Finalizada

Capítulo Único

“There's a room in a hotel in New York city
That shares our fate and deserves our pity”

Há um quarto em um hotel na cidade de Nova Iorque
que compartilha o nosso destino e merece nossa compaixão


As algemas presas em seus pulsos deixavam marcas de tanto ela tentar escapar. Os cabelos totalmente desgrenhados escondiam olheiras profundas e lábios rachados. Seus pés frios e pelos eriçados a faziam sentir falta de um cobertor. As paredes e roupas brancas doíam seus olhos e a saudade de ver cores estava presente como um fantasma. Afinal de contas, todas as cores foram arrancadas cruelmente de sua vida há tempos.
Mas nenhum desses incômodos diários tirava seu sorrisinho de deboche ao ver o enfermeiro com mais uma seringa que a faria apagar por, no mínimo, um dia inteiro.
- Sério isso? – murmurou, tentando jogar os cabelos para trás com um movimento brusco, o que fez o enfermeiro suspirar de susto.
Ele tentava expressar impassividade ao se aproximar da prisioneira.
- O comportamento sádico da senhorita Crewe nos leva a tomar certas medidas provisórias.
, ao perceber o “nos leva”, logo imaginou que por trás do quadro de vidro negro a sua esquerda, deveria ter várias unidades de estagiários de psiquiatria assistindo o maravilhoso show de sua vida. A garota abriu um sorriso e seus olhos escuros faiscaram com a ideia sublime que surgiu em sua mente.
- Olha, doutor. - começou. - Acho que podemos fazer um acordo.
- Eu não gosto de acordos - respondeu-lhe friamente. O enfermeiro olhou para o quadro negro e pareceu ponderar. - Mas o que tem em mente?
soltou uma risada anasalada e olhou para as pernas, seus cabelos cheios de nós caíram de volta ao rosto.
- Eu quero que aumente a dose da vacina pra uma semana. Eu o-dei-o ficar acordada nesse inferno.
- E o que você vai dar em troca?
- Quem sabe, quando eu despertar, posso tentar ser boazinha e deixar um de seus alunos me examinar naquelas provas. Você sabe, aquele teste que todos devem fazer, mas nem todos conseguem, porque nem todos os presos são bonzinhos como eu.
Pelo silêncio que se instalou após aquelas palavras, pensou ter convencido o homem. O enfermeiro, o qual ela não fazia esforço para lembrar o nome, ponderava sobre o assunto. O sorrisinho ainda brincava em seus lábios. Depois de um tempo ela ouviu um estalar de lábios.
- Pois bem. Trato feito. - O homem se aproximou dela e levantou o seu queixo a encarando nos olhos e soltando um risinho - Mas saiba o que te espera, docinho.
E dizendo essas palavras se retirou da sala. Provavelmente para buscar a dose maior.
sabia muito bem o que a esperava: dores, vômitos e hematomas por todo o corpo. Todos os efeitos colaterais do medicamento pesado. Mas era só com esse remédio pesado que ela conseguia o doce escape da dura realidade.
A garota olhou para o lado e viu seu reflexo magro e desbotado e o mesmo sorrisinho desde que chegara naquele sanatório. Então respondeu friamente para aqueles que a observavam:
- Eu sei de tudo.
Os minutos se passaram com um tic-tac silencioso, até que ouviu a tranca da porta soar o seu usual barulho.
Alguém iria entrar.
E não houve outra coisa. Mas dessa vez quem entrou não foi o enfermeiro e velho, e sim um jovem de jaleco branco. E usava óculos de grau um pouco grandes para o seu rosto. o avaliou sendo estiloso, ainda mais pela franja bagunçada que parecia ter vida própria. Seria ele um dos estagiários a entrevistá-la? Se fosse assim, não julgaria ser tão ruim.
O homem olhou ao redor da sala meio desconcertado. Ele segurava uma prancheta e uma caneta nas mãos. Seus olhos rodaram por toda a sala até parar no centro e fixar nos de . Ela sorriu com desdém, ele parecia estar morrendo de medo.
- Senhorita Crewe? – perguntou, com a voz receosa.
Após engolir em seco, ajeitou a gola e limpou com a manga da blusa o suor das têmporas. Parecia realmente muito desajeitado. sustentou o olhar o desafiando tomar a próxima iniciativa. Ele tossiu e fechou a porta atrás de si. Era meio difícil a garota fugir, já que a mesma se encontrava presa, mas ela apenas suspirou com a lerdeza do cara. Ele então se virou de frente e começou a falar com um pouco mais de confiança.
- Oi, meu nome é Alexander Fiordi. Pode me chamar de Alex se quiser. Eu vou te examinar para…
o interrompeu com uma risada alta e exagerada. Alexander endireitou os óculos e a olhou torto.
- Algum problema?
- Acha mesmo que eu irei fazer isso agora?
- Eu acho que sim. O diretor me mandou…
- É CLARO QUE NÃO! - gritou a pleno pulmões. - EU NÃO VOU FAZER ESSE TESTE!
Alexander deu um passo atrás e bateu as costas na parede assustado. riu internamente da expressão do outro. Ele parecia prestes a abrir a porta e desistir. “Fracote”, pensou.
- Meu acordo foi quando acordar. Por acaso eu dormi? Eu acordei? Que incompetência. Era para eu ter me matado quando tive a chance, agora tenho que aguentar isso - suspirou falsamente.
Alexander ainda a olhava assustado. Se aquela garota era a mais “saudável” dos prisioneiros, ele não queria nem imaginar o mais doente. Ele respirou fundo e lhe respondeu:
- Eu vou falar com o Rony sobre isso.




“A birth and a death on the same day”
Um nascimento e uma morte no mesmo dia



estava deitada em sua cama. Duas algemas ainda prendiam seus pés, e ela realmente achava aquilo desnecessário. Como se ela fosse querer fugir. Ah, óbvio que não iria. Ela estava prestes a ter uma semana de férias! “Férias”, chegava a ser irônico como chamava sua fuga mental, mas era exatamente isso que sentia. Como se depois de muito tempo aguentando toda a intensidade do local, seu cérebro precisasse de um descanso e um relaxamento em off daquele lugar de barulhos e gritos por madrugada afora. Ela escutou alguém entrar no quarto e nem teve mínima vontade de abrir os olhos.
O pigarro do Dr. Rony Peters se foi ouvido e lhe chamou a atenção.
- , preciso que relaxe o corpo e se mantenha parada para a agulha não rasgar sua veia orta e… ah, deixa. Você já sabe o procedimento.
A garota manteve a mesma calma, afinal, fazia tempos que não voltava pra sua terra natal por meio dos seus sonhos. Fazia tempo que não abraçava seu querido amor. Fazia tempo que ela não arrancava um coração.
Coração.
Só de pensar em coração logo o seu deu uma acelerada assim que sentiu a agulha perfurando a sua pele do pescoço. A dor era incômoda. Fechou as mãos em punhos e tentou relaxar. O líquido grosso foi expelido em sua veia e ela sentiu o corpo bem leve, como se a gravidade não pudesse mais fazer efeito sobre o ela.
Uma sensação maravilhosa.
Digna de ser escrita, de ser lembrada, de ser adorada.
- Pronto - ouviu o doutor dizer. - Agora é com você.
vagarosamente soltou as mãos dos punhos. Ela abriu os olhos e encarou o teto só pra senti-los fechando sozinhos novamente.
Enfim, havia chegado a grande hora.





