Postada em: 09/08/2020

Capítulo 1 – Sean

Thought I'd end up with Sean
(Pensei que eu acabaria com o Sean)

But he wasn't a match
(Mas a combinação não funcionou)


Acomodei-me melhor no largo banco da cafeteria e encarei cada ponto do pequeno local. O Lix tinha passado por uma pequena reforma, agora – além de ser um lugar extremamente confortável para encontrar os amigos e comer algumas guloseimas –, possuía uma nova estrutura, compartilhando um sebo com diversos livros.
Encarei o relógio fixado na parede e constatei estar alguns minutos adiantada, como sempre. Levantei-me da mesa, deixando a pequena bolsa como uma forma de mostrar que a mesa estava ocupada, e segui até as pequenas prateleiras repletas de livros. Encarei o exemplar de Little Women, puffin in bloom, que tanto era apaixonada, e peguei o livro. Alisei suavemente a capa com as pontas dos dedos e sorri com a beleza impressa.
Eu era simplesmente louca por aquela edição.
Retornei para a mesa e não me importei em conferir novamente que horas eram, o livro em minhas mãos era bem mais atrativo. Acomodei-me no banco e comecei a leitura da história que eu já conhecia extremamente bem.
– Minha irmã favorita é a Jo. – o tom de voz masculino soou próximo ao meu ouvido, fazendo-me dar um pequeno pulo do assento, devido ao susto.
Normalizei a respiração ao olhar para o lado e encarar Sean sentado ali. Sorri abertamente – como sempre, sentindo-me afetada pela beleza do homem – e fechei o livro, depositando-o na mesa.
– Gosto bastante da Beth, por mais que eu ache que ela é a irmã que menos se destaca em toda a história. – confidenciei com um sorriso nos lábios. – Adoro a Jo, porém não gostei do modo que ela agiu no final do livro.
– Admito que também não curti. – Sean deu de ombros e retribuiu o sorriso. – Achei que demoraria a chegar, devido ao novo estágio.
– Felizmente, está tudo correndo extremamente bem. – Sean aumentou ainda mais o sorriso, mostrando-se plenamente feliz por mim.
Aproximei nossos rostos e depositei um selinho rápido em seus lábios. No início, era estranho sair com o primo da minha melhor amiga, principalmente pelo fato de que, praticamente, crescemos todos juntos. Mas agora, pouco mais de um mês saindo com Sean, eu só conseguia pensar como estávamos destinados àquilo.
Ele sempre estava do meu lado, prestando suporte e disposto a me apoiar em todo o tempo. Afastei nossos lábios e permaneci com o rosto próximo ao seu, olhando atentamente para cada detalhe de Sean. Apoiei o cotovelo na mesa e descansei o rosto na palma da mão, ainda mantendo o olhar preso nele. Sorri novamente, feliz por estar compartilhando minha rotina com ele.
