11. Wake Me Up When September Ends

Última atualização: Fanfic Finalizada

ALERTA GATILHO – Gatilho para suicídio. Se você já passou por algo que envolva o assunto, sugiro que pare a leitura, pois pode gerar gatilho.


Capítulo Único

Summer has come and passed
(O verão chegou e passou)
The innocent can never last
(O inocente nunca pode durar)
Wake me up when September ends
(Me acorde quando setembro acabar)

Wake me up when september ends – sugiro escutar durante a leitura.

Eu tinha cometido muitos erros, isso era inegável. Mas sem dúvidas tratá-la de maneira tão trivial e irresponsável tenha sido o maior deles, e eu tinha a sensação de que jamais iria conseguir me perdoar por isso um dia e que seguiria para sempre com a culpa dentro de meu peito. Demorei muito tempo para aceitar que eu a estava negligenciando pela milésima vez desde que todo esse pesadelo havia começado, mas a entrada de setembro e o fato de completarmos um ano neste ciclo, abriu meus olhos.
Enquanto eu sentia minhas veias ferverem e meu cérebro explodir, ao mesmo tempo eu conseguia aproveitar da sensação de alívio que pairava em meu coração porque me lembrava o quanto eu havia esperado por isso.
Deitado naquela cama eu tinha consciência de que poderia ter mudado meus atos, de que poderia ter lutado...pedido por ajuda. Mas, a maior questão que se passava em minha cabeça era se eu queria fazer qualquer uma dessas coisas, e o fato de como isso terminou deixa claro a resposta, eu não estava procurando por salvação, nunca estive.
Eu só queria paz. Ou talvez, uma parcela dela.
Fechei meus olhos e deixei o êxtase tomar conta do meu corpo enquanto um milhão de coisas passavam diante dos meus olhos, exatamente como dizem que acontece quando está prestes a perder sua vida ou vendo-a escapar por entre os dedos. O barulho da chuva me trazia uma sensação ainda mais de paz e encharcando minha dor de novo, nos tornando novamente no que somos.
Eu e ela. Parceiros.
O verão chegou e passou.
E mais uma vez eu tinha prometido que mudaria, e nada havia mudado.
— Rian? — Escutei a voz do lado de fora do quarto e naquele momento, apenas naquela fração de segundos senti meu coração se arrepender.
Contudo, não tinha mais volta.
Assim como meu pai se foi, vinte anos se passaram muito rápido e meu dia havia chegado.
Tentei abrir meus olhos apenas por um momento, mas não consegui. Eu já não tinha mais forças, meu corpo já havia parado de se debater e o líquido que escorria pela minha boca já havia parado também, me trazendo a consciência de que eu já nem me encontrava mais em minha própria cama.
Ainda conseguia ouvi-la me chamar.
— Rian? — escutei a batida da porta com o pouco de consciência que me restava.
Dali para frente eu só escutei os passos da garota de cabelos escuros que caminhava sorrateiramente pelas dependências do quarto, demonstrando um certo nervosismo. E ela ficou assim por alguns segundos, até finalmente sentar-se na cama bem ao meu lado, me fazendo constatar que se não fosse pelo escuro do quarto — e pela fraqueza que me impedia de abrir os olhos — eu poderia vê-la uma última vez.
— Eu sei que as coisas não estão exatamente como planejamos... — Ela disse, e pela forma que falava eu conseguia notar que estava quase chorando e os lábios provavelmente trêmulos ao dizer aquilo.
Um silêncio tomou conta do ambiente, até que ela voltasse a falar.
— Mas, eu queria dizer que alcancei as notas do piano na nossa música preferida — explicou e movimentou-se na cama.
Nossa música preferia.
E aquilo, me trouxe uma última lembrança.

O vento lá fora estava forte e a chuva caia incessantemente, pela primeira vez nos últimos anos eu me encontrava sobre e limpo pelo maior período que havia conseguido, então tinha decidido fazer uma surpresa para a pessoa mais importante da minha vida. Eu sabia as consequências que aquilo poderia me trazer, mas não me importei, vê-la feliz valia todos os riscos que eu poderia correr.
E não importava, eu já estava fodido há muito tempo.
As dez horas da manhã o presente dela já se encontrava em uma das enormes salas da casa — onde ela usava para seus treinos musicais — e eu sabia que em menos de dez minutos ela desceria para tomar um café e passaria por ali, porque tinha sempre a mesma rotina. Eu gostava de acreditar, que ali era como um refúgio para ela.
Me escondi no closet que tinha ali, só para poder ver sua reação de perto...,mas sem que ela percebesse.
— Rian.... — A voz feminina reverberou no ambiente alguns minutos depois, e de onde estava conseguia ver a cara de confusão dela.
A observei caminhar em direção ao piano enorme que se encontrava no meio da sala e a vi passar os dedos delicadamente na madeira. Sua expressão era totalmente espanto, como se não fosse capaz de colocar em palavras o que ela estava sentindo naquele momento.
— Meu Deus...— A escutei dizer enquanto sentava-se diante dele e abria tampa do teclado. — É a coisa mais linda que eu já vi.
Foi inevitável não sorrir ao ouvir aquilo, e por mais que eu quisesse ficar naquele closet escondido vendo cada reação dela, eu simplesmente não consegui.
— Então posso presumir que você gostou do presente? — Perguntou, pegando-a de surpresa que deu um leve pulo de susto e levou a mão até o peito.
Ri fracamente e caminhei até onde ela estava, me sentando bem ao seu lado.
— Rian, o que você.... — Disse virando-se para me olhar e vi que tinham lágrimas em seus olhos.
— Eu estava tentando fazer algo que não te faça chorar, mas pelo visto não tenho essa capacidade — comentei baixo.
riu e limpou as lágrimas que tinha caindo sobre sua bochecha.
— É de felicidade — afirmou e abriu um sorriso largo e voltou a passar os dedos no teclado do piano.
Respirei fundo ao observá-la, tentando controlar o quanto estar ao lado dela sempre me emocionava.
— Você sabe que nosso pai vai matar você, né? — perguntou ainda com os olhos concentrados em seus dedos.
Dei de ombros.
— Bom, ele já se foi há muito tempo — afirmei. — Digo, já estou morto para ele desde...bom, você sabe.
parou o que estava fazendo e virou para me encarar.
— Eu amo você, Rian — disse firme. — Com todo meu coração, o que me faz acreditar que é o suficiente para você não precisar nem de metade do amor dele.
Sorri para ela e a tomei nos meus braços. Eu não era de chora por nada e nem ninguém, eu não me importava nem comigo mesmo, mas era sem dúvida a pessoa que ainda me prendia aqui. Que me fazia acordar todos os dias e acreditar que eu poderia ser uma pessoa melhor — mesmo no fundo achando que era impossível — e vê-la tão feliz, foi o suficiente para me arrancar lágrimas naquele momento.
Decidi ser o primeiro a quebrar o silêncio, só para variar.
— Agora você pode aprender a tocar nossa música favorita — afirmei ainda abraçado a ela.
riu ironicamente e soltou-se do abraço.
— Você nem gosta de Green Day, Rian — ela disse me encarando.
Ri fraco e levei minha mão até o rosto dela.
— Bom, você ama, então eu me propus a escutar aquela música que você me mostrou — explicou.
— Wake me up when september ends? — afirmei com a cabeça. — E agora, você a intitulou nossa favorita?
— Sim, sinto que diz muito sobre nós — afirmei, o que a fez sorrir e levei uma mão até o bolso onde arranquei um papel de lá. — Aqui, para você começar a aprender.
sorriu e pegou o papel da minha mão. E nós ficamos quase a manhã toda ali esperando aperfeiçoar as habilidades para conseguir tocar aquela música, vendo as folhas caírem já que era Outono e setembro tinha acabado de chegar.

— E eu queria saber se você quer ouvir — disse de forma calma, mas eu já não tinha forças para nada.
Ela nunca receberia uma resposta sobre isso, mas eu adoraria a ter escutado tocar aquela música.
— Eu sei que disse coisas horríveis naquela briga, e eu sinto muito — continuou. — E me fez lembrar como estávamos bem há um ano, em setembro...e agora, é a mesma época e sinto como se nem nos conhecêssemos mais.
Ela estava chorando, eu sabia disso e me odiava por ter causado isso a ela.
Mais uma vez...
— Eu só queria ser acordada quando setembro acabasse, ou poder voltar para aquela época — ela disse em forma de desespero e a senti tocar minha mão dizendo o quanto estava gelada.
Tudo ali parecia gelado na verdade e eu já deveria ter partido há muito tempo, muito antes de ela dar-se conta disso.
As coisas que aconteceram na fração de segundos seguinte foram muito rápidas. E eu nem sabia dizer se era capaz de entender mesmo o que estava acontecendo, mas senti sair da cama e pude ouvir o barulho do interruptor sendo apertado e um grito de desespero sair dos lábios dela.
Eu já não tinha mais forças para nada e senti a vida esvair-se do meu corpo com a mesma força que a pessoa que mais me amou um dia esforçava-se para reverter o pior erro que eu havia cometido. Mas eu sabia que era tarde para isso, e no fundo, ela também sabia disso e a última coisa que senti foi sua mão segurando a minha.
E eu quase pude ouvir um canto que dizia: Wake me up when setpember ends.
Como se ela soubesse o que estava por vir, e quisesse ter certeza de que eu a ouviria cantar aquilo uma última vez.
E para mim, setembro finalmente havia acabado.


Fim



Nota da autora: Ficou bem curtinho porque a música retrata uma cena que acontece na minha long Euphoria. Eu gostei e me emocionei bastante escrevendo, então espero que vocês tenham gostado também.

Com amor, Vane.





Outras Fanfics:
» Euphoria
» Oblivium
» Road so far
» Mindhunters
» Kára
» Perfectly Wrong
» Contrato de sangue
» Spring Girls

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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