Última atualização: 30/10/2015

Prólogo

- Com licença, por acaso você a conhece?
Perder as contas. Sim, eu estava perdendo as contas de quantas pessoas havia parado naquela rua para achá-la apenas com um retrato falado. Óbvio que não estava sendo nem um pouco fácil, e mediante as opiniões alheias, eu estava sendo... Como eu poderia dizer? Estúpido.
Olhei mais um rosto negar, dando as costas para mim. Ignorei os olhares em minha direção, o fato de estar sendo reconhecido. Era o mínimo a me importar naquele momento.
Respirei fundo, abaixando o olhar. Eu devia perder as esperanças, afinal, já eram mais de dias a procurando e, até então, nada de encontrar ao menos alguém parecido.
- , vamos. Já está entardecendo.
Michael colocou uma das mãos em meu ombro, fazendo com que eu virasse o rosto em sua direção. E sua deixa foi apenas um olhar compreensivo, sabendo realmente o que eu estava sentindo naquele momento.


Capítulo Único

Observei todos ao redor da livraria, preenchendo o local assim como as vozes e o alvoroço. Pessoas seguravam CDs, pôsteres e camisetas, esperando para que recebessem seus autógrafos.
De fato eu estava orgulhoso. Nunca imaginaria um reconhecimento tão grande quanto esse, era sensacional. ao meu lado entregava um pôster, com um sorriso enorme nos lábios. e Michael não estavam tão diferentes assim.
Entreguei um dos CDs e esperei para que a próxima pessoa se aproximasse.
- Você é ?
A garota perguntou, parecendo ler meu nome em um pequeno papel. Estranhei o fato, o que ela estava fazendo ali se ao menos me conhecia? Fez uma careta ao terminar e ergueu o olhar em minha direção, a me ver concordar brevemente.
– Poderia autografar? – estendeu o CD, rapidamente. – É para minha irmã, o nome dela é . É louca por vocês.
Olhou para os outros ao meu lado. Enquanto autografava, observei de canto que ela não parecia ligar para nossa presença. Estava concentrada em seu celular que mal percebeu quando estendi o CD para ela.
- Ah, valeu. – sorriu, dando as costas enquanto jogava os cabelos castanhos em cima dos ombros.
- Espera! – levantei uma das mãos, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor. Ela se virou, com uma das sobrancelhas arqueadas, porém com uma expressão tediosa em seu rosto. Pude observar as nuances de seu rosto, cada pequeno detalhe, até mesmo as bochechas enrubescidas. – Como você se chama?
Piscou algumas vezes, dando de ombros.
- Pode me chamar de…

Respirei pesadamente, abrindo os olhos de súbito. O quarto já estava claro, indicando que havia amanhecido. Não me dei ao trabalho de ver que horas eram, minha atenção estava focado no teto branco que estampava as frestas de luz da janela.
O suor escorria nas laterais de minha testa por algum motivo desconhecido. Fazia tempos que não sonhava algo relacionado a alguém, muito menos esse alguém sendo uma garota. E, bem, uma garota bonita. Naturalmente bonita e que tinha a leve impressão de que conhecia de algum lugar.
Os lábios rosados pelo tempo, o rosto delicado, o tom de pele claro. Os cabelos marrons, as sobrancelhas franzidas em questionamento e os olhos castanhos, firmes em mim.
Eu não me lembrava de ninguém igual a ela.
Pisquei algumas vezes, tentando focar minha atenção em outra coisa. Puxei todo o ar ao me sentar na cama, e ao fazer isso notei o quão atrasado estava para a pequena reunião no estúdio. Em um pulo já estava de pé, preparando-me o mais rápido que podia.
Em poucos minutos – para mim, estava em frente à grande porta de madeira, já podendo ouvir o barulho da conversa do lado de dentro.
- Você chegou cedo, . – disse, olhando divertido em minha direção. – E pelo visto caiu da cama.
- Estranho seria se ele não tivesse caído. – apontou, arrancando risadas dos demais.
Resolvi apenas ignorar, encucado com a imagem da garota em mente. Talvez não fosse exatamente um sonho. Talvez realmente tivesse acontecido e eu ao menos me lembrava.
Olhei para os três que agora afinavam seus instrumentos, concentrados.
- Eu perguntei o nome de alguma garota em uma dessas tardes de autógrafos? – disse, quebrando o silêncio. Eles olharam em minha direção, parecendo não entender onde eu queria chegar. – Conversei com alguma? Chamei alguma?
- Você está bem, cara? – Michael perguntou, parecendo visivelmente preocupado.
- Altura mediana, cabelos castanhos, pele clara. Nada? – negaram com a cabeça. – Eu sonhei com essa garota. Tenho a impressão de que a conheço de algum lugar.
Ainda com os olhares sobre mim. Bufei irritado, tendo uma enorme sensação de que aquilo não era apenas um sonho. Era real demais para ser apenas fruto da minha imaginação.
- Você vê muitos rostos por aí. Já pensou nisso? Pode ter visto algum e simplesmente memorizado ele. – Michael deu de ombros, e ao seu lado concordou.
- Tenho essa impressão...
- É pressão demais. – a voz de me interrompera. - Deve estar passando por um estresse daqueles. Eu te entendo. – balançou a cabeça, como se me entendesse realmente.
- Eu não tive uma noite muito boa. Só isso. – dei de ombros, seguindo em direção ao violão no canto do estúdio. Eles pareceram não se importar muito com o assunto, já que voltaram a fazer suas tarefas. E antes de dedilhar os primeiros acordes, fechei os olhos brevemente achando tudo aquilo muito estranho.