“And honey I only appear so I can fade away
I wanna throw my hands in the air and scream”

E Honey, eu apenas apareço e então eu posso desvanecer
Quero jogar minhas mãos para o ar e gritar



Abri meus olhos sentindo os raios de sol quente lamberem meu rosto. Não sabia o motivo, mas naquela manhã eu sentia que seria um grande dia. Não entendia exatamente se ruim ou bom. Quem sabe, não é? Levantei da cama lentamente e cocei os olhos me espreguiçando. Realmente eu precisava dormir mais cedo, essa ideia de dormir tarde estava acabando comigo. Andei pelo quarto e fiz tudo o que tinha que fazer quase caindo pelos cantos. Logo depois fui em uma velocidade de lesma para banheiro e tomei um banho gelado e rápido, em poucos minutos eu deveria estar a caminho da escola. Depois de tomada a chuveirada, vestida do uniforme e pronta, desci para tomar café - ainda cheia de sono. Assim que cheguei na cozinha, encontrei minha irmã tomando café e lendo um livro chamado “Brisingr”. Ela optou por estudar em casa, por isso ainda usava seu usual pijama azul e mastigava devagar como se o dia tivesse longas trinta horas.
- Bom dia - falei contente.
- Dia - me respondeu de boca cheia e sem me lançar o olhar. Revirei os olhos de impaciência. Ela sempre fazia isso. - ligou avisando que vai passar uns minutos mais cedo pra te buscar.
Concordei com um resmungo, já que naquele momento minha cara se encontrava dentro da geladeira em uma busca pelo leite de caixinha. , ou melhor, , era meu namorado. Não apenas namorado, ele era meu melhor amigo, meu confidente, meu parceiro, escudeiro, meu guia. “Minha metade da laranja”, como falam por aí. E eu o amava. As pessoas dizem que paixões colegiais passam assim que terminam os estudos, mas comigo não era assim. Eu tinha certeza absoluta que eu e fomos feitos um para o outro. O exato quebra-cabeça de nossas vidas. E eu não me via em outro lugar se não nos braços dele o resto da minha vida. E cria eu, firmemente, que ele também me via assim. Isso era o suficiente para sermos felizes e ignorarmos quaisquer comentários maliciosos e fúteis sobre a gente.
- Ali em cima - ouvi a voz da minha irmã. Tirei a cabeça da geladeira e acabei por bater ela na porta do freezer. Choraminguei de dor e olhei pra ela. Charlotte tinha um sorrisinho no rosto, mas não olhava pra mim ainda. Ela apontou com o dedo pra a pia e direcionei meu olhar para lá, vendo assim a caixa de leite. Céus! Aquela menina tinha problemas.
- Ai, devia ter dito antes!
Ela não respondeu e continuou sua leitura. Tomei meu rotineiro café da manhã, apenas eu e meus pensamentos, já que minha irmã não direcionava uma palavra a mim. dizia que eu pensava demais, mas eu não tinha muito com quem falar, até porque meus pensamentos geralmente não eram muito saudáveis pra pessoas normais e sãs. Sim, eu mesma me assumia estranha. Eu realmente tinha uma mente muito barulhenta.
Ouvi uma buzina de carro e logo soube que era o . Correndo, joguei a louça na pia e peguei minha mochila no cabideiro da sala. Voltei para cozinha para dar “tchau” para minha irmã, e ela finalmente direcionou seu olhar para mim e deu uma piscadinha com seus olhos escuros e o famoso sorrisinho dela. Charlotte era incrível.
Abri a porta de casa me dando de cara com o meu namorado usando a farda da escola, escorado no carro e me observando. Parecia que cada dia que passava seu cabelo ficava mais louro e ele mais branco. Eu adorava sua aparência, ele era lindo demais.
- Oi, linda - me cumprimentou sorrindo.
Fechei a porta de casa e corri para ele.
- Bom dia. - respondi do mesmo modo contente.
Me aproximei dele e pegou em minha cintura me tomando para perto de seu corpo. Então ele deu um longo beijo em minha testa. Ele era tããão carinhoso. Sorri pra mim ao constar isso todos os dias.
- Vamos?! Hoje eu tenho que procurar o time pra pedir pausa. Você sabe, aquelas dores de cabeça não me largam nunca.
- Awn, , eu já falei pra você fazer um exame de vista. Tenho certeza que esse é seu problema.
Ele me ignorou e abriu um sorriso.
- Ei, lembra da festa de Halloween da escola, né?
- Sim! Óbvio.
- Como vai a nossa fantasia?
- Eu já comprei as tintas. Mas as roupas preciso buscar na costureira.
- Ah, beleza - sorriu lindamente mais uma vez - eu estou tão empolgado pra esse dia!
- É, cara, nem fala! Faltam 3 dias, mas tenho a impressão que vai durar uma eternidade até chegar dia 31.
Fiz um beiço, manhosa.
- Oh, meu anjo, tenha paciência - passou a mão nos meus cabelos e me afastou de seu abraço me olhando. - Vem, vamos logo para o colégio.
Concordei com a cabeça e entramos no carro colocando os cintos de segurança. deu partida e fomos para mais um dia entediante no colégio.
Eu achava aquele lugar um saco, mas todos eram muito amigáveis comigo. Inclusive, muito mais com o . Embora eu não gostasse muito que um monte - detalhe, TODAS - de meninas ficassem assanhadas para o lado dele, elas me respeitavam. E eu também era a organizadora de eventos do colégio, acho que elas sentiam medo de barrar a entrada na festa ou algo assim. Ainda bem que eu não era invejada por isso, se eu fosse, tenho certeza que acabaria como a Mery Coyl: pendurada de cabeça pra baixo no vestiário feminino. Bem, espero que esse não seja meu caso. Sabe lá do que aquelas meninas seriam capazes.
Respirei fundo e me virei para que olhava concentrado para a escola que aparecia em nossa visão. Ele parecia tão sério.
E tão lindo.
nunca carregava um semblante pesado, sempre estava sorrindo. Ao notar isso, meu coração deu uma leve palpitada a mais.
- O que te perturba, ?
Ele demorou alguns segundos e se virou pra mim sorrindo. O sorriso mais falso que eu já o vi dar. Eu estava longe de entender o que se passava pela mente dele, mas pelo tom da cor de seus olhos, eu temi que fosse algo perigoso de se lidar.
- Eu não sei…
- Diz, . Você sabe que pode confiar em mim.
Estiquei meu braço e toquei em sua bochecha o acariciando. Ele fechou os olhos e suspirou fundo parecendo gostar do carinho. Mas logo abriu as pálpebras e mudou a marcha do carro.
- , minha doce . Eu não sei o que me perturba. Mas eu sei que é você que me acalma.
Sorri ao ouvir sua voz suavemente dizer aquela bonita frase.
- Eu não me sinto bem - falou sincero. - Eu tenho um mal pressentimento, sei lá. Não consigo explicar.
Prendi a respiração quando ele terminou de dizer a frase. Eu havia acordado com o mesmo sentimento. Será que o destino iria se conspirar contra nós? Balancei a cabeça e soltei o ar dos pulmões. Aquela ideia era inútil.
- Não se preocupe, meu amor, porque pode até cair fogo do céu, mas eu vou estar sempre com você e não importa onde.

“And there's a jet black crow droning on and on and on
Up above our heads droning on and on and on”

E tem um corvo preto a jato zumbindo e assim por diante
Acima de nossas cabeças zumbindo e assim por diante

Coloquei meu cabelo pra trás da orelha enquanto me observava no espelho da escola. Não havia ninguém no banheiro. Meu reflexo parecia saudável, eu estava bem com meu corpo. Mas meus olhos demostravam uma preocupação que adquiri assim que saí do carro de . Eu não acreditava em sexto sentido, até porque é coisa de maluco. Mas... esse sentimento era tão palpável quanto a tensão de . Era estranho. Muito estranho.
De repente ouvi ecos de passos e vozes vindo do corredor do lado de fora. Enquanto botava minha mochila nos ombros, eu pude reconhecer em um dos sons a voz de Chloe Sanders.
E essa garota era simplesmente filha do cão.
Não existia uma pessoa nesse colégio que não fosse inferior a ela. Tudo e todos sempre estavam debaixo dos seus calcanhares e garras. Menos e eu , é claro. Nós sempre tivemos essa antipatia por Chloe desde, provavelmente, o ventre de nossas mães.
Rapidamente me virei e entrei em um dos banheiros e tranquei a porta. Sentei em cima da tampa da privada e puxei os pés pra cima, tentando me esconder e não fazer barulho. Com toda certeza do mundo eu queria saber o que ela estava aprontando dessa vez.
- Vocês viram a cara que a Tracy fez quando descobriu que o absorvente vazou? Eu nunca ri tanto na vida. Aquela garota é uma vagabunda.
A voz enjoada de Chloe falou e mais outras duas soltaram risos de hiena. Ah, aquilo deveria ser tortura. Dina e Tina eram as gêmeas tão perversas quanto Chloe. Traduzindo: aquela junção as tornava o pior trio maligno de todos os tempos.
Se fizeram alguns instantes de silêncio e pude escutar barulhinhos, como se fosse tampa maquiagem sendo aberta e fechada diversas vezes.
- Você vai na Time Square hoje? - a voz de Tina ou Dina, tanto faz, perguntou.
- Claro que sim. Como você acha que eu vou conquistar o gato do desse jeito que estou? - Chloe respondeu.
Meu coração deu um salto tão grande quando ouvi aquilo que achei que ele seria ouvido pelas garotas. Era impossível ser o meu ! Não, não podia ser. Existiam mais uns 5 “” no colégio.
- Mas e a ? Como você vai se livrar dela na festa?
- O time vai tomar conta disso.
Botei a mão na boca pra segurar a lufada de ar que iria escapar.
COMO ASSIM?! Aquilo era inacreditável. Meus olhos estavam tão arregalados que parecia que iriam pular da minha cabeça. E meus ouvidos tão apurados que eu era capaz de ouvir uma agulha cair no chão. Era de mim que elas estavam falando. Falando de se livrarem de mim e Chloe roubar o . O MEU !
Eu iria tomar providências imediatamente assim que saísse daquele banheiro.
- Além do mais, aquela menina é muito santinha pra ele - uma risada anasalada. - Tá precisando de uma apimentada na vida daquele gostoso, né?
As duas meninas concordaram veemente. Segurei uma vontade repentina de vomitar. Aquilo era um absurdo!
Elas continuaram conversando sobre a festa de Halloween e que o plano era para o dia 31 enquanto o evento rolava. A cada palavra a mais eu apertava minha mochila com força. Era possível ver os nervos brancos nos meus dedos roxos de tanta pressão. precisava saber daquilo imediatamente.
Finalmente o sinal tocou e as meninas saíram do lugar. Quando coloquei meus pés no chão, senti minhas pernas ficarem bambas. Abri a porta e andei trêmula até de frente ao espelho. Antes eu me achava saudável, não era? Naquele momento eu me encontrava pálida. Doente. A ideia de perder era tão dolorosa que me fazia ficar fraca.
Lavei meu rosto sentindo a dor de cada segundo em agonia com meus pensamentos. Logo eu estava correndo atrasada para a próxima aula.


“Keep making trouble till find what you love”

Continue causando problemas até encontrar o que você ama


- Mas eu não quero ir, .
- , você não tem que supervisionar a festa o tempo todo.
- Eu sei! Mas... e se elas tentarem alguma coisa?
- Você já não as expulsou da festa? A gente só vai no pátio rapidinho! Temos que aproveitar também.
Suspirei derrotada e fiz manha cedendo minha mão ao segurar na de . Nossas fantasias de Esqueletos Gêmeos humanos estavam impecáveis.
Chloe e as gêmeas foram acusadas de batizarem a bebida com álcool e por regras da escola eu tive de as mandar embora da festa com suspensão do diretor e um tremendo fora de quando Chloe tentou dar em cima dele com fantasia de diabinha - ou capeta, como preferir. Na verdade, eu que havia colocado a Vodka e posto a garrafa no armário da Chloe. Eu sabia que era errado. Mas.... Mais errado que isso era ver o meu coração batendo longe de mim e sem ter o amor. Engoli a culpa e resolvi esquecer o acontecido.
me guiou até do lado de fora da quadra. Olhei ao redor durante todo o caminho, só para ter certeza que nada estava fora do normal. Até aquele momento eu não havia avistado nenhum dos garotos do time do colégio. Isso era muito estranho. Inclusive, o pátio estava totalmente vazio, todos os estudantes estavam dentro da quadra.
- , você não acha estranho que…
Eu fui calada por um beijo surpresa. Ele sorriu de lado e seus olhos me pediam pra ficar quieta. Aquele momento não pedia muxoxos da minha parte, e eu entendi isso. Logo já estávamos continuando nosso caminho em silêncio até estarmos no pátio, que curiosamente ficava atrás da escola.
- Eu acho que você e o comitê fizeram um ótimo trabalho, gatinha. A decoração tá tão irada que nem parece aquele colégio feio e carrancudo - disse depois de um tempo.
se aproximou do meu ouvido e sussurrou:
- Que nem o diretor Charles.
Soltei uma risada alta. Aquele garoto era perfeito demais. Abracei com toda a força que eu pude. Eu não suportava pensar que aquele garoto estivesse em outros braços se não nos meus. Ele me abraçou de volta e ficamos sentindo a lua fria acariciar nossas peles pálidas típicas de quem mora em Nova York. Dentro do Colégio tocava um remix de Twin Skeletons do Fall Out Boy, provavelmente escolha da playlist de Carter Davis.
Estava tudo tão bom, tão calmo, tão romântico. Olhei pra e analisei mais uma vez a pintura de ossos que fiz em seu rosto. Ficou tão surreal, e mesmo ele estando com o rosto envolvido com algo tão feio quando a morte, ele continuava o meu namorado. Meu doce e adorável .
Eu ainda podia sentir uma certa tensão que ele carregava desde naquele dia no carro. Mas não havia nada que eu podia fazer sobre isso.
- Te amo, Crewe. - Ele interrompeu meus pensamentos.
Olhei para no fundo de seus olhos, que estavam tão negros quanto a noite, e falei sinceramente clara como cristal:
- Te amo, Adams.

“I just did enough of you to dull the pain
Just to keep it through the night till we're twins again”

Eu apenas fiz o suficiente de você para aliviar a dor
Só para mantê-lo durante a noite até que nós somos gêmeos novamente


- , vai chamar o diretor.
Escutei mais uma vez o grito de socorro de dentro da estufa do colégio.
Enquanto estávamos abraçados no pátio, pudemos escutar alguns pedidos de ajuda vindo da estufa, que ficava uns 300m longe de nós ali no pátio.
- É melhor vermos o que é primeiro, pode ser pegadinha do feriado. - falei séria o encarando.
pareceu pensar na hipótese e concordou. Logo já corríamos para a estufa que estava enfeitada de abóboras com facetas típicas de Halloween. Quanto mais nos aproximávamos do lugar, mais reconhecida a voz ficava. Até que quando paramos na porta de entrada já não era mais um choro de desespero. E sim, uma risada.
Uma risada aguda e irritante.
Olhei pro meu companheiro que tinha o mesmo ponto de interrogação no rosto. Mas na minha mente havia uma linha a mais de raciocínio.
- Achavam mesmo que eu pediria ajuda de vocês?
Me virei tão rápido que tive a impressão de girar com um peão.
Chloe Sanders estava atrás de nós com um sorriso vitorioso na cara. Mas havia algo de errado, além de sua fantasia escrota estar amarrotada. Seus olhos estavam vermelhos e ela parecia ter um pouco de dificuldade para permanecer em pé.
Ou bêbada. Ou drogada.
Ou provavelmente os dois.
- Sanders, você precisa ir pra casa – falei, rangendo os dentes.
- Eu ainda não me vinguei de você, vadia. - me retrucou com a voz embolada.
- Isso é ridículo, Chloe! Aqui não é seu lugar. - falou sério.
Chloe se aproximou de e parou bem próximo do seu rosto.
- O problema não é com você, lindinho. - virou o rosto, provavelmente por causa do fedor de seu hálito. - É com essa vagabunda aqui.
Eu ia avançar pra cima de Chloe, mas fui impedida por braços grandes e fortes.
- Calma aí, docinho. Nossa festa tá só começando. Guarda essa violência toda pra nós dois juntinhos mais tarde.
Soltei um berro asqueroso.
- AH! Me solta, seu nojento!
Tentei empurrar o cara que me agarrava, ele deveria fazer parte do time de futebol do colégio.
- Não encosta nela! - brandou afastando Chloe de sua frente, tentando chegar em mim. - Vocês estão drogados! Que merda é essa, hein, Colton?
parecia muito irritado.
Risadas masculinas preencheram o local e senti arrepios de ver garotos imensos nos rodeando. era do mesmo porte, mas contra quatro era impossível.
- Deixem que o raivosinho é meu.
Chloe com um sorriso malicioso, se aproximou de e tentou abraçar ele. Por reflexo, meu namorado a empurrou com força, fazendo com que ela bambeasse pra trás e caísse no chão.
Foi a faísca que acendeu o pavio.
Gritei antes que três dos quatros caras avançassem pra cima de . Mas minha boca foi tampada por imensas mãos. O meu fôlego sumiu. Imediatamente enquanto tentava me soltar, senti algo furando meu braço. Deu tempo de ver Colton jogar a injeção no mato e me arrastar para trás, longe da luta. Fui lançada no chão com uma força descomunal. Minha cabeça deu uma pontada agonizante de dor e tudo começou a rodar. Tentei focar minha visão na luta e via tudo embaçado. O desespero de ver o meu namorado machucado era tão grande que eu não conseguia aguentar. Queria gritar e dizer pra pararem de bater no . Ele tentava a todo custo revidar os socos. Mas cada vez que ele dava um murro, parecia receber três. O pânico começou a tomar conta de mim. Meu corpo todo formigava e perdi o controle dos meus membros. Antes que eu pudesse perder meu tato, eu senti Colton me tocando com violência. Lentamente e com a cabeça confusa, eu tentei virar meu pescoço para ver Colton rasgar sem dó minha roupa de esqueleto.
Os sons de gritando por socorro ficavam cada vez mais distantes, mas por fim, acho que ele levou um chute do estômago que o fez perder o fôlego. Os caras estavam batendo nele sem parar.
Bem no fundo da minha alma eu sentia Chloe rir escandalosamente.
- Gente! Deixem um pouquinho dele pra mim também.
Com um resquício da minha consciência, eu senti o jogador subir em cima de mim e tentar me beijar a força. Eu estava imóvel. Meu corpo havia paralisado totalmente. Sua mão grande e pesada me machucava. Eu chorava sem parar. Os soluços eram impedidos de saírem da minha garganta. Não sabia mais onde estava. A gargalhada perversa de Chloe ecoava por todo o lugar. Os sons de luta ainda estavam passando pelos meus ouvidos. Eu não sentia mais a presença de . A dor era imensurável e eu não podia fazer nada.
Naquele momento, tudo o que eu queria era morrer e queimar como o fogo das abóboras.


“I don’t want to remember it all
The promises are made if you just hold on”

Eu não quero me lembrar disso tudo
As promessas são feitas se você aguentar


A vista da cidade de NY era linda de onde estávamos. O brilho das luzes noturnas fazia parecer que o céu estrelado estava embaixo de nossos pés e não acima de nossas cabeças.
- Você tem que nos vingar.
Cruzei os braços e desviei o meu olhar da grande parede de vidro que dava para toda a cidade. Encarei minha irmã e sentados na cama do hotel.
- Tem razão - dei de ombros - mas eu não sei como.
O silêncio se instalou no local enquanto pensávamos. Ouvi diversos suspiros da minha parte e dos dois sentados na cama.
- Poderíamos tirar algo de mais valioso que eles tem…
Abri um sorrisinho de canto ao pensar na hipótese.
- E o que isso seria, meu anjo?
- Algo que eles não saibam viver sem.
- Isso! Boa ideia.
- Algo que eles arrancaram de nós sem piedade.
- O que tem em mente? Diz logo!
- Arrancar o coração que dá vida e amor...
- ...Assim como queimaram o nosso naquela noite de Halloween.


“Till we're saints just swimming in our sins again”
Até nós somos santos apenas nadando em nossos pecados novamente


- E foi assim que prometemos naquele Hotel em New York cometer o tipo mais macabro de vingança.
terminou de contar com o mesmo risinho no rosto.
Alexander Fiordi olhava para a garota a sua frente. Sua feição parecia dura, mas por dendro ele estava estupefato. Sua linha de raciocínio havia se perdido quando a garota contara sobre a sua noite de Halloween.
- Espera…
- Hum? - tirou os olhos de seus pés e olhou para o estagiário.
- Você disse que tinha você e mais duas pessoas no hotel. - Ele contou nos dedos - Você, sua irmã e… . Por que eles não estão presos também? Eles te ajudaram nos assassinatos?
- Ah!...
Os olhos de vacilaram por milésimos. Mas seu sorrisinho persistente continuava o mesmo.
- Sabia que o amor de nossas vidas não precisa exatamente ser o nosso namorado ou marido? Huh? Pense sobre isso.
Alexander Fiordi levantou de sua cadeira e começou a andar pensativo em círculos pela sala. O que aquela garota queria dizer? Bem, ela era maluca, mas mesmo assim aquela frase o intrigou profundamente.
- Eles estavam com você na hora do assassinato?
parou por uns instantes de mexer a perna. Ela parecia pensar intensamente sobre aquilo.
- Sim… eles estavam comigo.
- Mas no registro policial só havia digitais suas. E os outros dois?
O sorriso de pareceu aumentar três vezes mais.
- Sabe, Alex, eu vou te contar um segredinho: quando eu arranquei aqueles 5 corações sujos de sangue inocente, os dois acabaram sendo tirados do meu próprio. Era hora deles descansarem em paz, finalmente.
- O quê?! Você os matou também?
Crewe encarou Alexander Fiordi no mais fundo dos olhos que se pode olhar.
- Não. Eu nunca os matei.
- Mas…
- A verdade é que eles sempre estiveram mortos.
Fiordi sentou de volta em sua cadeira e tapou os olhos com as mãos. Ele respirou fundo. Era demais. Ele não entendia mais nada. Aquela garota era uma maluca! Ele tentava entender e ligar todos os pontos. O que a irmã dela tinha a ver? Por que estava morto? Por que ela tinha que falar com enigmas? Seu cérebro trabalhava como um trem a vapor tentando resolver aquela questão.
Quando a dor de cabeça ameaçou apontar em seu cérebro, uma explosão de transparência colidiu em sua mente.
- Sua irmã nunca esteve morta. - concluiu.
ouvia atentamente a suposição do estagiário. Ela nem entendia a razão de ele estar querendo tanto descobrir o passado, pelo o que ela sabia, essa não era a tarefa dele ali. Mas ela ficou calada, ele lembrava muito e ajudava um pouco a matar a saudade de sua vida antiga.
Na mente de Alex a coisa parecia se desenrolar com facilidade.
Aquela garota na sua frente estava com um comportamento diferente do que era esperado quando se é violada. Ela falava naturalmente. Não gaguejava. Não dizia sentir saudade de nada. Nem mesmo de . O baque do entendimento caiu em sua mente como a limpeza de um vidro embaçado. Aquilo parecia ser impossível… não, não podia! Como a polícia havia deixado escapar um detalhe tão importante?
- Você é a gêmea. Você não é ! - apontou pra garota com a mão trêmula.
A garota levantou mais uma vez o olhar de seus pés e olhou para o homem a sua frente. O famoso sorrisinho reinava em sua face como nunca antes.
- Meu nome é Charlotte Crewe. E sim, eu sou o esqueleto gêmeo de Crewe.



FIM



Nota da autora: Eu quero que saibam que foi pra doer mesmo esse final MUAHAHAHAH. Eu terminei ele assim pq quero muuuuito que vocês tirem suas suposições e me digam! :D Bem, boa sorte aí e cuidado quando ver pessoas, você nunca sabe se ela tem um esqueleto gêmeo, não é? haha



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