Capítulo Único
Era meu aniversário. Como era de costume, minha mãe me acordou cantando parabéns, juntamente com meu pai e Nat, e trouxe um bolo simples com duas pequenas velas no topo. Era sempre isso, então eu soube que mais tarde teria um bolo maior, com recheio, cobertura, confeitos e mais velas.
O dia havia se passado rapidamente, entre aulas, votos de feliz aniversário de alguns amigos e no Facebook e tarefas. Eram quase sete da noite e eu estava no meu quarto, com minha guitarra acoplada à pequena caixa de som, enquanto todos estavam lá embaixo, terminando os últimos detalhes da festa e recebendo os primeiros, dos pouquíssimos, convidados. Eu podia escutar algumas falas aleatórias, mas não focava muito nelas, afinal, estava mais concentrado em terminar de aprender aquela música; caso eu quisesse realmente ser um músico no futuro, precisava saber tocar algum instrumento.
Algum tempo depois, Nat entra no meu quarto, sem bater, claro. Ela parece estar animada para a festa, então acabo me animando também, deixando a guitarra sobre a cama e me levantando.
Natasha e eu temos dois anos de diferença, com ela sendo a mais velha. Como todo casal de irmãos, nós brigamos às vezes, mas acho que não tanto quanto a maioria. Nós nos damos muito bem, então às vezes acabamos fingindo algum tipo de irritação com o outro, apenas para manter aquele relacionamento típico de irmãos; é uma brincadeira saudável.
— Seus amigos estranhos já chegaram, então, por favor, vá fingir que se importa mais com eles do que com essa coisa aí. — Ela diz, fingindo irritação e eu quase dou risada.
— Vendo você arrumada assim, posso até acreditar que você realmente é uma garota. — Provoco, recebendo um dedo do meio em resposta, o que me faz rir enquanto saio do quarto acompanhado de Nat.
Quando chegamos ao andar de baixo, a sala está toda decorada com balões e meus pais e amigos conversam entre si animadamente. Assim que me veem, um a um, eles caminham em minha direção, para me abraçar e entregar presentes.
A festa está animada demais, então nem vejo o tempo passar e estranho quando minha mãe nos chama para o parabéns.
Estou diante das pessoas que gosto, alternando meu olhar entre elas e o bolo sobre a mesa, poucos centímetros à minha frente.
— Faça um pedido, . — Minha mãe fala animada e sinto uma gota de suor escorrer pela lateral do meu rosto.
Uma coisa que nunca vi falarem é sobre o quão difícil é fazer um pedido de aniversário. Quer dizer, um pedido qualquer é fácil, mas fazer aquele pedido, nos mínimos detalhes, é difícil demais. Sinto que, se não pedir tudo da maneira exata como eu quero que aconteça, meu pedido pode se realizar de alguma maneira estranha, então fico tenso e começo a transpirar mais intensamente.
— Eu não sei o que pedir. — Admito depois de algum tempo encarando as velas quase apagadas sobre o bolo e ouço alguns suspiros.
— Diga o que quer, . — Nat fala, como se quisesse me ajudar e incentivar ao mesmo tempo.
— Quero uma casa nova, com um banheiro enorme e uma banheira maior ainda. E, bem, quero ser um astro do Rock.
— Agora fale o que precisa.
— Preciso de um cartão de crédito sem limite e um grande jato preto, com um quarto dentro dele. — Assim que eu falo isso, ouço algumas risadas, inclusive a de Nat.
— E qual é a novidade? Todos precisamos de um cartão sem limite e sem fatura.
— Então eu quero um ônibus de turnê cheio de guitarras clássicas. Minha própria estrela na calçada da fama; algum lugar entre Cher e o James Dean está bom.
— E como vai fazer para conseguir isso, filho? Não pode esperar que seu desejo se realize sozinho. — Meu pai fala, tentando esconder o riso, e percebo que ele tem razão. Agora o meu pedido estava um tanto quanto grande demais para um simples pedido de aniversário.
— Eu vou trocar essa vida. Se precisar, troco meu nome e até corto meu cabelo. — Disse confiante, antes de assoprar o que restava das velas.
Olhei para a foto em minhas mãos e senti a nostalgia da recordação me encher por completo. Depois de encarar mais um pouco o de 14 anos que assoprava as velas, guardo a fotografia na case do meu violão e me levanto do assento do metrô, me dirigindo à porta, pronto para descer.
Assim que terminei o ensino médio, avisei meus pais que sairia de casa, em busca do meu sonho. O pedido daquele aniversário precisava se concretizar e eu precisava cumprir a minha parte.
Com a ajuda dos meus pais, me mudei para Nova Iorque, em busca do meu sonho. Nos primeiros dias, foi empolgante, eu recebia vários nãos de gravadoras quando tentava deixar uma mídia com meu trabalho, mas não me deixava abater, sabia que a minha hora um dia chegaria. Nos primeiros 6 meses, perdi um pouco da fé, assim como meus pais, que tentavam me convencer a voltar para casa e tentar uma faculdade. Agora, 3 anos depois, já não tenho esperanças, nem ajuda financeira. Minha vida não se tornou exatamente como eu queria que ela fosse e eu acho que o de 14 anos não se orgulharia.
Eu toco nas ruas de NY em busca de alguns trocados e tento entrar para tocar em alguns clubes, mas sempre há uma fila de pessoas querendo a mesma coisa que eu, então nunca consigo entrar. Perdi o contato com Nat 2 anos atrás, quando parei de atendê-la, por vergonha e para evitar ouvir mais algumas dúzias de seus sermões. Então tudo o que me resta é meu violão, voz e um quarto alugado, em um prédio quase caindo aos pedaços, com o aluguel prestes a vencer.
Assim que saio da estação de metro, respiro fundo. Sinto que meu íntimo quer me dizer para ser otimista, que hoje pode ser diferente, mas me tornei realista demais nesse aspecto para acreditar. Caminho um pouco até uma praça cheia de turistas e logo estou pronto para começar a cantar.
Estou cantando há algumas horas e a case do meu violão, aberta à minha frente, exibe os trocados que consegui hoje. Ao que parece, é uma quantia boa, que dará para comprar comida e guardar um pouco para o aluguel.
Há algumas pessoas à minha volta, algumas filmando, outras cantando junto e outras apenas observando. Estou tocando Million Reasons, atendendo a um pedido, quando percebo que uma das moças que estava andando apressadamente pela praça segundos antes parou para me observar. Ela parece trabalhar para algum escritório, a julgar pela vestimenta e postura, é e sua pele é clara. Não sei seu nome, mas já quero conhecê-la e poder perguntar qual a razão para ela ter interrompido seu caminhar para me ouvir cantar.
Já é perto do meio dia, o sol está em seu ponto mais alto, brilhando incansavelmente sobre NY. A praça já está um pouco mais vazia, apenas algumas pessoas cruzando-a rapidamente, em seu horário de almoço, imagino. A quantidade de pessoas à minha volta está diminuindo, mas eu já não me importo mais, devido ao costume; horário de almoço é sempre mais difícil segurar as pessoas. Estou cantando Back in Black, do ACDC, quando percebo que a , que estava me instigando, parece estar escrevendo algo, apoiada na tela de seu celular.
Quando estou quase finalizando a música, vejo um cartão ser mostrado rapidamente a mim e depois depositado, junto com uma nota de 50 dólares, em minha case do violão. Estou em choque demais, então quase não percebo que foi ela quem os deixou, antes de se distanciar e voltar a percorrer o caminho que estava fazendo inicialmente. Quero finalizar a música às pressas para poder pegar aquele cartão logo, mas não posso, então me controlo e fecho os olhos até a música acabar; o que os olhos não veem, o corpo não sofre por ansiedade.
Quando finalizo a música, me abaixo às pressas e pego o cartão e as maiores notas depositadas na case. Meu coração bate rapidamente, enquanto milhares de pensamentos se chocam em minha mente. Seria aquele o cartão, o que mudaria minha vida?. Ignorando o leve tremor em minhas mãos, começo a ler o escrito no pequeno papel branco:
Com a sensação de minha respiração estar falhando e do coração ter parado de bater, pisco várias vezes, tentando me certificar de que aquilo era real, antes de virar o cartão e ler o restante do escrito.
Era o que eu lia e relia, em uma grafia levemente arredondada e letras pretas, sem acreditar. Era a minha chance de realizar meu desejo de aniversário, e eu não iria desperdiçá-la.
Falei que faria um breve intervalo, para as poucas pessoas à minha volta, antes de pegar meu celular e começar a discar o número de Nat. Finalmente eu tinha algo bom para contar.
Fim.
Nota da autora: A minha ideia inicial para a música não era essa, mas essa ideia surgiu tão fácil na minha mente que eu nem pensei, só escrevi hahaha
Espero que tenham gostado 🌺
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que tenham gostado 🌺
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