🎡

O carro estacionou em frente ao local não tão movimentado assim, apesar de algumas pessoas já estarem em um pequeno grupo em frente ao local, como se esperassem algo ansiosamente. Soube certamente que éramos nós.
desceu em um pulo, sorrindo para os flashes que invadiam seu corpo e segui junto aos outros dois para dentro do lugar, sendo acompanhado por seguranças.
- Não está tão cheio assim. Isso é bom. – olhava em volta, admirando o local. – Eu vou escolher uma mesa.
- , você pode pegar os cardápios? Eu guardo seu lugar. – Michael deu dois tapinhas nas minhas costas e antes que eu pudesse responder, ele já estava se ajeitando em sua cadeira, no final da cafeteria. Rolei os olhos, sorrindo de lado.
O lugar realmente não estava tão cheio, mas a fila que se formava ocupava uma boa parte do caminho, impossibilitando que eu pegasse os benditos cardápios no balcão. Enquanto eu estava ali, parado, esperando que a passagem fosse liberada, puxei o celular do bolso observando algumas notificações no Twitter.
Olhei de relance para o lado, ao ver uma pequena movimentação em nossa mesa e pude ver andando em minha direção, animado ao ter acabado de autografar a blusa de uma garota.
- Ei, cara, já que se ofereceu para pegar os cardápios, por que não faz logo os pedidos, huh? – sorriu, colocando as mãos no bolso. Arqueei as sobrancelhas, como se aquilo fosse alguma brincadeira.
- Você não está falando sério, certo?
- Qual o problema? Você já está na fila mesmo. – deu de ombros, olhando as poucas pessoas em minha frente. Relaxei os ombros, como se não me importasse com aquilo. – E já sabe o que queremos. Te vejo na mesa.
- Folgado. – resmunguei, rindo fraco.
Passei os olhos por todo o ambiente, percebendo o quanto era pequeno e aconchegante. Não era nada chique, como estávamos acostumados a frequentar.
Assim que percebi que havia um pequeno espaço até o balcão, me aproximei esticando uma das mãos até o montinho de cardápios.
- Boa tarde! O senhor já foi atendido? – ouvi uma voz conhecida falar e levantei o rosto, para ver quem era. Até que me deparei com a mesma morena que havia encontrado na tarde de autógrafos.
- Ahn, não. Quer dizer, eu só vim pegar os cardápios... – balancei a cabeça, apontando para o cardápio que eu tinha em mãos. Olhei para ela mais alguns instantes, esperando que ela me conhecesse, mas parecia que ela sequer lembrava de mim.
- O que vai pedir?
Encarei o cardápio mais uma vez, incomodado com o fato de ela não ter falado nada. Parecia não saber da minha existência. Fiz os pedidos e ao vê-la anotar todos, resolvi tentar falar algo.
– Eu me lembro de você. Na tarde de autógrafos.
Ela pareceu pensar bastante e no último instante, deixou um pequeno sorriso escapar dos lábios.
- É claro. – abaixou o olhar rapidamente, passando o bloco de notas para a outra mão. – Como eu ia me esquecer? Minha irmã é louca por vocês. Você tem uma banda, certo?
Pareceu um pouco incerta ao dizer a última frase e colocou a caneta na boca, demonstrando certo nervosismo. Tinha sido um tanto sexy.
- Sim. Eu e meus amigos. – virei para a mesa ao fundo, onde os três conversavam animadamente. – Sua irmã se chama ? Eu lembro que você comentou algo relacionado.
Ela balançou a cabeça rapidamente, concordando.
- No dia ela não conseguiu entrar na livraria. Os seguranças haviam permitido certo número de pessoas, mas eu já estava lá dentro. Cheguei minutos antes de vocês e tinha ficado do lado de fora. Ela estava em crise. – soltou uma risadinha, parecendo se lembrar. – Então eu resolvi fazer algo já que estava lá.
- Foi legal da sua parte. – depositei os cardápios no balcão, me interessando na conversa. – E o que ela achou?
- Bom, demorou um pouco pra eu sair de lá. Realmente estava cheio, mas quando consegui ela pulou em cima de mim arrancando o CD das minhas mãos. Foi engraçado. Eu só conseguia rir enquanto ela abraçava objeto várias vezes. – estreitou os olhos, deixando uma risada escapar. E no mesmo momento, contagiado pela sua risada, eu ri também.
- Eu sempre vejo coisas assim, mas você falando parece bem mais engraçado.
Ela mordiscou os lábios, concordando com a cabeça.
- Eu acho que se o favorito dela tivesse autografado, ela desmaiaria. Com certeza.
- O favorito dela? – perguntei, curioso.
- Não que ela não goste de você ou dos outros meninos, mas é completamente apaixonada pelo de cabelo colorido. Eu não consigo gravar o nome dele de jeito nenhum. E olha que ela vive falando dele pela casa. – fez uma careta, sorrindo em seguida mostrando as entradinhas do lado da boca.
Esse pequeno ato fez com que eu a observasse antes de responder. Os cabelos agora estavam presos em uma trança de lado, mostrando ainda mais seu rosto.
- Michael. O de cabelo vermelho. – virei o rosto, apontando discretamente para o garoto que amassava um guardanapo que tinha nas mãos. – Talvez algum dia eu possa o apresentar a ela.
Ela abriu a boca para responder, mas a fechou em seguida, não acreditando que eu havia falado aquilo.
- O que foi? – franzi o cenho, tentando entendê-la.
- Você realmente faria isso? Digo, ela não vai acreditar. – observei o brilho imediato em seus olhos. Algo em seu olhar me fez querer chamar o Michael naquela hora e marcar um encontro com a irmã dela, mas não faria aquilo. Não naquele momento.
- Por que não? Pode ser uma surpresa pra ela. O que me diz? – sorri de lado, esperando pela resposta da garota.
- Ainda acha que vou recusar? Ela vai enlouquecer! – riu, passando uma das mãos pelo cabelo. O olhar estava vago, como se a mente estivesse na irmã. Olhou para o lado, arregalando os olhos. – Deus! Eu esqueci completamente do seu pedido. Eu levo pra você, tudo bem?
Passou as mãos pelo avental, sorrindo enquanto se preparava para ir em direção à cozinha.
- Eu vou precisar do seu número! – falei um pouco mais alto, fazendo com que ela se virasse em minha direção. – Vou precisar falar com você pra marcarmos a surpresa.
- É, verdade. – riu fraco, tirando o bloco de notas do bolso do avental. Anotou os números e entregou a mim, mordendo os lábios. Diria que estava sem graça.
- Eu ligo pra você. – levantei o papel branco, sorrindo para ela. Observei a morena fazer a trajetória para longe e abaixei o olhar, encarando o papel que eu tinha nas mãos e o coloquei no bolso da calça.