– Como foi a primeira semana estagiando na empresa dos seus sonhos? – questionou de modo interessado e enlaçou seus dedos nos meus, que repousavam sobre o sofá.
– Não vou dizer que está a coisa mais fácil do mundo, porém eu estou gostando bastante de trabalhar lá, e está ocorrendo bem. – não contive o tom de voz animado e aumentei o sorriso em meus lábios. – Eu sinto como se nada pudesse me impedir agora.
– Nada pode te impedir. – falou, decidido, e direcionou a mão para minha bochecha, fazendo com carinho confortável ali. – Você só tem vinte e um anos, . Ainda tem o mundo inteiro pela frente.
– Você fala como se fosse muito mais velho. – resmunguei, me referindo aos vinte e oito anos de Sean.
A diferença de idade de sete anos tinha sido um problema no início de minha relação com Sean. Boa parte de sua família não apoiava nosso envolvimento, pois, segundo eles, estávamos em fases diferentes em nossas vidas. Porém, Sean não ligou para o que seus familiares diziam, e, a cada momento em que estávamos juntos, eu agradecia mentalmente por ele não te se importado.
– Já não possuo mais toda a sua disposição. – murmurou, risonho, fazendo-me revirar os olhos. – Mas eu fico feliz por acompanhar a mulher maravilhosa que você está se tornando.
– Já disse que você é perfeito? – tombei a cabeça para o lado e ouvi a risada gostosa de Sean preencher meus ouvidos.
– Hm, hoje não. – manteve o tom de riso ao responder e piscou um olho em minha direção. – Nunca pensei que pudéssemos nos tornar isso, e aqui estamos nós, juntos em uma cafeteria, comemorando suas conquistas enquanto eu penso o quão sortudo sou por ter você ao meu lado.
Não contive o sorriso aberto. Era incrível como Sean e eu estávamos na mesma sintonia, eu mesma tinha tido aquele pensamento mais cedo. Lembrei de quando contei para Sienna sobre meu relacionamento com seu primo, e, além das felicitações, Sien pediu para que eu tomasse cuidado.
Ela conhecia meu histórico, sabia que eu possuía apenas dois estados em um relacionamento: ficava extremamente apaixonada por tudo o que a pessoa fazia e por nossa relação, ou enjoava e me desapegava no mesmo instante. Diziam que eu fazia isto pelo fato de que eu mudava muito rápido de relações, não dando espaço para que meu coração esquecesse as sensações que a antiga pessoa ocupava ali, sempre jogando-me inteiramente no início das relações.
O outro problema era que – segundo ela – Sean e era éramos completamente similares, e que nossas vidas profissionais sempre se sobressairiam se colocadas junto de nossas vidas românticas.
– Tive o mesmo pensamento mais cedo. – confidenciei com um sorriso nos lábios.

...


Adentrei ao apartamento de Sean – local extremamente conhecido por mim nos últimos meses – e franzi o cenho ao notar as caixas enormes que ocupavam quase todo o espaço da sala, reduzindo a mobília a poucos objetos que não cabiam nos quadrados de papelão.
– Sean? – falei alto para que ele pudesse me escutar e ouvi seu nome ecoar por toda a casa.
– Estou no quarto, . – engoli em seco ao ouvir meu apelido sendo pronunciado.
Já tínhamos evoluído dessa parte. Os apelidos derivados dos nomes tinham sido substituídos por denominações carinhosas como linda, anjo e amor, pouco tempo após nossa visita na Lix. Dei mais uma olhada nas caixas ao redor, e não era necessário ser um gênio para adivinhar o que aquilo significava.
Os saltos chocavam-se contra o mogno do chão, ecoando por toda a casa e batendo ritmado tão alto quanto meu coração. Estava acostumada a seguir diretamente para a casa de Sean alguns dias após o fim do expediente, e utilizava salto todos os dias, mas o som que soava naquele dia servia apenas para aumentar meu nervosismo.
– Sean? – repeti ao adentrar ao quarto e notar novamente as caixas por ali, porém sem nenhum sinal de meu namorado.
– Oi, anjo. – sua voz soou calma, contrastando inteiramente com sua expressão, e um sorriso fraco apareceu em seus lábios. – Precisamos conversar.
– Acredito que sim. – dei um sorriso nervoso e sentei na beira da cama, mantendo o olhar preso no homem à minha frente.
Observei quando mordeu o lábio inferior, em um claro sinal de desconforto, e quando bagunçou os cabelos, que sempre estavam bem alinhados – sua forma de tentar extravasar o nervosismo ou ansiedade que sentia. Olhou para o teto, cortando nossa conexão visual, e suspirou audivelmente.
– Eu não sei como dizer isso. – murmurou fraco e voltou a me encarar.
– Só diga. – rebati no mesmo fio de voz.
– Recebi a proposta de emprego que eu almejo desde os meus vinte e cinco anos de idade. – sorri abertamente com a notícia, satisfeita e feliz pela conquista de Sean, mesmo sabendo que minha felicidade estava prestes a acabar. – Possui um porém.
– Você precisa se mudar. – completei antes mesmo que ele pudesse, cogitando que seria menos doloroso ouvir dos meus lábios do que dos dele. – Eu sei que Sunshine Coast não é a melhor área para a sua profissão. Vai se mudar para a capital? Irá para Camberra?
– Irei para Montreal. – pisquei os olhos repetidas vezes, repetindo mentalmente que escutara errado. – Vou me mudar para o Canadá.
– Mas... – deixei que a frase morresse no ar ao encarar a expressão de Sean.
Aquilo estava sendo difícil para ele na mesma proporção que estava sendo para mim.
– Você poderia ter me contado antes. – murmurei com o fio de voz que eu ainda possuía. – Há quanto tempo você sabe?
Cruzei os braços à frente do corpo e encarei novamente as diversas caixas espalhadas por seu quarto, notando que, praticamente, todas as suas roupas já estavam empacotadas.
– Quase um mês atrás. – neguei com um balançar fraco de cabeça e levantei-me da cama.
– Você poderia ter tido a consideração de me contar antes. Nós somos namorados, Sean. – aumentei o tom de voz e parei na sua frente. – Quando você vai embora?
– Não conseguiria contar antes, temi desistir dessa oportunidade para permanecer com você. – ri com escárnio e balancei a cabeça levemente em forma de negação.
– Você sabe que eu nunca deixaria que você abandonasse um sonho apenas para permanecer do meu lado. – murmurei ao cortar o contato visual. – Quando você vai?
Respirei fundo, em busca de encontrar preparo para a resposta que eu obteria, disposta a não crer que Sean possuía uma visão de mim que preferiria possuí-lo ao meu lado do que poder vê-lo feliz ao chegar ao ponto de sua carreira que sempre desejou.
– No final de semana.
Fechei os olhos fortemente, segurando as lágrimas que queriam rolar livremente por minha face, e respirei fundo outra vez. Abri os olhos e voltei a encarar a imensidão azul, que me fitava de modo intenso.
– Só queria ter aproveitado esse nosso fim. – falei entre um suspiro.
– Ainda podemos. – Sean murmurou, esperançoso, e eu neguei com um balançar de cabeça.
– Você precisa arrumar suas coisas. – sorri sem mostrar os dentes e dei as costas para Sean.
Caminhei em direção à saída do quarto, sentindo o ardor característico em minha garganta, e minha vista embaçou ainda mais. Estava demasiadamente difícil segurar o choro que vinha. Senti os dedos de Sean ao redor de meu pulso e parei de andar, virando sutilmente em sua direção.
– Mas e a gente? – seus olhos perdidos vagavam por minha face em uma súplica muda para que eu permanecesse ali.
Aproximou-se de mim, parando poucos centímetros à minha frente e direcionou a mão para minha bochecha, fazendo o carinho usual de quando estava me confortando ou apenas demonstrando seu amor. Fechei os olhos fortemente, porém não foi o suficiente para impedir a lágrima de rolar.
– Bom, é um adeus para nós. – afastei-me do contato que Sean me proporcionava e abri os olhos, fixando a imagem triste de sua face em minha mente.
Caminhei para fora dali sem olhar para trás.


Capítulo 2 – Ricky

Wrote some songs about Ricky
(Escrevi algumas músicas sobre o Ricky)

Now I listen and laugh
(Agora eu escuto e dou risada)


Acomodei-me na canga ao lado de Sienna e fixei minha atenção ao mar, disposta a ignorar o olhar preocupado que minha amiga direcionava em minha direção. Mantive os olhos presos em Ricky, que seguia em direção ao mar com sua prancha verde debaixo do braço. Fiquei longos minutos encarando o loiro, porém a atenção de Sienna presa em mim estava me dando nos nervos.
Bufei audivelmente e virei em sua direção.
– O que foi, Sien? – perguntei de uma vez e vi a morena olhar para o mar. – Não finja que não estava me encarando desde que chegamos aqui.
– Eu estou preocupada com você. – Sien confidenciou, e eu respirei fundo.
Sabia perfeitamente bem o motivo pelo qual ela estava preocupada, mas já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha lhe repetido a mesma resposta. Aquela mesmice chegava a ser chata.
– Eu sei, e já disse que não tem motivo para preocupações. – falei, recebendo um arquear de sobrancelhas em um claro sinal de que Sienna duvidava – mais uma vez – do que eu estava afirmando.
– Hoje faz dois meses que o Sean foi embora. – pronunciou de modo cuidadoso.
– Estou bem, Sien. – murmurei, voltando a encarar o mar. – Estou saindo com o Ricky já faz algumas semanas. Achei que pelo menos isso faria você concordar comigo que não estou sofrendo pelo seu primo.
Aquilo era um fato inegável. Eu não sofria mais por causa de Sean, porém, às vezes, me pegava triste por sua partida repentina e ficava longos minutos relembrando sobre momentos que passamos juntos. Eu já estava acostumada com a presença de Sean em minha vida e, para não ter tanta diferença, acabei colocando Ricky como substituto.
– Você e Sean ficaram oito meses juntos. – Sienna falou de modo cuidadoso e tocou minha mão. – O sentimento não vai sumir rápido.
– Foram nove meses e meio, sendo exata. – virei em sua direção e dei um sorriso de lado. – Eu prometo para você que eu estou bem, só preciso me distrair.
– Certo. – murmurou ao me dar o benefício da dúvida e virou-se para o mar. – Agora preciso saber sobre esse surfista. Ele é bom para você?
– Ricky é engraçado, sincero e companheiro. – falei simplesmente, voltando meu olhar para o homem no mar. – Ele me distrai bastante nos momentos que passamos juntos, e isso está sendo extremamente bom para mim.
Lembrei-me do dia em que conheci Ricky.

Estava saindo do trabalho, dividindo minha atenção entre encarar o celular em minhas mãos e revirar a bolsa pendurada em meu ombro, em busca das chaves do carro. Trombei de frente com um corpo, e a força me jogou imediatamente para trás, fazendo-me dar alguns passos trôpega, tentando recuperar o equilíbrio.
Levantei o olhar e fixei no homem à minha frente. O cabelo claro estava molhado e bagunçado – com alguns fios colados no rosto –, os olhos verdes me encaravam de modo preocupado e o macacão azul escuro de surfista estava aberto até a cintura, de modo que o peitoral estivesse completamente exposto. Uma de suas mãos estava direcionada em minha direção – prestes a me segurar se eu não recobrasse o equilíbrio – e a outra segurava uma prancha verde, que combinava perfeitamente com a cor de seus olhos.
– Desculpa, eu estava prestando atenção no litoral e acabei não olhando para frente. – explicou-se e levantou um pouco mais a mão que já estava no ar, parando-a próxima de mim. – Sou Ricky.
. – aceitei seu aperto de mão e sorri, tentando demonstrar que estava tudo bem. – Eu também não estava prestando atenção, não tem problemas.
Ricky sorriu abertamente e aumentou levemente a intensidade do aperto de mão, quebrando o contato entre nossas peles logo em seguida.
– Acho justo tomarmos um smoothie, assim eu me desculpo completamente por ter esbarrado em você. – sorriu, trocando o peso entre as pernas.
Mordi o lábio inferior – completamente em dúvida sobre aceitar aquele convite – e ponderei os prós e contras. Ricky era bonito, atraente e parecia ser legal, sem contar o fato de que eu não estava me envolvendo com mais ninguém desde que rompi com Sean.
– E você vai assim mesmo? – questionei, referindo-me à roupa e à prancha com um olhar.
– Conheço uma cafeteria que basicamente só é frequentada por surfistas. – sorriu abertamente e analisou-me dos pés à cabeça. – Porém, acho que você vai se destacar se for vestida assim.
Ricky podia estar apenas sendo gentil, mas, independentemente de quais fossem as suas intenções, eu iria aceitar aquele convite.


? – ouvi a voz de Sienna soar e virei o rosto em sua direção, arqueando a sobrancelha e murmurando um som qualquer. – Fiquei te chamando por vários minutos, e você estava com o olhar fixado no mar, me ignorando completamente.
– Acabei lembrando do dia que conheci o Ricky. – dei de ombros e deixei que um sorriso singelo aparecesse em meus lábios.
– Já conheço essa história. – murmurou e voltou a encarar o mar. – comentou comigo sobre um luau que vai acontecer hoje à noite.
Concordei com um aceno de cabeça. Ricky estava falando sobre isso a semana inteira, e eu estava mais do que convidada. Tinha comprado até mesmo um biquíni novo, já que, por mais que intitulassem de luau, a comemoração começaria por volta das quatro da tarde.
– Ricky está organizando com mais alguns amigos, acredito que vá ficar bem legal. – sorri abertamente. – Durante a noite, vai rolar uma fogueira. Nesse momento, iremos cantar algumas músicas.
– Espero que cantem Valerie. – murmurou de tom indiferente, e eu ri.
– Ainda nessa com a sua ex? – questionei, observando quando Sienna retornou o olhar em minha direção. – Depois quer falar do fim do meu relacionamento com o seu primo, pelo menos eu superei.
Em partes, completei mentalmente.
– O importante é que escrevi uma música sobre o Ricky. – confidenciei.
Sienna arregalou os olhos e aproximou ainda mais o rosto do meu – analisando cada parte –, como se estivesse à procura de algum sinal que lhe indicasse que aquilo era mentira. Retirei os olhos da morena ao observar a sombra ao nosso lado e virei o rosto, encarando parado ao meu lado e fitando-me com as sobrancelhas franzidas.
– Sienna sabe que você nunca a beijaria, né? – murmurou de modo brincalhão, referindo-se à proximidade de sua irmã comigo.
– Ela escreveu uma música para o surfista. – falou de modo ultrajado ao encarar o irmão. – Ela não escreve nada, nem poemas, há anos.
– A inspiração simplesmente saiu. – dei de ombros e voltei a encarar Sienna, já que direcionou o olhar para o mar. – Sem contar que Ricky já tinha escrito uma música para mim.
Observei Sienna tombar a cabeça para o lado e abrir a boca levemente em um claro sinal de choque, demonstrando estar completamente surpresa com o que tinha acabado de ouvir. Sorri abertamente e dei de ombros. Era como eu tinha confidenciado para ela mais cedo, Ricky era a distração que eu precisava naquele momento.
– Ela conseguiu inspiração, isto é o importante. – falou e pousou a mão sobre a minha.
– É por isso que eu prefiro você em vez da Sienna. – murmurei e tombei a cabeça em seu ombro, ouvindo o longo suspiro do homem.


Capítulo 3 – Pete

Even almost got married
(Até mesmo quase me casei)

And for Pete, I’m so thankful
(E pelo Pete, eu sou muito grata)


Tomei um gole de minha bebida e fixei os olhos em Pete. Seu nervosismo era tanto que eu conseguia sentir a tensão que emanava de seu corpo, mesmo estando do outro lado da mesa. Fazia pouco mais de um ano que estávamos juntos. Tinha o conhecido no mesmo luau que cantei a música que escrevi sobre Ricky.
As coisas com Ricky eram óbvias, estávamos apenas curtindo enquanto não nos cansávamos um do outro. Terminamos – o que quer que tínhamos – logo após o luau, porém permaneci frequentando as próximas confraternizações e mantive contato com Ricky. Nos tornamos bons amigos, no final das contas.
Encontrei com Pete novamente em outro luau e, desde então, engatamos no relacionamento mais duradouro que estive nos dois últimos anos. O único problema era:
Eu não estava satisfeita.
Notei quando Pete finalizou a bebida em um só gole, como se aquilo fosse o necessário para que ele adquirisse a coragem necessária que lhe faltava. Levantou da cadeira e ajoelhou-se na minha frente, retirando uma caixinha aveludada do bolso e direcionando-a na minha direção.
Minha visão desfocou. A única coisa que eu conseguia enxergar perfeitamente era o anel de noivado em minha direção. Eu possuía plena certeza de que Pete estava fazendo um discurso – provavelmente bonito, já que ele era demasiadamente bom em expressar-se –, porém eu não conseguia escutar nada além do zumbido que ecoava em minha mente.
Eu estava em choque.
? – o tom de voz atencioso sobressaiu-se os zumbidos e o toque da mão gelada de Pete me causava arrepios.
Pisquei os olhos algumas vezes – tentando não demonstrar o choque que eu estava sentindo – e tentei sorrir, mas parecia algo extremamente difícil.
– Você quer casar comigo? – Pete encarava-me de modo atento, com os olhos presos em meu rosto e um sorriso demasiadamente grande nos lábios.
Senti um desespero tomar conta de meu corpo. Minha garganta secou, as palmas de minhas mãos suavam e respirar estava sendo difícil. Engoli em seco o bolo que se formava em minha garganta. Eu já tinha a resposta para aquela pergunta.
– Não. – murmurei fraco, minha voz não passando de um suspiro perdido no ar.
Os olhos de Pete se arregalaram, e sua boca abriu levemente, demonstrando a surpresa que sentia. Mordi o lábio inferior conforme observava o homem levantar do chão e fechar a caixa preta de veludo, mantendo o olhar preso em qualquer parte do restaurante que não fosse em mim.
Permaneci com meus olhos vidrados em Pete. Não queria fitar as pessoas ao redor e encontrar os olhares raivosos que, provavelmente, estavam sendo direcionados a mim. Respirei fundo, relembrando que aquela era a decisão certa, enquanto as palavras de soavam audivelmente em minha mente:
Você não precisa permanecer com alguém só por causa do comodismo. Se não existe mais amor, não é necessário persistir em algo apenas com medo do que os outros vão dizer.
– Eu sinto muito, Pete, mas eu não posso me casar com você. – murmurei ao me aproximar dele. – Eu te amo. Sou eternamente grata por você ter entrado na minha vida, por ter sido um namorado maravilhoso em todos os momentos. Mas eu não gosto mais de você, e não posso continuar com essa relação.
– O que você está dizendo, ? – o tom de voz magoado saiu fraco.
Senti minha garganta secar novamente ao encarar o olhar ferido que Pete me direcionava, mas estava certo. Eu já tinha entrado – e permanecido por mais tempo do que realmente desejava – em muitos relacionamentos, exatamente pelo fato de acomodar-me.
Eu queria noivar, queria casar, mas, antes disso, queria amar inteiramente alguém.
– Eu não acredito que eu esteja pronta para um relacionamento desse tipo atualmente, muito menos para dar esse passo enorme em minha vida. Não quero soar clichê, mas o único problema nessa relação para que ela não dê certo sou eu. – murmurei baixo.
Era difícil admitir aqueles fatos que eu vinha ignorando há tempos. Externalizá-los não era mais fácil, e o olhar que Pete me direcionava tornava a situação apenas mais complicada, porém eu precisava ser sincera com ele e comigo mesma.
– Casamento é algo sério, e eu não quero aceitar apenas pelo calor do momento ou por achar que devo isso a você devido a tudo o que passamos juntos em pouco mais de um ano. – fechei os olhos ao sentir os dedos de Pete acariciando minha bochecha e suspirei baixo. – Não torne isso mais difícil.
– Eu te amo, . – o tom de voz choroso quebrou meu coração.
Selei nossas bocas em um singelo triscar de lábios e abri os olhos, afastando-me sutilmente de Pete, porém mantendo o contato de sua mão em minha bochecha.
– Eu também te amo, Pete. – confessei. – Só não estou pronta para dar todo o amor que você merece.
Afastei-me de seu toque e respirei fundo, encarando-o cabisbaixo. Soltei um suspiro. Não gostava da forma como tínhamos terminado, mas aquele fim era necessário. Pete merecia alguém que o amasse plenamente e desejasse passar o resto de sua vida ao lado dele. E eu não era essa pessoa.


Capítulo 4 – Malcolm

Wish I could say thank you to Malcolm
(Gostaria de poder dizer “obrigada” ao Malcolm)

‘Cause he was na angel
(Porque ele era um anjo)


Virei mais um shot de tequila e eu já estava tão tonta, que sequer sentia o amargor costumeiro que a bebida me causava. Pousei o copinho no balcão e rodei a cabeça à procura de Sienna, arrependendo-me amargamente ao sentir-me tonta. Não contive a careta e franzi o cenho, sentindo a ânsia de vômito.
Oficial, hora de parar.
– Acho que está na hora de parar. – ouvir a voz soar próxima a mim e gargalhei. – Ia perguntar se você está bem, mas a resposta já é óbvia.
– Eu acabei de pensar nisso. – murmurei, ainda risonha, e gargalhei novamente. – ?
– Eu. – falou conforme me apoiava e ajudava-me a caminhar para a área externa do bar.
– Você consegue ler minha mente? – ouvi a risada alta do homem e franzi o cenho.
Eu odiava o fato de que não me levava a sério quando eu bebia. Chegava a ser algo incômodo. Cruzei os braços à frente do corpo e resmunguei o caminho inteiro, até que estivéssemos do lado de fora do bar.
– Eu estou falando sério, . – murmurei ao sentar no banco e fixei o olhar no de , que me encarava atentamente, por mais que um sorriso de lado estivesse em seus lábios.
– Não, , eu não consigo ler sua mente. – arqueei a sobrancelha e analisei-o.
– Isso é o que você diria se você conseguisse e quisesse me enganar, fingindo que não consegue. – apontei o dedo em riste em sua direção e ouvi outra gargalhada de .
– Então, para não ler sua mente, eu vou avisar a Sienna que já estamos indo embora. – falou de modo pausado, como se explicasse para uma criança. – Não saia daí, eu volto em menos de dez minutos.
Concordei com um balançar de cabeça e acomodei-me melhor no banco frio de madeira, cruzando os braços à frente do corpo, em uma falha tentativa de me esquentar. Devia ter pedido a jaqueta de , já que, por mais que a bebida continuasse em meu sangue, ela não me esquentava mais.
Encarei minha mão direita e engoli em seco, não conseguindo conter o ímpeto de vislumbrar a aliança que Pete colocaria em meu dedo anelar. Senti a garganta fechar e os pisquei ao notar que minha visão estava ficando embaçada devido as lágrimas que queriam rolar por minha bochecha.
– Está tudo bem? – ouvi o tom de voz desconhecido soar preocupado e virei o rosto para o lado, notando um homem sentado ao meu lado.
Estava tão absorta em pensamentos, imaginando como seria se eu tivesse aceitado o pedido de Pete, que sequer notei quando o desconhecido sentou ao meu lado. Concordei com um aceno de cabeça ao lembrar de sua pergunta e limpei os olhos.
– Acho que é apenas a bebida. – menti e sorri sem mostrar os dentes. – Fico um pouco sentimental quando bebo mais do que o recomendado.
– Tem certeza? – os olhos azuis me analisavam de modo preocupado.
– Não. – respondi entre um riso seco.
Fixei meu olhar – e minha atenção – no homem desconhecido. Ele era a perfeita representação dos anjos querubins aos quais estávamos acostumados a falar. Os cabelos loiros encaracolados pareciam extremamente macios, os olhos azuis intensos possuíam uma enorme calmaria e a pele era tão branca, que era estranho imaginá-lo morando ali na Sunshine Coast, tão próximo do litoral.
– O que lhe incomoda? – cruzou os braços à frente do corpo ao me questionar.
– Neguei um pedido de noivado. – sorri, mesmo sem achar a mínima graça, e o homem me analisou. – Faz pouco mais de um mês, e, desde então, eu não consigo parar de pensar nisso.
Confidenciei, sentindo um pequeno alívio ao externar aquilo.
– Você se arrepende? – concordei com um leve balançar de cabeça. – E você o amava?
– Não para que casássemos. – respondi no mesmo instante.
– Você não deveria se arrepender. – sorriu de lado. – Você teria motivos para se arrepender se, por um acaso, aceitasse o pedido e se casasse mesmo sem realmente amar o seu parceiro.
– Mas...
– Não tem “mas”. – cortou-me. – Você precisa focar em você, em suas necessidades, nos seus sentimentos. Não se sinta arrependida por tomar a decisão que você realmente queria. A vida é assim, às vezes saímos magoados e, em outros momentos, nos magoamos.
Recostei-me no banco e fixei o olhar na rua, a intensidade que o homem me encarava parecia demasiadamente pessoal. Olhei para a porta do bar e notei que vinha em minha direção, acompanhado de Sienna e Valerie. Aparentemente, Sien tinha se entendido com a sua ex ou atual namorada.
– Tire um tempo para você. O melhor amor que nós podemos nutrir é o próprio. – ouvi a voz ao meu lado pronunciar e sorri abertamente.
Aquilo era algo que Sienna sempre me dizia. Acho que estava na hora de focar menos em relacionamentos amorosos.
– Qual o seu nome? – questionei ao observá-lo levantar.
– Malcolm.


Capítulo 5 –

Plus, I met someone else
(Além disso, conheci outra pessoa)

We havin' better discussions
(Estamos tendo conversas melhores)

I know they say I move on too fast
(Eu sei que eles dizem que eu parto pra outro muito rápido)

But this one gon' last
(Mas dessa vez, vai durar)

'Cause her name is
(Porque o nome dela é )

And I'm so good with that
(E eu estou tão bem com isso)


Alisei o vestido lavanda que modelava meu corpo e sorri novamente, fingindo estar prestando atenção na conversa que as mulheres da família de Sienna e cismavam em puxar. Observei o olhar de preso no meu e sorri abertamente, recebendo um sorriso tão sincero quanto o meu como resposta.
Minha amizade com Sienna sempre fora algo extremamente comum, tanto que eu era tratada como parte da família, e, mesmo sempre tendo possuído uma amizade e apoio de , eu nunca tinha notado o quão atraente ele era, ou como ele se sentia levemente desconfortável sempre que eu ou sua irmã comentávamos de algum interesse amoroso que eu possuía.
Nunca, até algumas semanas atrás, ao notar o olhar que me direcionava conforme eu explicava animada sobre o que quer que estivesse prendendo minha atenção.
– E como vai a sua vida, querida. Já está noiva? – os dedos gélido de tia Suri em meu braço atraíram minha atenção de volta para pequena rodinha de mulheres que eu fazia parte. – Como é mesmo o nome do rapaz? Pietro?
– Pete. – murmurei. – Não estamos mais juntos, terminamos pouco antes de Sien e Val reatarem. Acho que já faz uns oito meses.
– Achei que ele iria pedi-la em casamento. – o tom indiferente de tia Susan me dava a completa certeza de que ela tinha escutado por alguém o que aconteceu na noite do pedido.
– Sim, ele pediu. – observei quando os olhos das mais velhas se arregalaram em claro sinal de choque.
– E você negou? – o tom de voz ofendido de tia Suri quase me fez rir, porém contentei-me em balançar a cabeça de forma afirmativa. – Deus do céu, por qual motivo, menina?
– Eu não o amava o necessário para que firmássemos um casamento. – respondi simplesmente. – Além disso, conheci outra pessoa.
– Quem? – os olhos de Sarah – a prima de – brilharam de modo interessado, já que ela não sabia.
– Eu mesma. – sorri abertamente. – Estou completamente satisfeita em dedicar todo o meu tempo e meu amor para mim. Estou tão bem com isso como não estive nos últimos três anos.
Encarei as senhoras atônitas e lhes direcionei um sorriso, piscando na direção de Sarah, que sorria abertamente, e dei as costas para as mulheres da família Puckman. Caminhei até as fileiras dispostas de frente para o pequeno altar e sentei-me ali, encarando o arco de casamento florido.
– Eu me sinto estranha ao pensar que poderia ser eu. – murmurei ao notar que sentou ao meu lado.
– Por qual motivo? – questionou, confuso. – Eu sei que você sonha em se casar com uma cerimônia linda.
– Se eu estivesse me casando agora, seria com o Pete. Por isso toda a estranheza. – murmurei. – Um dia, eu vou andar até o altar, de mãos dadas com a minha mãe. Eu quero muito fazer isso uma vez, mas eu quero fazer durar.
– E não duraria com Pete? – questionou de modo delicado, e eu ri.
Era a primeira vez que conversávamos abertamente sobre o fim do meu relacionamento com Pete, e, agora que eu sabia que não curtia aqueles assuntos, a situação tornava-se apenas mais engraçada.
– Já não durou. – murmurei e dei de ombros.
– Os últimos anos foram intensos para você.
– Sim, podemos dizer que eu aprendi com a dor, mas acredito que eu me saí muito bem. – virei-me de modo que meu rosto ficasse de frente para o de . – Resumem minha vida apenas em amores perdidos, mas não é assim que eu vejo.
– As pessoas não sabem do que falam. – confidenciou como se contasse um segredo, e eu não contive o riso.
– Exceto você. – sorri e pousei minha mão sobre a sua. – Acabei descobrindo algo que eu sequer precisei procurar.
– E o que seria? – o tom de voz soou baixo, e eu sorri de lado.
– Acabei descobrindo uma atração. – confidenciei e fixei meu olhar em seus lábios. – Sabe de uma coisa? Eu sou fodidamente grata aos meus ex’s por tornarem isso possível.
Direcionei a mão para a nuca de e puxei seu rosto em minha direção, colando nossos lábios e descobrindo – finalmente – o sabor do beijo que minha mente imaginou por dias a fio.
E, por mais que, em um futuro, eu pudesse desenvolver uma relação com , minha mente continuava focada nas palavras de Malcolm. Eu era o verdadeiro amor da minha vida, e nada e nem ninguém iria mudar isso.


Fim



Nota da autora: Oi gente, espero que vocês tenham gostado de ler essa história igual eu gostei de escrever. Não nego que ela ficou curtinha, mas acredito que consegui passar exatamente o que essa música pede haha Adorei escrever sobre os namoros passados que deram errado e até mesmo sobre essa pseudorrelação entre a pp e o pp, não nego que o coração romântico pediu para colocar ao menos um beijo.





Outras fanfics:
Águas Traiçoeiras [Originais – Restritas – Em Andamento]
Are You The One [Originais – Restritas – Em Andamento]

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus