Capítulo Único
DIAS ATUAIS
encarava a própria imagem refletida no espelho de corpo todo, posicionado em um dos cantos de seu quarto. Naquele dia, mais do que nunca, ela deveria estar se sentindo linda. Quer dizer, ela estava mesmo linda. O vestido midi vermelho-sangue que havia sido desenhado especialmente para ela era perfeitamente elegante e marcava delicadamente sua cintura. O tecido de alta costura da peça caía de maneira graciosa pelas suas pernas e movimentava-se suavemente toda vez que ela se movia. O cabelo bem arrumado emoldurava o rosto pintado com uma maquiagem impecável e o salto fino desconfortável dava o toque final.
Apesar de toda a produção, alguma coisa parecia errada. Algo não se encaixava na cena e ela demorou alguns segundo para perceber que a imagem, apesar de tão familiar, era completamente desconhecida para ela. Quando fitou os próprios olhos, soube na mesma hora que era o olhar. Aquele olhar apático e sem vida definitivamente não pertencia a ela. Era o olhar de uma estranha. Por um breve segundo aquela percepção a assustou. Ela piscou algumas vezes e levantou lentamente uma das mãos até o rosto, tocando com cuidado na própria bochecha apenas para ter certeza de que a figura no espelho repetiria o mesmo movimento, como uma prova de que aquela mulher era mesmo ela. Ou, pelo menos, uma nova versão dela mesma. Talvez, uma versão não tão nova assim. Há quanto tempo carregava aquele olhar? Há quanto tempo não se reconhecia na própria imagem? Há quanto tempo sentia-se prisioneira dentro dos olhos de uma estranha? Ela não saberia dizer, mas tinha certeza de que aquele não era, nem de longe, o primeiro dia. Será que mais alguém havia notado que o brilho tão característico dos seus olhos tinha desaparecido? Arriscaria dizer que sim. Talvez não todo mundo, mas uma pessoa deveria ter notado. Ele tinha notado.
suspirou fundo, tentando acalmar as batidas aceleradas do seu coração contra o peito. Forçou um sorriso, percebendo que seu semblante mais pareceu uma careta. Aquele deveria ser um dia especial, afinal, era o tão esperado jantar de ensaio do seu casamento.
Casamento. Quantas mulheres não sonham com isso? Reunir os amigos e familiares, usar um belo vestido branco e caminhar com um lindo buquê até o altar para celebrar o amor junto da pessoa com quem deseja passar o resto da vida. Era realmente o sonho de conto de fadas. O único problema era que nunca gostou de princesas. Nunca quis ser uma princesa. Nunca desejou viver um conto de fadas. Mas isso não importava mais, porque dali a menos de 24 horas ela estaria casada. Seria esposa de alguém. Não só de alguém, seria esposa de Jones. Ela o amava, certo? Ela deveria estar feliz. Ela o amava.
Então porque diabos tudo o que conseguia pensar era no maldito olhar sem vida refletido no espelho? A de anos atrás sentiria pena de quem quer que carregasse aquele olhar.
Talvez fosse o nervosismo, tentou se convencer.
Muitas mulheres já relataram que pensaram em fugir do casamento minutos antes de entrarem no altar, apenas por conta da insegurança, ansiedade e da tensão. Foram meses de preparo. Estava exausta. Decisões, escolhas, estresse. Era o nervosismo, tinha que ser.
encarou novamente o anel de noivado posicionado no seu anelar esquerdo. O diamante brilhava e ela sorriu sutilmente, lembrando-se do dia em que Logan propôs.
DOIS ANOS ANTES
checou o visor do telefone pela milésima vez desde que chegara ao restaurante, apenas para se decepcionar novamente. Sem novas mensagens. Já estava na segunda taça de vinho e poderia jurar que o garçom que a servia já começava a fitá-la piedosamente. Nem poderia culpá-lo, afinal, uma moça bebendo sozinha há quase uma hora em um dos restaurantes mais românticos de Nova York em pleno Dia dos Namorados, claramente indicava que ela tinha tomado um belo de um bolo e isso era sim motivo suficiente para pena.
Ela não se importou. Uma das qualidades - e também potencial defeito - de era que ela nunca se importava com o que as pessoas pensavam dela.
Logan havia avisado que se atrasaria um pouco. Bom, um pouco definitivamente não era uma hora e ela estava morrendo de raiva. Odiava fazer papel de boba. Como se ela precisasse disso. Pegou o celular, digitando rapidamente uma mensagem grosseira com um ultimato que dizia que se ele não chegasse em cinco minutos ela iria embora, mas antes que pudesse pensar em enviar, viu a figura de seu namorado cruzar a porta de entrada do restaurante, caminhando rapidamente até ela.
— Me desculpe, querida. Fiquei preso na empresa — ele lamentou, depositando um beijo carinhoso na bochecha da garota, que por sua vez permaneceu séria.
— Hm.
Logan sorriu. Aquele sorriso que costumava desmontar qualquer mulher em questão de segundos. Mas ela estava puta demais para ceder tão facilmente.
— Já te disseram que você fica linda quando está com raiva?
Ela arqueou uma sobrancelha, bebericando mais um gole do vinho, completamente impassível.
— Já te disseram que é completamente grosseiro deixar sua namorada esperando uma hora bem no Dia dos Namorados? Já estava pensando em arrumar um substituto para você.
— Eu já pedi desculpa, . O que mais você quer que eu faça? Avisei que atrasaria, seu pai precisou de mim até mais tarde no escritório hoje. Sabe como ele tem estado estressado esses dias, talvez seja a hora dele se aposentar logo.
bufou, sabendo que aquilo era mesmo uma verdade. O senhor Forbes já tinha idade e certamente não possuía tanta saúde mental para tomar conta do escritório de advocacia sozinho. E por isso, é claro, Logan procurava ser extremamente prestativo na empresa em que trabalhava há praticamente dois anos.
— Tudo bem, não quero falar sobre meu pai ou sobre trabalho hoje, ok? — ela sorriu de lado, segurando uma das mãos do namorado sobre a mesa.
— Que bom, porque na verdade eu tenho maneiras muito mais interessantes para aproveitarmos a noite, o que inclui uma pergunta importante que eu venho querendo te fazer há um tempo.
Ela cerrou os olhos, encarando-o desconfiada.
— Restaurante chique, Dia dos Namorados, uma pergunta importante… Deixa eu adivinhar, decidiu me pedir em casamento para compensar o seu atraso? — ela riu.
Logan gargalhou, levando a mão até o bolso interno do paletó, tirando de lá uma pequena caixa de veludo preta.
— E se eu te disser que é exatamente isso que decidi fazer? — ele abriu a caixinha, revelando um deslumbrante anel de diamante. arregalou os olhos, abrindo a boca em choque. Todo o murmurinho do ambiente pareceu desaparecer aos poucos e ela só conseguia ouvir as batidas do próprio coração palpitando contra o peito — Forbes, você aceita se casar comigo?
Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, incapaz de pronunciar qualquer som. Sabia que o amava muito. E de fato não se importaria em passar o resto da sua vida com ele. Mas nunca se imaginou casando. Casamento nunca tinha sido uma prioridade para ela. Mas era isso o que as pessoas faziam, certo? Quando se apaixonavam por alguém.
— Eu… eu… — tentava organizar os pensamentos, mas tudo parecia distante. Queria responder, mas sentia a garganta fechada em um nó.
— Eu sei que muitas vezes eu não sou o melhor namorado do mundo para você, mas você me faz querer ser melhor a cada dia e eu adoraria poder passar o resto da minha vida tentando fazer você se sentir como eu me sinto a cada segundo do seu lado. Eu te amo.
engoliu em seco, sentindo as lágrimas formarem-se em seus olhos antes de responder:
— Eu aceito — a voz saiu falha, mas um sorriso tomou conta de seu rosto sem muita dificuldade.
Logan sorriu de volta, curvando-se sobre a mesa para grudar seus lábios nos dela, como costumava fazer desde que começaram a namorar, há cerca de um ano e meio. observou o namorado - agora noivo - deslizar o anel pelo seu dedo. Resolveu ignorar a sensação de que sua mão de repente pareceu pesar uma tonelada.
Algumas horas mais tarde naquela mesma noite, enquanto aguardavam o manobrista trazer-lhes o carro, encarou novamente a jóia em seu anelar, percebendo um novo questionamento incomodar a sua mente. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Logan se manifestou:
— Já está reconsiderando a decisão? — ele brincou, notando o olhar duvidoso da garota sobre o anel.
Ela riu baixo.
— Não é isso, é só que… você pode me jurar que esse pedido não tem nada a ver com a sua ascensão na empresa do meu pai? — perguntou, desafiadora. Logan, entretanto, rolou os olhos.
— Não seja ridícula, . Eu sei que nós nunca falamos sobre casamento antes, mas eu te amo e eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado — ele sorriu doce, colando suas bocas em um selinho carinhoso — E se tivesse, qual seria o problema? Não é como se a gente vivesse um relacionamento forçado.
A mulher arqueou uma sobrancelha.
— Me desculpe por não querer servir de escada pra sua vida profissional, Jones — ela debochou, mas riu em seguida — Não faça eu me arrepender disso ou eu acabo com você.
— Eu sei, bravinha. Venha, vamos embora, está frio aqui.
DIAS ATUAIS
Aquela lembrança agora parecia tão distante. Quase uma vida inteira atrás, embora tivessem se passado apenas dois anos. O quanto poderia mudar em dois anos? O que de fato havia mudado? Por que só agora ela percebia que aquele dia tinha sido possivelmente um dos últimos em que se sentiu, de fato, ela mesma?
Um barulho vindo do seu celular anunciou uma nova mensagem recebida, tirando-a de seus devaneios. Quando leu as palavras no visor, desejou não tê-lo feito:
"De: Logan.
Onde você está? Todos estão esperando por você, não seja egoísta e venha já para cá. O conceito de noiva atrasada é completamente deselegante. Não me faça passar mais vergonha."
Ela bufou, guardando o celular na bolsa sem se dar ao trabalho de responder, antes de direcionar-se até o carro que a aguardava na entrada de seu prédio.
***
O salão principal do hotel estava impecavelmente decorado. Todas as mesas foram organizadas com louças sofisticadas e lindos arranjos de rosas brancas e vermelhas. As luzes baixas promoviam uma ambientação romântica para o local e a banda tocava uma seleção de músicas bregas que detestava, mas a qual não pôde opinar.
Já tinha perdido a conta de quantas pessoas cumprimentou e agradeceu pela presença, tentando desconversar toda vez que alguém perguntava se ela estava ansiosa para o dia seguinte. Ansiosa não era bem a palavra que definia seu estado de espírito naquela noite. O que havia de errado com ela, afinal?
Ao contrário de , Logan estava radiante. Recebia todos com muito entusiasmo e engatou longas conversas, incluindo com os seus colegas de profissão e até mesmo alguns dos clientes importantes da empresa que foram convidados contra a vontade de . Ela apenas fingia prestar atenção. Por que ele tinha que transformar absolutamente tudo em uma maldita reunião de trabalho?
— Meus parabéns, casal — um homem grisalho que tinha certeza já ter conhecido em algum momento, mas não conseguia se lembrar quem era se aproximou com a esposa a tiracolo para cumprimentá-los — Agora falta pouco para o grande dia. Estão ansiosos?
sorriu amarelo. Pelo menos uma característica da sua personalidade ainda permanecia intacta: a dificuldade que sentia em fazer média.
— Muito obrigado, Rupert. Estamos muito ansiosos — Logan agradeceu, abraçando pela cintura.
— A decoração está tão linda, você tem muito bom gosto, — a esposa do tal Rupert elogiou.
Antes que ela pudesse responder, Logan manifestou-se:
— Ora, nós contamos com a melhor organizadora de eventos de Manhattan. Se dependesse da estaríamos casando em uma garagem de rock no Brooklyn — ele brincou. Ela, entretanto, não esboçou o menor dos sorrisos, encarando o noivo de rabo de olho.
— Decididamente não é para todo mundo — ela debochou e deu de ombros, tomando mais um longo gole do champanhe enquanto o casal a encarava com os olhos levemente arregalados pela grosseria.
Seu noivo fingiu um sorriso, inclinando-se discretamente em sua direção para sussurrar raivoso em seu ouvido:
— Comporte-se, . Seja simpática — um leve aperto na parte superior de seu braço fez a garota juntar as sobrancelhas em uma careta de dor.
Não prestou atenção no assunto que se seguiu a partir dali, desvencilhando-se de Logan rapidamente.
— Se me dão licença, vou até a toalete.
Sem esperar por uma resposta, ela caminhou a passos largos em direção ao banheiro, quase tropeçando nos próprios pés. Trancou a porta atrás de si assim que adentrou o cômodo.
Ela virou de uma só vez o restante da bebida que ainda restava na taça, sentindo o líquido descer facilmente pela garganta. Precisava urgentemente de algo mais forte, champanhe definitivamente não seria o suficiente para fazê-la aguentar uma noite inteira daquela tortura. Talvez vodka. Ou algo de teor alcoólico ainda maior. O quanto de tequila precisaria tomar até Logan se irritar dizendo que ela estava o envergonhando?
suspirou, encarando novamente sua imagem no espelho acima da pia, apenas para notar que agora seus olhos já estavam marejados. Droga, quando foi que havia se tornado tão covarde? Logo ela, parecia piada. Sentia vontade de se socar.
Fechou a mão em um punho ao observar pelo reflexo a lateral de seu braço levemente avermelhada devido a força feita por Logan minutos antes. Engoliu o bolo que se formou em sua garganta, lembrando-se da primeira vez que havia decidido terminar o relacionamento com o noivo.
UM ANO E SEIS MESES ANTES
— Chega, Logan! Eu estou cansada! Estou cansada dos seus ataques de ciúmes. Estou cansada de você tentar controlar a minha vida. Eu não aguento mais! — ela gritava gesticulando, enquanto caminhava de um lado para o outro na sala do seu apartamento — Eu não sei como foi que a gente chegou a esse ponto, mas já chega! Isso claramente não está funcionando.
Logan a fitava completamente impassível. A mandíbula travada e os punhos fechados não disfarçavam a raiva que ele estava sentindo.
— Então quer dizer que a minha noiva pode ficar se oferecendo igual uma vadia para qualquer um e eu tenho que achar isso normal? — ele urrou, claramente fora de si.
riu sarcástica, completamente desacreditada.
— Você por acaso está se ouvindo? Nós estávamos apenas conversando! O Jake era da minha escola e fazia pelo menos uns cinco anos que eu não o via! Você está completamente doente.
Algumas horas antes, os dois estavam comemorando o aniversário de um dos amigos de Logan em um pub, quando ela esbarrou com Jake, um antigo colega de escola com quem não mantinha contato. Os dois conversaram amigavelmente por um tempo, o que foi suficiente para seu noivo surtar, obrigando-a a ir embora do local grosseiramente e a acusando de coisas absurdas durante todo o trajeto até o seu apartamento.
— Me desculpe por não querer dividir o que é meu! Primeiro , agora esse tal Jake… — ele debochou.
— Por que você faz questão de colocar o em todas as nossas brigas? Ele nem estava lá hoje, deixe-o fora disso! E pra começo de conversa, eu não sou sua! Eu não sou um objeto para que você tenha posse de mim. As pessoas não são coisas, Logan. Pare de tratá-las como tal!
— Você é a minha noiva! — ele gritou novamente.
— Não mais. Isso claramente não está certo. Por favor, vá embora, eu quero ficar sozinha — ela pediu, agora mais calma.
A íris de Logan foi tomada por pura fúria. Ele caminhou rapidamente até a frente de , segurando os dois ombros da mulher com uma força assustadora, empurrando-a violentamente contra a parede. Ela nem teve tempo de se recuperar da surpresa e da dor que tomou conta dos seus braços e cabeça, pois o homem começou a berrar novamente, com o rosto a centímetros do seu:
— A única coisa que não está certa aqui é você! Você me provoca e acha que eu tenho que ficar calado? Você acha que outra pessoa no meu lugar aguentaria metade das palhaçadas que você faz? Se você terminar comigo, vai acabar completamente sozinha! Porque nenhum homem no mundo vai aguentar as merdas que eu aguento por você!
Sem conseguir controlar as lágrimas que já caíam pelo rosto, juntou toda a força que tinha e empurrou o tronco de Logan com as duas mãos.
— Vá embora da minha casa! Agora! — ela gritou.
Para o seu alívio, ele obedeceu.
Por três dias que se seguiram, tudo o que conseguiu fazer foi chorar. Lamentou-se pela decepção e pela dor que sentiu ao ouvir aquelas palavras saindo da boca do homem que amava. Era como se alguém tivesse torcendo o seu coração dentro do peito. Logan sempre fora muito explosivo, mas aquela tinha sido a primeira vez que algo assim aconteceu. Até então, ele sempre a tinha tratado com muito amor, carinho e cuidado.
Na noite do terceiro dia, entretanto, ele apareceu na porta da sua casa com um grande buquê de flores nas mãos. Não que ela ligasse para isso, mas Logan chorou, se desculpou e prometeu que nada parecido jamais aconteceria novamente.
— Por favor, me perdoe. Eu não sei o que deu em mim, eu fiquei perdido de ciúmes. Eu sei que nada justifica, mas eu fico louco quando penso que alguém pode tirar você de mim. É como se a minha vida perdesse o sentido sem você. Eu juro que isso não vai se repetir, me deixa ser alguém melhor pra você. Eu preciso de você na minha vida, . Só uma segunda chance, é tudo o que eu peço. Deixa-me te provar que posso ser melhor.
decidiu perdoá-lo. Ela mesmo já tinha sido uma pessoa completamente impulsiva e sabia mais do que ninguém como era agir sem pensar. Logan a amava e ela tinha certeza que o homem jamais faria algo para conscientemente machucá-la. No fim, todas as pessoas mereciam uma segunda chance, especialmente aquelas que amamos.
E durante alguns meses, Logan manteve-se fiel a promessa que fez. Tentava agradá-la a todo custo e demonstrava constantemente o quanto estava arrependido, se esforçando de fato para ser um parceiro melhor na relação.
Não demorou muito, entretanto, para um episódio similar voltar a acontecer mais pra frente.
DIAS ATUAIS
Com um pedaço de papel, enxugou com cuidado a lágrima solitária que escorreu teimosamente por sua face. Não iria chorar. Ela não se permitiria ser a pessoa que chora no banheiro da festa.
Ela odiava esse tipo de evento. E Logan amava. Por isso eles sempre acabavam brigando. Não que aquilo tivesse de fato sido uma briga, não se qualificava nem mesmo como uma discussão. Na verdade, ultimamente ela sentia-se sem força até para brigar, coisa que antes amava fazer.
Respirou fundo algumas vezes a fim de se recompor e quando percebeu que estava emocionalmente preparada para enfrentar toda aquela gente de novo, caminhou para fora do banheiro. Em poucos segundos, no entanto, notou seu noivo aproximando-se a passos firmes. Antes que pudesse abrir a boca para dizer qualquer coisa, Logan a segurou novamente pelo pulso, dessa vez não tão forte, arrastando-a para longe dali.
— O que ele está fazendo aqui? — sua voz demonstrava uma irritação praticamente palpável.
— Ele quem? — ela perguntou, correndo os olhos pelos convidados presentes no salão sem entender ao certo sobre o que o noivo se referia.
— Não se faça de desentendida, . Você o convidou?
— Eu não faço ideia do que você está falando, Logan.
— O está aqui — ele cuspiu as palavras.
A simples menção ao nome fez o coração de falhar uma batida e ela não pôde conter um largo sorriso que tomou conta de seus lábios.
— Ele está? Onde? — perguntou, sentindo-se realmente ansiosa pela primeira vez na noite. Seus olhos buscaram a figura conhecida pelo salão, sem sucesso.
Em uma fração de segundos, Logan fechou a mão mais firme ao redor do pulso de , fazendo a mulher reclamar ao tentar se libertar de seu aperto.
— Você vai mandá-lo embora agora. Eu não quero esse moleque problemático aqui! Não hoje! — ele disse, autoritário.
— Você está me machucando, Logan. Me solte! — ela puxou o braço para si. Logan a impediu por um momento, irritado, mas soltou em seguida — Ele é o meu melhor amigo! De todas as pessoas presentes neste salão, é o único que eu realmente faço questão. Não vou mandá-lo embora!
— Se você não o fizer, vou ordenar que os seguranças façam — ele ameaçou.
— Experimente fazer isso e você vai realmente poder me acusar de te fazer passar vergonha. Se for mandado embora, eu vou junto! Você convidou milhares de pessoas que eu não suporto para esse jantar e eu nem sequer tive opinião nisso, então me desculpe se você terá que aturar uma pessoa. Divirta-se na sua reunião de negócios.
Ele fez menção de segurá-la novamente, mas quando notou outros convidados encarando a pequena discussão, desistiu. sempre odiou o fato de que seu noivo se preocupava demais em passar a imagem de uma perfeição inexistente para os outros. Naquele momento, entretanto, ela apenas agradeceu por isso, porque pelo menos por ora estaria livre para ir atrás de .
E foi o que ela fez. Não fora difícil encontrá-lo em meio aquelas pessoas. É claro que não seria difícil. Assim como ela, também não se encaixava ali. A diferença é que ele nem ao menos se dava ao esforço de tentar.
Na varanda do salão, pôde enxergar a figura do melhor amigo encostado no parapeito de concreto. Os cabelos levemente bagunçados e a barba por fazer contrastavam perfeitamente com o terno escuro que tinha certeza que não era dele. Não que o vestisse mal, pelo contrário, estava ridiculamente lindo como sempre. Mas sabia que o amigo não teria um terno disponível em seu armário, então provavelmente tinha alugado para a ocasião. A ideia de experimentando um terno a fez sorrir. É claro que ele não usava uma gravata, isso já seria demais. E no lugar dos sapatos, um Converse levemente surrado dava um ar rebelde ao homem. Assim como o cigarro que segurava entre os dedos. Ela adorava isso. Adorava a pose de garoto problema tanto quanto adorava os seus ombros largos, maxilar marcado e semblante misterioso que sempre carregava. O típico badboy. Exceto que ele conseguia ser a pessoa mais doce que ela conhecia. Deus, como estava com saudade.
Faziam exatos quatro meses que eles não se falavam. Em mais de dez anos de amizade, aquela tinha sido a primeira e única vez que isso aconteceu. Ela sentiu o ar pesar nos pulmões ao perceber o quanto sentia falta dele. Eles brigavam e se provocavam o tempo todo, mas nunca tinham ficado tanto tempo sem se falar.
Como se percebesse que estava sendo observado, levantou o rosto e os olhos intensos do homem faiscaram certeiramente contra os seus. Ele cravou o olhar nela, analisando-a de cima abaixo lentamente. Um sorriso que ficava entre a surpresa e o deboche formou-se em seus lábios e ela soube imediatamente o que ele estava pensando. Certamente aquela imagem era muito diferente do que ele jamais tinha visto dela. Ninguém faria se sentir tão hipócrita naquele momento quanto . Ainda assim, ela sorriu para ele, caminhando confiante em sua direção.
Quando chegou próxima o suficiente, os dois se encararam em silêncio por um momento. Ele foi o primeiro a falar:
— Quando eu ouvia que o casamento mudava as pessoas, não imaginava que era tão rápido — disse, o sorriso provocativo ainda brincava nos lábios. Como resposta, ela deu um tapa estalado em seu braço, fazendo com que ele abrisse a boca numa falsa indignação — Ouch!
— Não é porque estou usando um vestido e um salto que isso significa que eu tenha mudado. A propósito, belo terno — retrucou, mas nem mesmo sabia se acreditava na própria frase.
— Quem aqui falou alguma coisa sobre vestido? Eu estou mais chocado com o fato de estarem servindo caviar no seu jantar de casamento. A propósito, você está linda — provocou, usando as mesmas palavras que ela intencionalmente.
— Corta essa, . Até a última vez que eu chequei, não costumam servir batata frita em casamentos.
Ele deu de ombros.
— E desde quando você se preocupa com costumes? Pelo menos seria mais a sua cara.
— Então quer dizer que você veio até aqui só para me dar sermão de novo sobre como eu me tornei uma patricinha falsa? — apesar do tema da conversa, o tom não era de briga. Ele sorriu travesso.
— Alguém tinha que fazer isso, certo?
Ela cerrou os olhos e quando estava prestes a responder, sentiu puxá-la para um abraço. Ele envolveu os braços firmemente ao redor da sua cintura, enterrando o rosto na curva de seu pescoço. inspirou o perfume tão familiar do amigo, sentindo-se tonta de repente. Naquele momento, ela percebeu que estar distante de também significava estar distante de quem ela era. Ele era a sua âncora. Sempre seria. Não podia negar que aqueles quatro meses tinham sido possivelmente os mais infernais de sua vida.
— Eu senti tanto a sua falta, pirralha — ele sussurrou contra a pele nua de sua clavícula e sem que ela pudesse controlar, sentiu seus pelos se arrepiarem — Me desculpe. Eu não queria… eu não…
— Eu sei — ela interrompeu. Afastando-se minimamente apenas para encará-lo nos olhos. Seu olhar era quente e intenso e sentiu o coração praticamente pular do peito — Eu também não…
Eles não precisavam de muito. Não havia drama na relação entre os dois. Não havia meias conversas. Eles se entendiam, mesmo sem precisar falar. Os dois estavam arrependidos.
— Então, o momento realmente chegou. Você vai se casar amanhã — ele mudou de assunto, a voz não continha um pingo de animação. Era apenas uma constatação. Uma constatação do óbvio.
— Eu vou me casar amanhã — ela confirmou com um sorriso tímido.
— Quem diria que aquela pirralha encrenqueira um dia iria encontrar alguém que a aguentasse — ele disse, fazendo a garota sorrir.
— Você diz alguém além de você, né?
Ele piscou algumas vezes antes de responder. Um brilho diferente tomou conta da íris de . Pela primeira vez, não soube identificar o sentimento por trás de seu olhar. Ele parecia nostálgico. Ela quase se arrependeu pelo comentário e não soube porquê.
— Sim, alguém além de mim. Mas isso não vale porque eu tenho certeza que se o Logan tivesse te conhecido nas mesmas circunstâncias que eu, teria fugido rapidinho.
Dessa vez, ela gargalhou.
— Touché! Me admira você não ter fugido.
— Por favor, me dê um pouco mais de crédito. É preciso muito mais do que uma monstrinha raivosa para me intimidar.
ONZE ANOS ANTES
O som de solos de guitarras e bateria se misturava com as risadas altas, gritos e conversas que tomavam conta do ambiente. mal conseguia ouvir os próprios pensamentos em meio ao caos. Definitivamente, aquela casa não comportava nem a metade das pessoas ali presentes, que se espremiam pelos corredores e arredores de cada metro quadrado disponível no lugar. Tinha gente de todo tipo: da patricinha que parecia fazer cosplay da Reese Witherspoon em Legalmente Loira ao garoto emo que claramente tentava imitar o Billie Joe Armstrong.
Era o último ano do colegial e ele tinha acabado de chegar na cidade. Como não conhecia absolutamente ninguém da sua nova escola, achou que seria uma boa ideia aceitar o convite da festa de boas-vindas que de acordo com Jake, um veterano que conheceu na aula de espanhol dois dias atrás, acontecia todos os anos, faça chuva ou faça sol.
"Anualmente, nesse mesmo dia, os pais do Caleb viajam para um retiro e ele sempre dá uma festa de boas-vindas para abrir o ano letivo. Apareça por lá pra conhecer gente nova, se enturmar..." explicou o tal Jake.
Bom, a verdade é que ele estava quase arrependido. Não que não gostasse de festas ou de álcool - o que tinha bastante por ali, diga-se de passagem. Pelo contrário, ele dificilmente recusava um motivo para beber. A questão era que toda aquela história de se enturmar parecia algo que sua mãe dizia quando ele era criança, insistindo para o filho fazer novas amizades. No fim, era o último ano. Em poucos meses se livraria daquela tortura e dificilmente lembraria do nome de 99% das pessoas dali, então pra que se dar ao trabalho de aprender?
— Hey, . Você veio! — ouviu Jake surgir animado do seu lado, com o estado de consciência claramente já alterado pela bebida.
— E aí, cara. Resolvi dar uma passada — ele cumprimentou.
— Venha, vamos pegar uma cerveja pra você — o seguiu, sendo apresentado para algumas pessoas pelo caminho até a cozinha.
As próximas horas foram mais fáceis do que ele previu. Em poucos minutos, estava rindo e participando animadamente da conversa com os amigos de Jake, que zombavam sobre o drama das férias de um dos garotos do grupo que havia se envolvido com uma das estagiárias da secretaria.
Sem se dar conta, seu olhar foi atraído como um ímã até a figura de uma menina, que pela sua percepção parecia muito nova para aquele tipo de ambiente. Ela subiu no pequeno palco improvisado que estava montado no centro da sala e começou a mexer nos cabos de som dos instrumentos dali com uma certa habilidade. Curioso, julgou que a garota parecia ter no máximo uns 16 anos. Vestia uma calça preta completamente rasgada e um All Star Converse surrado. A blusa definitivamente era um pouco larga para o seu tamanho e o pulso carregava uma quantidade quase exagerada de pulseiras e munhequeiras. O rosto era o que dava o contraste. Parecia angelical demais para a produção rebelde da menina. Ele não entendia nada de maquiagem, mas ela não parecia usar nenhuma. Ele não saberia dizer o quê, mas algo nela fez sentir vontade de rir, não de um jeito ruim. Antes que pudesse se controlar, ele chamou a atenção de Jake.
— Quem é aquela menina? — apontou com a cabeça. Jake acompanhou seu olhar até a figura da garota e voltou a encará-lo novamente em seguida, dessa vez, desconfiado.
— A ? — ele bufou, negando com a cabeça — Pode esquecer! Essa garota é problema. E nova demais pra você.
— E não é nova demais para estar aqui, então?
— Vai falar isso pra ela — os meninos riram de alguma piada interna e ele se sentiu ainda mais curioso sobre a tal — Ela tá no primeiro ano agora. A garota até que é gente boa, meio esquentadinha demais pro meu gosto.
— Ele só diz isso porque cansou de tomar fora dela — um outro garoto falou, gargalhando em seguida. Jake rolou os olhos.
— Dá um tempo, cara. A menina mal saiu das fraldas. Tem bom gosto pra música, pelo menos, o que já faz ela ganhar uma vantagem sobre a maioria das mulheres dessa escola.
— Ela toca? — perguntou.
— Eles têm uma banda. Fazem um bom som, o pessoal gosta. De vez em quando se apresentam nas festas. Ela é a vocalista, na verdade — Jake deu de ombros.
— É mesmo?
Antes que pudesse ter uma resposta, alguns garotos subiram no palco, acompanhando . Um deles direcionou-se para o banco da bateria, enquanto outros dois assumiram o baixo e a guitarra. O ambiente foi tomado por gritos, assobios e palmas de apoio e achou graça. A menina cochichou alguma coisa no ouvido de um dos garotos, antes de passar a correia da própria guitarra em volta do pescoço, posicionando-se na frente do microfone principal com uma postura assustadoramente confiante para alguém do seu porte físico.
Os primeiros acordes de uma música desconhecida se fizeram presentes e quando a voz da garota ecoou no ambiente, a observou completamente surpreendido.
[N/a: Recomendo colocarem para ouvir “Freak Out” de Avril Lavigne]
Try to tell me what I shouldn't do
Tente me dizer o que eu não devo fazer
You should know by now
Você já deveria saber
I won't listen to you
Que eu não vou te escutar
Walk around with my hands up in the air
Eu ando por aí com minhas mãos pro alto
Cause I don't care
Porque eu não ligo
Cause I'm alright, I'm fine
Porque eu estou bem, eu estou ótima.
Just freak out, let it go
Apenas enlouqueça e deixe rolar
A música parecia ser realmente muito boa. Algumas pessoas acompanhavam cantando, já familiarizadas com a letra e melodia. Apesar de curtir bastante o estilo punk rock, realmente nunca tinha ouvido nada parecido. Talvez porque a voz da menina parecia doce demais para compor uma canção como aquela. Não era ruim, era apenas… diferente.
I'm gonna live my life
Eu vou viver minha vida
I can't ever run and hide
Eu não posso jamais correr e me esconder
I won't compromise
Eu não vou me comprometer
Cause I'll never know
Pois eu nunca vou saber
I'm gonna close my eyes
Eu vou fechar meus olhos
I can't watch the time go by
Eu não posso ver o tempo passar
I won't keep it inside
Não vou segurar isso
Freak out, let it go
Enlouqueça e deixe rolar
Just freak out, let it go
Apenas enlouqueça e deixe rolar
You don't always have to do everything right
Você não tem que fazer tudo certo sempre
Stand up for yourself
Levante-se por si mesmo
And put up a fight
E arranje uma briga
Walk around with your hands up in the air
Ande por aí com suas mãos pro alto
Like you don't care
Como se você não ligasse
Cause I'm alright, I'm fine
Porque eu estou bem, eu estou ótima.
Just freak out, let it go
Apenas enlouqueça e deixe rolar
A letra foi outra coisa que o fez querer sorrir. Poderia visualizar facilmente em sua mente a adolescente rebelde trancada em seu quarto rabiscando os versos da música em um caderno surrado. Ela parecia ter atitude, pelo menos. carregava um olhar intenso e tinha bastante segurança em cima do palco. Jake tinha comentado que a garota era problema, mas pra ele, ela parecia mais um daqueles memes de gatinhos raivosos, completamente inofensiva, mas ainda assim divertida de se olhar. Por algum motivo desconhecido ele quis saber mais sobre ela. O interesse não partiu de um lugar romântico ou sexual, afinal, ela era realmente um pouco nova pra ele e pra ser sincero, não fazia muito o seu estilo. Era apenas curiosidade pela imagem excêntrica e original da menina.
I'm gonna live my life
Eu vou viver minha vida
I can't ever run and hide
Eu não posso jamais correr e me esconder
I won't compromise
Eu não vou me comprometer
Cause I'll never know
Pois eu nunca vou saber
I'm gonna close my eyes
Eu vou fechar meus olhos
I can't watch the time go by
Eu não posso ver o tempo passar
I won't keep it inside
Não vou segurar isso
Freak out, let it go
Enlouqueça e deixe rolar
On my own
Sozinha
Let it go
Deixe rolar
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
yeah, yeah
Just let me live my life
Apenas me deixe viver minha vida
realmente cantava bem. Ela não gritava ou desafinava em nenhum momento. Mantinha um timbre agudo e melódico que, mais uma vez, não combinava muito com a letra ou ritmo da canção, mas de alguma forma se encaixava de uma maneira completamente interessante. Quase que instantaneamente, ele sentiu vontade de ouvi-la cantar outras músicas.
I can't ever run and hide
Eu não posso jamais correr e me esconder
I won't compromise
Eu não vou me comprometer
Cause I'll never know
Pois eu nunca vou saber
I'm gonna close my eyes
Eu vou fechar meus olhos
I can't watch the time go by
Eu não posso ver o tempo passar
I won't keep it inside
Não vou segurar isso
Freak out, let it go
Enlouqueça e deixe rolar
Gonna freak out, let it go
Vou enlouquecer e deixar rolar
Gonna freak out, let it go
Vou enlouquecer e deixar rolar
Após o fim da música, a banda emendou mais três composições originais, todas tão boas quanto a primeira. percebeu que ele teria todas facilmente as canções na playlist do seu celular e as escutaria com prazer. Eles realmente tinham talento.
***
Já haviam se passado algumas horas após o show e todos estavam um tanto quanto alterados pela bebida, inclusive . Quando ele decidiu ir até a cozinha para pegar outra cerveja, sentiu que alguém o observava. Se tinha uma coisa em que ele era bom era perceber quando estava sendo analisado. Girou o pescoço, olhando por entre a aglomeração de pessoas, quando finalmente seus olhos se cruzaram com os dela.
estava escorada em uma das paredes próximas a entrada da casa, com o olhar curioso fixo sobre ele. Diferente do que normalmente acontecia quando alguém era pego no flagra observando outra pessoa, ela não desviou o olhar. Pelo contrário, arqueou uma sobrancelha, sorrindo de lado. Um garoto desconhecido estava bem ao seu lado, tagarelando algo que ela realmente não parecia interessada em escutar. se pegou estudando a menina pela segunda vez naquela noite. Decidiu se aproximar dela, afinal, realmente queria conhecê-la melhor, mas quando chegou próximo o suficiente, percebeu que e o tal rapaz estavam, na verdade, no meio de uma discussão. Ele se interrompeu no caminho. Ao contrário dela, o outro garoto nem pareceu notar a presença de .
— , você precisa me desculpar. Eu juro que não fiz por mal, eu estava bêbado, não foi minha intenção, eu juro! — ele se explicava desesperadamente. desviou o olhar de pela primeira vez, encarando o menino ao seu lado com um certo tédio.
— Quer dizer que você não teve a intenção de enfiar a sua língua na boca da minha melhor amiga? Interessante.
— Você sempre disse que a gente não tinha nada, que não queria compromisso. Não entendo porque está tão chateada agora.
— E claramente eu estava certa em não querer nada com você. Será que você pode me deixar em paz?
— Por favor, , vamos conversar com calma.
não tinha a intenção de bisbilhotar. Ele estava pronto para sair dali, mas tudo aconteceu muito rápido…
fez menção de ir embora, prestes a deixar o garoto falando sozinho, mas antes que ela pudesse fazer isso, ele a segurou pelo braço violentamente. Sem conseguir se controlar, deu um passo largo em direção aos dois, pronto para fazer o imbecil tirar as mãos imundas e agressivas de cima da garota. O que ele não esperava, entretanto, era que iria se soltar bruscamente do menino, antes de desferir um soco certeiro bem no meio nariz do idiota, que cambaleou para trás.
abriu a boca, surpreso, mas precisou conter a enorme vontade de rir. Algumas pessoas se juntaram imediatamente ao redor dos dois. Metade delas gritava incentivando a briga e a outra metade encarava a cena em choque.
Quando o garoto se recuperou do golpe, ele avançou com tudo pra cima de , mas antecipando o movimento, se colocou no meio dos dois, impedindo-o de encostar nela.
— Você está ficando maluca? — o menino gritou sobre o ombro de , seu nariz sangrava um pouco. revirou os olhos.
— Eu mandei você me deixar em paz, Lucas.
O tal Lucas riu sarcástico.
— Quer saber de uma coisa? Não foi apenas uma vez que eu fiquei com a sua amiguinha. Foram várias vezes! Quando você saía lá de casa, ela chegava. E acredite, nós fazíamos coisas muito mais interessantes do que eu fazia com você — ele cuspiu.
Em uma fração de segundos, pôde notar a íris de faiscar em raiva e dessa vez foi ela quem avançou descontrolada pra cima do garoto.
— Eu vou acabar com você! — ela gritava, acertando vários tapas e socos em toda a extensão do peito e rosto do menino. Algumas pessoas tentavam ajudar a separar a briga, puxando pela cintura, mas ela era mais forte do que aparentava. Ou estava realmente com muita raiva.
Jake foi quem conseguiu controlá-la, bloqueando os dois braços dela atrás do próprio corpo. Lucas ainda tentava alcançar , mas o empurrou fortemente contra a parede, fazendo o garoto perder o equilíbrio novamente.
— Ei, otário, quer que eu termine o trabalho dela e quebre de vez o seu nariz? — ele ameaçou, autoritário. Lucas o encarou ainda com raiva, mas recuou — Foi o que pensei. Dê o fora daqui! E você — ele apontou para , que estava minimamente mais calma — Venha comigo.
Ele segurou a menina pela mão, tirando-a do meio das pessoas que ainda estavam tumultuadas no local da recente briga.
— Me solta, eu não vou a lugar nenhum — ela tentava inutilmente livrar sua mão de . Ele riu.
— Se você quiser, não tenho o menor problema em te carregar daqui — ameaçou.
Ela cerrou os olhos.
— Você não faria iss…. — Antes que ela conseguisse concluir a frase, levantou seu corpo pelas pernas, jogando a garota sobre o ombro, que começou a gritar e bater com força nas suas costas — Me solta, seu troglodita! Pra onde você está me levando?
Ela se debatia e começou a rir ainda mais alto. Definitivamente, um meme de gatinho raivoso. Apenas quando eles chegaram em um ponto um pouco afastado no jardim da frente da casa, ele a colocou no chão.
bufou, tentando domar os cabelos bagunçados antes de cruzar os braços na frente do corpo.
— Pronto, mocinha. Já deu de confusão por hoje. Você está bem? — ele perguntou, observando com cuidado o rosto da menina para ter certeza de que ela não tinha se machucado.
— É claro que estou. E quem você pensa que é pra tentar me dizer o que fazer?
Ele riu novamente. Algo nela fazia querer apertar as suas bochechas. Que coisa estranha para se sentir.
— Parece que você leva as letras das suas músicas muito a sério, não é? E eu penso que sou um cara bem legal que te tirou de uma baita confusão. Inclusive, de nada.
— Eu não precisava da sua ajuda! — ela retrucou.
— Claramente. Tenho certeza que seria incrível pra você se alguém chamasse a polícia e seus pais descobrissem que você se envolveu em uma briga no meio de uma festa abarrotada de álcool e drogas, ainda por cima sendo menor de idade.
Ela o encarou irritada.
— Você não tem nada mais interessante pra fazer do que bancar a babá? — provocou.
Ele deu de ombros.
— Provavelmente. Mas notei que você estava me olhando minutos antes de dar uma de Taz Mania. Achei que pudesse querer me conhecer — disse, com um sorriso convencido nos lábios.
Ela abriu a boca, indignada, mas riu em seguida.
— Você acabou de me chamar de diabo da tasmânia? E daí que eu estava te olhando? Eu olho pra muitas pessoas. O que te faz pensar que eu queria te conhecer só por causa disso?
— Bom, porque eu queria te conhecer.
Os dois se entreolharam cúmplices. Mal sabiam eles que aquela tinha sido apenas a primeira das incontáveis brigas que iria precisar tirar .
DIAS ATUAIS
— Eu estava com muita raiva de você naquele dia — disse, sorrindo com a lembrança.
— Você estava doidinha para me beijar, isso sim — ele provocou, fazendo a mulher rolar os olhos.
— Essa vontade durou só dois segundos. Bastou eu conhecer a sua incrível personalidade para me desencantar na mesma hora — ela riu alto, mas apenas tombou a cabeça levemente para o lado, subitamente interessado na confissão.
— Você nunca tinha admitido isso antes.
— Admitido o que?
— Que realmente queria me beijar — ele explicou e sentiu as bochechas ficarem quentes.
— Não seja tão convencido, idiota. Meu julgamento aos 16 anos nitidamente não era confiável.
Dessa vez, ele riu.
— E eu sinceramente não consigo entender até hoje como foi que você me conquistou tão rápido.
— Essa é fácil… foi o meu charme natural — ela brincou.
— Ou a sua habilidade patológica de se meter em problemas — ele retrucou, enquanto acendia um cigarro, prendendo-o entre os lábios.
suspirou, sentindo-se triste de repente. Ela apoiou os dois cotovelos no parapeito da varanda. virou o corpo de lado, ficando de frente para ela. Os dois compartilharam um silêncio confortável por alguns minutos.
— Às vezes eu sinto falta de poder ser aquela garotinha encrenqueira. E de ter você do meu lado pra me tirar dos problemas. Posso? — ela perguntou, apontando o dedo indicador para o cigarro.
estendeu para ela, que deu um longo trago, fechando os olhos em seguida.
— Mudar não é uma coisa ruim, . E não importa quem você seja, o que você faça ou com quantas pessoas você se case, eu sempre vou estar do seu lado te tirando de problemas.
Os lábios dela se curvaram minimamente em um sorriso.
— O problema de mudar é quando a gente se perde no caminho.
Ele levou uma de suas mãos até o rosto da mulher, segurando uma mecha de cabelo que caía na frente de seus olhos, colocando-a delicadamente atrás da orelha.
— Às vezes é preciso se perder para voltar se encontrar. Do mesmo jeito que às vezes é preciso perder uma pessoa para compreendermos o que ela verdadeiramente significa para nós — ele praticamente sussurrava, suas palavras continham mais emoção do que ela podia perceber. notou os olhos de serem tomados por uma intensidade nova que a deixou praticamente sem ar. Ela quase podia ouvir o barulho do seu coração batendo acelerado e intensamente contra o peito — Me desculpe por ter dito aquilo a última vez que nos vimos.
O semblante da garota se contraiu em um sorriso completamente ausente de graça.
— Não se desculpe. Eu precisava ouvir aquilo. Talvez ainda precise.
— Mesmo assim, eu não precisava ter sido tão duro. Uma vez eu jurei que jamais faria algo que te magoasse e eu fiz. Eu fui egoísta.
soltou o ar pesadamente, lembrando-se da última discussão que tiveram quatro meses atrás. Ela nem se lembrava o que tinha motivado a briga, mas as palavras de ainda martelavam na sua mente.
"Eu não estou nem aí se você vai se casar com aquele imbecil ou não. Ele é um otário e nós dois sabemos disso, mas vida é sua e você faz o que achar melhor com ela, sempre foi assim. O problema não é o casamento, mas quem você se tornou por causa desse relacionamento. Você poderia abrir mão das coisas que ama, passar a fazer tudo o que sempre jurou que não faria, deixar as pessoas mandarem em você e te dizerem o que fazer… poderia até virar freira e se mudar para um convento que eu não me importaria e estaria do seu lado, desde que você fizesse isso com dignidade e verdade, sem abrir mão da sua essência. Mas eu não gosto dessa pessoa que você se tornou, porque você não é ela. Você é tudo menos ela. E a cada dia que passa eu vejo você se perdendo mais e mais e isso dói pra caralho. Então me perdoe se eu não estiver mais do seu lado porque eu não suporto assistir a pessoa que eu mais amo no mundo ir embora simplesmente porque você se tornou alguém covarde demais pra tomar qualquer tipo de atitude."
Talvez aquilo doesse tanto porque era verdade. tinha se perdido e não sabia mais o que fazer para se encontrar novamente. Ela sentiu os olhos marejarem.
— Você estava certo. Eu sou realmente uma covarde, . Eu sou covarde e eu sou fraca — sua voz saiu entrecortada na mesma hora que a primeira lágrima escorreu pelos seus olhos.
— Ei, não repita isso nunca mais — aproximou-se ainda mais dela. Seus corpos praticamente se encostaram e ele levantou a mão até o rosto de , deslizando o polegar delicadamente por sua face a fim de secar as lágrimas que caíam — Não permita que ninguém no mundo te convença do contrário. Nem mesmo eu ou o idiota do seu noivo. Você é a mulher mais corajosa, mais forte e mais incrível que eu conheço. Você só precisa se lembrar disso e se for necessário eu vou fazer você se lembrar todos os dias, ok? Não me importo que você seja uma patricinha metida agora.
A brincadeira fez sorrir entre as lágrimas. Em todos esses anos, era o único que conseguia acalmá-la diante de qualquer situação.
— Eu estou atrapalhando alguma coisa? — o timbre grave de Logan se fez presente no ambiente. Em surpresa, deu um pulo pra trás, fazendo bufar e revirar os olhos em frustração.
— Sim. Você sempre atrapalha, idiota — provocou, levemente irritado.
— Você não vai querer me desafiar, moleque.
deu um passo na direção de Logan, pronto para responder, mas se colocou à frente, a fim de evitar qualquer briga entre os dois.
— Já chega, vocês dois. Nada de confusão hoje. Precisa de ajuda com algo, Logan?
— É hora dos brindes, querida. Melhor que eu esteja junto da minha noiva para isso, não é? — com um sorriso convencido, Logan a puxou pela cintura, tirando-a de perto de , que por sua vez fechou mãos em um punho. deu um sorriso sem graça.
— Claro, vamos.
Quando os dois se colocaram para dentro do salão, todos já estavam posicionados em suas mesas, prontos para realizarem os brindes. pôde notar a presença de alguns de seus amigos e pessoas da sua família, incluindo seu pai. Mas o salão estava lotado principalmente com amigos de . Muitos ela mal conhecida, outros decididamente não gostava.
Quando os dois começaram a planejar o casamento, ela praticamente implorou para que fizessem algo pequeno e íntimo. Nunca quis uma festa, nunca quis cerimônia. Mas Logan era advogado, então sabia argumentar bem. Nem se lembrava como, mas havia perdido a briga. De acordo com ele, aquela seria uma comemoração importante, que eles iriam se lembrar para o resto da vida e também uma ótima oportunidade para criar vínculo com pessoas importantes, ganhar intimidade... Ela já desejava esquecer a noite que teoricamente deveria querer lembrar para o resto da vida. Aquilo estava longe de ser o ideal.
Alguns amigos fizeram seus brindes, proferindo palavras muito bonitas a respeito do relacionamento dos dois. Palavras que de fato representavam parte da união entre ela e Logan, mas que há muito já não eram mais verdadeiras.
Logo que se conheceram, seu noivo demonstrou possuir uma personalidade encantadora. Para ser sincera, nunca deu muita sorte com namorados. Sempre teve muita dificuldade para se deixar envolver e as poucas vezes em que isso aconteceu, acabou com o coração partido e completamente decepcionada. sempre esteve lá para ela. Em cada um de seus términos e desilusões. Apesar de tudo, sempre fora uma garota forte e decidida. Mas quando Logan apareceu, ele se mostrou diferente e ela abaixou a guarda novamente. Depois do primeiro ano, entretanto, algo mudou. Mais precisamente depois do pedido de casamento. Ele se mostrou ser uma pessoa ciumenta, controladora e o relacionamento dos dois caiu em um padrão confuso e estranho. Amor - Carinho - Briga - Explosão - Arrependimento - Culpa - Perdão e então tudo se repetia. De alguma forma, ele sempre conseguia convencê-la de que iria mudar, sempre a fazia se sentir culpada. E agora ela já não tinha tanta certeza se ele era de fato quem ela pensou que fosse. Mas já era tarde demais. Iria se casar no dia seguinte. Porque tinha sido fraca para tomar qualquer atitude, assim como fez questão de pontuar quatro meses atrás. E no fundo, por mais que não quisesse admitir, ela tinha medo dele. E isso a fazia se sentir ainda mais covarde, pois nunca teve medo de nada nem ninguém antes. O que havia mudado?
só notou o quanto estava distraída em sua própria mente quando, ao fim do último brinde, Logan colou seus lábios nos dela. Apenas um milésimo de segundo antes disso acontecer, entretanto, a última coisa que observou foi , encostado na porta da varanda, desviando o olhar da cena.
***
A maior parte das pessoas já tinha ido embora. observava a equipe de serviço finalizar toda a limpeza do local. Ela já se encontrava parada do lado de fora do hotel, junto com Logan e alguns dos amigos dele da empresa. Como era de se esperar, discutiam negócios.
Já passava das duas da manhã e não tinha mais visto . Ele provavelmente devia ter ido embora. Sem se despedir? Não parecia muito a cara dele, mas ainda assim era possível.
Respirou fundo, sentindo o cansaço tomar conta de seu corpo.
— Logan, amor, será que podemos ir embora? Já está tarde — pediu baixo, no ouvido do noivo.
— Vamos em dez minutos, ok, querida?
— Você disse isso dez minutos atrás — reclamou — Eu estou cansada e amanhã é o nosso casamento. Precisamos dormir, por favor.
— , eu estou no meio de uma conversa aqui — chamou-lhe atenção, enquanto voltava a atenção para a conversa que estava tendo sobre um de seus casos.
piscou algumas vezes, completamente frustrada. Se desvencilhou do braço de Logan com facilidade, caminhando novamente para dentro do salão que já estava vazio e parcialmente apagado. Precisava sentar, seus pés estavam lhe matando naqueles saltos.
Estava prestes a fazer o que desejava quando seus olhos foram chamados novamente para uma figura conhecida, sentado no canto mais afastado do salão. Os olhos de brilhavam em curiosidade sobre ela e por um segundo simplesmente esqueceu o que iria fazer. Ele não tinha ido embora, afinal. Estava ali, analisando-a tão fixamente que fez o ar faltar de seus pulmões.
Sem que pudesse se conter, caminhou lentamente até ele, que permaneceu com o olhar abrasador observando intensamente cada um de seus movimentos.
— Achei que tivesse ido embora — admitiu, quando chegou perto o suficiente dele.
— Como se alguma vez eu já tivesse ido embora de qualquer lugar sem me despedir de você — provocou.
— É o que dizem: há uma primeira vez para tudo — ela brincou, sentando-se na cadeira ao lado de .
Ele se inclinou minimamente na direção dela.
— Hoje foi uma noite de primeiras vezes. Primeira vez que te vejo vestida dessa forma. Você está realmente linda, se já não disse isso.
— Você já disse — ela sorriu discretamente.
— Que bom. Então eu reforço. Primeira vez que fizemos as pazes depois da nossa primeira briga de verdade. Primeira vez que você admitiu que gostaria de ter me beijado quando me conheceu. Estou quase satisfeito com essa noite, senhorita Forbes.
franziu o cenho, sem conseguir impedir o sorriso bobo que formou-se em seus lábios. Era tão fácil com ele.
— Você está bêbado, ? — perguntou, já sabendo da resposta. Claramente o amigo não estava no seu estado perfeito de consciência. Ela o conhecia bem demais para saber disso e embora estivesse achando graça, sabia que e álcool eram uma combinação muito perigosa.
— Por que diz isso? — perguntou, o semblante ganhando um ar divertido.
— Porque você só me chama de "senhorita Forbes" quando está bêbado.
De repente, sua feição escureceu e o seu sorriso levado transformou-se num curvar de lábios quase triste.
— Talvez essa seja a última vez que possa te chamar assim. A partir de amanhã será senhora Jones, certo?
Os dois se fitaram em silêncio por um tempo e a cada segundo que se passava o ar parecia mais pesado. estava lindo, a barba por fazer, os trajes, o rosto levemente corado em virtude do excesso de álcool que tinha ingerido. Ela precisou balançar a cabeça para afastar a linha de raciocínio em que sua mente estava a levando, percebendo que estava analisando por tempo demais. Ele apenas sustentava seu olhar.
— Eu não pretendo mudar meu nome — explicou, mas a voz foi praticamente um sussurro.
Ele sorriu, um sorriso doce que fez o acompanhar. se aproximou ainda mais e afundou o rosto no pescoço da mulher, pegando-a de surpresa. Automaticamente, pôde sentir o coração acelerar em resposta a proximidade repentina.
— Desculpe, minha cabeça está girando — sua voz saiu rouca e abafada contra a pele de , fazendo-a engolir em seco — Você estava certa, acho que bebi demais.
Ela passou os dedos pelos cabelos de , confortando-o em um carinho gentil.
— Quando é que eu não estou certa, não é mesmo?
Ele se afastou parcialmente de , o suficiente apenas para voltar a fitá-la nos olhos.
— Não se case com ele — pediu. Firme, na lata, sem rodeios. sentiu o coração dar um sobressalto.
Sempre soube que o amigo não aprovava seu relacionamento, isso não era uma novidade. Ele e Logan viviam trocando farpas em toda e qualquer oportunidade que tivessem, mas ela nunca imaginou que fosse de fato pedir-lhe algo assim. Ele nem sequer gostava de se meter no relacionamento dos dois.
— Por que?
— Porque eu estou apaixonado por você — aquelas palavras atingiram como um soco certeiro na boca do estômago. Sua cabeça girou e ela precisou se segurar mais forte na cadeira onde estava sentada para não cair — Eu sempre fui apaixonado por você, desde a primeira vez em que coloquei meus olhos sobre os seus. E me desculpe por só ter me dado conta disso agora, quando já era tarde demais. Eu me odeio por isso. Mas agora você sabe.
Ela não conseguia respirar. As palavras ecoavam nos seus ouvidos enquanto sentia o sangue ser bombeado para todo o seu corpo. Os olhos de a encaravam praticamente em chamas. Ela simplesmente não conseguia respirar. Ele tinha realmente acabado de dizer aquilo? Sua mente se tornou um completo caos em uma fração de segundos.
— … eu….
Antes que conseguisse dizer qualquer coisa, acabou com a distância que restava entre eles, colando os lábios gentilmente aos dela. E então tudo se silenciou.
Não havia mais confusão, não havia mais medo, sofrimento ou dúvida. Tudo se dissipou e se transformou em . Sua mente foi tomada inteiramente por ele. Só conseguia perceber o toque quente contra o seu, o cheiro amadeirado, o encaixe perfeito de seus corpos. Pela primeira vez em muito tempo, se sentiu ela mesma. Com ele, tudo voltou ao lugar.
Quando suas línguas se encontraram, sentiu todos os pelos de sua nuca se arrepiarem, entregando-se totalmente ao momento. arfou, devorando seus lábios em uma urgência faminta, intensificando o beijo. Ele agarrou-a ainda mais pela cintura e ela pôde sentir o gosto de whiskey se misturando deliciosamente ao sabor de .
Ele se afastou minimamente, ofegante, mantendo suas testas coladas e olhos fechados.
— Eu não suporto vê-la infeliz como está. Você pode enganar a todos, mas não a mim — ele colou suas bocas novamente, em um selinho — Por favor, volte pra mim. Eu preciso de você. Do seu fogo, da sua coragem, da sua companhia. Volte pra mim. Volte pra você. — suplicou, antes de tomá-la novamente para si.
O beijo de era inebriante. Movimentavam suas bocas em uma sincronia absolutamente perfeita e programada. Ele pertencia a ela, assim como ela pertencia a ele.
O pensamento a assustou, fazendo se separar bruscamente dele.
— Não! — disse, firme. Ela estava noiva de outro homem. Iria se casar em menos de 24 horas. Não deveria estar fazendo aquilo. Não deveria estar sentindo aquelas coisas. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Raiva, frustração, medo, culpa. Tudo se misturava enquanto ela encarava seu melhor amigo que carregava um olhar de súplica — Você não pode fazer isso. Você não pode dizer essas coisas agora e me beijar agora. Eu estou noiva, eu vou me casar amanhã, caso você não tenha percebido.
— Acredite, eu percebi! — respondeu, em cólera.
— Sinto muito, — disse, antes de dar as costas e sair correndo dali. Não sabia dizer exatamente pelo que sentia muito. O que sabia é que nunca antes sentiu tanta dor dentro de si.
***
Mais tarde, ainda naquela noite, estava finalmente deitada na sua cama. O banho quente conseguiu acalmá-la minimamente, mas ainda sentia o coração acelerado e a mente confusa. estava apaixonado por ela.
Levou os dedos até os lábios, tocando-os delicadamente enquanto lembrava-se do gosto do beijo que trocaram. Sem que pudesse prever, uma lembrança guardada a sete chaves no seu inconsciente veio a tona, juntando-se ao caos após anos esquecida.
CINCO ANOS ANTES
estava deitada em sua cama, o nariz vermelho e os olhos inchados revelavam que ela havia chorado consideravelmente. Já passava de meia noite e ela não conseguia pregar os olhos. Ela odiava chorar por causa de homem. Ia contra tudo o que ela dizia ser. Sabia que Oliver, seu agora ex-namorado, não merecia suas lágrimas. Mesmo sabendo disso ela sentia seu corpo inteiro doer. Como pôde ser tão burra?
Um barulho desconhecido estalou contra a sua janela, fazendo se assustar em um sobressalto. Antes que pudesse se levantar, outro estalar alto soou contra o vidro da janela.
Ela se levantou curiosa, caminhando em direção as cortinas, abrindo-as de uma vez. A primeira coisa que notou foi a moto preta de parada na rua em frente a sua casa. Logo em seguida, sua visão se chocou com um par de olhos expressivos a encarando de seu jardim, no andar debaixo. arremessou mais uma pedrinha em sua direção, acertando o vidro ainda fechado, fazendo soltar um gritinho agudo com o susto, mas sorriu em seguida. O que aquele idiota pensa que está fazendo?
Ela abriu a janela, colocando a cabeça para fora.
— Você está maluco? Quer quebrar o vidro e acordar todo mundo? — ralhou, fazendo ele sorrir malicioso.
— Estou subindo — em um movimento ágil e conhecido, escalou uma árvore cujos galhos se apoiavam na parte do telhado que ficava em frente a janela de . Ela já perdera as contas de quantas vezes fez isso, subindo escondido até o seu quarto pela janela.
Ela passou as pernas pela abertura e em seguida o corpo, sentando-se no telhado do lado de fora da casa. O vento frio de Nova York abraçou seu corpo, fazendo-a se arrepiar. Em poucos segundos, se acomodou ao seu lado, levemente ofegante pelo esforço.
— Hoje não era a sua festa de formatura da faculdade? O que está fazendo aqui? — ela perguntou, ainda surpresa.
— Como se eu conseguisse me divertir em qualquer festa que você não está. Além disso, vim fazer o que eu faço de melhor: cuidar de você — ele riu, passando seu braço ao redor dos ombros de , que por sua vez deixou a cabeça tombar confortavelmente sobre os dele.
— E quem disse que eu preciso ser cuidada?
— Você não me engana, sei que esse narizinho vermelho não está assim por causa do frio. Você andou chorando, senhorita Forbes.
— E você andou bebendo, senhor Brown — tentou desviar o assunto, rindo, mas sem de fato achar graça.
— Hoje é a minha formatura, precisava comemorar. E já que você não foi até a comemoração, trouxe a comemoração até você.
levou a mão até o bolso interno da jaqueta, tirando de lá uma garrafa de vodka quase inteira cheia. gargalhou pela primeira vez naquele dia. Ele não tinha jeito mesmo. Ele abriu a garrafa de vidro, dando o primeiro gole e passando para em seguida.
Ela fez o mesmo, sentido o conteúdo transparente queimar e aquecer a sua garganta. Dizem que o melhor remédio para o coração partido é álcool. E, no caso dela, . Ela tinha os dois agora.
— Não queria que tivesse perdido sua festa por causa de mim — ela confessou, passando a garrafa para ele, que bebeu mais um pouco.
— Quando é que você vai entender que eu sempre vou preferir a sua companhia, sobre qualquer outra coisa?
Ela sorriu, sentindo-se instantaneamente mais feliz. Era o efeito , só ele conseguia fazer ela se sentir melhor, não importa qual seja a situação.
Quase uma hora depois, a garrafa de vodka já estava praticamente vazia e os dois riam de alguma história idiota. Seus corpos estavam aninhados um contra o outro, ambos protegendo-se do vento gelado.
— O seu problema, pirralha, é que você tem um dedinho podre para homens. Sabe, eu tento não interferir na sua vida amorosa, mas acho que vou precisar começar a fazer isso, porque já está ficando inviável quebrar o nariz de todo infeliz que te faz sofrer.
gargalhou. No fundo, sabia que ele estava mesmo certo. Ela de fato tinha um dedo podre para relacionamentos.
— Ora, e não acha que a minha ineficiência para escolher homens já não começa por você, ? — provocou.
— Não tenho dúvidas de que sim. Mas se você fosse minha, eu jamais a faria sofrer — apesar do tom casual de , sentiu uma agitação incomum tomar conta de seu estômago.
— Se eu fosse sua? Eu sou sua melhor amiga, isso não conta?
cerrou os olhos pra ela.
— Você entendeu o que eu quis dizer, não banque a espertinha.
— , eu teria que ter sérios desejos sadomasoquistas se permitisse me apaixonar por você. Com certeza sofreria mais do que em todos os meus relacionamentos juntos — debochou, arqueando uma sobrancelha em sinal de desafio.
Ele abriu a boca em uma falsa indignação, mas tomou mais um gole da vodka em seguida, dando de ombros.
— Com você seria diferente.
— Como você pode ter certeza? Eu não sou ingênua o suficiente para achar que uma mulher muda um homem, querido.
— Eu tenho certeza porque com você já é diferente.
Como sempre, a encarava com uma intensidade quase intimidadora. Aos poucos, ele aproximou-se dela, praticamente encostando seus narizes. sentiu a cabeça girar ao respirar o hálito quente do amigo.
— O que você está fazendo? — sua voz não foi mais do que um sopro.
— Pegando pra mim o melhor presente de formatura que eu poderia ganhar — e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, colou seus lábios nos dela.
DIAS ATUAIS
se remexeu na cama. Depois daquele primeiro - e único - beijo que compartilharam, os dois simplesmente não tocaram mais no assunto. Tinha acordado na manhã seguinte com a cabeça latejando em ressaca e com a certeza de que jamais traria aquilo a tona. Não saberia lidar com aquilo. Não sabia nem mesmo o que tinha significado.
Atualmente, entretanto, as coisas eram diferentes. Não eram mais crianças e não poderia simplesmente ignorar o que tinha acontecido. disse que estava apaixonado por ela. a beijou. E tudo o que ela conseguia pensar era que queria mais daquilo.
***
Mais uma vez em pé diante do espelho, encarava agora a própria imagem em um belo vestido branco rendado. O mesmo vestido que ela própria havia escolhido meses antes, mas que no momento não a fazia sentir nem de perto a empolgação que deveria naquele dia.
Pelo contrário, ela queria fugir.
Queria sair correndo dali. Queria ir embora para o mais longe que conseguisse. O quarto do hotel onde se encontrava parecia vazio e sem vida. Em menos de uma hora deverá caminhar em direção ao altar. Por que sentia que na verdade seus sonhos estavam terminando ao invés de começar?
Não poderia fazer aquilo.
Mas será que teria a força necessária para simplesmente não fazer?
Duas batidas na porta a despertaram de seus pensamentos.
A imagem de seu pai, vestido com um terno elegante, se colocou para dentro do cômodo.
— Querida, você está linda — ele disse, visivelmente emocionado.
— Obrigada, pai — agradeceu, sentindo o habitual nó se formar na garganta.
Seu pai caminhou lentamente na direção de , segurando seu rosto ternamente entre as duas mãos.
— , meu amor, você sabe que fazer rodeios não é muito do meu feitio, então vou direto ao ponto. Eu estarei do seu lado e te apoiarei em qualquer decisão que você precisar tomar, ok? Ainda há tempo de desistir, se for isso o que você deseja — ele disse docemente. arregalou os olhos diante da surpresa de suas palavras.
— Pai…
— Não precisa me responder ou se justificar, querida. Apesar de não ser o melhor pai do mundo, eu te conheço. Sei que não está feliz. E tudo o que um pai deseja para um filho é a sua felicidade. Principalmente para você, . Você merece a felicidade. Se existe uma parte de você que ainda tem dúvida sobre isso, não vá adiante. Porque o tempo é algo que jamais poderá ser recuperado. Eu me arrependo muito de não ter aproveitado o tempo com a sua mãe como deveria. Não quero que cometa o mesmo erro que eu e só perceba o que perdeu quando for tarde demais — as lágrimas já escorriam livremente pelos olhos de — Não se prenda a mim, a empresa ou a qualquer outra coisa para tomar a sua decisão. Essa decisão é sua e apenas sua. Sinta-a com o coração. Estarei lá fora se precisar de mim e vou estar com você independente da sua escolha.
— Obrigada — ela agradeceu, sem saber mais o que dizer. Seu pai secou algumas das lágrimas que molharam seu rosto e se colocou novamente para fora do quarto, deixando-a sozinha.
Ela precisava organizar os pensamentos, mas tudo estava uma bagunça. Não era mais feliz em seu relacionamento. Isso parecia claro como a água agora. Duvidava que poderia voltar a se sentir verdadeiramente feliz ao lado de Logan. Essa era a sua decisão, então? Iria desistir? Logan não permitiria. O que ele iria fazer? O que ele seria capaz de fazer caso ela desistisse? Eram muitas perguntas que passavam rapidamente pela mente de , fazendo sua cabeça girar.
Ouviu a maçaneta chiar novamente e imaginou que fosse seu pai de novo.
— Eu já vou, pai. Só preciso de um minuto… — sua voz morreu gradualmente quando, ao girar o corpo, percebeu que não era o seu pai que a encarava. A figura de estava parada imóvel a sua frente.
O ar sumiu de seus pulmões de uma só vez. Não estava pronta para lidar com ele agora. Não ali. Não tão rápido. Sem que pudesse controlar, foi tomada pelo desejo de correr até ele e tomar a sua boca para si novamente. Só o pensamento a fez estremecer. Ele estava tão lindo. O quarto pareceu ficar menor. Precisava sair dali, precisava de ar. Não poderia lidar com aquilo.
— Eu tinha um discurso preparado na minha cabeça, mas ele simplesmente evaporou. Você está… linda — ele tentou descontrair, com sucesso. deixou escapar um sorriso. Como sempre, conseguia isso, não importava o seu estado de espírito — Basicamente, a ideia toda do discurso se resumia em uma coisa: me desculpe. Você estava certa, eu não tinha o direito de fazer aquilo com você. Não me arrependo de ter te beijado e nem de ter finalmente expressado o que eu sinto, porque é verdade. Mas eu não tinha o direito de confundi-la um dia antes do seu casamento. Você não merecia isso. Eu fui um idiota e não soube administrar meus sentimentos. Isso não muda nada entre nós, vou continuar do seu lado como sempre estive. Por favor, não me afaste.
Ela o analisava com cuidado. A cada palavra que saía da boca de , ela tinha mais certeza do que sentia. Ela o amava. Não, ela era apaixonada por ele. Sempre fora apaixonada por ele. A forma como se sentia ao lado de … seus sorrisos eram dele, seus pensamentos eram dele, sua preocupação, sua atenção… Tudo dela pertencia a e não havia mais dúvidas sobre isso. O sentimento que ficou adormecido por tanto tempo, camuflado atrás de uma amizade profunda e verdadeira entre os dois, parecia agora querer gritar, tomando conta de todo o seu ser. A escuridão foi embora ao passo que essa percepção se fortaleceu em sua mente.
— Sim, você não tinha o direito — disse, mas o sorriso escapou pelos lábios. Ela sentia vontade de sorrir agora que tinha certeza do que queria. Agora que tinha certeza de quem era. Queria gargalhar, como não fazia há meses. Ela o amava.
— Me desculpe. Se você quiser que eu vá embora, tudo bem, vou entender.
— Pode fazer uma coisa por mim? — ela perguntou, aproximando-se dele. Repousou uma das mãos no rosto de , acariciando sua barba enquanto ele a encarava com um semblante confuso e curioso.
— Qualquer coisa.
— Me espere lá fora, ao lado de sua moto, tudo bem? — ele a encarou, juntando as sobrancelhas mostrando preocupação, sem entender. revirou os olhos — Apenas faça o que eu estou pedindo. Vá.
Ele deu meia volta, saindo do quarto em seguida.
tomou fôlego, sabia o que precisava fazer. Pela primeira vez em anos, sentiu-se corajosa como costumava ser.
Em passos firmes, caminhou pelos corredores do hotel. Ela praticamente corria em ansiedade. A adrenalina pulsando por todo o seu corpo. Cruzou com algumas pessoas pelo caminho, que a observavam com curiosidade, mas ela não parou. Em poucos segundos, parou em frente ao quarto reservado para Logan. Sem permitir que a insegurança tomasse conta, bateu três vezes na porta, confiante.
Em poucos segundos, Logan abriu, parecendo completamente surpreso ao vê-la. Ela entrou de uma vez, passando por ele sem dizer nada.
— Sabe que não dá sorte o noivo ver a noiva antes do casamento, né?
Ela o encarou e, de repente, sentiu-se pequena de novo. Não! Tinha que fazer aquilo. a amava. Ele estava esperando-a no andar debaixo. Aquele pensamento a confortou, recuperando a coragem que tinha perdido. Não precisa ter medo. Sabia quem era.
— Me desculpe — disse. Logan a encarou confuso.
— Pelo que?
Ainda fitando Logan, a mulher retirou lentamente o anel de noivado do seu anelar, entendendo a joia a ele. O simples gesto fez o ombro de parecer mais leve.
— Eu não posso fazer isso.
Em um ímpeto não previsto, os olhos de Logan assumiram um tom assustadoramente violentos.
— O que você está fazendo? — ele praticamente urrou.
— O que deveria ter feito há muito tempo. Terminando essa farsa.
Logan avançou até ela em um rompante, empurrando-a agressivamente contra a porta de entrada do quarto. estremeceu de medo, sentindo o choque de sua cabeça contra a superfície. Ele segurou os dois pulsos dela firmemente, um a cada lado de seu rosto.
— Você está louca se pensa que eu vou permitir que você termine comigo no dia do nosso casamento — disse de forma intimidadora. Ela quis chorar, mas se conteve.
Tinha força agora, sabia quem era. Tinha .
— Você não precisa permitir absolutamente nada, Logan. Está feito. Me solte. Eu não quero isso. Eu não quero você.
— Ora, ora. Está se achando agora, não é? Você não passa de uma inútil, no fim das contas. A única coisa para qual você servia, não conseguiu fazer direito. Acredite, querida, esse casamento nada mais significava pra mim do que um empurrãozinho para o imprestável do seu pai se aposentar e passar a empresa pra mim. Nem para isso você serve, foi apenas uma grande perda de tempo.
As palavras ecoaram nos ouvidos de , mas, ao contrário do que esperava, ela se sentiu aliviada. Logan não a amava. Não precisaria sentir culpa. Estava livre dele, de uma vez por todas.
— Me solte, você está me machucando! — ordenou com a voz mais séria que conseguiu.
— Cadê a sua força agora, baby? — ele apertou ainda mais os dedos no pulso de , fazendo-a gemer com a dor.
Em um movimento rápido, ela levantou o joelho com toda a força que conseguiu, acertando em cheio as partes íntimas de Logan, que a soltou instantaneamente. Ele se curvou, gemendo em dor e precisou se controlar para não rir.
— Saia da minha vida, baby. Você não me conhece — disse, jogando o anel grosseiramente em cima de Logan, que ainda resmungava em aflição.
— Você vai se arrepender disso, .
Mal escutou a ameaça de Logan, colocando-se para fora do quarto. Correu novamente pelos corredores, sentindo-se livre. Sentindo-se ela mesma novamente. Estava livre de Logan. Não precisava mais fingir. Não precisava mais se esconder. a esperava. Ele a amava. Ela o amava.
Quando finalmente se pôs para fora do hotel, respirou fundo pelo que parecia ser a primeira vez em anos. Tinha fôlego novamente. Encontrou sem dificuldade. Ele parecia apreensivo, apoiado em sua moto. sorriu docemente com a imagem. Apenas quando se aproximou dele, seus olhares se cruzaram.
Ela o amava. Seu melhor amigo. Seu .
Ele a salvou. Ele a fez se reencontrar.
— O que você está fazendo? — ele perguntou, o semblante completamente confuso, encarando-a com surpresa e curiosidade no olhar. não fazia ideia de como estava o próprio estado, mas imaginava que deveria estar ofegante e ansiosa.
Sem responder, ela colou os lábios dos dois com segurança. A mesma euforia tomou conta de si e ela sentiu o corpo inteiro estremecer. Era o seu lugar, ela tinha certeza agora. Antes que pudesse aprofundar o beijo, separou-se dele. Os dois se entreolharam. A íris de estava carregada de expectativa e excitação. Ele estava feliz, assim como ela.
— Fazendo o que você pediu. Voltando pra você.
Um largo sorriso iluminou o rosto de e sem conseguir se conter, ele juntou seus lábios novamente em um beijo intenso que a deixou sem fôlego.
— O que quer fazer agora? — ele perguntou.
— Primeiro, nós vamos subir na sua moto… — ela sussurrou, prendendo os lábios inferiores de entre os dentes e puxando-os maliciosamente em seguida. Ele arfou.
— E depois?
deu de ombros, um sorriso provocativo brincava nos lábios.
— Enlouquecer e deixe rolar!
encarava a própria imagem refletida no espelho de corpo todo, posicionado em um dos cantos de seu quarto. Naquele dia, mais do que nunca, ela deveria estar se sentindo linda. Quer dizer, ela estava mesmo linda. O vestido midi vermelho-sangue que havia sido desenhado especialmente para ela era perfeitamente elegante e marcava delicadamente sua cintura. O tecido de alta costura da peça caía de maneira graciosa pelas suas pernas e movimentava-se suavemente toda vez que ela se movia. O cabelo bem arrumado emoldurava o rosto pintado com uma maquiagem impecável e o salto fino desconfortável dava o toque final.
Apesar de toda a produção, alguma coisa parecia errada. Algo não se encaixava na cena e ela demorou alguns segundo para perceber que a imagem, apesar de tão familiar, era completamente desconhecida para ela. Quando fitou os próprios olhos, soube na mesma hora que era o olhar. Aquele olhar apático e sem vida definitivamente não pertencia a ela. Era o olhar de uma estranha. Por um breve segundo aquela percepção a assustou. Ela piscou algumas vezes e levantou lentamente uma das mãos até o rosto, tocando com cuidado na própria bochecha apenas para ter certeza de que a figura no espelho repetiria o mesmo movimento, como uma prova de que aquela mulher era mesmo ela. Ou, pelo menos, uma nova versão dela mesma. Talvez, uma versão não tão nova assim. Há quanto tempo carregava aquele olhar? Há quanto tempo não se reconhecia na própria imagem? Há quanto tempo sentia-se prisioneira dentro dos olhos de uma estranha? Ela não saberia dizer, mas tinha certeza de que aquele não era, nem de longe, o primeiro dia. Será que mais alguém havia notado que o brilho tão característico dos seus olhos tinha desaparecido? Arriscaria dizer que sim. Talvez não todo mundo, mas uma pessoa deveria ter notado. Ele tinha notado.
suspirou fundo, tentando acalmar as batidas aceleradas do seu coração contra o peito. Forçou um sorriso, percebendo que seu semblante mais pareceu uma careta. Aquele deveria ser um dia especial, afinal, era o tão esperado jantar de ensaio do seu casamento.
Casamento. Quantas mulheres não sonham com isso? Reunir os amigos e familiares, usar um belo vestido branco e caminhar com um lindo buquê até o altar para celebrar o amor junto da pessoa com quem deseja passar o resto da vida. Era realmente o sonho de conto de fadas. O único problema era que nunca gostou de princesas. Nunca quis ser uma princesa. Nunca desejou viver um conto de fadas. Mas isso não importava mais, porque dali a menos de 24 horas ela estaria casada. Seria esposa de alguém. Não só de alguém, seria esposa de Jones. Ela o amava, certo? Ela deveria estar feliz. Ela o amava.
Então porque diabos tudo o que conseguia pensar era no maldito olhar sem vida refletido no espelho? A de anos atrás sentiria pena de quem quer que carregasse aquele olhar.
Talvez fosse o nervosismo, tentou se convencer.
Muitas mulheres já relataram que pensaram em fugir do casamento minutos antes de entrarem no altar, apenas por conta da insegurança, ansiedade e da tensão. Foram meses de preparo. Estava exausta. Decisões, escolhas, estresse. Era o nervosismo, tinha que ser.
encarou novamente o anel de noivado posicionado no seu anelar esquerdo. O diamante brilhava e ela sorriu sutilmente, lembrando-se do dia em que Logan propôs.
DOIS ANOS ANTES
checou o visor do telefone pela milésima vez desde que chegara ao restaurante, apenas para se decepcionar novamente. Sem novas mensagens. Já estava na segunda taça de vinho e poderia jurar que o garçom que a servia já começava a fitá-la piedosamente. Nem poderia culpá-lo, afinal, uma moça bebendo sozinha há quase uma hora em um dos restaurantes mais românticos de Nova York em pleno Dia dos Namorados, claramente indicava que ela tinha tomado um belo de um bolo e isso era sim motivo suficiente para pena.
Ela não se importou. Uma das qualidades - e também potencial defeito - de era que ela nunca se importava com o que as pessoas pensavam dela.
Logan havia avisado que se atrasaria um pouco. Bom, um pouco definitivamente não era uma hora e ela estava morrendo de raiva. Odiava fazer papel de boba. Como se ela precisasse disso. Pegou o celular, digitando rapidamente uma mensagem grosseira com um ultimato que dizia que se ele não chegasse em cinco minutos ela iria embora, mas antes que pudesse pensar em enviar, viu a figura de seu namorado cruzar a porta de entrada do restaurante, caminhando rapidamente até ela.
— Me desculpe, querida. Fiquei preso na empresa — ele lamentou, depositando um beijo carinhoso na bochecha da garota, que por sua vez permaneceu séria.
— Hm.
Logan sorriu. Aquele sorriso que costumava desmontar qualquer mulher em questão de segundos. Mas ela estava puta demais para ceder tão facilmente.
— Já te disseram que você fica linda quando está com raiva?
Ela arqueou uma sobrancelha, bebericando mais um gole do vinho, completamente impassível.
— Já te disseram que é completamente grosseiro deixar sua namorada esperando uma hora bem no Dia dos Namorados? Já estava pensando em arrumar um substituto para você.
— Eu já pedi desculpa, . O que mais você quer que eu faça? Avisei que atrasaria, seu pai precisou de mim até mais tarde no escritório hoje. Sabe como ele tem estado estressado esses dias, talvez seja a hora dele se aposentar logo.
bufou, sabendo que aquilo era mesmo uma verdade. O senhor Forbes já tinha idade e certamente não possuía tanta saúde mental para tomar conta do escritório de advocacia sozinho. E por isso, é claro, Logan procurava ser extremamente prestativo na empresa em que trabalhava há praticamente dois anos.
— Tudo bem, não quero falar sobre meu pai ou sobre trabalho hoje, ok? — ela sorriu de lado, segurando uma das mãos do namorado sobre a mesa.
— Que bom, porque na verdade eu tenho maneiras muito mais interessantes para aproveitarmos a noite, o que inclui uma pergunta importante que eu venho querendo te fazer há um tempo.
Ela cerrou os olhos, encarando-o desconfiada.
— Restaurante chique, Dia dos Namorados, uma pergunta importante… Deixa eu adivinhar, decidiu me pedir em casamento para compensar o seu atraso? — ela riu.
Logan gargalhou, levando a mão até o bolso interno do paletó, tirando de lá uma pequena caixa de veludo preta.
— E se eu te disser que é exatamente isso que decidi fazer? — ele abriu a caixinha, revelando um deslumbrante anel de diamante. arregalou os olhos, abrindo a boca em choque. Todo o murmurinho do ambiente pareceu desaparecer aos poucos e ela só conseguia ouvir as batidas do próprio coração palpitando contra o peito — Forbes, você aceita se casar comigo?
Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, incapaz de pronunciar qualquer som. Sabia que o amava muito. E de fato não se importaria em passar o resto da sua vida com ele. Mas nunca se imaginou casando. Casamento nunca tinha sido uma prioridade para ela. Mas era isso o que as pessoas faziam, certo? Quando se apaixonavam por alguém.
— Eu… eu… — tentava organizar os pensamentos, mas tudo parecia distante. Queria responder, mas sentia a garganta fechada em um nó.
— Eu sei que muitas vezes eu não sou o melhor namorado do mundo para você, mas você me faz querer ser melhor a cada dia e eu adoraria poder passar o resto da minha vida tentando fazer você se sentir como eu me sinto a cada segundo do seu lado. Eu te amo.
engoliu em seco, sentindo as lágrimas formarem-se em seus olhos antes de responder:
— Eu aceito — a voz saiu falha, mas um sorriso tomou conta de seu rosto sem muita dificuldade.
Logan sorriu de volta, curvando-se sobre a mesa para grudar seus lábios nos dela, como costumava fazer desde que começaram a namorar, há cerca de um ano e meio. observou o namorado - agora noivo - deslizar o anel pelo seu dedo. Resolveu ignorar a sensação de que sua mão de repente pareceu pesar uma tonelada.
Algumas horas mais tarde naquela mesma noite, enquanto aguardavam o manobrista trazer-lhes o carro, encarou novamente a jóia em seu anelar, percebendo um novo questionamento incomodar a sua mente. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Logan se manifestou:
— Já está reconsiderando a decisão? — ele brincou, notando o olhar duvidoso da garota sobre o anel.
Ela riu baixo.
— Não é isso, é só que… você pode me jurar que esse pedido não tem nada a ver com a sua ascensão na empresa do meu pai? — perguntou, desafiadora. Logan, entretanto, rolou os olhos.
— Não seja ridícula, . Eu sei que nós nunca falamos sobre casamento antes, mas eu te amo e eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado — ele sorriu doce, colando suas bocas em um selinho carinhoso — E se tivesse, qual seria o problema? Não é como se a gente vivesse um relacionamento forçado.
A mulher arqueou uma sobrancelha.
— Me desculpe por não querer servir de escada pra sua vida profissional, Jones — ela debochou, mas riu em seguida — Não faça eu me arrepender disso ou eu acabo com você.
— Eu sei, bravinha. Venha, vamos embora, está frio aqui.
DIAS ATUAIS
Aquela lembrança agora parecia tão distante. Quase uma vida inteira atrás, embora tivessem se passado apenas dois anos. O quanto poderia mudar em dois anos? O que de fato havia mudado? Por que só agora ela percebia que aquele dia tinha sido possivelmente um dos últimos em que se sentiu, de fato, ela mesma?
Um barulho vindo do seu celular anunciou uma nova mensagem recebida, tirando-a de seus devaneios. Quando leu as palavras no visor, desejou não tê-lo feito:
"De: Logan.
Onde você está? Todos estão esperando por você, não seja egoísta e venha já para cá. O conceito de noiva atrasada é completamente deselegante. Não me faça passar mais vergonha."
Ela bufou, guardando o celular na bolsa sem se dar ao trabalho de responder, antes de direcionar-se até o carro que a aguardava na entrada de seu prédio.
O salão principal do hotel estava impecavelmente decorado. Todas as mesas foram organizadas com louças sofisticadas e lindos arranjos de rosas brancas e vermelhas. As luzes baixas promoviam uma ambientação romântica para o local e a banda tocava uma seleção de músicas bregas que detestava, mas a qual não pôde opinar.
Já tinha perdido a conta de quantas pessoas cumprimentou e agradeceu pela presença, tentando desconversar toda vez que alguém perguntava se ela estava ansiosa para o dia seguinte. Ansiosa não era bem a palavra que definia seu estado de espírito naquela noite. O que havia de errado com ela, afinal?
Ao contrário de , Logan estava radiante. Recebia todos com muito entusiasmo e engatou longas conversas, incluindo com os seus colegas de profissão e até mesmo alguns dos clientes importantes da empresa que foram convidados contra a vontade de . Ela apenas fingia prestar atenção. Por que ele tinha que transformar absolutamente tudo em uma maldita reunião de trabalho?
— Meus parabéns, casal — um homem grisalho que tinha certeza já ter conhecido em algum momento, mas não conseguia se lembrar quem era se aproximou com a esposa a tiracolo para cumprimentá-los — Agora falta pouco para o grande dia. Estão ansiosos?
sorriu amarelo. Pelo menos uma característica da sua personalidade ainda permanecia intacta: a dificuldade que sentia em fazer média.
— Muito obrigado, Rupert. Estamos muito ansiosos — Logan agradeceu, abraçando pela cintura.
— A decoração está tão linda, você tem muito bom gosto, — a esposa do tal Rupert elogiou.
Antes que ela pudesse responder, Logan manifestou-se:
— Ora, nós contamos com a melhor organizadora de eventos de Manhattan. Se dependesse da estaríamos casando em uma garagem de rock no Brooklyn — ele brincou. Ela, entretanto, não esboçou o menor dos sorrisos, encarando o noivo de rabo de olho.
— Decididamente não é para todo mundo — ela debochou e deu de ombros, tomando mais um longo gole do champanhe enquanto o casal a encarava com os olhos levemente arregalados pela grosseria.
Seu noivo fingiu um sorriso, inclinando-se discretamente em sua direção para sussurrar raivoso em seu ouvido:
— Comporte-se, . Seja simpática — um leve aperto na parte superior de seu braço fez a garota juntar as sobrancelhas em uma careta de dor.
Não prestou atenção no assunto que se seguiu a partir dali, desvencilhando-se de Logan rapidamente.
— Se me dão licença, vou até a toalete.
Sem esperar por uma resposta, ela caminhou a passos largos em direção ao banheiro, quase tropeçando nos próprios pés. Trancou a porta atrás de si assim que adentrou o cômodo.
Ela virou de uma só vez o restante da bebida que ainda restava na taça, sentindo o líquido descer facilmente pela garganta. Precisava urgentemente de algo mais forte, champanhe definitivamente não seria o suficiente para fazê-la aguentar uma noite inteira daquela tortura. Talvez vodka. Ou algo de teor alcoólico ainda maior. O quanto de tequila precisaria tomar até Logan se irritar dizendo que ela estava o envergonhando?
suspirou, encarando novamente sua imagem no espelho acima da pia, apenas para notar que agora seus olhos já estavam marejados. Droga, quando foi que havia se tornado tão covarde? Logo ela, parecia piada. Sentia vontade de se socar.
Fechou a mão em um punho ao observar pelo reflexo a lateral de seu braço levemente avermelhada devido a força feita por Logan minutos antes. Engoliu o bolo que se formou em sua garganta, lembrando-se da primeira vez que havia decidido terminar o relacionamento com o noivo.
UM ANO E SEIS MESES ANTES
— Chega, Logan! Eu estou cansada! Estou cansada dos seus ataques de ciúmes. Estou cansada de você tentar controlar a minha vida. Eu não aguento mais! — ela gritava gesticulando, enquanto caminhava de um lado para o outro na sala do seu apartamento — Eu não sei como foi que a gente chegou a esse ponto, mas já chega! Isso claramente não está funcionando.
Logan a fitava completamente impassível. A mandíbula travada e os punhos fechados não disfarçavam a raiva que ele estava sentindo.
— Então quer dizer que a minha noiva pode ficar se oferecendo igual uma vadia para qualquer um e eu tenho que achar isso normal? — ele urrou, claramente fora de si.
riu sarcástica, completamente desacreditada.
— Você por acaso está se ouvindo? Nós estávamos apenas conversando! O Jake era da minha escola e fazia pelo menos uns cinco anos que eu não o via! Você está completamente doente.
Algumas horas antes, os dois estavam comemorando o aniversário de um dos amigos de Logan em um pub, quando ela esbarrou com Jake, um antigo colega de escola com quem não mantinha contato. Os dois conversaram amigavelmente por um tempo, o que foi suficiente para seu noivo surtar, obrigando-a a ir embora do local grosseiramente e a acusando de coisas absurdas durante todo o trajeto até o seu apartamento.
— Me desculpe por não querer dividir o que é meu! Primeiro , agora esse tal Jake… — ele debochou.
— Por que você faz questão de colocar o em todas as nossas brigas? Ele nem estava lá hoje, deixe-o fora disso! E pra começo de conversa, eu não sou sua! Eu não sou um objeto para que você tenha posse de mim. As pessoas não são coisas, Logan. Pare de tratá-las como tal!
— Você é a minha noiva! — ele gritou novamente.
— Não mais. Isso claramente não está certo. Por favor, vá embora, eu quero ficar sozinha — ela pediu, agora mais calma.
A íris de Logan foi tomada por pura fúria. Ele caminhou rapidamente até a frente de , segurando os dois ombros da mulher com uma força assustadora, empurrando-a violentamente contra a parede. Ela nem teve tempo de se recuperar da surpresa e da dor que tomou conta dos seus braços e cabeça, pois o homem começou a berrar novamente, com o rosto a centímetros do seu:
— A única coisa que não está certa aqui é você! Você me provoca e acha que eu tenho que ficar calado? Você acha que outra pessoa no meu lugar aguentaria metade das palhaçadas que você faz? Se você terminar comigo, vai acabar completamente sozinha! Porque nenhum homem no mundo vai aguentar as merdas que eu aguento por você!
Sem conseguir controlar as lágrimas que já caíam pelo rosto, juntou toda a força que tinha e empurrou o tronco de Logan com as duas mãos.
— Vá embora da minha casa! Agora! — ela gritou.
Para o seu alívio, ele obedeceu.
Por três dias que se seguiram, tudo o que conseguiu fazer foi chorar. Lamentou-se pela decepção e pela dor que sentiu ao ouvir aquelas palavras saindo da boca do homem que amava. Era como se alguém tivesse torcendo o seu coração dentro do peito. Logan sempre fora muito explosivo, mas aquela tinha sido a primeira vez que algo assim aconteceu. Até então, ele sempre a tinha tratado com muito amor, carinho e cuidado.
Na noite do terceiro dia, entretanto, ele apareceu na porta da sua casa com um grande buquê de flores nas mãos. Não que ela ligasse para isso, mas Logan chorou, se desculpou e prometeu que nada parecido jamais aconteceria novamente.
— Por favor, me perdoe. Eu não sei o que deu em mim, eu fiquei perdido de ciúmes. Eu sei que nada justifica, mas eu fico louco quando penso que alguém pode tirar você de mim. É como se a minha vida perdesse o sentido sem você. Eu juro que isso não vai se repetir, me deixa ser alguém melhor pra você. Eu preciso de você na minha vida, . Só uma segunda chance, é tudo o que eu peço. Deixa-me te provar que posso ser melhor.
decidiu perdoá-lo. Ela mesmo já tinha sido uma pessoa completamente impulsiva e sabia mais do que ninguém como era agir sem pensar. Logan a amava e ela tinha certeza que o homem jamais faria algo para conscientemente machucá-la. No fim, todas as pessoas mereciam uma segunda chance, especialmente aquelas que amamos.
E durante alguns meses, Logan manteve-se fiel a promessa que fez. Tentava agradá-la a todo custo e demonstrava constantemente o quanto estava arrependido, se esforçando de fato para ser um parceiro melhor na relação.
Não demorou muito, entretanto, para um episódio similar voltar a acontecer mais pra frente.
DIAS ATUAIS
Com um pedaço de papel, enxugou com cuidado a lágrima solitária que escorreu teimosamente por sua face. Não iria chorar. Ela não se permitiria ser a pessoa que chora no banheiro da festa.
Ela odiava esse tipo de evento. E Logan amava. Por isso eles sempre acabavam brigando. Não que aquilo tivesse de fato sido uma briga, não se qualificava nem mesmo como uma discussão. Na verdade, ultimamente ela sentia-se sem força até para brigar, coisa que antes amava fazer.
Respirou fundo algumas vezes a fim de se recompor e quando percebeu que estava emocionalmente preparada para enfrentar toda aquela gente de novo, caminhou para fora do banheiro. Em poucos segundos, no entanto, notou seu noivo aproximando-se a passos firmes. Antes que pudesse abrir a boca para dizer qualquer coisa, Logan a segurou novamente pelo pulso, dessa vez não tão forte, arrastando-a para longe dali.
— O que ele está fazendo aqui? — sua voz demonstrava uma irritação praticamente palpável.
— Ele quem? — ela perguntou, correndo os olhos pelos convidados presentes no salão sem entender ao certo sobre o que o noivo se referia.
— Não se faça de desentendida, . Você o convidou?
— Eu não faço ideia do que você está falando, Logan.
— O está aqui — ele cuspiu as palavras.
A simples menção ao nome fez o coração de falhar uma batida e ela não pôde conter um largo sorriso que tomou conta de seus lábios.
— Ele está? Onde? — perguntou, sentindo-se realmente ansiosa pela primeira vez na noite. Seus olhos buscaram a figura conhecida pelo salão, sem sucesso.
Em uma fração de segundos, Logan fechou a mão mais firme ao redor do pulso de , fazendo a mulher reclamar ao tentar se libertar de seu aperto.
— Você vai mandá-lo embora agora. Eu não quero esse moleque problemático aqui! Não hoje! — ele disse, autoritário.
— Você está me machucando, Logan. Me solte! — ela puxou o braço para si. Logan a impediu por um momento, irritado, mas soltou em seguida — Ele é o meu melhor amigo! De todas as pessoas presentes neste salão, é o único que eu realmente faço questão. Não vou mandá-lo embora!
— Se você não o fizer, vou ordenar que os seguranças façam — ele ameaçou.
— Experimente fazer isso e você vai realmente poder me acusar de te fazer passar vergonha. Se for mandado embora, eu vou junto! Você convidou milhares de pessoas que eu não suporto para esse jantar e eu nem sequer tive opinião nisso, então me desculpe se você terá que aturar uma pessoa. Divirta-se na sua reunião de negócios.
Ele fez menção de segurá-la novamente, mas quando notou outros convidados encarando a pequena discussão, desistiu. sempre odiou o fato de que seu noivo se preocupava demais em passar a imagem de uma perfeição inexistente para os outros. Naquele momento, entretanto, ela apenas agradeceu por isso, porque pelo menos por ora estaria livre para ir atrás de .
E foi o que ela fez. Não fora difícil encontrá-lo em meio aquelas pessoas. É claro que não seria difícil. Assim como ela, também não se encaixava ali. A diferença é que ele nem ao menos se dava ao esforço de tentar.
Na varanda do salão, pôde enxergar a figura do melhor amigo encostado no parapeito de concreto. Os cabelos levemente bagunçados e a barba por fazer contrastavam perfeitamente com o terno escuro que tinha certeza que não era dele. Não que o vestisse mal, pelo contrário, estava ridiculamente lindo como sempre. Mas sabia que o amigo não teria um terno disponível em seu armário, então provavelmente tinha alugado para a ocasião. A ideia de experimentando um terno a fez sorrir. É claro que ele não usava uma gravata, isso já seria demais. E no lugar dos sapatos, um Converse levemente surrado dava um ar rebelde ao homem. Assim como o cigarro que segurava entre os dedos. Ela adorava isso. Adorava a pose de garoto problema tanto quanto adorava os seus ombros largos, maxilar marcado e semblante misterioso que sempre carregava. O típico badboy. Exceto que ele conseguia ser a pessoa mais doce que ela conhecia. Deus, como estava com saudade.
Faziam exatos quatro meses que eles não se falavam. Em mais de dez anos de amizade, aquela tinha sido a primeira e única vez que isso aconteceu. Ela sentiu o ar pesar nos pulmões ao perceber o quanto sentia falta dele. Eles brigavam e se provocavam o tempo todo, mas nunca tinham ficado tanto tempo sem se falar.
Como se percebesse que estava sendo observado, levantou o rosto e os olhos intensos do homem faiscaram certeiramente contra os seus. Ele cravou o olhar nela, analisando-a de cima abaixo lentamente. Um sorriso que ficava entre a surpresa e o deboche formou-se em seus lábios e ela soube imediatamente o que ele estava pensando. Certamente aquela imagem era muito diferente do que ele jamais tinha visto dela. Ninguém faria se sentir tão hipócrita naquele momento quanto . Ainda assim, ela sorriu para ele, caminhando confiante em sua direção.
Quando chegou próxima o suficiente, os dois se encararam em silêncio por um momento. Ele foi o primeiro a falar:
— Quando eu ouvia que o casamento mudava as pessoas, não imaginava que era tão rápido — disse, o sorriso provocativo ainda brincava nos lábios. Como resposta, ela deu um tapa estalado em seu braço, fazendo com que ele abrisse a boca numa falsa indignação — Ouch!
— Não é porque estou usando um vestido e um salto que isso significa que eu tenha mudado. A propósito, belo terno — retrucou, mas nem mesmo sabia se acreditava na própria frase.
— Quem aqui falou alguma coisa sobre vestido? Eu estou mais chocado com o fato de estarem servindo caviar no seu jantar de casamento. A propósito, você está linda — provocou, usando as mesmas palavras que ela intencionalmente.
— Corta essa, . Até a última vez que eu chequei, não costumam servir batata frita em casamentos.
Ele deu de ombros.
— E desde quando você se preocupa com costumes? Pelo menos seria mais a sua cara.
— Então quer dizer que você veio até aqui só para me dar sermão de novo sobre como eu me tornei uma patricinha falsa? — apesar do tema da conversa, o tom não era de briga. Ele sorriu travesso.
— Alguém tinha que fazer isso, certo?
Ela cerrou os olhos e quando estava prestes a responder, sentiu puxá-la para um abraço. Ele envolveu os braços firmemente ao redor da sua cintura, enterrando o rosto na curva de seu pescoço. inspirou o perfume tão familiar do amigo, sentindo-se tonta de repente. Naquele momento, ela percebeu que estar distante de também significava estar distante de quem ela era. Ele era a sua âncora. Sempre seria. Não podia negar que aqueles quatro meses tinham sido possivelmente os mais infernais de sua vida.
— Eu senti tanto a sua falta, pirralha — ele sussurrou contra a pele nua de sua clavícula e sem que ela pudesse controlar, sentiu seus pelos se arrepiarem — Me desculpe. Eu não queria… eu não…
— Eu sei — ela interrompeu. Afastando-se minimamente apenas para encará-lo nos olhos. Seu olhar era quente e intenso e sentiu o coração praticamente pular do peito — Eu também não…
Eles não precisavam de muito. Não havia drama na relação entre os dois. Não havia meias conversas. Eles se entendiam, mesmo sem precisar falar. Os dois estavam arrependidos.
— Então, o momento realmente chegou. Você vai se casar amanhã — ele mudou de assunto, a voz não continha um pingo de animação. Era apenas uma constatação. Uma constatação do óbvio.
— Eu vou me casar amanhã — ela confirmou com um sorriso tímido.
— Quem diria que aquela pirralha encrenqueira um dia iria encontrar alguém que a aguentasse — ele disse, fazendo a garota sorrir.
— Você diz alguém além de você, né?
Ele piscou algumas vezes antes de responder. Um brilho diferente tomou conta da íris de . Pela primeira vez, não soube identificar o sentimento por trás de seu olhar. Ele parecia nostálgico. Ela quase se arrependeu pelo comentário e não soube porquê.
— Sim, alguém além de mim. Mas isso não vale porque eu tenho certeza que se o Logan tivesse te conhecido nas mesmas circunstâncias que eu, teria fugido rapidinho.
Dessa vez, ela gargalhou.
— Touché! Me admira você não ter fugido.
— Por favor, me dê um pouco mais de crédito. É preciso muito mais do que uma monstrinha raivosa para me intimidar.
ONZE ANOS ANTES
O som de solos de guitarras e bateria se misturava com as risadas altas, gritos e conversas que tomavam conta do ambiente. mal conseguia ouvir os próprios pensamentos em meio ao caos. Definitivamente, aquela casa não comportava nem a metade das pessoas ali presentes, que se espremiam pelos corredores e arredores de cada metro quadrado disponível no lugar. Tinha gente de todo tipo: da patricinha que parecia fazer cosplay da Reese Witherspoon em Legalmente Loira ao garoto emo que claramente tentava imitar o Billie Joe Armstrong.
Era o último ano do colegial e ele tinha acabado de chegar na cidade. Como não conhecia absolutamente ninguém da sua nova escola, achou que seria uma boa ideia aceitar o convite da festa de boas-vindas que de acordo com Jake, um veterano que conheceu na aula de espanhol dois dias atrás, acontecia todos os anos, faça chuva ou faça sol.
"Anualmente, nesse mesmo dia, os pais do Caleb viajam para um retiro e ele sempre dá uma festa de boas-vindas para abrir o ano letivo. Apareça por lá pra conhecer gente nova, se enturmar..." explicou o tal Jake.
Bom, a verdade é que ele estava quase arrependido. Não que não gostasse de festas ou de álcool - o que tinha bastante por ali, diga-se de passagem. Pelo contrário, ele dificilmente recusava um motivo para beber. A questão era que toda aquela história de se enturmar parecia algo que sua mãe dizia quando ele era criança, insistindo para o filho fazer novas amizades. No fim, era o último ano. Em poucos meses se livraria daquela tortura e dificilmente lembraria do nome de 99% das pessoas dali, então pra que se dar ao trabalho de aprender?
— Hey, . Você veio! — ouviu Jake surgir animado do seu lado, com o estado de consciência claramente já alterado pela bebida.
— E aí, cara. Resolvi dar uma passada — ele cumprimentou.
— Venha, vamos pegar uma cerveja pra você — o seguiu, sendo apresentado para algumas pessoas pelo caminho até a cozinha.
As próximas horas foram mais fáceis do que ele previu. Em poucos minutos, estava rindo e participando animadamente da conversa com os amigos de Jake, que zombavam sobre o drama das férias de um dos garotos do grupo que havia se envolvido com uma das estagiárias da secretaria.
Sem se dar conta, seu olhar foi atraído como um ímã até a figura de uma menina, que pela sua percepção parecia muito nova para aquele tipo de ambiente. Ela subiu no pequeno palco improvisado que estava montado no centro da sala e começou a mexer nos cabos de som dos instrumentos dali com uma certa habilidade. Curioso, julgou que a garota parecia ter no máximo uns 16 anos. Vestia uma calça preta completamente rasgada e um All Star Converse surrado. A blusa definitivamente era um pouco larga para o seu tamanho e o pulso carregava uma quantidade quase exagerada de pulseiras e munhequeiras. O rosto era o que dava o contraste. Parecia angelical demais para a produção rebelde da menina. Ele não entendia nada de maquiagem, mas ela não parecia usar nenhuma. Ele não saberia dizer o quê, mas algo nela fez sentir vontade de rir, não de um jeito ruim. Antes que pudesse se controlar, ele chamou a atenção de Jake.
— Quem é aquela menina? — apontou com a cabeça. Jake acompanhou seu olhar até a figura da garota e voltou a encará-lo novamente em seguida, dessa vez, desconfiado.
— A ? — ele bufou, negando com a cabeça — Pode esquecer! Essa garota é problema. E nova demais pra você.
— E não é nova demais para estar aqui, então?
— Vai falar isso pra ela — os meninos riram de alguma piada interna e ele se sentiu ainda mais curioso sobre a tal — Ela tá no primeiro ano agora. A garota até que é gente boa, meio esquentadinha demais pro meu gosto.
— Ele só diz isso porque cansou de tomar fora dela — um outro garoto falou, gargalhando em seguida. Jake rolou os olhos.
— Dá um tempo, cara. A menina mal saiu das fraldas. Tem bom gosto pra música, pelo menos, o que já faz ela ganhar uma vantagem sobre a maioria das mulheres dessa escola.
— Ela toca? — perguntou.
— Eles têm uma banda. Fazem um bom som, o pessoal gosta. De vez em quando se apresentam nas festas. Ela é a vocalista, na verdade — Jake deu de ombros.
— É mesmo?
Antes que pudesse ter uma resposta, alguns garotos subiram no palco, acompanhando . Um deles direcionou-se para o banco da bateria, enquanto outros dois assumiram o baixo e a guitarra. O ambiente foi tomado por gritos, assobios e palmas de apoio e achou graça. A menina cochichou alguma coisa no ouvido de um dos garotos, antes de passar a correia da própria guitarra em volta do pescoço, posicionando-se na frente do microfone principal com uma postura assustadoramente confiante para alguém do seu porte físico.
Os primeiros acordes de uma música desconhecida se fizeram presentes e quando a voz da garota ecoou no ambiente, a observou completamente surpreendido.
Try to tell me what I shouldn't do
Tente me dizer o que eu não devo fazer
You should know by now
Você já deveria saber
I won't listen to you
Que eu não vou te escutar
Walk around with my hands up in the air
Eu ando por aí com minhas mãos pro alto
Cause I don't care
Porque eu não ligo
Cause I'm alright, I'm fine
Porque eu estou bem, eu estou ótima.
Just freak out, let it go
Apenas enlouqueça e deixe rolar
A música parecia ser realmente muito boa. Algumas pessoas acompanhavam cantando, já familiarizadas com a letra e melodia. Apesar de curtir bastante o estilo punk rock, realmente nunca tinha ouvido nada parecido. Talvez porque a voz da menina parecia doce demais para compor uma canção como aquela. Não era ruim, era apenas… diferente.
Eu vou viver minha vida
I can't ever run and hide
Eu não posso jamais correr e me esconder
I won't compromise
Eu não vou me comprometer
Cause I'll never know
Pois eu nunca vou saber
I'm gonna close my eyes
Eu vou fechar meus olhos
I can't watch the time go by
Eu não posso ver o tempo passar
I won't keep it inside
Não vou segurar isso
Freak out, let it go
Enlouqueça e deixe rolar
Just freak out, let it go
Apenas enlouqueça e deixe rolar
You don't always have to do everything right
Você não tem que fazer tudo certo sempre
Stand up for yourself
Levante-se por si mesmo
And put up a fight
E arranje uma briga
Walk around with your hands up in the air
Ande por aí com suas mãos pro alto
Like you don't care
Como se você não ligasse
Cause I'm alright, I'm fine
Porque eu estou bem, eu estou ótima.
Just freak out, let it go
Apenas enlouqueça e deixe rolar
A letra foi outra coisa que o fez querer sorrir. Poderia visualizar facilmente em sua mente a adolescente rebelde trancada em seu quarto rabiscando os versos da música em um caderno surrado. Ela parecia ter atitude, pelo menos. carregava um olhar intenso e tinha bastante segurança em cima do palco. Jake tinha comentado que a garota era problema, mas pra ele, ela parecia mais um daqueles memes de gatinhos raivosos, completamente inofensiva, mas ainda assim divertida de se olhar. Por algum motivo desconhecido ele quis saber mais sobre ela. O interesse não partiu de um lugar romântico ou sexual, afinal, ela era realmente um pouco nova pra ele e pra ser sincero, não fazia muito o seu estilo. Era apenas curiosidade pela imagem excêntrica e original da menina.
Eu vou viver minha vida
I can't ever run and hide
Eu não posso jamais correr e me esconder
I won't compromise
Eu não vou me comprometer
Cause I'll never know
Pois eu nunca vou saber
I'm gonna close my eyes
Eu vou fechar meus olhos
I can't watch the time go by
Eu não posso ver o tempo passar
I won't keep it inside
Não vou segurar isso
Freak out, let it go
Enlouqueça e deixe rolar
On my own
Sozinha
Let it go
Deixe rolar
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
yeah, yeah
Just let me live my life
Apenas me deixe viver minha vida
realmente cantava bem. Ela não gritava ou desafinava em nenhum momento. Mantinha um timbre agudo e melódico que, mais uma vez, não combinava muito com a letra ou ritmo da canção, mas de alguma forma se encaixava de uma maneira completamente interessante. Quase que instantaneamente, ele sentiu vontade de ouvi-la cantar outras músicas.
Eu não posso jamais correr e me esconder
I won't compromise
Eu não vou me comprometer
Cause I'll never know
Pois eu nunca vou saber
I'm gonna close my eyes
Eu vou fechar meus olhos
I can't watch the time go by
Eu não posso ver o tempo passar
I won't keep it inside
Não vou segurar isso
Freak out, let it go
Enlouqueça e deixe rolar
Gonna freak out, let it go
Vou enlouquecer e deixar rolar
Gonna freak out, let it go
Vou enlouquecer e deixar rolar
Após o fim da música, a banda emendou mais três composições originais, todas tão boas quanto a primeira. percebeu que ele teria todas facilmente as canções na playlist do seu celular e as escutaria com prazer. Eles realmente tinham talento.
Já haviam se passado algumas horas após o show e todos estavam um tanto quanto alterados pela bebida, inclusive . Quando ele decidiu ir até a cozinha para pegar outra cerveja, sentiu que alguém o observava. Se tinha uma coisa em que ele era bom era perceber quando estava sendo analisado. Girou o pescoço, olhando por entre a aglomeração de pessoas, quando finalmente seus olhos se cruzaram com os dela.
estava escorada em uma das paredes próximas a entrada da casa, com o olhar curioso fixo sobre ele. Diferente do que normalmente acontecia quando alguém era pego no flagra observando outra pessoa, ela não desviou o olhar. Pelo contrário, arqueou uma sobrancelha, sorrindo de lado. Um garoto desconhecido estava bem ao seu lado, tagarelando algo que ela realmente não parecia interessada em escutar. se pegou estudando a menina pela segunda vez naquela noite. Decidiu se aproximar dela, afinal, realmente queria conhecê-la melhor, mas quando chegou próximo o suficiente, percebeu que e o tal rapaz estavam, na verdade, no meio de uma discussão. Ele se interrompeu no caminho. Ao contrário dela, o outro garoto nem pareceu notar a presença de .
— , você precisa me desculpar. Eu juro que não fiz por mal, eu estava bêbado, não foi minha intenção, eu juro! — ele se explicava desesperadamente. desviou o olhar de pela primeira vez, encarando o menino ao seu lado com um certo tédio.
— Quer dizer que você não teve a intenção de enfiar a sua língua na boca da minha melhor amiga? Interessante.
— Você sempre disse que a gente não tinha nada, que não queria compromisso. Não entendo porque está tão chateada agora.
— E claramente eu estava certa em não querer nada com você. Será que você pode me deixar em paz?
— Por favor, , vamos conversar com calma.
não tinha a intenção de bisbilhotar. Ele estava pronto para sair dali, mas tudo aconteceu muito rápido…
fez menção de ir embora, prestes a deixar o garoto falando sozinho, mas antes que ela pudesse fazer isso, ele a segurou pelo braço violentamente. Sem conseguir se controlar, deu um passo largo em direção aos dois, pronto para fazer o imbecil tirar as mãos imundas e agressivas de cima da garota. O que ele não esperava, entretanto, era que iria se soltar bruscamente do menino, antes de desferir um soco certeiro bem no meio nariz do idiota, que cambaleou para trás.
abriu a boca, surpreso, mas precisou conter a enorme vontade de rir. Algumas pessoas se juntaram imediatamente ao redor dos dois. Metade delas gritava incentivando a briga e a outra metade encarava a cena em choque.
Quando o garoto se recuperou do golpe, ele avançou com tudo pra cima de , mas antecipando o movimento, se colocou no meio dos dois, impedindo-o de encostar nela.
— Você está ficando maluca? — o menino gritou sobre o ombro de , seu nariz sangrava um pouco. revirou os olhos.
— Eu mandei você me deixar em paz, Lucas.
O tal Lucas riu sarcástico.
— Quer saber de uma coisa? Não foi apenas uma vez que eu fiquei com a sua amiguinha. Foram várias vezes! Quando você saía lá de casa, ela chegava. E acredite, nós fazíamos coisas muito mais interessantes do que eu fazia com você — ele cuspiu.
Em uma fração de segundos, pôde notar a íris de faiscar em raiva e dessa vez foi ela quem avançou descontrolada pra cima do garoto.
— Eu vou acabar com você! — ela gritava, acertando vários tapas e socos em toda a extensão do peito e rosto do menino. Algumas pessoas tentavam ajudar a separar a briga, puxando pela cintura, mas ela era mais forte do que aparentava. Ou estava realmente com muita raiva.
Jake foi quem conseguiu controlá-la, bloqueando os dois braços dela atrás do próprio corpo. Lucas ainda tentava alcançar , mas o empurrou fortemente contra a parede, fazendo o garoto perder o equilíbrio novamente.
— Ei, otário, quer que eu termine o trabalho dela e quebre de vez o seu nariz? — ele ameaçou, autoritário. Lucas o encarou ainda com raiva, mas recuou — Foi o que pensei. Dê o fora daqui! E você — ele apontou para , que estava minimamente mais calma — Venha comigo.
Ele segurou a menina pela mão, tirando-a do meio das pessoas que ainda estavam tumultuadas no local da recente briga.
— Me solta, eu não vou a lugar nenhum — ela tentava inutilmente livrar sua mão de . Ele riu.
— Se você quiser, não tenho o menor problema em te carregar daqui — ameaçou.
Ela cerrou os olhos.
— Você não faria iss…. — Antes que ela conseguisse concluir a frase, levantou seu corpo pelas pernas, jogando a garota sobre o ombro, que começou a gritar e bater com força nas suas costas — Me solta, seu troglodita! Pra onde você está me levando?
Ela se debatia e começou a rir ainda mais alto. Definitivamente, um meme de gatinho raivoso. Apenas quando eles chegaram em um ponto um pouco afastado no jardim da frente da casa, ele a colocou no chão.
bufou, tentando domar os cabelos bagunçados antes de cruzar os braços na frente do corpo.
— Pronto, mocinha. Já deu de confusão por hoje. Você está bem? — ele perguntou, observando com cuidado o rosto da menina para ter certeza de que ela não tinha se machucado.
— É claro que estou. E quem você pensa que é pra tentar me dizer o que fazer?
Ele riu novamente. Algo nela fazia querer apertar as suas bochechas. Que coisa estranha para se sentir.
— Parece que você leva as letras das suas músicas muito a sério, não é? E eu penso que sou um cara bem legal que te tirou de uma baita confusão. Inclusive, de nada.
— Eu não precisava da sua ajuda! — ela retrucou.
— Claramente. Tenho certeza que seria incrível pra você se alguém chamasse a polícia e seus pais descobrissem que você se envolveu em uma briga no meio de uma festa abarrotada de álcool e drogas, ainda por cima sendo menor de idade.
Ela o encarou irritada.
— Você não tem nada mais interessante pra fazer do que bancar a babá? — provocou.
Ele deu de ombros.
— Provavelmente. Mas notei que você estava me olhando minutos antes de dar uma de Taz Mania. Achei que pudesse querer me conhecer — disse, com um sorriso convencido nos lábios.
Ela abriu a boca, indignada, mas riu em seguida.
— Você acabou de me chamar de diabo da tasmânia? E daí que eu estava te olhando? Eu olho pra muitas pessoas. O que te faz pensar que eu queria te conhecer só por causa disso?
— Bom, porque eu queria te conhecer.
Os dois se entreolharam cúmplices. Mal sabiam eles que aquela tinha sido apenas a primeira das incontáveis brigas que iria precisar tirar .
DIAS ATUAIS
— Eu estava com muita raiva de você naquele dia — disse, sorrindo com a lembrança.
— Você estava doidinha para me beijar, isso sim — ele provocou, fazendo a mulher rolar os olhos.
— Essa vontade durou só dois segundos. Bastou eu conhecer a sua incrível personalidade para me desencantar na mesma hora — ela riu alto, mas apenas tombou a cabeça levemente para o lado, subitamente interessado na confissão.
— Você nunca tinha admitido isso antes.
— Admitido o que?
— Que realmente queria me beijar — ele explicou e sentiu as bochechas ficarem quentes.
— Não seja tão convencido, idiota. Meu julgamento aos 16 anos nitidamente não era confiável.
Dessa vez, ele riu.
— E eu sinceramente não consigo entender até hoje como foi que você me conquistou tão rápido.
— Essa é fácil… foi o meu charme natural — ela brincou.
— Ou a sua habilidade patológica de se meter em problemas — ele retrucou, enquanto acendia um cigarro, prendendo-o entre os lábios.
suspirou, sentindo-se triste de repente. Ela apoiou os dois cotovelos no parapeito da varanda. virou o corpo de lado, ficando de frente para ela. Os dois compartilharam um silêncio confortável por alguns minutos.
— Às vezes eu sinto falta de poder ser aquela garotinha encrenqueira. E de ter você do meu lado pra me tirar dos problemas. Posso? — ela perguntou, apontando o dedo indicador para o cigarro.
estendeu para ela, que deu um longo trago, fechando os olhos em seguida.
— Mudar não é uma coisa ruim, . E não importa quem você seja, o que você faça ou com quantas pessoas você se case, eu sempre vou estar do seu lado te tirando de problemas.
Os lábios dela se curvaram minimamente em um sorriso.
— O problema de mudar é quando a gente se perde no caminho.
Ele levou uma de suas mãos até o rosto da mulher, segurando uma mecha de cabelo que caía na frente de seus olhos, colocando-a delicadamente atrás da orelha.
— Às vezes é preciso se perder para voltar se encontrar. Do mesmo jeito que às vezes é preciso perder uma pessoa para compreendermos o que ela verdadeiramente significa para nós — ele praticamente sussurrava, suas palavras continham mais emoção do que ela podia perceber. notou os olhos de serem tomados por uma intensidade nova que a deixou praticamente sem ar. Ela quase podia ouvir o barulho do seu coração batendo acelerado e intensamente contra o peito — Me desculpe por ter dito aquilo a última vez que nos vimos.
O semblante da garota se contraiu em um sorriso completamente ausente de graça.
— Não se desculpe. Eu precisava ouvir aquilo. Talvez ainda precise.
— Mesmo assim, eu não precisava ter sido tão duro. Uma vez eu jurei que jamais faria algo que te magoasse e eu fiz. Eu fui egoísta.
soltou o ar pesadamente, lembrando-se da última discussão que tiveram quatro meses atrás. Ela nem se lembrava o que tinha motivado a briga, mas as palavras de ainda martelavam na sua mente.
"Eu não estou nem aí se você vai se casar com aquele imbecil ou não. Ele é um otário e nós dois sabemos disso, mas vida é sua e você faz o que achar melhor com ela, sempre foi assim. O problema não é o casamento, mas quem você se tornou por causa desse relacionamento. Você poderia abrir mão das coisas que ama, passar a fazer tudo o que sempre jurou que não faria, deixar as pessoas mandarem em você e te dizerem o que fazer… poderia até virar freira e se mudar para um convento que eu não me importaria e estaria do seu lado, desde que você fizesse isso com dignidade e verdade, sem abrir mão da sua essência. Mas eu não gosto dessa pessoa que você se tornou, porque você não é ela. Você é tudo menos ela. E a cada dia que passa eu vejo você se perdendo mais e mais e isso dói pra caralho. Então me perdoe se eu não estiver mais do seu lado porque eu não suporto assistir a pessoa que eu mais amo no mundo ir embora simplesmente porque você se tornou alguém covarde demais pra tomar qualquer tipo de atitude."
Talvez aquilo doesse tanto porque era verdade. tinha se perdido e não sabia mais o que fazer para se encontrar novamente. Ela sentiu os olhos marejarem.
— Você estava certo. Eu sou realmente uma covarde, . Eu sou covarde e eu sou fraca — sua voz saiu entrecortada na mesma hora que a primeira lágrima escorreu pelos seus olhos.
— Ei, não repita isso nunca mais — aproximou-se ainda mais dela. Seus corpos praticamente se encostaram e ele levantou a mão até o rosto de , deslizando o polegar delicadamente por sua face a fim de secar as lágrimas que caíam — Não permita que ninguém no mundo te convença do contrário. Nem mesmo eu ou o idiota do seu noivo. Você é a mulher mais corajosa, mais forte e mais incrível que eu conheço. Você só precisa se lembrar disso e se for necessário eu vou fazer você se lembrar todos os dias, ok? Não me importo que você seja uma patricinha metida agora.
A brincadeira fez sorrir entre as lágrimas. Em todos esses anos, era o único que conseguia acalmá-la diante de qualquer situação.
— Eu estou atrapalhando alguma coisa? — o timbre grave de Logan se fez presente no ambiente. Em surpresa, deu um pulo pra trás, fazendo bufar e revirar os olhos em frustração.
— Sim. Você sempre atrapalha, idiota — provocou, levemente irritado.
— Você não vai querer me desafiar, moleque.
deu um passo na direção de Logan, pronto para responder, mas se colocou à frente, a fim de evitar qualquer briga entre os dois.
— Já chega, vocês dois. Nada de confusão hoje. Precisa de ajuda com algo, Logan?
— É hora dos brindes, querida. Melhor que eu esteja junto da minha noiva para isso, não é? — com um sorriso convencido, Logan a puxou pela cintura, tirando-a de perto de , que por sua vez fechou mãos em um punho. deu um sorriso sem graça.
— Claro, vamos.
Quando os dois se colocaram para dentro do salão, todos já estavam posicionados em suas mesas, prontos para realizarem os brindes. pôde notar a presença de alguns de seus amigos e pessoas da sua família, incluindo seu pai. Mas o salão estava lotado principalmente com amigos de . Muitos ela mal conhecida, outros decididamente não gostava.
Quando os dois começaram a planejar o casamento, ela praticamente implorou para que fizessem algo pequeno e íntimo. Nunca quis uma festa, nunca quis cerimônia. Mas Logan era advogado, então sabia argumentar bem. Nem se lembrava como, mas havia perdido a briga. De acordo com ele, aquela seria uma comemoração importante, que eles iriam se lembrar para o resto da vida e também uma ótima oportunidade para criar vínculo com pessoas importantes, ganhar intimidade... Ela já desejava esquecer a noite que teoricamente deveria querer lembrar para o resto da vida. Aquilo estava longe de ser o ideal.
Alguns amigos fizeram seus brindes, proferindo palavras muito bonitas a respeito do relacionamento dos dois. Palavras que de fato representavam parte da união entre ela e Logan, mas que há muito já não eram mais verdadeiras.
Logo que se conheceram, seu noivo demonstrou possuir uma personalidade encantadora. Para ser sincera, nunca deu muita sorte com namorados. Sempre teve muita dificuldade para se deixar envolver e as poucas vezes em que isso aconteceu, acabou com o coração partido e completamente decepcionada. sempre esteve lá para ela. Em cada um de seus términos e desilusões. Apesar de tudo, sempre fora uma garota forte e decidida. Mas quando Logan apareceu, ele se mostrou diferente e ela abaixou a guarda novamente. Depois do primeiro ano, entretanto, algo mudou. Mais precisamente depois do pedido de casamento. Ele se mostrou ser uma pessoa ciumenta, controladora e o relacionamento dos dois caiu em um padrão confuso e estranho. Amor - Carinho - Briga - Explosão - Arrependimento - Culpa - Perdão e então tudo se repetia. De alguma forma, ele sempre conseguia convencê-la de que iria mudar, sempre a fazia se sentir culpada. E agora ela já não tinha tanta certeza se ele era de fato quem ela pensou que fosse. Mas já era tarde demais. Iria se casar no dia seguinte. Porque tinha sido fraca para tomar qualquer atitude, assim como fez questão de pontuar quatro meses atrás. E no fundo, por mais que não quisesse admitir, ela tinha medo dele. E isso a fazia se sentir ainda mais covarde, pois nunca teve medo de nada nem ninguém antes. O que havia mudado?
só notou o quanto estava distraída em sua própria mente quando, ao fim do último brinde, Logan colou seus lábios nos dela. Apenas um milésimo de segundo antes disso acontecer, entretanto, a última coisa que observou foi , encostado na porta da varanda, desviando o olhar da cena.
A maior parte das pessoas já tinha ido embora. observava a equipe de serviço finalizar toda a limpeza do local. Ela já se encontrava parada do lado de fora do hotel, junto com Logan e alguns dos amigos dele da empresa. Como era de se esperar, discutiam negócios.
Já passava das duas da manhã e não tinha mais visto . Ele provavelmente devia ter ido embora. Sem se despedir? Não parecia muito a cara dele, mas ainda assim era possível.
Respirou fundo, sentindo o cansaço tomar conta de seu corpo.
— Logan, amor, será que podemos ir embora? Já está tarde — pediu baixo, no ouvido do noivo.
— Vamos em dez minutos, ok, querida?
— Você disse isso dez minutos atrás — reclamou — Eu estou cansada e amanhã é o nosso casamento. Precisamos dormir, por favor.
— , eu estou no meio de uma conversa aqui — chamou-lhe atenção, enquanto voltava a atenção para a conversa que estava tendo sobre um de seus casos.
piscou algumas vezes, completamente frustrada. Se desvencilhou do braço de Logan com facilidade, caminhando novamente para dentro do salão que já estava vazio e parcialmente apagado. Precisava sentar, seus pés estavam lhe matando naqueles saltos.
Estava prestes a fazer o que desejava quando seus olhos foram chamados novamente para uma figura conhecida, sentado no canto mais afastado do salão. Os olhos de brilhavam em curiosidade sobre ela e por um segundo simplesmente esqueceu o que iria fazer. Ele não tinha ido embora, afinal. Estava ali, analisando-a tão fixamente que fez o ar faltar de seus pulmões.
Sem que pudesse se conter, caminhou lentamente até ele, que permaneceu com o olhar abrasador observando intensamente cada um de seus movimentos.
— Achei que tivesse ido embora — admitiu, quando chegou perto o suficiente dele.
— Como se alguma vez eu já tivesse ido embora de qualquer lugar sem me despedir de você — provocou.
— É o que dizem: há uma primeira vez para tudo — ela brincou, sentando-se na cadeira ao lado de .
Ele se inclinou minimamente na direção dela.
— Hoje foi uma noite de primeiras vezes. Primeira vez que te vejo vestida dessa forma. Você está realmente linda, se já não disse isso.
— Você já disse — ela sorriu discretamente.
— Que bom. Então eu reforço. Primeira vez que fizemos as pazes depois da nossa primeira briga de verdade. Primeira vez que você admitiu que gostaria de ter me beijado quando me conheceu. Estou quase satisfeito com essa noite, senhorita Forbes.
franziu o cenho, sem conseguir impedir o sorriso bobo que formou-se em seus lábios. Era tão fácil com ele.
— Você está bêbado, ? — perguntou, já sabendo da resposta. Claramente o amigo não estava no seu estado perfeito de consciência. Ela o conhecia bem demais para saber disso e embora estivesse achando graça, sabia que e álcool eram uma combinação muito perigosa.
— Por que diz isso? — perguntou, o semblante ganhando um ar divertido.
— Porque você só me chama de "senhorita Forbes" quando está bêbado.
De repente, sua feição escureceu e o seu sorriso levado transformou-se num curvar de lábios quase triste.
— Talvez essa seja a última vez que possa te chamar assim. A partir de amanhã será senhora Jones, certo?
Os dois se fitaram em silêncio por um tempo e a cada segundo que se passava o ar parecia mais pesado. estava lindo, a barba por fazer, os trajes, o rosto levemente corado em virtude do excesso de álcool que tinha ingerido. Ela precisou balançar a cabeça para afastar a linha de raciocínio em que sua mente estava a levando, percebendo que estava analisando por tempo demais. Ele apenas sustentava seu olhar.
— Eu não pretendo mudar meu nome — explicou, mas a voz foi praticamente um sussurro.
Ele sorriu, um sorriso doce que fez o acompanhar. se aproximou ainda mais e afundou o rosto no pescoço da mulher, pegando-a de surpresa. Automaticamente, pôde sentir o coração acelerar em resposta a proximidade repentina.
— Desculpe, minha cabeça está girando — sua voz saiu rouca e abafada contra a pele de , fazendo-a engolir em seco — Você estava certa, acho que bebi demais.
Ela passou os dedos pelos cabelos de , confortando-o em um carinho gentil.
— Quando é que eu não estou certa, não é mesmo?
Ele se afastou parcialmente de , o suficiente apenas para voltar a fitá-la nos olhos.
— Não se case com ele — pediu. Firme, na lata, sem rodeios. sentiu o coração dar um sobressalto.
Sempre soube que o amigo não aprovava seu relacionamento, isso não era uma novidade. Ele e Logan viviam trocando farpas em toda e qualquer oportunidade que tivessem, mas ela nunca imaginou que fosse de fato pedir-lhe algo assim. Ele nem sequer gostava de se meter no relacionamento dos dois.
— Por que?
— Porque eu estou apaixonado por você — aquelas palavras atingiram como um soco certeiro na boca do estômago. Sua cabeça girou e ela precisou se segurar mais forte na cadeira onde estava sentada para não cair — Eu sempre fui apaixonado por você, desde a primeira vez em que coloquei meus olhos sobre os seus. E me desculpe por só ter me dado conta disso agora, quando já era tarde demais. Eu me odeio por isso. Mas agora você sabe.
Ela não conseguia respirar. As palavras ecoavam nos seus ouvidos enquanto sentia o sangue ser bombeado para todo o seu corpo. Os olhos de a encaravam praticamente em chamas. Ela simplesmente não conseguia respirar. Ele tinha realmente acabado de dizer aquilo? Sua mente se tornou um completo caos em uma fração de segundos.
— … eu….
Antes que conseguisse dizer qualquer coisa, acabou com a distância que restava entre eles, colando os lábios gentilmente aos dela. E então tudo se silenciou.
Não havia mais confusão, não havia mais medo, sofrimento ou dúvida. Tudo se dissipou e se transformou em . Sua mente foi tomada inteiramente por ele. Só conseguia perceber o toque quente contra o seu, o cheiro amadeirado, o encaixe perfeito de seus corpos. Pela primeira vez em muito tempo, se sentiu ela mesma. Com ele, tudo voltou ao lugar.
Quando suas línguas se encontraram, sentiu todos os pelos de sua nuca se arrepiarem, entregando-se totalmente ao momento. arfou, devorando seus lábios em uma urgência faminta, intensificando o beijo. Ele agarrou-a ainda mais pela cintura e ela pôde sentir o gosto de whiskey se misturando deliciosamente ao sabor de .
Ele se afastou minimamente, ofegante, mantendo suas testas coladas e olhos fechados.
— Eu não suporto vê-la infeliz como está. Você pode enganar a todos, mas não a mim — ele colou suas bocas novamente, em um selinho — Por favor, volte pra mim. Eu preciso de você. Do seu fogo, da sua coragem, da sua companhia. Volte pra mim. Volte pra você. — suplicou, antes de tomá-la novamente para si.
O beijo de era inebriante. Movimentavam suas bocas em uma sincronia absolutamente perfeita e programada. Ele pertencia a ela, assim como ela pertencia a ele.
O pensamento a assustou, fazendo se separar bruscamente dele.
— Não! — disse, firme. Ela estava noiva de outro homem. Iria se casar em menos de 24 horas. Não deveria estar fazendo aquilo. Não deveria estar sentindo aquelas coisas. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Raiva, frustração, medo, culpa. Tudo se misturava enquanto ela encarava seu melhor amigo que carregava um olhar de súplica — Você não pode fazer isso. Você não pode dizer essas coisas agora e me beijar agora. Eu estou noiva, eu vou me casar amanhã, caso você não tenha percebido.
— Acredite, eu percebi! — respondeu, em cólera.
— Sinto muito, — disse, antes de dar as costas e sair correndo dali. Não sabia dizer exatamente pelo que sentia muito. O que sabia é que nunca antes sentiu tanta dor dentro de si.
Mais tarde, ainda naquela noite, estava finalmente deitada na sua cama. O banho quente conseguiu acalmá-la minimamente, mas ainda sentia o coração acelerado e a mente confusa. estava apaixonado por ela.
Levou os dedos até os lábios, tocando-os delicadamente enquanto lembrava-se do gosto do beijo que trocaram. Sem que pudesse prever, uma lembrança guardada a sete chaves no seu inconsciente veio a tona, juntando-se ao caos após anos esquecida.
CINCO ANOS ANTES
estava deitada em sua cama, o nariz vermelho e os olhos inchados revelavam que ela havia chorado consideravelmente. Já passava de meia noite e ela não conseguia pregar os olhos. Ela odiava chorar por causa de homem. Ia contra tudo o que ela dizia ser. Sabia que Oliver, seu agora ex-namorado, não merecia suas lágrimas. Mesmo sabendo disso ela sentia seu corpo inteiro doer. Como pôde ser tão burra?
Um barulho desconhecido estalou contra a sua janela, fazendo se assustar em um sobressalto. Antes que pudesse se levantar, outro estalar alto soou contra o vidro da janela.
Ela se levantou curiosa, caminhando em direção as cortinas, abrindo-as de uma vez. A primeira coisa que notou foi a moto preta de parada na rua em frente a sua casa. Logo em seguida, sua visão se chocou com um par de olhos expressivos a encarando de seu jardim, no andar debaixo. arremessou mais uma pedrinha em sua direção, acertando o vidro ainda fechado, fazendo soltar um gritinho agudo com o susto, mas sorriu em seguida. O que aquele idiota pensa que está fazendo?
Ela abriu a janela, colocando a cabeça para fora.
— Você está maluco? Quer quebrar o vidro e acordar todo mundo? — ralhou, fazendo ele sorrir malicioso.
— Estou subindo — em um movimento ágil e conhecido, escalou uma árvore cujos galhos se apoiavam na parte do telhado que ficava em frente a janela de . Ela já perdera as contas de quantas vezes fez isso, subindo escondido até o seu quarto pela janela.
Ela passou as pernas pela abertura e em seguida o corpo, sentando-se no telhado do lado de fora da casa. O vento frio de Nova York abraçou seu corpo, fazendo-a se arrepiar. Em poucos segundos, se acomodou ao seu lado, levemente ofegante pelo esforço.
— Hoje não era a sua festa de formatura da faculdade? O que está fazendo aqui? — ela perguntou, ainda surpresa.
— Como se eu conseguisse me divertir em qualquer festa que você não está. Além disso, vim fazer o que eu faço de melhor: cuidar de você — ele riu, passando seu braço ao redor dos ombros de , que por sua vez deixou a cabeça tombar confortavelmente sobre os dele.
— E quem disse que eu preciso ser cuidada?
— Você não me engana, sei que esse narizinho vermelho não está assim por causa do frio. Você andou chorando, senhorita Forbes.
— E você andou bebendo, senhor Brown — tentou desviar o assunto, rindo, mas sem de fato achar graça.
— Hoje é a minha formatura, precisava comemorar. E já que você não foi até a comemoração, trouxe a comemoração até você.
levou a mão até o bolso interno da jaqueta, tirando de lá uma garrafa de vodka quase inteira cheia. gargalhou pela primeira vez naquele dia. Ele não tinha jeito mesmo. Ele abriu a garrafa de vidro, dando o primeiro gole e passando para em seguida.
Ela fez o mesmo, sentido o conteúdo transparente queimar e aquecer a sua garganta. Dizem que o melhor remédio para o coração partido é álcool. E, no caso dela, . Ela tinha os dois agora.
— Não queria que tivesse perdido sua festa por causa de mim — ela confessou, passando a garrafa para ele, que bebeu mais um pouco.
— Quando é que você vai entender que eu sempre vou preferir a sua companhia, sobre qualquer outra coisa?
Ela sorriu, sentindo-se instantaneamente mais feliz. Era o efeito , só ele conseguia fazer ela se sentir melhor, não importa qual seja a situação.
Quase uma hora depois, a garrafa de vodka já estava praticamente vazia e os dois riam de alguma história idiota. Seus corpos estavam aninhados um contra o outro, ambos protegendo-se do vento gelado.
— O seu problema, pirralha, é que você tem um dedinho podre para homens. Sabe, eu tento não interferir na sua vida amorosa, mas acho que vou precisar começar a fazer isso, porque já está ficando inviável quebrar o nariz de todo infeliz que te faz sofrer.
gargalhou. No fundo, sabia que ele estava mesmo certo. Ela de fato tinha um dedo podre para relacionamentos.
— Ora, e não acha que a minha ineficiência para escolher homens já não começa por você, ? — provocou.
— Não tenho dúvidas de que sim. Mas se você fosse minha, eu jamais a faria sofrer — apesar do tom casual de , sentiu uma agitação incomum tomar conta de seu estômago.
— Se eu fosse sua? Eu sou sua melhor amiga, isso não conta?
cerrou os olhos pra ela.
— Você entendeu o que eu quis dizer, não banque a espertinha.
— , eu teria que ter sérios desejos sadomasoquistas se permitisse me apaixonar por você. Com certeza sofreria mais do que em todos os meus relacionamentos juntos — debochou, arqueando uma sobrancelha em sinal de desafio.
Ele abriu a boca em uma falsa indignação, mas tomou mais um gole da vodka em seguida, dando de ombros.
— Com você seria diferente.
— Como você pode ter certeza? Eu não sou ingênua o suficiente para achar que uma mulher muda um homem, querido.
— Eu tenho certeza porque com você já é diferente.
Como sempre, a encarava com uma intensidade quase intimidadora. Aos poucos, ele aproximou-se dela, praticamente encostando seus narizes. sentiu a cabeça girar ao respirar o hálito quente do amigo.
— O que você está fazendo? — sua voz não foi mais do que um sopro.
— Pegando pra mim o melhor presente de formatura que eu poderia ganhar — e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, colou seus lábios nos dela.
DIAS ATUAIS
se remexeu na cama. Depois daquele primeiro - e único - beijo que compartilharam, os dois simplesmente não tocaram mais no assunto. Tinha acordado na manhã seguinte com a cabeça latejando em ressaca e com a certeza de que jamais traria aquilo a tona. Não saberia lidar com aquilo. Não sabia nem mesmo o que tinha significado.
Atualmente, entretanto, as coisas eram diferentes. Não eram mais crianças e não poderia simplesmente ignorar o que tinha acontecido. disse que estava apaixonado por ela. a beijou. E tudo o que ela conseguia pensar era que queria mais daquilo.
Mais uma vez em pé diante do espelho, encarava agora a própria imagem em um belo vestido branco rendado. O mesmo vestido que ela própria havia escolhido meses antes, mas que no momento não a fazia sentir nem de perto a empolgação que deveria naquele dia.
Pelo contrário, ela queria fugir.
Queria sair correndo dali. Queria ir embora para o mais longe que conseguisse. O quarto do hotel onde se encontrava parecia vazio e sem vida. Em menos de uma hora deverá caminhar em direção ao altar. Por que sentia que na verdade seus sonhos estavam terminando ao invés de começar?
Não poderia fazer aquilo.
Mas será que teria a força necessária para simplesmente não fazer?
Duas batidas na porta a despertaram de seus pensamentos.
A imagem de seu pai, vestido com um terno elegante, se colocou para dentro do cômodo.
— Querida, você está linda — ele disse, visivelmente emocionado.
— Obrigada, pai — agradeceu, sentindo o habitual nó se formar na garganta.
Seu pai caminhou lentamente na direção de , segurando seu rosto ternamente entre as duas mãos.
— , meu amor, você sabe que fazer rodeios não é muito do meu feitio, então vou direto ao ponto. Eu estarei do seu lado e te apoiarei em qualquer decisão que você precisar tomar, ok? Ainda há tempo de desistir, se for isso o que você deseja — ele disse docemente. arregalou os olhos diante da surpresa de suas palavras.
— Pai…
— Não precisa me responder ou se justificar, querida. Apesar de não ser o melhor pai do mundo, eu te conheço. Sei que não está feliz. E tudo o que um pai deseja para um filho é a sua felicidade. Principalmente para você, . Você merece a felicidade. Se existe uma parte de você que ainda tem dúvida sobre isso, não vá adiante. Porque o tempo é algo que jamais poderá ser recuperado. Eu me arrependo muito de não ter aproveitado o tempo com a sua mãe como deveria. Não quero que cometa o mesmo erro que eu e só perceba o que perdeu quando for tarde demais — as lágrimas já escorriam livremente pelos olhos de — Não se prenda a mim, a empresa ou a qualquer outra coisa para tomar a sua decisão. Essa decisão é sua e apenas sua. Sinta-a com o coração. Estarei lá fora se precisar de mim e vou estar com você independente da sua escolha.
— Obrigada — ela agradeceu, sem saber mais o que dizer. Seu pai secou algumas das lágrimas que molharam seu rosto e se colocou novamente para fora do quarto, deixando-a sozinha.
Ela precisava organizar os pensamentos, mas tudo estava uma bagunça. Não era mais feliz em seu relacionamento. Isso parecia claro como a água agora. Duvidava que poderia voltar a se sentir verdadeiramente feliz ao lado de Logan. Essa era a sua decisão, então? Iria desistir? Logan não permitiria. O que ele iria fazer? O que ele seria capaz de fazer caso ela desistisse? Eram muitas perguntas que passavam rapidamente pela mente de , fazendo sua cabeça girar.
Ouviu a maçaneta chiar novamente e imaginou que fosse seu pai de novo.
— Eu já vou, pai. Só preciso de um minuto… — sua voz morreu gradualmente quando, ao girar o corpo, percebeu que não era o seu pai que a encarava. A figura de estava parada imóvel a sua frente.
O ar sumiu de seus pulmões de uma só vez. Não estava pronta para lidar com ele agora. Não ali. Não tão rápido. Sem que pudesse controlar, foi tomada pelo desejo de correr até ele e tomar a sua boca para si novamente. Só o pensamento a fez estremecer. Ele estava tão lindo. O quarto pareceu ficar menor. Precisava sair dali, precisava de ar. Não poderia lidar com aquilo.
— Eu tinha um discurso preparado na minha cabeça, mas ele simplesmente evaporou. Você está… linda — ele tentou descontrair, com sucesso. deixou escapar um sorriso. Como sempre, conseguia isso, não importava o seu estado de espírito — Basicamente, a ideia toda do discurso se resumia em uma coisa: me desculpe. Você estava certa, eu não tinha o direito de fazer aquilo com você. Não me arrependo de ter te beijado e nem de ter finalmente expressado o que eu sinto, porque é verdade. Mas eu não tinha o direito de confundi-la um dia antes do seu casamento. Você não merecia isso. Eu fui um idiota e não soube administrar meus sentimentos. Isso não muda nada entre nós, vou continuar do seu lado como sempre estive. Por favor, não me afaste.
Ela o analisava com cuidado. A cada palavra que saía da boca de , ela tinha mais certeza do que sentia. Ela o amava. Não, ela era apaixonada por ele. Sempre fora apaixonada por ele. A forma como se sentia ao lado de … seus sorrisos eram dele, seus pensamentos eram dele, sua preocupação, sua atenção… Tudo dela pertencia a e não havia mais dúvidas sobre isso. O sentimento que ficou adormecido por tanto tempo, camuflado atrás de uma amizade profunda e verdadeira entre os dois, parecia agora querer gritar, tomando conta de todo o seu ser. A escuridão foi embora ao passo que essa percepção se fortaleceu em sua mente.
— Sim, você não tinha o direito — disse, mas o sorriso escapou pelos lábios. Ela sentia vontade de sorrir agora que tinha certeza do que queria. Agora que tinha certeza de quem era. Queria gargalhar, como não fazia há meses. Ela o amava.
— Me desculpe. Se você quiser que eu vá embora, tudo bem, vou entender.
— Pode fazer uma coisa por mim? — ela perguntou, aproximando-se dele. Repousou uma das mãos no rosto de , acariciando sua barba enquanto ele a encarava com um semblante confuso e curioso.
— Qualquer coisa.
— Me espere lá fora, ao lado de sua moto, tudo bem? — ele a encarou, juntando as sobrancelhas mostrando preocupação, sem entender. revirou os olhos — Apenas faça o que eu estou pedindo. Vá.
Ele deu meia volta, saindo do quarto em seguida.
tomou fôlego, sabia o que precisava fazer. Pela primeira vez em anos, sentiu-se corajosa como costumava ser.
Em passos firmes, caminhou pelos corredores do hotel. Ela praticamente corria em ansiedade. A adrenalina pulsando por todo o seu corpo. Cruzou com algumas pessoas pelo caminho, que a observavam com curiosidade, mas ela não parou. Em poucos segundos, parou em frente ao quarto reservado para Logan. Sem permitir que a insegurança tomasse conta, bateu três vezes na porta, confiante.
Em poucos segundos, Logan abriu, parecendo completamente surpreso ao vê-la. Ela entrou de uma vez, passando por ele sem dizer nada.
— Sabe que não dá sorte o noivo ver a noiva antes do casamento, né?
Ela o encarou e, de repente, sentiu-se pequena de novo. Não! Tinha que fazer aquilo. a amava. Ele estava esperando-a no andar debaixo. Aquele pensamento a confortou, recuperando a coragem que tinha perdido. Não precisa ter medo. Sabia quem era.
— Me desculpe — disse. Logan a encarou confuso.
— Pelo que?
Ainda fitando Logan, a mulher retirou lentamente o anel de noivado do seu anelar, entendendo a joia a ele. O simples gesto fez o ombro de parecer mais leve.
— Eu não posso fazer isso.
Em um ímpeto não previsto, os olhos de Logan assumiram um tom assustadoramente violentos.
— O que você está fazendo? — ele praticamente urrou.
— O que deveria ter feito há muito tempo. Terminando essa farsa.
Logan avançou até ela em um rompante, empurrando-a agressivamente contra a porta de entrada do quarto. estremeceu de medo, sentindo o choque de sua cabeça contra a superfície. Ele segurou os dois pulsos dela firmemente, um a cada lado de seu rosto.
— Você está louca se pensa que eu vou permitir que você termine comigo no dia do nosso casamento — disse de forma intimidadora. Ela quis chorar, mas se conteve.
Tinha força agora, sabia quem era. Tinha .
— Você não precisa permitir absolutamente nada, Logan. Está feito. Me solte. Eu não quero isso. Eu não quero você.
— Ora, ora. Está se achando agora, não é? Você não passa de uma inútil, no fim das contas. A única coisa para qual você servia, não conseguiu fazer direito. Acredite, querida, esse casamento nada mais significava pra mim do que um empurrãozinho para o imprestável do seu pai se aposentar e passar a empresa pra mim. Nem para isso você serve, foi apenas uma grande perda de tempo.
As palavras ecoaram nos ouvidos de , mas, ao contrário do que esperava, ela se sentiu aliviada. Logan não a amava. Não precisaria sentir culpa. Estava livre dele, de uma vez por todas.
— Me solte, você está me machucando! — ordenou com a voz mais séria que conseguiu.
— Cadê a sua força agora, baby? — ele apertou ainda mais os dedos no pulso de , fazendo-a gemer com a dor.
Em um movimento rápido, ela levantou o joelho com toda a força que conseguiu, acertando em cheio as partes íntimas de Logan, que a soltou instantaneamente. Ele se curvou, gemendo em dor e precisou se controlar para não rir.
— Saia da minha vida, baby. Você não me conhece — disse, jogando o anel grosseiramente em cima de Logan, que ainda resmungava em aflição.
— Você vai se arrepender disso, .
Mal escutou a ameaça de Logan, colocando-se para fora do quarto. Correu novamente pelos corredores, sentindo-se livre. Sentindo-se ela mesma novamente. Estava livre de Logan. Não precisava mais fingir. Não precisava mais se esconder. a esperava. Ele a amava. Ela o amava.
Quando finalmente se pôs para fora do hotel, respirou fundo pelo que parecia ser a primeira vez em anos. Tinha fôlego novamente. Encontrou sem dificuldade. Ele parecia apreensivo, apoiado em sua moto. sorriu docemente com a imagem. Apenas quando se aproximou dele, seus olhares se cruzaram.
Ela o amava. Seu melhor amigo. Seu .
Ele a salvou. Ele a fez se reencontrar.
— O que você está fazendo? — ele perguntou, o semblante completamente confuso, encarando-a com surpresa e curiosidade no olhar. não fazia ideia de como estava o próprio estado, mas imaginava que deveria estar ofegante e ansiosa.
Sem responder, ela colou os lábios dos dois com segurança. A mesma euforia tomou conta de si e ela sentiu o corpo inteiro estremecer. Era o seu lugar, ela tinha certeza agora. Antes que pudesse aprofundar o beijo, separou-se dele. Os dois se entreolharam. A íris de estava carregada de expectativa e excitação. Ele estava feliz, assim como ela.
— Fazendo o que você pediu. Voltando pra você.
Um largo sorriso iluminou o rosto de e sem conseguir se conter, ele juntou seus lábios novamente em um beijo intenso que a deixou sem fôlego.
— O que quer fazer agora? — ele perguntou.
— Primeiro, nós vamos subir na sua moto… — ela sussurrou, prendendo os lábios inferiores de entre os dentes e puxando-os maliciosamente em seguida. Ele arfou.
— E depois?
deu de ombros, um sorriso provocativo brincava nos lábios.
— Enlouquecer e deixe rolar!
Fim!
Nota da autora: Primeiramente, que felicidade poder participar desse ficstape! Escrever essa fiction foi muito importante pra mim por vários motivos diferentes!
Esse foi o primeiro ficstape que participei na minha vida. E foi sobre o álbum da primeira artista que eu fui fã de verdade na minha vida. Eu era apaixonada pela Avril Lavigne e Freak Out sempre foi uma das minhas músicas preferidas dela.
Além disso, essa é também a primeira fiction que eu finalizo na minha vida. As outras que já escrevi e/ou eu estou escrevendo, estão em andamento. Então eu to me sentindo muito orgulhosa de ter de fato finalizado uma história pela primeira vez! Apesar de ser uma short, o processo de criação foi bem desafiador. Eu estava com uma outra história quase que completamente desenvolvida e escrita pela metade quando decidi que não estava gostando e que não era o que gostaria de escrever sobre a música. Mudei tudo e comecei uma nova do zero (que é essa aí hehe)
Essa canção e letra sempre me passaram a energia de uma música muito girl power e eu sabia que a história deveria trazer esse tema como narrativa central.
Eu decidi sair da zona de conforto com essa fiction, então pode ser que achem pouquinho diferente do que normalmente encontramos. Eu queria escrever acerca deste tema - que é um tema muito importante e que deve ser discutido com seriedade - mas ao mesmo tempo queria passar uma mensagem com isso.
É muito difícil escrever sobre um tema tão sério como relacionamento abusivo num espaço tão pequeno de desenvolvimento, mas me esforcei ao máximo para fazer isso de uma forma responsável e coerente. É importante lembrar que tá tudo bem não estar bem o tempo todo. Tá tudo bem ser frágil, errar e não ter coragem o tempo todo. Tá tudo bem ter inseguranças. Ninguém é perfeito e nenhuma mulher não é menos girl power por isso. O importante é encontrar o caminho de volta, no tempo certo!
Obrigada manas <3 Se cuidem e até a próxima.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Esse foi o primeiro ficstape que participei na minha vida. E foi sobre o álbum da primeira artista que eu fui fã de verdade na minha vida. Eu era apaixonada pela Avril Lavigne e Freak Out sempre foi uma das minhas músicas preferidas dela.
Além disso, essa é também a primeira fiction que eu finalizo na minha vida. As outras que já escrevi e/ou eu estou escrevendo, estão em andamento. Então eu to me sentindo muito orgulhosa de ter de fato finalizado uma história pela primeira vez! Apesar de ser uma short, o processo de criação foi bem desafiador. Eu estava com uma outra história quase que completamente desenvolvida e escrita pela metade quando decidi que não estava gostando e que não era o que gostaria de escrever sobre a música. Mudei tudo e comecei uma nova do zero (que é essa aí hehe)
Essa canção e letra sempre me passaram a energia de uma música muito girl power e eu sabia que a história deveria trazer esse tema como narrativa central.
Eu decidi sair da zona de conforto com essa fiction, então pode ser que achem pouquinho diferente do que normalmente encontramos. Eu queria escrever acerca deste tema - que é um tema muito importante e que deve ser discutido com seriedade - mas ao mesmo tempo queria passar uma mensagem com isso.
É muito difícil escrever sobre um tema tão sério como relacionamento abusivo num espaço tão pequeno de desenvolvimento, mas me esforcei ao máximo para fazer isso de uma forma responsável e coerente. É importante lembrar que tá tudo bem não estar bem o tempo todo. Tá tudo bem ser frágil, errar e não ter coragem o tempo todo. Tá tudo bem ter inseguranças. Ninguém é perfeito e nenhuma mulher não é menos girl power por isso. O importante é encontrar o caminho de volta, no tempo certo!
Obrigada manas <3 Se cuidem e até a próxima.