Pisquei os olhos, vagarosamente como se a luz que atravessava as persianas fosse me cegar. Olhei para o lado, reconhecendo perfeitamente onde estava deitado. No estúdio. E isso fez com que eu soltasse um enorme urro de frustração.
Encarei os instrumentos espalhados pelo local, não avistando os meninos ali, como estavam antes. Dei impulso com as mãos, me sentando no sofá do lugar e me permiti pensar no sonho que tinha tido. Saber que tinha sido apenas um sonho me irritava. Quem era aquela garota? Por que ela estava invadindo meus sonhos toda vez que eu simplesmente dormia? E o que mais intrigava, eu não a conhecia! Não sabia seu nome, sua idade e muito menos se ela realmente morava aqui, em Sydney.
Tudo parecia tão vívido, tão real. Não era possível que aquilo tinha sido só um sonho. Respirei fundo, mas em um piscar de olhos, lembrei do pequeno papel branco que tinha colocado no bolso e como num pulo enfiei as mãos nos bolsos da calça preta, procurando pelo papel.
- Eu não sei, da última vez não tivemos tempo... – ouvi a voz de se aproximando, mas resolvi ignorar, continuando a procurar bem, mesmo sabendo que eu não encontraria nada nos bolsos.
- Droga. – murmurei tão alto que parecia ter saído outro urro da minha boca.
- , está tudo bem? – fechei os olhos rapidamente, respirando fundo.
- Não. Quer dizer, está. Eu acho. – deixei meu corpo cair no sofá novamente e cruzei os braços, emburrado.
- Você dormiu que nem pedra. E agora está com essa cara de quem teve um pesadelo. – apontou, sentando no braço do sofá.
- Antes fosse um pesadelo. – resmunguei, irritado. Eles ainda olhavam para mim, como se esperassem que eu dissesse algo mais. – Tem essa garota que eu tenho sonhado. Eu falei da última vez e vocês não levaram a sério, mas... Eu não sei, tem sido tão frequente. Tão real.
- Ok, cara. Eu realmente acho que você não está bem. – Michael se virou, com o cenho franzido.
- Eu estou falando sério, Michael. Eu tenho a impressão de que conheço mesmo essa garota, mas os sonhos são limitados. Quando acho que vou descobrir seu nome, eu acordo. O número de telefone, ela havia me dado. Era pra estar no meu bolso! Eu não sei o que fazer.
Passei uma das mãos pelo cabelo, extremamente confuso e aborrecido.
- , é só um sonho. Não significa nada. – se aproximou, com os olhos em cima de mim. – Talvez você deva relaxar um pouco mais. Ou podemos procurar ajuda pra…
- Eu não quero ajuda nenhuma. Eu sei que tem alguma coisa. Droga. – levantei, seguindo rumo à porta do estúdio. – Vocês não entendem.
- Aonde você vai? – indagou, se levantando também.
- Não muito longe. Preciso ir a um lugar.
Fechei a porta rapidamente e segui rumo à calçada, olhando para os lados. Não era confiável estar sozinho pelas ruas de Sydney, onde milhares de fãs estão espalhados, mas eu sentia que precisava fazer aquilo, mesmo sabendo dos riscos que estava correndo.
O engraçado era que a cafeteria do sonho era familiar de alguma forma. O tipo de lugar que te trás de volta ao passado, com boas recordações.
Caminhei um pouco mais, olhando atentamente para toda loja que eu passava em frente. O celular em meu bolso não para de vibrar.
Parei para tomar um pouco de ar, já que estava praticamente correndo, e ao parar, vigiando todos os que passavam ao meu lado, observei a pequena cafeteria do outro lado da rua. Um pouco parecida com a que eu sonhava.
Não demorou muito para que eu já estivesse em frente a ela, olhando toda a fachada do local. E aquela sensação de Déjà vu tomou conta de mim.
O local não estava como no sonho, estava um pouco mais cheio. Pessoas estavam na fila do caixa, outras ocupavam as mesas e as banquetas. Muitos olhares estavam em cima de mim, provavelmente estava sendo reconhecido pela maior parte das pessoas na cafeteria.
Passei os olhos procurando pela menina e ao avistar uma loira, com o mesmo avental do meu sonho, a puxei. Talvez conseguisse alguma informação dela, porém avistei seus olhos arregalados em minha direção.
- Ahn, oi. Eu só quero uma informação. – ela balançou a cabeça rapidamente ao me ouvir. Engoli em seco, não sabendo ao certo como começar. Não iria mencionar algo do sonho, ela me chamaria de louco. Então minha única saída era... Mentir.
- Bom, eu vi uma garota com o mesmo avental que o seu, há algumas quadras. Eu queria saber se ela realmente trabalha aqui. – dei um meio sorriso, olhando em volta discretamente. – Ela é, hm, não é tão alta. – tentei mostrar a altura com as mãos, gesticulando rapidamente. – Têm os cabelos castanhos na altura dos seios, os olhos castanhos também. Ela tem umas entradinhas na boca... Droga, eu estou soando como um idiota. – abaixei o olhar, falando um pouco mais baixo. , você é um péssimo mentiroso. Meu consciente gritava. – Não sei. Talvez conheça alguém com essas características. Você conhece?
Eu acho que ela havia notado meu tom desesperado. Os olhos da garota estavam pousados em mim, tinha a expressão levemente preocupada. Ela parecia paralisada. Negou com a cabeça num gesto rápido, olhando em volta.
- Não, não conheço ninguém com essas características. – sorriu visivelmente nervosa. – Você está bem?
Fechei os olhos, soltando todo o ar. Soltei um resmungo sorrindo e dando as costas para a mesma, indo para a calçada. Senti todo o meu corpo estremecer e minha cabeça girar. Eu precisava ir para casa. Precisava sonhar com ela mais uma vez.

O teto do quarto nunca havia sido tão atrativo como agora. O barulho dos carros lá em baixo não me irritavam, como de costume. Eu estava calmo, até demais. Porém, nervoso. Muito nervoso.
O celular em minhas mãos tinha o display aceso, com os números já digitados. O que me faltava era a coragem de discá-los. Aquele botão verde nunca havia sido tão convidativo.
Pressionei as têmporas, como se aquela fosse minha deixa e de imediato apertei o botão, sentindo meu coração acelerar dentro do peito. Os toques eram insistentes e isso só me deixava mais agoniado. Fechei os olhos até que ela atendesse, mas logo me sentei na cama ao perceber que os toques haviam cessado. Pude ouvir a respiração calma do outro lado.
- Alô?
Aquela voz não era dela. Não podia ser ela. Será que ela havia me dado o número errado?
- Oi. Quem está falando?
- Eu que pergunto. Você quem ligou pra cá.
Franzi o cenho, com o ato da pessoa. Com certeza não era a garota da cafeteria.
- Quem está falando?
- .
Engoli em seco, encostando meu corpo no travesseiro.
- Ah, claro. E eu sou a Lady Gaga. – a garota riu do outro lado. – Você não pode estar falando sério. Por favor.
Resolvi arriscar, lembrando da única pessoa que recordava o nome.
- Você é a ?
- É, sou sim. Por quê? Quem está falando?
- Eu posso falar com sua irmã?
Percebi nitidamente a ligação ficar em silêncio e logo em seguida o que parecia ser a garota bufando. Ao fundo, ouvi a mesma falando mais alto.
- Tem um cara dizendo que é o . Vê se pode. Toma, deve ser um de seus amigos de palhaçada com a minha cara.
Não pude deixar de rir com o comentário da garota. Se realmente soubesse que eu estava ligando para ela, não acreditaria mesmo tão fácil.
Por alguns segundos não ouvi voz alguma no celular. Algo como uma porta batendo fez um grande barulho.
- ?
Fechei os olhos, sentindo um grande alívio ao ouvir a voz dela.
- Se minha irmã descobre que é você, eu acho que estaria levando ela pra um hospital agora.
- Eu só consegui pensar nisso. Ela faz muitas perguntas. – ri fraco, encarando uma das paredes. – Você está bem?
- Estou. Só um pouco entediada. – respirou fundo. – E você, está bem?
- Também estou. – balancei a cabeça concordando, como se ela estivesse me vendo. – Eu achei que havia me dado o número errado.
- Não, não mesmo. – respirou fundo. – Mas pra ser sincera, não levei a sério que realmente iria ligar. Você é .
- Isso não quer dizer que eu não ligaria. Eu disse que ia ligar.
Ela ficou em silêncio, assim como eu. Não sabia ao certo o que falar.
- Isso chega a ser engraçado. Nunca me imaginaria falando com você. – disse, com a voz suave. - É estranho.
- É estranho falar comigo? Uau. – soltei uma risada baixa, não deixando de sorrir.
- Não. Claro que não. Só não parece real, entende? – ouvi também sua risada.
- Você realmente não está acreditando. – disse, por fim, gargalhando. – Sabe, parece que a fã aqui é você. Talvez sua irmã não seja a louca por nós…
- O que você está insinuando, ?
Pressionei os lábios, segurando o riso ao ouvir seu tom de voz exaltado.
- Nada. Você me viu pessoalmente, era pra estar menos nervosa por telefone.
- Eu não estou nervosa. – retrucou. – Só não consigo acreditar muito.
- Tudo bem. Eu vou acreditar em você. – esperei que ela respondesse algo, mas eu não conseguia escutar nada. Nem mesmo sua respiração. – Ei, está aí?
- Estou, .
- Eu andei pensando em algo. Sobre o que conversamos.
- O que?
- O que sua irmã acharia de ver o Michael pessoalmente? Eu pensei de nos encontrarmos, e eu poderia levar ele. – respirei fundo, mordiscando o lábio inferior. – Eu queria saber sua opinião. É uma boa ideia?
- Se é uma boa ideia? – indagou, parecendo animada. – vai pirar quando souber. Você não tem noção de como essa garota fica olhando pra foto do seu amigo.
- Eu posso imaginar. Fico feliz que tenha gostado. Eu tenho uma ideia de onde nós podemos ir.
- E aonde nós vamos?
- Calma. – deixei uma risadinha escapar. – Eu preciso organizar tudo. E não se esqueça que pra sua irmã é uma surpresa.
- Tudo bem. Não vou esquecer.

🎡

- Eu juro que se ele não acordar, esse café vai... – ouvi dizer, provavelmente já irritado. Abri os olhos vagarosamente, avistando os três dentro do carro, me encarando.
tinha os olhos presos em mim, observando cada movimento que eu fazia. Michael tinha o queixo apoiado nas mãos, os olhos em mim e a feição preocupada. estava ocupado demais me praguejando.
- Eu estou acordado. – comentei um pouco sonolento. Vagarosamente pus as mãos no estofado, erguendo meu corpo.
era o que estava mais próximo, arqueou as sobrancelhas como se tentasse entender o que estava acontecer e voltou a prestar a atenção em seu celular, chamando enquanto apontava para o aparelho.
Michael, que tinha o olhar focado na paisagem que passava pela janela, com um pouco de dificuldade conseguiu se sentar ao meu lado, ainda permanecendo em silêncio.
- Eu não sei o que está acontecendo com você, cara. Eu não sei. Queria entender, mesmo, mas você tem andado estranho ultimamente. – encarava os dedos que mexiam freneticamente. Ergueu o olhar como se esperasse alguma resposta.
Respirei fundo, pressionando os lábios.
- Essa garota, Michael, eu vejo ela todas as vezes que durmo. Eu não consigo sonhar com outra coisa que não seja ela. Eu vejo os olhos castanhos, eu ouço a voz dela. É tão real e isso me faz se sentir perdido, mas eu sequer sei da existência dela. Eu não sei como ela se chama, nem onde mora. – abaixei a cabeça, fechando os olhos brevemente. – Eu me sinto completamente perdido.
Ele respirou fundo, com a mesma preocupação de antes. Nenhum deles acreditaria. Eles não entendiam.
- Eu sei que isso tem te atormentado, mas tenta pensar em outra coisa. Por você. Isso está te deixando acabado. Você tem olheiras enormes. - apontou para meu rosto. - Você não consegue dormir direito porque sempre tem acordado assustado... E quem é , cara? Você tem falado esse nome quando dorme.
Deixei minha mente vagar, a procura de vestígios do sonho. Eu não podia mentir, dizendo que os sonhos frequentes não estavam acabando comigo. Eu não conseguia ter um sono descente, estava acordando antes do que devia e tudo isso para ficar acordado fazendo com que o rosto delicado não caísse em esquecimento.
Passei as mãos pelo rosto, visivelmente irritado e voltei a olhar para meu amigo.
- Estamos próximos ao seu apartamento. Você pode ficar e descansar devidamente. Se isso não acontecer… - puxou todo o ar e sorriu de lado. - Nós vamos dar um jeito.

🎡

Michael estava calmo, até demais. Tinha os olhos focados nos brinquedos ao redor e parecia não ligar para o fato de que dali a alguns minutos uma fã completamente apaixonada se jogaria em seus braços.
O parque não estava tão repleto de pessoas, como imaginei. Os brinquedos estavam ocupados, mas nada de filas enormes e pessoas falando alto. Estava na medida certa para um fim de tarde.
Caminhamos um pouco mais, enquanto as meninas não chegavam. Na medida em que passávamos pelas pessoas, recebíamos olhares surpresos e muitos animados. Não era todo dia em que dois famosos caminhavam calmamente por um parque de diversões, entre várias pessoas.
Pus uma das mãos no bolso da calça, enquanto olhava as horas pela milésima vez. Tinha certeza que havíamos marcado a hora certa, ou eu estava adiantado demais.
- Você pediu pra ela vir com os olhos vendados, ? - Michael perguntou, olhando fixamente para algum lugar com a sobrancelha arqueada.
Olhei na mesma direção que ele e pude ver a garota, guiando a irmã mais nova que tinha os olhos vendados. tinha os cabelos mais claros que o da irmã e era um pouco mais alta.
Ao seu lado, a morena a guiava com um sorriso enorme no rosto. Pude perceber nesse pequeno ato o quanto as duas eram ligadas uma à outra.
Michael ao meu lado observava as duas, andando vagarosamente pelo parque. A mais baixa olhava para todos os lados, provavelmente procurando por nós.
- Foi ideia nossa. Único jeito de não te ver de longe. - dei de ombros.
- Você fala como se já fossem um casal. - ele riu, batendo uma das mãos em minhas costas. O acompanhei. - Onde está o antigo , huh?
- Não enche.
Rolei os olhos, não deixando de rir junto a ele. Pus uma das mãos no bolso da calça ao perceber que ela havia nos visto e, assim que pousou os olhos em mim, sorriu abertamente. E esse sorriso me fez sorrir como nunca havia sorrido na vida. Era estranho, sim, porém eu sentia as melhores sensações só de olhar para ela.
- Ei, cara. - olhei para o lado ao ouvir Michael me chamando. - Tem uma coisa escorrendo aí. Eu acho que é baba.
Não pude conter uma risada sem graça ao ouvir seu comentário. O simples fato de olhar para a garota me deixava entorpecido. Ela estava simples. E linda, muito linda.
não ficava para trás, mas ela tinha algo especial, algo a mais. Era como se tivesse aquele pequeno detalhe que a deixava única. E eu nem sabia que detalhe era esse. Só sentia.
Elas se aproximaram, e pude perceber que a mais baixa pediu para que Michael ficasse em silêncio. Olhei para ele que observava calmamente, como se a estudasse.
- Oi! - disse tentando parecer animada. Suas bochechas estavam avermelhadas. - Não foi fácil achar vocês.
Michael riu ao ver olhando para os lados, como se realmente conseguisse enxergar algo.
- Quem está aí? - a garota perguntou, curiosa.
- , qual o nome daquele cara que você vive comentando comigo? O do cabelo arco-íris. - olhei para a garota que segurava a venda nos olhos da irmã e pus uma das mãos na boca, segurando a risada ao ver a careta que Michael havia feito.
- Por quê? - perguntou, quase fazendo com que a venda escapasse das mãos da outra. - Impossível que você não lembre. Eu vivo…
- Só responde, .
- Michael Clifford. - deu de ombros. - Vai me responder o porquê?
- Eu não sei… - disse, se aproximando do ouvido da irmã. - Por que você não vê?
E então tirou a venda. De momento, achei que não havia visto Michael bem na sua frente, mas no segundo seguinte os olhos da garota grudaram em meu amigo, arregalados.
- Eu não... Você não... Puta merda, garota! - riu, olhando para Michael. Os olhos brilhavam. - Como você... Deus, como você conseguiu fazer isso?! !
Observei a garota vir em minha direção, como se tivesse lembrado de mim naquele momento. Deixei uma risada escapar e a abracei fortemente.
- Ah, eu tive meus contatos. - a morena piscou para mim. Sorri de canto, abobado. E não era que aquele sorriso era maravilhoso?
se aproximou do garoto, que tinha os braços abertos e se jogou, recebendo um abraço apertado, recíproco. Em seguida a girou no ar. Os olhos da garota estavam fechados, como se não estivesse acreditando naquele momento.
- Ela não vai soltar ele nem tão cedo. - ouvi a voz ao meu lado e virei o rosto, encarando o par de olhos centrados em mim.
- Dá pra ver que não. - balancei a cabeça passando os olhos rapidamente pelos dois.
- , vou levar a pra dar um passeio por aí. Ela merece. - piscou para a garota que sorria abertamente, agarrada ao braço do garoto.
- Tudo bem. Nós vamos fazer o mesmo.
Ele balançou a cabeça concordando e saiu junto à , que não parava de falar sobre como tudo aquilo era surreal.
Passei as mãos pelos cabelos, os bagunçando e pude sentir o olhar da garota ao meu lado sobre mim. Assim que a olhei, desviou o olhar para um dos brinquedos em sua frente.
Mesmo agindo dessa forma, era notável ver suas bochechas queimando de tão sem graça que ela estava. E eu não estava tão diferente assim.
- Então... - iniciei, mordiscando o lábio inferior. - Você já foi em algum desses brinquedos?
- Ah, não. Ainda não tive oportunidade. Pra falar a verdade, desde que o parque está aqui, eu só ouvi falar. - seus olhos rodavam todo o local. - É bem bonito.
- Você não acha que essa é a oportunidade perfeita? - virou o rosto em minha direção, subitamente. - Digo, você está aqui agora. Por que não?
- É... Por que não?
Riu fraco, abraçando a si mesma. O céu estava num azulado nem tão claro e nem tão escuro. Uma espécie de paisagem que você só tinha a chance de ver uma vez.
Ela continuava com os olhos presos ao redor, observando cada barrinha, cada brinquedo colorido por qual passávamos ao lado. Dessa vez, caminhávamos ao lado de uma roda gigante bem iluminada.
Ela não tivera alguma oportunidade. E eu a faria ter uma agora.
- Vem. - segurei sua mão repentinamente. O ato foi tão rápido que o pequeno choque de nossas mãos quentes a fez passar os olhos de nossos dedos para meu olhar. - Não vai agarrar essa oportunidade?
Sorri de lado, a encarando. Ela respirou fundo e não deixou de sorrir também. Abaixou a cabeça, fechando os olhos brevemente e voltou a me olhar, sorrindo ainda mais.
A puxei para voltar a caminhar, mas fincou os pés no chão.
- Pra onde pretende me levar?
Perguntou, com os olhos estreitos. Engoli em seco, ao ver sua expressão. Será que ela havia pensado sobre segundas intenções?
- Ahn... - cocei a nuca, um pouco nervoso. - É um…
Iria terminar minha frase se não fosse por uma loirinha se aproximando aos gritinhos de nós dois.
- ! ! Oi! - a loirinha se aproximou com uma câmera e um celular nas mãos.
- Oi! - a cumprimentei com a mesma empolgação, mas me sentindo um pouco incomodado pela interrupção.
- Ei, você pode tirar uma foto nossa?! - a garota se virou para a morena ao meu lado, estendendo o celular que tinha em mãos. Ela riu, assentindo rapidamente e pegou o aparelho pedindo para que fizéssemos uma pose para a foto.
- Pronto, aqui está. - devolveu o aparelho, ainda sorrindo. A loira alternou seu olhar dela para mim.
- Ela é a sua nova namorada? - perguntou com os olhos brilhando. - Eu espero que seja. Eu achei você bem legal. - se virou para a morena. - Diferente da Arzaylea. - deu de ombros. - Eu tenho que ir agora. Foi incrível te encontrar!
Se aproximou mais uma vez, dando um beijo estalado em meu rosto e se virou, dando um pequeno aceno para a garota ao meu lado que retribuiu.
Ela me olhou, sorrindo.
- Desculpe por isso. Elas costumam mesmo ser desse jeito.
- Você se desculpa por isso? - apontou para a loira já longe de nós. - Você não tem que se desculpar. São suas fãs, seu reconhecimento.
Pisquei algumas vezes, digerindo o que ela havia acabado de falar. Era algo diferente demais do que eu estava acostumado.
- Pra ser sincero, achei que você iria se incomodar.
- Nem um pouco.
Ela sorriu, me fazendo sorrir também.
Olhar para ela, tão espontânea e simples. Tão... Ela. Olhar para essa garota me fez simplesmente pensar em uma coisa.
Por que não a beijei?
- O que você acha daquele? - apontou para sua frente, fazendo com que eu "acordasse". Olhei para o lugar que ela apontava e avistei uma grande montanha russa. Nada extraordinário, mas interessante.
- Por mim, topo qualquer coisa. - Com você, quis acrescentar, mas era bom deixar apenas em mente por enquanto.
Rapidamente eu já havia comprado as entradas, o parque não estava cheio. Paramos na pequena fila, enquanto esperávamos as próximas pessoas.
- Arzaylea, huh?
Olhei para ela assim que comentou. Eu não sabia ao certo o que responder, até porque os olhos da garota estavam presos em mim.
Ela sorriu no instante seguinte, mostrando que parecia interessada no assunto.
- Ah, não. Foi um passado obscuro. Não vale a pena lembrar.
Dei de ombros, ainda a olhando.
- Eu te entendo. Tem coisas que realmente não valem a pena serem lembradas.
Não mesmo, acrescentei.
Ouvi o barulho do brinquedo estacionando nos trilhos estreitos e a trava de segurança havia sido levantada, para que os que estavam sentados saíssem. Caminhamos até subir uma escada pequena e logo estávamos sentados, nos ajeitando para que a trava fosse abaixada.
- Deus, isso vai ser incrível! - disse, completamente empolgada.
- Espero que não comece a gritar, pedindo para que parem o brinquedo.
Ela me olhou desafiadoramente. Os olhos estreitos e um vinco na testa.
- Não sou igual a você, .
Disse um tanto infantil, porém havia sido engraçado. Não consegui conter a gargalhada e ela me olhou rolando os olhos, mas ainda com aquele sorrisinho de canto.
Observei seus movimentos ao perceber que o brinquedo começava a se movimentar para frente. Parecia uma criança que nunca tinha ido ao parque.
- Você sabe que não é uma montanha russa qualquer, certo? - arqueei a sobrancelha, parando meu olhar no dela. Os olhos da garota se arregalaram no mesmo instante em que o brinquedo praticamente voou, subindo na primeira curva.
- Eu não acredito que você fez isso! - gritava ao meu lado enquanto eu não me cabia em risadas. - Eu não sabia que era assim!
- Calma! - falei no mesmo tom de voz dela. - É só o começo!
Ela soltou mais um grito, mas dessa vez rindo junto comigo. Colocou os braços pra cima ao descermos a curva, com um sorriso enorme nos lábios.
Ao perceber que outra subida vinha, segurou meu braço apertando o mais forte que podia. Dava pra imaginar o frio na barriga que ela estava sentindo.
O carrinho parou dessa vez em um trilho longo, reto onde ao final havia uma descida, iniciando a última curva.
Olhei para a menina ao meu lado com os cabelos voando sobre o rosto devido ao vento na altura. O sorriso lindo nos lábios e os olhos brilhando.
- Eu acho que vou te beijar. - disse mais para mim do que para ela. Respirei fundo, meu coração estava a mil.
- O que?!
Perguntou, virando o rosto em minha direção. E no momento, a única coisa que eu pude imaginar foi o gosto daqueles lábios rosados. Eu não podia perder mais tempo. Então eu a beijei.

