandes. Então peguei minhas karambit, uma enfiei em seu ombro, puxando-me para cima, passando as pernas já por sua cintura, e a outra rasguei seu pescoço, fazendo o sangue jorrar e seu corpo caiu para frente, e logo puxei minhas pernas para trás, apoiando meus pés na base de suas costas antes de atingir o chão.
Fiquei ali, abaixada, vendo se alguém tinha nos visto, mas ninguém pareceu notar.
Levantei andando pelo lugar guardado minhas karambit e achei Verete. Ela estava presa por correntes, ainda estava de pé, ou quase isso. E estava toda machucada.
Travei meu maxilar com aquela porra.
Fui até lá e tentei soltá-la, mas precisava dar um tiro nas correntes. A garota se mexeu, olhando por cima de seu ombro e me vendo ali, e então sorriu. Fiz sinal para que fizesse silêncio e pela forma que seus olhos se abriram mais, eu soube que tinha alguém vindo por trás de mim naquele momento.
Sorri de lado.
Já me virei, abaixando e vendo um cara tentando me socar, e soquei seu estômago, fazendo se curvar a cair no chão por causa depressão que veio para cima de mim, e logo atrás tinha outro homem que vinha para me socar também, mas lhe dei um belo chute no saco e bati com minhas mãos abertas em seus ouvidos, deixando-o totalmente tonto. Dei um giro e um salto, chutando a lateral de seu rosto, fazendo com que caísse no chão. Virei de novo a tempo de ver o que eu tinha socado antes vir em minha direção, então bati com a minha mão aberta em sua garganta, tirando seu ar, e peguei uma minha karambit com a outra mão e passei em seu pescoço, fazendo o sangue espirrar em meu rosto e peitos.
Senti uma mão agarrar minha coxa. Olhei para baixo e o homem tentou me derrubar, mas só virei e enfiei a karambit em sua nuca e puxei com força, sentindo a lâmina pular no osso da sua coluna com isso. Empurrei-o para que caísse no chão.
Guardei a faca e peguei meus socos ingleses. Mais um homem veio se aproximando.
Ele me pegou pelo pescoço com as duas mãos e isso me fez socar seu nariz, e quando foi para trás, soquei sua costela, chutei seu joelho e o segurei pelo casaco para que não fosse para longe, então bati com o solado da minha bota por dentro do seu joelho, fazendo-o se ajoelhar. Soltei seu casaco e dei a volta por ele, agarrando-o pelo cabelo e o puxei para trás com força, acertando com meu joelho em sua nuca, quebrando seu pescoço.
Alguém me agarrou por trás, dando-me uma chave de pescoço. Joguei meus pés para cima e segurei nos braços da pessoa com força e depois desci meus pés juntos por entre as pernas do idiota, puxando todo o nosso peso para frente e fazendo ele rolar por cima de minhas costas e cair na minha frente, já me soltando. Peguei seu braço e o torci com força, quebrando-o quando tentou pegar sua arma, e isso o fez deitar no chão. Pisei com força em sua garganta e bati com o outro pé o bico da minha bota no chão, fazendo uma lâmina pular do calcanhar, então a enfiei em seu ouvido com força, fazendo-o gritar. Tirei-a e a bati no chão, fazendo retrair quando tinha apertado o calcanhar dela com o bico da outra.
Abaixei-me quando ouvi o barulho de tiro e guardei os meus socos ingleses, já pegando minhas glocks, correndo e me escondendo. Começaram a atirar. Atirei de volta, acertando uns filhos da puta. Então aproveitei e atirei na corrente que prendia Verete para ela sair do meio do tiroteio. A garota se arrastou pelo chão e foi para um canto, encolhendo-se lá. E nesse meu segundo de distração, um homem me pegou pela cintura, levantando-me muito alto e me lançou no chão com força. Aquela porra me arrancou o ar, mas não pensei muito e atirei bem no meio da sua cara, sentindo seu sangue espirrar em mim.
Coloquei-me de pé, puxando o ar, sentindo minhas costas doerem, mas não parei. Saí correndo dali para atirar em mais quem estivesse no meu caminho até que eu chegasse em Verete.
Parei ao seu lado, vendo se estava bem. Passei a mão em seu rosto e encostei nossas testas.
— Você sabe atirar? — Perguntei e ela concordou com a cabeça. — Ótimo. Toma. — Entreguei uma glock para ela. — Está conseguindo andar?
— Mais ou menos... — respondeu, olhando para as próprias pernas que estavam roxas.
— Ok, eu te ajudo, mas você atira. Confio em você, garota. — Pisquei para ela, que logo engoliu em seco.
Coloquei-me de pé e a puxei para cima, passando seu braço ao redor do meu pescoço e segurando com força seu pulso. Então começamos a andar. A garota foi atirando nos caras que conseguia, enquanto eu nos escondia para conseguir sair logo dali. Até que um homem parou na nossa frente e quando Verete foi atirar, a arma deu vácuo. Sem munição.
Meus olhos se arregalaram com aquilo, então puxei a minha taurus, mas não tinha sido rápida o suficiente, porque ele atirou na garota, fazendo-a cair para trás. Aquilo me deu muita raiva e eu meti três tiros na sua cabeça.
— Merda, Verete! — Disse, abaixando-me e vendo sua barriga sangrando agora. — Aguenta, ai, caralho. — A peguei de novo como antes. — Pressiona isso e não para.
— Eu não sabia que levar um tiro queimava tanto... — declarou com uma voz de dor.
— Queima como o inferno! — Falei com um sorriso de lado. — Mas você vai ficar bem.
Então a puxei, conseguindo sair do galpão. Andei com a gente o mais rápido que consegui até meu carro e quando finalmente chegamos, coloquei a garota deitada no banco de trás. Uns homens já corriam até nós atirando e eu atirei de volta antes de entrar no lado do motorista e sair dali cantando pneus.
Dirigi o mais rápido que meu Mustang conseguia, ouvindo os gemidos de Verete no banco de trás, e assim que atravessei a fronteira de Boston, parei em um posto.
Desci do carro e fui até a mala, pegando uma caixa que tinha ali dentro. Abri a porta de trás e entrei, colocando-me entre as pernas de Verete e tirando a mão de sua barriga. Liguei a luz interna. Eu precisava estancar aquilo ou ela ia morrer até chegarmos na cidade.
Joguei a caixa no chão do carro e peguei álcool e um mordedor.
— Vai queimar ainda mais. Morde isso. — Enfiei o mordedor em sua boca.
Assim que ela o mordeu, joguei o álcool em sua ferida para limpar um pouco e sequei com um pano que tinha dentro da caixa, ouvindo a garota berrar de forma abafada. Tirei minhas luvas e peguei uma pinça, então a enfiei lá dentro, ouvindo os gritos agonizantes de Verete. Fazer o quê? Eu tinha esquecido de abastecer as ampolas de anestesia.
Senti a ponta da pinça bater em algo e a virei, abrindo e pegando a bala, segurando sua barriga, então puxei de uma só vez. Verete urrou de dor e logo coloquei minha mão em cima do buraco, segurando-o um pouco para aliviar com a pressão. Com a outra mão, apanhei o álcool e joguei mais um pouco, então tampei com o pano.
— Faz pressão. — Pedi.
Quando sua mão trêmula pegou o pano, soltei-o. Minhas mãos sujas vasculharam a caixa em busca da agulha e da linha, achando rapidamente. Assim que consegui colocar a linha, voltei até sua barriga e limpei o ferimento o máximo que deu, então o suturei, ouvindo os gemidos e gritos da garota. Minha respiração estava forte, mas minha mão firme.
Se tinha uma coisa que meu pai havia me ensinado, era ter frieza nesses momentos, pois ele tinha me feito suturar todos os seus ferimentos depois que fiz oito anos.
Ainda conseguia me lembrar das lágrimas de pavor escorrendo em meu rosto, minhas mãos pequenas tremendo, enquanto ouvia sua voz grossa me mandando parar com aquilo e prestar atenção no que fazia. E foi assim até as lágrimas pararem e minhas mãos ganharem firmeza, depois continuou por anos até ele morrer, mas depois disso eu também não parei, sempre suturava minhas meninas e meninos quando precisavam. Tinha ficado rápida com tanta prática e meus nós tinham ficado perfeitos.
Cortei a linha assim que acabei e encarei Verete, que suava frio, enquanto seus olhos de oceanos me encaravam vermelhos por causa de seu choro. Seu corpo tremia.
Sorri de leve para ela e levei minha mão suja com sangue até seu rosto, acariciando-o para que ficasse calma, já tinha acabado. Tirei o mordedor de sua boca, vendo como seus lábios finos estavam inchados agora e até mesmo machucados. Seus olhos se fecharam de leve e ela suspirou.
— Você vai ficar bem. — Avisei, deixando meu corpo ir para frente e toquei de leve sua testa suada, e isso a fez respirar fundo. — Ninguém faz mal para minhas meninas. — Sussurrei para ela. — Qual era o nome dele?
— Era ela. Ramsey. — Murmurou com a voz trêmula, fazendo-me travar o maxilar.
— O que ela fez? — Quis saber, afastando-me um pouco e olhando em seus olhos.
— Me levou para o motel, nós transamos e quando acordei, já estava naquele galpão, amarrada. — Concordei com a cabeça, apenas ouvindo. — Ela queria saber de você e do St. Jimmy. — Uni as sobrancelhas. — O motivo de você ter ido atrás dele.
— O que você disse? — Questionei com meus lábios se retraindo.
— Nada. Não sabia nem que você estava com ele. — Seus olhos encaravam os meus tons escuros. — Então ela me bateu achando que estava escondendo as coisas.
— Não estou com ele. — Declarei rapidamente. — Vou cuidar disso depois. Agora fica bem, ok? — Pedi, afastando-me um pouco e passando meus dedos pelo seu rosto de novo.
— Obrigada! — Agradeceu, dando um pequeno sorriso e eu o retribuí.
Aquilo não era nada bom. Ramsey sabendo que eu tinha ido atrás do St. Jimmy... Aquela filha da puta ia me foder! Precisava pensar em algo para ver se as coisas andavam para algum lado pelo menos.
Peguei um analgésico na caixa e entreguei para Verete tomar, que iria aliviar um pouco a dor que estava sentindo.
Saí do carro e bati a porta, indo para o lado do motorista e entrando de novo, já dando partida. Peguei um cigarro e o acendi, tragando com força, enquanto voltava para a estrada, indo para o Òlah Bliss, enquanto pensava o que tinha rolado naquela noite e que Ramsey estava se metendo onde não tinha sido chamada.
Eu sabia o que estava fazendo. Queria que o cerco se fechasse para nós, mas eu não iria permitir que isso acontecesse, nem que realmente começasse uma guerra pelos territórios, mesmo que fosse uma delícia tirar Boston de suas mãos nojentas.

Assim que cheguei na cidade, tive que passar pelo centro dela para chegar no Òlah Bliss e avistei de longe o Maserati de na rua vindo em direção ao meu naquela via de mão dupla. Seus olhos intensos ficaram fixos no meu carro, encarando-me, enquanto os meus faziam a mesma coisa, sabendo que ele estava me vendo toda suja de sangue mesmo por trás do meu vidro escuro. Não tinha muita expressão em seu rosto, assim como no meu. Apenas nos encaramos sérios naqueles segundos que nossos veículos se cruzaram e olhei pelo retrovisor ele indo embora.
Franzi meus lábios, porque não era nada bom ele ter me visto naquele estado. Não queria que tivesse ideia de quem eu era. Queria que achasse que era só a garota do Ozzy, como todo o resto. Era bom para os negócios assim, para que isso não interferisse nas minhas coisas e nem nas do velho. Não era bom para sua reputação ter uma esposa que passeava pelas ruas da cidade parecendo Carrie, a estranha. Isso trazia problemas, muitos, por ele ser uma pessoa pública. Esperava que aquilo não atrapalhasse nossos planos.
Parei na frente do Òlah Bliss e Lana já apareceu na frente dele rapidamente. Desci do Mustang e abri a porta de trás, mostrando Verete ali. O olhar da mulher desceu por todo o meu corpo e depois para a garota, já chamando os garotos para pegá-la. Esperei que o fizessem e bati a porta, já seguindo para dentro do lugar.
As meninas me olharam assustadas, o estabelecimento estava fechado por causa do sumiço da Verete.
Passei pelo balcão e peguei um copo de shot, enchendo de tequila. Virei aquilo de uma só vez, fazendo uma careta, vendo Lana parando na minha frente, estendendo-me uma toalha, a qual peguei e passei em meu rosto, pescoço e peito, limpando-me daquele sangue melado que estava colado a minha pele, o cheiro me deixava um pouco enjoada agora.
— Nenhum veículo de Boston está autorizado a tirar as garotas daqui, ok? — Pedi e a mulher concordou com a cabeça. — Foi a Ramsey. E agora, provavelmente vai tentar nos atacar de novo, então, por favor, tenham atenção redobrada.
— Tudo bem! — Disse com um suspiro. — Sua mãe não gostaria de nada disso se pudesse te ver agora. — Aquilo me fez dar um sorriso triste.
— Na época dela não tinha Ramsey. — Lembrei-a, servindo-me de mais uma dose de tequila e virando de uma só vez.
— Ela nunca quis essa vida para você, . Sempre disse para seguir seus próprios passos e não os do seu pai.
Suspirei pesado, apoiando minhas mãos no balcão e esticando meus braços, abaixando minha cabeça.
— Eu sei disso. Mas queria que eu fizesse o quê? Fui criada no meio disso. Meu pai me ensinou a ser desse jeito, não foi como se tivesse muita escolha. — Comentei com a voz baixa.
— Nós sempre temos escolhas. — Aquilo me fez erguer a cabeça, encarando bem seus olhos. — Você é brilhante com negócios e ótima comerciante, podia abrir qualquer tipo de comércio que isso lhe traria dinheiro.
— O negócio não é dinheiro, Lana. — Confessei a ela, dando um sorriso fraco. — É vocês. Como que eu os deixaria? — Isso a fez sorrir de forma doce.
— Nós teríamos que nos virar sem você, mas iriamos sobreviver. — Sua mão segurou a minha e fez um carinho leve. — Também iríamos sentir muito a sua falta. — Deixei meu polegar passar pelo seu.
— Vocês são a minha família. Tenho medo que se percam se eu não estiver aqui, principalmente os garotos. — Prendi meus lábios em uma linha reta.
— Os rapazes são bagunceiros demais, adoram uma briga, mas eles têm juízo. — Aquilo acalmava um pouco meu coração. — Pense sobre isso. Você tem o mundo nas suas mãos, não precisa dessa vida se não quiser.
— Vou pensar. — Prometi.



Capítulo 02

— Eu não quero ir, Ozzy! — Reclamei pela milésima vez, encarando-me no espelho com aquele vestido.
— O St. Jimmy nos convidou. Você vai sim.
Aquilo me fez revirar os olhos de novo e de novo.
— Larga de ser mimada. E vê se dessa vez peça desculpas para ele e não haja que nem uma criança emburrada! — Disse naquele tom mandão e lhe dei língua pelo reflexo do espelho. — . — Soltou em advertência.
— Ele não facilita. — Rebati bem emburrada, cruzando meus braços.
— Então facilite para ele! — Falou como se fosse simples.
— Claro, olha a minha cara de quem facilita para macho. — Comentei, fazendo Oswald rir. — Qual é, Ozzy?! Por que não pode ser do meu jeito?
— Porque seu jeito, o seu punho fechado, acabou no nariz do St. Jimmy. Então, agora vamos! — Saiu andando, deixando-me sozinha no meu quarto.
Grunhi irritada e peguei minha bolsinha em cima da cama, e marchei para fora, indo atrás de Ozzy. Aquilo era ridículo, sério! Por que ele não me deixava fazer do meu jeito? Teria dado certo, se o não fosse um babaca também. Ai, que ódio disso, viu.
Fomos para a frente da casa, onde Javier já nos esperava no carro. Entrei, ou melhor, me joguei mesmo de má vontade no banco de trás e cruzei meus braços, sentindo o olhar de Oswald em mim, mas o ignorei totalmente. Queria pegar um cigarro e fumar até meus pulmões se engasgarem com a fumaça, só que isso iria fazer com que brigássemos antes mesmo no clube do St. Jimmy.
A ideia me fazia querer dar uns berros de raiva, isso sim.
Então apenas fiquei de braços cruzados a viagem inteira, sem falar nada, apenas ouvindo Ozzy ficar tagarelando sobre assuntos que me deixavam totalmente entediada. Ele era a pessoa que resolvia os acordos de forma cordial, cheio de classe, com palavras bonitas. Eu era quem resolvia as coisas por baixo deles, quem pegava a porra da sujeira e se lambuzava inteira com ela, que não tinha medo de enfiar a mão na massa e faria de tudo para manipular as coisas para que fossem tudo ao nosso favor. Era boa em controlar o mundo ao meu redor. Por isso precisávamos que eu me aproximasse do St. Jimmy.
Paramos na frente do clube Luvli, a porta estava lotada de gente querendo entrar. O lugar chamava bastante atenção, certamente o DJ e as bebidas deveriam ser bons. O que me despertou certa curiosidade para ver como era lá dentro. E isso me fez abrir a porta antes que Javier o fizesse, e já fui andando na frente, deixando Ozzy para trás, pouco me importando com ele quando tinha me feito passar raiva antes de sair de casa. Ele queria que eu viesse? Ok, ali estava eu.
Parei na frente do segurança, que me olhou por inteira e esperei logo que me deixasse passar, porque não iria ficar naquela fila enorme nem por nada. Falei meu nome e o homem passou um rádio para alguém. Não consegui ouvir a resposta, mas ela foi me dada assim que tirou a cordinha que me impedia de passar e me deu passagem. Oswald tocou minha cintura, entrando comigo, mas continuei fingindo que ele nem sequer existia.
Meus passos cessaram, quando me deparei com o enorme lugar que parecia o verdadeiro coliseu. Era oval e os camarotes ficavam em cima, em cabines separadas um em cima do outro, e ao lado, como se fossem apartamentos que cercavam o lugar, e tinha uma passarela bem no meio que ligava de um ponto ao outro, embaixo dela, no centro de tudo, o DJ ficava em um piso suspenso, que ficava girando lentamente acima da pista de dança que era gigante. Um pessoal fazia malabares com fogo em umas cabines de vidro nas paredes debaixo e o bar cercava toda a pista, e certamente lá em cima o pessoal deveria ser servido por garçons.
— Vem, vamos subir. O St. Jimmy reservou um camarote para nós! — Ozzy falou em meu ouvido, já me puxando pela cintura para seguir com ele.
— Não. Eu não vou ficar em uma caixa de vidro dançando sozinha. Vou ficar aqui embaixo. Se quiser subir e ficar lá sentado, ok, mas vim aqui para me divertir. — Anunciei, já tirando sua mão de minha cintura.
— Faça o que quiser. Geniozinho difícil. — Reclamou e saiu andando.
Dei-lhe língua, mesmo que não tivesse visto, e fui me enfiando entre as pessoas.
O lugar estava extremamente lotado, mal dava para se mexer ali, mas não me importei. Eu gostava daquilo. Da bagunça, mesmo que não curtisse as pessoas me tocando, mas ficar dançando sozinha em um camarote era muito sem graça. Os outros me esbarrando me fazem rir naquele momento, mas achava ótimo como se desculpavam com isso também. Até que eram educadinhos.
Joguei meus braços para cima e fiquei jogando meu corpo de um lado para o outro dançando, rindo e cantando. Passei os dedos em meus fios laranjas que estavam em tom de neon, sentindo eles grudarem já em meu rosto por estar começando a suar. Sorri com aquela sensação e desci com a mão por cima de meu vestido, que apesar de ser curto, era largo na parte de baixo, feito de um tecido leve e bem gostosinho.
Até que meus olhos pegaram algo dentro de um dos camarotes mais baixos: St. Jimmy. Ele estava com aquele olhar intenso dele me encarando, vendo como me mexia. Aquilo só me fez passar a mão em meu cabelo, jogando-o para trás e deixei meus dedos virem e passarem pela lateral do meu rosto, e depois em meu pescoço, descendo pela minha clavícula e indo para o meio de meus peitos no decote cavado. Isso tudo sem tirar os olhos de .
Podia ser loucura, mas parecia que aquele seu olhar tinha ficado mais pesado sobre meu corpo.
Sua mão levou o cigarro que tinha entre seus dedos até seus lábios, tragando-o lentamente, estreando o olhar em minha direção, deixando o cigarro queimar bem, então o tirou de seus lábios e logo a fumaça saiu pelo seu nariz, pairando ao seu redor. Maldito ser sexy do inferno. Ele podia simplesmente se engasgar com aquela fumaça, né? É, bem que podia sim.
Virei-me para não olhar para ele, porque eu não ia ficar mesmo encarando. Para quê? Eu sabia o que acontecia depois e não estava afim que ficasse rodado meus pensamentos. Então continuei dançando ali, na minha, totalmente despreocupada, e até mesmo depois fui comprar uma bebida no bar.
Voltei e decidi ficar bem no meio da pista, porque o chão suspenso do DJ ficava bem em cima e isso não permitiram que ninguém dos camarotes me visse ali, independentemente do nível ou lado que estivesse. Meu vestido já começava a ficar colado no meu corpo e eu não parava de dançar. Talvez quando meus pés começassem a doer naquela sandália eu poderia enfim parar, mas enquanto isso, nem morta!
Assim que girei e abri meus olhos, dei de cara com . Então encarei minha bebida. Será que tinha drogas nela? Ou ele estava mesmo ali com sua camisa aberta até a altura de sua barriga, deixando seu belo peito forte à mostra, juntamente com suas tatuagens e o colar de cruz caído no meio dele?
O seu perfume invadiu meus pulmões com força e isso me fez constatar que era real mesmo. Minha língua passou pelos meus lábios e meus olhos subiram até encontrar seus tons claros, vendo que me olhava com aquela intensidade que sempre tinha em seu olhar. Ignorei totalmente o arrepio que aquilo me causou e apenas tomei um gole do meu drink, mexendo mais o meu corpo na batida da nova música que tocava. Então St. Jimmy entrou na minha e começou a dançar também, mas sem me encostar, tinha uma distância segura, porém, relativamente perigosa entre nós.
Sorri de leve e relaxando aos poucos, porque, sim, eu tinha ficado levemente nervosa por ele ter aparecido ali do nada. Não gostava de ser pega de surpresa, mas uma parte minha queria de fato que tivesse exatamente onde estava, aquilo era perfeito! E eu poderia jurar que estava ficando doida, mas achava que tinha visto um sorriso mínimo se formar naqueles lábios perfeitos que aquele desgraçado tinha.
Eu tentava a todo custo achar um defeito em seu corpo, mas acho que o defeito estava exatamente ali, não ter um. Dava até raiva. O filho da puta além de ser gostoso, ainda dançava bem. Constatar aquilo me fez morder a ponta da minha língua.
Meu olhar caiu para seu peito, que estava brilhante por causa do suor que começava a tomá-lo. Então apertei o copo em minha mão para ocupar meus dedos, que de forma malcriada queriam tocar sua pele.
Em uma solução fácil e prática, apenas me virei de costas para ele, jogando meu cabelo para o lado e movendo meu quadril de um lado para o outro, sem a menor preocupação com nada ao meu redor e se Ozzy poderia presenciar aquela cena. Queria que ele se fodesse quando me encheu a porra do saco para vir nesse clube.
Olhei por cima do meu ombro no exato momento que senti chegando mais perto pelo calor do meu corpo ter ficado maior por causa do pouco espaço que tinha agora. Soltei o ar pelos meus lábios, achando que ele iria segurar minha cintura e me puxar contra seu peito forte, mas não, ele nem sequer esbarrou em mim, apesar da distância quase inexistente naquele momento.
Passei a mão em meu cabelo e joguei um pouco o pescoço para o lado, enquanto passava a língua em meus lábios, e logo um sorriso veio ao sentir sua respiração pesada contra a minha pele, causando-me arrepios.
— Está afim de se divertir de outro jeito? — Aquela voz rouca e estupidamente sexy perguntou em meu ouvido.
— Qual jeito? — Quis saber, virando meu rosto para o lado que o dele estava, e isso nos deixou ridiculamente perto.
— Não teria graça se eu contasse. — Sorriu de lado de um jeito safado, deixando-me curiosa.
— Isso é jogo sujo. — Rebati.
— Ah, não é mesmo. — Riu nasalado, olhando-me, e seu olhar desceu para meus lábios. — Então?
— Vamos logo! — Disse por fim, entregando-me à minha curiosidade e clamando que não me ferrasse por causa daquilo.
Virei e ele saiu andando pelo meio das pessoas. Apenas o segui. Não como em sua festa, onde segurou minha mão, não, dessa vez sem contato. Era bem melhor assim, fazia-me ficar no controle da situação e eu gostava bastante disso.
Passamos por uma porta, que nem ao menos tinha notado a existência até o momento, e descendemos uma escada, onde a limitação vinha debaixo para cima em tom azul piscina, deixando minha roupa na mesma cor.
Pelo menos o caminho não era estranho e nem parecia que estava me levando para um lugar tão bizarro.
O máximo que conseguia imaginar, era uma parte reservada da boate para sexo, logo quando parecia que adorava isso. Mas fui surpreendida quando um segurança abriu uma porta dupla para nós, revelando ali um cassino. O lugar parecia ter vindo direto de Vegas, na verdade, era bem parecido com os salões que tinham por lá.
St. Jimmy me olhou, esperando pegar minha reação, e tudo o que fiz foi erguer uma sobrancelha para ele. Então voltamos a caminhar, agora mais lentamente entre as pessoas que o cumprimentavam com sorrisos e acenos. Ele era realmente uma estrela por onde passava? Aquilo me fez rolar os olhos em um tédio genuíno. Até que paramos na frente do caixa.
— Um milhão para nós. — Pediu e a caixa toda tatuada, linda pra caralho, deu-nos as fichas em duas maletinhas prateadas. — Onde você quer começar? Dados? Roleta? Poker? — A última opção fez praticamente meus olhos brilhantes.
— Poker, sem dúvidas! — Falei e já fui andando para uma das mesas, St. Jimmy se quiser que me seguisse.
Sentei-me em uma das mesas que tinha lugar vago e já peguei meu cigarro, acendendo-o com meu zippo de estimação. Ele era preto, mas tinha uma placa de ouro no meio na parte da frente com um besouro em steampunk esculpido, suas asas eram abertas e no meio dele, o corpo em si, tinha engrenagens movidas a vapor. Era algo diferente e peculiar, que o tornava um dos itens que eu mais gostava de possuir.
Soltei a fumaça do meu cigarro para cima e abri a minha maleta, já colocando minhas fichas para fora, separando em pilhas pelas cores e valores, colocando de forma decrescente em uma linha reta na minha frente em perfeita simetria umas com as outras.
Levei o cigarro até meus lábios, deixando-o ali por alguns segundos, tragando lentamente, até que ergui os olhos e vi me encarando do outro lado da mesa. Aqueles olhos claros intensos cravados em minha carne como se pudesse passar através dela. Eu queria entender como alguém podia ter o olhar tão penetrante daquele jeito, mas a resposta era bem clara. Melhor não perguntar.
A mesa estava completa, então St. Jimmy ficou de fora algumas rodadas apenas observando, certamente tentando me ler para saber quando blefava ou não. Como eu me movia quando tinha uma mão boa ou ruim. O jeito que meus olhos piscavam por causa das cartas que eram abertas sobre a mesa. Então apenas me diverti com aquilo, intercalando as formas como me movia de propósito em certos momentos, a fim de fazer com que ficasse confuso e não soubesse o que realmente se passava na minha mente naquele momento.
Ele não esboçava reações conforme o decorrer das partidas que eu ganhava em sua maioria. Isso o tornava tão difícil de se lidar quanto eu. Quando a maioria das minhas emoções transbordavam em minha pele, quando guardava as suas embaixo de sua face marmórea, apesar de seu olhar ser visceral, aquele era o único lugar o qual alguém poderia conseguir desvendar aquele homem. Sabia que não deveria questionar o que existia por debaixo daqueles orbes claros, mas, às vezes, minha curiosidade me fazia pensar sobre aquilo. Então, no momento seguinte, já dispersava tudo aquilo e fingia que tal coisa jamais havia acontecido. Sabia que estava traindo a mim mesma dessa forma, mas ninguém saberia daquilo além de mim.
Um lugar vagou e St. Jimmy se sentou, fazendo minha respiração ser puxada com certa força. Agora o jogo começaria a ficar bom, porque algo me dizia que ele era tão bom naquilo quanto no resto que fazia. Ele era um maldito desgraçado e tinha que falhar em algo, e eu esperava que pelo menos fosse nas cartas, porque, sinceramente, odiava perder.
Antes do croupier dar as cartas fizemos o blind, a aposta, empurrei duas fichas verdes para frente que valia vinte mil cada, só para começar mesmo. E St. Jimmy jogou logo uma preta que valia cem mil. Ele estava querendo intimidar os outros jogadores, inclusive eu. Mas aquilo não me abalou em nada, apenas fiquei encarando seus olhos do mesmo jeito que fazia com os meus. Então as cartas foram dadas. Olhei as duas minhas em apenas um pequeno movimento de meu polegar. Interessante. Meu olhar foi para , que já me encarava fixamente. Estava me vigiando? Ergui uma sobrancelha para ele em um questionamento claro daquilo. Ele não esboçou nada. Filho da mãe mesmo.
Aumentei a aposta, jogando uma ficha preta e mais uma verde encarando St. Jimmy, dois dos jogadores desistiram, apenas mais um decidiu entrar naquele jogo, igualando a aposta. Três cartas sobre a mesa foram abertas e meu olhar continuou sério sobre elas. aumentou a aposta, o outro jogador desistiu e eu dobrei. Mais uma carta foi aberta. Aumentamos mais a aposta. Meus olhos foram para os seus, que encaravam os meus com atenção. E, por fim, a última carta foi virada para cima.
Aquilo não estava sendo apenas um jogo de aposta, St. Jimmy queria ver até onde eu poderia ir, suas apostas altas eram como pressão onde ele testava a minha sanidade e coragem. E, felizmente, o que me faltava de sanidade, eu tinha de coragem.
Empurrei mais algumas fichas para frente, encarando bem o meu oponente, esperando para ver se ele iria correr, pagar ou dobrar. apenas pagou e nisso virei minhas cartas, e ele fez o mesmo em seguida. Então dei um sorrisinho vendo que tinha blefado e eu levei tudo. Suas cartas não eram boas, mas valeu a tentativa.
— Você não vai querer fazer esse jogo comigo, St. Jimmy. — Falei com ele, provocando-o mesmo.
— Será que não? — Rebateu, fazendo-me erguer uma sobrancelha.
— Então, paga pra ver. — Estreitei de leve meus olhos em sua direção e acendi mais um cigarro.
Começamos mais uma rodada. Eu fumava despreocupada enquanto jogava, olhando para na maior parte do tempo, enquanto seus olhos claros queimavam em mim. Aquilo até me incomodaria, mas algo nele me fazia gostar do jeito que me olhava. Parecia que estava tentando ver o que tinha por baixo da minha pele, o que tinha a esconder, querendo ler os meus segredos mais profundos, descobrir de quem era o sangue que passava por minhas mãos. Mas ele não descobriria, tudo o que precisava saber era apenas o meu nome, nada além disso.
Seguimos as rodadas ganhando, perdendo, mas o que estava em evidência era que estávamos dominando a mesa. Parecia que nem ao menos existiam os outros jogadores, era nós dois ali, disputando quem iria mais longe. O problema ali era que claramente não tínhamos limite. Estávamos chegando em um nível onde as apostas estavam ficando cada vez mais altas, quando já começamos colocando duzentos mil na mesa apenas para a entrada. Até que em um momento parei.
— Por que você não oferece mais do que dinheiro? — Sugeri, o olhando com a sobrancelha arqueada em tom de desafio.
— Ok. — Chegou mais para frente e jogou a chave de seu Maserati na mesa. — Quero o isqueiro. — Apontou para o mesmo que estava sobre a minha caixa de cigarros, fazendo-me travar o maxilar.
— Hm. De alguma forma eu vou andar em seu carro. — Debochei e peguei meu isqueiro de estimação, colocando-o no meio das fichas.
— Veremos, então. — E nisso virou suas cartas lentamente e eu fiz o mesmo. — É ótimo jogar com você. — Piscou para mim, já pegando tudo que estava no centro da mesa.
Meu olhar desceu para o meu isqueiro, que agora estava em sua mão sentindo a raiva me tomar por causa daquilo. Eu não estava acreditando que tinha acabado de perder o meu isqueiro para aquele sujeito. Meu besouro de steampunk. Era único. Tinha mandado fazer exclusivamente para mim. Precisava recuperar ele de volta!
Então começamos mais uma rodada e sabia que meus olhos continham raiva, não tinha muito como esconder aquilo. Ainda mais na minha jogada que começou a ficar mais agressiva. Eu odiava perder, especialmente quando era algo que eu gostava muito! No caso, o meu zippo.
— O que você vai apostar agora? — St. Jimmy perguntou quando chegamos na última aposta com um tom de sarcasmo mesmo.
— Se você ganhar, pode ter uma hora comigo para fazer o que quiser. — Soltei de um jeito venenoso, conseguindo tirar uma expressão de surpresa dele. — Se perder, vai me devolver o isqueiro.
Ele riu fraco com isso.
— Não, não vou. Não apostei ele. — Disse, pegando o zippo sobre a mesa e guardando em seu bolso. Então tirou seu colar de cruz, o mesmo que sempre o vi usando. — Você vai ter que passar uma hora comigo. — Colocou o objeto no meio das fichas.
— Talvez nos seus sonhos. — Rebati e virei minhas cartas.
as olhou e depois me encarou com um olhar diferente, que não soube decifrar o que era, mas não virou suas cartas, apenas as empurrou em direção ao croupier indicando que tinha perdido. Peguei as fichas e o colar, colocando-o dentro da minha bolsinha. E naquele momento, Ozzy entrou no lugar. Era hora de ir embora.
Então me levantei e apontei para minhas fichas.
— São suas! — Falei com , que então olhou por cima de seu ombro. — Nos vemos por aí.
Ele apenas balançou a cabeça e fez um sinal para o croupier pegar as fichas. Eu ainda estava com raiva do meu isqueiro, mas sabia que não iria me devolver, ainda mais depois do que falou. Então tinha que engolir aquilo e sair daí antes que eu fizesse qualquer besteira, tipo tentar roubar meu zippo. Podia mandar fazer outro, mas não era a mesma coisa. Não seria mais exclusivo.
Caminhei até Oswald, que olhava ao redor admirando o lugar, e logo seu olhar parou em mim, que estava já na sua frente. Ergui as sobrancelhas e lambi meus lábios, indicando que era a hora da gente se mandar dali, fazer um teatrinho básico seria ótimo. O velho entendeu exatamente o que quis dizer, às vezes ele me conhecia até mais do que deveria. Então sua mão pegou a minha de forma possessiva, puxando-me para perto e me levando para fora daquele lugar como se eu fosse uma criança má e tivesse me comportado muito mal.
Olhei por cima de meu ombro, encarando St. Jimmy, que olhava a cena toda de um jeito bem sério. Pensei em dar um sorriso ou piscar um olho de forma travessa para ele, mas apenas me virei para frente como se tivesse medo que Ozzy fosse pegar qualquer deslize meu.
Seguimos para fora do clube e o nosso carro já estava na porta nos esperando. Entrei primeiro, jogando-me no banco já perto da outra porta, abaixando o vidro, porque eu simplesmente adorava o vento soprando meu rosto, bagunçando meu cabelo, fazendo-o ir para todos os lados possíveis e imagináveis.
Javier dirigiu de volta para nossa cidade assim que Oswald deu a ordem para onde deveríamos ir.
— Conseguiu algo? — Ozzy perguntou logo com sua curiosidade nata.
— Talvez... — respondi com um sorrisinho de lado. — Tenho certeza que ele me notou dessa vez. — Dei uma piscadinha divertida, mas sabia que tinha feito isso desde a primeira vez que nos encontramos.
— Ele quem te chamou para descer? — O velho me olhava já virando de lado no banco, olhando-me por inteira.
— Foi. — Fiz o mesmo que ele. — Me perguntou se estava afim de me divertir. Eu disse que sim. — Levantei de leve meus ombros.
— E nem ao menos passou por sua cabeça que ele queria fazer outra coisa contigo? — Seu questionamento foi sério, eu sabia que Oswald não gostava que as pessoas me tocassem, ainda mais se fosse alguém que nem o , isso tirava o seu respeito perante aos demais.
— St. Jimmy não é nem louco de me tocar, Ozzy. Relaxa. — Rolei meus olhos e virei meu corpo, encarando a paisagem que passava borrada pelo lado de forma. — Ele já viu o que acontece se me encostar.
— Um soco no nariz não impediria ele de fazer qualquer coisa que quisesse contigo. — Aquilo me fez travar o maxilar. — Sabe que é perigoso você ficar longe dos meus olhos.
— Eu sei me cuidar muito bem sozinha, Ozzy. — Lancei-lhe apenas um olhar para parar com aquela merda de proteção ridícula, eu não precisava daquilo e ele sabia muito bem.
— Preciso proteger o que é meu. — E odiava quando ele falava aquele tipo de coisa, porque nós dois sabíamos muito bem que apesar de morar na sua casa, eu jamais seria uma de suas propriedades. — Só tome cuidado, St. Jimmy é perigoso.
— Conheço a fama dele, assim como você conhece a minha. Não preciso de proteção. — Disse bem sério para ver se parava com aquela bosta de uma vez.
— De qualquer forma sempre vou fazer isso, você querendo ou não. — Minha vontade foi de mandá-lo tomar no cu naquele exato momento.
Apenas peguei meu maço de cigarro, não me importando se aquilo iria irritar aquele velho, mas quando fui pegar meu isqueiro, lembrei-me que tinha perdido naquele jogo idiota. Inferno! Se falasse qualquer coisa sobre aquilo, Oswald ainda ficaria mais irritado por eu ter perdido, então guardei o cigarro de volta no maço, como se tivesse desistido da ideia por causa do jeito que me olhou. E meu olhar desceu para dentro da bolsa, vendo o colar de rebater a luz por um momento, quando o carro passou por baixo de um poste de luz, então meus dedos tocaram a cruz e eu respirei fundo com aquilo, sentindo um arrepio correr todo meu braço.
Algo naquele homem me fazia perder o controle e eu não sabia o que era. Será que ele também se sentia assim? Não, é óbvio que não. O que eu estava pensando? Era ridículo aquilo. Mas eu tinha uma sensação estranha que me tomava, algo em me fazia querer saber quais eram os seus demônios que estavam com ele a todo momento. De qualquer forma, eu nunca poderia saber quais eram, tudo o que precisava era apenas uma coisa dele.
Às vezes, simplesmente odiava estar naquela posição por mais que tudo o que ela me desse fosse ótimo, mas o preço para aquilo tinha sido alto. Minha liberdade. Sabia que estava presa agora.



Capítulo 03

Ozzy falava qualquer coisa sem parar, enquanto eu fingia que escutava, apenas balançando minha cabeça comendo minha torrada com geleia de pimenta vermelha. Ela era a minha favorita, doce, mas ardia no final. Algo que eu gostava de assemelhar a mim mesma. Poderia ser doce por algumas vezes, só que no final eu sempre queria queimar tudo à minha volta. E logo meus olhos foram para aquele velho, perguntando-me por mais quanto tempo aguentaria sem desejar colocar fogo nele e em toda a sua mansão. Uma hora eu ficaria entediada e quando isso acontecia, nunca acabava bem. Para as outras pessoas, no caso.
Lambi meus lábios que estavam levemente melados por causa da geleia, suspirando de leve. Meus olhos se voltaram no mesmo instante para a tela de meu celular, que se acendeu com a notificação de mensagem que havia chegado. Uni as sobrancelhas por ser de um número desconhecido, curiosa para saber de quem era. Então limpei minha mão no guardanapo e peguei meu iPhone.

» Número Desconhecido: Nixon caiu. Disputa pelo território hoje às 00:00hs na Andonov.

Aquilo me fez sorrir de lado e logo mandei uma mensagem para falando que iriamos nos divertir hoje, e que era para colocar uma roupa para ficar bem gostosa. Ela me respondeu em seguida, rindo e falando que já iria escolher o que usaria, arrancando-me uma risada baixa.
Soltei o aparelho sobre a mesa vendo o olhar do velho Ozzy sobre mim.
— Nixon morreu. Sabe de algo sobre? — Perguntei, apoiando meus cotovelos nos braços da cadeira e meu queixo em minhas mãos com os dedos entrelaçados que se juntaram embaixo dele, enquanto olhava para o homem à minha frente.
— Não, apenas que estava metido com o Kayobe. Já sabíamos o que iria dar... — comentou, tomando seu café preto de forma despreocupada. — Você sabe como ele lida com os problemas.
— Sei. Um tiro na cabeça a queima roupa. Clássico dele. — Rolei meus olhos, ele poderia ser mais original. — Isso quando o assunto é particular. Não sei como foi que Nixon morreu, mas não importa. — Dei de ombros com aquilo, não era assunto meu. — Vai ter uma disputa hoje, vou correr.
— Não tem necessidade de você participar, não seja gananciosa. Já tem bastantes territórios.
Respirei profundamente ao ouvir aquilo.
— Mais um nunca é demais! — Falei, esticando meu braço e pegando minha xícara de café, dando um pequeno gole. — De qualquer forma, não estou pedindo a sua permissão, estou apenas avisando para saber caso meu corpo apareça por aí. — Pisquei um olho para Ozzy.
… — usou um tom de advertência.
— Eu vou, Ozzy. Você querendo ou não. — Deixei claro, colocando minha xícara de café de volta sobre o pires. — Você não se mete nos meus negócios e eu não me meto nos seus. Lembra?
O velho respirou profundamente.
— Vai com a Ferrari? — Seu questionamento me fez sorrir de lado.
— Não. Vou com o Dodge Maximus. Mandei os meninos mexerem no motor dele. Quero ver como ficou. — Expliquei e Oswald sorriu também.
— Você não joga para perder, né? — Aquilo me fez rir e o olhar de forma intensa. — É por isso que te escolhi. Não existem opções para você. É ganhar ou ganhar. — E aquilo me fez lembrar que havia perdido para naquele jogo de poker.
— Não gosto de perder mesmo. — Comi o resto da minha torrada, dando fim àquele assunto.

Vesti uma camisa de manga longa com um tecido fino, ela era preta com azul marinho e branca, tipo como se fosse uma estampa de galáxia. A agarrei ela entre meus peitos, deixando um pequeno lacinho ali, porque ela era curta mesmo. Coloquei uma calça jeans escura de cintura bem alta. E, por fim, calcei um par de botas. Parei na frente do espelho, olhando-me, e passei a mão em meu cabelo, jogando-o para trás como se ele fosse mesmo ficar lá, mas logo os fios laranjas já desbotados vinham para frente e caíram pelas laterais de meu rosto.
Paciência, vai ficar assim mesmo.
Caminhei até meu armário e o abri o cofre, lá dentro tinha algumas joias que eu gostava de usar, mas essa noite só peguei meu relógio favorito todo em prata, uns anéis e parei olhando o cordão de ali separado das outras coisas, em uma caixa pequena de vidro. Apanhei-a e tirei ele dali de dentro, deixando meu polegar passar pela cruz prateada. Torci meus lábios, então o coloquei no meu pescoço sem pensar muito, sentindo o pingente gelado parar quase na altura do nó da blusa. Coloquei a caixa de volta no lugar e fechei o cofre.
Saí do meu quarto deixando a porta aberta mesmo, pois minhas mãos estavam ocupadas carregando meu celular e meu maço de cigarros, juntamente com um isqueiro de plástico que eu tinha comprado por ter ficado puta que perdi o meu zippo para St. Jimmy. Eu precisava conseguir ele de volta.
— Já vai? — Ouvi a voz de Ozzy quando passei na frente de seu quarto, então parei no meio do corredor e voltei alguns passos parando em sua porta. — Hm, está bonita. Tentando chamar atenção do St. Jimmy?
— Já, vou buscar a ainda. — Avisei e me olhei com o seu elogio, dando de ombros, eu estava até que normal hoje. — Essa noite meu negócio é outro. — Pisquei um olho para o velho, dando um sorriso de lado.
— Boa sorte, querida. — Piscou um olho de volta para mim, fazendo-me rir, então apenas fui embora.
Peguei meu carro na garagem e dirigi até o prédio que morava, ela estava toda linda me esperando na porta. Sorri para ela e a garota logo entrou pulando no banco do lado do carona e me dando um selinho como sempre fazíamos quando nos encontrávamos. Já saí dali rapidamente, enquanto minha amiga tagarelava algumas fofocas para mim, atualizando-me das coisas. Ela era ótima nisso, sempre sabia de quase tudo, por isso sempre lhe perguntava tudo que queria saber. era praticamente a minha espiã secreta, como eu gostava de dizer, e isso lhe tirava umas boas risadas.
— Colar novo? — Sua pergunta me fez segurar o volante com um pouco de força. — Um adereço gótico ou você é religiosa e nunca me falou?
— Um adereço gótico. — Respondi a brincadeira, mesmo que o colar não fosse nada gótico, ele era simples e até mesmo delicado.
— Espera… — aquilo me fez segurar o ar. — Ele é do St. Jimmy? Meu Deus, ! Vocês? Não! Sim! Ah! Por que não me contou?!
Eu a olhei no mesmo instante rapidamente e voltei a encarar a rua.
— Que tipo de loucura você está pensando, garota? — Quis saber, dando um pequeno riso.
— Que vocês estão juntos e ele te deu o colar de estimação dele! Isso nunca saiu do pescoço dele, ! — Minha amiga falava super empolgada no banco do carona como se aquilo fosse algo ótimo e a minha única reação foi torcer o nariz mesmo.
— Céus, você criou essa fanfic toda agora na sua cabeça? — Olhei-a com um tom de riso e até mesmo sorri. — Não, não é nada disso. Eu só ganhei esse colar em um jogo de poker. — Expliquei para que ela não surtasse ainda mais.
— Nossa, que coisa mais sem graça. Preferia a minha fanfic, é muito mais legal. Tem mais emoção, sabe. E agora você estaria indo encontrar com ele nesse racha escondido do Ozzy e então depois da corrida faria amor no banco de trás do seu carro…
Interrompi-a rapidamente.
— Meus ouvidos! Eles queimam! Transar com o no banco de trás do meu carro? Quê? — Uni as sobrancelhas, fazendo uma cara terrível só de imaginar aquilo. — Amiga, eu não transo, esqueceu?
— É, eu esqueço que você não aproveita a melhor parte da vida. — Ela suspirou, rolando seus olhos. — Mas beija, podia dar uns beijos nele.
— Claro, e depois disso meu lindo império se perde em chamas. — E agora foi a minha vez de rolar os olhos. — Nunca vai rolar nada entre mim e o .
— Acho fofo você chamando ele pelo nome, parecem íntimos! — Agora ela falou sério, não tinha o menor resquício disso em sua voz, e isso me pegou. Talvez eu não devesse chamá-lo assim.
— Não gosto de chamar ele de St. Jimmy. Mas você está certa. Chamá-lo pelo seu nome verdadeiro requer uma intimidade que eu nunca terei com ele. — Falei em um tom baixo e até mesmo suspirei de leve sobre aquilo.
— Não tem porque não quer, porque claramente ele te notou não foi nem uma, mas, sim, três vezes.
Aquilo não queria dizer muita coisa, só que novamente estava certa. De fato, ele tinha me notado e eu tinha gostado. Acho que essa estava sendo a pior parte.
— É, acho que ele notou. — Sorri de leve para minha amiga sem mostrar os dentes.
mudou de assunto, notando que eu estava desconfortável em falar sobre por algum motivo que nem eu estava conseguindo entender naquele momento, e só não queria pensar sobre isso. Eu só precisava seguir o plano, só isso. E seria exatamente isso que eu iria fazer hoje caso o encontrasse, e como iria se seguir nos nossos próximos encontros, porque haveriam mais.

Assim que chegamos, o lugar estava lotado. Era muita gente mesmo, algumas conhecidas e outras eu não fazia ideia de quem eram. , meus olhos e ouvidos sobre pernas, já foi me falando que Ramsey e Kayobe estavam ali também, mas o nome que queria ouvir, não foi dito. Eu estava mesmo querendo que estivesse ali? Ah, faça-me o favor, . Me poupe.
Revirei meus olhos com esse pensamento.
Só que, ainda assim, meu olhar passava por toda a galera em busca dos tons claros e intensos.
— Você está procurando ele, né? — perguntou perto do meu ouvido, fazendo-me encará-la rapidamente.
— Quem? — Dei de louca, porque era o melhor a se fazer.
— Fazendo a sonsa para cima de mim, ? — colocou suas mãos na cintura e ergueu as sobrancelhas, fazendo um pequeno bico, e eu continuei com a minha cara de desentendida. — St. Jimmy.
Fiz uma careta com aquele nome.
— E desde quando fico procurando alguém? — Questionei, respirando fundo. — Vou ver se arranjo algo para beber. — Avisei e saí andando rapidamente dali, passando pelo meio das pessoas tentando não esbarrar nelas.
Achei um isopor cheio de bebidas, mas optei por um refrigerante. Não estava afim de beber hoje. Voltei até e fiquei ali com ela, junto de mais algumas pessoas. Eu estava entretida na conversa, quando uma criatura repugnante se aproximou como se fosse a rainha de tudo ali. Ramsey. Ela parou na minha frente e eu apenas a ignorei, enquanto bebia meu refrigerante de limão. Seu perfume estava me enjoando e estava cogitando mandar ela sair dali.
— A bonequinha de luxo do Ozzy aqui. — Sua voz era irritante, seu tom me dava nojo. Ignorei-a totalmente. — Seu dono te mandou aqui para quê? — E ali ela conseguiu finalmente atrair meu olhar.
Queria enfiar a mão na cara dela.
— Desculpa, mas por que você está falando comigo mesmo? — Questionei, olhando-a por inteira, até voltar para sua cara sebosa. — Você está atrapalhando a conversa que estava bem amistosa. Dá licença. — Fiz um gesto com a mão para que fosse embora.
— Pensei que poderíamos ter uma conversa amistosa. — Rebateu, fazendo um biquinho.
Hipócrita do caralho. Ela queria ver se eu iria voar na cara dela pelo que fez com Verete. Certamente era isso que queria, mas não lhe daria esse gostinho nem por nada! Mesmo que estivesse cheia de vontade de fazer isso naquele exato momento. Mas sabia o que isso iria causar, ainda mais onde estávamos. Ramsey queria que os outros ficassem do seu lado e alegaria que a ataquei por nada. Conhecia bem o jogo daquela cobra e não o jogaria. Suas provocações não iriam me atingir.
Bebi mais um pouco do meu refrigerante, enquanto olhava para Ramsey, percebendo como o clima estava pesado ali. Todos estavam calados e nos olhando, e pareciam que nem respiravam, era como se uma bomba fosse explodir a qualquer momento e provavelmente estavam esperando isso de mim. Não os julgava, eu era explosiva mesmo.
A mulher me olhou novamente por inteira, então se virou e foi embora. Voltei a olhar para as pessoas que estavam ali perto e elas me encaravam de volta.
— Sobre o que estávamos falando mesmo? — Perguntei como se nada tivesse acontecido, mas sentia a raiva dentro de mim ferver.
Eu odiava aquela mulher.

Parei na frente da linha que tinham feito no asfalto e olhei para o lado, encarando o vidro escuro do carro de Ramsey que estava ao meu lado, então olhei para frente, esperando os outros corredores, e acelerei o meu Dodger, fazendo-o balançar todo por causa da potência do motor.
Apenas fiquei olhando para o asfalto esperando a corrida começar.
Vi pela visão periférica outros carros chegarem. Amarrei meu cabelo em um rabinho alto, sentindo os fios da nuca se soltarem e caírem de forma suave em minha pele.
Meus olhos pegaram uma moto com uma antena de cabinho de raposa preso parando mais na frente e na moto tinha dois latões enormes de tinta. O circuito seria feito na hora. Ótimo, iríamos correr pelo meio da cidade em movimento, não seriam ruas fechadas. Se queríamos aquele lugar, teríamos que conhecer ele como realmente era.
Um garoto furou um dos galões de tinta que já começou a vazar rapidamente e a moto saiu dali marcando o caminho. Então, em seguida, foi dado a largada.
Acelerei tão forte que a frente do Maximus e saí na frente, vendo Ramsey atrás de mim vindo feroz. Segui a trilha de tinta no chão saindo do lugar que nós estávamos e entrando na avenida que estava movimentada para aquela hora da noite, e eu sabia que não eram civis, era o pessoal do Nixon tentando atrapalhar a gente.
Olhei pelo retrovisor e vi Kayobe tentando passar Ramsey, os dois brigando, fazendo zig-zag por entre os carros, enquanto eu estava na frente cortando a avenida rapidamente.
Dei um sorrisinho com All For Us começando a tocar no som e isso me fez acelerar mais apenas prestando atenção na trilha de tinta que estava no asfalto. Até que vi a moto mais na frente fazendo a curva e entrando em uma outra rua, eu estava em cima para aquilo e estava passando muitos carros. Então pisei no freio e puxei o de mão, soltando do pé e acelerei, fazendo o Dodge entrar de lado na curva, enquanto controlava o freio e o acelerador, mas um carro preto passou por dentro da curva de forma suave, ultrapassando-me sem a menor dificuldade.
Filho da puta!
Soltei o freio e acelerei.
Kayobe e Ramsey ainda brigavam, um batendo no outro que nem duas crianças em um brinquedo de carrinho bate-bate. Idiotas. Não demorou muito para ela fazer Kayobe bater o carro, restando nós duas e mais outros dois corredores. Tinha um que ainda estava mais atrás. Meus olhos foram para o carro da frente e logo senti meu Maximus sendo empurrado, vendo aquela peste da Ramsey atrás de mim. Diminui a velocidade bruscamente fazendo aquela babaca vir com tudo na minha traseira, fazendo com que eu perdesse um pouco o controle, mas amassou todinho a frente do seu carrinho de caixa de cereal, enquanto o meu o máximo que fez foi arranhar a lataria.
Acelerei rapidamente, recuperando o controle, e o outro carro me passou, agora eu estava por último.
— Vai se foder, Ramsey! — Reclamei, indo atrás dos outros dois agora.
Alcancei-os rapidamente e ficamos os três costurando a cidade, cada um tomando a liderança um momento. Até que chegamos na ponte e uni as sobrancelhas vendo que ela estava erguida pela metade. Só pode ser sacanagem! Foda-se essa porra. Acelerei ainda mais, ganhando velocidade rapidamente, vendo o carro que estava em primeiro desistir, mas o segundo seguiu, saltando, e eu estava muito perto dele, tanto que quando o meu Dodge subiu, ele passou por cima do preto, caindo na frente. Meu coração acelerou demais e eu dei um grito, segurando o volante com força para não perder o controle da direção.
Segui a marcação da tinta, até que avistei pelo retrovisor Ramsey aparecendo de novo. Aquela mulher era pior do que barata! Que inferno. Ela começou a fazer a mesma coisa que fez com Kayobe, a bater na lateral do carro preto que estava tentando desviar dela e por um momento uni as sobrancelhas vendo quem era.
. — Seu nome saiu de forma silenciosa de meus lábios.
Então segui a direção que estava fazendo como se o cercasse e estivesse ajudando Ramsey para tirá-lo da corrida. Quando aquela barata maldita foi bater de novo no carro do St. Jimmy, eu joguei para o lado e freei bruscamente, fazendo ela bater novamente na minha traseira, mas dessa vez com tanta força, que meu carro rodou, tirando-me da pista.
E foi como se tudo tivesse acontecido em câmera lenta.
O carro preto passando na minha frente, o vidro se abaixando, os olhos infensos de me olhando com suas sobrancelhas unidas, enquanto meus dedos apertavam o volante com mais força, e o carro de Ramsey capotando logo atrás de mim, passando direto e por sorte não me acertando, mas eu bati de lado em um poste e minha cabeça acertou o vidro, deixando-me tonta, e tudo se apagou por um momento.
Fade, do Lewis Capaldi, tocava longe no rápido agora, enquanto tinha um zumbido em meu ouvido.
Abri meus olhos sentindo as coisas girando ainda e eu não estava dentro do meu carro. Um perfume familiar invadia meus pulmões, junto com um cheiro forte de gasolina. Uni as sobrancelhas e vi que estava me carregando em seus braços, e me colocou no banco do carona de seu carro. Minha cabeça estava doendo e eu mal conseguia pensar direito. As coisas ainda estavam meio confusas.
St. Jimmy deu a volta e entrou no lado do motorista, dando partida e saindo dali. Mantive meus olhos nele, sentindo a tontura ir passando aos poucos, até que ouvi uma explosão, que fez o chão tremer.
Adeus, meu Dodge Maximus.
— Por que me ajudou? — Perguntei baixo, mas, ainda assim, minha voz passou por cima da música.
me olhou por alguns segundos com aquele seu olhar que parecia engolir a minha alma.
— Por que você me ajudou? — Questionou de volta e eu retrai meus lábios, virando-me no banco e olhando para a janela agora. — Sabia que não iria me responder.
— Você também não respondeu... — retruquei e meus dedos foram até seu colar que estava em meu pescoço.
Será que ele tinha visto?
— Você tem que parar de aparecer assim na minha vida. — Avisou e isso me fez respirar profundamente.
— Se você quer que eu desapareça... — sussurrei e lambi meus lábios com certa força. — Não deveria ter me tirado daquele carro.
— Você não entendeu. Eu não quero que desapareça, só que não atravesse na minha frente parecendo um tornado e levando tudo consigo quando vai embora. — Respondeu e aquela merda arrancou o ar dos meus pulmões, e meu maxilar travou.
— Para o carro! — Pedi e ele me olhou atento agora, mas fez o que pedi. Abri a porta, mas o olhei. — Obrigada pela ajuda. — Agradeci, porque se não fosse por ele, eu teria virado churrasco.
— Nós podemos dividir esse território. — Ofereceu rapidamente, antes que eu saísse. — Provavelmente você teria ganhado se não tivesse me ajudado.
— Foi escolha minha te ajudar, eu perdi. É seu agora! — Falei, saí e fechei a porta, atravessando a rua rapidamente, mesmo que ainda estivesse tonta.
Então apenas peguei meu celular no bolso de minha calça e liguei para falando o que aconteceu, e avisei que estava indo embora. Ela disse que iria comigo. Encerrei a ligação e chamei um Uber.
Sentei no meio fio e tudo o que queria era a porcaria de um maldito cigarro, já que o meu tinha ficado no carro. Abaixei a cabeça e o colar de balançou diante dos meus olhos.
Por que eu estava usando aquela porcaria?
Segurei-o com força e arranquei aquilo do meu pescoço, jogando-o longe, vendo-o cair no meio da rua a alguns metros de distância.
— Vai se foder, ! Vai se foder! — Xinguei e levantei irritada, indo até aquela droga de colar e o peguei, arrumando o elo que tinha aberto.
Passei meu polegar pela cruz e respirei bem fundo, colocando-o de volta em meu pescoço. Eu não iria ficar pensando nele e nem em nada do que tinha acontecido essa noite. Apenas não podia. Seguiria com o plano e só.


“I wish somebody would’ve told me;
That I’d end up so caught up in need of your demons...”



FIM!



Nota da autora: Voltei com mais um pouco de St Jimmy para vocês! Espero que tenham gostado dessa pequena interação deles antes de tudo que rolou depois. Achei que era justo explorar um pouquinho mais. E falar que fiquei com gostinho de quero mais. Me falem o que acharam! Me deem o feedback de vocês. Fiquem de olho no meu Instagram, qualquer novidade sobre mais de St. Jimmy, vou postar por lá.
Beijos garotas, até a próxima.



Outras Fanfics:
Girassóis de Van Gogh
PCH
Cross your Mind
Goodbye Response
One Impasse
03. Inimigo Invisível
06. Company
06. St. Jimmy

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer.
Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus