Fanfic finalizada

Capítulo Único



Bati de leve na porta de espera onde se lia uma plaquinha dourada com os dizeres “noivo”.
— Pode entrar! — ele gritou do outro lado.
Entrei.
O quarto era grande demais para um quarto de espera, na minha opinião. Era branco e iluminado, com um sofá em um canto e um espelho no outro. Uma e outra poltrona e um tapete creme.
Mas não era o único no quarto. Alguns de seus amigos também estavam lá.
. — murmurou — Não esperava te ver antes da cerimônia.
Eu não respondi, apenas olhei para seus amigos, esperando que eles se tocassem e saíssem do quarto, o que aconteceu assim que pediu, segundos depois.
Enfim, ficamos sozinhos no quarto.
— E então? — ele perguntou, assim que seus amigos se retiraram. Caminhei em sua direção com passos lentos, para que ele tivesse a chance de prever meus movimentos — ?
Eu amava quando ele pronunciava meu nome daquele jeito.
não se mexeu e eu me aproximei ainda mais. Toquei seu peito que estava coberto por toda aquela roupa ridícula de noivo. Sua barba estava feita e seu cabelo perfeitamente alinhado com gel. E o cheiro que emanava de sua pele... Ah, aquele cheiro era perfeito.
era bem mais alto que eu, então eu não conseguiria beijá-lo sem sua ajuda. Inclinei meu corpo para frente, com a esperança de que os saltos ajudassem e também.
, não faça isso.
— Não estou fazendo nada.
Suas mãos finalmente me tocaram e eu senti minha pele arder. Mesmo que ele só estivesse me tocando para me afastar, eu ainda sentia o fogo.
— Eu vou me casar com a sua irmã em menos de meia hora.
Suspirei.
— É claro que vai! — respondi, dessa vez me separando dele e me arrependendo por perder seu contato — Você precisa ficar com a boa moça, certo?
, não é isso.
— É exatamente isso. Você nunca poderia ficar comigo, a irmã maluca que vive em um apartamento minúsculo e ganha a vida sendo tatuadora. Você precisa da irmã que nunca trabalhou, que tem a pele limpa e o sorriso maquiado, que fica perfeita ao seu lado e ajuda nas campanhas do seu pai.
era filho de um famoso político democrata, que concorreria às eleições para a presidência no ano que vem. Imagem era tudo para sua família.
Nós namoramos por um tempo. Nós éramos completos opostos, mas nos dávamos bem. Eu sempre achei que seria com ele que eu passaria o resto da minha vida, até que a minha maldita irmã gêmea entrou no meio.
Eu e éramos idênticas. Gêmeas univitelinas. Compartilhávamos o mesmo DNA.
Personalidades completamente diferentes.
Quando éramos pequenas, nunca nos demos bem. Por algum motivo, eu não gostava dela e sempre roubava seus brinquedos, que pareciam bem mais divertidos que os meus. Minha mãe vivia me falando que eu não deveria pegar o que não era meu.
Então, se vingou anos depois, roubando meu namorado. E fez um trabalho tão bem feito que conseguiu fazer a pedir em casamento.
— Você sempre vai ser especial para mim, . Essas coisas que você disse... Não são verdades. Eu jamais mudaria qualquer coisa em você; seja na sua história, seja na sua aparência.
— Ah, sim! Você tem uma quedinha pela minha aparência. — ironizei, me referindo ao fato de que eu e tínhamos o mesmo rosto.
— Não foi o que eu quis dizer. — ele respondeu, tentando consertar.
Era um dia de sol e estava calor. Mesmo assim, eu me senti fria de repente. Precisei envolver meus braços ao meu redor, para tentar parar aquele arrepio. O fato de meu peito estar doendo absurdamente não tinha nada a ver com o frio repentino.
— Vê-la desse jeito acaba comigo. — ele murmurou, mas eu continuei de costas para ele, ignorando-o. Talvez se eu não visse seu rosto, não me sentiria tentada a amá-lo ainda mais.
Sua mão pousou no meu ombro desnudo e o calor voltou. Rápido, forte e voraz. Foi uma questão de segundo.
Quando sua pele encontrou a minha, nem eu e nem ele conseguimos resistir.
Passei os braços ao redor de seu pescoço e as mãos dele envolveram minha cintura, me puxando de encontro ao seu corpo. Fiz questão de bagunçar seu cabelo enquanto ele me beijava como eu tinha certeza que nunca beijaria minha irmã. Não poderia; era delicada demais, frágil demais. Com todos seus problemas de ansiedade e depressão, seus choros exagerados, suas tentativas de suicídio... estava sempre a um passo de quebrar. Eu era diferente. Forte.
O gosto do álcool em sua língua não foi imperceptível. Ele tinha bebido.
— Então você pretendia se casar com bêbado? — provoquei, um sorriso cruel despontando em meu rosto.
não respondeu. Umedeceu os lábios com a ponta da língua e seus olhos profundos me encararam como se pudessem me despir. Mas não era apenas paixão que eu via ali; havia outra coisa, uma segunda coisa que eu nunca conseguia decifrar.
— Nunca entendo. — murmurei.
— O quê?
— Seu olhar. Você me olha de um jeito que... Não sei explicar.
balançou a cabeça e suspirou. Então enrolou meus cabelos em seus dedos e me puxou para outro beijo.
Nossas bocas se moviam em uma sincronia nova. Não era como todos os outros beijos que já havíamos trocado quando namorávamos e quando ele namorava — porque, sim, ele traiu comigo algumas vezes.
Seu abraço ficou mais apertado e eu me forcei para frente, tentando levá-lo para o sofá atrás de nós.
— Isso é tão errado. — ele murmurou assim que se sentou no sofá, me puxando para seu colo — Eu não pertenço à você.
Sorri, me inclinando para beijar seu pescoço, não conseguindo evitar murmurar em seu ouvido:
— Mas você não pode pertencer à se me quer tanto assim.
gemeu e jogou a cabeça para trás, deixando o acesso ao seu pescoço bem mais fácil.
— Nada vai mudar. — esclareci — Se você se casar com a imbecil hoje, ainda vai ser meu. Vocês vão morar na mansão, não vão? Vamos morar todos juntos, . Eu, você, e mamãe. Mesmo se casando com ela, ela nunca vai ter você como eu tenho.
Antes que ele pudesse reclamar, puxei seu rosto para outro beijo. Meu vestido era curto e estava enrolado na minha cintura, deixando minhas coxas expostas. Peguei as mãos de e as deslizei pela minha cintura, para que ele entendesse exatamente onde eu as queria. Ele entendeu.
Eu podia sentir o quanto ele me queria no meio das minhas pernas, enquanto eu me esforçava para arrancar aquela gravata ridícula. Nossos corpos começaram a se mover em sincronia.
estava mordiscando meu pescoço quando alguém bateu na porta.
? Você precisa entrar em cinco minutos!
Suspirei.
— Você não vai desistir disso, vai?
, me perdoa...
Balancei a cabeça em negação, querendo gritar ao sentir as lágrimas esquentarem meu rosto.
Levantei de seu colo o mais rápido possível e saí correndo pela porta, ignorando os gritos de protesto de . Ele havia feito sua escolha e não havia sido eu.
Peguei meu carro e dirigi para a mansão. Eu não iria assistir o homem que eu amava se casar com outra.

***


— Onde ela está? — gritei para minha mãe, que tentava consertar meu cabelo — Tenho certeza que aquela vaca foi atrás dele, mamãe! Eu odeio a ! Se ela foi atrás dele...
! — minha mãe gritou — Você não pode continuar com isso! não tem o menor interesse no seu noivo!
— Ah, tem sim! Ela tem, mãe! Não viu o jeito que ele olha pra ela? E ela sempre tentou pegar tudo o que é meu! Sempre tentou roubar minhas coisas! é uma vaca e eu tenho certeza de que ela está com ele agora mesmo!
sempre fora esse tipo de mulher. Do tipo dissimulada, vadia, sem escrúpulos nenhum. Ela achava que o mundo era dela e que todos deviam amá-la e agradá-la.
E, quando ela não tinha o que queria, ela simplesmente tomava de quem tinha.
Eu a odiava com todas as minhas forças.
Alguém bateu na porta do quarto onde eu estava me arrumando. Meu vestido de noiva era enorme e cheio de brilhos. Era bom ser o centro das atenções pelo menos uma vez.
, você precisa entrar em cinco minutos!
Ao ouvir aquilo, fiquei de pé num pulo, derrubando a cadeira atrás de mim — e quase derrubando minha mãe também. Abri a porta, estupefata.
— Falta cinco minutos? — perguntei para o empregado que estava chamando.
— Exatamente.
— E tudo já está pronto, inclusive o noivo me esperando no altar?
— Principalmente o noivo te esperando no altar.
O homem sorriu para mim e eu sorri para ele.
Então, estava tudo certo.

***


— Cara, não acredito que você vai mesmo fazer isso. — Steve sussurrou no meu ouvido. Em cinco minutos, ela estaria aqui para nos casarmos.
— Não é um casamento de verdade. — retruquei.
— Mas ela acha que é.
— Esse é o ponto.
A marcha nupcial começou a tocar e ela entraria a qualquer segundo.
— O que você vai fazer quando ela descobrir?
— Bom, eu combinei com a mãe dela que, quando ela descobrisse, nós iríamos interná-la na clínica. Até lá, eu vou ficar na mansão e vou ir dando medicação e assistência. Uma hora, ela vai lembrar quem é.
Steve balançou a cabeça.
— Mas você está se casando com ou com .
— Com . é a amante.
— Isso é loucura.
— Não exatamente. Desde que eu comecei a tratá-la, ela não teve outras personalidades. Melanie sofre de TDI, Transtorno Dissociativo de Identidade. É impressionante que só tenha desenvolvido duas personalidades. Normalmente, um paciente pode desenvolver inúmeras.
— Mas e a personalidade de Melanie?
— Acho que ela deixou de ser a Melanie após a tentativa de suicídio, como se tivesse matado-a de verdade. Agora ela divide o tempo entre ser e .
Melanie apareceu na porta do salão, vestida de branco e sorrindo como . Quando assumia uma personalidade, até suas expressões mudavam, mesmo que ela fosse a mesma pessoa.
— É como se fosse três pessoas dentro de uma só. — Steve concluiu.
— Exato. Só que uma está morta, a outra é a irmã boazinha e a que restou é a amante.
— Cara, ela devia ser internada o mais rápido possível. Ela é doente!
Balancei a cabeça, vendo a mulher que eu amava se aproximando cada vez mais do altar. Ela estava tão linda que fazia meus olhos lacrimejarem.
— Doente é a mãe. Olga não quer me deixar levar Melanie para a clínica. Ao invés disso, me tirou do trabalho da clínica e me implorou para ficar na mansão. Está me pagando o dobro do meu salário de psiquiatra, além dos luxos por morar na mansão. É uma socialite maldita que não quer que a mídia descubra que sua filha é doente, então prefere trancar a menina dentro de casa ao invés de tentar procurar um tratamento adequado.
— E mesmo sabendo de tudo isso, você está aqui, prestes a se casar de mentira com ela!
— Eu conheci Melanie quando nós éramos crianças, antes de ela desenvolver a doença. Acho que me apaixonei por ela quando tinha uns... Sei lá, uns dez anos. Mesmo quando me mudei para estudar medicina e me formar, ainda continuei a amando. E a amei quando descobri o transtorno. E continuo amando, não só ela, mas todas as personalidades que ela desenvolve. A fantasia do casamento não é só para ela, Steve. É para mim também. Eu nunca vou poder me casar com a Melanie que conheci quando era criança. Então, me casar com , , ou qualquer outra pessoa que ela resolva ser... Será o bastante para mim.
Olga me entregou a mão de Melanie quando chegaram ao altar e eu sorri para a minha noiva de mentirinha, que me sorriu de volta. Eu não sabia como iria ser no dia a dia, como que eu lidaria com as duas personalidades e se ela desenvolveria outras. Mas minha luta não seria com Melanie. Minha luta seria com a sua mãe, que, por mais que não tivesse nenhum transtorno mental, era bem mais louca que sua filha.
Eu amava Melanie e estava disposto a fazer qualquer coisa para ajudá-la naquela doença.




FIM



Nota da autora: Olá pra você que chegou ao fim de mais uma fic minha! Espero que tenha gostado desse plot twist que eu tentei fazer. Deixa um comentário me dizendo o que achou e não se esqueça de ler as outras fics desse ficstape maravilhoso ^^

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