Não, não, não!
Abri os olhos subitamente e ao encarar o teto branco do quarto, pude cair na realidade. Eu havia sonhado. Sonhado. Só isso, nada mais.
Eu não tinha tocado nela de verdade. Não senti o choque da mão morna com a minha de verdade. Não a ouvi gritar, me praguejar e muito menos observei seu sorriso de verdade.
Como tudo aquilo tinha sido apenas um sonho? Não era possível. Tinha que ser real de alguma forma.
Engoli em seco, pousando as mãos em cima dos olhos. Eu precisava fazer alguma coisa.
Dei impulso com os braços no colchão, passando os olhos pelo quarto a procura do meu celular. O peguei em cima do criado mudo e disquei os tão conhecidos números. O da única pessoa que eu confiaria em pedir ajuda.
Michael. - ? O que foi? - ouvi seu resmungo do outro lado. - São nove da manhã. O que aconteceu?
- Eu preciso da sua ajuda. - disse, direto e rápido. - Preciso muito da sua ajuda. E sim, tem haver com os sonhos. Michael, eu beijei ela. Não é possível que tenha sido só um sonho!
Eu já estava frustrado àquele ponto. Sentia meu coração pulsar mais rápido toda vez que dizia alguma palavra que me fizesse lembrar que aquilo era realmente coisa da minha mente.
- Você pode se acalmar, por favor? - ouvi sua voz um pouco mais firme. - Eu posso te ajudar. Eu só… Nós precisamos conversar.
Em poucos minutos ele já estava em meu apartamento, entrando rapidamente com o rosto ainda amassado pelo sono interrompido.
- Cara, eu não queria ter te acordado assim, mas é que eu estou desesperado… - levantou uma das mãos, me interrompendo.
- Você é meu melhor amigo. Um irmão pra mim, você sabe bem disso, mas , você já se ouviu? Olha bem pro que você está falando, irmão. É muita loucura! Não vai me dizer que você está apaixonado por essa garota também, não é?
O olhei, sem dizer nenhuma palavra sequer. Ele franziu o cenho, tentando realmente entender o que estava acontecendo ali. Respirou algumas vezes, fazendo algumas caras e bocas, como se estivesse debatendo consigo mesmo.
- Tem como parar com isso? Você não está ajudando. - bufei, irritado.
- Certo. - fechou os olhos brevemente. - Como ela é?
Pisquei algumas vezes, não entendendo realmente onde ele queria chegar.
- O que?
- Você me ouviu. Como ela é? Qual é a cor do cabelo dela, a cor da pele, se tem alguma, sei lá, mancha de nascença? Diga qualquer coisa que ajude!
- Eu não estou entendendo. - passei as mãos pelo cabelo, mais nervoso do que estava. - Você vai mesmo me ajudar?
- Você é como um irmão pra mim, eu já disse. Um irmão tapado, mas ainda continua sendo. - deu de ombros. - Eu vou te ajudar a encontrar essa garota, mas com uma condição. E eu espero que você leve isso a sério.
Balancei a cabeça rapidamente, concordando.
- Se não a encontrarmos e esses sonhos continuarem, você vai procurar ajuda. Eu vou procurar ajuda pra você. E você vai tentar esquecê-la de todas as formas possíveis.
- Tudo bem. Por onde nós começamos?
Perguntei, percebendo um pequeno sorriso brotar em meus lábios.
- Nós eu não sei, mas você pelo chuveiro. Você está fedendo. - fez uma careta, se jogando no sofá. - E depois vamos procurar o . Talvez ele possa fazer algum retrato falado.

🎡

Um mês depois…

Passei as mãos pelo rosto, sentindo uma pontada estranha no peito. Os últimos dias estavam voltando a ser tão normais quanto eram. Michael, no final das contas, estava certo. Talvez ela sequer existisse.
Durante uma semana e meia, eu ainda tive sonhos com ela, todos os dias. Pude sonhar coisas ainda mais vívidas, intensas. Sonhar com os beijos constantes, os abraços e até a troca de carinhos. E toda vez em que acordava ainda me perguntava: Como podia ser apenas um sonho?
Porém, poucos dias depois, ela não aparecia mais para mim. Nem mesmo em um sonho curto, rápido.
Eu não conseguia mais sonhar com ela. Não conseguia nem lembrar da última vez que vi aquele rosto delicado, muito menos me lembrava como era a voz dela. Os sonhos eram como lembranças picadas em minha mente e isso massacrava meu coração. Isso me massacrava.
Era muita sacanagem eu ter vivido coisas tão incríveis e nenhuma delas serem reais. Me sentia entorpecido, perdido e sem direção. Em outra definição, talvez, louco.
É, talvez louco seja a palavra certa.
Continuei procurando por ela em todos os cantos em que eu estava, até mesmo em entrevistas e tardes de autógrafos. Era loucura sim, e eu podia perceber bem os olhares pesarosos de meus amigos em cima de mim.
havia me ajudado com o retrato falado, saía a procura da garota junto a mim, e Michael que parecia não desistir tão fácil. Andávamos por horas sempre que tínhamos algum tempo livre longe das gravações no estúdio.
Estive de lugar em lugar tentando trazê-la de volta, com muita sorte, na realidade. Era uma tarefa mais do que difícil, se é que era possível explicar.
O pior de tudo, era que eu não conseguia admitir que meus amigos estavam certos no começo, mesmo tentando me ajudar. Não conseguia admitir que talvez tudo tenha sido mesmo coisas da minha mente.
Mas o que mais me afundava era não conseguir encarar o fato de que nada é melhor que ela. Nem mesmo a melhor coisa do mundo.
Observei mais uma vez as cordas do violão dançarem toda vez que eu as dedilhava. Aquilo havia se tornado meu passatempo nos últimos dias.
- Ei, . - ouvi a voz de Michael se aproximando, e logo o sofá ao meu lado afundou. - Não quer sair um pouco? Os meninos estão na outra sala planejando uma saída nesse fim de semana.
O olhei, com os olhos pequenos por não conseguir dormir direito. Ele observou meu rosto atentamente, sorrindo triste em seguida.
- Não. Tudo bem. Vocês podem me dizer depois.
- Eu já entendi. - levantou rapidamente, tirando o violão dos meus braços. - Vamos. Ainda é cedo.
Fechei os olhos, massageando as têmporas.
- Do que você está falando?
- Você quer procurar sua garota, não é?
Arqueou as sobrancelhas, falando óbvio. Michael passava os olhos por todo o estúdio, procurando algo e assim que olhou para o sofá onde eu estava, se aproximou arrancando o papel debaixo do violão. Era o desenho dela.
Ele observou por algum tempo e ergueu o olhar, sorrindo de lado.
- Já fizemos isso e você constatou que não deu nada certo. Por que quer arriscar mais uma vez?
- Por que eu odeio ver meu amigo jogado em um canto sofrendo por uma garota que nem o fez sofrer de verdade. Então vamos, eu não vou falar outra vez.
Respirei fundo, o olhando. Eu estava sem ânimo algum de rodar mais uma vez pelas ruas de Sydney procurando pela garota dos meus sonhos. Já estava me conformando que ela era boa demais para realmente existir.
Descemos em silêncio até o saguão sendo recebidos por um pequeno grupo de fãs. Uma das pessoas no grupo me chamou a atenção. Era a loirinha que no sonho, havia nos parados para uma foto.
- ! ! Oi! - ela se aproximou com uma câmera e um celular nas mãos.
- Oi! - falei, tentando manter o mesmo tom de voz que ela, porém o desânimo falando mais alto. Ela franziu o cenho, mas voltou a sorrir, estendendo seu celular para uma selfie. Algo estranho se apossou do meu peito, me fazendo sentir uma sensação conhecida. Déjà vu.
Depois de nos despedirmos, olhei pela última vez a garota e voltei a seguir o rumo ao lado de Michael, que parecia um pouco mais disposto a procurá-la. Apesar de eu estar mais do que desanimado.

O dia estava quente, um pouco mais que o normal, apesar do sol estar se pondo. Eu estava cansado, exausto. Estávamos andando por horas, como se aquilo fosse adiantar algo. O sol se punha em tons alaranjados no céu, mostrando uma linda paisagem.
Perguntei a várias pessoas, me animando ao ouvir um “Eu acho que já vi ela…” ou um “Ela não me é estranha”. Essas respostas me faziam criar um pouco de esperança.
Olhei para o céu mais uma vez, percebendo que já não estava tão quente assim. Observei ao redor, vendo as várias pessoas que passavam por mim.
Perder as contas. Sim, eu estava perdendo as contas de quantas pessoas havia parado naquela rua para achá-la apenas com um retrato falado. Óbvio que não estava sendo nem um pouco fácil, e mediante as opiniões alheias, eu estava sendo... Como eu poderia dizer? Estúpido.
Ignorei os olhares em minha direção, o fato de estar sendo reconhecido. Era o mínimo a me importar naquele momento.
Respirei fundo, abaixando o olhar. Eu devia perder as esperanças, afinal, já eram mais de dias a procurando e, até então, nada de encontrar ao menos alguém parecido.
- , vamos. Já está entardecendo.
Michael colocou uma das mãos em meu ombro, fazendo com que eu virasse o rosto em sua direção. Sua deixa foi apenas um olhar compreensivo, sabendo realmente o que eu estava sentindo naquele momento.
Observei o rosto desenhado no papel em minhas mãos e respirei fundo, sabendo que aquela era a hora exata de deixá-la para trás.



Epílogo

O carro parou vagarosamente em frente ao local. O movimento era constante, apesar de não estar tão cheio. Pessoas passeavam alegremente entre os brinquedos, seguravam algodões doces e balões de gás hélio.
Olhar tudo aquilo me fez sentir uma sensação diferente e familiar. Uma sensação boa.
Era o novo parque de diversões de Sydney.
O parque em que eu estive com ela.
Desci assim que todos já estavam quase dentro do lugar e respirei fundo, acompanhando os mesmos. Haviam se animado de vir desde que souberam da novidade.
Muitas pessoas estavam nos parando para tirar fotos, pedir autógrafos e mais fotos.
Eu não conseguia prestar atenção em nada do que falavam. Minha visão estava travada nos brinquedos ao redor, na roda gigante, na… Montanha russa.
- Se você continuar assim, eu juro que vou te deixar pra trás. - se aproximou, falando mais alto devido ao barulho das pessoas ao redor.
Os acompanhei em algumas barracas, conseguindo prêmios e até ursos de pelúcias. O que era desnecessário… E gay.
Balancei o copo plástico que tinha em mãos, agitando o refrigerante e os cubos de gelo dentro. Os três estavam mais à frente, pulando um em cima do outro, gargalhando e comentando sobre coisas aleatórias.
Enquanto eles estavam longe, aproveitei para observar a iluminação do local e o quanto ele estava bonito. A noite havia caído, então a iluminação era o que mais se destacava por ali. As luzes coloridas davam contraste com as barracas iluminadas, com uma música um tanto infantil, mas ainda sim, nostálgica. E sem deixa de perceber em cada rosto, tentando achá-la ou, ao menos, achar alguma garota parecida.
- O que está achando? - perguntou. Era o que estava mais próximo a mim.
- Até que está legal. Eu gostei das luzes. - apontei para algumas lâmpadas. - Vocês não vão em nenhum brinquedo?
- está comprando as entradas. E você também vai.
Dei de ombros, concordando com a cabeça sem questionar. Em poucos minutos já estávamos com as entradas em uma das filas que davam o barco pirata. Pelos comentários ao redor, o brinquedo era incrível.
E bem ao lado dele, estava a montanha russa. Com uma fila maior ainda. Por um instante, senti vontade de invadir o brinquedo, procurando pela garota.
- Eles parecem duas crianças. - Michael comentou, apontando para e que riam de praticamente tudo o que viam ao redor. Olhou mais uma vez para mim. - Você precisa se animar. Não é o fim do mundo.
- Eu estou animado. Não vê? - forcei um sorriso, o fazendo rir. Pelo menos alguém não tinha preocupações por aqui.
Michael gesticulava ainda mais depois de ter nos entregado algumas entradas, falava coisas que, para ele, talvez fossem me animar, me fazer gargalhar, mas mal ele sabia o quanto minha mente vagava em outro lugar. Ou em outra pessoa.
Eu estava, resumindo, adormecido em um espaço completamente lotado.
Olhei para baixo, procurando algum motivo para melhorar minha feição, mas antes de completar meu ato, percebi um vulto familiar passar em uma das filas da montanha russa. Uma cabeleira clara.
Forcei a vista, tentando perceber quem era. Eu não devia ter olhado. Por que naquele momento, eu paralisei.
- Michael. - ele ainda estava falando. - Michael. Você está vendo ela?
Ele olhou confuso em minha direção e virou o rosto para o lugar que eu mostrava.
- Ahn, estou. Por quê? O que tem… - espremeu os olhos, os abrindo rapidamente ao ver. - Ah, não.
Eu estava sorrindo mais que o normal. Provavelmente, o sorriso mais largo que havia dado.
Olhei para ele, captando sua expressão mudar drasticamente.
Pisquei algumas vezes, olhando outra vez para a garota. Eu tinha que ir até ela.
- Michael, é ela! A , irmã da minha garota!
- , não. Não é ela…
Eu já não estava ouvindo nada do que ele falava e meus pés seguiam rumo onde a garota estava. Era claro que era , a garota era idêntica a ela.
Comecei a andar rápido demais, me aproximando. Não estava tão longe dela, mas pude parar a tempo de pensar no que estava fazendo. Era loucura demais chegar correndo, ofegando, na garota.
Eu precisava ser cauteloso. Respirei fundo, pondo uma das mãos em cima do coração como se aquilo fosse me acalmar de alguma forma.
Olhei para trás, onde Michael estava ainda com os olhos em mim, receoso. Dei um meio sorriso, andando até , que conversava animadamente com uma amiga, porém eu tinha os olhos ao seu redor, a procura da sua irmã.
Assim que parei atrás dela, ainda numa distancia considerável, observei a mesma percebendo o quanto ela era realmente igual à garota dos meus sonhos.
- , eu não acredito que você fez isso! - a amiga ria, passando uma das mãos pelos olhos. - E o que falou? Você deve ter deixado sua irmã louca.
Estreitei os olhos ao ouvir o nome da garota. ? Não podia ser . Conseguia lembrar nitidamente o nome dela. E era .
Resolvi me aproximar, talvez houvesse alguma explicação para aquilo, porém foi no exato momento em que o portão branco se abriu, fazendo com que o rapaz chamasse as pessoas. O tumulto na fila fez com que eu fosse empurrado sem mesmo precisar andar direito.
- Eu não… - olhei para os lados, tentando sair do meio do pessoal que estava na fila. Recebi um pequeno empurrão e olhei para trás, vendo que não havia mais volta para sair dali já que estava subindo as pequenas escadas que dava para a plataforma onde continha os trilhos estreitos.
Passei o olhar por todo o local, procurando por … Ou . Já não sabia mais ao certo como chamá-la. Os carrinhos estavam sendo ocupados e eu comecei a ficar um pouco perdido, já que além de receber olhares curiosos, eu estava procurando uma pessoa que não conseguia achar.
Ao virar, dando passagem para uma das pessoas e também procurando por um lugar para eu me sentar já que já estava ali, pude avistar se sentar em um dos carrinhos mais à frente. Resolvi me aproximar, talvez conseguisse me sentar ao seu lado, mas antes mesmo de dar algumas passadas, a amiga que estava com ela praticamente se jogou no banco ao seu lado, rindo alto.
Bufei, não sabendo mais o que fazer. Aproveitei para me sentar em qualquer carrinho vazio por ali, ainda com os olhos focados em . Não podia perder a garota de vista momento algum.
Entrei de qualquer forma, sem ao menos notar se havia alguém ao meu lado. A única coisa que eu tinha em mente era que eu tinha que manter meus olhos presos em . A seguiria por todo lugar se fosse possível. Talvez, - sua irmã -, estivesse por aí em algum lugar e no final as encontrasse.
- Deus, isso vai ser incrível!
Tomei um leve susto ao ouvir a empolgação no tom de voz da pessoa que estava ao meu lado. Pisquei algumas vezes, olhando para por alguns segundos antes de virar o rosto.
O som das risadas ao redor, do falatório e da música que tocava por todo o parque pararam naquele exato momento. E eu poderia dizer o mesmo do meu coração.
Eu estava paralisado. Ela estava ali, bem na minha frente. Na minha realidade.
E eu tinha certeza absoluta de que não estava sonhando dessa vez.
Ela olhava para mim de forma engraçada, tentando analisar cada expressão em meu rosto. Eu deveria estar com uma feição um tanto ridícula. Não estava acreditando que ela estava bem ao meu lado, e minha ficha demoraria a cair.
- Você não pode ser real. - percebi um sorriso de canto crescendo em meus lábios enquanto sussurrava para mim mesmo.
- Oi! - disse entusiasmada, sorrindo abertamente. Dessa vez, seus olhos caíram sobre mim. - Como se chama?
As mãos da garota apertavam a trava de segurança. Parecia nervosa.
Engoli em seco, travando naquele momento. Eu deveria agir normal, sim. Mas não conseguia.
- . . - sorri da mesma forma, tentando desviar meu olhar do rosto dela. - E você, como se chama?
- . - deu de ombros. Olhou para mim mais uma vez. - Eu conheço você... - inclinou a cabeça para o lado, com os olhos estreitos.
Os carrinhos começaram a andar naquele momento. Olhei para frente, observando a queda da primeira curva se aproximando, mas isso não me preocupava. Eu só queria olhar para ela, saber se era tão real quanto parecia.
Olhei para uma última vez antes dos carrinhos do brinquedo descer os trilhos.
- Eu também. - fechei os olhos brevemente, encostando minha cabeça no encosto da cadeira e virando meu rosto de encontro ao olhar dela. - Dos meus sonhos.


Fim.



Nota da autora: "Without you I'm a Lost Boy!" Não preciso nem dizer que essa foi a short que eu mais achei amorzinho, até porque teve um final feliz! E cá entre nós, o está apaixonante ♥ Espero que vocês gostem de toda a história assim como eu gostei e pirem MUITO comigo nos comentários, certo? Certo! Até a próxima, babies ♥





Nota da Beta: COMO ASSIM “ FIM?”. Olha Isy, você não tem o direito de brincar com a gente assim, tá? Só avisando! Não acredito que passei toda essa tortura pra não ver um “e viveram felizes para sempre”, e você ainda diz que teve final feliz. Boladissíma! Porém apaixonadíssima também, porque olha... ♥ Ficou lindeza, parabéns meu amor, to orgulhosa hahaha xx-A

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


CAIXINHA DE COMENTARIOS:

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus